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Jean Delumeau – O pecado e o medo – Cap.

Ponto principal do pessimismo europeu é o medo de si mesmo que o homem europeu


sentia por causa da atuação d aigreja catócia. Exame de consciência e severidade para
com o homem e o mundo se reforçam (pág. 19).

Desprezo do mundo e desvalorização do homem presentes na bíblia e cultura greco-


romana. Hiperespiritualidade oriental que muda o sentido de passagens de São Paulo, de
modo a valorizar o corpo prisão e a esquecer a criação homem como descrito na gênese.
Cristianismo mesclado com o platonismo leva a uma de um primitivo homem-anjo.
Sucesso da ideia, já presente em Santo Agostinho e amplamente aceita no séc XII, de
que o homem foi criado para substituir os anjos caídos na cidade celeste. (pág. 19-20).

Desconhecimento da realidade do homem e da autenticidade da imanência teve como


corolário a negação para a maioria dos teólogos e moralistas de um estilo de existência
especificamente humano e a definição de uma “antropologia angélica” (pág. 20).

Doutrina do desprezo do mundo deriva de uma cosmologia antiga que deprecia a terra
de duas formas: (1) mundo sublunar opõe-se à parte sideral do universo. Terra ocupa a
parte inferior e mais vulgar do mundo porque é feita de um elemento inferior. (2)
depreciação do tempo. As coisas terrestres são vãs porque são fugazes. (pág. 20-21)

Teoria do desprezo do mundo em vigor desde o séc 4 nos diretores de consciência do


Cristianismo. Santo Agostinho mais otimista. Para ele, os homens são peregrinos sobre
a terra e devem aceitar sua dependência que nos liga a vida. Antes de ser uma fuga do
mundo, sua obra versa sobre os nossos deveres nos quadros dessa existência mortal.
Objetivo da obra é mostrar como viver no mundo fora do mundo. Também elogia a
natureza. Mesmo assim, ainda era um pensador pessimista em relação ao mundo. Obra
de S. Agostinho inspirada na Bíblia e seus julgamentos negativos do mundo e século
(pág. 21 – 22).

Mas há uma contradição no que se refere ao mundo da bíblia

Julgamentos negativos sobre o mundo na bíblia, principalmente em S. Paulo. Pecado e


morte entram no mundo no início da história por culpa de Adão (pág 23).

Mas nem tudo é tão ruim, o mundo ainda manifesta a bondade e sabedoria do criador e,
sendo imperfeito, cabe aos homens aperfeiçoa-lo. O próprio homem vai ser regenerado
no final dos tempos. Os cristãos não são deste mundo, mas estão no mundo. Renunciar
às cobiças não significa não se utilizar dele para a caridade ou tentar construir um
mundo melhor (pág 23-24).

Mundo – negação, pecado e condenação e ao mesmo tempo redenção, onde os homens


devem renunciar ao maligno, mas não ao seu papel. Drama da história cristã seria a
confusão dos significados de mundo e a ampliação de um anátema que dizia respeito
apenas ao império do Satã. Isso gera outra confusão, pois pode-se desprender-se do
mundo, até fugir dele (no segundo sentido), mas isso não é necessariamente desprezá-lo.
De fato, o desprendimento do mundo tornou-se mais geralmente em acusação ao
mundo, já que este é ao mesmo tempo o espaço do pecado e a terra em que devemos
viver (pág 24-25).

Final da antiguidade – desprezo do mundo encontra terreno no Egito e oriente, protesto


contra um cristianismo fácil (pág 25).

Idade Média – Desprezo do mundo nos conventos. Ressurgimento do mito dualista


anterior ao cristianismo que sobrevive no bogomilismo e catarinismo. Monges deviam
reabilitar a alma angelicando-se. Dualidade do mundo – doutrina do contemptos mundi.
Tema muito presente entre os monges (pág 25).

Nesta inspiração que o tema do ubi sunt adquire importância na IM (pág 26).

Tema da morte niveladora dos maiores destinos encontra transcrição iconográfica nas
danças macabras (pág 27).

Vínculo entre caráter transitório e tristeza da vida, algo constante no discurso sobre o
desprezo do mundo. Vários exemplos de religiosos que mostram isso. (pág 28 – 31).

Pierre Damien – representa uma corrente de pensamento monástica que tem na oposição
radical entre corpo e alma e a condenação da vida secular como corrompida as
principais características. Vida no mundo extremamente desprezada e prazeres humanos
extremamente repudiados (pág 31-32).

Fala da ideia da sexualidade como irracional, casamento como sujo e castidade como a
virtude preferível. Autores de livros de confissão formados nestas formas de pensar. Por
isso lançam sobre a sexualidade e casamento um olhar de extrema suspeição (pág 32 -
33).
Temas principais do contemptos mundi. O desprezo do mundo e a vergonha de si
mesmo acompanham os monges da IM numa experiência global do pecado e um
pessimismo arraigado. Forma de pensar presente mesmo nos monges mais cristãos
homens da Igreja, sobretudo os próprios monges. (pág 33-34).

Nos mosteiros e conventos que surge a “consciência infeliz” que logo seria imposta a
toda uma civilização. Seus três componentes principais: ódio ao corpo e ao mundo,
evidência do pecado e sentimento agudo de fuga do tempo (pág 34).

Descrição anterior inspirada em Robert Bulot. Críticos dizem que Bulot denegriu a
hostilidade ao mundo por parte das Ordens contemplativas medievais. O contemptos
mundus não seria o objetivo delas. Ignoraria a admiração ao universo e um otimismo
escatológico que teria existido junto com o desprezo do mundo. A depreciação do
mundo seria necessária aos monges em sua busca pelo eterno e pelo amor preferencial
de Deus, mas eles não deixaram de promover o Renascimento do séc XII. Acusam ele
também de anacronismo (pág 36).

Delumeau concorda com Butot, entende que a historiografia questiona o passado em


função do presente. Argumenta que os trechos de escritos medievais que citou mostram
como o desprezo pelo mundo foi teorizado, generalizado e erigido em verdade absoluta,
tentando separar o santificado e o profano. Esse discurso se expandiu e colocado como
norma a toda uma civilização (pág 36 e 37).

Discurso sobre todas essas questões fica em Agostinho, padres do deserto e religiosos
dos séc X – XIII. Mas é importante perceber uma posteridade longa de um discurso
homogêneo, insistentemente retomado. Mas há algo novo: difusão de uma
culpabilização e de uma ética que se julgaria destinada a uma restrita elite de ascetas
(pág 37).

Sécs XIV – XVI são inúmeros os textos em que religiosos denunciam o mundo,
perpetuando e agravando a ambiguidade do termo mundo. Desprendimento então só é
proposto a seres excepcionais, mas deve ter em mente a expansão de obras redigidas por
grandes míticos que gera ambiguidade e causa confusão entre os sentidos de mundo
(pág 37). As obras desses religiosos citadas falam sobre a necessidade de se despojar de
tudo do mundo e do desprezo do mundo para ascender a Deus (p. 37 – 43).
Frei Luis de Leon – Sombrio comentário ao livro de Jó. Questão da vida como um
caminho para a morte presente em sua obra. Topos que vinha da IM e seque no início da
Im. Fala do desprezo do mundo, coisas boas da vida como ilusões Paradoxo do perigo
maior quanto mais tranquila for a vida. Ideia de guerra invisível. Inspiração agostiniana.
(p. 40 – 43).

Tido como trampolim para a ascensão a Deus de almas excepcionais, no início da


modernidade o desprezo ao mundo ultrapassa esse círculo restrito. Leigos escrevendo
sobre o De contempto mundi (p. 43 – 44). Segue falando de como o tema atinge novos
meios.

Petrarca e Erasmo nessa expansão (p.44 – 46).

Imitação de cristo – discurso sobre o desprezo do mundo atinge o grande público (p. 46
47) e outras obras sobre o desprezo do mundo e o reconhecimento dos males do mundo
como forma de ascensão com grande difusão (até p. 51).

Neste último ponto, é explorada a obra de Santo Inácio de Loyola (p. 49 – 50).

Na teologia protestante, o mundo e a vida do mundo se reabilitam em contraste com os


anátemas monásticos citados. Exaltação dos deveres seculares e carnais desprezados.
Lutero elogia o casamento, opondo-se a toda a tradição anterior. Calvino exalta a beleza
do universo. Homem com muita dignidade por receber a imagem de Deus (p. 51 – 53).

Mas a teologia protestante não abandona o pessimismo sobre o homem e o mundo.


Calvino e Lutero herdeiros de uma tradição da qual é difícil se desfazer. Mesmo falando
bem da sexualidade e da vida conjugal, ele só entende que não há pecado em todos os
momentos. O ato sexual ainda é pecaminoso, só na vida conjugal que Deus tira o
pecado por graça (p. 53 – 54).

Justificação pela fé mais sombria que o casuísmo católico. Na teologia protestante que a
depreciação do homem e do mundo atingem sua maior violência no ocidente (p. 54 –
55). Zuínglio tem um pensamento exageradamente pessimista sobre o ser humano (p. 56
– 57). Calvino – só se pode chegar a Deus pelo caminho do desespero (p. 57). Desprezo
de si como única rota para se chegar a Deus (p. 58).

Resumo do que surge de novo, do desprezo do mundo e do desespero nos protestantes:


sentidos não são mais opostos ao espírito, eles não são o inimigo porque é o próprio
espírito do homem que é mau, a fuga do mundo se torna inútil. Só a graça de Deus para
salvar mesmo. Doutrina da justificação pela fé como resultado lógico e o ponto extremo
de um longo percurso sobre a estrada desolada do pessimismo. (p. 61).

O contemptos mundi no mundo protestante não levava à fuga mundi, mas à margem do
protestantismo ela ressurgiu na forma de seitas. Ele faz uma diferenciação entre seita e
igreja seguindo o estudo de Ernst Troeltsch e mostra como as seitas costumam ser
reações ao fato de que as igrejas se misturam ao século, repudiando e se opondo à
sociedade (p. 62 – 63).

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