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Mestre da Igreja
Calvino:
Mestre da Igreja
EDITORA MONERGISMO
BRASÍLIA, DF
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
E M
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Brasília, DF, Brasil - CEP 70.842-970
Telefone: (61) 8116-7481 - Sítio: www.editoramonergismo.com.br
1ª edição, 2009
1000 exemplares
Prefácio do Editor............................................................................... 7
Autores.................................................................................................. 13
1. Carta de um Fã a Calvino
James I. Packer ....................................................................................... 27
3. A Esposa de Calvino
G. de Felice ............................................................................................ 47
4. O Pastor Erudito
Philip G. Ryken ..................................................................................... 63
8. A Epistemologia de Calvino
W. Gary Crampton................................................................................ 153
5
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
6
PREFÁCIO DO EDITOR
1 David Hall, The Genevan Reformation and the American Founding (New York:
Lexigton Books, 2003), p. 446.
2 Philip Vollmer, John Calvin: Man of the Millennium (Texas: The Vision Fo-
rum, 2008), p. xix.
3 W. Robert Godfrey, John Calvin: Pilgrim and Pastor (Wheaton: Crossway
Books, 2009), p. 7.
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
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PREFÁCIO DO EDITOR
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14 Alister McGrath, A Vida de João Calvino (São Paulo: Cultura Cristã, 2004),
p. 12.
15 Vicente Themudo Lessa, Calvino (1509-1564) Sua Vida e Sua Obra (São
Paulo: Cultura Cristã, sem data), p. 268.
16 Steven J. Lawson, A Arte Expositiva de João Calvino (São Paulo: Editora
Fiel, 2008), p. 16.
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PREFÁCIO DO EDITOR
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
teja só” (Gn 2.18). Para ver a preocupação de Deus com o lar e a família,
confira também Dt 24.5. A resenha de Chilton apareceu em The Biblical
Educator, Vol. II, nº 10, outubro de 1980.
12
AUTORES
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
14
AUTORES
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
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“A tarefa dos mestres consiste em preservar e propagar as sãs doutrinas
para que a pureza da religião permaneça na Igreja.”
J. Calvino
CRONOLOGIA
CRONOLOGIA DOS
EVENTOS IMPORTANTES
NA VIDA DE JOÃO CALVINO
15091564
MARCUS SERVEN
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CRONOLOGIA
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CRONOLOGIA
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“Os tempos estão nas mãos e à disposição de Deus, de modo que devemos
crer que tudo é feito na ordem prefixada e no tempo predeterminado.”
J. Calvino
CAPÍTULO 1
CARTA DE
UM FÃ A CALVINO
JAMES I. PACKER
Caro João,
Esta é a carta de um fã, nua e sem pudor, uma que eu há
muito precisava escrever, mesmo que por razões óbvias eu não
a possa remeter a você. Mas reconhecer publicamente as pró-
prias dívidas é bom para a alma, e quando alguém é um mestre
de teologia é bom para a igreja também. Não sei porque, mas
os cristãos que eu encontro dão a impressão de pensar que os
teólogos que ensinam surgem totalmente formados do útero
e trabalham isolados um do outro – daí o “eu sou de Calvi-
no” / “eu sou de Finney” / “eu sou de Pannenberg”, o que
Paulo decerto condena como puro corintianismo. Espero que
ao declarar a minha dívida eu possa reduzir a possibilidade do
mundo ou da igreja algum dia ser importunada pelos “eu sou
de Packer”.
Desejo que as pessoas entendam que os teólogos, como
os outros cristãos, aprendam com os santos na comunhão mul-
ti-geracional que é a igreja, onde mentores, pastores e colegas
nos ajudem a ver coisas que não tínhamos visto antes. Agos-
tinho teve Ambrósio, e você teve Agostinho, Lutero e Bucer,
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CARTA DE UM FÃ A CALVINO
J. I. Packer
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“Sejam quais forem os dons que possuamos, não devemos ensoberbecer-nos
por causa deles, visto que eles nos põem sob as mais profundas obrigações
para com Deus.”
J. Calvino
CAPÍTULO 2
JOÃO CALVINO:
O REFORMADOR SUÍÇO
HERMAN C. HANKO
INTRODUÇÃO
Quando Karl Barth estava preparando uma série de pa-
lestras sobre João Calvino, ele escreveu a um amigo:
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
CONTEXTO NA SUÍÇA
A parte da Suíça que nos interessa era denominada Su-
íça Francesa, porque fazia fronteira com a França e se falava
ali o francês. Era composta dos cantões de Genebra, Vaud e
Neûchatel. No cantão de Genebra encontrava-se a cidade de
mesmo nome às margens de um lago também chamado Ge-
nebra.
O governo de Genebra exige uma breve explanação, pois
havia de desempenhar um papel considerável na Reforma lá.
Os cidadãos da cidade encontravam-se anualmente na Assem-
bléia Geral para eleger quatro síndicos e um tesoureiro. Os
cidadãos, por seu turno, eram governados por um Pequeno
Conselho de 25 síndicos, o qual incluía os síndicos correntes
e aqueles dos anos anteriores. O Conselho de 60, nomeado
pelo Pequeno Conselho, decidia assuntos políticos de maior
monta. Em 1527 um Conselho de 200 foi adicionado, o qual
incluía o Pequeno Conselho e 175 outros escolhidos por este.
Foi, sobretudo, este último grêmio que proporcionou a Calvi-
no muitos de seus problemas.
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JOÃO CALVINO: O REFORMADOR SUÍÇO
A JUVENTUDE DE CALVINO
Calvino nasceu em 10 de julho de 1509 em Noyon, Fran-
ça, 26 anos após o nascimento de Lutero. Ao passo que esse
nasceu em uma parte da igreja onde se enfatizava a piedade e
a religião, Calvino nasceu em uma parte daquela que tinha em
grande conta educação e cultura. Pouco se sabe de sua mãe;
seu pai era secretário apostólico do bispo de Noyon, mas caiu
em dificuldades financeiras, tornou-se um constrangimento à
igreja e foi excomungado.
Quase desde o princípio Calvino estava destinado ao cle-
ro, e aos doze anos recebeu parte da receita de uma capelania
que o sustentava em seus estudos. Esses, apesar de realizados
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JOÃO CALVINO: O REFORMADOR SUÍÇO
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JOÃO CALVINO: O REFORMADOR SUÍÇO
CALVINO EM ESTRASBURGO
Depois de uma breve estadia na Basiléia, Calvino foi para
Estrasburgo, uma cidade no sul da Alemanha onde a reforma
suíça já se havia arraigado. Os três anos que passou nessa ci-
dade foram provavelmente os mais felizes de sua vida. Ele não
precisou combater um Conselho, não precisou batalhar contra
inimigos por toda parte. Ele teve paz e quietude, tempo para
estudar e escrever, oportunidade para efetuar o trabalho nos
campos da liturgia e do governo da igreja.
Calvino foi nomeado para a faculdade da Universidade
na cidade e chamado para ser pastor de uma igreja de refugia-
dos franceses. Ele teve ocasião para se encontrar com teólogos
luteranos e aprofundar seus próprios pontos de vista teoló-
gicos. Trabalhou nas revisões de suas Institutas e desenvolveu
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JOÃO CALVINO: O REFORMADOR SUÍÇO
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
CONTROVÉRSIAS DE CALVINO
Dentro da cidade mesma os conflitos de Calvino se da-
vam com um partido denominado Patriotas. Eram eles os des-
cendentes dos cidadãos originais da cidade, católicos romanos
inflexíveis quando Calvino chegou, e mui dados à vida desco-
medida. Visto que grande número de refugiados, de todas as
partes da Europa, se mudava para Genebra para escaparem
da perseguição, os Patriotas se ressentiam do fato de que o
controle da cidade estava passando para mãos estrangeiras.
Odiavam Calvino e faziam tudo que estava em seu poder para
o destruir. Quando a Igreja finalmente conseguiu excomungar
os líderes por sua licenciosidade e o Conselho aprovou, esses
homens fugiram.
Mas as controvérsias teológicas eram as mais importan-
tes. Calvino escrevia contra o papado para mostrar os males
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“Onde a esposa é uma auxiliadora de seu esposo, fazendo sua vida feliz,
então está em concordância com a intenção de Deus. Porque Deus assim o
ordenou no princípio, ou seja, que o homem sem esposa é apenas a metade
de homem, por assim dizer, e se sente carente do apoio que pessoalmente
necessita; e a esposa é, por assim dizer, o complemento do homem.”
J. Calvino
CAPÍTULO 3
A ESPOSA DE CALVINO
G. DE FELICE
IDELETTE DE BURRE
A ESPOSA DE CALVINO
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A ESPOSA DE CALVINO
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A ESPOSA DE CALVINO
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G. DE F.
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A ESPOSA DE CALVINO
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A ESPOSA DE CALVINO
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A ESPOSA DE CALVINO
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G. DE F.
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“A verdade só é preservada no mundo através do ministério da Igreja.
Daí, que peso de responsabilidade repousa sobre os pastores, a quem se
tem confiado o encargo de um tesouro tão inestimável.”
J. Calvino
CAPÍTULO 4
O PASTOR ERUDITO
PHILIP G. RYKEN
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O PASTOR ERUDITO
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“Ninguém possui coisa alguma, em seus próprios recursos, que o faça
superior; portanto, quem quer que se ponha num nível mais elevado não
passa de imbecil e impertinente.”
J. Calvino
CAPÍTULO 5
CALVINO FACETAS
DO HOMEM E DO SEU
MINISTÉRIO
ODAYR OLIVETTI
O ESTUDANTE
Primeiramente, alguns toques sobre Calvino como estu-
dante.
Seus primeiros estudos foram em Noyon, recebendo au-
las particulares junto com rapazes da família Hangest, e depois
no Collège des Capettes – colégio dos capuzes (que os alunos
usavam). Calvino não esqueceu os benefícios recebidos pela
educação recebida no seio da família Hangest. Obteve ali edu-
cação clássica e ali aprendeu maneiras polidas.
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
1 Vicente Themudo Lessa, Calvino (1509-1564) Sua Vida e Sua Obra, São
Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 2ª. edição, sem data, p. 27. (Impropria-
mente grafado Temudo.)
2 Thea B. Van Halsema, João Calvino Era Assim, tradução de Jaime Wright,
São Paulo, Editora Vida Evangélica S/C, 1ª. edição brasileira, junho de
1988, p. 19.
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CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
Gratidão
Vemos nas anotações acima duas demonstrações de gra-
tidão da parte de João Calvino. E não de uma gratidão ape-
nas demonstrada superficialmente logo depois dos benefícios
recebidos. Nos dois casos, muito depois do recebimento dos
serviços a ele prestados, ele inscreveu seu reconhecimento em
dedicatórias, primeiro, do Comentário sobre Sêneca, a Claudio de
Hangest; depois, do seu comentário de 1 Tessalonicenses, ao
professor Mathurin Cordier.
Nesta nossa época em que com certa frequência vemos pessoas que
recebem favores reagirem dizendo ou dando a entender que os seus
ajudadores têm obrigação de ajudá-los, é salutar ver um genuíno
espírito de gratidão num homem que é admirado por seus dotes inte-
lectuais, quando não por seu testemunho espiritual.
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
O INTELECTUAL
4 Beeke, J.R. e Pederson, R.J., Meet the Puritans, 2006. Grand Rapids, Michi-
gan: Reformation Heritage Books p. 40. (Obra que estou tendo o privi-
légio de traduzir para a Editora PES.)
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CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
ATIVIDADE INCESSANTE
Trabalho
Calvino trabalhava ativamente em várias frentes: produ-
ção de livros, pastorado, participação do Consistório, que ti-
nha o governo da cidade, a Academia e o Colégio de Pastores
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CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
Produção Literária
Calvino foi escritor prolífico. Não é objetivo deste en-
saio falar de suas obras. Aqui apenas destaco o fato como uma
das suas facetas: Seus escritos sobre Sêneca e outros, seus co-
mentários, seus tratados, suas cartas, a fabulosa produção das
Institutas, com o extraordinário resumo teológico-histórico que
constitui o conteúdo de sua carta ao rei Francisco I. Todos o
exaltam não somente como um escritor prolífico, mas tam-
bém, e principalmente, como um escritor de obras importan-
tíssimas.
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
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CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
Destaque – Cartas
Da numerosa correspondência de João Calvino, faço es-
tes breves destaques: com Sadoleto e com altas autoridades
inglesas:
Sadoleto divulgou sua carta na qual exalta a Igreja Cató-
lica Romana e critica os protestantes com muita ironia. Escre-
veu com arte, artifícios e artimanhas. Fizeram chegar a Calvino
cópia dessa carta, à qual ele respondeu em alto estilo, com no-
breza e com sua costumeira competência. A carta de Sadoleto
cobriu 48 páginas; a de Calvino, 152 páginas. Lessa comenta
extensamente as duas cartas.10
Houve boa divulgação da carta de Calvino. Sobre ela disse
Martinho Lutero, a seu modo típico: “Eis um escrito que tem
pés e mãos. Alegro-me ao ver Deus suscitar homens assim.
Continuarão e terminarão, com o auxílio do Senhor, a obra que
eu encetei contra o Anticristo”.11
Houve notável correspondência de Calvino com Lorde
Somerset, Regente no início do reinado de Eduardo VI, da In-
glaterra, e com o arcebispo Cranmer, primaz da Inglaterra.12
Naquela época de forte perseguição de Roma contra os
Reformados, Calvino escreveu cartas aos condenados, con-
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
Liturgia
Quanto à liturgia, Lessa faz o seguinte resumo da ordem
do culto público normalmente seguida por Calvino: “Invoca-
ção, confissão de pecados, palavras para tranquilizar as cons-
ciências, absolvição; canto de cinco mandamentos pela assem-
bléia. Sobe, então, o pastor ao púlpito, deixando a mesa da
comunhão; faz a oração, que termina pelo Pai Nosso; prega o
sermão e depois eleva uma oração litúrgica com paráfrase do
Pater. Depois canta-se um salmo e o pastor dá a bênção”.15
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CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
Pastor
Como pastor, Calvino era operoso e atencioso. Dedicava-
se à visitação dos mais necessitados de atenção, entre eles os
refugiados. Não se negava a percorrer os bairros, as vielas e os
canais para atender pessoas e famílias de condições sociais e
financeiras desfavorecidas. Isso não o levava a relaxar no pre-
paro para o púlpito. É geralmente reconhecido o alto nível do
seu trabalho como pregador e mestre de doutrina.16
Moralização
Calvino fez grandes esforços em favor da moralização
dos costumes. Seu empenho nesse sentido mostrou-se inicial-
mente na confissão de fé que ele e Farel produziram. Aprovada
pelo povo, foi repudiada pelo Partido dos Libertinos, devido
ao rigor ético exigido por aquele importante documento. A
reação dos libertinos foi tal que Calvino saiu de Genebra em
1539 e se estabeleceu em Estrasburgo.
“Enquanto estava em Estrasburgo, viu-se [em Genebra]
que mesmo a regra mais rigorosa de Calvino era melhor que
não haver nenhuma regra, e em 1540 ele foi chamado de vol-
ta.” Voltou com relutância, mas então “se dedicou pelo resto
de sua vida à tarefa de estabelecer Genebra e a teologia pro-
testante”.17
Política
Com relação às atividades políticas de Calvino, muita
coisa tem sido dita modernamente por homens servilmente
aceitos como autoridades, mas que, no mínimo, interpretaram
superficialmente as preocupações de Calvino, em particular
quanto à política. Digo somente o seguinte:
16 Ibid.
17 Everyman’s Encyclopædia, ibid.
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CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
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CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
FIRMEZA DOUTRINÁRIA
Sumário inicial:
1. O fundamento teológico-doutrinário de João Calvino
é a Escritura Sagrada. Não desprezava os acessórios: clássi-
cos da literatura universal, escritos dos “pais da igreja”, livros
apócrifos, não como base, mas como ilustrativos de pontos
defendidos por ele.
Com relação às doutrinas da graça, ele deu os fundamen-
tos claros para a “Tulip” – os cinco pontos do calvinismo...
Em inglês: Total Depravation, Uncondicional Election, Limited Ato-
nement, Irresistible Grace, Perseverance of the Saints (Depravação
Total, Eleição Inconcidional, Expiação Limitada, Graça Irre-
sistível, Perseverança dos Santos).
É oportuno lembrar algo do que diz o Rev. Hermins-
ten Maia Pereira da Costa sobre o que estou tentando pas-
sar. Diz ele: “Para Calvino, todo o pensar teológico está
conectado com a piedade. A teologia envolve toda a nossa
mente, coração e vontade. Por isso, ‘o fim de um teólogo
não pode ser deleitar o ouvido, senão confirmar as consci-
ências ensinando a verdade e o que é certo e proveitoso’”. A
sua teologia nada mais era do que um esforço por comentar
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
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CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
Humildade:
Lembrando os bereanos: “É recomendável que se re-
corra à Escritura para considerar os testemunhos por mim
citados”.
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CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
“DOUTRINA NOVA?”
Resposta: “Primeiramente, dizendo que é nova fazem
grande ofensa a Deus, pois a sua Palavra não merece a acu-
sação de que não passa de uma novidade. Claro, não tenho
dúvida de que é nova para aqueles para quem o próprio Cristo
e o seu evangelho são novos. – Mas aqueles que sabem que a
pregação feita pelo apóstolo Paulo – que Jesus Cristo morreu
pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação25
– é antiga, não encontrarão nada de novo entre nós”.
“DESCONHECIDA?”
Resposta: “O fato de que esta doutrina permaneceu ocul-
ta e desconhecida por muito tempo é crime cometido pela im-
piedade humana. Agora, quando pela bondade de Deus ela nos
é restaurada, ao menos devia ser recebida com reconhecimen-
to da sua autoridade antiga”.
“INCERTA?”
Resposta: “Da mesma fonte de ignorância vem a acusa-
ção de que a nossa doutrina é duvidosa e incerta. É deveras
disso que o Senhor se queixa, por intermédio do seu profe-
ta, quando afirma que o boi conhece o seu possuidor, e o
jumento, o dono da sua manjedoura, mas o seu povo não
o conhece.26 Mas, como eles zombam da incerteza da nossa
doutrina, se tivessem de selar a deles com o seu próprio san-
gue27 e à custa da sua vida, então se poderia ver bem quanto
a prezam. Muito diferente é a nossa confiança, pois esta não
tem medo, nem dos horrores da morte, nem do julgamento
feito por Deus”.
25 Rm 4.25.
26 Is 1.3.
27 Rm 8.36.
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
“MILAGRES?”
Resposta: “Na exigência que nos fazem de milagres eles
são insensatos. Porquanto não estamos forjando um evange-
lho novo, mas nós mantemos aquele evangelho já confirma-
do por todos os milagres que Jesus Cristo e os seus apóstolos
realizaram. Os nossos adversários poderiam dizer que levam
vantagem sobre nós, porque, dizem eles, podem confirmar a
sua doutrina com a constante realização de milagres, até o dia
de hoje. Mas, quanto a isso, eles alegam milagres que podem
perturbar o espírito de uma pessoa e enchê-la de dúvida, quan-
do sem esses milagres a pessoa estaria bem e tranquila,28 tão
frívolos e falsos eles são! Contudo, mesmo que esses milagres
fossem prodigiosos e admiráveis, não se deveria dar a eles ne-
nhum valor contra a vontade de Deus, pois o importante é que
o nome de Deus seja santificado sempre e em toda parte, quer
havendo milagres, quer seguindo a ordem natural das coisas.
– Poderia acontecer que eles nos impressionassem mais, se a
Escritura não nos avisasse sobre o uso legítimo dos milagres”
(Aqui Calvino cita e comenta as seguintes passagens que mos-
tram a natureza e os objetivos dos milagres biblicamente con-
siderados: Mc 16.20; At 14.3; Rm 15.18,19; Jo 5.44 e Dt 13.2
com 2 Ts 2.9,10. Com relação a estas duas últimas passagens,
Calvino afirma: “Também devemos lembrar-nos de que Sata-
nás tem os seus milagres, os quais, embora sendo meras ilusões
e não prodígios reais, podem enganar os simples e incultos”.
Prossegue Calvino citando os donatistas com seus pretensos
milagres e a resposta dada a eles por Agostinho, e com outros
argumentos bíblicos.)
No fim dessa resposta, João Calvino diz: “A verdade é
que milagres temos muitos, e milagres autênticos e não mere-
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CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
29 Dt 13.1-18
30 Esta constatação facilitou ao ex-monge, hoje ministro presbiteriano e
presidente do Presbitério de São João da Boa Vista, SP, Rev. Luiz Fer-
nando dos Santos, a aceitação da doutrina Reformada “com a mente e
com o coração”, como disse ele. Quando monge, estudou e ensinou os
chamados pais da igreja.
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
disse: que tudo é nosso para nos servir, não para nos dominar,31
e que todos nós pertencemos a Cristo, a quem se deve obedi-
ência em todas as coisas, sem exceção. Os que não seguem
esta ordem não terão segurança em nenhum ponto da fé, visto
que aqueles santos personagens em questão ignoram muitas
coisas, têm divergências entre si e, às vezes, até se contradizem.
... Da lista de ‘pais’ houve um que disse32 que Deus não come
nem bebe, e, portanto, não precisa de pratos e cálices. Outro33
disse que os sacramentos dos cristãos não requerem ouro nem
prata, e que não é com ouro que eles agradam a Deus. Assim
os nossos adversários ultrapassam os limites dos ‘pais’ quando
em suas cerimônias tanto se deleitam com o ouro, a prata, o
mármore, o marfim, as pedras preciosas e as sedas, e acham
que Deus não pode ser adorado como se deve se não houver
grande número destas coisas supérfluas.
“Um dos ‘pais’34 dizia que, visto que ele era cristão, ou-
sava comer livremente carne na quaresma, quando os outros
dela se abstinham. Portanto, os seus pretensos filhos rompem
os limites quando excomungam quem, na quaresma, tenha co-
mido carne.”35 Outro “disse que ‘é uma horrível abominação
ver-se uma imagem de Cristo ou de algum santo nos templos
cristãos’.36Muito longe estão de respeitar estes limites...”.
“Outro ‘pai’ aconselhou que, após haver-se exercido o
ofício humanitário de conceder sepultura aos mortos, que
31 1 Co 3.21-23.
32 Acácio, em Hist. Tripar. (Cassiodoro, I.XI.16; Migne, 69, 1198).
33 Ambrósio, liv. I, sobre os ofícios, II. cap. XXVIII, 158 (Migne, 16, 140).
34 Espiridião, no livro Hist. Tripar., c. 10 (Cassiodoro, I, 10 (Migne, 69, 894).
35 Prática que agora, com a pressão do mundo moderno, se restringe,
para alguns, à semana da Páscoa, e para outros, somente à “Sexta-feira
Santa”.
36 Epifânio, epístola traduzida por Jerônimo (Ad Iohann, ep. 51, 9; Migne,
22, 526).
90
CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
Institutas
Considerada por muitos, mesmo dentre não calvinistas, como a
suma teológica da Reforma. Dentro do escopo deste ensaio, vejamos
títulos dos capítulos e subtítulos significativos.38 Lembremos que os ar-
gumentos são acompanhados por muitas citações bíblicas, em geral em
notas de rodapé.
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
Volume 1
Capítulo I
O Conhecimento de Deus
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CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
23. A primazia da fé
24. A força da simplicidade da Escritura
25. A importância relativa da autoridade da igreja
26. O testemunho dos mártires
27. Indevida exaltação do Espírito em detrimento da Pa-
lavra
28. A Escritura constitui o critério para habilitar-nos a
discernir o Espírito
29. Na letra o Espírito
30. A luz do Espírito na Palavra
31. A Escritura fala do único Deus vivo e verdadeiro
Capítulo II
O Conhecimento do Homem e o Livre-arbítrio
93
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
9. O pecado original
13. Definição de pecado original
14. Culpa herdada e culpa atual
16. A culpa não está em Deus
18. A universalidade do pecado
21. Faculdades do ser humano
25. Definição do livre-arbítrio
26. Discussão da proposição supra
27. Enfeite soberbo para algo insignificante
28. Livre-arbítrio: livre ou escravo?
29. Esclarecimento, não preconceito
30. A natureza do homem
37. A única fonte da verdade
38. Tripé da sabedoria espiritual (conhecer Deus; conhe-
cer Sua vontade; saber regrar nossa vida segundo a
vontade de Deus)
39. A grande limitação da luz da natureza
40. Como regrar a nossa vida
41. A lei natural ajuda e condena
42. Um padrão da justiça perfeita (“...a lei de Deus... é
um padrão da justiça perfeita”)
43. A vontade e a liberdade (“Devemos examinar agora
a vontade, que inclui a liberdade, se é que existe al-
guma liberdade no homem”)
44. Dois erros
45. Que existe no homem, senão vaidade?
94
CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
95
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
96
CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
Capítulo III
A Lei
97
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
98
CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
99
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
VOLUME 2
Capítulo IV
Breves excertos:
“5. A Palavra é um espelho no qual a fé pode contemplar
Deus”; “7. Definição de fé: “... a fé é um conhecimento firme
e certo da boa vontade de Deus para conosco, e, fundamenta-
da na promessa gratuita em Jesus Cristo, é revelada ao nosso
entendimento e selada em nosso coração pelo Espírito”. “16.
A arma da fé: a Palavra de Deus”. “24. Todas as promessas da
graça concentram-se em Cristo”; “43. O Credo dos Apóstolos:
quadro que dá perfeita explicação da fé”; “46. Exposição do
Credo dos Apóstolos”. Daqui por diante é feita a exposição
do Credo, até a página 128 deste volume. No item 128, página
125, Calvino condena o erro pueril dos quiliastas do seu tem-
po, que delimitavam “o Reino de Cristo e a sujeição do Diabo
e seus membros a mil anos”. No item 129 ele fala da relação
entre fé e esperança, e conclui esse item e o capítulo com estas
palavras: “Nós, ao contrário [daqueles que dizem que a segura
esperança cristã é ‘presunção’], quando vemos que Deus vi-
sivelmente ordena aos pecadores que tenham firme e segura
esperança de salvação, ousadamente presumimos tanto da sua
verdade que, mediante a sua misericórdia, rejeitando toda a
100
CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
Capítulo V
O Arrependimento
Capítulo VI
A Justificação pela Fé e os Méritos das Obras
101
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
VOLUMES 3 E 4
Para não estender-me em demasia, vou restringir-me da-
qui em diante a citar os capítulos dos volumes 3 e 4 das Insti-
tutas. Como algures já disse, insisto em transcrever partes das
Institutas porque já me vou cansando de ouvir gente de variada
categoria referir-se a Calvino como se ele só tivesse ensina-
do a doutrina da predestinação, ou, outra gente, como se ele
fosse o responsável pelo capitalismo selvagem que a ganância
humana desenvolveu, e que, como a nossa política nacional
atual mostra, domina corações não só de capitalistas decla-
rados mas também os de muitos daqueles que exteriormente
são inimigos do capitalismo. Uma vez um famoso socialista
brasileiro entrou numa sala em que estávamos eu, um pastor
de tendências socialistas, de outra denominação, e uma irmã e
um cunhado dele – homem de pura e cristalina vida cristã. Em
certo momento, o pastor estava dizendo ao cunhado: “Você
é uma ótima pessoa, mas precisa inclinar-se um pouco para a
esquerda...”. Nisso bateram à porta, abri, e entrou o socialista.
102
CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
VOLUME 3
Capítulo VII – Semelhanças e Diferenças entre o Antigo e
o Novo Testamentos
Capítulo VIII – A Predestinação e a Providência de Deus
Capítulo IX – A Oração, com a Explicação da Oração do
Senhor
Capítulo X – Os Sacramentos
Capítulo XI – O Batismo
VOLUME IV
Capítulo XII – Sobre a Ceia do Senhor
Capítulo XIII – Sobre as cinco outras cerimônias falsamen-
te chamadas sacramentos; quais sejam: a con-
firmação, a penitência, a extrema-unção, as
ordens eclesiásticas e o casamento
Capítulo XIV – Sobre a liberdade cristã
Capítulo XV – Sobre o poder eclesiástico
Capítulo XVI – Sobre o governo civil
Capítulo XVII – Sobre a vida cristã
O último item (45) deste último volume diz: “A nossa
vocação deve ser levada em conta em tudo quanto planejamos
e fazemos”.
103
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
42 Cit. por Herminsten Maia Pereira da Costa em Fides Reformata XIII, Nº.
1 (2008), p. 86.
43 Seja Cristo Engrandecido – O Ensino de Calvino para Hoje, J. H. D’Aubigné,
tradução (do inglês) de Odayr Olivetti, Publicações Evangélicas Selecio-
nadas (PES), São Paulo, Primeira edição: 2008.
104
CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
Despertamento 2
Em 1817 D’Aubigné esteve presente nas celebrações das
95 teses de Lutero, realizadas no Castelo de Wartburg. A ênfase
maior foi ao significado intelectual e político de Lutero, fican-
do no esquecimento sua significação espiritual. Esse triste fato
teve um fruto feliz: Impressionado negativamente, D’Aubigné
decidiu escrever uma história da Reforma que salientasse o
sentido religioso do estupendo movimento do século XVI. O
moço tinha apenas vinte e três anos de idade quando tomou
essa decisão, e aí está, à disposição de quem quiser ler, a mo-
numental obra, a História da Reforma do Século XVI, publicada
pela Casa Editora Presbiteriana, São Paulo.44 O autor comple-
tou essa obra no ano de 1853. No período de 1863 a 1878,
D’Aubigné escreveu o livro História da Reforma na Europa no
Tempo de Calvino, em oito volumes. Cinco destes foram publi-
cados durante a vida do autor; os três últimos, postumamente.
Procurando Despertar
Nos dois primeiros momentos o Despertamento foi de
D’Aubigné; neste, ele, fiel crente em Jesus Cristo, procurou
despertar outros para a amortecida herança da Reforma, quan-
do foi convidado para falar no seguinte grande evento:
105
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
106
CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
47 O dia de sua morte. Porque nesse dia ele passa para a eternidade glorio-
sa. Tomei essa expressão do título de um dos livros do puritano inglês
Thomas Brooks (1608-1680): O Último Dia do Crente é o Seu Melhor Dia.
O. O.
107
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
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CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
109
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
110
CALVINO: FACETAS DO HOMEM E DO SEU MINISTÉRIO
Aplicam-se com mais forte razão a João Calvino o que o puritano John
Norton disse do puritano John Cotton:
“Estando morto, ainda fala”, em seus preciosos escritos.
Ainda mais quando lembramos que os seus escritos glorifi-
cam Deus o Pai e o Filho e o Espírito Santo.
52 Philip Schaff, History of the Christian Church, p.101, apud Lessa, op. cit., p.
253.
111
“O fim de um teólogo não é deleitar os ouvidos, com arguir loquazmen-
te, mas firmar as consciências, em ensinando o verdadeiro, o certo, o
proveitoso.”
J. Calvino
CAPÍTULO 6
BENJAMIN B. WARFIELD
113
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
114
CALVINO COMO TEÓLOGO
115
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
116
CALVINO COMO TEÓLOGO
onde está falando da salvação. Aqui era onde residia seu mais
profundo interesse. O que enchia o seu coração e jorrava em
abundância em todas as câmaras da sua alma era um senso
profundo de sua eterna dívida à livre graça de Deus seu Sal-
vador. Seu zelo em afirmar a doutrina da dupla predestinação
está fundamentado na clareza com a qual ele percebia – como
de fato percebido com ele por todos os Reformadores – que
somente assim o fermento maligno do “sinergismo” pode ser
eliminado e a livre graça de Deus ser preservada em sua pu-
reza no processo salvífico. As raízes do seu zelo estão planta-
das, resumindo, em sua consciência da absoluta dependência
como um pecador da livre misericórdia de um Deus salvador.
A soberania de Deus na graça era um constituinte essencial
de sua profunda consciência religiosa. Como seu grande mes-
tre, Agostinho – como Lutero, Zwínglio, e Bucer, e todo o
restante daqueles espíritos sublimes que trouxeram o grande
reavivamento da religião que chamamos de Reforma – ele
não poderia suportar que a graça de Deus não deveria rece-
ber toda a glória da glória do resgate dos pecadores daquela
destruição na qual eles estavam envolvidos, e da qual, sim-
plesmente porque estavam envolvidos nela, eram incapazes
de fazer algo em prol do seu próprio resgate.
O interesse fundamental de Calvino como teólogo reside,
é claro, na região amplamente designada como soteriológica.
Talvez possamos ir mais adiante e adicionar que, dentro desse
amplo campo, seu interesse era mais intenso na aplicação à
alma pecadora da salvação adquirida por Cristo – resumindo,
no que é tecnicamente conhecido como ordo salutis. Isso tem
até se tornado sua repreensão em alguns lugares, e temos sido
informados que a principal falta das Institutas como um tratado
em ciência teológica, reside em seu caráter muito subjetivo. Seu
efeito, em todo caso, tem sido constituir Calvino pré-eminen-
temente o teólogo do Espírito Santo.
117
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
118
CALVINO COMO TEÓLOGO
119
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
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CALVINO COMO TEÓLOGO
121
“Pois o Senhor nomeou-nos ministros de sua doutrina com este pré-requi-
sito, que temos de ser tão firmes na defesa da fé quanto na comunicação
dela.”
J. Calvino
CAPÍTULO 7
123
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
1 John Calvin, Institutes of the Christian Religion, vol. XX, pp. 63-64.
124
CALVINO COMO POLEMISTA
2 Ibid., p. 67.
3 Ibid., p. 68.
4 Ibid. 5.
5 Ibid., pp. 69-70.
125
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
6 Ibid., p. 35.
7 Ibid., book I, chapter XV, section 3.
8 Ibid., section 4, p. 189.
9 Ibid.
10 Ibid., section 8, p. 196.
126
CALVINO COMO POLEMISTA
127
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
128
CALVINO COMO POLEMISTA
O DEUS TRINO
O que a causa evangélica requer, portanto, é uma clara afir-
mação no sentido de que o verdadeiro conhecimento de si e
o verdadeiro conhecimento de Deus estão envolvidos um no
outro e que esse Deus verdadeiro é o Deus trino das Escrituras.
Deus é a “única testemunha legítima de si mesmo, e não é co-
nhecido senão mediante ele próprio. Porém, devemos
‘deixar isso para ele’ se o concebemos como sendo tal como
se revela a nós, sem inquirir a respeito dele em nenhum outro
lugar além de sua Palavra”.16 E Deus se revela nas Escrituras
como o Deus trino. “Com efeito, se nos agarrarmos ao que foi
satisfatoriamente ensinado acima, tirado das Escrituras – que a
essência do único Deus é simples e não dividida, e que pertence
ao Pai, ao Filho e ao Espírito; e, por outro lado, que por uma
determinada característica o Pai se distingue do Filho, e o Filho,
do Espírito – a entrada ficará fechada não apenas para Anus e
Sabélio, mas também a outros antigos autores de erros”. 17
Calvino, portanto, estava muito interessado no fato de
que ninguém podia achar qualquer desculpa para imaginar o
Filho e o Espírito como menos Deus em si mesmos do que o
Pai. A ideia de Sola Scriptura sugere e é sugerida pela ideia de
Solus Christus. As Escrituras não possuem nenhuma autoridade
absoluta a não ser que sejam a Palavra de Cristo como o Filho
de Deus, Deus em si mesmo, tanto quanto o Pai as deu pelo
Espírito Santo.
DEUS EM SI MESMO
Não admira que aqueles que desdenhosamente rejeitavam
as Escrituras como a fonte e o padrão final do conhecimento
do homem sobre si próprio e de Deus também se opunham
129
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
O DECRETO DE DEUS
O afã teológico de Calvino era definir o ponto de vis-
ta bíblico sobre o homem e Deus sem rodeios, opondo-se a
toda forma de filosofia centrada no homem. Agostinho leva-
ra a maior parte de sua vida após a conversão para livrar o
evangelho da concepção platônico-plotiniana da escala do ser.
Calvino ficou sobre os ombros de Agostinho e, por conseguin-
te, viu mais claramente do que esse a necessidade de pensar
biblicamente em cada ponto. Toda a filosofia do fiel sobre a
natureza e a História é somente uma expressão conceitual do
que Cristo, nas Escrituras, contou-lhe sobre o passado, o pre-
sente e o futuro.
Todos os filósofos, incluindo Platão, o melhor deles, per-
deram-se em seu globo redondo. Induziram sua brilhante fa-
culdade de pensamento no interesse de “manter debaixo” a
verdade acerca de si mesmos como pecadores perante Deus,
seu criador. Todos os homens são como que portadores da
imagem de Deus e como tais não podem ajudar senão conhe-
cendo que são criaturas dele e pecadores contra esse. De que
maneira eu, como crente em Cristo, sei que o incrédulo “sabe”
disso? Porque Cristo me diz isso nas Escrituras. E como sei
que Cristo me está dizendo a verdade sobre tal assunto nas
Escrituras? Porque ele me disse.
130
CALVINO COMO POLEMISTA
131
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
132
CALVINO COMO POLEMISTA
MÉTODO DE CALVINO
Do que foi dito fica evidente que a teologia de Calvino
requeria uma “revolução copérnica” do método tradicional de
recomendar o cristianismo aos não crentes. O método tradicio-
nal de apologética, melhor desenvolvido por Tomás de Aqui-
no, construiu seu entendimento do homem em relação a Deus
23 Ibid.
24 Ibid.
25 Ibid., p. 328.
133
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
134
CALVINO COMO POLEMISTA
135
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
PARTE II
DEFESA
Porém, Calvino percebia que o evangelho não podia ser
fielmente pregado a não ser que fosse fielmente defendido:
“Pois o Senhor nomeou-nos ministros de sua doutrina com
este pré-requisito, que temos de ser tão firmes na defesa da fé
quanto na comunicação dela”.26 E “quando se deve suportar
a luta pela vida, poucos sabem o que é defender a causa de
Cristo”. 27
136
CALVINO COMO POLEMISTA
EXTREMA OPOSIÇÃO
Durante os primeiros anos de Calvino, Francisco I, o rei
da França, empreendeu em sua terra uma violenta perseguição
aos protestantes.
“Os príncipes alemães, que haviam esposado a causa do
Evangelho, e cuja amizade Francisco estava então cortejando,
sentiram-se ofendidos com a perseguição dele aos protestantes,
a desculpa oferecida, … era que não tinha punido ninguém, a
não ser os anabatistas, os quais substituíam o próprio espírito
deles pela Palavra divina, e tinham todos os magistrados civis
em desprezo”. 28
Em tal circunstância Calvino se levanta à plena altura e diz:
137
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
30 Idem, p. 9.
31 Institutes, Vol. I, p. 95.
32 Ibid.
33 Idem, Prefatory Address, p. 10.
138
CALVINO COMO POLEMISTA
COMUNICAÇÃO PACTUAL
Para Calvino, defender a fé significa, portanto, (a) impedir
Satanás de introduzir interferência estática dentro do instrumen-
to através do qual Cristo fala à sua Igreja e (b) impedir Satanás de
obstruir a resposta de fé e obediência que a Igreja deve dar à sua
Cabeça. A comunicação pactual entre Cristo e sua Igreja deve
ser mantida a todo custo. Em seu ódio a Cristo, Satanás tenta
destruir tal comunicação. O verdadeiro servo de Deus deve vi-
giar para que todo seu labor na pregação e no ensino não sirva
aos propósitos de Satanás em vez de servir àqueles de Cristo.
Os verdadeiros servos de Cristo devem proteger as ovelhas de si
mesmos, dos falsos pastores e de Satanás. De que outra maneira
podem os crentes crescer na graça e no conhecimento de seu
Salvador? E de que outra maneira pode a Igreja, o povo de Deus,
proclamar a mensagem do Salvador ao mundo?
Ao longo de toda a sua vida, Calvino seguiu o curso reto
que estabeleceu para si mesmo quando primeiro defendeu os
protestantes na França, apanhados pelas trevas noturnas.
Seu interesse básico sempre foi a edificação do povo de
Deus na fé. Mas também sempre se manteve de guarda para
34 Idem, p. 61.
139
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
CONFISSÃO ABERTA
Um dos mais sutis esquemas satânicos era aquele de im-
pedir os fiéis de confessarem abertamente a fé, “sustentando
ser suficiente cultuar a Cristo na mente, embora externamente
frequentassem os rituais papistas”. 35
Com a mais profunda empatia Calvino escreve a um ami-
go sobre esse assunto. Ele se condói do fato de esse viver “na-
quele Egito em que tantos ídolos e tanta idolatria monstruosa”
são diariamente apresentados a seus olhos. 36 Porém, que ele
não comece a considerar nenhuma política de guardar silêncio
quando Cristo for confessado diante dos homens, para que
não principie a própria ruína.
“Todas as vezes em que alguma aparência de bem ou con-
veniência nos tire um só fio de cabelo de obediência ao Pai celes-
tial, o primeiro pensamento que deve se apresentar para a nossa
consideração é, que tudo, seja o que for, que obteve a sanção de
uma ordem divina, torna-se desse modo tão sagrado que não só
está fora de discussão, mas também de deliberação.” 37
“Em resumo, o Senhor chama seus seguidores à confis-
são, e aqueles que dela declinam devem buscar um outro amo,
dado que ele não pode tolerar dissimulação [falsa aparência,
hipocrisia].” 38 Por dissimulação serviríamos àquele cruel amo
Satanás, em vez de nosso misericordioso Salvador que confes-
140
CALVINO COMO POLEMISTA
COLEGAS TÍMIDOS
A Confissão da Igreja, sustentava Calvino, deve não
somente ser do crente individual, deve ser também da igre-
ja. Quando primeiro se estabeleceu em Genebra ele “publi-
cou uma curta fórmula de doutrina cristã, adaptada à igreja
de Genebra, a qual havia há pouco escapado das profanações
do papista”. Seu “primeiro objetivo era obter dos cidadãos,
(…) que esconjurassem abertamente o Papado, e que jurassem
adesão à religião cristã e à sua disciplina, abrangida sob alguns
tópicos”. 39
Calvino, pois, quis introduzir aqui uma confissão de Cris-
to pública, corporativa e precisa. Mas “a maioria de seus cole-
gas, por timidez, conservando-se distantes da controvérsia, e
alguns deles (isto dava àquele o maior constrangimento) secre-
tamente frustrando mesmo seu trabalho” 40, provando inten-
samente a coragem de Calvino. Tal coragem foi recompensa-
da e Satanás, derrotado, pois “o senado e o povo de Genebra
declararam solenemente sua adesão às doutrinas cardeais e à
disciplina da religião cristã”. 41
DISCIPLINA
Toda abordagem de Calvino à Reforma da igreja era
existencial porque era escriturística. A clareza da revelação de
Deus em Cristo pelas Escrituras era básica em tudo de que se
encarregou. Daí sua oposição a toda especulação, como obser-
vado. Daí também sua insistência em que a mesa do Senhor
não devia ser contaminada.
141
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
42 Idem, p. XXXII.
43 Idem, Vol. I, p. 3 ss.
44 Idem, p. 9.
45 Idem, p. 10.
142
CALVINO COMO POLEMISTA
O ESPÍRITO SANTO
“Sou compelido,” diz Calvino, “queira ou não, a resistir a
ti abertamente. Porque os pastores só edificam a Igreja quan-
do, além de guiar as dóceis almas a Cristo, placidamente, como
com a mão, estão igualmente armados para repelir as maquina-
ções daqueles que lutam para impedir a obra de Deus”. 48
Quando Sadoleto apela ao Espírito de Cristo, Calvino
pergunta: “O que vem da Palavra do Senhor, aquela mais clara
de todas as marcas, a qual o Senhor mesmo, ao pôr a Igreja
46 Idem, p. 18.
47 Idem, p. 27.
48 Idem, p. 29.
143
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
SUBJETIVISMO
Apelar à Igreja como estando acima da Palavra é, argu-
menta Calvino, apelar ao homem em vez de a Cristo.
“Somos assaltados por duas seitas, as quais parecem
diferir o mais amplamente uma da outra. Pois, na aparência,
que semelhança há entre o Papa e os anabatistas? Não obs-
tante, vedes que Satanás nunca se transmuta tão astutamen-
te, para que não se denuncie em nada: a principal arma com
a qual aqueles dois nos atacam é a mesma. Pois, quando ga-
bam-se de modo extravagante do Espírito, a tendência com
certeza é afundar e enterrar a Palavra de Deus, para que
deem lugar às suas falsidades. E tu, Sadoleto, ao tropeçar
no próprio limiar, pagaste a penalidade daquela afronta que
demonstraste para com o Espírito Santo, quando separaste
a este da Palavra”. 50
A nossa Igreja tem que ser aquela “cujo supremo cui-
dado é humilde e religiosamente venerar a Palavra de Deus, e
submeter-se à sua autoridade”. 51 Uma alma, “quando privada
da Palavra de Deus, é entregue ao diabo desarmada, para a
destruição”. 52
Calvino nega para si e para todos os fiéis a aptidão de
expor a Palavra de Deus com tanta perfeição a ponto de
49 Idem, p. 35.
50 Idem, p. 36.
51 Idem, p. 50.
52 Idem, p. 53.
144
CALVINO COMO POLEMISTA
O CONCÍLIO DE TRENTO
Mas não foi somente a igreja local de Genebra que
Calvino visava a defender contra um teólogo papista indi-
vidual. No Concílio de Trento (1546) a Igreja de Roma en-
53 Ibid.
54 Idem, p. 56.
55 Idem, p. 57.
145
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
146
CALVINO COMO POLEMISTA
ELEIÇÃO
Finalmente, a fim de proteger os pequeninos de Cristo
de uma igreja que lhes retira Cristo, Calvino traça a salvação
deles até a eleição. Porém, tal eleição é em Cristo. Apelar à
eleição além de Cristo é, para ele, o supra-sumo da especu-
lação autoilusória. Diz que “nada é mais pernicioso do que
inquirir no secreto conselho de Deus, com o fito de obter por
esse meio um conhecimento de nossa eleição...” Isso é “um
redemoinho no qual seremos tragados e ficaremos perdidos”.
Porém, a coisa é bem diferente quando contemplamos que
“nosso Pai Celestial propõe em Cristo um espelho de nossa
adoção eterna”. Uma vez que “ninguém se apodera verdadei-
ramente do que nos foi dado por Cristo senão o que se sente
assegurado de que o próprio Cristo lhe foi dado pelo Pai,
para que não pereça”. 62
Para Calvino, a ideia de eleição não é apenas uma con-
cepção filosófica para ser colocada, seja no princípio, seja no
fim de uma construção de pensamento humano. Para ele é
Cristo, falando mediante sua Palavra, quem convida os ho-
mens a traçar a salvação deles recuando até Deus Pai, que os
escolheu em seu Filho para serem seus filhos. A clareza da
revelação de Cristo nas Escrituras, a certeza da fé e da eleição
andam juntas. Estas verdades são coerentes entre si. Não são
deduzidas de uma outra. Elas são ensinadas por Cristo, que
é a Verdade. Ao suprimir Cristo como a Verdade a igreja pa-
pista tira do povo de Deus todas as riquezas adquiridas para
ele por Cristo.
61 Idem, p. 125.
62 Idem, p. 135.
147
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
VERDADE E PAZ
Calvino então só defendia a Verdade e não a paz? Longe
disso. Com bastante frequência agia como mediador entre os
extremistas no redil protestante. 63
Mas ele sabia que a verdade do evangelho de Cristo é o
único vínculo da paz. 64 Por isso, não temos de “barganhar a
respeito da eterna e imutável Verdade de Deus, sobre até que
ponto ela deva prevalecer!” 65 Há aqueles que querem forjar
“uma espécie de Pacificação capciosa” que nos deixaria “um
meio Cristo” “mas de uma tal maneira que não exista parte
alguma de sua doutrina que não obscureçam ou salpiquem
com alguma nódoa de falsidade. E tal artifício para deformar
a piedade eles publicam —que Deus os ajude!— sob o nome
de Reforma.” 66
“Seja o que for que aconteça, que seja nossa resoluta de-
terminação não dar ouvidos a nenhum termo de paz que mistu-
re as invenções dos homens com a pura verdade de Deus”.67
Para pacificar a dissensão os paladinos de uma “Pacifi-
cação capciosa” afirmam “que não temos de nos manter com
pertinácia firmes sobre outros pontos, contanto que a doutrina
da justificação gratuita permaneça a salvo”. 68 Não podemos
nós, como protestantes, reagruparmo-nos em torno desse
ponto central de modo a haver paz entre nós mesmos e repelir
nosso inimigo comum?
148
CALVINO COMO POLEMISTA
69 Ibid.
70 Idem, p. 249.
149
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
71 Idem, p. 250.
72 Idem, p. 254.
150
CALVINO COMO POLEMISTA
151
“Enquanto o Senhor não os abrir, os olhos de nosso coração são cegos.”
J. Calvino
CAPÍTULO 8
A EPISTEMOLOGIA DE
CALVINO
W. GARY CRAMPTON
153
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
REVELAÇÃO GERAL
Calvino ensinou que o Espírito de Deus implantou uma
consciência inata de Deus em todos os homens, uma consci-
ência que é proposicional e inerradicável: “Que existe na men-
te humana, e na verdade por disposição natural, certo senso
da divindade, consideramos como além de qualquer dúvida…
Deus mesmo infundiu em todos certa noção de sua divina rea-
lidade” (Institutas I:3:1). O homem, como portador da imagem
de Deus, tem a lei moral impressa em seu coração: “foi por
Deus esculpida na mente dos homens” (Institutas IV:20:16).
B. B. Warfield afirmou corretamente que, tanto para Calvino
quanto para Agostinho, o conhecimento inato no homem re-
sidia no fundamento de tudo do seu conhecimento de Deus;
aqui o homem tem a revelação proposicional inata.1
Esse conhecimento inato capacita o homem a ver a rica
revelação de Deus na criação. “… para todo e qualquer rumo
a que dirijas os olhos, nenhum recanto há do mundo, por mí-
nimo que seja, em que não se vejam a brilhar ao menos algu-
mas centelhas de sua glória (…). Inumeráveis são, tanto no céu
quanto na terra, as evidências que lhe atestam a mirífica sabe-
154
A EPISTEMOLOGIA DE CALVINO
155
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
REVELAÇÃO ESPECIAL
João Calvino ensinou que a verdade proposicional da re-
velação especial é necessária para alguém chegar ao conheci-
mento salvífico de Deus por meio de Jesus Cristo. A revelação
geral revela Deus como criador, mas somente a Escritura o
revela como Salvador (Comentário sobre Romanos 1.16-17).
Calvino escreveu:
156
A EPISTEMOLOGIA DE CALVINO
157
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
158
A EPISTEMOLOGIA DE CALVINO
159
“Quem quer que não confie na providência divina, bem como não enco-
mende sua vida à fiel diretriz dela, ainda não aprendeu corretamente o
que significa viver.”
J. Calvino
CAPÍTULO 9
CALVINO E A PROVIDÊNCIA
DE DEUS
FRANKLIN FERREIRA
161
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
162
CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
Providência
1. Capítulo 16a/16b: verdade (Escriturística) vs. falsas
perspectivas (filosóficas)
2. Capítulo 17a/17b: verdade vs. falsas atitudes frente à
providência
3. Capítulo 18a/18b: verdade vs. falsas perspectivas de
como a providência de Deus trabalha com os agentes
ímpios.2
Por “a” e “b” ele não quer dizer que sejam estas as divi-
sões dos capítulos, mas mostrar que neles há duas ideias em
oposição.
1 Ford Lewis Battles, Analysis of the Institutes of the Christian Religion of John
Calvin (Grand Rapids, Michigan: Baker Book, 1980), p. 19.
2 Ibidem, p. 19.
3 João Calvino, As Institutas da Religião Cristã. vol. 1 (São Paulo: Casa Edi-
tora Presbiteriana, 1985), p. 213.
163
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
164
CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
165
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
166
CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
15 Timothy George, Teologia dos Reformadores (São Paulo: Vida Nova, 1994),
p. 205.
16 João Calvino, op. cit., p. 223.
167
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
governados pela sua providência, de forma que são por ela di-
rigidos a um determinado fim. Calvino cita Basílio, o Grande, e
Agostinho para mostrar que fortuna e sorte são termos pagãos
inadmissíveis a cristãos. Deus não está repousando numa torre
ociosa de observação.
Em sua última seção, neste capitulo, Calvino afirma que a
verdadeira causa dos eventos está escondida de nós. Por causa
dos limites que nossa mente sofre frente a tal doutrina, Calvi-
no faz uma distinção entre acaso e o poder secreto de Deus,
acaso sendo uma situação acidental. Em suas palavras, “a fé
reconhecerá que aquilo que nos pareceu um acaso foi, na rea-
lidade, o efeito do poder secreto de Deus”.17 Comentando Jó
14.5, ele afirma: “Deus não somente previu a duração da vida
do homem, como também determinou seus limites”.18 Uma
declaração extremamente desconcertante se feita em círculos
evangélicos hoje.
168
CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
21 Ibidem.
169
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
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CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
27 Ibidem, p. 234.
28 João Calvino, op. cit, p. 234.
29 Ibidem, p. 235.
30 Ibidem, p. 236.
172
CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
31 Ibidem, p. 236-237.
32 João Calvino, op. cit, passim.
173
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
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CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
175
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
176
CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
177
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
impulso, o próprio Satanás execute seu papel até onde este foi
limitado. Este tópico é discutido no livro II 4.1-4, mas:
178
CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
44 Ibidem, p. 104.
45 J. P. Wiles, op. cit., p. 104.
46 João Calvino, op. cit., p. 253.
179
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59 Ibidem, p. 215.
60 Leland Ryken, op. cit., p. 217-218.
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63 Citados em Iain Murray, The puritan hope: revival and the interpretation of
prophecy (Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1998), p. xii-xiii.
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CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
192
CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
68 John Calvin, “To the Prisoners of Lyon” em: John Calvin Collection [CD-
ROM], nº 320, citado em Hermisten Maia Pereira da Costa, “O culto
cristão na perspectiva de Calvino: uma análise introdutória” em Fides
Reformata VIII, No 2 (2003), p. 97.
69 Citado por Timothy George, op. cit., p. 211.
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
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CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
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CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
199
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
CONCLUSÃO
Em nosso estudo vimos que, para o teólogo de Gene-
bra, é Deus quem conduz a história. Todos os eventos estão
200
CALVINO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS
201
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
202
“Aquele que se encontra sentado à mão direita do Pai é detentor do mais
elevado governo no céu e na terra, e triunfa gloriosamente sobre os inimigos
que ele conquistou e subjugou.”
J. Calvino
CAPÍTULO 10
W. GARY CRAMPTON
205
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
206
CALVINO SOBRE CRISTO
A NATUREZA DIVINA
O Reformador mantinha que Jesus Cristo, a segunda pes-
soa eterna da Divindade trina, é plenamente humano (Institutas
I:13:7-13). Em seus Comentários sobre Romanos 9.5, Tito 2.13,
Hebreus 1.8 e 1 João 5.20, Calvino declara que Cristo é Deus
– autotheos – de fato.
De acordo com Calvino, Cristo é “ele próprio a Palavra
eterna e essencial do Pai” (Institutas I:13:7). Ele é um, em essên-
cia com o Pai (Comentário sobre Filipenses 2.6). O mesmo divino
Filho de Deus, embora pré-encarnado, apareceu aos patriar-
cas sob a economia do Antigo Testamento e agora apareceu
encarnado, a nós do Novo (I:13:10). Na encarnação, Deus se
manifestou ao seu povo “plena”, perfeita e “completamente”
(Comentário sobre Colossenses 2.9).
E mais, na encarnação, Deus o Filho não pôs de lado
nenhum dos seus atributos divinos (Comentário sobre João 1.14)
A natureza divina, por definição, nunca pode mudar (i.e., Deus
é imutável). Escreveu Calvino: “Ora, de modo maravihoso, do
céu desceu o Filho de Deus, e, no entanto, ele não deixou o
céu; de modo maravilhoso, quis sofrer a gestação no útero da
Virgem, andar pela terra e pender na cruz, para que sempre
enchesse o mundo, assim como desde o início” (Institutas II:13-
4).3 A doutrina knosis dos teólogos modernistas não pode ser
atribuída a Calvino.
207
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
A NATUREZA HUMANA
Calvino, com Calcedônia, também sustentou o fato que
Jesus Cristo era plenamente humano bem como plenamente
divino (Institutas II:13:1-4). Ele citou inúmeras passagens da
Escritura para provar o seu ponto: Mateus 1.1; Romanos 1.3,
9.5; Gálatas 4.4; Hebreus 2.14, 16, 4.15; Filipenses 2.5-8; 1 Pe-
dro 3.18 (Institutas II:13:1-2). O nascimento virginal é prova bí-
blica adicional da natureza humana de Jesus (Institutas II:13:3).
Até mesmo o nome “Filho do Homem” fala de sua humani-
dade (Institutas II:13:2). (Calvino não negou que o nome “Filho
do Homem” tinha implicações divinas também).
Quando Deus o Filho tomou sobre si uma natureza hu-
mana, ele se tornou “um homem real composto de corpo e
alma” (Institutas II:13:2). Isto é, ele era (e ainda é) humano no
sentido pleno da palavra. Durante seu ministério terreno, Cris-
to esteve sujeito à “fome, à sede, ao frio e a outras necessidades
de nossa natureza” (Institutas II:13:1). Além disso, “ele escolheu
não somente crescer em corpo, mas fazer progresso na mente”
(Comentário sobre Lucas 2.40). Sem dúvida, o que distingue a hu-
manidade de Cristo da nossa é que ele é “livre de toda falta e
corrupção”, i.e., sem pecado (Institutas II:13:4).
De acordo com Calvino, é absolutamente essencial que
Jesus Cristo seja tanto Deus como homem. Somente então,
como mediador, poderia ele eliminar a distância entre o Deus
santo e o homem pecador. Como homem, Cristo provou a
morte em favor do seu povo; como Deus, ele venceu-a. É a
natureza divina de Cristo que dá valor infinito ao sacrifício
de Cristo (Institutas II:12:1-3; Comentário sobre Hebreus 2.14). Se
Cristo não é plenamente Deus e plenamente homem, então
a salvação não é possível (Comentário sobre Mateus 22.42; He-
Filho não pode de forma alguma estar restrito a um corpo humano; ele
deve sempre reter o atributo divino de onipresença.
208
CALVINO SOBRE CRISTO
A PESSOA DE CRISTO
Os teólogos chamam a união das naturezas divina e hu-
mana de Jesus Cristo em uma pessoa de “a união hipostática”.
Como expresso na fórmula calcedônica, essa doutrina mantém
que o eterno Filho de Deus tomou sobre si uma natureza hu-
mana: corpo e alma. A natureza humana não se tornou uma
personalidade independente. Antes, ela tornou-se pessoal so-
mente na pessoa do Filho eterno. Portanto, embora o Senhor
Jesus Cristo tivesse duas naturezas distintas, ele era apenas uma
pessoa. Com essa definição da unidade da pessoa, João Calvi-
no estava de acordo (Institutas II:14:1-8). De fato, ele declarou
que a melhor analogia humana que podemos usar para explicar
essa união é aquela da união misteriosa do espírito e corpo
humano que compõe o homem (Institutas II:14:1).
Além disso, as duas naturezas de Cristo nunca são con-
fundidas (i.e., misturadas de alguma forma) ou separadas (Insti-
tutas II:14:2). Todavia, elas devem permanecer distintas. Disse
Calvino: “A unidade da pessoa não impede as duas naturezas
de permanecerem distintas, de forma que sua divindade retém
tudo o que lhe é peculiar, e sua humanidade mantém em se-
parado tudo o que pertence a ela” (Comentário sobre João 1.14).
Como observado antes, em suas Institutas (II:13:4), o Reforma-
dor manteve que, junto e ao mesmo tempo, a pessoa única de
Jesus Cristo, com respeito a sua natureza humana, poderia “so-
frer a gestação no útero da Virgem… andar pela terra… pen-
der na cruz” e, todavia, com respeito a sua natureza divina, ele
continuou a encher “o mundo, assim como desde o início”.
Um dos efeitos da união hipostática é aquela da comu-
nicação dos atributos. Isso significa que tudo o que pode ser
209
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
210
CALVINO SOBRE CRISTO
211
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
A OBRA DE CRISTO
Quando os teólogos Reformados estudam a obra de Je-
sus Cristo, eles normalmente o fazem sob a rubrica dos seus
três ofícios: profeta, sacerdote e rei. Interessantemente, embo-
ra outros (e.g., Agostinho e Aquino) antes dele tenham falado
do ministério de Cristo neste modelo triplo, foi João Calvi-
no quem desenvolveu plenamente essa abordagem (Institutas
II:15:1-6).
O título Cristo (christos) do Novo Testamento, que é o
equivalente do Messias (mashiach) do Antigo Testamento, sig-
nifica “ungido”. Na era do Antigo Pacto, os profetas (1 Reis
19.16), sacerdotes (Êxodo 29.7; Salmos 133.2) e reis (1 Samuel
10.1; 16.13), eram ungidos para cumprir as suas funções da-
das por Deus. O mesmo é verdadeiro sobre Jesus Cristo. Em
Mateus 3.16-17, lemos que ele foi ungido pelo Espírito Santo
para desempenhar o seu triplo ofício (Comentário sobre Mateus
3.16-17; Institutas II:15:1).
Como profeta, Cristo executa seu ofício “revelando-nos,
pela sua Palavra e pelo seu Espírito, a vontade de Deus para a
nossa salvação”.5 Esse ofício, disse Calvino, era desempenha-
do sob a era do Antigo Pacto por meio dos seus profetas, por
meio de quem ele estava falando (Comentário sobre 1 Pedro 1.10-
12). No Novo Pacto, Cristo veio ele mesmo como o grande
profeta para ser o nosso mestre. Mas após sua ascensão, ele
continuou seu ministério profético por meio dos apóstolos, e
agora na igreja através dos ministros do Evangelho que pre-
gam verdadeiramente a sua Palavra (Institutas II:15:1-2). Deus,
diz Calvino, não pode ser conhecido exceto “através de Cristo”
(Comentário sobre 1 Pedro 1.21).
212
CALVINO SOBRE CRISTO
213
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
214
CALVINO SOBRE CRISTO
A EXPIAÇÃO
Como observado acima, há um sentido no qual podemos
dizer que Calvino sustentava que a expiação era o propósito da
encarnação. Disse o Reformador: “Em qualquer outro lugar a
Escritura não consigna outra finalidade para a qual o Filho de
Deus quis assumir nossa carne, e tenha também recebido este
encargo da parte do Pai, senão que houvesse de tornar-se víti-
ma para aplacar o Pai em relação a nós” (Institutas II:12:4). Isso,
sem dúvida, é parte do ministério sacerdotal do Filho.
Calvino extrai sua teologia sobre a expiação não somente
da revelação do Novo Testamento, mas também do Antigo.
Robert Paul está correto quando delcara que nem de longe tem
sido dada atenção suficiente aos ensinos do Reformador sobre
o sistema sacrificial do Antigo Pacto e a luz que eles lançam
sobre a inteireza da obra expiatória de Cristo.11
Por exemplo, Calvino escreveu:
215
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
12 Veja também Ronald Wallace, Calvin, Geneva and the Reformation, 242-252;
e Robert A. Peterson, Calvin’s Doctrine of the Atonement.
13 É de certa forma difícil ver como estudiosos tais como Ronald Wallace
(251s) e Augustus H. Strong (Systematic Theology, 777-778) podem con-
cluir a partir de seus estudos que Calvino não sustentou uma visão “li-
mitada” ou “particular” da expiação, i.e., que Cristo morreu para tornar
certa a salvação dos eleitos, e não para tornar possível a salvação de
toda a humanidade (expiação “universal”). Em seu Comentário sobre 1 João
2.2., por exemplo, Calvino chamou a visão universal da expiação de uma
doutrina “monstruosa”, que “não merece nenhuma refutação”. Cristo,
contendeu Calvino, sofreu “eficazmente somente pelos eleitos”. Gregg
Singer confirma isso. Ele escreveu: “Uma expiação que é universal é es-
tranha ao sistema de Calvino. Cristo morreu pelos eleitos. Uma expiação
216
CALVINO SOBRE CRISTO
217
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
218
“Todos os que invocam a Deus noutro nome que não o de Jesus Cristo
desobedecem ao mandamento de Deus e se contrapõem à sua vontade.”
J. Calvino
CAPÍTULO 11
1 John Calvin, Institutes of the Christian Religion, Book III, Chap XX: III,
Vol. II. (Philadelphia: Presbyterian Board of Christian Education,
1936), 95.
221
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
NECESSIDADES
Para Calvino, as “necessidades” do homem têm a ver
com sua salvação e o seu crescimento na graça. Essa é uma
ênfase sobre oração bem diferente daquela comum hoje. Para
Calvino, Romanos 10.13, 14, 17, é um texto importante não
somente com referência à fé, mas também à oração, pois os
dois estão intimamente ligados. Assim como “a fé vem pelo
ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17), assim tam-
bém a oração é dependente do ouvir, e a capacidade de ouvir
vem da Escritura. Assim como a fé nos capacita a penetrar e
entender a palavra de Deus, assim também o faz a oração:
222
JOÃO CALVINO SOBRE ORAÇÃO
O NOME
A leitura correta de Filipenses 2.9 não é “um nome”, mas
“o nome”. Nome tem uma variedade de conotações no uso he-
braico; representa a própria pessoa, e sua dignidade e glória.
Temos um eco disso na, ainda levemente familiar, declaração
policial: “Alto, em nome da lei”. Nome aqui significa que todo
o poder da lei está por detrás do mandamento e processará o
ofensor. O nome Jesus significa Deus encarnado, aquele que
se tornou como nós e suportou a humilhação e vergonha da
223
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
5 Jac. J. Muller, The Epistles of Paul to the Philippians and to Philemon (Grand
Rapids: Eerdmans, 1955), 88.
224
JOÃO CALVINO SOBRE ORAÇÃO
CRER NO NOME
Podemos crer na historicidade da Escritura e na palavra e
obras de Jesus Cristo; podemos afirmá-lo como sendo Senhor
e Salvador, mas colocamos e estabelecemos uma distância en-
tre os primeiros cristãos da Judéia e nós mesmos, e entre Cristo
no céu e nós, a menos que “creiamos no Nome”. Por con-
seguinte, no Novo Testamento, o chamado é repetidamente
formulado dessa forma:
225
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
226
“Visto que nos reconciliamos com Deus, em Cristo, através de seu verda-
deiro sacrifício, somos, todos nós, por sua graça, feitos sacerdotes com o fim
de podermos consagrar-nos a ele como sacrifício vivo e tributar-lhe toda a
glória por tudo o que temos e somos.”
J. Calvino
CAPÍTULO 12
229
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
230
JOÃO CALVINO E O PAPEL DO CRENTE NO REINO DE DEUS
LIBERDADE
Calvino libertou os homens das instituições e tradições
religiosas que presumiam mediar a graça de Deus. Ele visuali-
zou uma sociedade na qual a igreja e as outras instituições eram
231
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
232
JOÃO CALVINO E O PAPEL DO CRENTE NO REINO DE DEUS
233
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
234
“O amor nos leva a fazer muito mais. Ninguém pode viver exclusivamente
para si mesmo e negligenciar o próximo. Todos nós temos de devotar-nos à
ação de suprir as necessidades do próximo.”
J. Calvino
CAPÍTULO 13
INTRODUÇÃO À ÉTICA
PESSOAL E SOCIAL DE
CALVINO
HERMISTEN MAIA
INTRODUÇÃO:
João Calvino (1509-1564) teve decisiva influência no
desenvolvimento moderno da ética do trabalho. Contudo, a
interpretação de seu pensamento, em geral, nos vem de ma-
trizes comuns e, quase todas, estereotipadas, alheias aos textos
do próprio Reformador. Neste capítulo pretendemos analisar
alguns aspectos de sua ética pessoal e social nos valendo em
especial de textos produzidos pelo próprio Calvino.
1. DEFINIÇÃO DE TRABALHO:
237
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
238
INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
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INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
30 Cf. John Calvin, Commentaries on The Four Last Books of Moses, Grand Rap-
ids, Michigan: Eerdmans Publishing Co., 1996 (Reprinted), Vol. 3, (Ex
20.15), p. 110-111.
31 João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998 (1Tm 5.18), p. 149.
32 “O lucro que obtém alguém que empresta seu dinheiro no interesse lí-
cito, sem fazer injúria a quem quer que seja, não está incluído sob o
epíteto de usura ilícita. (…) Em suma, uma vez que tenhamos gravada
em nossos corações a regra de eqüidade que Cristo prescreve em Ma-
teus: ‘Portanto, tudo quanto quereis que os homens vos façam, fazei-lhes
também o mesmo’ [7.12], não será necessário entrar em longa contro-
vérsia em torno da usura” [João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo:
Edições Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 15.5), p. 299]. Calvino fazia uma dis-
tinção importante entre o “empréstimo de consumo ou de assistência”
e o “empréstimo de produção ou de aplicação”. Aquele visava socorrer
aos necessitados, sendo improdutivo para o devedor. Este, o devedor,
com o seu trabalho poderia adquirir uma ampliação desses recursos. Os
juros neste caso seria legítimo (Ver: André Biéler, O Pensamento Econômico
e Social de Calvino, p. 588). Alguns princípios de Calvino a respeito deste
tema foram expostos em um carta (07/11/1545), escrita em resposta às
indagações de amigo Claude de Sachin. Biéler analisa esta carta e outras
passagens nas quais Calvino se posiciona sobre o assunto (Ver: André
Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 585ss). Em 1580, Beza,
juntamente com outros pastores, opõem-se veemente à criação de um
Banco em Genebra, entendendo que as riquezas trazem consigo impli-
cações indesejáveis, tais como o luxo, frivolidades, amor ao prazer, etc.,
todas incompatíveis com Genebra, que deseja preservar a já conhecida
moderação dos costumes (Ver: André Biéler, O Pensamento Econômico e
Social de Calvino, p. 239-240; André Biéler, O Humanismo Social de Calvino,
p. 66-67; R.H. Tawney, A Religião e o Surgimento do Capitalismo, São Paulo:
Editora Perspectiva, 1971, p. 124).
245
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
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INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
247
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
diz: “Moisés admoesta o povo que por algum tempo fora ali-
mentado com o maná, para que soubesse que o ser humano
não é alimentado por meio de sua própria indústria e labor,
senão pela bênção de Deus. Assim, no maná vemos claramente
como se ele fosse, num espelho, a imagem do pão ordinário
que comemos. (...) O Senhor não nos prescreveu um ômer ou
qualquer outra medida para o alimento que temos cada dia, mas
ele nos recomendou a frugalidade36 e a temperança, e proibiu
que o homem exceda por causa da sua abundância.37 Por isso,
248
INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
pérfluo. Não que algum uso mais liberal de possessões seja condenado
como um mal em si mesmo, mas a ansiedade em torno delas é sempre
pecaminosa” [João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.8), p. 169]. Vd. também:
João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 75; Idem., As Institutas, III.10.4.
38 João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1995, (2Co
8.15), p. 177. Vd. também, João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 45.
Em outro lugar: “As Escrituras exigem de nós e nos advertem a conside-
rarmos que qualquer favor que obtenhamos do Senhor, o temos recebido
com a condição de que o apliquemos em benefício comum da Igreja.
“Temos de compartilhar liberalmente e agradavelmente todos e cada um
dos favores do Senhor com os demais, pois isto é a única coisa que os
legitima.
“Todas as bênçãos de que gozamos são depósitos divinos que temos
recebido com a condição de distribuí-los aos demais” (João Calvino, A
Verdadeira Vida Cristã, p. 36).
249
CALVINO – MESTRE DA IGREJA
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INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
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57 John Calvin, Commentaries on The First Book of Moses Called Genesis, Grand
Rapids, Michigan: Eerdamans Publishing Co., 1996 (Reprinted), Vol. 1,
(Gn 13.5), p. 369.
58 Juan Calvino, Institución, III.10.5. Conforme já citamos, Calvino entendia
que: “Quando depositamos nossa confiança nas riquezas, na verdade
estamos transferindo para elas as prerrogativas que pertencem exclusiva-
mente a Deus” [João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.17), p. 182].
59 João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 74.
60 João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 73.
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INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
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b) O Sentido da Riqueza:
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INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
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INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
83 João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 17.14), p. 346. Pelo contrá-
rio, em outros lugares, ele diz: “Se, então, nós temos cometido fornicação
contra Deus, toda nossa prosperidade deveria ser mantida sob suspeição;
por esta desobediência, abusando das bênçãos de Deus” [John Calvin,
Calvin’s Commentary, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1996
(Reprinted), Vol. XIII, (Os 9.1) p. 309]. “Prosperidade é como mofo ou a
ferrugem” [John Calvin, Calvin’s Commentary, Vol. XV, (Zc 13.9) p. 403].
84 João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 41.1), p. 240-241.
263
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INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
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INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
95 Quando fazemos o bem nada perdemos; é Deus mesmo que nos recom-
pensará, na eternidade e aqui: “O que sai de nós para alguém, parece
diminuir o que possuímos; mas o tempo da ceifa virá, quando os frutos
aparecerão e serão recolhidos. Pois o Senhor considera o que é doado
aos pobres como sendo doado a Ele mesmo, e um dia reembolsará o
doador com fartos juros. (...) Esta colheita deve ser entendida tanto em
termos de recompensa espiritual de vida eterna com também sendo uma
referência às bênçãos terrenas com as quais o Senhor agracia o benfeitor.
Não é somente no céu que o Senhor recompensará os feitos nobres do
justo, mas o fará ainda neste mundo” [João Calvino, Exposição de 2 Corín-
tios, (2Co 9.6), p. 189].
96 João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, (2Co 8.1), p. 166.
97 João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, (2Co 9.7), p. 190. Comentando Ro-
manos, analisando uma possibilidade de interpretação da palavra “litur-
gia” empregada por Paulo, escreve: “Paulo, estou plenamente certo, está
se referindo a algum tipo de sacrifício feito pelos crentes, quando dão
de sua própria subsistência para mitigar a pobreza de seus irmãos. Ao
quitarem uma dívida de amor, à qual se achavam penhorados, oferecem
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
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INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
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5) SOCORRO E ORAÇÃO:
Da Oração do Senhor Calvino extrai o princípio de que de-
vemos nos preocupar com todos os necessitados. Contudo,
sabendo da impossibilidade de conhecermos a todos e de ter-
mos recursos para ajudar a todos os que conhecemos, diz que
a ajuda não exclui a oração nem esta àquela. Portanto devemos
orar por todos:
104 João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para
estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, Vol. 3, (IX.37), p. 121.
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INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
105 João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para
estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, Vol. 1, (III.68-69), p.
207-208. Em outro lugar: “Quando, pois, a fraude, a astúcia, a traição, a
crueldade, a violência e a extorsão reinam no mundo; em suma, quando
todas as coisas são arremessadas em total desordem e escuridão, pela
injustiça e perversidade, que a fé sirva como uma lâmpada a capacitar-
nos para visualizarmos o trono celestial de Deus, e que essa visão nos
seja suficiente para fazer-nos esperar pacientemente pela restauração das
coisas a um melhor estado” [João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo:
Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 11.4), p. 240]. No mundo, “Deus não é um
espectador indolente” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl
11.4), p. 241].
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INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
106 João Calvino, Opera Calvini, tomo VI. p. 137. Apud André Biéler, O Pen-
samento Econômico e Social de Calvino, p. 513.
107 “Com grande surpresa chegamos à conclusão de que os judeus ibéricos
foram os principais detentores do comércio negreiro, e mais: que um
clã, ligado por interesses econômicos, quando não também por laços
sangüíneos, o explorou largamente. De modo que, afora isso, o tráfico
seria quase impossível, assim como a colonização do Brasil e da Amé-
rica Espanhola, por falta de outros mercadores habilitados, carência de
embarcações, escassez de povoadores brancos e de obreiros que se su-
jeitassem a trabalhos servis, a exemplo dos exigidos pela indústria açuca-
reira e pelo entabulamento das jazidas mineralógicas.” (José Gonçalves
Salvador, Os Magnatas do Tráfico Negreiros: Séculos XVI e XVII, São Paulo:
Pioneira/EDUSP, 1981, p. XIV).
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
108 Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil, 21ª ed. São Paulo, Brasi-
liense, 1978, p. 22, nota 5.
109 Veja-se: Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil, p. 21-22.
110 “Observei que, em geral, os europeus são menos indulgentes para seus
escravos que os brasileiros. Os primeiros alimentam melhor mas exigem
trabalhos mais pesados, enquanto os segundos deixam que os negócios
de suas propriedades sigam o caminho a que estão habituados a seguir.
Essas diferenças entre as duas classes de senhores é facilmente explica-
da. O europeu adquiriu a maioria de seus escravos a crédito e durante
o curso de sua vida a acumulação de riquezas é o objeto principal. O
brasileiro herdou sua propriedade e não há urgência em obter largos
proveitos. Continua o ritmo que fora mantido pelos primeiros possui-
dores. Seus hábitos de tranqüilidade e de indolência o levam a ser doce
mas indiferente, e não toma o cuidado com a própria manutenção de sua
escravaria que um europeu teria, tendo menos tempo e fiscalizando a
comida pessoalmente.” [Henry Koster, Viagens ao Nordeste do Brasil, 2ª ed.
Recife, PE.: Secretaria de Educação e Cultura, Governo do Estado de
Pernambuco, Departamento de Cultura, (Coleção Pernambucana, Vol.
XVII), 1978, p. 376-377]. (O livro foi editado em inglês em 1816).
111 Cf. Henry Koster, Viagens ao Nordeste do Brasil,, p. 389
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INTRODUÇÃO À ÉTICA PESSOAL E SOCIAL DE CALVINO
112 Vd. Maria Beatriz Nizza da Silva, et. al., O Império Luso-Brasileiro (1750-
1822), Lisboa: Editorial Estampa, (Nova História da Expansão Portu-
guesa, Vol. VIII, Coordenada por Joel Serrão & A. H. de Oliveira Mar-
ques), 1986, p. 532ss.
113 Ina von Binzer, Os Meus Romanos: alegrias e tristezas de uma educadora alemã
no Brasil, 5ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991, p. 34.
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Retornando, vemos que o Protestantismo, com os seus
princípios econômicos, com a sua ênfase no livre exame das Es-
114 Luiz Agassiz & Elizabeth C. Agassiz, Viagem ao Brasil 1865-1866, Belo
Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Editora da Universidade de São Paulo:
1975, p. 293. Jean Louis Rodolphe Agassiz, era suíço de nascimento po-
rém, naturalizou-se americano. Ele era filho de um ministro protestante
e, a sua esposa, Elizabeth Cary Agassiz, que fez parte da sua expedição
ao Brasil, era filha de um pastor calvinista. (Cf. Boanerges Ribeiro, A
Igreja Presbiteriana no Brasil, Da Autonomia ao Cisma, São Paulo: O Seme-
ador, 1987, p. 9; L. Agassiz & E.C. Agassiz, Viagem ao Brasil 1865-1866,
p. 75). Agassiz veio chefiando a “Expedição Thayer” (patrocinada pelo
milionário Nathaniel Thayer), composta de cerca de quinze pessoas. (Cf.
Prefácio de Luiz Agassiz & Elizabeth Agassiz, Viagem ao Brasil 1865-
1866, p. 9-10). Fletcher foi um dos que incentivaram a vinda de Agassiz
ao Brasil (Veja-se, David G. Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e A
Questão Religiosa no Brasil, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília,
1980, p. 73, 74, 76ss.). Antes da vinda de Agassiz, Fletcher viajou ao
Brasil (1862-1863), recolhendo peixes raros do Amazonas para o natu-
ralista. Agassiz registra em seu livro: “Acrescentarei também que, alguns
anos antes da minha viagem ao Amazonas, devi à gentileza do Rev. M.
Fletcher (sic) uma preciosa coleção de peixes desta localidade e de outras
do Amazonas. O prévio conhecimento que assim adquirira do assunto
me foi de grande utilidade quando continuei os meus estudos no próprio
local.” (L. Agassiz & E.C. Agassiz, Viagem ao Brasil 1865-1866, p. 124).
Na sessão do dia 19/05/1865, Agassiz foi agraciado pelo Instituto His-
tórico e Geográfico, com o título de membro honorário (Cf. David G.
Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e A Questão Religiosa no Brasil, p. 79).
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“Para que através de nossa estultícia e temeridade, de cima abaixo, não se
misturem todas as coisas, Deus ordenou a cada um seus deveres de gêneros
distintos de vida… chamou vocações a essas modalidades de viver.”
J. Calvino
CAPÍTULO 14
ROGER SCHULTZ
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4 John Calvin, Institutes of the Christian Religion , ed. John T. McNeill (Lou-
isville: Westminster/John Knox Press, 1960), III: X: 6.
5 Ibid.
6 Ibid.
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7 Ibid.
8 Calvino fala do chamado interior e exterior do pastor. (Um ministro
irá algumas vezes se referir ao seu “chamado macedônico”, tomado de
Atos 16.9, referindo-se a uma visão ou experiência autenticadora.) Mas
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DIREÇÃO PARA VIDA: O CONCEITO DE CALVINO SOBRE VOCAÇÃO
deveria investir sua vida num chamado que seja frívolo ou sem
significado.
Quinto, tenho uma testemunha que confirme isso? Con-
selheiros piedosos podem oferecer um assentimento objetivo
de uma oportunidade ou chamado e oferecer boa orientação
bíblica.
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“Deus designou os magistrados para que governem o mundo de forma jus-
ta e legítima. Uma vez que foram escolhidos e delegados por Deus mesmo,
é diante deste que são responsáveis.”
J. Calvino
CAPÍTULO 15
CALVINO E O GOVERNO
CIVIL
SOLANO PORTELA
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CALVINO E O GOVERNO CIVIL
pela fé, de Lutero, porque viam nela uma barreira à verdadeira doutrina de
uma fé ‘viva’, que resulta em uma vida santa” (Timothy George, Theology of
the Reformers (Nashville: Broadman, 1988), 269. A visão deles, de separação
entre Igreja e Estado, era tão radical que proibia o envolvimento de qual-
quer cristão com o governo ou com os governantes.
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CALVINO E O GOVERNO CIVIL
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CALVINO – MESTRE DA IGREJA
5. OS GOVERNOS E AS LEIS
Calvino apresenta um extenso tratamento da lei de Deus
nas seções 14 a 16. Ele introduz a distinção entre a lei religiosa,
a lei civil e a lei moral – encontrada nas Escrituras. Reconhe-
cendo os dois primeiros aspectos como temporários, pertinen-
tes apenas ao Antigo Testamento, ele reafirma a permanência
da Lei Moral. Diz Calvino: “… é evidente que aquela lei de
Deus a qual chamamos de moral, nada mais é do que o tes-
temunho da lei natural e da consciência que Deus fez gravar
na mentes dos homens... Assim [esta lei] deve ser o objeto, a
regra, e o propósito de todas as leis. Em qualquer lugar que
as leis venham a se conformar com esta regra, direcionada a
este propósito, e restrita a esta finalidade, não existe qualquer
razão porque deveriam ser reprovadas por nós...”. Calvino cita
Agostinho (A Cidade de Deus, Livro 19, c.17) como apoio à sua
exposição e termina examinando as leis de Moisés –quais po-
dem ser aplicadas e quais foram ab-rogadas.
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e mal exercitada por outra (30 e 31). Ele insiste que há uma
diferença entre a postura individual (o dever de submissão e
obediência) e a corporativa (que pode ser contestatória, sem-
pre baseada nos princípios divinos de justiça).
Calvino encerra a sua exposição (32), traçando os limites
de obediência e submissão – os Governantes não podem co-
mandar ações que contradigam a Palavra de Deus. Resistência
a esses comandos não podem ser classificados de insubmissão,
mas de demonstração de lealdade a Deus. Ele mostra a resis-
tência de Daniel (6.22) e como a submissão do povo, sob Jero-
boão, que os levou à adoração de bezerros de ouro (1 Re 12.28)
é condenada em Ho 5.11. Além de tratar de At 5.29 (a palavra
de Pedro indicando a importância de obedecer a Deus acima
dos homens), Calvino comenta sobre 1 Co 7.23, mostrando
que não devemos subjugar a liberdade recebida em Cristo às
impiedades e desejos depravados dos homens.
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“Mestre é aquele que forma e instrui a Igreja na Palavra da verdade.”
J. Calvino