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RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar como o ensino da disciplina história foi trata-
do durante a ditadura militar no Brasil, sobretudo, na década de 1970. Utilizou-se nesta pes-
quisa bibliográfica livros e artigos para se chegar a uma síntese sobre como os governos milita-
res buscaram fragmentar o ensino de História através da criação de uma disciplina que uniu
História e Geografia no primeiro grau. Dessa forma, percebeu-se que a escola foi compreendi-
da pelos militares como espaço de conformação da sociedade aos seus valores e que o conhe-
cimento histórico foi movido para formar cidadãos patriotas, obedientes e subservientes enfo-
cando a perspectiva tecnicista de preparar tão somente para o mercado de trabalho. Estudar
essa temática implica em compreender os caminhos e descaminhos da história da disciplina. É
enfrentar um tema ainda sensível em que memórias estão em disputas na sociedade brasileira.
Palavras-chave: Educação. Escola. Professores.
1970 quando o Governo criou a Lei nº 5.692 seca, na obra Caminhos da História ensina-
de 1971 que, dentre outras mudanças, in- da (FONSECA, 2003) que, a partir das análi-
corpora as disciplinas História e Geografia à ses dos guias escolares e outros documen-
disciplina Estudos Sociais. Na década de 80 tos, analisa o ensino de História na década
essa realidade perdeu força e em 1986 o de 1970 e 1980 nos Estados de São Paulo e
Conselho Federal de Educação aprovou a Minas Gerais. Outro trabalho é o artigo inti-
separação definitiva das disciplinas História tulado, O Ensino de História no Brasil: traje-
e Geografia (VIANA, 2014). Para tanto, fo- tória e perspectiva, de Nadai (1993), que faz
ram analisadas diversas obras que tratam uma relevante análise histórica da discipli-
da problemática proposta num esforço de na.
sintetizar a apresentação da situação do
ensino de História no período ditatorial. 2 UM PASSEIO PELA HISTÓRIA DO ENSINO
A relação passado, presente e futuro é DE HISTÓRIA NO BRASIL
primordial na ciência História e, por isso,
pensar “o ensino de História na sua histori- A História enquanto disciplina autônoma
cidade significa buscar, se não soluções de- surge na França no século XIX no contexto
finitivas, ao menos uma compreensão mais de laicização de toda a sociedade e do for-
clara sobre o que significa, hoje, ensinar talecimento das nações modernas (NADAI,
História nas escolas” (FONSECA, 2006, p.7). 1993). Portanto, a disciplina História estava
Espera-se que o professor de História, além a serviço do Estado na tentativa de forjar a
de dominar os aspectos teórico-metodo- identidade nacional. No Brasil, o Colégio
lógicos da disciplina, também saiba a histó- Pedro II localizado no Rio de Janeiro, funda-
ria da disciplina que leciona. A partir da dé- do em dezembro de 1837 no período re-
cada de 1990 assistiu-se a um debate edu- gencial, era a referência no ensino, em que
cacional, mormente sobre os currículos es- em seus currículos, a partir da sexta série,
colares que gerou diversas posições, princi- foram introduzidos os estudos históricos
palmente na disciplina História. Diante da (NADAI, 1993). Neste contexto de pós-
situação educacional no país, o Governo independência, o Brasil buscou como refe-
anunciou mudanças no Ensino Médio que rência o modelo francês de ensino. Os pro-
acirraram os ânimos dos professores da fessores tiveram bastante dificuldade com a
educação básica e de pesquisadores, como falta de material didático adequado, inclu-
por exemplo, a Medida Provisória nº sive, sem tradução, como assevera a pes-
746/2016 que instituiu escolas do Ensino quisadora Nadai (1993, p. 146):
Médio em tempo integral e as polêmicas
sobre as disciplinas Artes, Educação Física, Coerentemente ao modelo proposto,
Filosofia e Sociologia ao tentar facultar es- desde o início, a base do ensino centrou-
sas disciplinas o que gerou reação dos pro- se nas traduções dos compêndios france-
fissionais e educadores. ses – para o ensino de História Universal,
Existe uma vasta produção, sobretudo no o compêndio de Derozoir; para História
Antiga, o de Caiz; e para História Romana,
campo da educação sobre a legislação do
o de Derozoir e Dumont. Reformas poste-
referido período. No que tange à História, riores cuidaram de adequar o programa
tem-se a professora Selva Guimarães Fon-
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de estudos do colégio às últimas modifi- E assim a História escolar constitui-se
cações realizadas nos liceus nacionais da como disciplina no Brasil. Mas que História
França. Na falta de traduções, apelava-se era essa? Sem dúvida uma História essenci-
diretamente para os próprios manuais almente política, nacionalista, eurocêntrica
franceses. que valorizava a monarquia e ação missio-
nária da igreja católica (FONSECA, 2006).
O Brasil também procurava criar sua i- Vale ressaltar que muitos membros do IHGB
dentidade nacional, pois se vivia num país ministravam aulas no Colégio D. Pedro II
bastante diversificado etnicamente, social e que, como dito anteriormente, era referên-
culturalmente. Como elaborar um projeto cia no ensino de História, isto é, servia de
para um país com essas características? As modelo para outros colégios na elaboração
elites perceberam que a educação era um de programas e orientações de conteúdos a
bom caminho para construção da identida- serem ministrados nas escolas públicas.
de. Instituição de destaque neste contexto Interessante que nesse período histórico,
foi o Instituto Histórico Geográfico Brasilei- ou seja, século XIX, os métodos de ensino
ro (IHGB) fundado em 1838. Ele tinha a mis- eram voltados para a memorização. “A-
são de “elaborar uma história nacional e de prender História significava saber de cor
difundi-la por meio da educação, mais pre- nomes e fatos com suas datas, repetindo
cisamente por meio do ensino de História” exatamente o que estava escrito no livro ou
(FONSECA, 2006, p. 46). copiado nos cadernos” (BITTENCOURT,
O instituto acima referido organizou um 2009, p. 67). O sistema de avaliação era a-
concurso sobre qual seria a melhor forma terrorizante, isto é, caso os alunos errassem
de escrever a história do Brasil. O vencedor ou esquecessem alguma palavra ou fato
foi o alemão Von Martius que defendeu a receberiam como punição a famosa palma-
ideia de que se partisse da mistura dos três tória. Infelizmente esta ideia que aprender
grupos étnicos (brancos, negros e índios) é sinônimo de memorizar ainda faz-se pre-
como formadores da nacionalidade brasilei- sente no ensino de História.
ra e, claro, o destaque era dado ao branco Com o advento da República em 1889, o
“sugerindo um progressivo branqueamento ensino de História voltou-se para a exalta-
como caminho seguro para a civilização” ção dos heróis nacionais, ou seja, valorizou-
(FONSECA, 2006, p.46). Não se reconhecia se a construção dos mitos, por exemplo,
outros grupos sociais como sujeitos históri- Tiradentes. O ensino da disciplina foi usado
cos, e deste modo, são os indígenas que nas para legitimar poderes e valores que exal-
narrativas do instituto ficavam confinados tavam a ordem estabelecida, ou seja, uma
no passado. “Nessa História, os índios apa- História moralista e patriótica. Com a as-
reciam na hora do confronto, como inimi- censão de Getúlio Vargas ao poder a partir
gos a serem combatidos ou como heróis de 1930 o Estado ficou mais centralizado,
que auxiliavam os portugueses” (ALMEIDA, ou seja, o poder político ficou nas mãos do
2010, p.17). Os indígenas do século XIX não Governo Federal. “Alegando a necessidade
eram citados, pois o interesse era represen- de substituir as antiquadas instituições polí-
tá-los como pessoas que ficaram no passa- ticas brasileiras, Getúlio Vargas prometia a
do distante. modernização do país mediante a reformu-
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que fossem patriotas e que reproduzissem foi implantada no 1º grau. A partir desse
a moral estabelecida pela ideologia dos mi- ano, os guias curriculares dos Estados de
litares. Contudo, as discussões pelo Estado São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, re-
brasileiro sobre a educação, com o objetivo introduziram História e Geografia com a
de uma educação moral e cívica dos cida- permanência dos Estudos Sociais. Somente
dãos é anterior à ditadura de 1964. A ideia em 1986, por meio do parecer 785/ 1986
de proporcionar uma educação cívica e pa- do Conselho Federal de Educação, a História
triótica remonta os debates do início da e Geografia readquiriram suas respectivas
República chegando, inclusive, em alguns autonomias (VIANA, 2014).
momentos ser ministrada como disciplina Este ordenamento jurídico que acabou
própria e, em outros, como orientação para com a autonomia da História e Geografia
as escolas que perpassava todas as discipli- surgiu no contexto de forte repressão, mas
nas numa forma de transversalidade também de crescimento econômico. Ainda
(FILGUEIRAS, 2008). no final de 1968, o Presidente Costa e Silva,
A ideia era formar o cidadão no espírito assinou o Ato Institucional número 5 (AI -
de passividade e obediência em relação à- 5). O qual concentrava ainda mais o poder
queles cuja função social seria fazer política, nas mãos do presidente. Vieira (1994, p. 27)
portanto, os que resolveriam os problemas elenca os poderes:
do Brasil. Forjou-se a ideia de que o Brasil
caminharia para um futuro promissor, mas a) fechar o Congresso Nacional, assem-
que seria necessária a união de todos para a bléias estaduais e câmaras municipais; b)
concretização desta meta, inclusive, o co- cassar mandatos de parlamentares; c)
nhecimento histórico foi mobilizado para suspender por dez anos os direitos políti-
formar os cidadãos de acordo com os prin- cos de qualquer pessoa; d) demitir, remo-
ver, aposentar ou pôr em disponibilidade
cípios do regime militar.
funcionários federais, estaduais e munici-
Com a Lei nº 5.692 de 1971, ocorreram pais; e) demitir ou remover juízes; f) sus-
várias mudanças no âmbito educacional, pensão das garantias do Poder judiciário;
por exemplo, o ensino de 1ª a 8º série pas- g) decretar estado de sítio sem qualquer
sou-se a chamar de 1º grau. Já o ensino de impedimento; h) confiscar bens como
2º grau voltou-se para a formação profis- punição por corrupção; i) suspensão de
sional dos alunos (FONSECA, 2003). Essas habeas – corpus em crimes contra a segu-
transformações expressavam as ideias já rança nacional; j) julgamento de crimes
referidas que norteavam as ações dos go- políticos por tribunais militares; k) legislar
vernos militares, isto é, o ideário de segu- por decreto e expedir outros atos institu-
rança nacional, o aspecto tecnicista do en- cionais ou complementares; l) proibição
sino e a formação cívica. Foi também por de exame, pelo Poder judiciário, de recur-
sos impetrados por pessoas acusadas por
meio dessa lei que a disciplina História jun-
meio do Ato Institucional n.º 5.
tamente com a Geografia perdeu sua auto-
nomia e passou a integrar a disciplina de
Este Ato deixou marcas no Brasil, por e-
Estudos Sociais que englobava os conteúdos
xemplo, prisões sem o devido processo le-
das duas disciplinas. Segundo Fonseca
gal, perseguições e torturas. Os poderes
(2003), até 1977 a disciplina Estudos Sociais
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legislativo e judiciário foram ainda mais fra- Foi nesse contexto que a diluição das dis-
gilizados. O AI-5 vigorou durante os gover- ciplinas História e Geografia ocorreram. Si-
nos de Médici e do Geisel. Médici assumiu a tuação difícil para os professores dessas
presidência em outubro de 1969 e utilizou duas disciplinas que tiveram suas identida-
fartamente os poderes constituídos após o des profissionais fragilizadas. Neste período
referido Ato para aumentar a repressão aos surgiram as licenciaturas curtas e longas em
grupos que lutavam contra o regime. Foi Estudos Sociais. “A duração das licenciatu-
sob a vigência dele que foi criada a Lei nº ras curta e longa deve ser respectivamente
5.692 de 1971, que referimos acima e que de 1200 horas, o que equivale a um ano e
trata sobre as mudanças que afetaram a meio letivo, e 2200 horas, o equivalente a 3
História e toda organização educacional. anos letivos” (FONSECA, 2003, p.27). Fonse-
Período de grande censura em que “jornais ca (2003, p. 63) destaca ainda:
e revistas tinham de registrar-se na Polícia
Federal, além de obedecer a uma série de O governo, como demonstrou o quadro
exigências” (VIEIRA, 1994, p. 36). anterior, detém a função planejadora e os
Iêda Viana (2014) chama atenção para professores vão paulatinamente sendo
um aspecto interessante da Lei nº 5.692 de desapropriados de sua função criadora. O
1971. Como a sociedade reagiu às trans- processo de desqualificação do professor,
estrategicamente colocado pelo Estado,
formações? A despeito do contexto de re-
retira daquele profissional a função de
pressão e autoritarismo, o clima foi de eu- pensar. Para que ensinar; a quem ensinar;
foria devido o crescimento econômico, co- como ensinar e quando ensinar: autorita-
nhecido como milagre econômico e seus riamente, estas questões passam a ser
impactos nos campos de emprego, urbani- respondidas pelos especialistas, alheios
zação e cultura do país o que gerou omis- ao processo de ensino/aprendizagem.
são, adesão e até apoio de uma parte signi-
ficativa da população às diretrizes desen- Para agravar a situação e a promoção da
volvimentistas do Governo (VIANA, 2014). desqualificação do professor de História, o
As camadas médias urbanas foram benefi- Ministério da Educação, no ano de 1976,
ciadas com a facilidade de crédito, o incen- editou uma portaria que permitia somente
tivo ao consumo com o abarrotamento de aos licenciados em Estudos Sociais ministra-
novidades como automóveis, televisores e rem aulas da citada disciplina. Os formados
câmeras. “Para completar a felicidade do em História e Geografia foram praticamente
brasileiro, ainda existia a possibilidade de o excluídos do ensino de 1º grau, pois passa-
assalariado finalmente ‘ dar o salto da casa ram a ministrar as poucas aulas que resta-
própria’ e comprar o imóvel financiado pelo vam no 2º grau (FONSECA, 2003). Segundo
recém-criado Banco Nacional de Habitação Fonseca (2003), o profissional formado na
(BNH)” (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. licenciatura curta estava tendencioso a “a-
453). O controle exercido pela ditadura na tender aos objetivos do Estado, aos ideais
sociedade, especialmente no governo de de Segurança Nacional do que um outro
Médici, foi sustentado pelo crescimento profissional oriundo de um curso de licenci-
econômico e pela gigantesca estrutura de atura plena em História, apesar das limita-
propaganda. ções deste” (FONSECA,2003, p.28). Isso in-
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fluenciou no cotidiano escolar, pois profes- periores. Além disso, outras disciplinas fo-
sores malformados não conseguiam dar ram criadas e trabalhavam conteúdos que
conta de um ensino de qualidade. Profissio- eram ministrados na disciplina História, co-
nais que não dominam os fundamentos mí- mo Educação Moral e Cívica (EMC) e o re-
nimos da História não conseguem incenti- forço na disciplina Organização Social e Polí-
var o pensar historicamente e o pensamen- tica Brasileira (OSPB) que foi criada ainda
to autônomo dos alunos. em 1962. Elas tinham o objetivo de incutir
Os conteúdos referentes a História, na valores e conceitos propagados pelo regime
disciplina Estudos Sociais, refletiam uma (ALMEIDA NETO, 2014).
perspectiva substancialmente política da A EMC foi criada por meio do Decreto-Lei
História. Ao dissertar sobre essa disciplina, nº 869/69. Possuía o objetivo de “construir
Martins (2014) afirma que a memorização um ideário patriótico, com uma nação forte,
de datas e fatos marcantes era valorizada. que ressaltava os valores da moral, da famí-
Utilizava-se o conhecimento histórico para lia, da religião/fé e da defesa da Pátria e
exaltar grandes personagens como exem- inculcava valores anticomunistas nos jovens
plos a serem seguidos, bem como, certos e crianças” (FILGUEIRAS, 2008, p.84). Nessa
grupos sociais e étnicos foram deixados de perspectiva de unidade da nação, as dife-
lado. Ao analisar os conteúdos de Estudos renças e desigualdades seriam ocultadas
Sociais, Fonseca (2003) afirma que eram em nome da exaltação da pátria que era
conteúdos generalizantes e sem a especifi- maior que todos. Corrobora-se com a pes-
cidade do conhecimento histórico. Também quisadora Fonseca (2003) quando assevera
Fonseca (2003) destaca que o processo de que não se tratava apenas de uma discipli-
ensino e aprendizagem reforçava apenas a na, mas uma doutrina difundida pelo Estado
dimensão reprodutora. Realidade não mui- ditatorial.
to diferente do que se vinha trabalhando no A disciplina OSPB tinha por função prin-
ensino de História mesmo antes da ditadura cipal apresentar as estruturas administrati-
militar. Ressalta-se que a crítica que se faz vas e os princípios institucionais do Estado.
a este método é contra a memorização me- “A disciplina de OSPB deveria compor a par-
cânica que não traz sentido e significado te complementar do currículo, presente
algum para os alunos, ou seja, a mera repe- apenas em algumas das séries do 1º e 2º
tição e não contra o desenvolvimento inte- graus, e surgir como equivalente a um es-
lectual de memorizar. tudo da realidade social e política brasilei-
Em síntese, o objetivo era dissolver o co- ras” (MARTINS, 2014, p.44). Martins (2014)
nhecimento histórico escolar para evitar a afirma que essa disciplina na ditadura mili-
formação da juventude. A História esteve, tar atuava como legitimadora das estrutu-
como dito anteriormente, a serviço do Es- ras e das ações do Estado. Além disso:
tado para justificar seu projeto. Fonseca
(2003) afirma que a Lei nº 5.692 de 1971 Em sua característica meramente escolar,
descaracterizou o ensino de História no 1º e sem uma disciplina acadêmica que for-
grau. Na ditadura, a escola perdeu autono- necesse suporte para configuração dos
mia, pois cabia aos professores reproduzi- conhecimentos, a OSPB agia, juntamente
rem as diretrizes emanadas dos órgãos su- com a EMC, com uma característica muito
cem, serão revelados, além do controle História. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
promovidos pelos agentes do Estado, as 2006.
diversas resistências no interior das institui- GHIRALDELLI JUNIOR, P. História da educa-
ções educacionais. ção brasileira. 5. ed. São Paulo: Cortez,
Pesquisar sobre a história do ensino de 2015.
História é mergulhar num oceano de expe- LAVILLE, C. A guerra das narrativas: debates
riências positivas e negativas. É olhar para o e ilusões em torno do ensino de História.
passado e compreender que a despeito de Revista Brasileira de História, São Paulo,
avanços e mudanças, ainda existem perma- v.19, n.38, p. 125-138, 1999.
nências que precisam ser superadas para MARTINS, M. do C. Reflexos reformistas: o
que o professor jamais perca de vista seu ensino das humanidades na ditadura militar
potencial criativo que pode ajudar os alu- brasileira e as formas duvidosas de esque-
nos, que frequentam as aulas de História, a cer. Educar em Revista, Curitiba, n. 51, p.
reconhecerem-se como agentes históricos, 37-50, jan./mar. 2014.
portanto, senhores das suas escolhas. NADAI, E. O Ensino de História no Brasil:
trajetória e perspectiva. Revista Brasileira
REFERÊNCIAS de História, São Paulo, v.13, n. 25/26, p.
143-162, 1993.
ABUD, K. M. O ensino de história como fa- NAPOLITANO, M. 1964: História do regime
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ALMEIDA, M. R. C. de. Os índios na história uma biografia. São Paulo: Companhia das
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BITTENCOURT, C. M. F. Ensino de história: VIANA, I. O ensino de história na ditadura
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FONSECA, S. G. Caminhos da história ensi-
License information: This is an open-
nada. 7. ed. Campinas, SP: Papirus, 2003. access article distributed under the terms of the Creative
(Coleção Magistério: Formação e trabalho Commons Attribution License, which permits unrestricted
pedagógico). use, distribution, and reproduction in any medium, provi-
ded the original work is properly cited.
FONSECA, T. N. de L. e. História & ensino de
Estação Científica (UNIFAP) https://periodicos.unifap.br/index.php/estacao
ISSN 2179-1902 Macapá, v. 6, n. 3, p. 29-39, set./dez. 2016
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