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O texto “As funções mentais superiores ( Síndrome de Pirandello)”,

capítulo integrante do livro Psicologia Jurídica (2010), tem como autores José
Osmir Fiorelli e Rosana Cathya Ragazzoni Mangini, relata quais são as funções
mentais superiores, como se correlacionam e como se dá o processo de
influência ao comportamento dos indivíduos em diversas situações. São
também trazidos casos de âmbito jurídico e analisados pelo viés psicológico,
de maneira que se supõe como tal ocorrido se sucedeu de acordo com a forma
comportamental daqueles citados nos exemplos. Nestes momentos, os autores
fazem um enlace de cada caso com suas complexidades de julgamento.
O capítulo estudado é dividido em sub-tópicos, ideias principais, de
acordo com cada função mental superior e sua influência no comportamento
humano. As citadas são: linguagem, atenção, memória, sensação, percepção,
emoção e pensamento.
Dessa maneira, para os autores, “A psicologia trabalha com a
realidade psíquica, elaborada pelo individuo a partir dos conteúdos
armazenados na mente. ” Citando DAMÁSIO (2000), “às vezes, usamos nossa
mente não para descobrir fatos, mas para encobri-los... ainda que nem sempre
de maneira intencional”. Em tese, o estudo das funções metais superiores
constitui o alicerce para todo o entendimento dos mecanismos de
funcionamento e estruturação da realidade psíquica de cada indivíduo,
fundamentando a compreensão de mundo desse. Tais fundamentos servem
para compreender como a visão de mundo de cada ser é constituída, como
funciona seu entendimento periférico e interpreta tais acontecimentos dispostos
ao seu redor, resultando assim, no comando de seus comportamentos.
De acordo com Fiorelli e Mangini, a mente humana atua como uma
estrutura de defesa, onde ali se alocam nossas experiências, aprendizados e
emoções, resultando em uma espécie de “banco de dados”, denominadas por
eles como “imagem”, determinando assim dentre elas, o que se é relevante
absorver, como agir em certas situações, até mesmo nossas percepções de
lembranças. Dessa maneira, os autores colocam o cérebro como “palco das
funções mentais superiores”, acontecendo ali a “audiência cativa do corpo”.
Dentre tais funções, podemos destacar a sensação e a percepção,
interligadas. Processo que se entende como sendo a primeira citada
receptando o estimulo (interno ou externo ao corpo) até a interpretação da
informação pelo cérebro, segunda colocada. Presume-se assim, que cada
indivíduo constata o mundo de uma forma diferente, mesmo que em uma
experiência igual a outro semelhante, podendo dar maior ou menor importância
a determinadas proeminências. Isso porque, além de fatores naturais (visão,
audição, paladar, tato e olfato), sobressaem os conhecimentos já adquiridos
por cada um, experiência de vida, emoções. Tais sensações podem ser
trazidas com as seguintes características: um “limiar inferior”, quando abaixo
deste, os estímulos não são reconhecidos e as informações são legitimamente
ignoradas, e o chamado “limiar superior”, quando ocorrem danos nos
mecanismos de recepção dos estímulos e há certo bloqueio de sensações.
Como exemplo, apresenta-se o exemplo de informações em excesso, quando
o cérebro já sobrecarregado, elimina todas elas, pois o estado emocional afeta
tais limiares.
A percepção é tratada de maneira subdividida, em que se aborda a
apresentação de tal função diferentemente percebida entre cada um dos
sujeitos, determinada pela questão emocional de cada um, por exemplo.
Outro ponto trazido é a seleção dos estímulos que chegam ao nosso
cérebro pela atenção. Em toda distinção, absorção ou seleção de fatos feita por
nosso cérebro, essa função está presente, uma vez que dependem da
característica do estimulo e fatores internos aos indivíduos. Pode-se assim
dizer porque a atenção tem seu ponto culminante na inconstância, fator
predominante na memória, outra função destacada por Fiorelli e Mangini.Esta,
tem como desencadeadores os sinais, informações recebidas pelos sentidos,
pontos chaves que despertam a atenção. A memória pode em seu processo,
sofrer alterações, comumente o cérebro podendo ocasionar maior ou menor
intensidade de tal função.
Outra associação que pode ser facilmente percebida no texto é a
das funções linguagem e pensamento. Linguagem, sendo função inata,
possibilita ao indivíduo fazer a simbologia do seu pensamento, decodificando o
seu e o do outro. Obedecendo uma certa “graduação” no desenvolvimento dos
pensamentos, este, precede a linguagem, havendo a transformação do outro,
gerando cada vez mais complexidade na consequência de sua fala. Ou seja,
quanto mais aprimorado o pensamento do indivíduo, mais evoluída a
linguagem deste se apresenta e maior é a sua capacidade.
A emoção, outra faculdade mental importantíssima trazida na leitura,
permeia todo o texto e tem como característica a subjetividade. É composta por
elementos externos, psíquicos, somáticos e comportamentais. Essas, variam
de pessoa para pessoa, de acordo com o contexto social e a cultura. Além de
conceituar ainda que a emoção é necessária ao aprendizado e tem influência
sobre outras funções, os autores citam a subdivisão que se encontra nessa
integração, são elas, as positivas (sensação de prazer) e negativas (sensações
ruins). As duas estão fortemente ligadas à percepção, enquanto a primeira
torna a pessoa mais receptiva, a segunda empobrece a percepção.
De acordo com cada tipo de emoção o indivíduo pode agir de uma
maneira diferente da outra, isso porque devido aos sentimentos mais intensos,
como o medo, a inveja, a vingança, seus pensamentos racionais podem ser
bloqueados, levando assim à modificação de sensações, percepção,
acentuação ou atenuação de estímulos. A emoção, tratada no texto como
“combustível que o corpo acumula”, pode ser dissipada por meio da explosão
emocional, maneira que os indivíduos têm de sofrer as manifestações “físicas-
fisiológicas” (ex. a depressão).
Luigi Pirandello (1867-1936), escritor italiano, acreditava que em um
determinado acontecimento, todas as pessoas envolvidas podem apresentar
divergentes informações, distintas versões do fato, pois o que as difere são os
pontos de vista de cada uma delas, ou seja, a maneira como veem essa
realidade. Levando em consideração que cada uma delas faz parte de um
determinado contexto, revela-se que é inevitável que cada um apresente sua
versão dos fatos e relate de forma diferenciada o que viu, sem estar mentindo.
Podemos perceber a partir da leitura de FIORELLI e MAGINI (2010), a
importância de se analisar com cautela as diferentes versões de um fato
relatado por testemunhas no âmbito jurídico. Deve-se levar em consideração
que cada indivíduo possui a sua história, sua vivencia, suas experiências e
emoções, além de cada um resultar de um diferente contexto histórico e social.
Cada uma dessas desencadeia efeitos no corpo e mente de cada indivíduo,
levando este a dar mais atenção a determinados objetos e atitudes do que
outros.
Na esfera jurídica tais apontamentos têm extrema relevância, uma
vez que, é através do estudo comportamental que se conhece uma sociedade
e até mesmo se dá o autoconhecimento. Pontos que estão envolvidos
paralelamente com o convívio social, pois é por esse autoconhecimento e o
conhecimento do comportamento do próximo, que muitos conflitos podem ser
evitados.
Entende-se assim, que cada uma das funções depende da outra,
proporcionando equilíbrio e evolução a cada ser. Vários fatores externos são
essenciais para que se criem esses mecanismos de defesa inconscientes,
assim também como várias são as condições para que essa defesa acontece.
Apoiando-se em Vygotsky (1998),

Para explicar as formas mais complexas da vida consciente do


homem, é imprescindível sair dos limites do organismo, buscar as
origens desta vida consciente e do comportamento “categorial”, não
nas profundidades do cérebro ou da alma, mas sim nas condições
extremas da vida e, em primeiro lugar, da vida social, nas formas
histórico-sociais da existência do homem.

É de mera importância que se observe essa relação de


“autorregulação” dos processos desencadeados pelo externo e processados
pela mente. Assim como afirma o autor supracitado, esse registro que ocorre é
fruto das influências que sofremos, desenvolvendo assim a construção de
imagens pelo cérebro e dessa maneira, mediando as relações entre o
desenvolvimento e a aprendizagem.
REFERÊNCIAS

FIORELLI, José O. e MANGINI, Rosana C. R. Psicologia Jurídica. São Paulo:


Atlas, 2010.

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