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RELAÇÕES ENTRE INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO, FRACASSO

ESCOLAR E PERCEPÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA DE ALUNOS DE 14 A 16


ANOS DE UMA REDE MUNICIPAL DO VALE DOS SINOS
Me. Luís Eurico Kerber – Universidade Feevale
Dra. Dinora Tereza Zucchetti– Universidade Feevale
Dr. Gustavo Roese Sanfelice – Universidade Feevale

GT 2 - Juventudes, trabalho e projeto de futuro


Resumo
Este trabalho constitui-se num recorte da dissertação desenvolvida no Programa de
Diversidade Cultural e Inclusão Social da Universidade Feevale, na linha de pesquisa
Saúde e Inclusão Social. Teve por objetivo compreender a associação das dimensões
da Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) com o perfil de escolarização e
de acesso ao mercado de trabalho. Considera-se o termo Juventude(s) concebido
como uma metáfora do social, representando em si todos os dilemas, angústias e
ambivalência da sociedade atual, tensionadas pelo desemprego, fragilidade das
relações entre capital e trabalho e valor atribuído a escola e a educação neste
processo. Adotou-se o design de um levantamento quantitativo, descritivo,
transversal. A amostra foi não probabilística; totalizando 335 alunos entre 14 e 16
anos, de ambos os sexos, matriculados na rede municipal investigada em 2015 de
uma população de 457 alunos. Como instrumentos de coleta de dados foram
utilizados o Questionário Kidscreen-52 versão para jovens e sociodemográfico. Pode-
se afirmar, no contexto investigado, que a inserção no mercado de trabalho interfere
na percepção de QVRS, elevando os escores em geral, mas traz redução significativa
na dimensão D9 Ambiente Escolar e elevação dos índices de reprovação para os
jovens trabalhadores.
Palavras-chave: Qualidade de Vida Relacionada à Saúde. Juventudes. Educação.
Trabalho
Não houve agência financiadora
INTRODUÇÃO
Este artigo constitui-se num recorte dos resultados da dissertação de Mestrado
em Diversidade Cultural e Inclusão social realizado no biênio 2014-2015 na
Universidade Feevale, no qual o pesquisador desenvolveu um levantamento
quantitativo da percepção de Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) 1de
353 jovens de ambos os sexos entre 14 e 16 anos matriculados na rede municipal de
Ivoti no ano de 2015. Naquele momento também foi traçado o perfil socioeconômico,

1
A definição de QVRS neste estudo caracteriza-se como sendo um constructo complexo, multidimensional, que
permite atribuição de valor positivo ou negativo às suas dimensões, bem como decorre da subjetividade de cada
sujeito investigado, por conceber que a realidade só adquire significado pela percepção, portanto no processo de
interpretação da realidade (FLECK et al, 1999a).
de histórico de defasagem idade série e reprovação, de trabalho e renda (KERBER,
2015).
Teve como objetivo geral compreender a associação do perfil de escolarização
e de acesso ao mercado de trabalho de alunos de 14 a 16 anos matriculados na rede
municipal de ensino de um município de pequeno porte do Vale dos Sinos com as
dimensões da QVRS.
Com base na análise univariada destes dados verificou-se associações
significativas entre as características de sexo, idade, histórico de reprovação e
inserção no mercado de trabalho com a percepção de qualidade de vida enquanto
indicador de impacto das políticas públicas de proteção integral ao adolescente no
contexto investigado (KERBER, 2015), o que determina a opção por analisar esta
dimensão da dissertação no presente artigo.
Pensar a relação escola e trabalho no campo das políticas públicas de
educação e trabalho oportuniza refletir sobre os processos de exclusão-inclusão
presentes em cada uma destas dimensões e nas formas de (des)integração entre as
mesmas. Outro aspecto importante a desvelar com este ensaio são das diferentes
formas de participação e articulação dos atores sociais envolvidos direta ou
indiretamente no estudo, com ênfase na percepção dos jovens enquanto sujeitos de
direitos e entendendo-os como um espelho (NOVAES, 2013) ou metáfora social
(MELUCCI, 1997).

METODOLOGIA

Adotou-se um paradigma quantitativo descritivo de corte transversal na


abordagem do objeto de estudo, com design de um levantamento(survey)
devidamente aprovado no Comitê de ética da Feevale sob o número 1.017.096 de
09/04/2015. A população do estudo foi constituída de 457 alunos da Rede municipal
de Ivoti, RS entre 14 e 16 anos e a amostra foi censitária, não probabilística(LEVIN,
1987) envolvendo alunos nascidos entre 1999 a 2001 matriculados nas escolas da
rede municipal no primeiro semestre de 2015 que aderiram mediante TCLE e
completaram todos procedimentos do estudo, totalizando 335 jovens oriundos de 6
escolas (5 urbanas e 1 rural) englobando 73,3 % da população.
Como instrumento de coleta de dados adotou-se o Questionário de QVRS
Kidscreen – 52 para jovens (THE KIDSCREEN GROUP EUROPE, 2006) o qual foi
adaptado e validado para o português por Guedes e Guedes (2011) para jovens entre
8 e 18 anos. Também foi utilizado o Questionário Sociodemográfico para jovens,
composto por 36 questões objetivas fechadas, estruturado com base nas questões da
Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) (BRASIL, 2009) e adaptado à
abordagem do problema de investigação.
A análise dos dados considerou a verificação da não normalidade dos dados
amostrais com base no teste de Kolmogorov-Smirnov, adotando-se um nível de
significância em p ≤ 0,05 indicando o uso de testes não paramétricos. A estatística
descritiva apresentou o perfil da amostra que estratificada por idade, sexo, e
caracterização das variáveis coletadas expressando-se a frequência absoluta,
relativa, média e desvio padrão das variáveis coletadas. A classificação dos níveis de
QVRS foi expresso de forma absoluta. Foi utilizada na análise inferencial dos
adotando o teste qui-quadrado para verificar a associação das variáveis categóricas,
Teste de Mann-Whitney e Kruskall-wallis para comparar postos médios das variáveis
entre as categorias do perfil traçado por estrato amostral.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Na amostra verificou-se uma proporcionalidade de distribuição de jovens nos


estratos de 14 e 15 anos entre os sexos e idades; e um número de indivíduos menor
no estrato de 16 anos, porém com uma proporção maior de indivíduos do sexo
masculino. Quanto ao estado civil, a totalidade declarou ser solteiro(a) e não
possuírem filhos.Ainda em relação ao estado civil declarado, nos dados referentes à
estrutura familiar, duas jovens relataram morar com companheiro e familiares em
situação de união estável.
Ampliando a caracterização dos participantes do estudo em relação à
autodesignação de raça ou cor, com base nos critérios utilizados pelo IBGE na
realização da PeNSE (BRASIL, 2009), verificou-se que 233(69,6%) dos indivíduos se
auto identificaram como de cor ou raça branca, 68(20,3%) pardos, 15(4,5%) negros,
6(1,8%) amarelos e 2(0,6%) indígenas. Destaca-se que 11 indivíduos manifestaram
que não gostariam de declarar sua raça ou cor. No intuito de identificar possíveis
associações entre raça/cor e os domínios de QVRS, foi submetido à análise inferencial
sem obter associação significativa.
Considerando que o município participante deste estudo é de pequeno porte,
com menos de 20 mil habitantes e com forte influência da colonização alemã, importa
caracterizar a naturalidade e tempo de moradia dos participantes do estudo, por supor
que o pertencimento à comunidade pode ser um fator que influencie na percepção da
qualidade de vida. Nesse aspecto, verificou-se que 197(58,8%) indivíduos da amostra
nasceram no município do estudo e 229(68,4%) residem há mais de 10 anos, tendo
estabelecido vínculos pessoais na comunidade local. Constatou-se que apenas
47(14%) dos indivíduos residem há menos de 4 anos no município. Quanto à
associação dessa variável aos domínios de QVRS, não foi obtido nível de significância
previsto.
Ao investigar a descendência dos participantes do estudo levando-se em conta
o valor culturalmente atribuído à origem das famílias em função da constituição do
município a partir da imigração alemã, verificou-se que a maioria, constituída por 194
(57,9%) jovens, identificou-se como descendentes de alemães.
Quanto à escolaridade dos participantes do estudo, na Tabela 1 percebe-se
que há uma maior distribuição dos jovens cursando o 8º ano totalizando 123 (36,7%)
e no 9º ano com 149 (44,5%) jovens, totalizando 81,2% nesses dois estágios de
escolaridade.
Tabela 1 - Caracterização quanto à escolaridade e perfil de reprovações.
Escolaridade(n=335) N %
5 ano 2 0,6
6 ano 15 4,5
7 ano 46 13,7
8 ano 123 36,7
9 ano 149 44,5
Total 335 100
Histórico de reprovações (n=335)
Não 214 63,9
Sim 121 36,1
Total 335 100
Número de reprovações (n=122) % amostra
1 vez 57 47,1 17,0
2 vezes 52 43 15,5
3 vezes 9 7,4 2,7
4 vezes 2 1,7 0,6
5 vezes 1 0,8 0,3
Total 121 100 36,1
Defasagem idade-série(n=335)
Não 271 80,3
Sim 64a. 19,7
Total 335 100
a. Incluídos apenas alunos que declararam duas ou mais reprovações.
Fonte: elaborado pelo pesquisador.
Considerando-se o indicador histórico de reprovação, verificou-se que 121
(36,1%) dos jovens relataram sua reprovação na escola. Destes 57 (17%) reprovaram
apenas 1 vez; 52 (15,5%) duas vezes; e 9 (2,7%) três vezes.
Nos dados do INEP referentes ao Brasil em 2014, o índice de defasagem série
para os anos finais (6º ao 9º ano) do Ensino Fundamental Geral Nacional foi de 27,3%.
Aproximando-se os resultados do contexto investigado para as escolas municipais
ainda no âmbito nacional, esse índice fica em 35,8% e no âmbito do estado do Rio
Grande do Sul cai para 34,1%(BRASIL, 2014).
Dessa forma, pode-se considerar que em relação à esfera educacional nacional
e estadual, o contexto investigado mostrou um panorama positivo ao apresentar
Defasagem Idade-Série da ordem de 19,7% em um município que, nesse mesmo
indicador, totalizou 20% nos indicadores educacionais quanto a defasagem idade-
série (BRASIL, 2014). Contudo, certamente esse resultado ainda está longe dos
padrões vistos em países desenvolvidos: entre 3 a 4% na Europa e 10% nos EUA
(SILVA, 2014).
Quanto a escolaridade dos pais ou responsáveis dos jovens participantes do
estudo, os dados indicaram que 106 (31,6%) das mães apenas possuíam o ensino
fundamental incompleto ao passo que apenas 22 (6,6%) concluíram o ensino superior.
No que se refere ao conhecimento dos alunos sobre a escolaridade dos pais,
107(31,9%) afirmaram que possuíam o ensino fundamental incompleto e 20(6%)
concluíram o ensino superior.
Esta evidência sinaliza a tendência a maior escolarização das novas gerações,
contudo os elevados índices de reprovação e defasagem idade-série indicam
importantes desigualdades de trajetórias escolares (PEREGRINO, 2010) associados
a processos de exclusão a serem investigados. Quanto à associação entre a
escolaridade do pai/mãe e a percepção de QVRS, foi apenas sinalizada a associação
com a dimensão D7 Aspectos financeiros com escores superiores de percepção de
QVRS a filhos de pais com Ensino Superior incompleto e completo relacionado a
probabilidade de obter renda familiar mais elevada face a maior escolarização.
Quanto ao aspecto educação, em relação à questão sobre o acompanhamento
e interesse dos pais ou responsáveis com as atividades escolares dos jovens,
identificou-se que a maioria representada por 294(87,8%) dos relatos tem esse
acompanhamento. Ao fazer a mesma pergunta aos pais ou responsáveis, foram
obtidos dados similares, mas com pequena elevação do percentual de
acompanhamento na percepção dos pais.
Dando prosseguimento à caracterização sociodemográfica da amostra, são
apresentados os indicadores de ingresso no mercado de trabalho dos jovens
participantes deste estudo na Tabela 2.
Tabela 2 - Perfil de ingresso, no mercado de trabalho dos jovens (n=335).
Situação n %
Nunca trabalhou 179 53,4
Nunca trabalhou, mas está procurando 56 16,7
Trabalha sem carteira assinada 45 13,4
Trabalha com carteira assinada 13 3,9
Já trabalhou, mas não trabalha mais 42 12,5
Fonte: elaborado pelo pesquisador.

Observa-se que a maioria nunca trabalhou (53,4%), sendo que 16,7% nunca
trabalhou, mas está procurando a inserção do mercado de trabalho, totalizando 70,1%
sem qualquer experiência laboral. Um grupo 42(12,5%) já fez sua primeira experiência
profissional, mas no decorrer da coleta de dados não estava trabalhando.
Efetivamente, relataram algum tipo de atuação profissional 3,9% com algum tipo de
vínculo formal de trabalho e 13,4% atuam na informalidade e com maior
vulnerabilidade laboral.
Avançando nas reflexões que esta pesquisa oportuniza a quem se lança a
desvendar as percepções de qualidade de vida de um grupo de jovens em um
contexto cultural particular, é necessário investir mais na compreensão da
multiplicidade das experiências e comportamentos juvenis, em especial em centros
urbanos no Brasil.
Para tanto, três pilares sustentam a abordagem feita por um coletivo de autores
da área das Ciências Sociais que empreenderam diversos estudos na compreensão
desta nova forma de ser e estar no mundo: a busca de si e o papel das
expressividades e performances, os modos de conceber e lidar com a ideia de futuro
e as possibilidades de inserção e reconhecimento social (PAIS, 2006).
Nessa última categoria, referente às possibilidades de inserção e
reconhecimento social, desponta como essencial as reflexões sobre a relação do
jovem com a educação e o mercado de trabalho, em uma perspectiva de atribuição
de significados ao processo presente na adolescência do contexto investigado.
Abordando as formas percebidas de ingresso no mercado de trabalho, mostra-
se pertinente buscar apoio no Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual refere que
a condição de trabalhador somente pode ser assumida pela legislação trabalhista aos
16 anos; e a de menor aprendiz aos 14 anos com a finalidade específica de promover
complementação da aprendizagem ou formação profissional, devendo ser
flexibilizadas as exigências e horários para priorizar as atividades escolares e a
aprendizagem (BRASIL, 1990).
Para caracterizar o trabalho realizado pelos jovens, são apresentados dados
referentes à carga horária semanal, atividade profissional desenvolvida, turnos de
trabalho e renda pessoal dos jovens. Observa-se, que a maioria dos jovens inseridos
no mercado de trabalho realizam jornadas semanais inferiores a 20 horas semanais
englobando 31 (53,5%) e 14 (24,1%) trabalham até 30 horas sendo compatíveis com
o compartilhamento do tempo com as atividades escolares do grupo investigado.
Verificou-se ainda que 05 (8,6%) indivíduos extrapolam a carga de 30 horas
semanais e que 7(12,1%) trabalham mais de 40 horas, sendo um fator de exclusão
para permanência na escola e qualidade de aprendizado pela sobrecarga de trabalho.
Dentre as atividades profissionais desempenhadas, observa-se uma grande
diversidade com maior atuação nos setores de prestação de serviços. Em
contraponto, observou-se que 4(6,9%) trabalham como auxiliares de produção no
setor de calçado e fabril, 3(5,2%) como ajudantes de mecânico, 3(5,2%) agricultores,
2(3,4%) carregadores/abastecedores de fruteiras, que envolvem riscos ambientais ou
sobrecarga física no contexto laboral mais elevado.
Ao investigar o turno de trabalho dos jovens trabalhadores, verificou-se, uma
frequência maior de atuação no turno da tarde com 32(55,2%) em função de que a
maioria dos alunos estuda no turno da manhã; seguido 11(19%) trabalham nos turnos
da manhã e tarde, estudando à noite na modalidade Educação de Jovens e Adultos
(EJA)
No que ser refere ao trabalho noturno, apenas 3(5,2) indivíduos trabalham
somente à noite, enquanto 3(5,2%) trabalham à tarde e à noite; 1(1,7%) relata
trabalhar nos três turnos. Nesse caso, o adolescente trabalha mais de 40 horas
realizando trabalhos nos finais de semanas e à noite para integralizar a carga horária
semanal, considerando que 20h são dispendidas na escola.
Cabe destacar que a legislação proíbe o trabalho noturno, perigoso ou
insalubre para menores de 18 anos e qualquer trabalho para menores de 16 anos,
salvo nas condições de aprendiz, a partir de 14 anos. Além desse aspecto da
ilegalidade desse tipo de trabalho, agrega-se o pressuposto de que para o “menor
aprendiz”, é prevista carga horária de até 30 horas semanais com 6 horas diárias,
incluindo o tempo destinado a atividades de educação profissional obrigatórias fora
do local de atuação profissional, conforme Art. 428 da CLT (BRASIL, 1943) e Lei
10.097 de 19 de dezembro de 2000 (BRASIL, 2000).
No que se refere à renda dos jovens proveniente dessa atuação profissional,
na Tabela 3 identificou-se que a maioria representada por 38(65,5%) recebe menos
de 1 salário mínimo; 6(10,3%) entre 1 e 2 salários mínimos e somente um adolescente
declarou receber 2 a 4 salários mínimos.
Um grupo razoável composto por 12(20,7%) jovens não quis informar seu
rendimento e um indivíduo não respondeu a questão, deixando-a em branco. Esse
fato pode levar-nos a crer que existe um receio de expor a precariedade das relações
de trabalho estabelecidas ou preocupação com o sigilo e uso dessas informações,
conforme relatado no processo de coleta e registrado no diário de campo do
pesquisador.
Tabela 3 - Perfil de renda pessoal dos jovens.
n %
Até 1 salário mínimo 38 65,5
Entre 1 e 2 salários mínimos 6 10,3
Entre 2 e 4 salários mínimos 1 1,7
Não quis informar 12 20,7
Não respondeu 1 1,7
Total 58 100,0
Fonte: elaborado pelo pesquisador.

A Legislação assegurada remuneração de 1 salário mínimo, carteira assinada


como aprendiz, acesso ao vale transporte e seguro de saúde, bem como prevê a
permanência na escola. Entretanto, observa-se na descrição das atividades
profissionais desempenhadas que apenas 3 declararam-se “Jovem Aprendiz”,
correspondendo a apenas 5,2% dos jovens trabalhadores. Evidencia-se, assim, a falta
da oferta desse tipo de iniciativa, sendo os jovens obrigados a se deslocarem para
cidades vizinhas.
Destaca-se a diversidade de atividades desenvolvidas com maior concentração
no setor de serviços. Entretanto, verificou-se 4 atuando como auxiliares de produção
e 3 como agricultores. Também chamou a atenção, na leitura dos dados, a declaração
de que 4 jovens afirmaram ser atletas de futebol.
Em busca de suporte legal a essa condição, verifica-se, nessa mesma
legislação da aprendizagem profissional, que está prevista a remuneração de atleta
não profissional em formação a partir dos 14 anos sob a forma de auxílio financeiro
como bolsa aprendizagem ou outra forma pactuada livremente por contrato formal,
sendo-lhe assegurado cobertura por seguro contra acidentes pessoais (BRASIL,
1943, 2010).
Ao considerar o aporte de renda não assalariada da família, decorrente de
programas de redistribuição de renda e assistência social ou de aposentadorias ou
pensões judiciais, percebeu-se, que apenas 33(9,9%) indivíduos da amostra são
beneficiários do programa Bolsa-Família e 3(0,9%) possuem familiares com Benefício
de Prestação Continuada(BPC), conforme dados dos próprios alunos validados com
a base de dados da Secretaria de assistência social.
Em relação à renda familiar declarada pelos jovens verificou-se uma frequência
maior respostas com 75(22,4%) das famílias na faixa salarial entre 2 e 4 salários
mínimos, equivalente à classe B2 ou C do IBGE, seguido por 51(15,2%) jovens
pertencentes à faixa salarial entre 4 e 8 salários mínimos. Destaca-se a elevada
frequência de jovens que desconhecem a renda familiar totalizando 127(37,8%), bem
como 23(6,9%) jovens que não quiseram ou foram orientados pelos pais a não
responderem.
Quanto ao perfil de inserção no mercado de trabalho do pai/responsável que
respondeu ao questionário, constatou-se que 75,9% dos respondentes têm ocupação
profissional. Destes, 60,9% possuem vínculo formal trabalhista, indicando uma
precarização da relação com o trabalho e elevada taxa de desemprego (22,1%) de
uma significativa parcela dos participantes do estudo o que leva a atribuir importante
contribuição da renda dos jovens na renda familiar.
Na Tabela 4, na comparação dos domínios de QVRS por estrato de trabalho,
verificou-se que as dimensões D3 EEMO (p=0,007), D4 APER (p=0,028) e D7 AFIN
(p=0,008) apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os estratos
por situação de trabalho.

Tabela 4 - Comparação das dimensões de QVRS por estrato trabalho


Postos Qui-
Dimensão QVRS Trabalho df p
médios quadrado
Trabalho com carteira de trabalho assinada 168,65
D1 S AF Trabalho sem carteira de trabalho assinada 173,78 0,757 4 0,944
Dimensão1
Já trabalhei, mas não estou trabalhando 167,00
Saúde e Atividade Nunca trabalhei 164,38
Física
Nunca trabalhei, mas estou procurando trabalho 175,52
Trabalho com carteira de trabalho assinada 197,58

D2 SENT Trabalho sem carteira de trabalho assinada 174,47


Dimensão 2 Já trabalhei, mas não estou trabalhando 166,40 4,002 4 0,406
Sentimentos Nunca trabalhei 170,86
Nunca trabalhei, mas estou procurando trabalho 147,99
Trabalho com carteira de trabalho assinada 169,38

D3 EEMO Trabalho sem carteira de trabalho assinada 183,90


Dimensão 3 Já trabalhei, mas não estou trabalhando 159,61 14,202 4 0,007**
Estado Emocional Nunca trabalhei 178,90
Nunca trabalhei, mas estou procurando trabalho 126,36
Trabalho com carteira de trabalho assinada 182,85
D4 APER Trabalho sem carteira de trabalho assinada 173,62
Dimensão 4 Já trabalhei, mas não estou trabalhando 152,67 10,859 4 0,028**
Auto percepção Nunca trabalhei 179,58
Nunca trabalhei, mas estou procurando trabalho 134,54
Trabalho com carteira de trabalho assinada 186,50
D5 ATLIV Trabalho sem carteira de trabalho assinada 154,09
Dimensão 5 Já trabalhei, mas não estou trabalhando 160,88 1,900 4 0,754
Autonomia e
tempo livre Nunca trabalhei 170,19
Nunca trabalhei, mas estou procurando trabalho 173,23
Trabalho com carteira de trabalho assinada 180,12
D6 FAM Trabalho sem carteira de trabalho assinada 178,18
Dimensão 6
Já trabalhei, mas não estou trabalhando 160,73 2,801 4 0,592
Aspectos
Familiares Nunca trabalhei 171,43
Nunca trabalhei, mas estou procurando trabalho 151,50
Trabalho com carteira de trabalho assinada 228,15
D7 AFIN Trabalho sem carteira de trabalho assinada 175,49
Dimensão 7
Já trabalhei, mas não estou trabalhando 151,50 13,894 4 0,008**
Aspectos
financeiros Nunca trabalhei 175,62
Nunca trabalhei, mas estou procurando trabalho 136,03
Trabalho com carteira de trabalho assinada 178,50
D8 APS Trabalho sem carteira de trabalho assinada 156,31
Dimensão 8 Já trabalhei, mas não estou trabalhando 158,38 1,554 4 0,817
Apoio social Nunca trabalhei 170,72
Nunca trabalhei, mas estou procurando trabalho 173,47
Trabalho com carteira de trabalho assinada 143,62
D9 AESC Trabalho sem carteira de trabalho assinada 176,74
Dimensão 9
Já trabalhei, mas não estou trabalhando 141,86 8,069 4 0,089
Aspectos
escolares Nunca trabalhei 178,78
Nunca trabalhei, mas estou procurando trabalho 151,79
(continua)
(continuação)
Trabalho com carteira de trabalho assinada 207,12

D10 BUL Trabalho sem carteira de trabalho assinada 174,12


Dimensão 10 Já trabalhei, mas não estou trabalhando 147,21 4,906 4 0,297
Bullying Nunca trabalhei 170,33
Nunca trabalhei, mas estou procurando trabalho 162,13
Trabalho com carteira de trabalho assinada 189,58
Trabalho sem carteira de trabalho assinada 176,19
ET%
Já trabalhei, mas não estou trabalhando 150,39 6,381 4 0,172
Escore total
Nunca trabalhei 175,47
Nunca trabalhei, mas estou procurando trabalho 145,73
**p≤0,01; *p≤0,05
Fonte: elaborado pelo pesquisador.
Na dimensão D4 APER, indivíduos que trabalham ou que nunca trabalharam
são os estratos com maiores postos médios. Em relação aos indivíduos que
apresentaram postos médios inferiores percebido nas dimensões D3EEMO, D4
APER, estão significativamente associados à situação de nunca ter trabalhado, mas
estar procurando.
Nas dimensões D2 SENT, D6 FAM, D7 AFIN, ET%, essa mesma condição foi
percebida. No entanto, a diferença entre os grupos do estrato não atingiu o nível de
confiança estabelecido de p≤0,05. Quanto à condição de trabalho, outro grupo que
obteve escores inferiores, mas não significativos, foi a condição de trabalho sem
carteira assinada, em situação precária e vulnerável, em especial no que se refere às
dimensões D8 APS e D5 ATLIV.
Entretanto, na D 7AFIN, o grupo que trabalha de maneira formal, com carteira
assinada, foi aquele que reportou postos médios superiores em relação aos demais,
mas inferiores na D9 AESC, permitindo inferir uma associação inversamente
proporcional entre trabalho e percepção de QVRS na dimensão escolar.
Esse achado na dimensão D9 relacionada ao ambiente escolar, reforça a
situação de vulnerabilidade ou exclusão do jovem trabalhador, mais especificamente
de uma situação de inclusão frágil ou periférica, se utilizarmos as reflexões sobre
inclusão e exclusão propostas por José de Souza Martins que:
[...]não existe exclusão: existe contradição, existem vítimas de processos
sociais, políticos e econômicos excludentes; existe o conflito pelo qual a
vítima dos processos excludente proclama seu inconformismo, seu mal estar,
sua revolta, sua esperança, sua força reivindicativa e sua reivindicação
corrosiva. Essas reações porque não se trata estritamente de exclusão, não
se dão fora dos sistemas econômicos e dos sistemas de poder.” (MARTINS,
1997, p.14).

Os resultados em si, desnudam este fenômeno ao sinalizar perdas e ganhos


decorrentes da atribuição de valor ao trabalho e renda dele decorrentes. Contudo
observa-se que exatamente na dimensão escolar que pressupõe a possibilidade de
mobilidade social, promoção da emancipação do sujeito e promoção da autonomia
intelectual e moral é onde mais pesa negativamente a inserção no mercado de
trabalho.
A transição da modernidade sólida para líquida gerou fortes impactos
provenientes das modificações da relação "espaço-tempo mundial" evidenciando
problemas, sociais, tecnológicos, ambientais e na globalização da economia
(BAUMAN, 2001). Além disso, repercutiu diretamente na maneira de ser e estar no
mundo do indivíduo em uma sociedade urbana e tecnológica, assolada pela
fragilização das relações de trabalho em um tecido social fraturado, ordenado pela
lógica do consumo e competitividade, com extrema redução da sociabilidade do
espaço urbano e insatisfação com a vida nos grandes centros urbanos (MARTINS,
2008; SANTOS, 2007, BAUMAN, 2001).
Nesse caldeirão de mudanças, o jovem retratado nesta pesquisa vê-se em um
dilema ao mesmo tempo em que o impele ao mercado de trabalho, o faz perceber as
limitações de sua formação, decorrente de uma história de frustrações nos processos
de escolarização com múltiplas reprovações, conforme aponta Zucchetti (2003).
A partir dessa observação, buscou-se confirmar o apontado previamente,
realizando a análise de associação entre ingresso no mercado de trabalho e histórico
de reprovação (Tabela 5). Constatou-se que foram mais suscetíveis a eventos de
reprovação os indivíduos que estão no mercado de trabalho formal (53,8%) e os que
trabalham sem carteira assinada (42,2%). Entretanto, quem nunca trabalhou constitui
maior distribuição entre os que nunca reprovaram.
Portanto, pode-se inferir que na idade e estágio de escolarização alvo deste
estudo, constituído pelos anos finais do Ensino Fundamental, pode-se observar
prejuízos associados à inserção no mercado de trabalho no processo de
escolarização.
Em relação à associação com o trabalho na adolescência e qualidade de vida
percebida, estudos de Oliveira et al.(2001; 2005; 2010) e Moreira (2012) investiram
no reconhecimento das representações dos jovens dentre outros aspectos os
relacionados ao trabalho, renda e escolarização.
Tabela 5 - Associação entre o perfil de ingresso no mercado de trabalho e histórico de
reprovação.
Histórico de
reprovação Qui-
Perfil de Trabalho Sim Não Total quadrado df p
Trabalho com carteira Contagem 7a 6a 13
de trabalho assinada % Perfil Trabalho 53,8% 46,2% 100,0% 10,520 4 0,033*
% Reprovação 5,8% 2,8% 3,9%
Contagem 19a 26a 45
Trabalho sem carteira
de trabalho assinada
% Perfil Trabalho 42,2% 57,8% 100,0%
% Reprovação 15,7% 12,1% 13,4%
Contagem 20a 22a 42
Já trabalhei, mas não
estou trabalhando
% Perfil Trabalho 47,6% 52,4% 100,0%
% Reprovação 16,5% 10,3% 12,5%
Contagem 51a 128b 179
Nunca trabalhei % Perfil Trabalho 28,5% 71,5% 100,0%
% Reprovação 42,1% 59,8% 53,4%
Nunca trabalhei, mas Contagem 24a 32a 56
estou procurando % Perfil Trabalho 42,9% 57,1% 100,0%
trabalho % Reprovação 19,8% 15,0% 16,7%
Contagem 121 214 335
Total % Perfil Trabalho 36,1% 63,9% 100,0%
% Reprovação 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: elaborado pelo pesquisador.

Fruto das desigualdades sociais existentes no Brasil, foi verificado por Oliveira
et al.(2003) que existe um apelo de que a relação trabalho-escola está estruturada em
uma relação de contradição. Como conclusão, os autores constataram que, apesar
do trabalho representar um risco para a escolarização, é legitimado pelas
representações dos próprios jovens, ora justificando-o pela condição de boa parte da
população dependente do complemento de renda pelos filhos, ora legitimando-o,
como forma de adquirir autonomia e prestígio em uma sociedade de consumo.
A essas considerações, acrescenta-se a compreensão de Zucchetti (2003) ao
entender a juventude como uma metáfora social alinhada aos estudos de Melucci
(1997) e Morin (1973). Conceito que carrega o simbólico das angústias da sociedade
atual, preocupada com a vulnerabilidade das relações de trabalho, com laços sociais
frágeis, com a possibilidade de um novo universalismo centrado nos critérios de justiça
e liberdade, alicerçada no mito vitalista jovem e progressista, no individualismo e na
competição em uma ótica evolucionista (ZUCCHETTI, 2003).
Todos esses elementos orbitam um ideário que justifica o prolongamento da
escolarização como especialização e preparação para o mercado de trabalho, que
paradoxalmente mostra-se cada vez mais inseguro, incerto, baseado em uma
democratização consumista, niveladora, excludente que por saturação na acepção de
Maffesoli (1997) vão embasando a cultura juvenil. Cultura que dá especial importância
à forma como o jovem se relaciona com as experiências e com o tempo; experiências
que têm cada vez mais uma concepção múltipla, descontínua, de caráter cultural e
centradas no tempo presente e vivido.
Essa condição de ser e estar no mundo, ao dissolver as oposições entre
passado e futuro já que vive no presente, traz como resultado a possibilidade de
atenuação dos conflitos geracionais percebidos, no momento em que o jovem é
reconhecido e valorizado como potencial de futuro no presente e assim passa a se
reconhecer. Representa um potencial de movimento e ambivalência entre ordem e
desordem ao longo da história, e mais ainda na modernidade líquida e nas sociedades
complexas (MORIN, 2003; BAUMAN; 1999).
Esses elementos auxiliam na compreensão dos achados quanto à avaliação
positiva nas dimensões D3 EEMO e D4 APER de QVRS, associadas aos jovens que
atuam em sua maioria sem vínculo trabalhista ou que nunca trabalharam, livres para
realizar múltiplas experiências no tempo presente, com suas prioridades. Incluem-se
na sociedade aqueles que trabalham pela possibilidade de consumo muito mais pelo
status que antigamente o trabalho trazia pela maturidade e estabilidade profissional
em termos de segurança, há muito desconstruída nas relações de trabalho (BAUMAN,
2008). Aqueles que não trabalham incluem-se socialmente pela fruição da
pseudoliberdade de realização do exercício da vivência do tempo presente em
múltiplas expressividades e identidades juvenis (PAIS, 2006).
Finalizando essa reflexão, retomamos o resultado verificado de que jovens que
trabalham reportam melhor percepção de QVRS na dimensão D7 aspectos
financeiros, comparados aos demais estratos quanto à inserção no mercado de
trabalho. Esse resultado denota a associação da representação de trabalho dos
jovens trabalhadores deste estudo com a percepção da autonomia para a satisfação
de suas necessidades materiais de consumo e do seu grupo de pertença.
Moreira (2012), pesquisou 316 jovens entre 13 e 19 anos de Salvador quanto
a percepção de QVRS. Uma das categorias de análise foram as representações
quanto ao trabalho e outra quanto à renda. Para os jovens pesquisados, maior renda
representa melhor condição de aquisição de bens para satisfazer suas necessidades
e adotar um estilo mais saudável, gerando melhoria na sua qualidade de vida.
Fica evidente e reforça os achados do presente estudo a ambivalência entre a
independência financeira e a possibilidade de explorar experiências de satisfação
pessoal com o reconhecimento da necessidade de contribuir nas despesas
domésticas, mas associada ao poder e status à condição atribuída (CROMACK,
BURSZTYN, TURRA, 2009). Isso alimenta uma melhora na auto-percepção, estado
emocional e percepção quanto à satisfação com a vida. Contudo, deve-se considerar
que todo esse potencial de realização é acompanhado por aspectos negativos, tais
como a redução de tempo para atividades escolares, sono, convivência com a família,
lazer, acidentes de trabalho (OLIVEIRA et al.,2001; 2005; 2010).
Dando seguimento à análise da percepção de QVRS, não podemos dissociar
o contexto educacional com o seu potencial de promoção da saúde e empoderamento
do jovens para o exercício da cidadania e assunção da condição de sujeito de direitos
(RIFIOTIS, 2007). Para tanto, deve-se pensar no potencial da educação não como
mero discurso que justifique a escola, mas como território de emancipação para
realização do potencial humano, já associado à condição e categoria “juventudes”,
com a inserção no mercado de trabalho e acesso ao mínimo social.
Até o presente momento cresceram as políticas públicas para a juventude como
instrumento de controle, em especial pelo mecanismo de controle social através da
institucionalização da educação (ENNE, 2010), a qual deve ser considerada na
análise das representações atribuídas à escola e à educação pelos jovens.
Considerando-se o impacto dos processos de exclusão escolar adotando o
marcador reprovação e defasagem idade séria, apresentou-se no presente estudo um
indicador singular e exótico, pois os jovens com histórico de reprovação destacaram-
se por apresentar postos médios superiores aos jovens sem reprovação nas
dimensões D4 APER (p=0,014), D5 ATLIV (p=0,010) e D6 FAM (p=0,009). Esse
padrão de diferenciação entre os estratos amostrais foi observado também nas
dimensões D1 SAF, D2 SENT, D8 APS, D10 BUL, ET%; contudo, não se obteve o
nível de significância estatístico previsto para este estudo. Somente nas dimensões
D3 EEMO, D7 AFIN, D9 AESC, os jovens sem histórico de reprovação expressaram
melhor percepção de QVRS.
Esse fato foi confirmado ao cruzar a associação entre histórico de reprovação
e perfil de ingresso no mercado, indicando que indivíduos que nunca trabalharam
foram menos suscetíveis a reprovações (ANGELUCCI et al., 2004). Entretanto,
verificou-se maior suscetibilidade a eventos de reprovação em jovens que estão
trabalhando formalmente, seguido de jovens que trabalham sem vínculo profissional.
Fischer et al. (2003); Oliveira et al. (2005) ao analisar as repercussões do
trabalho na infância e adolescência, sinalizou o impacto negativo à saúde associado
à redução das horas de sono e exposição a riscos ocupacionais na vida escolar dos
jovens, o que também foi observado no presente estudo.
Quanto aos escores mais elevados nas Dimensões D4 APER, D5 ATLIV e D6
FAM em alunos com histórico de reprovação, pode-se sinalizar a necessidade de
explorar adicionalmente variáveis decorrentes das relações da rede de apoio a esses
jovens, considerando o âmbito familiar e o vínculo de amigos tanto dentro da escola
como fora dela. Tal inferência justifica-se ao considerar os resultados de estudos
sobre resiliência e mecanismos de proteção, conforme apontado por Amparo et
al.(2008). As dimensões associadas a esses fatores foram as que apresentaram
melhores escores no grupo com histórico de reprovação.
Um aspecto que corrobora este resultado importante verificado no contexto da
pesquisa foi o elevado suporte familiar declarado tanto pelos alunos como pelos
familiares sinalizado pelo acompanhamento das atividades escolares. Batista,
Mantovani e Nascimento(2015), afirmam quanto a este aspecto ser importante o
envolvimento e diálogo; “na e com” a família, dos processos de ensino e aprendizagem
de forma sistemática e contínua, tanto quantitativamente quanto qualitativamente.
Tal inferência decorre do consenso na área educacional que uma conduta
familiar de apoio social e suporte as atividades escolares, envolvendo demonstração
de interesse, carinho, atenção, diálogo, autonomia, contribuem com o aumento da
percepção da competência social e ajustamento escolar e psicossocial
(MARTURANO, 2006). Estas condutas também mostram-se responsáveis pela
atribuição de valor e importância as atividades escolares favorecendo a elevação do
rendimento escolar (DESSEN; POLONIA, 2007).
Quanto a relação QVRS e histórico de fracasso escolar neste estudo,
percebeu-se que os alunos com histórico de fracasso escolar, apesar dos aspectos
positivos assinalados na comparação com os sem histórico de reprovação sinalizam
escores inferiores na dimensão D3 Estado Emocional, D7 Aspectos financeiros e D9
Ambiente escolar. Este achado merece atenção de estudos futuros no intuito de
verificar qualitativamente como o aluno percebe as situações de fracasso escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cabe destacar ao final deste ensaio que as condições de precariedade


evidenciadas nas relações dos jovens com as dimensões da escola e trabalho foram
evidenciadas no indicador qualidade de vida.
Fica o alerta e desafio a um aprofundamento dos estudos abordando as
juventudes na promoção de ações integradas e afirmativas que garantam uma
trajetória de transição escola-trabalho com dignidade, potencial de emancipação e
desenvolvimento do potencial humano numa agenda de fomento do trabalho decente
e humanizado para/com as juventudes.
Por fim, sugere-se a ampliação de estudos que se proponham a desenvolver e
efetivar a implantação de uma política que alie a oportunidade de qualificação e
acesso ao trabalho decente articulada com a política de educação mensurando seus
impactos na percepção de QVRS, em conjunto e participação das juventudes.

REFERENCIAS

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Zahar, 2008.
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de uma categoria-chave da modernidade. Comunicação Mídia e Consumo, v. 7, n. 20, p. 13-35, 2010.
KERBER, L. E.. Qualidade de vida relacionada à saúde de adolescentes de 14 a 16 anos da rede
municipal de ensino de uma cidade do Vale do Sinos, RS. 2015. Dissertação - Feevale, Novo
Hamburgo-RS, 2015
MARTINS, J. S. A sociedade vista do abismo: novos estudos sobre exclusão, pobreza e classes
sociais. Petrópolis, Rio de janeiro: Vozes, 2008.
MELUCCI, A. Juventude, tempo e movimentos sociais. Revista Brasileira de Educação, v. 5, n. 6, p.
5-14, 1997.
MOREIRA, R. M. Qualidade de vida e saúde de adolescentes: um estudo de representações sociais.
2012. 130f. Dissertação - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Jequié, Bahia, 2012.
MORIN, E. Meus Demônios. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
NOVAES, R.. Juventude e sociedade: jogos de espelhos, sentimentos, percepções e demandas por
direitos e políticas públicas.. Comunidade Virtual de Antropologia. 2013, Edição 38.
OLIVEIRA, D. D.; FISCHER, F. M.; TEIXEIRA, M. C. T. V.; SÁ, C. P.; GOMES, A. M. T.
Representações sociais do trabalho: uma análise comparativa entre jovens trabalhadores e não
trabalhadores. Ciênc Saúde Coletiva, v. 15, p. 763-73, 2010.
PAIS, J.M. Buscas de si: expressividades e identidades juvenis. In: ALMEIDA, M. I. M; EUGÊNIO, F.
Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 2006.
RIFIOTIS, T. Direitos humanos: sujeito de direitos e direitos dos sujeitos. In: SILVEIRA, Rosa Maria
Godoy(org). Educação em direitos humanos: fundamentos teórico-metodológicos. João Pessoa:
Editora Universitária, 2007.
SANTOS, B.S. A gramática do tempo. Para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez, 2006.
THE KIDSCREEN GROUP EUROPE. The KIDSCREEN Questionnaires.Quality of life
questionnaires for children and adolescents. Handbook. Lengerich: Pabst Science Publishers, 2006.
ZUCCHETTI, Dinorá Tereza. Jovens: a educação, o cuidado e o trabalho como éticas de ser e estar
no mundo. Novo Hamburgo, RS: Feevale, 2003.

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