Você está na página 1de 13

Universidade Católica de Moçambique

F a c u ld a d e d e E c o n o m ia e G e s t ã o -B e ir a
3 º A n o D iu rn o e N o c tu rn o
Microeconomia II-1º Semestre
A n o L e c tiv o 2 0 0 5 / 0 6
Texto de Apoio para Aula 7

Tópico 5.2: Monopólio

No tópico anterior abordamos a situação das empresas que estavam a actuar num
mercado competitivo, ou seja, existia um número suficiente de firmas que ofereciam
produtos homogéneos o que lhes conferia o título de tomadoras do preço praticado pelo
mercado. Neste, daremos continuidade as estruturas de mercado. Falaremos do
monopolista que é visto como o caso contrário dos mercados competitivos. Aqui existe
apenas um único produtor e sem produtos substitutos próximos a abastecer o mercado
onde existem muitos compradores. A este único produtor é conferido o titulo de fixador
do preço.

5.2.1. O Monopólio

O monopolista é o único produtor para um determinado produto para qual não há


substitutos próximos e ele abastece todo mercado com a sua produção. Ele pode elevar o
preço sem se preocupar com os seu concorrentes, que poderiam satisfazer a nova
demanda baixando os seus preços. A sua demanda coincide com a demanda de mercado,
pois ele controla as quantidades de produto que são colocadas no mercado.

Universidade Católica de Moçambique-FEG 1


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy
Para que exista um monopolista 4 factores devem ser considerados:

1. Controlo exclusivo de um factor fundamental; Esta acontece quando o produtor


encontra um produto que é exclusivo na natureza. Por exemplo: descoberta de
uma nascente de água, um mina de ouro ou de diamantes, etc.

2. Economia de Escala; Quando a curva de custo médio de longo prazo é


decrescente.

3. Patentes; o governo protege ao inventor de um certo produto. Esta confere ao


inventor o direito de beneficiar de numa descoberta por um período determinado.

4. Licenças ou franchises do governo; Aqui o governo permite que a actividade seja


exercida por uma empresa com licença governamental

5.2.2. Condição de Maximização do Lucro do Monopólio

Para perceber como é que o monopolista maximiza o seu lucro, começaremos por derivar
a curva de receita marginal tendo a procura do monopolista.

Para derivar a curva de receita marginal devemos calcar a curva de demanda do


monopolista. Para funções lineares, a receita marginal começa no mesmo ponto (preço)
da procura no eixo vertical e se encontra abaixo da curva da demanda para cada
quantidade positiva. Esta tem o dobro da inclinação da curva de procura invertida.

Exemplo: Supomos que não existem fontes alternativas de energia e que a única empresa
fornecedora de energia na cidade da Beira é a Electricidade de Moçambique (EDM). A
função de procura para o monopolista é dada por: QdEDM=24-P.

Universidade Católica de Moçambique-FEG 2


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy
Para derivar a curva de receita marginal do monopolista, podemos escrever a relação
entre a receita marginal e o preço.

A equação 5.1 mostra que se o monopolista quiser aumentar a sua produção em ∆Q, o
monopolista (EDM), terá que baixar o seu preço ∆P/∆Q (inclinação da sua demanda)
por cada unidade de energia produzida.

Figura 5.1: Demanda e receita marginal do Monopolista


Eqs:5.2 Eqs: 5.3

p, $
d
24Q EDM =24-P ∂RT
RMg =
Perf.Elastica
∂Q
P= 24-QdEDM
RMg EDM = 24 − 2Q
Sabendo que RT=PQ
Elastic, ε < –1
RTEDM= (24-QdEDM) QdEDM
RT∆EDM=24Q- Q2∆ p = –1
RM = – 2

∆Q = 1 ∆Q = 1
ε = –1
12

Inelastic, – 1 < ε < 0

Demand ( p = 24 – Q)
Perf.
Inelástic

0 12 24
RMg=24-2Q Q

∆P Eqs:5.1
RMg = P + Q
∆Q

P=24-Q Receita Marginal


RT=(24-Q)Q ∂RT/∂Q=RMg=24-2Q
RT=24Q-Q2

Universidade Católica de Moçambique-FEG 3


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy
A partir da equação da demanda pode-se ver que a inclinação é dada por -1. Enquanto
que a inclinação da receita marginal, ∆RMg/∆Q=-2. Portanto, fica comprovado que a
curva de receita marginal tem o dobro da inclinação da demanda.

A receita marginal foi derivada a partir da curva de demanda. Então, poderemos


relacionar a receita marginal à elasticidade preço da procura.

 1 ∆Q P Eq:5.4
RMg = P1 + ; onde ε =
 ε ∆P Q

Através da equação 5.4, poderemos ilustrar que a receita marginal aproxima-se ao preço a
medida que nos deslocamos para cima da mesma demanda, ou seja, para a zona elástica.
Quando a demanda intersecta o eixo vertical , ela é perfeitamente elástica (Q=0). Neste
ponto a RMg=P. Movendo em direcção a zona da elasticidade unitária, ε=-1, a RMg=0:
E finalmente, na região inelástica da demanda do monopolista a receita marginal torna-se
negativa. As equações a seguir ilustram as situações acima descritas.

 1
RMg = P1 + 
 ε

 1 
ε = −∞; RMg = P1 + ; RMg = P
 −∞

 1 
ε = −1; RMg = P1 + ; RMg = 0
 −1
Eqs: 5.5
 1
− 1 < ε < 0; RMg = P1 + ; RMg < 0
 ε

Universidade Católica de Moçambique-FEG 4


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy
A partir das três situações descritas anteriormente poderemos ver que a melhor região
para o monopolista fixar o seu preço é a zona elástica da sua demanda. Ele tentará ajustar
o seu preço de modo que encontre uma quantidade que maximize o seu lucro. A regra
básica para o monopolista maximizar o seu lucro é dada pela expressão:

Eq:5.6
RMg=CMg

5.2.2.1. A Produção que Maximiza o Lucro do Monopolista

1. Abordagem Gráfica

Continuando com a mesma situação da EDM, iremos de seguida mostrar através da


representação gráfica, como ela fixa a sua produção que maximiza o seu lucro.

A figura 5.2 mostra no painel (a) as curvas da demanda, da receita marginal, de custo
marginal, de custo médio e de custo variável médio. Enquanto que no painel (b) estão
representadas as funções de receita total e de lucro do monopolista. A curva de lucro
atinge o seu valor máximo quando o monopolista produz 6 unidades. Olhando para o
painel (a) , o monopolista maximiza o seu lucro no ponto e, onde Q=6 e P=$18.
Nota que é neste ponto onde se verifica a condição de maximização do lucro:
RMg=CMg.

Nas funções de receita total e de lucro, as quantidades que maximizam a receita total
são maiores do que as quantidades que maximizam o lucro do monopolista. Para a
receita total temos Q=12 enquanto que para o lucro o Q=6.

Universidade Católica de Moçambique-FEG 5


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy
Figura 5.2: Receita e Lucro

(a) Demanda e Receita Marginal do Monopolista


p, $ CMg

24 CMe

e CVMe
18

π = 60
12

8
6 Demanda
MR

0 6 12 24
Q , Unidades
(b) Lucro e Receita Total
$

144
Receita Total

108

60 Lucro, π

0 6 12 24
Q Unidades

Universidade Católica de Moçambique-FEG 6


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy
2. Abordagem Matemática

Assumindo que as curvas de demanda e de custo total são dadas por:

Q=24-P e C(Q)=Q2+12.

Através das funções dadas podemos ilustrar os pontos encontrados na figura 5.2 e
desenhar as respectivas curvas. Depois de derivar a receita marginal deste
monopolista, igualamos ao seu custo marginal e encontramos as quantidades que
maximizam o lucro. A quantidade encontrada é Q=6. A estas quantidades a
RMg=CMg=$12, o lucro atinge o seu valor máximo de πmax=$60 e a receita total
ainda está crescendo, ou seja, ela ainda não atingiu o seu valor máximo. Para estas
quantidades o preço praticado será de $18 (substituir na função inversa da demanda
do monopolista).

Eqs: 5.7 Eqs: 5.8 Eqs: 5.9

π Q = RT − CT RTQ = 24Q − Q 2
RTQ = 24Q − Q 2

π Q = (24Q − Q 2 ) − (Q 2 + 12) RT(6) = 24(6) − 36


∂RTQ
RMg = = 24 − 2Q π Q = −2Q + 24Q − 12
2
RT(6)antes do maximo = $108
∂Q
π(6) = −2(6) 2 + 24(6) − 12
RMg = CMg π(6)max = $60
24 − 2Q = 2Q
Qmax = 6 e Pmax = $18

Universidade Católica de Moçambique-FEG 7


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy
5.2.2.2. O Poder de Mercado

O monopolista tem o poder de mercado, ou seja, a habilidade de fixar um preço acima do


seu custo marginal e conseguir ganhar um lucro positivo (P>CMg). A relação existente
entre o poder de mercado e da elasticidade da demanda para as quantidades que
maximizam o lucro do monopolista pode ser escrito da seguinte maneira.

 1
RMg = P 1 +  = CMg
 ε
P 1
= Eqs: 5.10
CMg  1
1+ 
ε

A 2ª equação 5.10 mostra que o rácio entre o preço e o custo marginal na quantidade que
maximiza o lucro depende somente da elasticidade preço da demanda. Aplicando as
equações 5.10 podemos verificar como o preço varia com o custo marginal. Para as
quantidades que maximizam o lucro do monopolista Q=6 a elasticidade preço da
demanda é de ε=-3. Para esta elasticidade o rácio entre o preço e o custo marginal é dado
por: P/CMg=1,5, ou seja, o P=1,5CMg. Olhando para a figura 5.2 pode-se concluir que
ao preço de $18 é 1,5 vezes o valor do custo marginal $12 (18=1,5*12).

Podemos também a partir das equações 5.10 derivar a margem do lucro do monopolista.
Reorganizando a condição de maximização do lucro do monopolista teremos o markup
do monopolista:

P - CMg 1
Eq: 5.11
=
P ε

O rácio da diferença do preço e do custo marginal sobre o seu preço dá-nos a fracção do
preço que maximiza o lucro (markup). Se a elasticidade for de ε=-4, a margem no ponto
de maximização da empresa monopolista será de ¼, pelo que o preço que maximiza o
lucro é 4 vezes mais o custo marginal. Quando a elasticidade é perfeitamente elástica

Universidade Católica de Moçambique-FEG 8


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy
(infinita), a margem de maximização do lucro é zero, o que implica que neste ponto o
monopolista comportar-se-á como a firma do mercado perfeitamente concorrencial
(P=CMg).

5.2.3. Custos Sociais Derivados do Poder do Monopolista

O bem estar das sociedades (welfare-W) é dado pela soma do excedente do consumidor
(consumer surplus-CS) e do excedente do produtor (producer surplus-PS). O bem estar
da sociedade causado pelo monopolista é menor quando comparado aos mercados
perfeitamente concorrenciais. A figura 5.3 ilustra esta situação.

Assumindo a mesma situação que temos vindo a comentar, o monopólio da EDM. Sabe-
se que as suas funções de preço, custo total são as seguintes:

P=24-Q e CT= Q2+12

Vamos supor que partimos de uma situação em que o monopolista actua como uma
empresa perfeitamente concorrencial para uma situação de monopólio. Para a empresa
concorrencial a condição de maximização do lucro é dado por: P=CMg, então,
P=24-Q=2Q=CMg. Ele venderá os seus serviços a quantidade de Qc=8 ao preço de $16
(veja figura). Nesta situação o excedente do consumidor é dado pelas áreas A+B+C e o
excedente do consumidor é dado pelas áreas D+E.

Universidade Católica de Moçambique-FEG 9


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy
Figura 5.3: Perda bruta causado pelo monopólio

p, $
24
CMg

em
A= $18 C =$2
pm = 18
B= $12 ec
p c = 16

RM =CMg12 D =$60 E= $4

Demanda
RMg

0 Qm = 6 Qc= 8 12 24
Q,

Se ela agir como o monopolista, ela fixara o seu preço onde RMg =CMg (P>CMg). Aqui
o preço ira aumentar para $18 enquanto que as quantidades irão diminuir para 6. O
excedente do consumidor será a área A e o produtor ganhará a parte B, e a parte C será a
perda bruta (deadweight loss).

Praticando o preço do monopolista $18 ao invés do preço das firmas dos mercados
perfeitamente concorrências $16, o monopolista ganha mais $2 por cada unidade
vendida, ganhando assim a área B. O monopolista perde a área E pois ele agora vende a
quantidades inferiores ao mercado competitivo. Para resumir a situação, o quadro 5.1 a
seguir compara o mercado concorrencial do monopolista.
.
Quadro 5.1: Perda Bruta (Deadweight loss) do monopólio
Concorrência Perfeita Monopólio Variação
Excedente do Consumidor (CS) A+B+C A -B-C=∆CS
Excedente do Produtor (PS) D+E B+D B-E= ∆PS
Bem Estar ou Welfare (W) A+B+C+D+E A+B+D -C-E=∆W=DWL

O welfare é dado pela soma do excedentes do consumidor e do produtor. Para o caso de


concorrência perfeita o excedente do consumidor é dado pelas áreas A., B e C, enquanto

Universidade Católica de Moçambique-FEG 10


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy
que o excedente para o produtor é dado pelas áreas D e E. Somando os excedentes do
consumidor e do produtor encontramos o welfare que é dado pelo somatório das áreas A,
B, C, D e E.

Se for um monopolista a situação do bem estar é afectado, pois o excedente do


consumidor é reduzido para A enquanto que o excedente do produtor aumenta. Nota que
uma parte do excedente do consumidor vai para o monopolista, área D. O monopolista
cria a perda no mercado ou o deadweight loss (DWL) que é dado pelas áreas - C- D.

5.3. Intervenção do Governo Para Reduzir o Poder do Monopolista

Alguns governos agem por forma a reduzir o poder de mercado que os monopolistas
possuem. O governo pode incentivar a concorrência, permitindo a entrada de novos
competidores no mercado, podem destruir o monopólio por via da extinção do monopólio
e criar pequenas empresas. Estas são algumas das medidas que o governo pode
implementar para reduzir o poder de mercado do monopolista. O governo limita o poder
de mercado, intervindo directamente nesse mercado, ou seja, regulando por via de
fixação de preços praticados pelo monopolista (tetos de preco-ceiling price).

A situação óptima de regulamentação dá-se quando o monopolista consegue eliminar a


perda bruta causada pelo monopolista. Nesta situação o monopolista é obrigado a cobrar
o mesmo preço que o de concorrência perfeita, ou seja, P=CMg=RMg. A figura 5.4
ilustra a situação.

Universidade Católica de Moçambique-FEG 11


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy
Figura 5.4: Intervenção do governo

p, $ CMg
24
Demanda Mercado

A e Demanda Regulada
18 m
B C e
16 o
E
D

RMgr
RMg

0 6 8 12 24
Q

O quadro 5.2 mostra duas situações opostas. A segunda coluna mostra as áreas do
excedentes do consumidor e do produtor causadas pelo monopolista antes da intervenção
do governo. Se o monopólio actua livremente ele normalmente cria uma perda ou seja o
deadweight loss. As áreas que representam essas perdas são as áreas C e E. Aqui o
monopolista arranca parte do excedente do consumidor (como vimos no quadro 5.1).
Após a regulamentação, a situação fica eficiente onde não se regista nenhuma perda. O
excedente do consumidor aumenta para A, B e C

Quadro 5.2: Regulamentação óptima de preço


Regulamentação
Sem Regulamentação Variação
Óptima
Excedente do Consumidor (CS) A A+B+C B+C=∆CS
Excedente do Produtor (PS) B+D D+E E-B= ∆PS
Bem Estar ou Welfare (W) A+B+D A+D+C+D+E C+E=∆W
Perdas Brutas (DWL) -C-E 0 C+E= ∆DWL

Universidade Católica de Moçambique-FEG 12


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy
Nota que a nova receita marginal do monopolista alterou-se depois da intervenção do
governo. Antes a receita marginal era dada pela RMg. Ela intersectava o eixo vertical no
preço $24 e para quantidades 12. Depois do governo reduzir o poder do mercado
eficientemente, a nova receita marginal resultante é dada pela linha horizontal com o
preço de $16, caindo descontinuamente até a antiga receita marginal.

5.4. Imposto ou Subsidio

Lembre-se de como nos inseríamos o imposto ou subsidio no modelo de procura e oferta?


Claro que sim. Aqui recorremos ao mesmo raciocínio o que difere são as curvas que irão
ser afectadas. Antes no tínhamos que identificar se o imposto ou subsidio recaia sobre a
oferta ou procura. Agora somente afectaremos a curva de custo marginal.

5.5. Literatura Usada:

 Perloff, Jeffrey. Microeconomics. 3rdEdition. Pearson. 2004

 Pindyck, Robert. Microeconomia. .Macron Books.Brasil.1994

 Robert, Frank. Microeconomia e Comportamento. McGraw-Hill. Edição


Portuguesa.1994

Universidade Católica de Moçambique-FEG 13


MicroEconomia II. 3º Ano. 1º Semestre. 2005
O Docente: dr. Ibraimo Hassane Mussagy

Você também pode gostar