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Aula 11 – O Dever e a Vontade

O Dever
O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os
outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos
mais elevados. Aqui se fala apenas do dever moral e não do dever que as profissões impõem.

Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as
atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à
repressão suas derrotas. O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio. O aguilhão da
consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se
impotente diante dos sofismas da paixão. Fielmente observado, o dever do coração eleva o homem;
como determiná-lo, porém, com exatidão? Onde começa ele? Onde termina?

“O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a
tranqüilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais que ninguém transponha com relação
a vós”.

Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem
todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em sã consciência o mal que pode fazer. Com
relação ao bem, infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério. A igualdade em
face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela
experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.

O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as
angústias da luta; é austero e brando; pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, conserva-se
inflexível diante das suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as
criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. E há um tempo juiz e escravo em causa própria.

O dever oferece múltiplas formas: há o dever para conosco, que consiste em nos respeitarmos, em nos
governarmos com sabedoria, em não querermos, em não realizarmos senão o que for útil, digno e belo;
há o dever profissional, que exige o cumprimento consciencioso das obrigações de nossos encargos; há
o dever social, que nos convida a amar os homens, a trabalhar por eles, a servir fielmente ao nosso
país e à Humanidade; há o dever para com Deus... O dever não tem limites. Sempre podemos
melhorar.

A prática constante do dever leva-nos ao aperfeiçoamento. Para apressá-lo, convém que estudemos
primeiramente a nós mesmos, com atenção, e submetamos os nossos atos a um exame escrupuloso,
porque ninguém pode remediar o mal sem antes o conhecer.

“Evitemos as conversas frívolas, os assuntos ociosos, que conduzem à maledicência. Digamos sempre a
verdade, quaisquer possam ser os resultados. Retemperemos-nos freqüentemente no estudo e no
recolhimento, porque assim a alma encontra novas forças e novas luzes. Possamos dizer, ao fim de
cada dia: Fiz hoje obra útil, alcancei alguma vantagem sobre mim mesmo, assisti, consolei
desgraçados, esclareci meus irmãos, trabalhei por torná-los melhores; tenho cumprido o meu
dever”!

Léon Denis - Depois da Morte


O Dever de Servir
Em matéria de beneficência, todos estão na obrigação de doar algo de nós à vida que nos cerca.

E isso não sucede tão somente a nós, as criaturas que atingimos a razão, mas igualmente a todos os
seres.

Minerais fornecem agentes químicos.

Vegetais distribuem utilidades múltiplas.

No reino animal, milhões de vidas trabalham e se sacrificam a benefício do homem: camelos que o
transportam, ovelhas que o vestem, cães que o auxiliam e bovinos que o alimentam.

Todos nos achamos convocados a entregar a nossa cooperação pelo bem geral.

A Vontade
Segundo um mestre francês: “A vontade é o fundo sólido da alma”.

Muitas pessoas recuam diante das primeiras dificuldades. Adiam planos, fogem de mudanças,
sobrepõem justificativas e sentadas à beira do caminho olham o tempo escoar, enquanto escolhem
desculpas e culpados pelo infortúnio de suas opções.

Às vezes, é verdade, o tamanho do desafio nos chama atenção. Alan Kardec nos primeiros contatos que
teve com o espírito de Verdade, que o orientou durante a codificação espírita, perguntou: “Pela
natureza da minha inteligência, terei aptidão para penetrar, tanto quanto ao homem for permitido fazê-
lo, as grandes verdades acerca do nosso destino futuro? A resposta é firme: Sim, tens a aptidão
necessária, mas o resultado dependerá da tua perseverança no trabalho.”.

Victor Frankl, psiquiatra judeu sobrevivente de um campo de concentração, criou a logoterapia após a
vivência aos maus tratos nazistas. Enquanto esteve preso, resolveu libertar-se de seus algozes. Apenas
com sua força de vontade, alheou-se do sofrimento e não permitiu que lhe controlassem a mente.

“Eles podem controlar o local, o ambiente e até meu corpo, mas não minha autoconsciência e vontade”.

Surgia à pró-atividade como hoje a conhecemos. Ser pró-ativo é mais do que ter iniciativa.

É não focar o problema, pois não é ele o que realmente importa e sim nossa atitude diante dele.

Segundo ensinam os especialistas, existem as pessoas reativas e as pró-ativas.

As reativas apenas reagem a estímulos externos. Caso o tempo esteja bom, o carro funcionando, a
esposa carinhosa e a saúde excelente, tudo anda, tudo segue seu curso. Mas se o dia é chuvoso, se o
carro apresentou defeito ou se a esposa não acordou bem, já é o suficiente para nada mais prestar e a
insatisfação tomar-lhe por completo. Tudo fica parado.

As pessoas pró-ativas trabalham com valores e não com fatores externos. Não é um imprevisto, um
transtorno, uma contrariedade que a impedirá de produzir, de ajudar, de se melhorar. Ela interage com
as circunstâncias externas e não é arrastado por elas, como acontece com as reativas.

Não se consegue mudanças sem lutas e sem mudar.

Mudar não é perder a própria identidade.

É livrar-se do lixo, dos pesos desnecessários, das inutilidades, dos perigosos apegos e excessos
injustificáveis, do que te traz confusão, do que te arrasta ao caos, do que te faz adoecer e te deixa
infeliz. Isso não compõe a identidade de ninguém. Pois não fomos criados para perdermos, para sermos
menos, para habitarmos o fundo do poço. Viemos da Luz e ela é nosso destino.
Todos têm que atravessar tempestades, mas ninguém monta acampamento no caminho dos furacões.

É preciso, antes de tudo, não confundirmos efeito com causa.

Não se prenda, portanto, aos problemas. Retrocedas e encontres lá atrás as causas distantes. Se
procurares direito, quase sempre encontrarás a ti mesmo.

Também não espere se sentir bem para agir. Muitas pessoas esperam a segunda-feira, o ano novo, o
aumento de salário, o momento propício, para se sentirem bem e então agem.

Como bem diz o neurolinguista Lair Ribeiro: “O passarinho não canta porque está feliz. Ele está feliz
porque canta. A ação deve anteceder o sentimento. Movimente o universo e os efeitos virão”.

Aproveite cada crise, pois, segundo a tradição chinesa: Crise é oportunidade de crescimento.

Mas para que essas mudanças avancem é preciso conhecer a vontade como potência do espírito.

Fénelon assinala: “Nada temos de nosso que a nossa vontade; tudo mais não é nosso. A doença leva
a saúde e a vida; as riquezas nos são arrancadas pela violência; os talentos do espírito dependem da
disposição do corpo. A única coisa que é verdadeiramente nossa é a vontade.”

E Epíteto complementa com exatidão: “Não existem ladrões de vontade.”.

Força de Vontade
Muitas vezes um pequeno empurrãozinho é suficiente para que nossa força de vontade seja
impulsionada e, com isso, algumas situações de nossa vida podem ser melhoradas. A vontade é a mola
propulsora da ação, do trabalho, do esforço próprio, que leva o Espírito a desenvolver seu potencial
interior.

A vontade é uma das maiores potência do espírito e que, se tivermos firmeza, podemos promover
nossa melhora, vencendo as más inclinações e o desânimo.

A Vontade Dirigida
Um psiquiatra recebeu em seu consultório um paciente com depressão aguda. Segundo a família, ele
estava naquele estado há mais de 5 anos e já havia tentado suicídio várias vezes. Agora estava ali,
diante do médico, em busca de um remédio que o curasse de forma instantânea.

O médico, acostumado a todo tipo de paciente, olhou-o no rosto e falou com firmeza: “Tenho duas
notícias para lhe dar”.

“Uma delas é que ainda não existe um remédio para a sua doença.”

O paciente contorceu-se na cadeira, e perguntou um tanto irritado: “e a outra notícia?”.

“Bem, a outra notícia é que a sua cura depende da sua vontade”.

“Como assim, Doutor? Eu não tenho vontade para nada. Não tenho vontade de trabalhar, nem de
comer, nem de falar com pessoas. A vida não tem mais sentido para mim.”

O psiquiatra, que o observava com atenção, lhe falou com voz muito firme: “você está cheio de
vontade.”.

Aí o paciente não se conteve, deu um murro sobre a mesa e retrucou nervoso: “o senhor está
brincando comigo? Eu já lhe disse que não tenho vontade, Doutor”.
Sem se alterar, o médico voltou a afirmar: “O senhor tem muita vontade, sim. Tem vontade de não
trabalhar, de não comer, de dormir, de não falar com ninguém, e vontade de se isolar do mundo.”

“Mas a vida não tem sentido para mim”. Tornou a dizer o paciente.

O médico conhecedor das causas que levam a pessoa a esse estado de ânimo, disse-lhe: “você está é
com raiva do mundo e por isso deseja matar-se, para punir aqueles que o infelicitaram e que não
consegue perdoar.” Nesse momento o homem quase teve um surto.

Levantou-se e gritou, enlouquecido: “Eu nunca vou perdoá-los! Meu patrão me despediu, acabou com a
minha vida, meus irmãos me roubaram à herança e...” E desfilou uma lista de nomes de pessoas que
odiava com toda força de seu ser. Então o psiquiatra voltou a dizer: “somente quando você perdoar
conseguirá se livrar desse ácido que o corrói e o está matando, dia após dia.”.

E aquele homem enorme, falou entre dentes: “eu nunca vou perdoá-los”. O médico aproveitou a
oportunidade para reafirmar ao seu paciente que ele estava cheio de vontade, mas dirigida para a
própria infelicidade.

Vale a pena meditar sobre a direção que estamos dando a nossa vontade. Até quando dizemos que não
temos vontade, estamos usando nossa vontade para não sentir vontade.

Se dissermos que não sentimos vontade de viver, podemos afirmar que, na verdade, estamos com
vontade de não viver. Estamos com vontade de fugir do mundo, com vontade de dormir, de ficar num
quarto fechado, com vontade de morrer...

Mas a vontade está ativa. Somente está sendo dirigida para onde nossa razão desejar.

“O entendimento acha o que há, a vontade acha o que quer. Conforme a vontade quer, assim acha. Se
a vontade quer favorecer, achará merecimento em Barrabás. Se a vontade quer condenar achará culpa
em Jesus Cristo.”

Pe. Antônio Vieira.

Artur Schopenhauer (1788-1860), filósofo alemão conhecido por sua filosofia pessimista, estabeleceu
que a vontade fosse à origem do mal e da dor.

Entre outras coisas, o filósofo diz que "O ser verdadeiro é à vontade. Em nível individual, ela se revela
pelo próprio corpo, que não é senão sua própria objetivação. A vontade é irracional. O sujeito quer não
por que tenha razão para querer, mas cria razões porque quer. A vontade é a essência de todas as
coisas".

Schopenhauer, Voltaire, Nietzsche, Kant, Hegel e tantos outros grandes pensadores apesar de terem
contribuído enormemente no que tange à liberdade de expressão, aos direitos humanos, aos ideais
iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, elaboraram filosofias limitadas, onde por não
disporem de mais amplas certezas sobre a imortalidade da alma e não cogitarem sobre a reencarnação,
não puderam penetrar mais profundamente nos mistérios da natureza humana e nos complexos
problemas da vida que só o Espiritismo pode responder.

Concluímos assim, à luz da doutrina espírita; que a vontade não é a causadora dos males humanos,
que esta sim precisa é ser disciplinada, educada, e que a moral evangélica, os preceitos exemplificados
por Jesus, são o mais roteiro seguro para educarmos nossos desejos e emoções, lembrando-nos da
regra áurea ditada por Ele:

"(...) tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles(...)"

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