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Igor Fracalossi
Pontificia Universidad Católica de Valparaíso
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All content following this page was uploaded by Igor Fracalossi on 21 October 2017.
Para passar de um espaço discursivo a outro, para avançar mediante o razoamento, um texto se
converte num conduto necessário, embora inadequado. Ao escrever sobre arquitetura e
percepção nos vemos inevitavelmente cercados pela pergunta: somos capazes de entrever a
palavra na forma construída? Se se pretende que a arquitetura trascenda sua condição física, sua
função como mero refúgio, então seu significado como espaço interior deve ocupar um espaço
equivalente dentro da linguagem. A linguagem escrita deveria, pois, assumir as silenciosas
intensidades da arquitetura.
Posto que as palavras são abstratas, não se concretam no espaço nem na experiência sensorial
material e direta, esta tentativa por entender o significado arquitetônico mediante a linguagem
escrita corre o risco de desaparecer. Se poderia propor um espaço impossível, inacessível através
da linguagem; não obstante, as palavras não podem substituir a autêntica experiência física e
sensorial. A tentativa de transmitir uma consciência fortalecida é, em palavras de Rainer Maria
Rilke, “uma questão de passar a ser tão plenamente conscientes de nossa existência como seja
possível”.
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10/6/2017 Questões de Percepção: Fenomenologia da arquitetura / Steven Holl | ArchDaily Brasil
A arquitetura tem o poder de inspirar e transformar nossa existência do dia-a-dia. O ato cotidiano
de agarrar a maçaneta de uma porta e abrí-la a um campo banhado de luz pode se converter num
ato profundo se o experimentamos com uma consciência sensibilizada. Ver e sentir estas
qualidades físicas significa tornar-se o sujeito dos sentidos.
Para avançar a estas experiências ocultas devemos atravessar o véu onipresente dos meios de
comunicação em massa. Devemos fortalecer nossas defesas para resistir ante as distrações
calculadas que podem minguar tanto a psique como o espírito. Devemos prestar atenção em tudo
aquilo que está tangivelmente presente. Se os meios de comunicação nos convertem em
receptores passivos de mensagens vácuos, devemos nos posicionar firmemente como ativistas da
consciência. Só ao reafirmar enérgica e apaixonadamente nossa existência poderemos aceder a
aquilo que Stéphane Mallarmé denominava a “força do negativo [...] que elimina a realidade das
coisas e nos libera de seu peso”.
Mais plenamente que o resto das outras formas artísticas, a arquitetura capta a imediatez de
nossas percepções sensoriais. A passagem do tempo, da luz, da sombra e da transparência; os
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10/6/2017 Questões de Percepção: Fenomenologia da arquitetura / Steven Holl | ArchDaily Brasil
Ao unificar o primeiro plano, o plano médio e as vistas longínquas, a arquitetura ata a perspectiva
ao detalhe e o material ao espaço. Uma experiência cinemática de uma catedral de pedra pode
levar o observador através e por cima dela, ou inclusive fazê-lo retroceder fotograficamente no
tempo, mas só o edifício real permite que o olho deambule livremente por entre os detalhes
engenhosos; só a arquitetura oferece as sensações táteis da textura da pedra e dos bancos polidos
de madeira, a experiência da luz cambiante com o movimento, o cheiro e os sons que ecoam no
espaço e as relações corporais de escala e proporção. Todas estas sensações se combinam numa
experiência complexa que passa a estar articulada e a ser específica, embora sem palavras. O
edifício fala dos fenômenos perceptivos através do silêncio.
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10/6/2017 Questões de Percepção: Fenomenologia da arquitetura / Steven Holl | ArchDaily Brasil
Segundo Franz Brentano, os fenômenos físicos captam nossa “percepção exterior”, enquanto que
os fenômenos mentais concernem a nossa “percepção interior”. Os fenômenos mentais têm uma
existência real e intencional. Desde o ponto de vista empírico, um edifício poderia nos satisfazer
como uma entidade puramente físico-espacial, mas desde o ponto de vista intelectual e espiritual
necessitamos entender as motivações que encerra. Esta dualidade de intenção e de fenômenos é
similar à interação que existe entre o objetivo e o subjetivo ou, dito de um modo mais simples,
entre o pensamento e o sentimento. O desafio da arquitetura consiste em estimular tanto a
percepção interior como a exterior, em realçar a experiência fenomênica enquanto,
simultaneamente, se expressa o significado, e desenvolver esta dualidade em resposta às
particularidades do lugar e da circunstância.
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Cita: Igor Fracalossi. "Questões de Percepção: Fenomenologia da arquitetura / Steven Holl" 05 Jan 2012. ArchDaily
Brasil. Acessado 6 Out 2017. <http://www.archdaily.com.br/18907/questoes-de-percepcao-fenomenologia-da-
arquitetura-steven-holl>
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