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ILUMINAÇÃO NATURAL

UMA BREVE HISTÓRIA


DEUS SOL
CULTO AO DEUS SOL
LUIS XIV – REI
SOL
 “A luz não é tanto algo que revela, como é ela
mesma a revelação”.
James Turrell
A luz permeou diversos discursos no
transcorrer da história da humanidade.
 Alegoria da caverna Platão
 Muita coisa mudou na vida dos homens
contemporâneos, mas o vetor fundamental no
processo de conhecimento do mundo físico, tanto antes
como agora, é a luz. Neste universo confinado de
sombras a luz dá forma e sentido às entidades
materiais e as conecta entre si. A luz constrói e media
a relação entre o espaço e a dimensão psíquica do
usuário, torna perceptível o movimento, ordena e
define todos os fenômenos reais. As trevas, o olhar
escravizado, dirigido para as sombras, pode dar ao
homem uma visão distorcida do mundo.
 A impor-se não somente aos olhos, mas à consciência,
está sempre e somente a luz que corre, penetra,
reflete-se pelas coisas, clareia, cria transparências e
espessuras, funde-se na água, dilata-se no céu.
 Esta reflexão parte do pressuposto de que
arquitetura é também “(...) um fenômeno de
emoção”, e não apenas um objeto
utilitário. Portanto, arquitetura é “mais” que
construção. E este “mais” está ligado a um
complexo processo de concepção, no qual o uso da
luz natural como diretriz de projeto requer uma
postura crítica que valorize igualmente uma
relação íntima entre aspectos poéticos e aspectos
técnicos; tendo como referência o contexto
histórico-cultural e as condições ambientais do
lugar, as necessidades programáticas, as técnicas
construtivas disponíveis e, principalmente, os
usuários.
Afinal as pessoas exigem uma somatória de
aspectos ligados ao espírito e ao intelecto para se
sentirem vivas, e experimentarem bem estar. Por
outro lado, as criações lumínicas mais eloqüentes na
história da humanidade não estavam interessadas
apenas em dramaticidade teatral ou apenas em
acuidade visual.

Os melhores exemplos de arquitetura mostram o


quanto seus idealizadores esforçaram-se em atender
aos aspectos poéticos e técnicos simultaneamente.
 Mas, “uma coisa é clarear, outra coisa é
iluminar”. Iluminar é “mais” do que fornecer uma
luminosidade adequada para uma determinada
função; é expressar valores conotativos ao
projeto, modificando, controlando e mediando a
luz; possibilitando com isso a qualificação do
espaço envolvente no qual se vive. Luz sendo
configurada pelo seu valor expressivo, não só do
ponto de vista plástico-visual, mas também
perceptivo. Porque sem “(...) luz, a vida não seria
possível. Sem percepção, não haveria
sensibilidade nem inteligência. A luz faz para a
vida aquilo que a percepção faz para a
inteligência”.(6)
 Algumas das relações percebidas através da
experiência de luz são universais, imagens
arquetípicas que a humanidade compartilha;
certos significados são culturais, absorvidos
através de rituais ou das atitudes perante a vida;
outros são pessoais, associados aos eventos
específicos vividos. Assim como se pode escolher
uma roupa para usar ou não usar, por causa de
certas associações, de modo específico, padrões de
luz lembram um lugar, permitem fazer
correlações com outros lugares, possibilitam
vivências acumulativas multifacetadas.
A partir dessas considerações, pretende-se demonstrar a
importância da luz natural no processo conceptivo de
arquitetura. De evidenciar o seu uso como material
arquitetônico construtivo, capaz de ser uma das geratrizes das
decisões. Mostrar que a arquitetura para os mestres seguiu
centrada não no útil apenas, nem nas puras e simples soluções
práticas às exigências de um espaço coberto, mas respondeu a
uma necessidade mais profunda do espírito: construir
um habitat qualificado, no qual a luz também se manifesta
num sistema de relações que transcende ao mero dado
material das construções.
Portanto, a luz pode ser interpretada como matéria de compor;
como elemento facilitador para a percepção dos fenômenos e,
ao mesmo tempo, dissimulador na clareza fideísta promovida
antigamente pela linearidade mística, hoje substituída pela
multiplicidade das reações poéticas das produções
contemporâneas.
A LUZ NATURAL E O PROJETO DE
ARQUITETURA
 A luz é a “consciência da realidade”. O mundo existe
enquanto é sentido, tocado e, sobretudo, visto. Mas, a
luminosidade, as cores e a aparência das coisas é
somente o efeito produzido sobre a retina por uma
particular forma de energia conhecida com o nome de
radiação eletromagnética. Aquilo que realmente
existe é a energia eletromagnética, enquanto a luz
pode ser definida como uma invenção do sistema
constituído pelo olho-cérebro que captura a energia
radiante emitida em um determinado intervalo de
comprimento de onda para transformá-la em sensação
visível.

 .
Nesse quadro a visão é, sem dúvida, o sentido mais importante, pois através
dos olhos são recebidas mais de 80% de todas as informações. Pode-se dizer
que o mecanismo da visão é uma espécie de decodificador das informações
transmitidas pela luz. Esse sentido é o grande responsável pelo
relacionamento das pessoas com o mundo. O ato de ver envolve uma
resposta à luz. Todos os elementos são revelados através da luz, de sua
presença ou ausência relativa, reforçada por um contraste tonal. As
variações de luz ou tons são os meios pelos quais se distingui oticamente a
complexidade da informação visual do ambiente.

Mas o processo de ver depende também da mente que interpreta os


estímulos luminosos, porque o ser humano olha o tempo todo, mas
realmente vê somente aquilo que sua mente está interessada a assimilar.
Sua experiência de vida, desejos e aversões influenciam no ato de visualizar
o que o rodeia. Disso decorre então ser capaz de projetar ambientes
visualmente confortáveis dependendo do modo pelos quais estuda esses
problemas.
 Portanto, a luz natural é condicionante fundamental no
processo inventivo do projeto arquitetônico, sendo quase
impossível desconsiderá-la. Usá-la como diretriz no
momento conceptivo, definir relações formais, espaciais e
perceptivas tendo-a como geratriz dos elementos
construídos resultará certamente em qualificação do
ambiente concebido. O sentido final transcenderá aos
aspectos apenas visuais, ajudando a modificar os hábitos de
perceber as coisas isoladamente no espaço, para passar a
identificá-las como parte de um “evento” que absorve o
mundo tecnológico, mas também prioriza o mundo
perceptivo em que outros sentidos participam. Resgatando-
se, assim, as relações pessoais no vivenciar da arquitetura
e do seu contexto físico-cultural.

 No mundo perceptivo, o indivíduo interage com vários


elementos que o envolve: o espaço e seus componentes
imateriais - a luz, os odores, os sons. Isso se evidencia, por
exemplo, nas diferentes emoções que as pessoas sentem
quando vivenciam uma catedral vazia ou cheia de fiéis e
entoando cantos de louvor, sob a fumaça de incensos a
modificar os efeitos dos raios de luz que transpassam suas
peles vítreas coloridas.
Muitos valores que hoje lhes são caros continuam
ancorados em arquétipos de seus ancestrais, que por
sua vez demonstravam a enorme capacidade de se
adaptar ao seu meio ambiente e estabelecer muitos
elementos arquitetônicos relacionados diretamente com
o tema da luz natural. Pode-se mesmo conjeturar que
muitas das antigas necessidades funcionais e
espirituais ainda permanecem vivas e determinantes
na concretização dos espaços de vivência dos seres
humanos. As pessoas ainda necessitam transcender ao
mero dado material dos objetos construídos para
projetar sobre as formas e espaços edificados valores
estéticos, simbólicos e emocionais.
O estudo da luz passa a ser então qualquer coisa “mais” que mera
investigação sobre iluminação, porque luz e lugar se pertencem. “Luz,
acontecimentos e lugares podem somente ser compreendidos em sua
mútua relação. A fenomenologia dos acontecimentos e lugares é
também a fenomenologia da luz. Em geral, eles todos se relacionam à
fenomenologia da Terra e do Céu. O Céu é a origem da luz, e a Terra
sua manifestação”. (9) Por essa razão a matéria luminosa torna-se a
base unificante do mundo, que sempre é o mesmo e sempre é
diferente. Ela permite elaborar uma poesia da vida cotidiana, uma
poesia de vivência que busca o estabelecimento de lugares e não de
espaços amorfos.
Disso decorre o entendimento de que toda arquitetura é construção,
embora nem toda construção seja arquitetura. E que toda construção
gera relações formais, espaciais e lumínicas. Mas nem toda
construção, nem toda arquitetura são geradas tendo a luz como
diretriz de projeto.
 . Todos, de uma forma ou de outra, a consideram no
processo de projeto; mas nem todos conseguem
priorizá-la como condicionante geradora de elementos
formais e espaciais que agreguem “valor” ao objeto
construído e transcendam ao simples acaso de jogos
de luz e sombra. Os mestres a consideravam elemento
prioritário - funcional, estético, poético e simbólico;
sem o qual não poderia existir arquitetura.(10)
 Sabe-se, portanto, que não existe qualquer objeto
arquitetônico desvinculado da luz natural, pois todo
volume projeta sombra sob a luz. Mas a questão que
se quer enfatizar é diversa. Defende-se, aqui, a tese
da valorização arquitetônica através da opção
consciente do uso da luz natural como diretriz de
projeto, mesmo que outros parâmetros sejam também
parte das premissas que definam a sua concepção
 Nesse sentido, o processo de concepção em
arquitetura depende fundamentalmente da opção
por parâmetros que nortearão o projeto. Um
desses parâmetros pode ser a luz natural.
ILUMINAÇÃO NATURAL NA
HISTÓRIA DA ARQUITETURA

EGITO ANTIGO2780
A.C A 2280 A.C.

O GRANDE TEMPLO DE
AMMON,EM KARNAK
(153O A.C) RECURSOS
ENGENHOSOS DE
CAPTAÇÃO DE ACESSO
DA LUZ NATURAL E DOS
RAIOS SOLARES
ILUMINAÇÃO NATURAL NA
HISTÓRIA DA ARQUITETURA

ROMA
ANTIGA

PANTEÃO
120 A 124 DC

ILUMINAÇÃ
O ZENITAL
ILUMINAÇÃO NATURAL NA
HISTÓRIA DA ARQUITETURA

ARQUITETURA GÓTICA
SÉCULOS XII A XIV

EM ALGUMAS PARTES DO MUNDO


“AS COLUNAS DE UMA IGREJA
GÓTICA,
A MULTIPLICIDADE DE LINHAS
VRTICAIS, GUIAM
NOSSOS OLHOS PARA CIMA”
L.C. Kalff

CATEDRAL DE SÃO VITO


ARQUITETTO PETER PARLER
PRAGA, 1340
 O uso da luz no espaço reflete o espírito de um
período, ficando isso muito claro nos edifícios góticos.
A iluminação medieval teve a capacidade de criar um
ambiente de solenidade suprema, que fazia parte
importante do culto. Não se projetava a iluminação de
seus espaços para atender às necessidades humanas,
nem sequer no uso doméstico. A casa medieval era
fria, mal iluminada e pobremente aquecida para os
parâmetros atuais. Mas é importante verificar que em
outra dimensão não mensurável, pode ser buscado o
conceito de conforto ambiental medieval: na
configuração do espaço. Conforto é a atmosfera de que
se rodeia o homem e na qual vive. Como no reino de
Deus, o conforto medieval é intangível, é o próprio
espaço criado do qual a luz faz parte fundamental.
ILUMINAÇÃO NATURAL NA
HISTÓRIA DA ARQUITETURA

La Sainte Chapelle,
Paris

Projetada em 1241, iniciada


em 1246 e consagrada em
Abril de 1248.
ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA

Santuário DOM
BOSCO – BRASÍLIA
Arqu.to Claudio
Neves
Uma arquitetura de
LUZ
ILUMINAÇÃO NATURAL NA
HISTÓRIA DA ARQUITETURA

Capela de Peregrinação de
ARQUITETURAMODER Notre-Dame-du-Haut,
NA Le Corbusier -Ronchamp,
Décadas de 20 a 60 França, 1950
a obra dos engenheiros do século XIX é
arquitetura para todos os efeitos e pode ser
considerada como emblemática da época: as
pontes de ferro, as grandes coberturas de
ferro e cristal, os grandes edifícios com
esqueletos metálicos
 Detalhe fachada Pátio de Nunnery Uxmal,
México

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