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2018v30i1p194-200
COM U N ICA ÇÕES
Resumo
O modelo assistencial contemporâneo tem como foco principal o paciente em toda sua complexidade.
A Estratégia de Saúde da Família (ESF) faz parte da Rede de Saúde e preza pela visão holística no trabalho
coletivo e, assim, a Política Nacional de Humanização (PNH) torna-se uma ferramenta de estruturação do
trabalho na Saúde Pública. Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo identificar as principais
mudanças que a PNH influenciou na ESF e na Rede de Saúde, a fim de identificar as contribuições
prestadas. Foi realizada Revisão Bibliográfica de Literatura, por meio da análise de artigos da Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS) e documentos oficiais do Portal do Ministério da Saúde. Para a busca na BVS
foram utilizados os descritores “Estratégia de Saúde da Família”, “Política Nacional de Humanização” e
“Atenção Básica”. Foram selecionados 10 artigos pertinentes ao tema do estudo. Os resultados mostraram
que sendo a PNH uma nova forma de se pensar em saúde, oferece ferramentas capazes de auxiliar nas
ações e na tomada de decisão nos serviços de saúde. Concluiu-se que a ESF e a Rede de Saúde passam
por uma continua transformação e que a PNH contribuiu com ferramentas de trabalho, qualificando a
Abstract
The contemporary model of care focuses primarily on the patient in all its complexity. The Family
Health Strategy (ESF) is part of the Health network and price for the holistic view also on collective
work and the National Humanization Policy (PNH) is a restructuring working tool in Public Health. In
this sense, the present work aims to identify major changes influenced by PNH in the ESF in the health
network to identify the contributions made. A Literature Bibliographic Review was performed in the
Virtual Health Library (BVS), by analyzing articles, and official documents in the Ministry of Health
Portal. To search the BVS were used the key words “Family Health Strategy,” “National Humanization
Policy” and “Primary Care”. There were selected 10 articles relevant to the topic of study. The results
showed that the PNH being a new way of thinking about health offers tools to assist in the actions and
decision-making in health services. It was concluded that the ESF goes through a continuous transformation
and that PNH contributed with working tools, by qualifying the attention given to the user, as well as
providing ethical, political and shared reflection among managers, workers and users.
Keywords: Family Health Strategy; National Humanization Policy; Primary Care.
Resumen
El modelo asistencial contemporáneo tiene como foco principal al paciente en toda su complejidad.
La Estrategia de Salud de la Familia (ESF) forma parte de la Red de Salud y se distingue por la visión
holística en el trabajo colectivo y, así, la Política Nacional de Humanización (PNH) se vuelve una
herramienta de estructuración del trabajo en la Salud Pública. En este sentido el presente trabajo tiene
como objetivo identificar los principales cambios que la PNH influenció en la ESF y en la Red de Salud,
a fin de identificar las contribuciones prestadas. Se realizó Revisión Bibliográfica de Literatura, a través
del análisis de artículos de la Biblioteca Virtual en Salud (BVS) y documentos oficiales del Portal del
Ministerio de Salud. Para la búsqueda en la BVS se utilizaron los descriptores “Estrategia de Salud de
la Familia”, “Política Nacional de Humanización “y” Atención Básica”. Se seleccionaron 10 artículos
pertinentes al tema del estudio. Los resultados mostraron que siendo la PNH una nueva forma de pensar
en salud, ofrece herramientas capaces de auxiliar en las acciones y en la toma de decisión en los servicios
de salud. Se concluyó que la ESF pasa por una continua transformación y que la PNH contribuyó con
herramientas de trabajo, calificando la atención prestada al usuario, así como proporcionando reflexión
ética, política y compartida entre gestores, trabajadores y usuarios.
Palabras claves: Estrategia de Salud de la Familia; Política Nacional de Humanización;
Atención Básica.
atendimento público de uma rede descentralizada de ampliar a condição de direitos e de cidadania das
e regionalizada em um sistema único. pessoas. Também apresenta como fator importante
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi fundado a transdisciplinaridade, propõe uma atuação que
em 1990 com a publicação da Lei 80803 e deu nova leve à “ampliação da garantia de direitos e o apri-
forma ao modelo assistencial no país. Poucos meses moramento da vida em sociedade”. Assim ocorre
depois foi lançada a Lei 81424 que imprimiu no uma valorização dos atores, o trabalho em equipe, a
SUS uma de suas principais características, que é chamada “comunicação lateral” e a democratização
o controle social. dos processos decisórios com co-responsabilização
Em 1994, após muitas relutâncias e até mesmo de gestores, trabalhadores e usuários. No campo da
entrave governamental ao processo de implantação atenção, têm-se como diretrizes centrais o acesso e
do SUS para o fortalecimento da Atenção Básica, a integralidade da assistência, permeadas pela ga-
foi implantada a Estratégia Saúde da Família rantia de vínculo entre os serviços (trabalhadores)
(ESF) como proposta de mudança do modelo he- e a população. A política avança para a “clínica
gemônico. A ESF foi sistematizada e orientada por ampliada”, aumentando a autonomia do usuário
equipes de saúde da família, envolvendo médicos, do serviço de saúde, da família e da comunidade,
enfermeiros, técnicos de enfermagem, odontó- integrando a equipe de trabalhadores da saúde de
logos e Agentes Comunitários de Saúde (ACS), diferentes áreas na busca do cuidado e tratamento
buscando discutir e ampliar o tradicional modelo de acordo com a história de cada caso e, assim, ser
sanitário médico-curativista para a compreensão de capaz de melhor lidar com as necessidades dos su-
uma abordagem coletiva, multi e interprofissional, jeitos. Para propiciar essas mudanças, almejam-se
centrada na família e na comunidade, inserida em também transformações no campo da formação,
seu contexto real e concreto5. com estratégias de educação permanente e de
Desta forma, a ESF valoriza a participação aumento da capacidade dos trabalhadores para
da população, sugerindo que esta seja capaz de analisar e intervir em seus processos de trabalho7.
promover uma nova relação entre os sujeitos, Como as necessidades em saúde são extrema-
onde tanto o profissional quanto o usuário podem mente dinâmicas, social e historicamente construí-
e devem ser produtores e construtores de um viver das, a ESF obviamente também sofre alterações
mais saudável. Este envolvimento, no entanto, só com a implantação de novas políticas públicas
é possível mediante um processo humanizado e de saúde. Os conceitos da PNH ainda são pouco
integrado, no sentido de transversalidade entre os discutidos pelas equipes de Saúde da Família e,
diferentes saberes, no qual cada um contribui com possivelmente, pouco utilizados nas práticas dos
o seu conhecimento peculiar e juntos possibilitam profissionais.
uma interação efetiva pela valorização das diferen- Desta forma, este estudo tem como objetivo
tes experiências e expectativas de vida6. identificar as principais mudanças ocorridas nas
Para otimizar o trabalho na atenção básica de práticas cotidianas da ESF e nas políticas de saúde
saúde são necessários novos modelos assistenciais com a implantação da PNH, a fim de verificar as
na criação de dispositivos de escuta dos usuários, potencialidades e as fragilidades para promover
decodificação e trabalho. Sabe-se que hoje é possí- mudanças na atenção prestada aos usuários.
vel falar em integralidade, humanização e qualida-
de da atenção, segundo os valores de compromisso Método
com a produção de atos de cuidar de indivíduos,
coletivos, grupos sociais, meio, coisas e lugares. Trata-se de uma Revisão Bibliográfica da Li-
Embora muitas formas de modelagem permaneçam teratura, realizada na Biblioteca Virtual de Saúde
intactas, parece estar emergindo um novo modo (BVS), e Pesquisa Documental, realizada no Portal
de tematização das estratégias de atenção e gestão do Ministério da Saúde.
no SUS. A busca na BVS foi realizada utilizando os
Nesta perspectiva, foi criada a Política Nacio- descritores “Política Nacional de Humanização”,
nal de Humanização (PNH), em 2003, pelo Minis- “Estratégia Saúde da Família” e “Atenção Primária
tério da Saúde. A PNH coincide com os próprios em Saúde”, selecionando-se artigos publicados a
princípios do SUS, enfatizando a necessidade de partir de 2003, ou seja, após a implantação da PNH.
assegurar atenção integral à população e estratégias A investigação no Portal do Ministério foi realizada
Foi possível verificar que a PNH traz consigo Para a implantação da PNH como uma ferra-
uma transversalidade nas ações de saúde como uma menta de otimização do serviço de saúde é neces-
estratégia de valorização da experimentação do sário, durante a atuação profissional, considerar o
SUS8. Observa-se que para a mensuração de dados ser humano individual e coletivo como ator social12,
relativos ao cuidado em saúde, deve-se valorizar a dando a ele uma responsabilidade de ser co-autor
linguagem subjetiva do paciente levantando dados da própria saúde, aumentando o vínculo com a
qualitativos9.
equipe e facilitando a possibilidade de interagir
Para que o nó critico a respeito da leitura da
proativamente na realidade familiar14,15.
linguagem subjetiva e a valorização da mesma
Foi possível verificar também que a ESF é
seja de fato aplicada, os artigos apontam como
solução a educação em saúde da população, tempo uma forma de mudança no modelo assistencial de
de acolhimento respeitado, fomentar a construção saúde16, porém, ainda existem alguns entraves para
de autonomia e protagonismo dos sujeitos, forta- que ela seja uma realidade em todos os municípios.
lecer o controle social com caráter participativo, A ESF precisa ser adotada como modelo prin-
democratizar as relações de trabalho e valorizar cipal de Política de Saúde, com maior investimento
os profissionais de saúde10,11,12,13,14. e valorização profissional 10,11,14,16, estruturação
democratizando as relações de trabalho e valori- 4. Brasil. Ministério da Saúde. Lei 8142 de 28 de dezembro de
1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão
zando os profissionais de saúde com o intuito de do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências
fortalecer a Atenção Básica e a Rede de Saúde. intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e
da outras providências. Diário Oficial da União. Brasília-DF:
1990.
Conclusão
5. Paim JS. Vigilância da saúde: dos modelos assistenciais para a
promoção da saúde. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores.
Conclui-se que a inclusão das ações e fer- Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de
Janeiro: Fiocruz; 2003. p.161-174.
ramentas da PNH contribuiu para a mudança na
6. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Programa
característica da equipe e da gestão da ESF, mas Saúde da Família. Brasília-DF: Ministério da Saúde; 2001.
ainda há desafios. A implantação das ferramentas 7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
como a Clínica Ampliada, Acolhimento, Grupos de Política Nacional de Humanização da Saúde. Documento Base.
Trabalho entre outras viabilizam melhorias tanto 4ª ed. Brasília-DF: Ministério da Saúde; 2007.
8. Pasche DF, Passos E, Hennington EA. Cinco anos da política
no sentido individualizado quanto no coletivo, no
nacional de humanização: trajetória de uma política pública.
entanto, a equipe de Saúde da Família deve passar Ciênc Saúde Coletiva. 2011; 16(11): 4541-4548.
por capacitações para aprenderem a utilizar os 9. Bosi MLM, Uchimura KY. Avaliação da qualidade ou
conceitos e ferramentas mencionados, bem como avaliação qualitativa do cuidado em saúde? Rev Saúde Pública.
2007; 41(1): 150-153.
ações de educação permanente em saúde que per-
10. Santos-Filho BS. Perspectivas da avaliação na Política
mitam uma reflexão ética, política e compartilhada Nacional de Humanização em Saúde: aspectos conceituais e
entre gestores, trabalhadores e usuários, a fim de metodológicos. Ciênc Saúde Coletiva. 2007; 12(4): 999-1010.
atenderem a proposta de humanização dentro do 11. Oliveira BRG, Collet N, Viera CS. A humanização na
Sistema Público, adequando-se assim ao contexto assistência à saúde. Rev Latino-Am. Enfermagem. 2006;
14(2)277-84.
contemporâneo de se pensar em saúde.
12. Benevides R, Passos E. A humanização como dimensão
Este estudo contemplou apenas os trabalhos pública das políticas de saúde. Ciênc Saúde Coletiva. 2005;
completos, publicados em português, e disponíveis 10(3): 561-571.
nas bases de dados indexadas. Sugere a realização 13. Backes DS, Backes MS, Erdmann AL, Büscher A. O papel
profissional do enfermeiro no Sistema Único de Saúde: da saúde
de novos estudos que contemplem publicações comunitária à estratégia de saúde da família. Ciênc Saúde
internacionais, teses e acervos bibliográficos dis- Coletiva. 2012; 17(1): 223-230.
poníveis na literatura. 14. Backes DS, Backes MTS, Erdmann ALE, Büscher A,
Marchioril MT, Koerich MS. Significado da atuação da
equipe da Estratégia de Saúde da Família em uma comunidade
Referências socialmente vulnerável. Ciênc Saúde Coletiva. 2012; 17(5):
1151-1157.
1. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. 15. Moimaz ZAS, Fadel CB, Yarid SD, Diniz DG. Saúde
Relatório Final da 8ª Conferência Nacional de Saúde. Brasília- da Família: o desafio de uma atenção coletiva. Ciênc Saúde
DF: 1986. Coletiva. 2011; 16(sup.1): 965-972.
2. Brasil. Constituição (1988). Constituição da República 16. Shimizu HE, Reis LS. As representações sociais dos
trabalhadores sobre o Programa Saúde da Família. Ciênc Saúde
Federativa do Brasil. Brasília-DF: 1988.
Coletiva. 2011; 16(8): 3461-3468.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Lei 8080 de 19 de setembro de
17. Gomes KO, Cotta RMM, Araújo RMA, Cherchiglia ML,
1990. Dispõe sobre as condições para a proteção e recuperação Martins TCP. Atenção Primária à Saúde a “menina dos olhos”
da saúde, a organização e o financiamento dos serviços do SUS: sobre as representações sociais dos protagonistas do
correspondentes e da outras providências. Diário Oficial da Sistema Único de Saúde. Ciênc Saúde Coletiva. 2011; 16(sup.1):
União. Brasília-DF: 1990. 881-892.