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13/02/2023, 00:53 Como trabalho com grupo de reflexão

   

Revista da SPAGESP Serviços Personalizados


versão impressa ISSN 1677-2970
artigo
Rev. SPAGESP v.1 n.1 Ribeirão Preto  2000
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PARTE III - COMO TRABALHAMOS PSICANALITICAMENTE COM
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Beatriz Silverio Fernandes2 Mais

Núcleo de Estudos em Saúde Mental e Psicanálise das Configurações


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RESUMO

A autora, para descrever como trabalha com Grupo de Reflexão, traça um pequeno histórico, desde o surgimento
dos grupos, passando pelo conceito, até chegar à prática.

A partir da década de 70, com berço na Argentina, é um grupo com finalidade operativa e não terapêutica, tem
uma tarefa ampla, sendo empregado basicamente em instituições de ensino.

A autora pensa que sua tarefa como coordenadora é facilitar através de expressão verbal, propiciar a fala de todos,
ser continente de queixas e conflitos institucionais, poder contê-los, entendê-los e esclarecer os conteúdos ali
deixados, procurando inseri-los na realidade institucional.

ABSTRACT

The author makes a brief historical since the appearance of the groups, going from concept to practice, to describe
how she works with Reflection Groups.

Started in Argentina in the seventies, it is a group with operative aim and not therapeutic. It has a broad task and
it is employed in teaching institutions.

As a coordinator, the author’s task is to facilitate, through oral expression, everybody’s speaking opportunities, to
be receptive and clarify their contents, trying to insert them in the institutional reality.

RESUMEN

La autora, para describir como trabaja con un grupo de reflexión, traza una pequeña historia, desde el surgimiento
de los grupos, pasando por el concepto hasta a la práctica.

A partir de la década del 70, con origen en Argentina, es un grupo con finalidad operativa y no terapéutica, tiene
una amplia tarea, siendo empleado en instituciones de enseñanza.
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La autora piensa que su tarea como coordinadora es facilitar a través de la expresión verbal, propiciar el habla de
todos, ser continente de quejas y conflictos institucionales, para contenerlos, entenderlos y aclarar los contenidos
allí dejados, tratando de insertarlos en la realidad institucional.

Para falar como eu trabalho com Grupo de Reflexão é necessário, antes de qualquer coisa, falar um pouco do que
eu considero um Grupo de Reflexão.

Essa atividade grupal nasceu da contribuição de Pichon-Rivière de Grupo Operativo nos anos 60, se direcionando
para aplicações no ensino, por parte de M. Bernard, Ulhoa, Ferschtut  e Dellarosa  na década de 70. O Grupo
Operativo é a aplicação grupal do conceito de que, a fim de otimizar a resolução de problemas é necessário estudar
não somente os problemas específicos que devem ser solucionados, mas também a forma em que uma
determinada entidade aborda sua resolução - Fernandes e Fernandes (1999).

O Grupo de Reflexão é um grupo com finalidade operativa e não terapêutica, um subgrupo dentro dos Grupos
Operativos. A instituição, na construção fantasmática, será a responsável pelo saber, pela qualidade do profissional,
e o coordenador será o representante da instituição.

O Grupo de Reflexão tem uma tarefa bem ampla. Sua meta prioritária é o conhecimento que se pode adquirir na
vivência grupal: conhecer mais os temas estudados, os vínculos com os colegas, professores, a pertença à
instituição formadora, etc.

O fato de não ter um tema pré-fixado deixa um espaço pouco definido, o que facilita projeções e a construção do
tema pelos próprios participantes. O  coordenador deve cuidar para  não permitir que o trabalho com o grupo se
transfira para uma situação que está muito próxima - funcionar como grupo terapêutico.

É basicamente empregado em instituições formadoras de grupoterapeutas e coordenadores de grupo. No caso, a


SPAGESP. Nessa instituição tem-se como um de seus objetivos fazer com que os alunos vivam o curso e não
apenas passem por ele. O Grupo de Reflexão se apresenta como o espaço catalisador, faz pensar em mudanças,
faz rever o processo de identificação.

A minha maneira de trabalhar com esta modalidade grupal é facilitar a manifestação através da expressão verbal,
dando vazão aos conteúdos encapsulados, muitas vezes percebidos através de conversas paralelas, desenhos e
rabiscos realizados na hora do grupo. Chamam a minha atenção os temas repetitivos, os participantes mais
ansiosos, etc.

Tento acolher fases mais intensas de regressão, onde a perseguição e a idealização predominam. Procuro propiciar
um clima favorável para que os participantes possam  perceber emoções e expressá-las,  sem serem abafadas pelo
medo de magoar o colega, ou a instituição tomar conhecimento do que pensa o aluno. Deixar que o grupo perca a
ilusão de totalidade e que as pessoas possam se ver individualmente.

É importante que o coordenador fique atento para não se mostrar uma figura digna de temor. No meu ponto de
vista creio que devemos ser muito mais continentes, receptáculos de angústias e facilitadores de compreensão, do
que uma figura de autoridade, embora não descarte que também carregue o rótulo de autoridade como
coordenador. Sempre que ocorre a mudança de um coordenador devemos estar atentos para as projeções
agressivas que invariavelmente ocorrerão. Perdemos uma boa mamãe, e encontramos uma madrasta, bruxa, a
priori.

Mesmo que um participante não fale e não goste do grupo costumo sempre convidá-lo, pois a singular presença
pode ser uma participação. É importante saber o que cada um pensa, o que está sentindo, e se está se
angustiando frente ao que é o objetivo: a instituição - como entidade, o curso, professores, colegas, funcionários. É
bom para o aluno individualmente, e melhor ainda, para o aluno inserido na instituição.

São estes os aspectos que mais aparecem nas reuniões de início, e para mim,  necessitam ser esclarecidas,
ventiladas, para poderem ser mais bem toleradas. Na fase final da sua formação encontraremos angústias
pertinentes ao que fazer, como se apresentar, como trabalhar, o que fazer enquanto um terapeuta de grupo.
Exprimindo o que sentem será revelado com certeza o que anda se passando na instituição.

Se minha atenção conseguir se manter nestas questões todos crescerão, no sentido de estarem mais fiéis à
realidade institucional e grupal, e com certeza mais firmes, mais tolerantes, mais fortes para poderem lidar com as
crises institucionais, rivalidades, confrontos, desprezo e laissez-faire de seus componentes.

Tento lidar com o grupo de maneira clara, não podendo subtrair-me da nuvem de ansiedade que circunda muitas
vezes o grupo, pois embora não tenha finalidade terapêutica, está próximo desse nível, e os conteúdos são
similares, porém prefiro não fazer interpretações, mas pode-se, sem dúvida, alcançar alguma forma de
compreensão.

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A dificuldade que caracteriza o grupo de reflexão em minha opinião, é o contato múltiplo, a impossibilidade de cada
um ver o outro separadamente, o aspecto fusional grupal, que em primeira instância, gera uma angústia muito
primitiva. Comunicar verdadeiramente fica difícil. No princípio há queixas, idealizações e sempre a morte presente
ou seu equivalente.

Há necessidade no entanto de um crescimento, de maior tolerância à frustração, do tomar a responsabilidade para


si. De adequar uma realidade interna para a realidade externa.

No Grupo de Reflexão ocorre sempre uma tentativa de crescimento, uma possibilidade interna de elaboração,
portanto um processo fundamental para a maturidade. É um lugar em que, através da compreensão psicanalítica,
investiga-se e tenta se modificar os vínculos que o indivíduo traz inconscientes. Esses vínculos inconscientes
podem ser  gerados a partir dos fenômenos de regressão, pertinentes a toda inserção grupal.

Nem sempre estamos preparados para trabalhar em grupo, algumas vezes apenas trabalhamos com vários
indivíduos. Por vezes nos deparamos com lideranças negativas, e neste sentido não podemos perder os objetivos
do grupo de reflexão, o ponto de partida.

Precisamos como coordenadores auxiliar o grupo a entender seu funcionamento; poder gerar sentimentos de
frustração e estimular sentimentos atávicos. Propiciar o exame de nosso próprio comportamento à medida que ele
ocorre.

Fico sempre com uma pergunta dentro de mim. E ao coordenador, o que cabe a ele fazer? Penso que sua tarefa é
mesmo de auxiliar, fazer intervenções, esclarecimentos e procurar salientar fatos que estejam ocorrendo e
possibilitar ao grupo aprofundar o conhecimento de si mesmo enquanto membros do grupo. É um papel que às
vezes também é exercido por algum membro quando este faz uma intervenção.

Como dizem Jasiner e Voyer (1994): é viável supor que, quando em nossa vida social há uma fachada de
legalidade que encobre a ilegalidade, isto reverbera nos vínculos grupais? Como a lei é propriedade de uns e não
um valor de todos? Como se chega a uma situação de avassalamento do outro? Construindo uma história oficial?

Creio que são questionamentos com que freqüentemente nos deparamos e temos de enfrentá-los. Comprar o
rótulo de defesa de algo, da legalidade? Não. O primeiro passo seria ordenar e organizar. Mas seria isto um salto
muito grande ao objetivo do grupo, uma invasão à tarefa do coordenador. Haverá sim um espaço de crise, onde em
nada poderemos nos agarrar, mas deixar vir, sentir, pensar e usufruir desses sentimentos, desse novo processo que
é a criação, a surpresa. Acredito que este é o ponto mais difícil da tarefa de um coordenador.

Encontro ecos no trabalho de Edelman e Kordon (1993) quando dizem que para poder compreender o que se passa
em cada grupo é necessário se ter em conta o problema da identidade pessoal, da ancoragem grupal do psiquismo
e das representações sociais na sua articulação com os diferentes tipos de fantasias. Dentro da perspectiva
psicanalítica os Grupos de Reflexão trabalham com o transubjetivo cumprindo simultaneamente, e em diferentes
graus, diferentes formas de ancoragem pessoal. Isto é a articulação entre fantasia e representação social.

A instituição deverá conter um meio adequado maternal e material, pois é esta a necessidade que os alunos
necessitam, a base de um sentimento de pertença, de segurança e de continuidade.

È na dramatização da fantasmática originária que se produz a máxima indiferenciação de sujeito a sujeito, o que os
atravessa é precisamente o indiferenciado, se produz uma espécie de borrão nos limites intersubjetivos. É isso
precisamente o que apóia o sentimento de pertença, e que seria o definido como sociabilidade sincrética de Bleger.

Na situação grupal vivencia-se o deslocamento de fantasias e pode-se observar como o grupo pode ser vivido como
substituto imaginário das primeiras imagens parentais. É somente quando o grupo constrói suas próprias teorias e
mitos sobre suas origens, seus fundadores, que também visualiza a dramatização desse tipo de fantasia.

Assim entendo meu trabalho como coordenadora de Grupos de Reflexão e é assim que trabalho em diferentes
instituições, com a ajuda de todos os componentes dos grupos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Edelman L. e Kordon D. (1993) - Algunos Aspectos de la Practica y la Teoría de los Grupos de Reflexión.
RIF - Rede Informática FLAPAG, Vol I, Buenos Aires. (83-89).        [ Links ]

Fernandes, B e Fernandes, W. J. (1999) &– Grupos de Reflexão. Das Vicissitudes de sua Coordenação. Trabalho
apresentado no XI Congresso Brasileiro de Psicoterapia Analítica de Grupo e V Encontro Luso-Brasileiro de
Grupanálise e Psicoterapia Analítica de Grupo, Rio de Janeiro, em novembro de 1999.        [ Links ]

Jasiner C. e Voyer, H. (1994) - Las Zonas Oscuras del Coordinador. Anales del XI Congreso Latino Americano
de Psicoterapia Analítica de Grupo, Vol. 3, Buenos Aires, (51-59)        [ Links ]

 
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Endereço para correspondência


Beatriz S. Fernandes
Rua Turiaçu, 143/134
05005-001 – S.Paulo SP
Fone: (0xx11) 3825.5305
E-mail: wb.fernandes@terra.com.br

1Trabalho apresentado na IV Jornada da SPAGESP, Abril/2000.


2Psicóloga. Membro fundador e docente do NESME e Diretora do NUF &– Núcleo de Formação da SPAGESP, onde é
membro fundador e docente.

Rua Visconde de Inhaúma, 2111, Jd. Sumaré


14025-100 Ribeirão Preto - SP
Te.: +55 16 3618-7119

contato@spagesp.org.br

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