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Resumo: A discussão sobre direito à moradia tem crescido significativamente em decorrência da expansão urbana no
mundo. No Brasil, no que se refere à políticas públicas de habitação, o histórico é recente, e atualmente temos o
Programa Minha Casa Minha Vida como atividade central da Gestão Federal. O impacto do desenvolvimento de
cidades acaba por ser avaliado e estudado pelas mais diversas áreas de produção de saber, e dessa forma optamos que
o debate aqui construído seja feito a partir dos fazeres social e do ambiental da Psicologia, considerando a relação
dialética entre a produção de uma política pública e a construção de psiquismo em contexto de vulnerabilidade. Assim,
a metodologia trata de um ensaio teórico sobre a expansão do programa, sua correlação com a garantia do direito à
moradia, utilizando a compreensão do sofrimento ético-político como uma categoria delineadora de análise. Como
proposta de resultados, apontamos que apesar de historicamente a discussão sobre políticas de habitação estar
concentrada nas áreas da Arquitetura, Geografia, Planejamento Urbano, pode a Psicologia Social de vertente crítica
contribuir significativamente para redesenhar a forma como as políticas públicas são executadas nas cidades para
garantir direitos básicos. O que necessitamos é uma redefinição epistemológica da relação com o Poder Público, bem
como uma maior aproximação da população para entender como muitas vezes uma ação não atinge seu êxito em
decorrência de uma categoria que não é avaliada pelo processo administrativo: a subjetividade. O sofrimento ético-
político portanto nos serve como uma categoria importante pra compreender as distorções que muitas vezes são
produzidas na execução de uma política pública no Brasil.
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Graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal
do Ceará (UFC). E-mail: barbara.bezerra@hotmail.com
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Gradução em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Mestrado em Desenvolvimento Regional
Sustentável pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Doutorando em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará
(UFC). E-mail: arthurfpetrola@gmail.com
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Graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestrado em Psicologia pela Universidade de
Brasília (UnB) e doutorado em Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).
Professora associada IV do Programa de Pós Graduação de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail:
zulaurea@gmail.com
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should be made from the social and environmental practices of Psychology, considering the dialectical relation between
the production of a public policy and the construction of psyche in a context of vulnerability. Thus, the methodology
is a theoretical essay about the expansion of the program, its correlation with the guarantee of the right to housing,
using the understanding of ethical-political suffering as a delineating category of analysis. As a proposal of results, we
point out that although historically the discussion on housing policies is concentrated in the areas of Architecture,
Geography, Urban Planning, can Social Psychology of critical basis contribute significantly to redesign the way public
policies are executed in cities to guarantee basic rights. What we need is an epistemological redefinition of the
relationship with the Public Power, as well as a greater approximation to the population, to understand how often an
action does not reach its success due to a category that is not evaluated by the administrative process: the subjectivity.
Ethical-political suffering, therefore, serves as an important category for understanding the distortions that are often
produced in the execution of public policy in Brazil.
INTRODUÇÃO
Importa considerar que o Brasil, como signatário da Declaração Universal dos Direitos
Humanos desde 1948, reafirma o compromisso do Estado com a questão da moradia e da
habitação em vários dispositivos legais, tendo em suas constituições anteriores o princípio da
função social da propriedade, pois já se dispunham de mecanismos para desapropriação de
imóveis por necessidade, utilidade social ou pública. Isso subsidiaria mais a frente os processos de
reforma agrária e os programas de habitação iniciados na década de 60.
Na atual constituição se compreende o direito a moradia entre outros, como direitos
sociais que se expressam nas relações humanas. Esses direitos se pautam na política de
desenvolvimento urbano regulada pelo Estatuto da Cidade, e que deve ser executado pelo Poder
Público municipal, que objetiva ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade.
A grande diferença proposta nesse texto constitucional está na relação intrínseca e, a partir daqui
indissociável, entre propriedade e a função social, como se compreende aqui:
Art. 5° - (...)
XXII – é garantido o direito de propriedade;
XXIII – a propriedade atenderá à sua função social;
interesse social para habitação e construir um prédio comercial. O uso da propriedade não pode
gerar prejuízos a coletividade.
A CF impõe ainda aos proprietários a obrigação de construir ou de evitar a subutilização
do imóvel, dando uma destinação aos fins sociais: no caso de imóveis rurais, o cultivo da terra; e
no urbano, fins de moradia por exemplo. Caso essas condições não sejam cumpridas, o dono do
imóvel estará sujeito à pena de parcelamento compulsório, imposto progressivo ou
desapropriação do terreno.
Sabemos que a perda do lugar de política social e assunção da moradia como mercadoria
é um novo processo de colonização na era das finanças, como aponta Rolnik (2015, p. 378): “As
políticas habitacionais e urbanas assim como o urbanismo e a gestão fundiária […] operaram
ativamente no sentido de criar condições materiais, simbólicas e normativas para transformar
territórios vividos em ativos abstratos” e que dessa forma o que observamos é “uma ‘guerra de
lugares’ ou de uma guerra ‘pelos lugares’”.
Nesse confronto, o lado que tem menos recursos objetivos e subjetivos para construir o
enfrentamento necessário a especulação imobiliária acaba sendo o mais prejudicado com o deficit
habitacional, tanto no que se refere tanto ao aspecto quantitativo – deficiências do estoque de
moradias – como no aspecto qualitativo, naquilo que denota sobre a ausência de condições básicas
para uma vida digna, expressa nas habitações precárias, na carência de infraestrutura urbana, na
inadequação fundiária, no adensamento (por coabitação familiar), no ônus excessivo com aluguel
no domicílio entre outros (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2018).
Historicamente sempre houve deficit habitacional no Brasil, e que passa a ter um
crescimento exponencial a partir do final do séc. XIX com o fim da escravidão, e o início da era
industrial no país (HOLZ e MONTEIRO, 2008). Segundo último levantamento feito em 2015, o
deficit habitacional estimado no Brasil corresponde a 6,355 milhões de domicílios, sendo o
Sudeste e o Nordeste as regiões mais responsáveis por esse montante, sendo a primeira
caracterizada pelo alto custo de vida com aluguel, e a segunda pelo número expressivo de
habitações precárias e de pessoas em coabitação familiar (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO,
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2018), sendo esse quadro bastante significativo para uma análise das desigualdades e
vulnerabilidades sociais no país.
Nesse caminho, é importante conhecer quais foram as respostas dos governos federais a
essa questão, tentando compreender como os programas de habitação no Brasil foram
estruturados para tentar responder a essa questão.
É com essas mudanças no cenário político que a compreensão sobre o direito à cidade, e
assim à sua ocupação, foi dando espaço para se pensar formas e propostas de habitação. Entretanto,
não é esse cenário que se apontou nos anos seguintes com a prática política neoliberal-conservador
regido pelo Presidente da República à época, Fernando Collor de Mello. E com isso, se percebe
uma decaída na agenda da reforma urbana promulgada pela constituição, embora houvesse indícios
de que pequenas e significativas mudanças iam sendo construídas a partir das forças de oposição.
Em 2000, houve o reconhecimento constitucional do direito à moradia como direito
fundamental e em 2001 a aprovação do Estatuto da Cidade. No ano de 2013, Já no governo do
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi criado o Ministério das Cidades, que passa a ser o órgão
responsável pela Política de Desenvolvimento Urbano, em que segmentado a ela está a Secretaria
Nacional de Habitação. Podemos dizer que nesse momento se iniciam novas concepções para a
política de Habitação e, posteriormente com a criação da Conferencia Nacional das Cidades, se
concebeu a Política Nacional de Habitação (PNH), que têm como meta principal a promoção de
“condições de acesso à moradia digna, urbanizada e integrada a cidade, a todos os segmentos da
população, e em especial, para a população de baixa renda.” (BRASIL, 2004, p.13)
A partir do PNH, criou-se também o Sistema Nacional de Habitação (SNH) cujo principal
objetivo de gerir a articulação política e financeira da PNH e dos subsistemas (habitação de
interesse social e habitação de mercado), devendo assumir os compromissos para empreender os
programas destinados a habitação, sendo o maior deles o Programa Minha Casa Minha Vida
(PMCMV) que foi instituído pela Lei n. 11.977, de 7 de julho de 2009, estruturado no governo Lula
e tem como objetivo a construção maciça de moradias que visam à melhoria do sistema habitacional
para a população de baixa e media renda. Para Klintowitz(2016), o PMCMV é caracterizado como
um programa habitacional que ganhou status de política por seu vigor de recursos e apoio
multifacetado conquistado.
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Segundo Carvalho e Stephan (2016), para entendermos esse cenário precisamos saber que
contextualmente em 2008 se instaurava uma crise econômica mundial, e o Governo Brasileiro
decide adotar medidas de expansão de créditos e apoio aos setores que vinham com certas
dificuldades, entre eles, o setor imobiliário. Como resultado desse investimento no mercado
habitacional se lança o PMCMV. Na opinião desses autores o PMCMV desconsidera diversos
avanços institucionais na área de desenvolvimento urbano, bem como a interlocução com o
restante da sociedade civil. Essa afirmação é corroborada por outros teóricos, nos ajudando a
compreender criticamente a condição de execução do programa.
continuam se apresentando como os bairros pobres periféricos, ou no seu inverso, ganham “nos
últimos 25 anos, a companhia dos ‘loteamentos’ ou condomínios fechados, que lembram os
subúrbios americanos” (MARICATO, 2014, p.109).
Nesse sentido, nossos questionamentos são sobre o que está sendo produzido para essas
cidades e para os habitantes delas. Seria possível discutirmos o que se constroem no campo do
sofrimento para essas pessoas que vivem a margem da cidade? Viver na periferia, seria conteúdo
de uma desigualdade social? E qual é a produção psicológica para essas pessoas que vivenciam essa
desigualdade?
Entendendo que esse cenário até agora demonstrado historicamente e criticamente sobre
o direito à moradia e à cidade, produz um sistema de desigualdades sociais, partiremos agora para
entender o fruto desses conteúdos para a população que vivencia tal situação.
A sociedade exclui para incluir e esta transmutação é condição da ordem social desigual,
o que implica o caráter ilusório da inclusão. Todos estamos inseridos de algum modo,
nem sempre decente e digno, no circuito reprodutivo das atividades econômicas, sendo
a grande maioria da humanidade inserida através da insuficiência e das privações, que se
desdobram fora do econômico (2010, p.12)
Nesse sentido, a autora amplia a discussão sobre exclusão, trazendo à tona que a exclusão
nasce em dicotomia à inclusão, e que discutir temáticas acerca da luta pelos direitos sociais, nos
coloca atento a olhar que os excluídos se tornam parte da política de inclusão social, e que assim,
excluir, para depois incluir, seria o que a autora chama de Inclusão Perversa. A exclusão nada mais
é que uma estratégia histórica de manutenção da ordem social.
Entendendo agora a dialética da Inclusão/Exclusão, é compreensivo perceber que inclusão
social é um processo de disciplinarização dos excluídos, portanto, um processo de controle social
e de manutenção da ordem na desigualdade social. E embora o que nos aparece é a exclusão de
uma população a certos direitos ou oportunidades, é exatamente aí a necessidade de reconhecermos
o quão a exclusão é um processo complexo e que configura confluências entre o pensar, o sentir e
o agir, mediada ainda pela classe, raça, gênero e etc, e é experienciada “num movimento dialético
entre a morte emocional (zero afetivo) e a exaltação revolucionária” (SAWAIA, 2010, p. 111).
É então aqui, que entenderemos que por trás da desigualdade social há o sofrimento do
excluído, e para Sawaia, esse sofrimento provido dessa vivência dos sujeitos no processo de luta de
classes, determinado exclusivamente pela situação social da pessoa, e que a impede de lutar contra
os cerceamentos sociais, seria o que a autora denominou de Sofrimento Ético-Político. Como
podemos concluir através da citação abaixo.
somente pelas atividades intelectuais, mas também é constituída pelas dimensões emocional afetiva.
Então se forma uma unidade dialética composta pelo conhecimento, o sentimento e a consciência.
Porém, se essa unidade for quebrada, rompe-se o nexo psíquico-físico da consciência e assim
bloqueia-se o movimento da consciência. (SAWAIA, 2009)
Podemos reconhecer o papel da afetividade no conceito do Sofrimento Ético-Político, pois
a autora demonstra a partir de seus interlocutores de como as emoções e sentimentos têm o poder
de afetar um corpo e assim contribuir para o potencial de agir, de pensar e desejar. Abaixo traremos
uma citação de Bertini (2014) reforçando como a construção de tal conceito foi se organizando.
A análise da afetividade, na dimensão ético-política, é realizada a partir de Espinosa e
Vygotsky pela positividade epistêmica com a qual analisam os sentimentos e as emoções.
Esses autores vão ao encontro da liberdade humana e entendem a vida ética a partir da
vivência dos afetos, compreendendo-os como unidades de análise capazes de orientar a
ação do homem no mundo, contendo em si a possibilidade da servidão ou da liberdade
no processo complexo da vivência da desigualdade e da exclusão no sistema capitalista.
(p. 62)
Nesse sentido, podemos concluir que pensar o Sofrimento Ético-Político como categoria
de análise da dialética Exclusão/Inclusão nos possibilita enxergar de maneira mais ampla e crítica
o formato como foi se construindo os princípios urbanísticos no Brasil, e de como os cenários
político e econômico corrobora para a luta do direito à cidade e à moradia.
Esse movimento de despotencialização da ação seria uma forma de controle intersubjetivo
dos sujeitos na condição de exclusão que se expressa no discurso da incapacidade ou da
impossibilidade de transformação. Contudo, pode-se perceber que esse mesmo sofrimento
também pode ser produzido na ação coletiva em torno do direito à moradia, principalmente nesse
modelo capitalista, onde até os direitos se tornam mercadorias a serem consumidas, tamponando
o ideal de emancipação que se encontraria na ideia de ter uma casa como sinônimo de felicidade
pública.
Todos sentem alegria e prazer com a conquista das reinvidicações, mas nem todos sentem
a felicidade pública. Esta é experienciada apenas pelos que sentem a vitória como
conquista da cidadania [da vivência solidária, amorosa, terna entre os homens] e da
emancipação de si e do outro, e não apenas de bens materiais circunscritos. A felicidade
ético-política é sentida quando se ultrapassa a prática do individualismo e do
corporativismo para abrir se à humanidade (SAWAIA, 2010, p.105)
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nesse contexto de atividade e criação, homens e mulheres são convidados a assumir a negação do
que é dado, a aceitação dócil do que é posto, aproximando-se da condição de Ser Mais: essa vocação
ontológica dos homens e mulheres em superar as condições opressivas que mantém a consciência
mágica, aquela consciência que não encontra sua razão fora das explicações causalistas.
Esse desafio dialógico com outro saberes também acaba por pautar-se dentro de um
contexto político-institucional de enfrentamento da crise humano-ambiental que sustenta os graves
problemas sociais e urbanos, como o de moradia, ao compartilhar os desejos e expectativas plurais
para o futuro comum a todos, pode propor uma nova alternativa à globalização, sendo, portanto,
central em um planejamento para outro mundo possível (PINHEIRO; GÜNTHER; GUZZO,
2014).
As tradições culturais dos povos originários da América Profunda denominam esse outro
modo de existir de Bien Vivir, no original quéchua Sumac Kasway que significa Viver Bonito
(QUIJANO, 2012). Esse conceito implica em uma quebra com o processo de colonização do
pensamento político e científico que se fez predominante nos anteriormente chamados de países
subdesenvolvidos, propondo de certa forma aquilo que Martin-Baró (2011) chamava de novo
horizonte para os povos latino-americanos.
Esse conceito propõe uma inversão do padrão antropocêntrico para a consolidação de um
paradigma biocêntrico, onde bem viver significa assumir uma posição ativa, construtiva e orientada
para todas as formas de vida. Ele nos serve para questionar a colonialidade do poder e as
representações democráticas que tem pautado a maneira como as políticas públicas têm sido
formuladas e implementadas no Brasil.
Dessa forma, o que desponta como caminho é a superação da hegemonia das práticas
centradas na financeirização da habitação, e a retomada ontológica e política do conceito de
moradia através da luta coletiva, anticapitalista e organizada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ela [a guerra dos lugares] está em cada resistência a despejos e remoções, em cada luta
antiprivativazação e homogeneização do espaço, em cada apropriação do espaço coletivo
como lugar de multiplicidade e da liberdade. Está, enfim, no exercício cotidiano da
formulação e de luta pelo direito à cidade (ROLNIK, 2015, p. 378)
Ainda que colonizados em nossas singularidades a partir dos interesses do Capital, temos a
difícil tarefa de construir resistências e enfrentamentos diante do Sofrimento Ético-Político em
torno do direito à moradia. As contradições das políticas habitacionais no Brasil tem descortinado
um cenário preocupante, ao mesmo tempo que tem nos colocado em um desafio teórico e prático
de compreensão da realidade urbana brasileira. Nesse cenário marcado pela desigualdade, pela
vulnerabilidade e pelo deficit, podem surgir movimentos organizados, de orientação anticapitalista
e que promova aquilo que Lefebvre (2001) chamava de revolução social urbana.
Martin-Baró (2011) sugere a necessidade de que nossas práticas, em especial a psicologia
latino-americana, se convertam na busca por uma nova epistemologia, um novo horizonte e uma
nova práxis, em outras palavras, isso significa uma revisão sistemática a partir das maiorias
populares, em uma atividade verdadeiramente libertadora e que conduza não só a uma ruptura com
alienação pessoal, mas também na perspectiva de quebrar as relações de opressão e alienação como
parte de uma coletividade, de um povo.
O que se tem aqui de significativo é que os movimentos sociais em suas lutas estão entre a
atividade militante como possibilidade de emancipação e de superação do sofrimento ético-político.
Isto quer dizer que diante das formas de lutar e dos princípios orientadores da prática, podem os
sujeitos buscar caminhos de libertação, produzindo conhecimentos e tecnologias que estejam a
serviço da coletividade, criando resistências ao poder instituído.
Essa reflexão encontra sua razão de ser trabalhada quando pensamos no contexto brasileiro
e suas bases “epistemológicas” sobre os modos de agir, de viver, e que transcendem os hábitos ou
a influência linguística dos povos originários. O paradigma do nosso desenvolvimento se acerca de
diversas formas de compreender nossa relação com o outro, seja este humano ou não-humano, e
na possibilidade de superar as condições de colonização política e intelectual.
Nessa perspectiva, uma superação total dessa prática historicamente dada é virtualmente
impossível, pois não há como se excluir completamente os desafios e as contradições da luta por
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