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Tradução

Rogério Bettoni
Copyright © 2010 by Trish MacGregor and Rob MacGregor
Todos os direitos reservados
Título original: The 7 secrets of synchronicity

Todos os direitos desta edição reservados à


Editora Planeta do Brasil Ltda.
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Conversão para eBook: Freitas Bastos

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


(CIP)
(CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL)

M127s
MacGregor, Trish, 1947-
Os 7 segredos da sincronicidade : um guia para descobrir significados
em grandes e pequenos sinais / Trish MacGregor e Rob MacGregor ;
tradução: Rogério Bettoni. - São Paulo : Planeta, 2011. Tradução de:
The 7 secrets of synchronicity

ISBN 978-85-7665-761-3

1. Coincidência. I. MacGregor, Rob. II. Título. III. Título: Os sete segre-


dos da sincronicidade

11-5820. CDD: 133 CDU: 133


Este livro é para Megan, com amor, sempre.
INTRODUÇÃO

No início de fevereiro de 2009, começamos a escrever um blog


sobre sincronicidade que servisse de ferramenta de pesquisa e
reunisse histórias para este livro. Era nossa primeira experiên-
cia com blogs, e não sabíamos ao certo como o processo fun-
cionava ou qual seria o retorno do público. Postamos diversas
histórias pessoais sobre coincidências significativas e con-
vidamos os leitores a contribuir com suas próprias histórias.
No final da primeira semana, tivemos 38 acessos, a maioria
de amigos e familiares, mas não recebemos nenhuma história.
Aparentemente, com mais de cem milhões de blogs na internet,
teríamos de encontrar uma forma de difundir a existência do
nosso. Então, criamos um alerta no Google para o termo “sin-
cronicidade”, e todos os dias dezenas de links para blogs e sites
que mencionavam a palavra encheram nossa caixa de entrada.
Examinamos todos, procurando histórias dramáticas sobre sin-
cronicidade, e pedimos para que as pessoas nos mandassem
suas histórias. Algumas semanas antes de o blog completar um
ano, os acessos subiram para quase 50 mil, e havíamos
coletado centenas de histórias. Ficamos surpresos não só com o
grau de interesse, mas com o desejo dos leitores de contribuir e
permitir que usássemos suas histórias no livro.
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Apesar de as sincronicidades fazerem parte da nossa vida há
anos, nossas próprias experiências com elas se multiplicaram
rápida e furiosamente durante a pesquisa e redação do livro. É
como se nosso enfoque no assunto atraísse as experiências,
deixando claro que não poderíamos escrever o livro apenas
como observadores “externos” da sincronicidade, mas sim
como ativistas “internos”.
Uma noite, por exemplo, Rob estava editando uma história
sobre sincronicidade que continha este trecho: “Bom clima,
bons amigos, boa conversa, bom vinho, bons livros e o espaço
intermediário”.
Ele parou um instante, enquanto lia a última expressão – o
espaço intermediário –, e continuou a editar o texto. Na manhã
seguinte, abriu a autobiografia de F. David Peat, Pathways of
chance, na página em que o autor falava sobre sua amizade
com o físico David Bohm. A primeira coisa que Rob leu foi:
“Independentemente de nossos encontros e conversas, andei
pensando no que chamo de espaço intermediário. Uma ideia
que poderia ser aplicada a muitas áreas, sobretudo para descre-
ver o que acontece quando olhamos uma obra de arte ou lemos
um livro de literatura. É o espaço intermediário entre o obser-
vador e o observado; o espaço do ato criativo que dá vida a um
poema ou a uma pintura.” E é o espaço onde nascem as
sincronicidades.
Outra sincronicidade aconteceu logo depois, quando um
amigo nos visitou para dar um conselho sobre uma reforma na
nossa casa. Havia uma infiltração no teto da sala, e achávamos
que aquilo era resultado de um dano causado no telhado pelo
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furacão Wilma, que atingiu nossa região em 2005. Nosso
amigo, experiente em seguros e no setor da construção civil,
disse que, se quiséssemos acionar o seguro residencial para
cobrir o reparo, teríamos de provar que a infiltração estava
relacionada ao furacão.
Trish saiu para pegar a correspondência e voltou balançando
no ar o folheto de uma empresa que faz reparos em telhados.
Era uma propaganda oferecendo uma inspeção gratuita. “Se
seu telhado foi danificado pelo furacão Wilma, podemos ajudá-
lo com a documentação necessária para que a substituição do
telhado seja indenizada”, prometia o folheto. Embora não ten-
hamos ido atrás da oferta, o folheto chegou exatamente quando
estávamos falando sobre o dano no telhado, e ainda men-
cionava o furacão de quatro anos antes.

O mundo da sincronicidade
Esse mundo da sincronicidade tem alguns paralelos arrepi-
antes com a popular série de TV Lost. Nela, um avião cai numa
ilha deserta e os sobreviventes veem-se diante de todos os tipos
de acontecimentos estranhos, intuições, além de perceber que
há, entre eles, conexões sincrônicas do passado. Nada é o que
parece. Enquanto as personagens lutam para sobreviver,
organizando-se como em uma comunidade, suas forças e
fraquezas individuais revelam camadas profundas de sua per-
sonalidade que complicam o enredo da semana seguinte. Os es-
pectadores ficam intrigados, com uma sensação de espanto e
cinco milhões de perguntas. A sincronicidade se parece muito
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com isso – uma aventura mágica que expande nossa concepção
daquilo que é possível.
Para nós, essa aventura começou no dia 12 de dezembro de
1981. Era nosso primeiro encontro, e Trish perguntou a Rob se
já ouvira falar de sincronicidade. Ele disse que sim, e, daquele
momento em diante, nossa vida mudou.
Avançamos agora para 1984. Estávamos casados, e tínhamos
largado nosso emprego para escrever o tempo todo. Passáva-
mos parte do tempo escrevendo artigos sobre turismo, e nos
juntamos a um grupo de agentes de viagem num passeio de
“convivência”. Ainda que o destino, Nashville, não fosse exata-
mente nossa primeira opção de viagem, o passeio era gratuito,
e estávamos abertos a qualquer coisa.
Na metade do voo, o ar-condicionado do avião parou de fun-
cionar, e a cabine rapidamente se aqueceu. Estávamos descon-
fortáveis, aborrecidos e famintos. O homem sentado perto de
nós começou a falar sobre as dificuldades das viagens aéreas, e
em pouco tempo estávamos todos reclamando como uns miser-
áveis. Descobrimos que o homem, que se chamava German,
nascera e crescera na América Latina, assim como Trish. Sua
família tinha diversos hotéis na Colômbia; ele era dono de uma
agência de viagens em Miami e tinha contatos na Avianca
Airlines.
Naquela época, os turistas americanos tendiam a evitar a
Colômbia e o Peru por causa do desenfreado tráfico de drogas.
A Avianca, por sua vez, buscava formas inovadoras de encora-
jar o turismo nessas áreas. German pensou que a empresa
talvez pudesse se interessar em fornecer passagens gratuitas
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para escritores de viagem. Ele cuidaria da hospedagem e, em
troca, os escritores publicariam artigos turísticos sobre a
Colômbia e o Peru. Nós teríamos de encontrar os escritores,
comandar os roteiros, reunir os artigos para serem publicados e
enviá-los para a Avianca. Será que isso poderia nos interessar?
Graças a essa fortuita sincronicidade de sentarmos perto de
German no avião, começamos a organizar viagens de aventura
para a América do Sul. Fizemos várias viagens de barco nos
afluentes do rio Amazonas e coordenamos diversos passeios a
outros destinos na América Latina. Todos forneceram material
para romances e artigos de viagem e de não ficção.
Em razão da sincronicidade, sentíamos que tudo estava
caminhando bem. Em setembro de 1984, Trish publicou seu
primeiro romance, In shadows, e Rob conseguiu um projeto
como ghostwriter do diretor executivo de uma empresa se-
diada em Washington, um contato que fizéramos escrevendo
artigos para revistas. Um ano depois, Rob publicou seu
primeiro romance, Crystal skull. Nunca mais voltamos para
nosso antigo emprego. Durante os 26 anos do nosso
casamento, escrevemos seis livros, tanto de ficção como de não
ficção. Fomos para onde as sincronicidades nos levaram.
Diversas vezes falamos em escrever um livro sobre sin-
cronicidade, mas não sabíamos como fazê-lo, que tipo de abor-
dagem adotar, ou por onde começar. Carl Jung parecia ser o
ponto de início mais lógico, tendo em vista que foi ele quem
cunhou o termo. Porém, com o passar dos anos, outros projetos
tomaram nosso tempo, e sempre adiávamos o livro. Contudo,
nossas sincronicidades se multiplicaram.
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Uma noite, em janeiro de 2009, começamos a namorar a
ideia de novo. Estávamos interessados em casos e histórias que
ilustrassem a mágica e o mistério da sincronicidade. Mesmo as-
sim, tivemos problemas em encontrar um tema. Um ou dois di-
as depois, percebemos que, após todos aqueles anos de exper-
iências com as sincronicidades, tomáramos conhecimento de
certos conceitos sobre a natureza da “coincidência significativa”
que não eram ainda amplamente conhecidos ou
compreendidos.
Esses conceitos se tornaram os segredos que discutimos na
parte 1 deste livro. Embora eles revelem grande parte do fenô-
meno, também acreditamos que haja um elemento mágico at-
ivo pelo qual os seres humanos podem se engajar na sin-
cronicidade e direcioná-la para seus próprios fins. Essa mágica
é o assunto da parte 2 deste livro.
A tecnologia – internet, blogs e e-mail – facilitou nossa
pesquisa e possibilitou a coleta de sincronicidades por todo o
planeta. Aparentemente, só fomos capazes de escrever o livro
por causa da tecnologia, que nos permitiu fazer novos contatos
e reunir histórias de pessoas do mundo inteiro.

Mas o que isso significa?


Uma sincronicidade pode simplesmente servir para afinar
nossa percepção, lembrar-nos de que, por trás da superfície da
vida cotidiana, existe uma unidade e realidade subjacentes que
podem não ser imediatamente óbvias. Pode, ainda, servir como
guia, alerta, afirmação, inspiração criativa e/ou evidência de
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individuação e crescimento psicológico. Ela pode oferecer um
vislumbre do futuro e gerar a sensação de que estamos no cam-
inho certo, de que tudo corre bem, exatamente da forma que
esperávamos. Todas as sincronicidades – até mesmo as mais
sombrias, que nos deixam em estado de alerta – têm uma qual-
idade misteriosa.
Este livro é um guia para que você se torne mais consciente
da sincronicidade. Ele lhe ajudará a decifrar a mensagem por
vezes enigmática da sincronicidade e a empenhar-se para a
transformação, de modo que possa melhorar sua vida e seu
bem-estar. Para isso, apresentamos histórias e práticas de sin-
cronicidade que o ajudarão a fazer associações e interpretar
metáforas e símbolos. Em outras palavras, o material deste liv-
ro o ajudará a explorar seu próprio inconsciente na busca de
respostas.
Com isso em mente, mergulhe nos segredos e abrace as sin-
cronicidades que começam a fluir na sua vida. Como disse Jean
Shinoda Bolen no livro The Tao of psychology: synchronicity
and the self, “a sincronicidade mantém a promessa de que, se
mudarmos interiormente, os padrões da vida exterior também
mudarão”.
PARTE UM

Os segredos
Segredo 1

O SABER

O primeiro segredo nos mostra que, quando recon-


hecemos a coincidência como significativa, abrimos-
nos a novas informações, novas possibilidades e nov-
os sistemas de crença.
Sincronicidade: é a união de acontecimentos
internos e externos de uma maneira que não pode
ser explicada pela causa e efeito, mas que é signific-
ativa para o observador.
Vivemos numa época incerta, em que as placas tectônicas da-
quilo que conhecemos estão se deslocando e nosso sistema de
crenças está num fluxo violento. Mas essa turbulência ap-
resenta muitas oportunidades para crescermos e florescermos
como indivíduos, e “coincidências significativas” ou sin-
cronicidades de fato fornecem um solo fértil para fazermos ex-
atamente isso.
O primeiro passo é reconhecer as coincidências quando elas
ocorrem e considerar a possibilidade de que elas possam ser
significativas. Se as ignorarmos ou simplesmente as
desprezarmos, considerando-as insignificantes, perdemos
oportunidades de obter um novo entendimento ou uma visão
diferente de algum aspecto da nossa vida. Digamos, por exem-
plo, que você não pense há muito tempo em algum antigo
amigo da escola, mas depara com uma foto dele enquanto
limpa o armário. No final do dia, você recebe uma solicitação
de amizade desse amigo no Facebook. Qual é a mensagem? Que
você, talvez, deva retomar a amizade. A mensagem mais
ampla? Estamos todos conectados em um nível profundo.
A lista a seguir inclui alguns modos típicos de sincronicidade
que as pessoas podem vivenciar. Por qual deles você já passou?
Como reagiu? Você descartou o incidente como uma coincidên-
cia interessante, mas aleatória? Fez algo a respeito?

1. Você faz pesquisas sobre algo que quer adquirir – de-


terminado tipo de carro, por exemplo, ou uma raça es-
pecífica de cães. De repente, começa a ver o carro na rua,
nas estradas ou em estacionamentos, ou depara com
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pessoas falando exatamente sobre aquela raça. A princí-
pio, pensa que se trata apenas de uma questão de per-
cepção, isto é, só passou a notar quando surgiu o in-
teresse. Mas talvez você caminhe até seu carro num esta-
cionamento e descubra que o carro dos seus sonhos está
parado perto do seu, e há outro exatamente idêntico do
outro lado. Ou, então, alguém menciona que um amigo
está doando um cachorro da mesma raça que você quer.
Neste caso, é mais que percepção; é sincronicidade.
2. Durante um curto período, um nome torna-se recor-
rente. Parece que todas as pessoas que o cercam têm o
mesmo nome – o dentista, o caixa do supermercado, um
vizinho. Numa questão de horas ou dias, você conhece
uma pessoa nova, e ela (ou ele) tem aquele mesmo
nome.
3. Durante uma viagem, você vê uma casa que o encanta.
Toda vez que volta para aquela área, você passa pela
casa e se pergunta sobre a pessoa que mora lá. Depois,
num avião, começa a conversar com um passageiro e
descobre que ele é o dono da casa que tanto o atraiu.
4. Você sonha com um determinado acontecimento, e algo
quase idêntico acontece alguns dias depois.
5. Você tem um pressentimento de que deve fazer um cam-
inho diferente para o trabalho, e depois descobre que
houve um acidente no seu trajeto diário. Então, percebe
que ficaria horas preso no trânsito ou talvez até se en-
volvesse no acidente.
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6. Você tem uma ideia para um romance, história, in-
venção, produto ou serviço, e acredita ser inédita. Em
seguida, descobre que duas pessoas diferentes tiveram a
mesma ideia e o fizeram antes de você.
7. Quando olha para o relógio, o micro-ondas, as horas no
computador ou até mesmo o mostrador digital na esteira
de corrida, parece que os mesmos números, talvez 1h11
ou 9h11, surgem o tempo todo. É como se eles o est-
ivessem perseguindo.
8. Ao pensar ou conversar sobre um pássaro específico,
talvez um urubu, um bando passa sobre sua cabeça. Ou
talvez esteja pensando em um livro específico enquanto
percorre os corredores de uma livraria e ele escorrega da
estante e cai aos seus pés. Ou você abre um livro de
maneira aleatória e lê uma frase que trata exatamente da
questão que está na sua cabeça.
9. Você perde um objeto, e ele “volta” para você de uma
forma que vai contra todas as possibilidades.
10. Você se sente desestimulado num relacionamento, no
trabalho, na vida financeira e está prestes a desistir de
tudo. Então, algo inesperado acontece e você percebe
que as coisas não são tão terríveis assim.

Em cada exemplo, a sincronicidade está em funcionamento,


e cabe a você decifrar a mensagem. Foi exatamente isso que o
psiquiatra Carl Jung fez quando deparou pela primeira vez com
uma coincidência significativa.
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Vivenciando a sincronicidade
Jung estava tratando de uma jovem paciente, que relatou um
sonho no qual alguém lhe dava um escaravelho dourado. Ele
sabia que este era um símbolo de renascimento na mitologia
antiga, e acreditava que o sonho podia ser o presságio de algum
tipo de renascimento psicológico que a retiraria do racional-
ismo excessivo que impedia o tratamento. Quando estava
prestes a dizer isso, ouviu um barulho atrás de si, virou-se e viu
um inseto batendo contra o vidro. Abriu a janela, pegou o in-
seto e percebeu que era um besouro, a espécie mais próxima do
escaravelho que havia naquela área. Jung contou sua inter-
pretação do sonho, e, daquele momento em diante, a paciente,
até então atordoada, começou a melhorar.
Jung ficou tão impressionado quanto sua paciente diante do
ocorrido. Com o passar dos anos, ele continuou investigando o
fenômeno e cunhou o termo sincronicidade para descrever es-
sas coincidências significativas.
Quando começamos a escrever o blog e pedimos que as
pessoas contassem seus relatos, descobrimos rapidamente que
algumas tinham concepções equivocadas do que na verdade é a
sincronicidade. Uma vez que os exemplos muitas vezes definem
algo muito melhor do que um dicionário, comecemos com uma
história simples.
Enquanto estávamos hospedados numa casa em Florida
Keys, dois amigos foram nos visitar: o Robert da cidade de Stu-
art, na Flórida, e o Robert de Minneapolis. Certa manhã, um
deles procurava frutas na geladeira e pegou um vidro de
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mangas em conserva da marca Robert Is Here [Robert está
aqui].
“Ei, vocês não vão acreditar nisso. A manga sabe de nós!”,
disse ele, rindo.
Essa sincronicidade não seria nem um pouco interessante se
só um Robert estivesse na casa. Mas três homens de nome
Robert e a descoberta da manga de nome incomum foi o sufi-
ciente para surpreender até mesmo o Robert cético, a quem
chamamos de Rabbit só para distinguir dos outros. E isso
acabou despertando Rabbit para a ideia da sincronicidade. Al-
guns dias depois, ele mesmo vivenciou uma.
Enquanto estávamos na ilha, Rabbit gostava de andar numa
bicicleta que havíamos encontrado no depósito da casa. Nela
havia um adesivo no qual se lia: “Island Bikes – 900 Truman,
Key West”. Ele falou dessa loja várias vezes, sugerindo que
deveria ir até lá. Uma noite, enquanto estávamos a caminho de
Key West para jantar, aconteceu de passarmos pela avenida
Truman, no quarteirão do número 900, e ficamos surpresos ao
ver uma loja de bicicletas com outro nome. Ela estava fechada,
então seguimos adiante. E aquilo parecia ser o fim da história.
Nós voltamos de viagem, e Rabbit continuou na ilha com
outro amigo. Durante sua estada, recebeu a visita de um ter-
ceiro amigo, Toni, que chegou com um presente: uma camiseta
da Island Bikes. Nas costas da camiseta, embaixo do nome da
loja, estava o novo endereço. Mistério resolvido. Obviamente,
Toni não fazia ideia de que faláramos diversas vezes nos últi-
mos dias daquela mesma loja, ou que Rabbit estava andando
numa bicicleta comprada lá. Para finalizar, a camiseta tinha
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listras verde-escuras, vermelhas e amarelas, as cores do movi-
mento rastafári da Jamaica, destino costumeiro de Rabbit dur-
ante o inverno.
Dois dias depois, Rabbit adentrou nossa casa usando a nova
camiseta.
“Vejam, tive uma sincronicidade”, disse ele. “Mas o que
significa?”
No sentido junguiano do termo, Rabbit vivenciou uma união
de acontecimentos internos e externos de uma maneira que
não pode ser explicada pela causa e efeito, mas que é signific-
ativa para o observador. Certamente ela lhe chamou a atenção,
e o fez questionar se as coincidências podem ser mais que even-
tos aleatórios. Depois de passar três dias ouvindo a gente falar
sobre sincronicidade, ele estava preparado para viver uma. Esta
é a beleza do fenômeno. Uma vez que nos tornamos con-
scientes das sincronicidades, elas tendem a proliferar. E é
simplesmente impossível ignorá-las quando começam a
acontecer com mais frequência. Passamos a procurar respostas,
fazer associações, assim como Jung fez entre o escaravelho
dourado, o renascimento e sua paciente.
Às vezes, uma única e dramática experiência é tudo do que
precisamos para sermos despertados para a mágica que paira o
tempo todo ao nosso redor, ou seja, a sincronicidade em con-
stante funcionamento em nossa vida. Na região metropolitana
de Minneapolis-Saint Paul, alguns exploradores urbanos pas-
sam o tempo explorando cavernas, minas, túneis, telhados e
porões. Um deles, Gabriel Carlson, tem um site onde escreve
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sobre sua paixão: explorar esses “espaços intermediários, es-
quecidos, proibidos”.
Em meados de janeiro de 2006, Gabe teve uma experiência
que mudou sua vida. Ele e um amigo caminharam até Tomales
Point, na Califórnia, a ponta no extremo norte do lado oeste da
falha de San Andreas.
“Estávamos cercados de oceano por três lados, há quilômet-
ros da estrada mais próxima, sendo esbofeteados pelo vento
que subia até os penhascos, na paisagem mais surreal e eston-
teante que já vira. A interação de terra, água, luz e vida era de
tirar o fôlego, e a proximidade do lugar e do momento ofuscou
todas as coisas que eu pensava serem importantes lá na civiliz-
ação. Fui levado à experiência da ‘unidade’ de todas as coisas.”
Depois da experiência, sua intuição parecia mais afiada, e
uma voz interior o impulsionou para onde precisava ir. Quando
retornou para a Califórnia, ele e alguns amigos foram a um baz-
ar de usados para “garimpar coisas legais”. Gabe logo se in-
teressou por um antigo bule, mas não conseguiu explicar por
que quis tanto comprá-lo. Ele dificilmente passava pela seção
de artigos domésticos, e jamais pensara que seria o tipo de
pessoa que teria – ou compraria – um bule. “Acabei decidindo
aceitar o pontapé inicial da minha intuição em Tomales Point e
ser guiado pelo instinto, pela mágica ou qualquer coisa que o
valha.”
Gabe levou o bule para casa, ainda sem saber por que o ob-
jeto chamara sua atenção, e preparou alguns saquinhos de chá.
O gosto era bom, mas sem nada de especial. “Fiquei decepcion-
ado por nada ter acontecido alguns dias depois da compra.”
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Depois de uma semana, Gabe resolveu dar uma olhada no
vão de acesso ao porão de sua casa em Minneapolis, construída
em 1912. Durante os oito anos em que morara na casa, nunca
tinha sentido vontade de inspecioná-lo, algo incomum para um
rapaz que passa o tempo livre explorando lugares subterrâneos.
Havia um alçapão na parede que dava acesso ao vão. Ele en-
controu algumas coisas: dois ratos mortos, um forro de
plástico, uma velha lata de café, sapatos decompostos. “Quando
passei a mão sob a escada, senti uma coisa dura por baixo do
plástico empoeirado, um tipo de objeto abaulado, saliente,
acima do solo.” Ele puxou o objeto, levou-o para fora e tirou,
com uma escova, a poeira de um bule de chá desgastado. Foi
quando percebeu o significado da descoberta. “O bule que en-
contrei enterrado na minha casa era idêntico ao que comprara
no bazar alguns dias antes. O mesmo design, o mesmo
tamanho, o mesmo material, os mesmos encaixes, o mesmo
bico. O mesmo bule.”
Gabe era o tipo de cara lógico, racional, cético, um ateu, sem
qualquer inclinação para o misticismo. Mesmo assim, seguiu
seus impulsos e vivenciou uma sincronicidade tão poderosa
que o modificou profundamente. Em um e-mail, que continha
anexa a fotografia dos dois bules extraordinariamente pare-
cidos, ele disse: “Tornei-me alguém que experimenta e aprecia
a sincronicidade [...] e mudei minhas crenças sobre muitas
coisas no mundo. Ele é um lugar muito mais estranho e mara-
vilhoso do que eu ousava acreditar”. Logo depois de postarmos
sua história, Gabe deu início ao seu próprio blog sobre sin-
cronicidade e continuou investigando a natureza do fenômeno.
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Decifrando a mensagem
Decifrar a mensagem costuma ser a parte mais delicada de
qualquer experiência de sincronicidade. O que o universo está
tentando nos dizer? Estamos recebendo um alerta? A experiên-
cia é a confirmação de algo que está acontecendo em nossa
vida? É a sugestão de que devemos tomar um rumo diferente?
Por que atraí essa experiência específica? Qual seu significado
mais profundo?
Digamos que você venha vivenciando uma série de números,
como o 8, por exemplo. O que este número significa pra você?
Qual seu significado secreto? É seu número de sorte? Blayne,
nativo de Wisconsin, estava pensando em se mudar para o
Havaí. Pensava nisso quase todos os dias e lia tudo o que podia
sobre aquele distante Estado. Também começou a ver o
número 808 em todos os lugares, como placas de automóveis,
livros e revistas. Ele não sabia o significado da experiência, até
que deparou com a resposta: 808 é o código de área do Havaí.
Foi como se o universo o conectasse sutilmente com seu sonho
e o encorajasse a realizá-lo.
Nesta primeira parte do livro, você aprenderá não só os se-
gredos da sincronicidade, mas também descobrirá como deco-
dificar suas próprias sincronicidades para enriquecer sua vida.
Na parte 2, aprenderá como fazer uso da sincronicidade e criar
ambientes férteis para que muitas delas aconteçam.
Na sua jornada, você descobrirá que as sincronicidades
surgem de muitas maneiras. Elas podem ser tão simples quanto
pensar em uma palavra e depois escutá-la assim que liga o
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rádio ou a TV, ou tão complexas e cheias de camadas como a
sincronicidade do bule de Gabe. Às vezes, uma sincronicidade
parece estar zombando de nós; outras vezes, é tão carregada de
emoções quanto um grande romance. As sincronicidades cos-
tumam tratar de temas amplos e vastos comuns a todos nós, o
que Carl Jung chamou de arquétipos.

Inconsciente coletivo e arquétipos


Além da palavra sincronicidade, Jung cunhou dois outros ter-
mos que hoje são bem conhecidos: inconsciente coletivo e ar-
quétipos. Como apontou Deirdre Bair em sua biografia de
Jung, ele chegou a essas teorias porque não era um psicanalista
típico. Jung nunca se submeteu a uma análise formal, “mas
usou seu ‘mito pessoal’ como o ponto de partida para formular
o que acreditava serem as verdades objetivas duradouras. Ele
justapôs seu mito pessoal aos de muitas culturas díspares,
acrescentando, no final, novos termos ao vocabulário comum e
novos modos de pensar sobre as ideias”.
O inconsciente coletivo é como o DNA da raça humana, um
repositório psíquico de nossa história como espécie. Ele con-
tém imagens que Jung chamou de arquétipos, comuns a todas
as pessoas, independentemente de bagagem cultural, nacional-
idade ou crenças religiosas. Encontramos essas imagens na mi-
tologia, no folclore, nos contos de fadas, nas lendas, nas alucin-
ações, nas fantasias e nos sonhos: mãe, pai, criança, família,
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um velho sábio, animal, herói, impostor, sombra, persona. E
essas são só as mais universais.
Os arquétipos representam nossas experiências comuns
como seres humanos. Quando efetivamente usados em filmes e
romances, permanecem conosco. Um dos exemplos mais con-
hecidos de impostor é o Pernalonga. Seu sorriso característico e
sua cenoura sempre presente são conhecidos no mundo todo. O
impostor é também ricamente ilustrado no mágico de O mági-
co de Oz. Retratado como o todo-poderoso, seu poder não era
nada além de fumaça e espelhos, um truque de luz. Ele também
é a incorporação da persona – nossas facetas públicas, as más-
caras que usamos para causar impressões nos outros.
Outro arquétipo vívido é Darth Vader, personagem da saga
Guerra nas estrelas. Na verdade, ele incorpora dois arquétipos:
o pai e a sombra, aquela parte instintiva e primitiva de todos
nós onde o mal deve morar. Hannibal Lecter, de O silêncio dos
inocentes, retrata a sombra em sua forma mais perversa e
cruel.
Com as sincronicidades, vivenciamos os arquétipos de difer-
entes maneiras, às vezes como figuras, mas também como
padrões de comportamento, experiências e situações. A busca é
uma situação arquetípica em que o herói embarca numa jor-
nada para realizar algo – salvar a donzela, conquistar o in-
imigo, reclamar um reinado. Em Guerra nas estrelas, a busca
de Luke Skywalker é salvar a Princesa Leia e, por fim, defender
o universo contra Darth Vader. Sua busca pessoal pode impli-
car ser aceito por uma universidade desejada, encontrar um
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companheiro para a vida, vender um romance ou roteiro, ou se
curar de uma doença.
As sincronicidades geralmente implicam arquétipos ou situ-
ações arquetípicas, como sofrer a prática de bullying no pátio
da escola primária, a perda da inocência infantil, o nascimento
de uma criança, um casamento ou divórcio, a morte do pai ou
da mãe. Esses tipos de acontecimento podem promover sin-
cronicidades que nos arrebatam tão profundamente a ponto de
sermos forçados a reconhecê-las como algo mais que coin-
cidências aleatórias.
O mitólogo Joseph Campbell passou por uma sincronicidade
estonteante, que lembra o escaravelho de Jung, quando estava
lendo sobre o louva-a-deus, um símbolo heroico da mitologia
boxímane. Ele estava em seu apartamento, no 14o andar de um
prédio em Manhattan, e teve o ímpeto de abrir a janela, o que
fazia raramente. Um louva-a-deus estava parado ali. Campbell,
cuja carreira teve um enfoque voltado para o inconsciente
coletivo de Jung e a mitologia, disse que o inseto era grande e
olhava diretamente para ele. “A cara dele parecia com a de um
boxímane. Fiquei arrepiado!”

Quais são as probabilidades?


As probabilidades costumam ser um componente importante
da sincronicidade. Pense na última vez que vivenciou algo e
ficou surpreso com a probabilidade de aquilo acontecer. Assim
como a história do bule de Gabe, a probabilidade o deixou
26/299
tonto. É o tipo de história que se conta num jantar. Ela nos des-
perta para alguma coisa, e talvez nos fale sobre buscar o signi-
ficado mais profundo da vida.
Probabilidades improváveis chamam nossa atenção, como o
exemplo dos três homens de nome Robert que demos no início
do livro. Quais eram as chances de encontrarmos um vidro de
manga em conserva da marca Robert Is Here? Como se não
pudesse ser mais estranho, naquela mesma tarde Trish e dois
dos Roberts estavam almoçando em Key West, sentados a uma
mesa na área aberta do Pepe’s, quando um homem mais velho
chegou com um belo cão da raça golden retriever e se sentou
na área de espera. Como já tiverámos um golden, sempre
prestávamos atenção neles. Trish se aproximou e perguntou ao
dono se podia acariciar o cachorro.
– Mas é claro, ele é bonzinho – respondeu o homem.
– Tivemos de sacrificar o nosso em maio – Trish lhe disse.
O homem inclinou o rosto, compadecido. Abaixou-se até o
cachorro e falou gentilmente:
– Tudo bem, Robert, ela é amiga.
– Robert? O nome dele é Robert? – a mágica do momento
fez que Trish voltasse correndo para a mesa. – Vocês não vão
acreditar no nome do cachorro.
Quando Trish contou a história de Robert numa conferência
de escritores e a complementou com o apelido de Rabbit, uma
mulher levantou a mão e pediu desculpas por interromper.
“Tenho de dizer que no meu romance há um personagem cha-
mado Robert Rabbit.”
27/299
Quando Anthony Hopkins estava fazendo pesquisas para
seu papel no filme A garota de Petrovka, de George Feifer,
procurou um exemplar do livro nas livrarias de Londres. Sem
conseguir encontrá-lo, foi para a estação de metrô da Leicester
Square, a fim de voltar para casa. Sobre um dos bancos da es-
tação ele encontrou o livro, evidentemente esquecido por outro
passageiro.
Esse acontecimento em si é estarrecedor, mas, dois anos de-
pois, quando estava no meio das filmagens em Viena, Hopkins
foi recebido no set de filmagens por Feifer. O escritor mencion-
ou que não tinha mais nenhum exemplar do livro, e lhe contou
que havia emprestado seu último a um amigo, que o perdera
em algum lugar em Londres. Feifer ainda disse que ficara
chateado, principalmente porque era uma cópia cheia de anot-
ações. Quase sem acreditar que uma coincidência assim fosse
possível, Hopkins mostrou a Feifer o exemplar que encontrara
no metrô. “É este aqui, com notas rabiscadas nas margens?”,
perguntou. Era exatamente o livro que o amigo de Feifer
perdera.

Avaliando
Pense em uma coincidência significativa, um sinal ou um
presságio que tenha tido. O que acontecia na sua vida naquele
momento? Havia probabilidades estranhas envolvidas?
Aconteceu algo sobre o qual você tenha conversado com sua
família e amigos? Quem mais estava envolvido? A experiência
28/299
de Anthony Hopkins, com o livro que procurava, envolveu
grandes probabilidades, e coincidiu com o projeto cinemato-
gráfico no qual trabalhava na época. E o seu sinal, presságio ou
coincidência significativa? Parece ser uma confirmação, um
alerta, ou parece estar impulsionando-o numa nova direção?
Depois que a escritora Deirdre Bair ganhou o Prêmio Na-
cional do Livro com Samuel Beckett: uma biografia, a sin-
cronicidade teve um papel fundamental na escolha de seu novo
projeto. “De repente, um monte de pessoas que não se con-
heciam, e muitas que também não me conheciam, começaram
a perguntar qual seria meu próximo livro e se eu já havia
pensado em escrever sobre Jung.”
Na nota da autora, no início de Jung: uma biografia, Bair
diz que ficou incomodada com a forma pela qual o nome de
Jung continuava surgindo, mas reconheceu a influência es-
pecífica das sugestões como uma sincronicidade. E começou a
pesquisar a vida e a obra de Jung. Pareceu o mais certo a se
fazer. E a ironia da sincronicidade foi que ela escreveria sobre o
homem que cunhou o termo “sincronicidade” e dissertou ex-
tensivamente sobre o assunto.
Esses tipos de sincronicidade atingem uma ordem mais pro-
funda no universo, à qual o físico David Bohm deu o nome de
“ordem envolvida” ou “ordem implicada”, um tipo de força
primordial que dá origem a tudo no universo. Bohm acredita
que até mesmo o tempo se desenvolve a partir da ordem im-
plicada, e referiu-se à realidade exterior como a ordem ex-
plicada. A sincronicidade, portanto, é quando o implicado e o
explicado, o interno e o externo, coincidem.
29/299

Achados e perdidos
Quando perdemos algo importante, geralmente ficamos
bastante concentrados. Não importa o que seja – o carro, a
bolsa ou o telefone celular –, queremos de volta. Essa atenção e
determinação obstinada parecem desencadear uma sin-
cronicidade, permitindo que recuperemos o que perdemos, às
vezes por meios extraordinários e improváveis.
Tim Wallender, que mora em Memphis, no Tennessee, re-
latou um dos exemplos mais inacreditáveis de objetos perdidos
e encontrados. Aconteceu quando ele e o irmão trabalhavam na
mesma ferrovia. O irmão era engenheiro, e ele, maquinista. No
dia do incidente, os dois estavam trabalhando em trens
diferentes.
“Era o primeiro dia desde que a empresa havia fornecido um
telefone celular para cada engenheiro. O engenheiro com quem
eu trabalhava perguntou quem eu achava que seria o primeiro a
perder o telefone. Eu disse que, sem dúvida, seria meu irmão.”
Alguns quilômetros depois, eles tiveram de parar para liber-
ar alguns vagões. Tim disse que estavam a cerca de 190 quilô-
metros de distância de onde ele e o irmão tinham partido, e só
o seu trem estava programado para parar ali. “Liberamos os
vagões da locomotiva e, quando olhei para baixo, havia um ce-
lular na neve. Meu engenheiro estava lá para ajudar no tra-
balho, e nós dois nos olhamos e dissemos: ‘Mentira!’. Como era
de esperar, tirei a tampa traseira do telefone e havia um ad-
esivo com o nome do meu irmão.”
30/299
Naquela noite, Tim ligou para o hotel em que seu irmão es-
tava hospedado em Chicago e lhe perguntou onde estava o celu-
lar. Ele respondeu que já o procurara em todos os lugares, mas
não conseguira encontrá-lo. “A segunda locomotiva tinha dado
problemas, e o telefone deve ter caído do bolso enquanto ele
caminhava para ver o que havia acontecido. Não sei quais são
as probabilidades de encontrar o telefone do seu irmão a 190
quilômetros de onde ele saíra e somente alguns minutos depois
de eu dizer que ele o perderia. Ou quais são as probabilidades
de parar em cima dele, olhar para baixo e encontrá-lo na neve.”
Essas histórias parecem sustentar o argumento de que vive-
mos em um holograma gigante, onde todas as informações –
passadas e futuras – estão disponíveis para nós. Em uma en-
trevista para a revista Psychology Today, o físico Karl Pribam
disse: “Se olharmos [...] para o universo como um sistema holo-
gráfico, chegamos a uma visão diferente, uma realidade difer-
ente. E essa outra realidade pode explicar coisas que até agora
continuam sem explicação científica: fenômenos paranormais,
sincronicidades, a aparente coincidência dos acontecimentos”.

A sincronicidade como um alerta


No livro Planolândia: um romance de muitas dimensões, de
Edwin Abbott, os seres conscientes vivem em um mundo bidi-
mensional. Um humilde quadrado, que narra a história, sonha
que tenta convencer o rei de um mundo unidimensional – a
Linhalândia – de que existe uma segunda dimensão. Mas o
31/299
rude monarca não lhe dá ouvidos. Depois, o quadrado fica des-
norteado quando encontra uma esfera, cuja missão é apresent-
ar a profundidade à população da Planolândia. Por fim, o quad-
rado começa a entender a terceira dimensão quando visita a
Espaçolândia.
Do mesmo modo, podemos pensar na sincronicidade como
um evento trazido de uma dimensão superior que fornece um
vislumbre de uma realidade que existe além da nossa noção co-
tidiana de causa e efeito.
Um tema parecido é mostrado no filme Pleasantville – a
vida em preto e branco. Um casal de irmãos adolescentes,
David e Jennifer, interpretados por Tobey Maguire e Reese
Witherspoon, é arremessado no mundo em preto e branco de
um seriado da década de 1950, onde a adequação ao padrão é o
ideal. Mas, quando Mary Sue, a personagem de Jennifer no
seriado, começa a questionar a realidade de Pleasantville per-
guntando ao seu professor de geografia o que existe fora da cid-
ade, o mundo insular começa a se romper, e, por fim, a cor pen-
etra no mundo.
Novamente, podemos fazer uma comparação com a sin-
cronicidade. Quando nos tornamos conscientes de eventos co-
incidentes e os reconhecemos como significativos, eles
acontecem com mais frequência, e a “cor” flui no nosso antigo
mundo em preto e branco.
Às vezes, a sincronicidade é um alerta, uma forma de nos
lembrar que a percepção superior está em jogo. Quando es-
tamos no fluxo, passamos por mais eventos sincrônicos, senti-
mos mais prazer e menos dor. Reconhecer e seguir o fluxo de
32/299
coincidências é a nossa via para um patamar superior. Quando
as sincronicidades são drásticas, o sistema de crença é radic-
almente modificado e a vida é profundamente alterada. De vez
em quando, salvam-se vidas, e os céticos começam a acreditar.
Jim, engenheiro mecânico de Minneapolis, é do tipo lógico e
científico, que não acredita em campos místicos. No seu tempo
livre, explora cavernas, minas subterrâneas e outros lugares
escondidos, e participa do mesmo grupo de exploradores urb-
anos mencionado, do qual Gabe Carlson faz parte.
Jim teve um pesadelo na manhã em que ele e alguns amigos
viajaram de carro até Memphis para explorar uma construção
abandonada. “No sonho, eu estava sentado no meio da floresta.
Não sei ao certo por que estava lá. Perto de mim havia uma
pilha de galhos secos. Depois de algum tempo, diversas cobras
saíram do matagal de repente e rastejaram muito rápido à
minha volta. Elas tinham cerca de um metro de comprimento e
estavam tão perto de mim que pensei que poderiam me matar
com uma só mordida. Acordei num pulo.”
Ele ficou confuso e assustado, mas não deu importância ao
sonho, e saiu de manhã com seu amigo Mario. O primeiro des-
tino era uma área rural coberta de árvores no extremo sul de
Illinois, onde havia muitas minas subterrâneas de sílica. Depois
de explorar duas dessas minas, eles voltaram para o carro a
passos rápidos, ansiosos para alcançar os outros amigos em
Memphis. Jim não estava prestando atenção onde pisava, até
que ouviu um sibilar mais à frente. “Eu estava andando tão
rápido que só percebi a enorme cascavel enrolada quando es-
tava a menos de dois metros de distância dela.”
33/299
Jim ficou paralisado. Ele não tinha a menor ideia de quanto
a cobra poderia ser mortal, mas pensou na possibilidade de o
veneno matá-lo antes que pudesse encontrar ajuda. Deu um ou
dois passos para trás, virou para o outro lado e saiu correndo.
“Quais são as probabilidades de acordar, num susto, de um
sonho com cobras e quase seis horas depois me ver a poucos
metros de uma cascavel na vida real? Inacreditável. Uma parte
do meu cérebro se recusa a acreditar que isto realmente tenha
acontecido. Uma ocorrência notável de sincronicidade não é o
suficiente para me fazer acreditar [...], mas me fez pensar no
assunto.” O sonho com a cobra foi claramente um alerta para
Jim.

DESENVOLVENDO A PERCEPÇÃO
A melhor maneira de desenvolver a percepção das
sincronicidades – e, com isso, ter mais experiências – é
registrá-las em um diário ou em um arquivo no com-
putador. Sempre que passar por um acontecimento que
pareça apenas uma coincidência, leve-o a sério.
Descreva-o com o maior número de detalhes que puder.

• Anote o dia, a hora e o lugar em que a sincronicidade


aconteceu.
• Se houve o envolvimento de mais uma pessoa ou
grupo, inclua os nomes e o que vivenciaram. Os
outros reconheceram a sincronicidade?
34/299

• Descreva como se sentiu no momento em que


aconteceu.
• Tente relacioná-la a eventos que acontecem na sua
vida.
• Quais são os símbolos envolvidos?

Depois, pense em como a sincronicidade pode ser


significativa.

• Ela confirma algo que você está sentindo, fazendo ou


pensando em fazer?
• Ela transmite uma mensagem?
• Ela desperta para um novo caminho?
• Ela fornece vislumbres de crenças e da ordem subja-
cente na sua vida?
• Ela dá dicas sobre certo padrão no seu
comportamento?
• Observe outras sincronicidades relacionadas que en-
volvam o mesmo assunto.

Com o tempo, talvez você descubra que muitas das


suas sincronicidades estão centradas em temas específi-
cos – altos e baixos emocionais, criatividade, carreira,
viagem, família ou amigos, animais e bichos de estim-
ação. Quando reconhecer como e quando as sincronicid-
ades são mais prováveis de acontecer, ficará mais fácil
atraí-las. Quando uma sincronicidade se repete ou se ex-
pande, como na história dos três homens de nome
Robert, sua percepção das probabilidades estranhas
35/299

aumenta, e sua capacidade de aceitar as sincronicidades


se expande.
A intuição é como um músculo. Quanto mais é usada,
mais forte ela fica. Quanto mais forte, maior a probabil-
idade de vivenciarmos sincronicidades com mais fre-
quência e aprendermos a usá-las como uma bússola
para nos orientar em nosso próprio caminho pela vida.
No seu diário, formule uma pergunta simples e es-
pecífica. Em vez de “Para onde está indo essa relação?”,
pergunte: “Qual a verdadeira natureza dessa relação?”
Ou então, em vez de perguntar se conseguirá um novo
trabalho, pergunte se é o trabalho certo para você.
Pense na sua pergunta periodicamente à medida que lê
os próximos capítulos. No final do livro, você terá uma
resposta usando a intuição.

Minha pergunta:
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
Numa sociedade que atribui o mais alto valor à mente objetiva,
ao raciocínio com o lado esquerdo do cérebro e à razão, as
emoções costumam ser vistas com certa suspeita, como um
poluente de algum tipo. No entanto, a própria natureza de uma
sincronicidade é subjetiva e emocional. Ela nos impele a invest-
igar partes de nós mesmos que talvez não estejamos prontos
para explorar – ou que não desejemos explorar. De vez em
quando, as sincronicidades começam com um impulso para
fazer algo que nunca fizemos antes. Foi o que aconteceu com o
escritor Kurt Vonnegut.
Certa manhã, muito antes de surgir a internet e os telefones
celulares, Vonnegut sentiu-se compelido a ligar para o cun-
hado, para quem jamais ligara nem tinha motivos para tal. “Saí
de repente do escritório [...], passei pelo corredor até chegar à
cozinha e fiz um interurbano para meu cunhado.” Ele não fazia
ideia de que o homem tinha morrido momentos antes.
Enquanto o telefone chamava, Vonnegut ouviu uma notícia
de última hora no rádio sobre um trem que se precipitara numa
ponte levadiça aberta em Nova Jersey. Embora seu cunhado
nunca pegasse o trem, Vonnegut soube instantanea- mente que
ele era um dos passageiros. Uma hora depois, o escritor estava
a caminho de Nova Jersey, onde sua irmã estava hospitalizada,
com câncer terminal, e os quatro filhos eram agora órfãos de
pai.
Antes de o sol se pôr, Vonnegut se encarregara da casa e das
crianças. Sua irmã morreu no dia seguinte. “Minha esposa e eu,
então, adotamos e criamos os filhos deles.” Algumas semanas
antes do incidente, a esposa de Vonnegut andava repetindo
37/299
uma ideia estranha: “Os refugiados estão vindo, os refugiados
estão vindo.”

O grande Karass
O relato de Vonnegut deste evento dramático foi incluído no
livro A verdade sobre as profecias, de Alan Vaughan. Inicial-
mente, Vaughan entrou em contato com Vonnegut para saber
de onde surgira o conceito de Karass em seu romance Cama de
gato. Caso você não tenha lido esse brilhante romance de Von-
negut, Karass é um grupo de pessoas que trabalham juntas sem
saber que fazem parte de um plano cósmico maior. A pessoa
descobre que faz parte do Karass quando coincidências signific-
ativas ocorrem entre ela e os outros membros do grupo. No en-
tanto, na cosmologia de Cama de gato, é preciso distinguir
entre as coincidências do acaso e as significativas. Quem não
conseguisse poderia estar relacionado a um Granfaloon, um
falso Karass.
O impulso de Vonnegut para ligar para o cunhado fora tão
forte que ele o reconheceu como significativo e agiu. Aparente-
mente, sabia que não era um Granfaloon.
Vivenciamos sincronicidades por razões que talvez não se-
jam óbvias de imediato, mas, quando se manifestam pelos im-
pulsos, como no caso de Vonnegut, precisamos agir, seguir o
impulso. Sim, nosso lado racional gritará, berrará sobre nosso
comportamento irracional, esbravejando diversos motivos para
ignorarmos os impulsos. Porém, quando estamos em sintonia
38/299
com a realidade da sincronicidade e entendemos a coincidência
como significativa, tornamo-nos participantes ativos de uma
camada mais profunda da vida. Quando ignoramos os im-
pulsos, o fazemos por nossa conta e risco.
Como observou F. David Peat em Pathways of chance, “as
sincronicidades podem acontecer quando as pessoas entram
em momentos de crise ou mudança, quando estão apaixonadas,
envolvidas em um trabalho altamente criativo ou à beira de um
colapso. São momentos em que os limites da mente e da
matéria são transcendidos, e as pessoas escapam das distinções
normais e rigorosas que fazem entre interno/externo, subjet-
ivo/objetivo, alma/matéria”.
Portanto, não é de surpreender que, durante esses picos de
experiências emocionais, as sincronicidades caiam de repente
na nossa vida. É como se o universo estivesse disposto a nos
oferecer um guia, a nos ajudar a seguir a direção correta ou nos
alertar de que algo importantíssimo está logo depois da esquina
e que deveríamos nos preparar para isso. Na terminologia de
Vonnegut, somos todos parte de um grande Karass.

Drama
O amor pode mover montanhas. Esse princípio trata da força
poderosa e dinâmica de nossas emoções e do efeito dessa força
no mundo físico. Quando nossas emoções são intensificadas e
nossas intenções estão focadas, coisas acontecem. As circun-
stâncias desencadeiam essas emoções, que podem variar desde
39/299
transições dramáticas que alteram toda a nossa vida – nasci-
mento, morte, casamento ou divórcio, uma mudança, uma cri-
atividade intensa – a dramas comuns que encontramos no de-
correr do cotidiano.
Temos aqui algumas situações que você, possivelmente, de-
ve ter vivenciado. Perceba como cada uma está conectada a um
evento sincrônico, a algo que talvez você tenha ignorado ou se-
quer percebido quando aconteceu.

1. Você é repreendido ou tem uma avaliação negativa no


trabalho, mas não merece. Logo depois, ouve falar que
surgiu uma vaga em outra empresa que se encaixa em
suas habilidades e experiências. E percebe que é hora de
mudar de emprego.
2. No momento em que uma pessoa querida morre, o reló-
gio para. Depois dessa morte, você olha com frequência
para o relógio sempre na mesma hora. Talvez encare
como uma curiosidade ou como uma mensagem de que
continuamos conectados aos entes queridos mesmo de-
pois que eles morrem.
3. Durante uma discussão calorosa, a luz pisca, a energia
vai embora, um transformador explode. A justaposição
dos eventos o desperta para uma percepção mais pro-
funda da dinâmica da relação entre você e a outra
pessoa.
4. O amigo com quem você divide o apartamento se muda
sem nenhum motivo. Em vez de se culpar ou culpar o
outro, você tenta manter a amizade. Enquanto os dois
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estão viajando, você vê uma placa de carro com as suas
iniciais e a palavra bom, uma confirmação de que está
fazendo a coisa certa.
5. Você tem uma visão ou um sonho de uma pessoa que
nunca viu na vida. Algum tempo depois, a encontra.

Pense em um momento emocional da sua vida em que o


mundo interior parece ter coincidido com um evento exterior.
Você ignorou a experiência e considerou-a aleatória e sem sen-
tido? Ou reconheceu a experiência como significativa? Foi
capaz de usar a sincronicidade para tomar uma decisão?

Sinais e símbolos
O grande Karass da sincronicidade fala conosco de muitas
maneiras: pelos impulsos, como no exemplo de Vonnegut, mas
também pelas emoções, visões, relacionamentos, sonhos, pres-
sentimentos e símbolos.
Em geral, as palavras símbolo e sinal são usadas indistinta-
mente. Até nos dicionários, às vezes, uma é usada para definir a
outra. Mas elas, na verdade, são bem diferentes. Sinal é
qualquer objeto, ação, evento ou figura que transmite signific-
ado e aponta para algo definido, tangível, finito, conhecível.
Quando nos aproximamos de um cruzamento e vemos o sinal
vermelho em forma de octógono, pisamos no freio. Símbolo é
um objeto, imagem, situação ou acontecimento que representa
outra coisa. Seu significado pleno pode ser ostensivamente
41/299
óbvio ou pode nos enganar ou iludir por completo, fugindo da
nossa compreensão.
“Todos estamos cercados por uma vasta paisagem de símbo-
los, codificados dentro dos acontecimentos e fenômenos do dia
a dia”, diz Ray Grasse em The walking dream: unlocking the
symbolic language of our lives. Um símbolo pode aparecer
como uma figura peculiar numa nuvem, o vislumbre inesper-
ado de um animal, a descoberta de um objeto incomum, uma
mensagem oculta transmitida numa conversa casual. Grasse
chama isso de “símbolos ambientais”, que carregam mensagens
e pistas sobre os padrões da vida. O desafio está em reconhecê-
los e interpretá-los. À medida que tomamos consciência deles e
compreendemos sua significância, pouco a pouco vamos apren-
dendo a linguagem dos símbolos e nos tornando capazes de
desvendar as mensagens dessas sincronicidades com mais
facilidade.
Robert Hopcke, em Não há acasos, relata um incidente es-
petacular que ocorreu com um homem que se consultou com
ele enquanto ainda trabalhava como estagiário. O cliente havia
sido dominado pela mãe a vida inteira e acreditava que todos à
sua volta – inclusive Hopcke – só queriam controlá-lo e
dominá-lo, assim como sua mãe fizera. Então, eles chegaram a
um impasse na terapia.
Num domingo chuvoso, pela manhã, Hopcke apareceu para
a sessão marcada normalmente e, logo depois do início, houve
um corte de energia. Entrava bastante luz pela janela da sala,
então eles prosseguiram com a sessão como de costume – indo
a lugar nenhum –, e Hopcke decidiu tentar uma abordagem
42/299
diferente. Disse que chegara lá durante uma tempestade e
agora conduzia a sessão sem eletricidade no prédio. Será que
ele aguentaria essa situação desagradável se não estivesse de
fato preocupado com o bem-estar do seu cliente?
À medida que Hopcke prosseguia nesse mesmo estado de es-
pírito, o cliente se acalmou, ponderou, e respondeu: “Entendo.
Talvez você se importe, e talvez nem tudo se trate de energia”.
No mesmo instante a energia foi restabelecida, iluminando a
sala. Hopcke explicou que a falta de energia e o início da sessão
na escuridão “refletiam o estado emocional de uma relação em
que nenhum de nós era capaz de encontrar seu caminho para a
luz da consciência”. Mas, uma vez conectado emocionalmente
com o cliente, e este tendo entendido e se sentido fortalecido de
novo, “a sala de repente foi tomada pela energia literal e
emocional”.
Hopcke escreveu: “Em todas as sincronicidades, o que im-
porta não são os ‘fatos objetivos’ das coincidências, mas o im-
pacto emocional que elas exercem nas pessoas envolvidas”.
Impacto emocional. É isso que move montanhas. E, quando
trazemos nossos desejos e intenções para a equação, a mágica
acontece. Há momentos em que queremos algo com tanta
veemência e desejamos fazer o que for preciso para a mudança
acontecer que o universo responde rápida e literalmente, de
uma maneira que não podemos desprezar como sendo uma co-
incidência aleatória.
Quando nossa filha Megan voltou para cursar o penúltimo
ano da faculdade, estava um pouco desnorteada por causa de
uma relação que tivera fim poucos meses antes. No dia em que
43/299
voltou para o alojamento, o jovem em questão a recebeu com
um abraço apertado, mas, naquele mesmo dia, quando
passeavam com amigos em comum, surgiu um desconforto
entre os dois.
Ela é defensora da lei de atração – especificamente por meio
de Abraham, guia espiritual de Esther e Jerry Hicks. Então,
percebeu a importância de se mudar para um lugar onde
houvesse “melhores vibrações”. E buscava uma confirmação de
que poderia fazer aquilo.
Naquela tarde, ela caminhou até Sarasota Bay para ver o sol
se pôr. O celular estava no bolso, e o teclado desbloqueado.
Quem tem um telefone celular sabe que quando o teclado está
desbloqueado e o telefone no bolso, os movimentos do corpo
podem provocar uma ligação ou digitar mensagens aleatórias.
O resultado sempre é incompreensível. Mas, enquanto Megan
estava sentada no dique, num “momento perfeito” de otim-
ismo, sentiu o telefone vibrar dentro do bolso.
“Peguei o aparelho esperando ver uma chamada”, lembra-se
Megan. “Mas, em vez disso, havia uma mensagem escrito
ACREDITAR 88. Não digitei a mensagem. Ninguém a enviou
pra mim. Ela foi escrita pelos movimentos do meu corpo,
porque o teclado não estava bloqueado. Até a palavra
ACREDITAR estava escrita corretamente! E 8 é meu número
predileto; havia dois! Vocês chamam isso de sincronicidade.
Para mim, significa que eu estava entrando em alinhamento
com a Fonte. Foi uma afirmação.”
O número 8 é o símbolo do infinito. Se os físicos quânticos
estiverem certos, se de fato nossas intenções puderem afetar a
44/299
matéria, então a experiência de Megan parece sugerir que, às
vezes, esse efeito pode ser muito literal. Enquanto buscava con-
scientemente por uma vibração melhor, aquela mensagem lhe
confirmou que estava no caminho certo, que poderia ir além
daquele mal-estar.

Altos e baixos
Se quisermos nos beneficiar de uma sincronicidade, precisam-
os, primeiro, reconhecê-la como significativa, depois seguir as
pistas e ver aonde nos levam. Contudo, quando estamos no
meio de uma crise, seguir pistas pode não ser tão simples
quanto dar um passo depois do outro. Às vezes, certas coisas
precisam acontecer antes que possamos seguir as pistas.
Esse foi o caso da escritora Sharlie West, cujo marido mor-
reu em 1989. Um ano depois, sua mãe teve um derrame, e
Sharlie precisou enviá-la para uma clínica, pois não podia mais
cuidar dela. A clínica ficava perto, e Sharlie ia vê-la com fre-
quência. Certa tarde, durante uma visita, conversava com a
mãe quando, do nada, disse: “Eu deveria ter me casado com
Jimmy B. Ele sempre se importou comigo”.
A mãe olhou para ela, confusa. Sua filha não mencionava o
nome de Jim há quarenta anos. E se lembrou dele. “Ele era
completamente apaixonado por você”, ela disse. As duas riram.
Sharlie se esqueceu da conversa, e, três semanas depois, sua
mãe morreu.
45/299
Pouco tempo depois, Sharlie estava sentada na sala de casa
com uma amiga quando, de repente, sentiu que alguém
pensava nela. “Foi tão intenso que pude sentir a pessoa na
minha mente, e até mesmo ver sua imagem: meia-idade, cabelo
grisalho, óculos. Ninguém que eu conhecesse. Contei para
minha amiga, mas ela deu de ombros e disse que eu estava ima-
ginando coisas.”
Então, Sharlie recebeu uma carta de condolências de Jimmy
B. Ele lera a nota de falecimento da mãe dela no jornal e pegara
seu endereço na funerária. Sharlie estranhou, mas se lembrou
da conversa que tivera com a mãe e ficou maravilhada com o
interessante sincronismo dos eventos. Será que Jimmy tentaria
entrar em contato se não tivesse lido o obituário da mãe dela?
Quando Jimmy apareceu na sua casa, não muito tempo de-
pois, Sharlie levou um susto. Era o mesmo homem que apare-
cera em sua visão. No entanto, o Jimmy de quem se lembrava
tinha cabelos pretos e não usava óculos, por isso seria
impossível imaginá-lo no presente. “Três semanas depois ele
foi morar comigo, e hoje, 18 anos depois, ainda estamos juntos.
Gostamos de pensar que minha mãe nos ajudou.”
O que a história de Sharlie tem de particularmente cativante
é que sua sincronicidade envolve três grandes transições emo-
cionais num período de cerca de um ano: a morte do marido, a
morte da mãe e o encontro com quem viria a se casar. “Em
acontecimentos do acaso, significativos tanto de maneira emo-
cional quanto sincrônica, nossa experiência psicológica de uma
sincronicidade sempre ocorre para possibilitar que nos mova-
mos adiante de alguma maneira”, escreveu Hopcke. “Durante
46/299
esses períodos, a psique às vezes nos dá, na forma de coin-
cidências significativas, um meio de ajuda interna e
psicológica.”

FREUD, JUNG E O ESTALIDO


Carl Jung vivenciou uma sincronicidade emocional bem
forte em 1909, durante um encontro com Freud em Viena.
Na época, os dois ainda eram amigos, mas havia uma
tensão subjacente na relação, provavelmente graças ao que
Jung descreveria depois como diferenças essenciais em
suas suposições fundamentais sobre a psique humana.
Quando Jung perguntou a Freud sobre suas visões a re-
speito da parapsicologia, este descartou com intensidade o
campo inteiro como sendo um absurdo. Aquilo magoou
Jung, cujas pesquisas o estavam levando cada vez mais
fundo no mundo da parapsicologia, do mito, da religião e
do simbolismo, e ele respondeu rispidamente.
De repente, Jung sentiu como se seu diafragma est-
ivesse queimando, e imediatamente houve um estalo numa
estante próxima, deixando os dois assustados. Jung sug-
eriu que era um exemplo de um “fenômeno catalítico de
exteriorização”. Quando Freud disse que aquela conclusão
não passava de “mera tolice”, Jung previu que aconteceria
de novo. E aconteceu.
Ao escrever sobre esse incidente em sua autobiografia,
Memórias, sonhos, reflexões, Jung observou que jamais
47/299
conversou sobre isso com Freud. A verdade é que ele mar-
cou um momento decisivo na relação dos dois. Jung recon-
heceu que seu caminho estava divergindo do de Freud.
“É como se essa reestruturação interna produzisse uma
ressonância externa, ou como se um rompante de energia
fosse propagado de dentro para fora, no mundo físico”, es-
creveu Peat em Synchronicity: the bridge between mind
and matter. “O estalo da estante é um claro exemplo deste
tipo de exteriorização.”
Jung acreditava que as sincronicidades atingem um pico
nos períodos em que as profundas forças inconscientes são
ativadas. Isso certamente se encaixa na conjuntura que ele
atingiu quando sua obra começou a divergir das teorias de
Freud. O mesmo é válido para o cliente de Hopcke, quando
finalmente percebeu que nem todos pretendiam controlá-
lo.

Se não for por amor, pelo que será?


O título desta seção é inspirado em um popular adesivo de car-
ros nos Estados Unidos. Ele capta a essência do amor como
uma força da natureza e serve para nos lembrar de que, quando
nossas ações são motivadas pelo amor – e não pela amargura,
pela raiva, pelo ressentimento ou qualquer emoção negativa –,
as sincronicidades que geralmente acompanham uma tragédia
podem nos oferecer descobertas profundas, e até mesmo uma
tranquilização.
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Em 1993, Debra Page, uma paranormal da Califórnia, deu à
luz sua segunda filha, Laryssa. A criança nasceu com uma
mutação genética rara e espontânea, e os médicos lhe deram
doze dias de vida. No entanto, Laryssa foi contra todos os pro-
gnósticos, e viveu por quase dois anos. Nessa época, Debra e
seu marido conheceram pessoas prestativas e maravilhosas
numa casa de assistência local. Elas iam até sua casa ajudar a
cuidar de Laryssa. A criança morreu em 9 de outubro de 1995.
Em 2007, Debra e o marido estavam tentando encontrar um
médico para tratar da doença autoimune crônica de Debra. Um
vizinho, que trabalhava na administração do maior hospital de
San Diego, colocou-a em contato com uma médica que suposta-
mente era a melhor na região e estava aceitando novos pa-
cientes. No dia da consulta, eles estavam esperando, dentro da
sala, pela chegada da médica. Quando chegou, ela leu o
histórico médico de Debra e começou a chorar. “Eu conheço
vocês. Trabalhei como voluntária com a Laryssa.”
De repente, Debra também se lembrou dela, uma jovem e
doce mulher que perdera a mãe por conta de um câncer.
“Todos choraram e se abraçaram. Depois ela disse que teve
uma filha. Perguntei quando a menina nasceu, e ela disse ‘9 de
outubro de 1995’. No mesmo dia em que Laryssa morreu.
Ficamos surpresas com as coincidências.”
Debra conseguiu aceitar essa sincronicidade como um “belo
presente do passado”. Foi como se sua filha lhe tivesse esten-
dido a mão para ajudar a encontrar não só a médica de que pre-
cisava, mas uma mulher que também tinha cuidado de Laryssa
49/299
durante seus últimos dias de vida, e cuja filha nascera no
mesmo dia da sua morte.

Conexões com pessoas


Nossos relacionamentos nos oferecem atmosferas abundante-
mente estruturadas para a ocorrência da sincronicidade. Amiz-
ades nos conectam a algo maior que nós, despertando-nos para
um campo misterioso que existe fora da causa e efeito. Você
pode conhecer alguém e descobrir que tem interesses parecidos
com os dele, que tiveram experiências semelhantes e até con-
hecem algumas pessoas em comum. Pode encontrar amigos em
lugares onde jamais esperaria conhecer alguém.
Dê-se alguns minutos e pense nas pessoas fora da sua
família que desempenharam papéis importantes na sua vida.
Perceba como as conheceu e as razões que levaram ao desen-
volvimento da amizade. Procure por algo de extraordinário ou
misterioso no encontro original. Por exemplo, Rob conheceu
seu amigo Rabbit, mencionado no primeiro capítulo, durante a
faculdade, quando os dois chegaram ao mesmo tempo, de bi-
cicleta, num incêndio avassalador que destruiu um estúdio de
dança perto do campus. E descobriram que moravam no
mesmo quarteirão e tinham amigos em comum.
A sincronicidade às vezes ocorre quando velhos amigos es-
tão prestes a ressurgir em nossa vida. Ela pode se revelar at-
ravés de uma palavra, um pensamento, um objeto, até mesmo o
nome de um peixe específico. Richard Arrowsmith, da Escócia,
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estava pescando num dia de outono com o pai e as duas jovens
filhas. Durante o dia, as meninas pescaram uma cavala atrás da
outra, mas Richard não pegou nem meia. Por fim, quase ao
anoitecer, eles resolveram guardar as coisas. O vento estava
forte, e o céu repleto de nuvens. Richard não queria ir embora
de mãos vazias, então lançou o anzol mais uma vez, confiante
de que pegaria algo.
De repente, sentiu um forte puxão na linha, e a vara en-
vergou tanto que achou que ela partiria ao meio. Ele estava
puxando “um colosso”. Não sabia que tipo de peixe era, mas
seu pai lhe disse que era um pollock, uma espécie de bacalhau.
Como eles tinham devolvido as cavalas para o mar, resolveram
levá-lo para o jantar.
Foi a primeira vez que Richard comeu pollock. O peixe era
grande o suficiente para alimentar a família inteira, o cachorro
e os gatos. Aquela única pesca se transformou numa
celebração.
Mais tarde, naquela mesma noite, Richard abriu seu e-mail
e encontrou uma nova mensagem. O remetente era Iain Pol-
lock, um velho amigo que não via e com quem não falava há
mais de três anos.
“Nós trabalhávamos juntos, mas quando mudei de emprego
acabamos perdendo contato. O e-mail de Iain Pollock foi total-
mente inesperado. O fato de ele ter decidido retomar o contato
no mesmo dia em que pesquei e comi pollock pela primeira vez
deu um nó na minha cabeça.”
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Para onde você direciona sua atenção?


Qualquer coisa no seu ambiente pode aludir a uma sincronicid-
ade. No decorrer de um dia qualquer, perceba onde você coloca
sua atenção. Há uma esquina específica ou uma área no bairro
que sempre parece atraí-lo toda vez que passa a caminho do
trabalho? Como você se sente diante disso? Por que se sente at-
raído? Talvez esteja entrando em sintonia emocional com uma
sincronicidade que se aproxima. Foi o que aconteceu com
Adele Aldridge.
Durante um período difícil na vida, Adele se consultava com
um terapeuta em Nova York e costumava ir para o consultório
pela West Side Highway. No trajeto, sempre passava por uma
propaganda gigante de cigarros com a fotografia de um homem
charmoso fumando um Winston.
“Achava a imagem tentadora e constrangedora ao mesmo
tempo. Sentia a atração de olhá-la, mas, sendo uma motorista
insegura, sabia que era perigoso olhar a propaganda e dirigir ao
mesmo tempo.” Isso aconteceu todas as vezes em que ela pas-
sou por ali durante oito meses, uma atração e repulsão que a
deixavam confusa.
Até que uma noite, em meados do inverno, com o vento
uivando do lado de fora da janela do quarto, ela se deparou
com a mesma propaganda numa revista. A imagem evocou to-
dos os tipos de sentimentos que não lhe faziam o menor sen-
tido. “Achei o homem hipnoticamente atraente, mas também o
detestei. De repente, cuspi na imagem.” Aquilo a chocou tão
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profundamente que teve certeza de que perdera as estribeiras.
Ela nunca contou isso pra ninguém, nem para o seu terapeuta.
Nove anos depois, quando morava na Califórnia, Adele e
uma amiga foram ao No Name Bar, em Sausalito, para ouvir
jazz. Durante um intervalo, o baterista bem apessoado se
aproximou e se sentou à mesa delas. Adele sentiu-se extrema-
mente atraída por ele, mas também perturbada por alguma
razão. Uma coisa levou à outra, e eles marcaram de ir a San
Francisco na semana seguinte.
Logo que entrou no carro dele, ele pegou um cartão postal
com a imagem da propaganda na West Side Highway. Era o
mesmo homem. Ela não o reconheceu logo de início porque já
haviam se passado nove anos e ele estava pesando uns vinte
quilos a mais. Ela deu um grito quando viu a imagem, uma res-
posta que certamente o baterista não esperava. Adele disse que
tinha uma relação de amor e ódio com a imagem. A resposta
dele? “Acho que você ainda tem uma relação de amor e ódio.”
Você obtém aquilo em que se concentra: esta é a base da lei
da atração. A reação emocional de Adele ao homem da propa-
ganda aparentemente era tão poderosa que reverberou com o
tempo, atraindo o encontro sincrônico com esse mesmo
homem nove anos depois. Pense nas probabilidades. Ela at-
ravessou o país, aconteceu de ir a um bar específico em Saus-
alito na mesma noite em que o homem estava tocando lá, e ele
acabou indo até a mesa dela. Em qualquer conjuntura dentro
desses nove anos, uma única decisão diferente teria mudado as
circunstâncias.
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A mensagem que tiramos da experiência de Adele é incrivel-
mente simples. Se temos emoções negativas fortes que car-
regamos conosco, é provável que as sincronicidades que viven-
ciamos relativas a essas emoções sejam negativas. Não seria
melhor seguir a vida com amor do que com raiva, ódio ou
hostilidade?

TRABALHE A RESPIRAÇÃO
Enquanto lida conscientemente com as emoções, preste
atenção na sua respiração. A consciência da respiração –
o modo como você inspira, expira, qual a profundidade
da respiração, se expira rápido ou devagar – é uma pre-
paração emocional. Quando estiver ciente de sua respir-
ação, diminua o ritmo. Respire mais profundamente. À
medida que sua respiração ficar mais lenta, você se sen-
tirá mais calmo, mais relaxado. Será mais fácil perceber
o que está certo na sua vida e evocar emoções mais fel-
izes. Se ainda não faz meditação, tente durante cinco
minutos por um mês. Você sentirá uma diferença notável
nas suas emoções, e um aumento na quantidade de sin-
cronicidades que vivencia.
Talvez você queira fazer o que a escritora, editora e
médica intuitiva Louise Hay faz toda manhã. Antes de se
levantar da cama, ela agradece por tudo na vida. É um
ótimo hábito a ser cultivado. E o universo sempre re-
sponderá trazendo mais experiências, situações e pess-
oas para que você agradeça.
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Conexões com lugares


Em algum momento da vida, podemos nos sentir fortemente
conectados a um lugar em particular. Pode ser uma cidade,
uma região do país, um trecho de uma praia, um canto numa
floresta, uma casa específica ou um pedaço de terra. Essas con-
exões são intensamente emocionais, arquetípicas e em geral
psíquicas, pois atingem um nível mais profundo.
Uma conexão intensa desse tipo pode ser um convite para
experimentar outro aspecto de nós mesmos. Talvez seja aquele
tipo que pareça nos completar de alguma maneira, ou afirmar
algo sobre quem realmente somos ou queremos ser. Pode ser
um lugar que costumamos visitar nas férias, e um dia perce-
bemos que não se trata só do nosso destino predileto, mas sim
do lugar onde queremos viver. Então, tomamos conhecimento
de um emprego que exige a mudança para a cidade dos nossos
sonhos.
Às vezes, essa conexão é tão emocionalmente carregada que
evoca uma experiência específica por meio da lei da atração e
nos desperta para uma possibilidade mais ampla. Foi isso que
uma certa casa em Big Sur fez com Darryl Armstrong, quiro-
prático em Kentucky.
Há muitos anos, nos primeiros dias depois de abrir seu
negócio, Darryl visitou um amigo em Carmel, na Califórnia. Ele
sempre quisera conhecer a região, principalmente os arredores
de Big Sur, então passou algum tempo dirigindo pela Pacific
Coast Highway e explorando a área.
55/299
Por acaso, ele viu uma grande choupana construída na later-
al de um penhasco, com uma vista impressionante do oceano
Pacífico. “Era óbvio que alguém tinha passado muito tempo e
gastado muito dinheiro construindo aquela propriedade. Fiquei
hipnotizado. Podia imaginar como seria viver numa choupana
com vista para o mar.”
Sempre que estava em West Coast, Darryl passava pela
choupana. Com o tempo, o lugar mudou. Uma cerca foi le-
vantada na estrada e um portão foi colocado. Mas ele ainda
conseguia ver a choupana, o que continuava alimentando sua
imaginação. E ficava pensando como seria viver ali, de frente
para o mar.
Alguns anos depois de descobrir a casa, ele pegou um voo
noturno para sua própria “choupana na floresta” no lago
Barkley, em Kentucky. Exausto, Darryl se intalou em seu as-
sento predileto, perto da saída de emergência, e esticou o
corpo. “Em geral, eu hiberno em aviões, e raramente puxo con-
versa. O avião não estava cheio, mas, certamente, aquele cara
escolheu se sentar na saída de emergência comigo. Por algum
motivo, senti-me atraído pelo seu sorriso e gostei dele imedi-
atamente. Por fim, minha hospitalidade típica do sul sobreveio,
acho, e, como tinha diversos cupons de troca, ofereci uma be-
bida. Ele sorriu, e também me ofereceu uma.”
Enquanto conversavam, Darryl descobriu que o homem era
da Califórnia. Eles começaram a falar de como se sentiam atraí-
dos por determinadas regiões. Darryl mencionou Monterrey,
Carmel, Big Sur. Quando falou da história sobre a choupana de
frente para o mar, a expressão do homem mudou. Darryl não
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pensou nada sobre aquilo, simplesmente continuou descre-
vendo o cenário e disse quanto gostaria de viver lá, com aquela
vista, a paz e a tranquilidade.
Por fim, o homem respondeu que entendia como Darryl se
sentia, que os dois obviamente trabalhavam demais e, quando
chegavam em casa, se tornavam eremitas. Então, pegou sua
pasta e tirou uma foto. “Você adivinhou: ele era o dono da
choupana que sempre apreciei com tanto carinho. Ficamos os
dois surpresos, mas parecia que um ‘ciclo’ se fechara. Saí do
avião naquela noite sabendo que alguém com quem eu com-
partilhara uma empatia mútua gostava tanto da choupana
perto do mar quanto eu.”
Para Darryl, algo fundamental mudou seu modo de perceber
o mundo. A choupana e o cenário excepcional perto do mar o
chamaram, ele se sentiu impelido a responder ao chamado, e
seu desejo atraiu o encontro com o dono da choupana. De
novo, qual a probabilidade de esses dois homens se encontrar-
em em um voo aleatório, sentarem-se um ao lado do outro e
começarem a conversar? Quem orquestra isso, afinal?
O físico F. David Peat provavelmente se perguntava isso
quando uma pequena cidade na Itália chamou sua atenção.
“Em 1994, algum tempo depois que David Bohm morreu, con-
cordei em escrever sua biografia. Visitei parentes dele nos Esta-
dos Unidos, depois concluí que precisava passar algum tempo
em Londres.” Por intermédio de uma imobiliária, conseguiu
alugar um apartamento em Londres por alguns meses, e poder-
ia ir para lá a partir de 15 de dezembro de 1994. Peat e a esposa
colocaram sua casa em Ottawa para alugar, mas rapidamente
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receberam uma oferta generosa de compra, com a condição de
que saíssem no início de agosto.
Esse intervalo significava que Peat e sua esposa teriam três
meses de folga até que o apartamento de Londres estivesse
disponível. Eles pensaram em conseguir outro lugar em Ott-
awa, mas Maureen, sua esposa, adorava a escola de pintura de
Siena, então pediram que uma agente de viagem italiana con-
seguisse um apartamento em Siena.
“Por vários dias antes de viajarmos, insisti que a agente me
desse o endereço e o telefone para passar aos amigos. No dia da
nossa partida, ela confessou que o apartamento dera errado,
mas que conseguira um quarto. Quando chegamos, percebemos
que o quarto não era em Siena, mas um pouco longe de lá, e
teríamos de pegar um ônibus. Era um quarto pequeno, geral-
mente usado por estudantes, sem nenhuma privacidade.”
Eles chegaram no dia 5 de agosto e começaram a visitar di-
versas imobiliárias em Siena, procurando um lugar para alugar
pelos próximos meses. Era o mês da Palio – a grande corrida de
cavalos de Siena – e a cidade estava abarrotada de turistas. O
casal visitou todas as imobiliárias da lista, mas não havia nada
disponível.
Em 8 de agosto, ficou claro que não tinham lugar para ficar.
Questionaram se deveriam voltar para o Canadá ou pegar um
avião para Portugal, onde tinham amigos. Enquanto esperavam
um ônibus, Peat viu uma placa em um estabelecimento na
praça. Era uma imobiliária que não estava na lista oficial que
tinha. Ele entrou, fez a consulta, e lhe pediram que voltasse no
dia seguinte.
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Em 9 de agosto, eles novamente pegaram o ônibus para Si-
ena. O registro daquele dia em seu diário diz: “Estou muito
nervoso, pois apostamos tudo nesse último lance. Então,
primeiro caminhamos um pouco. E vimos dois alemães que
pararam na estrada procurando um escaravelho verde e
dourado”.
O escaravelho dourado tinha um significado especial para
Peat, porque era a mesma criatura que desencadeara as invest-
igações de Jung sobre a sincronicidade. Empolgado, ele disse
para Maureen: “Agora conseguimos alguma coisa!”
Ele entrou no prédio e, como era de esperar, a secretária
disse que um amigo tinha uma casa à venda no vilarejo de Pari,
na Toscana, e talvez quisesse alugar. Em 27 de agosto, eles se
mudaram para a casa em Pari e ficaram lá até 15 de dezembro.
Naquele momento, os dois tinham a intenção de morar em
Londres, e não mais voltar para o Canadá.
Um ano depois, Peat foi convidado para uma conferência na
Itália. Era bem longe do aeroporto, então ele e Maureen de-
cidiram ir por Pari e passar a noite num hotel. Na manhã
seguinte, quando olharam pela janela, viram alguém que con-
heceram em Pari um ano antes. O homem lhes falou sobre uma
casa para alugar na cidade. “Àquela altura não havia ‘es-
trangeiros’ em Pari, e era raro alugar uma casa porque todas
pertenciam a famílias e eram passadas de geração a geração.
Minha esposa viu a casa e disse que ficaríamos com ela. Em
1996, nos tornamos residentes permanentes. Sentimos, de vári-
as formas, que o vilarejo nos chamou, que aquele era o lugar
onde deveríamos morar.”
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Hoje, Peat dirige o Centro de Aprendizagem de Pari, na To-
scana. Lá, palestrantes, artistas, escritores e pensadores con-
vidados ministram workshops e seminários sobre novos
paradigmas, criatividade e, obviamente, sincronicidade.

PRESTE ATENÇÃO NOS SENTIMENTOS


As emoções funcionam como um barômetro preciso do
que está certo, errado ou confuso na sua vida. Por isso,
sempre que vivenciar uma sincronicidade, anote seu es-
tado emocional. Você estava otimista? Estava feliz,
sentindo-se deprimido ou tinha um sentimento inter-
mediário? Em que ou quem estava pensando naquele
momento?
Quando estiver de mau humor, faça uma lista das
coisas que mais gostaria de mudar na vida. Talvez queira
um lugar mais agradável para viver, um emprego mel-
hor, um carro que não cause problemas. Lembre-se de
que você não pode mudar as outras pessoas, não im-
porta quanto gostaria de fazê-lo. Mas pode mudar a si
mesmo.
Depois, liste as coisas de que gosta na vida. Esforce-
se para melhorar seu humor evocando um pensamento
mais feliz, uma lembrança boa, algo que o faça rir ou
sorrir.
Agora você está pronto para a mágica. Esteja atento a
uma sincronicidade que o faça se lembrar do que há de
correto na sua vida. Ao melhorar o humor, aumentam as
chances de manifestação de uma sincronicidade que não
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só reflita esse novo estado de humor, mas também sirva


de guia, inspiração e esperança, como o ACREDITAR 88
de Megan. Tenha em mente que a experiência completa
provavelmente não acontecerá em uma hora, ou no
mesmo dia. A sincronicidade pode aparecer uma ou duas
semanas depois. O fato é que você a reconhecerá e apli-
cará o significado dela na sua vida. Com alguma sorte,
ela abordará um dos itens que você anotou na lista de
coisas que gostaria de mudar na sua vida.
Segredo 3

A TEORIA

A sincronicidade é a avó de todos os fenômenos


paranormais, da telepatia, da precognição, da
clarividência e da visão remota.
“A harmonia invisível é mais forte que a visível.”
– HERÁCLITO
Por ora, esqueça-se de tudo que pensa saber sobre os fenô-
menos psíquicos. Esqueça-se das séries Arquivo X, Medium e
Ghost whisperer. Ao contrário, lembre-se da última vez que
teve um pressentimento sobre alguma coisa, uma intuição, e fez
algo a respeito. Ou pense num sonho que acabou se tornando
realidade. Ou, então, pense com que frequência sabe o que o
outro vai dizer antes que diga. Se alguma vez passou por al-
guma coisa parecida – e a maioria de nós passou –, então você
já está familiarizado com os fenômenos psíquicos e com a sin-
cronicidade, que reside no coração de todos os acontecimentos
psíquicos.

Estamos todos conectados


Carl Jung afirmava que a sincronicidade é a base de todos os
fenômenos psíquicos. Suas visões durante uma forte experiên-
cia de quase morte depois de um enfarte em 1994 influen-
ciaram essa crença. Ele se elevou muito acima da terra até vê-la
como um globo azul, depois passou pelos desertos da Arábia,
sobre os Himalaias cobertos de neve e adentrou um templo in-
diano. Ele tinha certeza de que estava morto e prestes a encon-
trar “com todos aqueles a quem pertenço”. Então, para sua sur-
presa, foi puxado de volta para a Europa, para o hospital e para
seu corpo. Ele acreditava que aquela experiência tinha sido
real, e não imaginada.
Em sua biografia Memórias, sonhos, reflexões, Jung escre-
veu: “Evitamos a palavra ‘eterno’, mas só consigo descrever a
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experiência como o êxtase de um estado não temporal no qual
passado, presente e futuro são um só. Tudo o que acontece no
tempo foi reunido em um todo concreto. Nada foi distribuído
com o tempo, nada poderia ser mensurado por conceitos
temporais.”

VOCÊ ESTÁ SINCRONIZADO?


Para vivenciar sincronicidades com mais frequência,
esforce-se para estar aberto e receptivo a experiências
intuitivas. Marque as perguntas abaixo que se aplicam a
você.
• Mesmo em um estacionamento lotado, você consegue
“criar” espaço?
• Se está com pressa e precisa de uma informação, de
alguma maneira ela surge instantaneamente?
• Você consegue se lembrar dos seus sonhos com
detalhes?
• Já recebeu algumas respostas ou insights de seus
sonhos?
• Acredita haver muito mais coisas sobre o universo do
que aquelas que consegue perceber?
• Quando é impedido de conseguir algo que deseja, con-
sidera isso uma oportunidade?
• Quando uma porta se fecha para você, outra se abre
rapidamente?
• Já teve uma premonição que depois se tornou
verdade?
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• Você procura padrões na própria vida – de comporta-


mento, nas relações e no trabalho?
• Já teve alguma experiência com telepatia?
• Às vezes sabe que existe um e-mail na sua caixa de en-
trada, seja de alguém ou de algum evento es-
pecífico, mesmo antes de abri-la?
• Você capta facilmente o humor das pessoas de quem
gosta?
• Quando algo traumático acontece com alguém que vo-
cê gosta, pressente antes que alguém lhe conte?
• Quando conhece uma pessoa, sente algo de imediato
sobre ela?
• Já precisou de uma quantia de dinheiro para cobrir
uma despesa imprevista e essa mesma quantia
apareceu de repente?
• Antes de fazer uma entrevista de emprego, você já
sabia que ficaria com a vaga?
• Você já pegou algum objeto e soube informações sobre
ele que se confirmaram posteriormente?
• Você tem sensações que não são suas em lugares
históricos ou antigos?
• Você usa algum tipo de sistema de adivinhação para
obter insights e orientação?
• Quando uma “coincidência” acontece, você procura
pelo significado mais profundo?

Se você marcou de:


15 a 20: Você está aberto e receptivo, e provavel-
mente vivencia sincronicidades com frequência.
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10 a 15: Você provavelmente passa por sincronicid-


ades, mas talvez com uma frequência menor do que
gostaria.
0 a 10: Abra sua porta interna. Um universo mágico
espera por você do outro lado.

EXPERIÊNCIAS PSÍQUICAS
As experiências psíquicas emanam do que o físico David
Bohm chamou de ordem implicada. Na sua visão do uni-
verso – bem como na de Jung –, esses aspectos da sin-
cronicidade fornecem pistas vitais de como estamos todos
conectados. O físico Victor Mansfield concorda. Conforme
escreveu em Synchronicity, science, and soul-making,
vivemos “em um mundo radicalmente interconectado e in-
terdependente, um mundo tão essencialmente conectado
num nível profundo que as interconexões são mais essenci-
ais, mais reais que a existência independente das partes”.
Essas ideias se refletem nas tradições espirituais ori-
entais que remontam a milhares de anos. No texto sagrado
indiano Rig Veda, Indra – rei dos deuses e deus da guerra
– lança uma grande rede espiritual (conhecida como Rede
de Indra), na qual todos os membros do cosmos estão in-
terconectados. Em Synchronicity in your life, Shawn Ran-
dall especula que, se a “rede é multidimensional, os pontos
em que seus fios se conectam seriam como pontos de inter-
secção dos quais poderíamos acessar a rede inteira. [...]
66/299
Basicamente, é assim que a sincronicidade funciona”. Em
outras palavras, um puxão reverbera na rede inteira.
Bhagavad Gita, poema religioso hindu, reconhece a
natureza sincrônica da criação e a unidade cósmica subja-
cente. O termo hindu Brahman refere-se à conexão funda-
mental de todas as coisas no universo. A manifestação
dessa unidade universal na alma é chamada de Atman.
O zen-budismo se refere a satori, o sentido de unidade
que experimentamos com o universo e a consciência da in-
teligência compassiva que permeia os mínimos detalhes.
Pratitya samutpada, doutrina da filosofia budista, princip-
almente na China e na Coreia, significa “originação inter-
dependente” e refere-se a uma rede interdependente de
causa e efeito, o princípio motivador do universo.
Chi, segundo a filosofia chinesa, é a força vital que per-
meia todas as coisas e fortalece o universo. Na filosofia
ioga, chi é comparável ao pranayama, manifestada nos
seres humanos pela respiração.
Essas ideias orientais são semelhantes ao conceito de
noosfera, ideia criada pelo francês Pierre Teilhard de
Chardin, filósofo, paleontólogo e sacerdote jesuíta orde-
nado. Ele estava convencido da existência de uma “in-
teligência ordenadora” invisível, uma esfera mental que lig-
ava toda a humanidade. E sugeriu que, à medida que a hu-
manidade se organiza em redes sociais mais complexas, a
noosfera se expande na consciência.
67/299

Premonições e precognições
A premonição geralmente é definida como um sentimento de
antecipação ou ansiedade em relação a eventos futuros. Já a
precognição é o conhecimento de uma situação ou aconteci-
mento futuro.
Por exemplo, suponha que você sinta que deve virar numa
esquina específica, mesmo não sendo seu caminho habitual
para o trabalho. Depois, descobre que houve um grave acidente
no caminho que costuma pegar e o trânsito ficou todo parado.
Isso é uma premonição. Mas se você sonha que alguém lhe en-
viou uma mensagem de texto no telefone com as palavras “Seu
tio faleceu” e ele morre duas semanas depois, isso é uma pre-
cognição – a previsão de acontecimentos futuros que pode
ocorrer momentos ou décadas antes de o evento se desdobrar.
Essas duas habilidades intuitivas originam-se na mente não
local, que opera fora dos limites de tempo e espaço normais.
“Por sua natureza, a mente não local diz respeito a todas as
coisas, porque ela é todas as coisas”, escreveu Deepak Chopra
em A realização espontânea do desejo.
Quando criança, Keith Fraser, arquivista universitário em
Aberdeen, na Escócia, teve uma experiência precognitiva sobre
uma mulher com quem acabou se casando. Durante algumas
visitas à casa de sua avó no início dos anos 1960, Keith lia The
friendship book, da editora D. C. Thompson, para passar o
tempo. Nele, havia várias fotografias, e a imagem de uma jovem
pintando um quadro chamou sua atenção.
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Anos depois, enquanto visitava a casa da namorada pela
primeira vez, viu um exemplar de The friendship book na est-
ante. Ele comentou que costumava lê-lo quando estava na casa
dos avós e começou a folhear o livro. “Foi quando reconheci a
imagem de uma jovem pintando um quadro. Mostrei-a para
meus futuros sogros, e imaginem só minha surpresa quando
me disseram que a foto era da minha futura esposa, que eles
tinham enviado para a editora, D. C. Thompson, no início dos
anos 1960.”
Aos doze anos, Ray Getzinger costumava sonhar com uma
mulher ruiva da Georgia que deixava o cabelo cacheado. Dez
anos depois, em 1966, casou-se com uma mulher ruiva que
morava na Virginia, mas nascera na Georgia. “Depois de um
ano de casados, ela arrumou o cabelo exatamente do jeito que
eu sonhava.”
Tanto Keith quanto Ray ficaram obviamente bastante im-
pressionados pela lembrança de suas experiências passadas.
Assim, quando as mulheres reais apareceram na vida deles, re-
conheceram as impressionantes sincronicidades. Essas históri-
as exemplificam como as sincronicidades nos conectam a algo
maior que nós mesmos, ao que é essencialmente invisível e
desconhecido. Mas se, como afirma a física quântica, a mente
não local existe fora dos limites de espaço e tempo, então talvez
o menino Keith e o sonhador Ray estivessem mergulhando em
possibilidades futuras.
Em seu livro Sincronicidade: a promessa da coincidência,
Deike Begg escreveu: “O aspecto mais interessante de todo
fenômeno sincrônico é que parece haver um conhecimento
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preexistente das coisas que estão por vir, coisas das quais,
naquele momento, não temos absolutamente nenhuma con-
sciência. Parece haver um ‘outro’ que sabe infinitamente mais
do que nós, pode prever o futuro e também tem a capacidade
engenhosa de encontrar a rota mais rápida para nos levar de
volta ao nosso destinado caminho”.

PRESSENTINDO O FUTURO
Assim como Keith e Ray, você também pode ter um vis-
lumbre do futuro. Veja como fazê-lo.
Como explicamos no capítulo anterior, as emoções
geralmente desempenham um papel nas sincronicidades,
inclusive incidentes de precognição. Pense num relacio-
namento importante que não faça parte de seus par-
entes próximos, especialmente um interesse amoroso.
Tente se lembrar de quando se conheceram. Você sentiu
uma conexão imediata, uma sensação de que uma re-
lação íntima e duradoura se desenvolveria? Houve
qualquer sensação física que desencadeou seus
pensamentos? Algumas pessoas sentem os dentes late-
jar ou “crescer” durante encontros importantes que
afetarão o futuro. Outras têm sonhos preditivos ou rece-
bem flashes de imagens relacionadas aos eventos futuros.
Talvez você pense que essas coisas não acontecem
com você, mas talvez aconteçam, e você nunca perce-
beu. Preste bastante atenção aos seus pensamentos e
emoções à medida que eventos importantes acontecem
70/299

na sua vida. Procure padrões. Mantenha um diário. Tente


adivinhar o que vai acontecer, baseando-se nos seus
sentimentos e pensamentos intuitivos. Depois, pense no
que passou e veja como se saiu.
Além disso, mantenha um registro dos seus sonhos,
mesmo que pareçam não fazer sentido naquela hora.
Use um caderno de anotações, um diário ou um arquivo
no computador. Talvez você se surpreenda posterior-
mente ao perceber que um sonho parecia prever o fu-
turo. Antes de ir para a cama, evoque o pensamento de
que terá um sonho preditivo de um acontecimento
futuro.
Ao acordar, tome nota de quaisquer imagens que
lembrar. Não tente interpretá-las, simplesmente anote a
maior quantidade de detalhes possível. Preste atenção
nas pessoas, no cenário e no acontecimento principal.
Anote como se sentiu durante o sonho. Você estava
revigorado e alegre? Com medo e apreensivo? Calmo e
observador? Ou agitado? Mais ou menos depois de um
mês, recapitule os sonhos para ver se algum dos cenári-
os na verdade deu pistas sobre futuros eventos.
A maioria dos seus sonhos será feita de mensagens
simbólicas referentes a coisas que acontecem na sua
vida naquele momento. Mas, vez ou outra, sobretudo se
estiver estimulando o sonho antes de dormir, provavel-
mente descobrirá sonhos que predizem acontecimentos
na sua vida. Quando isso acontecer, anote como se sen-
tiu durante o sonho. Isso pode ajudar a reconhecer out-
ros sonhos precognitivos.
71/299

Vislumbrando o futuro
Também é possível vislumbrar o futuro de modo consciente e
intencional – até mesmo o futuro distante. No final da década
de 1980, nossa amiga Renie Wiley se ofereceu para nos projetar
no futuro por meio da hipnose. Renie não era hipnotista profis-
sional, mas praticava hipnose com a família e os amigos. E
também tinha uma voz reconfortante e uma técnica infalível de
relaxamento. Enquanto ela falava, Trish de repente se viu como
uma mulher alta, totalmente careca, vivendo numa cidade
coberta por uma cúpula.
– Por que as pessoas vivem em cúpulas? – perguntou Renie.
– É mais seguro na cúpula – respondeu Trish. – Lá fora o ar
é ruim, é inóspito.
– Todo mundo vive em cúpulas?
– Só os mais sortudos. Não somos muitos. Há poucas
cúpulas.
– Quantos anos você tem?
– Quase 30.
– Por que você é careca?
– Genética. Todos somos carecas.
– Em que ano você está?
– Não sei.
Trish ficou profundamente abalada com aquela progressão.
Parecia real. Ela conseguiu sentir a estrutura e a realidade da
vida daquela moça.
Não muito tempo depois, encontramos, por acaso, o livro
Mass dreams of the future, de Helen Wambach, Ph.D, e Chet
72/299
Snow. Depois de descobrir que conseguia projetar as pessoas
em suas vidas futuras, a dra. Wambach, terapeuta de vidas pas-
sadas há quase 30 anos, deu início a um projeto meticuloso na
França e nos Estados Unidos no qual projetou 2.500 pessoas.
Ela faleceu antes de o projeto ser completado, mas o dr. Chet
Snow terminou o trabalho e publicou as descobertas.
A maioria dos participantes concordou que, no futuro, a
população da terra estará amplamente reduzida. O futuro que
experimentaram tinha sido dividido em quatro categorias dis-
tintas: um mundo estéril e sombrio, no qual a maior parte das
pessoas vivia em estações espaciais e se alimentava de comida
sintética; outro, no qual as pessoas viviam em harmonia com a
natureza e entre si; um mundo pós-nuclear, povoado por sobre-
viventes; e um futuro em que as pessoas viviam em cidades
subterrâneas fechadas por cúpulas. Ficamos impressionados
com os paralelos.
Snow explicou os quatro cenários diferentes como apenas
probabilidades, futuros potenciais que estamos criando por
meio da consciência coletiva. Tempos depois, ele lançou um
mapa de como seriam os Estados Unidos após as mudanças
que acreditava que aconteceriam com o planeta entre 1998 e
2012. Mesmo assim, ele recomenda que as pessoas visualizem
um futuro mais positivo. Como escreveu em Mass dreams: “Se
estamos continuamente modelando nossa realidade física fu-
tura pelas ações e pensamentos coletivos de hoje, o momento
de despertarmos para a alternativa que criamos é o agora. As
escolhas entre os tipos de Terra mencionados são claras. Qual
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deles queremos para nossos netos? Para qual deles queremos
retornar algum dia?”

Crianças paranormais
Habilidades paranormais são comuns entre as crianças. Seja
por sua falta de condicionamento social ou por qualquer outra
coisa, elas podem ter o dom da telepatia ou da clarividência.
Talvez o futuro lhes seja acessível tanto quanto o presente. Para
ajudar seus filhos a desenvolver habilidades paranormais, tente
este jogo enquanto estiver no carro. O movimento do carro
tende a ser relaxante, induzindo uma espécie de transe.
Arme o cenário. Diga que fará um jogo com cores. Um de vo-
cês será o emissor, que pensará numa cor forte e viva. O outro
será o receptor, que deve dizer a primeira cor que vier à mente.
Depois, inverta os papéis. Ou, então, você pode perguntar à cri-
ança o que acha que acontecerá na vida dela amanhã. Ou na
próxima semana. Os resultados podem ser surpreendentes.
Esses tipos de jogos psíquicos ajudam a desenvolver as per-
cepções das crianças de um modo diferente. Elas aprendem a
confiar nos próprios instintos e na intuição.
Costumávamos brincar assim com nossa filha, Megan,
quando era criança. Mas ficamos surpresos quando, na terceira
série, ela entrou em sintonia com um acontecimento que afet-
aria nossa família.
Durante uma apresentação do Dia de Ação de Graças na
escola primária, Megan mostrou um cachorro que esculpira em
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barro e agradeceu pelo golden retriever que ganharia. Ficamos
confusos. Não tínhamos planos de arrumar nenhum cachorro.
Afinal, tínhamos três gatos. Mas, pouco antes do Natal, um
amigo da família perguntou se poderíamos adotar uma golden
retriever que precisava de um lar. Concordamos em ficar com a
cadela por uma semana para ver como se relacionaria com os
gatos. A retriever, Jessie, se deu bem com os gatos de imediato,
arrumou um canto diante da mesa de Rob e encontrou um
novo lar.
O desejo de Megan por um cão era forte e dominante, e por
isso não há dúvida de que ela atraiu as circunstâncias e a opor-
tunidade para ganhar um. Porém, como ela acertou a raça? Sua
escultura não foi apenas uma sincronicidade, mas sim espe-
cificamente precognitiva.

Telepatia
A telepatia é a comunicação sem fala – apreendemos os
pensamentos, sentimentos e sensações dos outros. A maioria
de nós já experimentou isso uma vez ou outra, em geral com al-
guém muito próximo. Você provavelmente já ouviu alguém
dizer “Eu ia falar exatamente isso”. Ou então já esteve prestes a
pegar o telefone quando recebe a chamada justamente da pess-
oa para quem ligaria.
Imagine que você acaba de visitar seu pai, já idoso, que mora
sozinho. Quando você está quase chegando em casa, ouve a voz
dele, na sua mente, pedindo ajuda. A princípio, você esquece o
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assunto, considerando ser reflexo da sua preocupação com a
saúde dele. Mas a voz persiste na sua cabeça. Você liga para ele
do celular, ninguém atende, e sua preocupação aumenta. Você
vai novamente para o apartamento dele, e o encontra no chão,
incapaz de se levantar e atender o telefone.
Jung, em sua autobiografia, descreve uma experiência
telepática com um de seus pacientes. Ele viajou para ministrar
uma palestra, voltou para o hotel mais ou menos à meia-noite,
mas não conseguiu dormir direito. “Por volta de duas da manhã
[...], acordei de repente, e tive a sensação de que alguém en-
trara no quarto; tive até a impressão de que a porta fora aberta
subitamente. Acendi a luz, mas não havia nada.” Jung pensou
que outro hóspede poderia ter aberto a porta por engano, mas,
quando olhou para o corredor, “estava tão quieto quanto a
morte”.
Esforçou-se para se lembrar do que tinha acontecido, e per-
cebeu que fora acordado “pela sensação de uma leve dor, como
se algo tivesse atingido minha testa e depois a nuca”. No dia
seguinte, Jung recebeu um telegrama informando que um pa-
ciente seu cometera suicídio, atirando em si mesmo. “Depois,
descobri que a bala havia se alojado no fundo do crânio.”
Jung disse que essa experiência foi um fenômeno genuina-
mente sincrônico, em geral associado a uma situação ar-
quetípica – neste caso, a morte. Ele acreditava que o conheci-
mento da morte do paciente se tornara possível porque, no in-
consciente coletivo, tempo e espaço são relativos. “O incon-
sciente coletivo é comum a todos; é o fundamento do que os
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antigos chamam de ‘simpatia de todas as coisas’. [...] O incon-
sciente sabia da condição do meu paciente.”

EXERCÍCIO DE EMISSÃO TELEPÁTICA


Tente este exercício. Pense em alguém para quem quer
ligar. A outra pessoa não sabe do seu desejo. Comece
com alguém que facilmente poderia te ligar. Escreva o
nome dela. Relaxe. Respire bem fundo. Imagine um
cenário envolvendo a pessoa. Se você sabe exatamente
onde a pessoa está e como é o ambiente circundante,
visualize-os.
Depois, concentre-se na pessoa. Imagine mental-
mente o rosto dela e o que pode estar fazendo. Imagine
o sorriso que ela dá enquanto resolve te ligar. Você
atende, ela se identifica e lhe pergunta como está.
Concentre-se nesse cenário durante alguns minutos, de-
pois abandone a imagem.
Se não receber o telefonema depois de um curto per-
íodo, ligue para a pessoa. Pergunte-lhe o que estava
fazendo e se estava pensando em você. Ela pode ter
pensado em te ligar, mas estava ocupada demais. Se
sim, pergunte a que horas começou a pensar em você. O
horário corresponde ao momento em que você enviou a
ela a mensagem?
Se não tiver “sorte”, experimente com outra pessoa
que conhece.
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Clarividência
Você já desejou alguma vez ser como uma mosca na parede?
Poder visitar certa época ou lugar e ver o que acontece lá sem
que ninguém percebesse sua presença?
Puro devaneio? Não necessariamente.
A clarividência, palavra de origem francesa que significa
“visão clara”, é uma habilidade psíquica que se enquadra no
campo da sincronicidade, como Jung descreveu. Trata-se de
um talento extrassensorial que nos permite ver alguma coisa
além do alcance da nossa visão normal. Em outras palavras,
projetamos uma parte da mente em outro lugar. Outro termo
popular para esse talento é “visão remota”, que passou a ser
usado quando militares dos Estados Unidos começaram a usar
espiões paranormais.
Como isso é possível? Uma vez que nosso cérebro é um re-
ceptor físico, nossa mente existe além dos limites do corpo.
Talvez você não perceba isso, mas pode enviar sua mente para
lugares distantes com o intuito de obter informações. Na ver-
dade, isso é feito enquanto dormimos. Pesquisas mostraram
que todas as pessoas, com a prática, podem atingir algum grau
de clarividência. Às vezes, isso acontece espontaneamente. Por
exemplo, em 1759, o sueco Emanuel Swedenborg, cientista, in-
ventor e místico, disse para um grupo de convidados que um
grande incêndio assolava a Suécia a cerca de quinhentos quilô-
metros de distância. Posteriormente, sua afirmação foi confir-
mada. Como na época de Swedenborg não havia telefone,
78/299
rádio, televisão ou internet, essa capacidade era uma habilid-
ade valiosa.

EXERCÍCIO DE VISÃO REMOTA


Mesmo que nunca tenha tido uma experiência es-
pontânea de clarividência, você pode aprender técnicas
que o ajudarão a vislumbrar cenas que acontecem em
outros lugares. Embora este livro não tenha o intuito de
servir como guia para o aprendizado de habilidades
paranormais, vejamos um exercício desenvolvido no In-
stituto de Pesquisas de Stanford. É uma boa prática
como primeira tentativa de visão remota.
Você precisará de pelo menos um amigo, mas prefer-
encialmente dois. Um de seus amigos se dirige a outro
cômodo, escolhe um pequeno objeto e o coloca numa
bolsa, caixa ou envelope, de modo que você não saiba o
que é. Os melhores objetos são aqueles com detalhes
sensoriais. Um pedaço de lixa, por exemplo, tem como
características intrínsecas a cor, a textura e o som. Um
tomate tem aroma, cor, textura e forma. Seu amigo de-
ve permanecer no outro cômodo, a fim de não lhe dar
nenhuma pista.
Sua missão é identificar o objeto usando o poder
psíquico. Feche os olhos e comece a escrever ou gravar
suas impressões. Se preferir, desenhe o objeto.
Se nenhuma impressão vier à mente, tente olhar para
o futuro e visualizar o objeto sendo colocado na sua mão
no final do exercício. Ou olhe para o passado e visualize
79/299

seu amigo colocando o objeto na bolsa, caixa ou envel-


ope. Use todos os sentidos. Permita-se ver, sentir, cheir-
ar, ouvir e provar o objeto. Não tente adivinhar o que é;
leve em consideração suas impressões e deixe a inform-
ação sensorial se acumular.
Enquanto isso, o segundo amigo (se houver) lhe faz
perguntas que o guiarão para novos modos de experi-
mentar o objeto e se manter concentrado. Por exemplo,
se você descreve um objeto redondo e vermelho, seu
amigo poderia perguntar sobre a textura ou o cheiro. Ele
pode lhe sugerir que observe o objeto de um ângulo
diferente. No entanto, é importante que este segundo
amigo também não saiba a identidade do objeto. Do
contrário, pode dar pistas sem querer.
Pare quando não tiver mais impressões. Estabeleça
um limite de tempo de dez ou 15 minutos, e depois re-
verta os papéis. Peça que o primeiro amigo lhe traga o
objeto selecionado. Segure-o nas mãos. Sinta e perceba
todas as suas qualidades. Preste atenção em quais cara-
cterísticas surgem claramente e quais são fracas ou pas-
saram totalmente despercebidas. Você se distraiu com a
tendência de analisar demais? Aprenda a distinguir entre
a tagarelice inútil da mente e o funcionamento psíquico.
Em geral, a visão remota se manifesta como mensagens
sutis e efêmeras, ou imagens que vêm à mente quando
você silencia a tagarelice.

Visão remota avançada


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Obviamente, observadores remotos experientes visam “alvos”
muito mais complexos. Mesmo com sistemas modernos de vi-
gilância eletrônica, o Exército dos Estados Unidos e a CIA
montaram uma equipe de observadores remotos que usam suas
habilidades para analisar alvos escondidos. O programa, con-
hecido como Stargate, existiu de 1973 a 1994. Os alvos favoritos
incluíam atividades secretas na antiga União Soviética. Um dos
observadores mais conhecidos e bem-sucedidos foi o subten-
ente Joe McMoneagle. Depois que o Stargate terminou,
McMoneagle se aposentou e continuou exercitando a visão re-
mota em sua vida pessoal.
Quando Rob estava escrevendo The fog, sobre a experiência
que seu coautor Bruce Gernon tivera no Triângulo das Bermu-
das, deu diversos alvos a McMoneagle para que exercitasse a
visão remota. Gernon voara através de um túnel num enorme
cúmulo-nimbo, e todos os instrumentos eletrônicos do avião
falharam. Ele parecia ter dado um salto no tempo e no espaço.
McMoneagle recebeu um envelope selado, escrito Alvo #2,
contendo uma ilustração do avião de Gernon saindo de um
túnel sob uma tempestade gigantesca. Embaixo do desenho
havia uma legenda: “Saindo do vórtice do túnel do tempo. 4 de
dezembro de 1970”. Num lembrete colado do lado de fora do
envelope lia-se: “Por favor, descreva com detalhes o alvo re-
tratado em 4/12/1970”. A única coisa que McMoneagle tinha
para se guiar era a data.
McMoneagle primeiro sentiu o som. “Tive uma forte
sensação de um barulho, de motor ou do vento, e um rápido
movimento, como se me movimentasse em um veículo”, ele
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começou a descrever. “Estou sentado do lado esquerdo, sou
homem, e minhas mãos seguram um volante um pouco
engraçado.”
Ele chamou o veículo de “um tipo diferente de carro, talvez
um daqueles tipos radicalmente diferentes da década de 1970”.
Disse que o motorista usava algo na cabelça, mas não era um
capacete. “Poderia ser uma espécie de fone de ouvido para es-
cutar música [...] ou algum tipo de abafador para reduzir os for-
tes sons sibilantes.”
McMoneagle descreveu um painel complicado, “ocupado por
muito mais equipamentos que um automóvel comum”, e acres-
centou: “O motorista parece mais preocupado com o painel do
que em olhar para onde está dirigindo [...]. Ele está ligando e
desligando coisas diferentes [...]. O motorista está bastante
agitado e confuso [...]. Tenho uma forte sensação de que os
barulhos sibilantes vêm do fone, e ele está tentando mudar os
canais em algum dos equipamentos de rádio, mas tudo o que se
ouve são ondas sobrepostas de ruído ou estática”.
McMoneagle concluiu que “o automóvel não podia, ou não
devia, estar se movendo. Mas, de todo modo, está, e o mo-
torista não parece preocupado para onde está indo, mas sim
com a falha do sistema. Por isso é muito possível que seja um
automóvel ou um barco, e, muito mais, que seja uma
aeronave”.
Ele prosseguiu, dizendo: “a aeronave entrou em um canal
muito estreito, com uma corrente de ar extremamente calma
[...] e dois gradientes de temperatura muito bem definidos, que
se juntavam enquanto a aeronave passava, cuja polaridade era
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oposta às temperaturas variáveis do revestimento da aeronave
[...]. Essas descargas bipolares basicamente provocaram uma
contínua reinicialização dos equipamentos eletrônicos, um
ciclo que parecia ser uma espécie de interferência a bordo”.
McMoneagle descobriu precisamente que o alvo era uma
aeronave, e que o piloto agitado estava lidando com o mau fun-
cionamento do equipamento sob condições incomuns. E tam-
bém pareceu descrever um túnel – um “canal estreito”. Ele não
sentiu nenhum movimento extraordinário através do tempo e
do espaço – aquela parte da experiência de Gernon só ocorreu
depois que escapou do túnel.
Ainda que o voo tivesse ocorrido há décadas e McMoneagle
não soubesse nada sobre ele, sua capacidade de se conectar
com a experiência resultou na sincronicidade: a descrição de
um acontecimento que lembrava o que Rob tinha em mente.
Em outras palavras, o interno conectou-se com o externo de
uma forma que não pode ser explicada pela causa e efeito.

Empatia e psicometria
No capítulo 2, falamos sobre a relação entre as emoções e a sin-
cronicidade. Pessoas dotadas de habilidades empáticas, no ent-
anto, levam essa conexão um passo adiante. Uma pessoa “em-
pática” entra em sintonia com as emoções e sensações físicas da
pessoa que está sendo “lida”. A empatia já nos foi descrita como
uma “abertura ao vasto e tumultuoso oceano dos desejos,
83/299
conflitos, dores, triunfos e alegrias específicos da pessoa que
você está lendo”.
Millie Gemondo, uma paranormal de West Virginia, afirma
que às vezes a conexão emocional com a pessoa que está sendo
lida simplesmente penetra na sua consciência. Enquanto lia
uma amiga na costa oeste da Flórida, ela de repente sentiu uma
dor no peito e disse, sem pensar: “Você tem um pequeno tumor
no seio esquerdo. Vá ao médico imediatamente”. A amiga foi ao
médico no dia seguinte. Como era previsto, um pequeno tumor
foi encontrado e posteriormente removido. O alerta de Millie
pode ter salvado a vida da amiga.
Algumas dessas pessoas “empáticas”, quando seguram obje-
tos que pertencem à pessoa que estão lendo, conseguem ler
seus pensamentos, que ficam impregnados no objeto. Essa ca-
pacidade é conhecida como psicometria ou toque psíquico. O
termo é derivado de duas palavras gregas: psyche, que significa
“alma”, e metro, que quer dizer “medida”.
Talvez você já tenha experimentado o toque psíquico ao se-
gurar um objeto velho ou visitar um lugar antigo. Alguns ar-
queólogos até já usaram psicometristas qualificados a fim de
obter orientações para a pesquisa de culturas antigas. O detet-
ive psíquico Johnny Smith, personagem representado pelo ator
Anthony Michael Hall, exibia essa capacidade semanalmente
na série de TV O vidente. Toda vez que Smith tocava um objeto
de interesse, sua reação era fundamental para a solução de um
crime ou para revelar um mistério.
Mas nem tudo é ficção. Renie Wiley, artista e uma dessas
pessoas “empáticas”, falecida em meados da década de 1990,
84/299
costumava segurar objetos que pertenciam às pessoas que ela
estava lendo.
Em 1982, Renie e um agente do Departamento de Polícia de
Cooper City, na Flórida, passaram de carro perto de um centro
comercial em Hollywood, Flórida, onde o garoto Adam Walsh
tinha sido visto pela última vez, fazendo compras com a mãe,
no dia 27 de julho de 1981. O policial acreditava que Renie con-
seguiria, psiquicamente, capturar algo sobre o menino desa-
parecido – onde ele estava, o que acontecera, se tinha sido
raptado. A polícia suspeitava de rapto, mas não havia qualquer
pista. Renie não tinha um objeto que pertencesse a Adam, mas
cartazes com a foto do garoto estavam colados em todo o sul da
Flórida, como se seus olhos, grandes e inocentes, suplicassem
ajuda. O rosto dele estava presente no consciente coletivo, e
parecia ser tudo do que Renie precisava.
Quando estavam a poucos quilômetros do shopping, Renie
levou as mãos rapidamente até a garganta. Ela ficou sem ar e
começou a sufocar. O policial já tinha trabalhado com ela o su-
ficiente para entender que estava descobrindo algo relacionado
a Adam, e saiu dali a toda velocidade. Depois de dirigir vários
quilômetros, ele desviou para o acostamento.
“Adam foi decapitado”, ela disse, soluçando.
Pouco tempo depois, a cabeça do menino de seis anos de id-
ade foi encontrada em um campo em Vero Beach, a mais de
1.500 quilômetros ao norte do centro comercial de Hollywood.
Numa noite sombria, em meados da década de 1980, acom-
panhamos Renie no caso de uma garota desaparecida. Christie
Luna, de oito anos, desaparecera perto de sua casa em
85/299
Greenacres, na Flórida, no dia 24 de maio de 1984. Por volta
das três horas da tarde, ela foi andando até uma loja para com-
prar comida para gatos e nunca mais voltou. A polícia sus-
peitava de um crime.
Renie pediu alguns brinquedos da menina, sentou-se e, de
olhos fechados, agarrou um velho urso de pelúcia. Ela bal-
ançava o corpo para a frente e para trás, sussurrando baixinho.
Renie era uma mulher alta, de ombros largos, embora naquele
momento tudo em seu corpo parecesse pequeno e infantil. Ela
começou a choramingar, depois chorou, soluçou, mantendo o
corpo curvado sobre o urso de pelúcia.
“O namorado da mãe costumava bater na menina”, mur-
murou Renie. “Ela é surda de um ouvido por causa disso.” A
surdez foi confirmada posteriormente pela mãe.
Acompanhados pelo policial, saímos da delegacia e dirigi-
mos pela noite úmida de Greenacres. Passamos pela casa onde
a menina morava e pela loja para onde ia quando desapareceu.
Renie nos conduziu pelas ruas até chegarmos a uma área ar-
borizada delimitada por uma cerca de tela. Ela não gostou do
que sentiu, e disse que o policial deveria fazer uma busca por
ali.
Renie sentiu que a menina tinha sido assassinada pelo
namorado da mãe, mas o corpo não foi encontrado, e o caso
continuou sem solução.
Passemos para 24 anos depois. Dennie Gooding, uma
paranormal de Los Angeles com quem nós dois nos con-
sultamos, ligou para dizer que estaria visitando o sul da
Flórida, onde morávamos, e que trabalharia no caso de uma
86/299
pessoa desaparecida. Ela planejava ficar com a esposa do poli-
cial que a contratara para analisar o caso. Arranjamos um
tempo para nos encontrar, e acabamos descobrindo que Dennie
estava investigando o caso de Christie Luna.
O oficial de polícia que a contratara trabalhava em casos ar-
quivados para o xerife do condado de Palm Beach. Muito em-
bora Dennie não tenha conseguido localizar o corpo de
Christie, apontou a mesma área arborizada que Renie apon-
tara, diversos acres de um terreno inexplorado, de propriedade
do governo, cercados por tela. “A menina só pode estar enter-
rada lá”, disse Dennie.
O desaparecimento de Christie Luna é trágico, um caso que
talvez jamais seja solucionado, a não ser que se descubram
mais informações. Para nós, as investigações revelaram sin-
cronicidade. Dennie Gooding e Renie Wiley indicaram a
mesma área arborizada onde o corpo poderia ter sido enter-
rado. Os céticos diriam que o local seria um lugar óbvio para
esconder um corpo, que a lógica da causa e efeito – e não a sin-
cronicidade e a habilidade psíquica – estava envolvida. Mas
não há como negar que a sincronicidade foi fundamental no
nosso envolvimento. Dennie, que vive a quase cinco mil quilô-
metros de distância, nos visitou e contou sobre um caso ar-
quivado, que pesquisamos e sobre o qual escrevemos há mais
de duas décadas. Foi como se a própria Christie Luna cutucasse
todos nós, esperando justiça.

Você tem o poder do toque?


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É provável que você tenha algumas habilidades psicométricas,
ainda que não perceba. Responda a estas perguntas para
descobrir.

• Já sentiu alguém te olhando ou sentiu a presença de al-


guém em algum lugar antes de perceber que a pessoa es-
tava lá?
• Tem sensações fortes ou é inundado de emoções e
memórias quando olha fotografias antigas?
• Quando toca outra pessoa ou segura a mão de alguém,
tem impressões sobre a personalidade dela?
• Já entrou num quarto e sentiu que uma discussão ou
outro acontecimento carregado de emoções havia
acabado de acontecer?
• Sente o clima de outras pessoas e se adapta a ele, como se
fosse seu próprio clima?

Se respondeu “sim” para uma ou mais dessas questões, você


deve ter algumas habilidades psicométricas. A única maneira
de descobrir é tentando.

EXERCÍCIO DE PSICOMETRIA
Comece com objetos familiares, como o relógio ou o anel
de uma pessoa da família, ou talvez um broche usado
por sua avó. Se preferir, use uma peça de roupa ou a
carta de um amigo.
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Encontre um lugar tranquilo onde possa relaxar e


limpar a mente. Concentre-se na sua respiração; inspire
lenta e profundamente. Pense positivo. Confie nas suas
habilidades.
Segure o objeto nas mãos ou o pressione contra a
testa, contra o “terceiro olho”. Você pode achar difícil
distinguir o que já sabe sobre o dono do objeto. Se sentir
algo que não sabe sobre a pessoa, tente descobrir se é
verdade.
Se achar complicado ter alguma impressão, não se
esforce muito. Relaxe e respire. Quando sua mente for
levada, perceba as impressões isoladas tocarem de leve
sua consciência. Siga-as, quaisquer que sejam; veja
aonde o levam.
Depois, experimente objetos que pertencem a pess-
oas que não conhece. Veja se consegue obter im-
pressões de uma carta fechada que não era para você e
que você não leu. Ou trabalhe com algo do passado dis-
tante, como uma peça de cerâmica ou uma ponta de fle-
cha. Algumas vezes, você poderá verificar a informação
que obteve. Outras, terá de confiar nas suas sensações.
Segredo 4

A CRIATIVIDADE

A criatividade está no coração da sincronicidade.


“O espaço intermediário [...] é aquele entre o obser-
vador e o observado; o espaço do ato criativo que dá
vida a um poema ou a uma pintura.”
– F. DAVID PEAT, PATHWAYS OF CHANCE
A manifestação de algo é um ato criativo. Assim como qualquer
outra atividade criativa, quanto mais você pratica a manifest-
ação, mais ela se desenvolve em você. Quanto maior sua profi-
ciência, maior será a possibilidade de uma sincronicidade coin-
cidir com suas manifestações. Na verdade, elas devem ser uma
coisa só.
Pense em três objetos que gostaria de ver ou encontrar hoje,
objetos que você sabe o farão feliz. Digamos que sejam uma
rosa, um pingente de ouro e uma libélula. Passe alguns
momentos concentrando-se nesses objetos. Veja cada um deles
nitidamente em sua imaginação, mantendo a imagem na mente
por pelo menos um minuto e meio. Enquanto pensa na rosa,
por exemplo, mantenha a imagem até que veja as pétalas ver-
melhas brilhantes, os talos verdes e espinhosos e as folhas
verdes pontudas. Faça o mesmo com o pingente de ouro e a
libélula.
Depois, continue seu dia. Se visualizou nitidamente os obje-
tos, é provável que encontre cada um deles numa questão de
horas, mas não necessariamente como esperava. Por exemplo,
você pode passar com um carrinho de compras no estaciona-
mento do supermercado e ver uma libélula pairando sobre os
arbustos no canteiro. Alguns minutos depois de chegar em
casa, a campainha pode tocar e um entregador lhe estender um
cartão com uma dúzia de rosas, mas elas são para uma vizinha
que não está em casa. O entregador pergunta se você pode
recebê-las, e, quando pega as rosas, percebe que ele está
usando um pingente dourado no pescoço.
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Ajuda se você tiver um motivo bem claro para escolher o ob-
jeto. No auge do inverno, uma mulher em Madison, Wisconsin,
que não via o sol há duas semanas, queria muito encontrar um
girassol no decorrer do dia. Girassóis sempre a deixavam alegre
e a faziam pensar em estações mais quentes e aconchegantes.
Ainda que estivesse nevando, ela achou que seu desejo poderia
se manifestar. E não sentiu nenhuma resistência.
Naquela dia, encontrou-se com a filha para almoçar num
restaurante que não conheciam. Quando passou pela porta de
entrada, a primeira coisa que viu foi um pôster, na parede, de
um girassol. Essa experiência foi uma sincronicidade? Certa-
mente. Mas foi seu forte desejo – e o poder da intenção e da
imaginação – que ocasionou a manifestação, por meio da lei da
atração.

O poder da imaginação
Nos livros e filmes de Harry Potter, a imaginação permite que
os jovens feiticeiros viajem para espaços intermediários com o
intuito de dominar alguma mágica. Aprender a voar numa vas-
soura nas partidas de quadribol, por exemplo, começa na ima-
ginação. É preciso enxergar-se, na mente, voando e controlan-
do a vassoura. Da mesma maneira, quando Luke Skywalker es-
tá aprendendo com Yoda a dominar a Força, primeiro deve
aprender a fazê-lo na sua mente, de olhos fechados. No filme
Da magia à sedução, todas as mágicas começam de dentro.
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Sabe-se que atletas profissionais também entram nessa
zona, no espaço onde visualizam suas jogadas, seus movimen-
tos, e dão o máximo de si. Essa visualização é feita da maneira
mais detalhada e precisa possível, e eles praticam tudo na
mente antes de efetuar os movimentos.
Como disse Coleridge, “a imaginação é o poder vivo e o prin-
cipal agente de toda a percepção humana”. Se considerarmos a
criatividade um arquétipo, faz todo sentido o fato de que,
quando estamos dominados por ela, nesse fluxo poderoso, es-
tamos criando um ambiente fértil para a sincronicidade.
A maioria de nós tem um talento criativo ou interesse que
gostaríamos de alimentar e desenvolver. Mas encontramos to-
dos os tipos de razões para procrastinar. Dizemos a nós mes-
mos que não temos dinheiro ou tempo para perseguir aquilo
que amamos. Talvez tenhamos medo de não conseguir sobre-
viver daquilo que amamos. Mas a conclusão é que, se não
tentarmos, nunca teremos uma fé verdadeira em nós mesmos,
nunca saberemos quão criativos somos. E, quando não nutri-
mos nossa criatividade, nos fechamos para as sincronicidades
que poderiam nos levar às oportunidades e pessoas certas, no
momento certo.

VOCÊ ESTÁ ABERTO?


Novas experiências são o fundamento de todo processo
criativo. Elas nos ajudam a ver o mundo e a nós mesmos
de uma forma diferente. Estimulam novas ideias e nos
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abrem para novas possibilidades. Então, antes de mer-


gulhar em sua paixão criativa, descubra o quanto você é
aberto a novas experiências. Leia as frases abaixo. Al-
guma delas se aplica a você?
1. Aceito experiências novas.
2. Corro riscos.
3. Gosto de estruturas, desde que não sejam restritivas.
4. Busco emoções em todas as áreas da minha vida.
5. A rotina tem seu lugar, mas prefiro o imprevisível e o
aventuroso.
6. Todas as manhãs, quando acordo, fico louco para
começar o dia.
7. Acredito ser uma pessoa criativa.
8. Consigo manifestar qualquer coisa que imagine.
9. Confio no processo criativo.
10. Consigo tudo o que quero.

Neste momento você começa a compreender. Essas


frases são afirmações que ajudam a preparar o terreno
para sua autoexpressão criativa. Distribua-as pela ge-
ladeira, no espelho, na parede do escritório. Reflita sobre
elas. Diga-as em voz alta. Faça-as se tornar realidade.
Quanto mais você pratica essas afirmações positivas,
maior a probabilidade de escancarar as portas para as
sincronicidades que o permitirão obter tudo aquilo que
quer.

Quando você traz esse tipo de consciência para seu próprio


processo criativo, está convidando a sincronicidade para sua
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vida, o que, por sua vez, ajuda a guiá-lo em seu caminho
criativo.
Judi Hertling, da Colúmbia Britânica, no Canadá, procurava
ferramentas de ensino e capacitação para ajudar uma mulher
com quem trabalhava. Nada que tentara antes pareceu funcion-
ar com essa moça em especial, e já estava ficando sem inspir-
ação. Uma amiga que tinha acabado de ler O segredo sugeriu
que Judi pedisse ao universo o que precisava. “Como se est-
ivesse encomendando numa loja qualquer”, ela riu. “Querido
Universo, peço que me envie a ferramenta perfeita para ajudar
alguém a planejar sua vida cheia de paixão e propósito.”
Duas semanas depois, Judi visitou uma feira de livros usad-
os que acontece anualmente em prol da SPCA, uma sociedade
para a proteção de animais. Trata-se de um dos maiores event-
os relacionados a livros na ilha Vancouver. Depois de três horas
folheando centenas de livros, ela já estava cansada e frustrada.
Então, desistiu e foi para casa. Mas algo no fundo da sua mente
insistia para que verificasse uma mesa com livros de metafísica
e autoajuda mais uma vez. Dessa vez, Judi encontrou um con-
junto com seis fitas cassetes chamado Passion, power, and
purpose [Paixão, poder e propósito].
“Foi só quando cheguei em casa e olhei de fato minha com-
pra que percebi a verdadeira sincronicidade por trás do que
tinha trazido. Dentro, sobre as fitas e o livro, havia um grande
bilhete cor-de-rosa escrito com uma caligrafia bem bonita:
‘Judith, agradecemos o pedido. Sinta-se à vontade para fazer
outros’. O universo tinha realmente me dado aquilo que pedi.
Como se eu mesma tivesse feito o pedido original.”
95/299
Encontros sincrônicos como esse são o que o físico F. David
Peat descreve como “a mente humana funcionando, por um
momento, em sua verdadeira ordem, expandindo-se por toda a
sociedade e natureza, movendo-se em ordens de uma sutileza
cada vez maior, passando pela fonte da mente e da matéria e
penetrando na criatividade em si”.

Ritual
Um ritual é uma ação executada por seu valor simbólico. É
usado na meditação, na visualização, na mágica e nas práticas
religiosas e espirituais. A maioria das pessoas criativas também
usa rituais – que podem ser algo tão simples quanto colocar de-
terminado tipo de música ou acender uma vela quando você se
senta para escrever ou pintar. Ou algo complexo, como proferir
palavras para atingir certo objetivo.
O primeiro tipo de ritual é um sinal para sua musa de que
está pronto para começar o trabalho. É o equivalente a abrir a
porta para seu eu criativo e se tornar um canal para qualquer
coisa que flua através de você. Significa que agora se encontra
em um estado receptivo da mente. O segundo é uma forma de
visualização. Um ritual pode ser uma ferramenta poderosa para
atrair a sincronicidade e desenvolver seus esforços criativos.
Quando a roteirista Hilary Hemingway quis melhorar as fin-
anças da família, ela e o marido, o escritor Jeff Lindsay, foram
até Key West executar um ritual de prosperidade envolvendo
uma antiga e conhecida espécie de paineira perto do fórum do
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condado. A paineira, que aparece no filme Fonte da vida, era
considerada na cosmologia maia a árvore da vida que conecta a
terra ao céu, ou a humanidade ao divino.
Seguindo o ritual tradicional, eles deixaram um bilhete com
seus pedidos no pé da árvore e despejaram rum em volta, “ali-
mentando”, simbolicamente, tanto a árvore quanto a musa. Em
pouco tempo, o romance de Jeff, Dexter, foi vendido para Hol-
lywood e se tornou a série de televisão mais popular do mo-
mento. Depois, Andy Garcia demonstrou interesse em produzir
o roteiro de Hilary sobre os últimos dias de seu tio, Ernest
Hemingway, em Cuba.
Todos temos capacidade de criar novas possibilidades por
meio da imaginação e da intenção; o ritual é apenas uma
maneira de se concentrar nessa intenção. Em cada nível de cri-
atividade – da concepção à execução –, os rituais têm um papel
vital. Mas é a mente não local, a consciência universal, que “nos
permite imaginar além dos limites do que a mente local vê
como ‘possível’, pensar ‘fora da caixa’ e acreditar em milagres”,
escreveu Deepak Chopra em A realização espontânea do
desejo.
Que tipo de rituais você usa em seu trabalho criativo? Tem
alguma técnica para evocar sua musa? Há algum momento do
dia ou da noite em que é mais criativo? Michael Crichton escre-
via quase sem parar quando começava um novo livro. Stephen
King escuta rock no último volume. Algumas pessoas que tra-
balham com criação dão um passeio antes de ir trabalhar, ab-
sorvendo o mundo à sua volta. Julia Cameron escreve diários,
especificamente três páginas pela manhã, à mão, para entrar
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no espírito criativo e começar o dia. Os tipos de rituais que você
faz dizem respeito só a você e ao tipo de trabalho criativo que
executa. Quando pegar o hábito, a sincronicidade não ficará tão
lá atrás.

Sua musa e a sincronicidade


A musa criativa fala conosco de muitas maneiras diferentes; a
sincronicidade é claramente uma delas. Embora esperemos que
a musa sussurre no nosso ouvido ditando o maior romance da
história, ou guie nossas mãos na criação de uma escultura que
se equipare à Pietá, ela trabalha de maneira sutil.
Um dia, em 2001, a escritora Joyce Evans-Campbell estava
vasculhando as prateleiras de poesia numa livraria e encontrou
três antologias de Marilyn Taylor, uma poetisa de Wisconsin
(que em 2008 se tornou poetisa laureada do Estado). Joyce
comprou as três como leitura preparatória para um curso de
pós-graduação em poesia que começaria a frequentar na sem-
ana seguinte. Passou o fim de semana estudando os poemas e
mergulhando no estilo e na voz da poetisa. Seria sua primeira
aula, e não tinha a menor ideia do que esperar do professor.
Estava nervosa por achar que o curso poderia não suprir suas
expectativas.
Na terça-feira, primeiro dia do curso, Joyce passou por um
exame de ressonância magnética que durou mais que o esper-
ado e chegou atrasada para a aula. Ela ficou surpresa ao ver
uma professora, em vez de um professor, na sala. Esperava
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entrar sem interromper a aula, mas a professora se dirigiu a ela
enquanto entrava. “Você é Joyce Evans-Campbell?”
Joyce concordou com a cabeça, repreendendo-se por ter se
atrasado no primeiro dia, e se sentou, perguntando-se quem
seria a mulher e como sabia seu nome. Depois da aula, Joyce
foi até a mesa da professora e pediu desculpas pelo atraso. A
mulher se apresentou: “Meu nome é Marilyn Taylor. Adoro sua
coluna no Journal Sentinel, leio o tempo todo”.
Joyce ficou desconcertada. “Esse encontro criou uma
primeira impressão extraordinária, e os dois anos de estudo
com ela foram ótimos. Essa coincidência significativa abriu as
portas para uma relação mais profunda e ajudou-me a desen-
volver a confiança.”
A complexidade dos acontecimentos que suscitaram essa
sincronicidade é impressionante. Joyce ainda não conhecia
Marilyn Taylor quando encontrou suas antologias poéticas na
livraria. Então, passou o fim de semana inteiro mergulhada no
trabalho de Taylor, e acabou descobrindo que ela daria aula de
poesia porque o professor contratado havia morrido. Em
qualquer momento dessa série de acontecimentos, decisões
diferentes poderiam ter sido tomadas, diferentes caminhos po-
deriam ter sido seguidos, e a conexão poderia de fato não ter
acontecido.
Nesse exemplo, a sincronicidade pareceu remover todas as
barreiras, possibilitando que Joyce encontrasse exatamente a
orientadora correta para aquele período da sua vida.
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CONCLAME SUA CRIATIVIDADE


Pessoas criativas devem ser capazes de se envolver
naquela força primordial da qual fala David Bohm,
porque a criatividade requer um estado alterado de con-
sciência. Mas todos somos inerentemente criativos, por
isso o que fazemos é menos importante que o que
pensamos e sentimos sobre o que estamos fazendo em
determinado momento.
Quando está procurando por uma solução inovadora
ou uma nova maneira de fazer algo – em casa, no tra-
balho, com seus filhos –, por onde você começa? Queixa-
se e fica com raiva, reclama e se preocupa? Sente an-
siedade? Essas emoções só atrairão mais do mesmo. Em
vez de xingar o universo porque não consegue encontrar
uma solução ou por se sentir bloqueado, respire fundo.
Depois, envie um sinal claro para o universo de que quer
experimentar sincronicidades relacionadas aos seus
interesses. Entusiasme-se com isso. Peça uma ori-
entação, verbalmente e por escrito. Veja algumas
sugestões:

• Faça uma “caixa mágica” e coloque nela seus pedidos.


Exponha a caixa de forma destacada. Coloque flores
ou doces ao redor dela, se quiser.
• Chame sua musa. Em Escrever: memórias de um ofí-
cio, Stephen King fala de sua musa, que, na ver-
dade, seria um garoto que mora no porão e adora
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música alta. Sua musa é do sexo masculino ou


feminino?
• Crie um painel de desejos com fotos, anotações, arti-
gos de revista ou qualquer coisa que lembre seus
esforços criativos. Olhe para ele com frequência.
Acrescente novas coisas regularmente.
• Crie um planejamento escrito resumindo tudo o que
quer alcançar em sua vida criativa em uma semana,
um mês e um ano. Atualize-o quando necessário, e
revise-o sempre. Olhe para ele frequentemente.
Leia-o ou o decore, aposte nele com entusiasmo.
• Busque exemplos no seu caderno de sincronicidades
que se relacionem especificamente com sua vida
criativa. Em uma seção separada, escreva a sin-
cronicidade desejada como uma história com início,
meio e fim.
• Antes de ir dormir, medite sobre um sonho. Diga a si
mesmo que terá um sonho com uma mensagem
relacionada a suas atividades criativas, e, mais im-
portante, que se lembrará dele.

Às vezes as sincronicidades parecem nos bloquear, em vez


de servirem como guia. Mas, em última instância, você
descobrirá que houve uma razão para que seu desejo não se
realizasse – e, provavelmente, o resultado será bem melhor.
Por mais que a rejeição e a decepção sejam lugares-comuns
na vida de indivíduos criativos, a perseverança vence; a derrota
nunca deve ser uma opção.
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A criatividade e os sonhos
Algumas das sincronicidades mais dramáticas relacionadas à
criatividade ocorrem nos sonhos, e por meio deles. Visto que
passamos cerca de um terço da vida dormindo, essa área
merece um exame mais detalhado.
Numa noite normal, passamos por quatro fases de sono,
diferenciadas pela frequência das ondas cerebrais, dos movi-
mentos dos olhos e da tensão muscular. Na primeira fase, o
ritmo muda de beta – nossa consciência normal de quando es-
tamos acordados – para alfa, quando as ondas cerebrais oscil-
am de oito a dez ciclos por segundo. Nesse estágio, costum-
amos experimentar imagens hipnagógicas – cenas surreais que
geralmente dizem respeito aos últimos pensamentos que tive-
mos antes de apagar a luz. Essas imagens breves e psicodélicas
podem ser tão significativas e sincrônicas quanto sonhos mais
longos nos estágios mais profundos do sono.
Na segunda fase, o cérebro registra ondas teta, caracteriza-
das por rajadas rápidas de atividade cerebral. Os olhos movem-
se repentinamente para a frente e para trás por trás das pálpeb-
ras. Em geral, esse período de movimento rápido dos olhos,
chamado de sono REM (do inglês Rapid Eye Movement), dura
vários minutos a cada vez. A maior parte dos nossos sonhos
ocorre nesse estágio, que representa até 25% do sono de uma
noite, ou cerca de uma hora e meia a duas horas para a maioria
das pessoas. Durante uma noite normal, passamos por quatro
ou cinco períodos de sono REM. Eles tendem a ser mais curtos
no início da noite, aumentando progressivamente perto da
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manhã; é por isso que, a princípio, é mais fácil nos lembrarmos
dos sonhos matutinos.
O primeiro passo para se lembrar dos sonhos é fácil. Pegue
um caderno e uma caneta, de preferência que tenha luz na pon-
ta. Quando estiver prestes a dormir, pense com vontade que se
lembrará de todo e qualquer sonho relevante para aquilo em
que está trabalhando ou que o está preocupando. Com a prát-
ica, você acordará depois de ter sonhos relevantes e conseguirá
se lembrar do suficiente para fazer anotações. Quando tiver ex-
periência em se lembrar dos últimos sonhos que teve na noite,
aprenderá como retroceder a cada sonho sucessivo de modo
que consiga se lembrar de quatro ou cinco deles.
Com o tempo, o léxico do seu mundo de sonhos surgirá, e
você será capaz de interpretá-los com muita facilidade.
Até mesmo pesadelos podem ter pistas e respostas vitais
para sua criatividade. O inventor Elias Howe sonhou que tinha
sido capturado por selvagens que o atacavam com lanças com
buracos em forma de olho na ponta. Quando acordou do
pesadelo, percebeu que ele lhe dera a peça final de um quebra-
cabeça para sua máquina de costura: o buraco da agulha perto
da ponta.
O escritor Robert Louis Stevenson esforçou-se durante dias
para encontrar o enredo de uma nova história, e acabou
descobrindo-o num sonho, como se lhe tivesse sido entregue. O
resultado foi O médico e o monstro.
Os dois estavam profundamente mergulhados num trabalho
criativo e imaginativo que os consumia. Quando dormiram,
essa intensidade contornou o lado esquerdo e racional do
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cérebro e atingiu o que Peat chama de “espaço intermediário”
para encontrar uma solução. Se não conseguissem se lembrar
dos sonhos, o desenvolvimento de máquinas de costura poderia
ser atrasado por décadas ou mais e a história de Jeckyll e Hyde
não seria escrita! Tendo como base somente esses dois exem-
plos, conseguimos ver o valor de nos lembrarmos dos sonhos.
Escrevemos diários de nossos sonhos há anos e os consid-
eramos extremamente úteis. Nossos sonhos já nos deram in-
sights sobre processos criativos e ideias para livros – e até nos
alertaram sobre vendas futuras dos nossos livros, bem como
nos libertaram de bloqueios criativos.

A comunicação dos sonhos


Há muitos anos, Trish estava ministrando um workshop em
um retiro para escritores. Enquanto falava, começou a sentir
um desconforto que geralmente precede um grande problema
com qualquer projeto criativo no qual esteja trabalhando no
momento. Como era de esperar, no final do dia ela soube que o
romance que estava escrevendo não tinha sido aceito. Esse mo-
mento é sempre deprimente. A mente de Trish lutava para
preencher buracos no enredo, consertar os personagens. Ela
dormiu agitada e sonhou que sua personagem, Mira Morales,
escreveu-lhe uma carta. Quando acordou, as únicas linhas das
quais se lembrava eram: Não se preocupe. Darei um jeito. Com
amor, Mira. Trish se lembrou do conselho de Mira, e con-
seguiu reescrever Black water.
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A ideia para o primeiro romance de Rob, Crystal skull, en-
volvendo a união de duas caveiras de cristal, surgiu num sonho.
Depois de terminar o livro, ele descobriu por acaso um grupo
desconhecido chamado Sociedade Internacional das Caveiras
de Cristal. Escreveu para eles e recebeu um boletim informat-
ivo contendo um artigo sobre a futura união de duas caveiras
de cristal de tamanho natural. Pouco antes de sair para uma
viagem a San Francisco, Rob escreveu para Joanne Parks, dona
de uma das caveiras, que morava em Houston. No caminho, ele
ficou preso durante horas no aeroporto de Houston e, ao
retornar, atrasou-se e foi obrigado a passar a noite lá. Quando
finalmente chegou em casa, recebeu um recado de Joanne
convidando-o para ir a Houston conhecer Max, a caveira de
cristal.
Nesse exemplo, a criatividade não só atraiu a sincronicidade,
mas esta, em si mesma, trouxe uma nova oportunidade. O con-
vite para que Rob visse a caveira de cristal finalmente aconte-
ceu anos depois de ter sonhado com o enredo do livro.
Os sonhos podem fornecer soluções sincrônicas e criativas
para todos os tipos de problemas da vida real. Depois da morte
de seu bisavô, Jennifer Gerard, empresária em Ohio, encontrou
alguns papéis em meio aos pertences dele que detalhavam os
graves apuros pelos quais passou sua família depois de uma de-
pressão financeira.
Seu bisavô morava com a mãe, o pai e o irmão na casa de
madeira da avó dele; o avô dele já tinha morrido há anos. “Tín-
hamos muito pouco dinheiro, uma junta de cavalos, alguns ob-
jetos domésticos e uma carroça”, escreveu o bisavô de Jennifer.
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“Por volta da meia-noite do dia 23 de dezembro, meu irmão,
Wilson, me acordou chorando. Ele me disse baixinho que con-
versou com nosso avô sobre dinheiro. Eu lhe disse que deveria
estar sonhando e que voltasse a dormir. Mais ou menos às
cinco da manhã, ele me acordou de novo e disse que vovô tinha
voltado, que eu devia levantar e fazer exatamente o que ele
disse.”
Os garotos pularam da cama, entraram na cozinha e se ve-
stiram perto da lareira. Wilson disse que o avô lhe contara que
havia dinheiro numa caixa escondida no último degrau da es-
cada, em cima do armário, atrás da cama do pai deles. O avô
queria que os garotos pegassem a caixa e a entregasse à sua
mãe.
Eles encontraram a caixa exatamente do jeito que o avô dis-
sera no sonho de Wilson. Dentro, encontraram duas bolsas de
couro cheias de moedas de prata. “Mamãe começou a chorar, e
logo todos choramos com ela. Depois de nos acalmarmos, papai
e eu contamos o dinheiro. Nas duas bolsas havia 265 dólares,
principalmente em moedas francesas e inglesas. Com certeza
foi um presente de Deus, pois tínhamos menos de cinco dólares
em casa, e um duro inverno pela frente.”

A criatividade e o olhar adiante


Algumas vezes, você só perceberá a relação entre uma sin-
cronicidade e o processo criativo quando o esforço criativo ter-
minar. O surpreendente caso de Edgar Allan Poe e seu romance
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sobre uma aventura no mar, A narrativa de Arthur Gordon
Pym, ilustra até que ponto no futuro a criatividade pode nos
levar.
Na história, três homens e um rapaz de 16 anos estão à de-
riva no mar em um barco salva-vidas depois de sofrerem um
naufrágio. Desesperados, no auge da fome, eles resolvem tirar a
sorte para ver quem seria morto e comido. O serviçal, Richard
Parker, é sorteado e imediatamente apunhalado e consumido.
No dia 25 de julho de 1884, 47 anos depois de Poe escrever o
romance, um serviçal de 17 anos chamado Richard Parker foi
morto e devorado em um incidente parecido. Parker, em sua
primeira viagem em alto-mar, embarcara no Mignonette em
Southampton, na Inglaterra, com destino à Austrália. Mas,
quando o navio chegou ao Atlântico Sul, foi atingido por um
furacão e afundou. Os sobreviventes, que usavam um salva-vi-
das, tinham poucos suprimentos e, depois de 19 dias à deriva,
se desesperaram. Os homens discutiram sobre tirar a sorte
para escolher uma vítima que seria comida pelos outros, mas
escolheram Parker, que estava delirando por ter bebido água
do mar. A tripulação que restou sobreviveu mais 35 dias da car-
caça de Richard até ser resgatada pelo SS Montezuma, nome
dado em homenagem ao rei canibal dos astecas.
A misteriosa conexão entre a ficção e a vida real foi revelada
no dia 4 de maio de 1974, quando um garoto de doze anos, Ni-
gel Parker, parente de Richard Parker, enviou a história para o
Sunday Times de Londres. O jornal estava promovendo um
concurso para escolher a melhor coincidência. A história de
Richard Parker não só venceu, como foi considerada uma das
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melhores “coincidências” já registradas pelo realizador do con-
curso, o escritor Arthur Koestler. Ela também fortaleceu o lugar
de Poe nos anais literários de tudo que é estranho e incomum.
O romance Futility, de Morgan Robertson, publicado em
1898, oferece outro exemplo fascinante de criatividade, sin-
cronicidade e futuro. Nele, um navio supostamente inafundável
chamado Titan bate em um iceberg no Atlântico Norte. A
história fictícia assemelha-se ao naufrágio do Titanic 14 anos
depois. Robertson disse que a ideia do seu livro foi inspirada
por uma “visão bem clara durante um transe”.
Considere essas notáveis semelhanças:

• O Titanic foi o maior transatlântico luxuoso do mundo –


869 metros, pesando 66 mil toneladas –, e uma vez
descrito como inafundável. O Titan foi descrito como a
maior embarcação flutuante – 244 metros, pesando 75
mil toneladas – e considerado indestrutível.
• O Titanic tinha três hélices e dois mastros; o Titan
também.
• As duas embarcações iniciaram a viagem em abril. O Tit-
anic levava somente 20 botes salva-vidas, menos da
metade necessária para a capacidade de três mil pas-
sageiros; o Titan carregava “o mínimo permitido pela
lei”, 24 botes, menos da metade necessária para sua ca-
pacidade de três mil passageiros. O Titan navegou com
2.500 passageiros; o Titanic saiu do porto com 2.207
passageiros.
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Para aumentar as estranhezas desses paralelos, alguns
meses depois de o Titanic afundar, um navio mercante passava
pelo nebuloso Atlântico Norte com apenas um rapaz de
plantão. De repente, ele sentiu que o navio estava na área em
que o Titanic afundara. Apavorado e tomado pelo pânico, soou
um alarme. O navio parou. Quando a neblina começou a se dis-
sipar, os passageiros ficaram aliviados em ver que tinham
parado exatamente no momento oportuno. Um iceberg gi-
gantesco apareceu de maneira ameaçadora na frente deles, bem
no meio do caminho. Inacreditavelmente, o nome do navio era
Titanian.

EXERCÍCIO PARA CRIAR O FUTURO


Se os físicos quânticos estiverem certos e tudo no uni-
verso for intimamente conectado, você pode criar uma
história ligada a um acontecimento futuro. Não é preciso
ser um escritor para fazer esse exercício. Seu propósito é
documentar um incidente futuro.
Diga a si mesmo que se deparará com uma ideia que,
num momento futuro, será como uma manchete de jor-
nal. Pense em termos de alguns dias, semanas ou
meses. Se escrever sobre o futuro distante, talvez não
consiga verificá-la.
Sente-se no computador ou pegue papel e caneta.
Tranquilize sua mente, relaxe e respire profundamente
algumas vezes. Afirme suas intenções. Diga a si mesmo
que sua parte criativa não está ligada ao presente, e
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pode viajar para o futuro. Não crie uma história relacion-


ada a algo que ouviu que pode acontecer no futuro.
Apenas deixe a ideia surgir. Tome nota dos detalhes e
impressões que surgem na sua mente. Não se preocupe
com estilo ou pontuação.
Se nenhuma ideia se apresentar, deixe para lá e de-
pois tente mais uma vez. Talvez você só consiga escre-
ver algumas linhas, e não uma história completa. Tudo
bem. A ideia é usar sua criatividade para se conectar
com o futuro. Quando terminar, guarde o que escreveu e
fique atento para um acontecimento que se assemelhe à
sua história.

A sincronicidade como afirmação


Quando uma parte da sua vida começa a dar errado – um rela-
cionamento amoroso, suas finanças, um emprego, um
empreendimento comercial –, talvez pareça que sua criativid-
ade se esgotou. Porém, se continuar procurando soluções in-
ovadoras, lutando para atravessar o pântano, a sincronicidade
sussurrará nos bastidores como um aliado invisível. Assim, de
repente, conexões são feitas, e a sincronicidade que se mani-
festa no meio de todo o caos é uma afirmação de que se está no
caminho certo, tomando a decisão correta, fazendo a coisa
certa. Para Gail Provost Stockwell, cofundadora do retiro de es-
critores Writers’ Retreat Workshop, foi uma sincronicidade que
manteve o evento vivo, quase completando 25 anos de
existência.
110/299
Em 1987, Gail e seu primeiro marido, Gary Provost,
começaram o retiro, um workshop intensivo e de imersão para
escritores de ficção. A equipe de alunos é formada especifica-
mente para o ofício da escrita de ficção. Autores visitantes, ed-
itores e agentes também são convidados para lecionar e minis-
trar conferências. Gary faleceu de repente em 1995, mas o re-
tiro continuou.
Em 1998, Gail casou-se novamente e, com seu marido,
Lance, estava lutando para dar continuidade aos retiros. “O
número de inscritos caiu, não tínhamos mais um lugar para o
retiro e estávamos sem dinheiro para divulgação”, diz Gail.
“Era um momento de baixa. O futuro do retiro parecia desol-
ador.” Mas eles continuaram fazendo conexões, tendo esper-
anças, seguindo exemplos, tentando diferentes formas de an-
gariar fundos.
Ao retornar de uma deplorável viagem para conseguir apoio
financeiro, Gail sentiu que as coisas não poderiam ficar piores.
Ela se lembra de entrar em casa num sábado de manhã
sentindo-se frustrada e derrotada, pronta para desistir. “E en-
tão, entrei no escritório e encontrei mais de cem mensagens na
secretária eletrônica de pessoas que queriam saber onde po-
deriam se inscrever para o retiro.” Um dia antes, o USA Today
publicara uma matéria de viagem sobre educação nas férias, e o
retiro havia sido mencionado.
Até hoje, Gail não tem certeza de como o USA Today
descobriu o retiro. Mas a oportunidade surgiu exatamente
quando eles precisaram, uma afirmação sincrônica de que o re-
tiro não só sobreviveria, mas floresceria. Hoje, atrai estudantes
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do mundo todo. Muitos dos aspirantes a escritor que fizeram o
curso foram publicados.

DESBLOQUEANDO SUA CRIATIVIDADE


Às vezes, quando estamos envolvidos em um projeto cri-
ativo, encontramos barreiras. Nossos melhores esforços
para prosseguir são bloqueados. Parece que nossa musa
saiu pra almoçar. Como você supera bloqueios que
parecem separá-lo de seu eu criativo?
Primeiro, pense no processo criativo como uma
história. O conflito faz parte do ato de contar histórias, e
o mesmo vale para sua situação. Se tudo corresse bem
desde o início até o final em uma narrativa, provavel-
mente você perderia o interesse depois de algumas
páginas.
Quando aceitar que esses eventuais bloqueios são
normais, você pode usar a sincronicidade para superar
as dificuldades. Veja uma ideia: saia do seu espaço de
trabalho e ouça o que as outras pessoas estão dizendo,
independentemente de estarem conversando com você
ou não. Ou, talvez, escute alguém falando no rádio ou na
televisão. Preste atenção em algumas frases. Mesmo que
o que escute não tenha nada a ver com seu projeto, dê-
se uma chance. Brinque com as palavras. Procure pistas
escondidas. De que maneira elas se aplicam ao seu
problema?
Exatamente no momento em que Rob estava escre-
vendo o parágrafo anterior e se perguntando como
112/299

continuar, Trish gritou: “Ei, olhe aquele gambá do lado


de fora da janela!”. Ironicamente, ver um gambá, de
acordo com um livro sobre simbolismo animal, significa
que é preciso cavar mais fundo e buscar significados
ocultos. Era exatamente sobre isso que Rob escrevia:
buscar significados ocultos. Sincronicidade.
Outra fonte sobre o significado do gambá dá esta sug-
estão: mostre o que sabe e pare de esconder suas habil-
idades. Este também é um bom conselho para superar
um bloqueio.
Segredo 5

AS SÉRIES

A sincronicidade se manifesta em séries de números,


nomes, objetos, palavras, símbolos.
“Agora tenho tantas repetições estranhas de 23 nos
meus arquivos quanto [Charles] Fort tem de chuvas
de peixes, e as pessoas estão sempre me mandando
novas repetições.”
– ROBERT ANTON WILSON, FORTEAN TIMES
Anthony S. Clancy, de Dublin, na Irlanda, nasceu no sétimo dia
da semana, no sétimo dia do mês, no sétimo mês do ano, no sé-
timo ano do século: 7/7/1907. Ele foi o sétimo filho de um sé-
timo filho e teve sete irmãos. No seu aniversário de 27 anos,
numa corrida de cavalos, ele olhou para a lista para escolher
um cavalo na sétima corrida. “O cavalo de número 7 chamava-
se Sétimo Paraíso. A probabilidade de ganhar era de sete para
um.” O que Clancy fez? Apostou sete xelins no cavalo... que
ficou em sétimo lugar. A história de Clancy estava numa carta
escrita a Arthur Koestler depois que este publicou As raízes da
coincidência.

Começando a reparar nas séries


Séries de números, nomes, palavras, frases, canções, objetos e
acontecimentos são um dos aspectos mais curiosos da sin-
cronicidade. Quando acontece, afirmou Frank Joseph, in-
variavelmente sentimos que “algo importante, talvez até divino,
está tentando se comunicar por meio do símbolo numérico”.
Jung, que passou por diversas sincronicidades numéricas no
decorrer da vida, acreditava que os números representam “um
arquétipo de ordem que se tornou consciente”. Os significados
dessas séries podem não ser imediatamente evidentes quando
os experimentamos. Mas, ao interpretá-los como metáforas,
pesquisarmos e usarmos a intuição, podemos ter mais clareza e
uma avaliação mais profunda de como nosso eu interno ou
nosso inconsciente nos guia.
115/299
Digamos que, durante vários dias, você veja uma série de
números em todos os lugares – no relógio, no micro-ondas, no
visor digital do rádio, na TV, nas contas. Esses números
reaparecem com tanta frequência que você comenta com outras
pessoas, e começa a sentir que eles o estão perseguindo. Talvez
você os pesquise no Google para descobrir se significam alguma
coisa e termine por descobrir que outras pessoas estão pas-
sando pela mesma situação, com os mesmos números. Você até
encontra diversos sites e blogs que falam dos mesmos númer-
os, e talvez verifique textos esotéricos e de numerologia para
descobrir a possível mensagem. De repente, um novo mundo
de mistérios sincrônicos se abriu pra você.
Às vezes, o significado de uma série numérica é óbvio. Se seu
número de sorte aparece repetido em todos os lugares, é
provável que algo de bom esteja prestes a acontecer. Se você vê
o número 9111 em todos os lugares, talvez esteja sendo avisado
sobre uma emergência ou crise no futuro próximo. Foi o que
aconteceu com um homem que postou anonimamente em
nosso blog. Nós o chamaremos de John.
Durante vários meses no final de 2008, John olhou repeti-
das vezes para o relógio exatamente às 9h11. Os números sur-
giam toda vez que ligava a TV ou o rádio, e até em conversas.
“Tornou-se algo visível de modo tão preponderante que tive de
prestar atenção.” Vários meses depois de o fenômeno começar,
o pai de John morreu, e uma semana depois, também um
grande amigo. Depois parou. “Em todo o caos que se seguiu às
mortes, esqueci-me disso, até que começou a acontecer de
116/299
novo. Foi quando percebi que estava recebendo chamadas de
911 do universo.”
Nós juntamos informações sobre as séries de números mais
comuns e indicamos a seguir várias interpretações. Mas, como
toda sincronicidade só é significativa para quem a vivencia, o
significado de uma série particular de números é única para
cada indivíduo. Use esses significados e histórias como pontos
de partida para sua própria investigação.

11, 111 e 11:11


Se você buscar 11:11 no Google, aparecerão milhões de sites.
Obviamente, há um interesse considerável nesses números, e
essa série está entre as mais comuns. Até mesmo Keith Olber-
mann, comentarista da rede de televisão MSNBC, vivenciou
uma dessas séries.
Numa noite de jogo no Yankee Stadium, em abril de 2009, o
jogador de beisebol Brett Gardner, do Yankee, tentou acertar a
bola. O taco escorregou das suas mãos, voou até as arquibanca-
das e atingiu um garoto chamado Jacob Smith, sobrinho de Ol-
bermann. Nove anos depois, Chuck Knoblauch, segunda-base
do Yankee, arremessou com muita força para a primeira base.
A bola quicou no telhado da cabine de jogadores e acertou o
rosto de Marie Olbermann, mãe de Keith. Na época, Olber-
mann era comentarista esportivo e estava cobrindo o jogo de
beisebol para a Fox News. Knoblauch e Gardner usavam uni-
forme número 11.
117/299
Vejamos algumas sincronicidades históricas curiosas en-
volvendo o número 11:

• O Armistício de Compiègne foi assinado às 11h11 da man-


hã no dia 11/11/1918.
• A Segunda Guerra Mundial terminou às 11h do dia 11 do
mês 11.
• Yasser Arafat morreu no dia 11/11/2004.
• John F. Kennedy foi assassinado no dia 22/11.
• Supostamente, o calendário maia termina às 11h11, hora
universal, de 2012.
• A Marinha dos Estados Unidos lista um solstício para o
dia 21/12/2012 às 11h11, hora universal.

Uri Geller, famoso paranormal israelense, mantém em seu


site uma ampla seção dedicada ao número 11:11. Ele afirma que
começou a vivenciar esse fenômeno em 1986. Os incidentes se
proliferaram, e ele começou a perceber os números em com-
putadores, fornos de micro-ondas, carros, documentos e quar-
tos de hotel. Quando finalmente resolveu escrever sobre eles no
site, recebeu uma enxurrada de e-mails de pessoas que também
o vivenciaram. O site de Geller explica o fenômeno em detalhes,
mas diz essencialmente que 11:11 é um portal, “uma fenda entre
dois mundos [...], uma ponte que tem como potencial inerente
o fato de interligar duas espirais bem diferentes de energia”.
De acordo com um livro chamado 11:11: Inside the doorway,
esses números tendem a ocorrer durante períodos de
118/299
consciência elevada. Eles reativam “bancos de memória celu-
lar” e agem como comprovação de que estamos no caminho
correto.
Outros significados esotéricos? Você está sendo conduzido a
uma realidade mais profunda, vendo como se separar da ilusão,
aproximando-se do “espírito” ou de uma “consciência extrater-
rena”. O problema com algumas interpretações esotéricas é que
parecem superficiais. Isso não quer dizer que sejam inválidas,
mas que, para você, o surgimento desses números pode indicar
algo mais ordinário.
Confirmações e alertas também parecem acompanhar essa
série. Em um site chamado Celestine Vision, baseado no best-
seller A profecia celestina, um quadro de mensagens sobre a
sincronicidade define 111 ou 1111 como “fluxo energético de
água, de dinheiro, de sexo, de kundalini e magnético. Acontece
quando uma dessas energias se manifesta”.
Ao escrever esta seção, recebemos um boleto da faculdade
de Megan correspondente à taxa de limpeza do dormitório que
ela compartilha com outras três moças. O valor? Cento e onze
dólares e alguns centavos. Certamente ele indicava um fluxo de
dinheiro, mas que saía, não entrava.
No mesmo dia, estávamos escrevendo o primeiro rascunho
deste capítulo e falando com algumas pessoas no nosso blog
sobre o fenômeno 11:11. Fizemos uma pausa para que Rob bus-
casse nosso carro, um Mazda, cujo alternador já tinha sido tro-
cado duas vezes em duas semanas. Quando saímos da garagem
às 15h17, ele olhou o relógio. Como a bateria fora desconectada,
o relógio parou. Ele marcava 11:11.
119/299
O significado que você relacionar a essa série de números,
ou a qualquer outra, pode ser determinado pela sua idade, pelo
histórico familiar, pela cultura e, obviamente, por suas circun-
stâncias atuais. Um dia, Jenean Gilstrap, de Delaware, estava
no carro com seu neto de 17 anos, Christopher, quando ele ol-
hou o telefone celular e sobressaltou-se, dizendo: “Vovó, veja,
são exatamente onze horas. Preciso fazer um pedido!” Jenean,
curiosa sobre a percepção dele a respeito do significado do
número, perguntou o que queria dizer. “Você não sabe? É um
número mágico!”
A escritora Nancy Pickard, cujo romance Virgin of small
plains foi escolhido pelo Kansas Read em 2009, nos enviou um
e-mail no primeiro semestre de 2009 para nos dizer que
acabara de visitar 11 bibliotecas em 11 cidades durante 11 dias.
“Acho que estou fazendo exatamente o que deveria fazer.” Nos
dois exemplos, as pessoas envolvidas viram a série como algo
positivo.
Jeff D’Antonio, professor de física do ensino médio, leu
nossa postagem no dia 11. No dia seguinte, enquanto cumpria
alguns afazeres, ouvindo música no carro, uma música dos
anos 1980 começou a tocar – “Domino”, do Genesis – sobre
guerra nuclear e o efeito dominó. “O primeiro dominó cai, des-
encadeando uma série interminável de eventos – como a
Guerra Fria, a destruição mútua, todos aqueles conceitos dos
quais tanto ouvimos falar na década de 1980. Quando a música
começou, sem querer olhei para o relógio. Estava marcando
11:11:11. Todos esses números juntos se parecem bastante com
120/299
dominós enfileirados, esperando o primeiro cair, não é
mesmo?”
Quando nos tornamos conscientes das séries numéricas,
tendemos a vê-las com mais frequência? Ou estamos recebendo
um vislumbre da simetria interna e da ordem do universo? O
grego Pitágoras, cientista, matemático e sacerdote que viveu
por volta de 500 a.C., pensava que a última era verdadeira. Ele
acreditava que os números constituíam a própria essência do
universo. Para Jung, o 1 era mais que um simples número. Em
Memórias, sonhos, reflexões, ele se refere ao 1 como uma unid-
ade. “Mas também é ‘a unidade’, o Um, Unidade Plena, indi-
vidualidade, e não dualidade – não só um número, mas tam-
bém um conceito filosófico, um arquétipo e um atributo de
Deus, a mônada.”
Impressionante. Independentemente de nos referirmos a es-
sas sincronicidades seriais de 11 como “perseguidoras”, alertas
ou parte integrante da jornada espiritual, é seguro dizer que as
pessoas que as vivenciam abrem seus olhos, prestam atenção e,
por fim, podem ser mudadas pelo que descobrem.
Como a escritora Terri Patrick declarou em nosso blog, a
mensagem do 11:11 é sobre iluminação e esclarecimento. “Pelo
que vi, qualquer pessoa que preste atenção em números re-
petidos geralmente começa uma jornada para determinar seu
significado.” De maneira interessante, o comentário dela foi o
11o, registrado como #11, e enviado durante a 11a hora da noite.

3, 33
121/299
Séries de 3 também chamam a atenção. Esotericamente, o 3
representa a trindade corpo, mente e espírito, mas também se
refere a intuição, inventividade, espiritualidade, criatividade, os
arquétipos de mãe, pai e filho, e a Santíssima Trindade.
Quando vivenciamos séries de 3, qualquer um desses significa-
dos esotéricos pode ser válido, mas, como acontece com toda
sincronicidade, nós mesmos somos os melhores intérpretes da
experiência. Por vezes, a interpretação pode exigir alguma
pesquisa.
Durante uma viagem de avião para a Califórnia, notamos
que o número 33 aparecia com frequência. Fila 33, assento 33,
voo 233. Num período de mais ou menos sete horas, perce-
bemos meia dúzia de repetições do número. Não tínhamos
ideia do que aquilo significava. Trish finalmente recorreu ao I
Ching – antigo oráculo chinês que consiste em 64 desenhos
chamados hexagramas – e procurou o hexagrama 33. Assim
que viu o título – A Retirada –, entendeu a mensagem.
Na época, sua mãe estava em uma clínica para tratamento
de Alzheimer, no quarto 33. Estávamos em “retirada” daquela
situação. Interpretamos a sincronicidade como a confirmação
de que tínhamos feito a escolha certa em dar um tempo. Mas os
números só foram significativos para nós.
Para Kevin Harvick, piloto de stock car da NASCAR, o 33
teve um significado totalmente diferente. Em março de 2009,
ele liderou o circuito oval de meia milha no coração das
montanhas no Tennessee, e venceu o Bristol Motor Speedway.
Ele dirigia o carro 33, tinha 33 anos de idade e era sua 33a cor-
rida. Se observarmos a data da vitória – 21/03/09 –, ainda
122/299
podemos inferir mais dois 33. Se somarmos 2 + 1, temos 3/3,
ou 33. E o ano, 9, é 3 vezes 3, outro 33.
Ray Getzinger – aquele da história sobre a moça ruiva, que
vimos no capítulo 3 – escreveu que, quando estava lendo a
postagem de nosso blog sobre 11:11, concentrou-se em um
comentário de alguém que dizia acordar às 3h33 todas as
manhãs. “Lembrei-me de um episódio de CSI: NY, em que o
tenente Taylor acorda toda manhã às 3h33. Daí, ontem de
manhã, acordei às 3h33.”
Em alguns exemplos, a consciência de determinados númer-
os parece dar início às nossas próprias experiências.

SUAS SÉRIES NUMÉRICAS


Sempre que vivenciar uma sincronicidade de séries
numéricas, tome nota do que estava acontecendo no
momento. Registre suas emoções, quem estava com vo-
cê, todos os detalhes circunstanciais. Com o tempo, deve
surgir um padrão. Você pode descobrir que as séries ten-
dem a aparecer em certos períodos do dia – durante a
noite, por exemplo, ou quando está dirigindo ou
relaxado.
Digamos que, no espaço de diversas horas, você
vivencie uma série do número 8. Sua conta no super-
mercado deu exatamente $ 8,88, e a parcela do seu fin-
anciamento imobiliário foi de exatamente $ 888,88. Para
decifrar a mensagem, parta do significado do número 8
para você. É seu número de sorte? Com o que o associa?
123/299

Já vivenciou sequências de 8 antes? Se sim, em que cir-


cunstâncias? Se nada lhe vier à mente, pesquise o
número. Estude seu simbolismo esotérico e veja se há
algo de interessante. Às vezes, o surgimento de uma
série de números encoraja a percepção, despertando-nos
para os mistérios do universo.

O clube dos 27
Quando nos tornamos cientes das sincronicidades envolvendo
números, parece que elas acontecem em todo lugar. Uma noite,
estávamos na cozinha preparando o jantar enquanto Megan es-
tava na sala, assistindo a uma história de Hollywood sobre Kurt
Cobain. De certa forma, estávamos ouvindo de tabela.
Sabíamos que Cobain cometera suicídio, mas não percebemos
que ele morrera aos 27 anos, assim como os colegas Jimi
Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison e Brian Jones.
Charles R. Cross, biógrafo de Cobain e Hendrix, escreveu
que o número de músicos que morreram aos 27 anos é “real-
mente incrível sob todos os aspectos”. Um site chamado “27
club” lista 34 músicos que morreram aos 27 anos de idade,
desde 1892.
De acordo com a numerologia, se somarmos os números 27,
2 + 7, temos 9, número dos inícios e fins. Pensamos sobre isso.
No dia seguinte, Rob pegou o livro Synchronicity & you, de
Frank Joseph, que caiu aberto nas páginas 28-29. Isso foi o que
Rob leu sobre o número nove: “Entre alguns músicos, ele é
124/299
considerado o número da própria morte. Essa associação neg-
ativa começa com Beethoven, que morreu depois de completar
a nona sinfonia”.
Se você vivenciar séries com 27 e tiver 27 anos, ou menos,
não chegue imediatamente à conclusão de que morrerá nessa
idade. Esse significado específico é apenas um de muitos out-
ros. Em certas tradições, o número 27 representa a “luz divina”,
e não tem absolutamente nenhuma conexão com a morte.
Se o 27 se repete no seu ambiente – por exemplo, sua data
de nascimento, a data de nascimento das pessoas à sua volta, o
número da sua casa, eventos importantes ocorridos nessa id-
ade, dígitos no seu telefone celular –, talvez queira pesquisar o
número. Em um site, um único indivíduo registrou mais de 300
ocorrências do número 27 na sua vida. Esse tipo de padrão –
envolvendo o número 27 ou qualquer outro – pode aludir a al-
guma questão mais profunda, até mesmo um padrão trazido de
uma vida passada.

14
Séries numéricas variam do curioso ao verdadeiramente es-
tranho. Elas podem se aglutinar ao redor de um único aconteci-
mento ou continuar no decorrer de uma vida inteira. Para
Maria, no segundo ano da faculdade, o número 14 ocorreu
quatro vezes em quatro meses.
Uma noite, ela foi parada por uma blitz quando ia para o
McDonald’s. Mais cedo, tinha tomado duas cervejas. Depois de
125/299
testes preliminares, o policial a considerou debilitada, ela foi
presa e passou pelo teste do bafômetro. Muito embora o teste
de Maria estivesse abaixo do limite legal, ela passou 14 horas na
cadeia até que fosse liberada depois de pagar fiança.
Seus pais contrataram um advogado, que concluiu que ela
tinha um forte argumento para ser absolvida, tanto por causa
do vídeo feito durante a abordagem quanto porque o resultado
do bafômetro estava abaixo do limite legal. Depois de analisar
as evidências, o promotor estava pronto para descartar as acus-
ações, mas foi afastado do caso. Outro promotor pegou o caso e
manteve as acusações, e a audiência de Maria foi marcada para
dezembro. Como coincidia com a semana de provas finais na
faculdade, uma nova data foi marcada para fevereiro.
Antes do Natal, 14 escritórios de advocacia entraram com
uma petição afirmando que os postos de blitz naquele condado
específico eram ilegais porque a polícia agia segundo seus
próprios critérios. A petição foi analisada no dia 14 de janeiro e
considerada procedente. Todas as evidências foram rejeitadas
nos 14 casos, incluindo o de Maria. Foram 14 horas, 14 es-
critórios de advocacia, 14 de janeiro e 14 casos.
Talvez o 14 seja o novo número de sorte de Maria. A soma
dos dígitos do número 14 dá 5, que na numerologia é associado
à liberdade. Outra conexão: o nome “Maria” contém 5 letras, e
as letras de seu nome completo, quando convertidas em equi-
valentes numerológicos, equivalem a 5. Não só Maria foi lib-
erada das acusações, como na noite do incidente ela terminou
com o namorado porque queria mais liberdade. Maria sente
126/299
que atraiu a experiência para que pudesse entender melhor o
que, para ela, representava a liberdade.

23
Este número parece bastante inofensivo, mas, quando
começamos a pesquisar, algumas correlações e sincronicidades
são bastante esquisitas. Comecemos com a literatura.
William Shakespeare nasceu em 23 de abril de 1564 e mor-
reu em 23 de abril de 1616. Seu primeiro fólio foi publicado em
1623.
No início da década de 1960, em Tânger, no Marrocos, Willi-
am Burroughs, autor de Almoço nu, conheceu um certo capitão
Clark que comandava uma balsa de Tânger à Espanha. Clark
vangloriava-se do fato de conduzir a balsa há 23 anos sem nen-
hum acidente. Naquele mesmo dia, a balsa afundou, matando
todos a bordo, inclusive ele. À noite, enquanto Burroughs refle-
tia sobre esse pavoroso acontecimento, ligou o rádio e ouviu a
notícia sobre um acidente com um avião que ia de Nova York
para Miami. O avião era pilotado por um capitão Clark, e o
número do voo era 23.
Essa sincronicidade aparentemente chocou tanto Burroughs
que ele começou a compilar uma lista de sincronicidades en-
volvendo o número 23. Em 1965, seu amigo e escritor Robert
Anton Wilson também começou a fazer uma lista de esquis-
itices sobre esse número. Uma das sincronicidades pessoais
que anotou dizia respeito a suas filhas, nascidas nos dias 23 de
127/299
agosto e 23 de fevereiro. Wilson escreveu sobre o número para
a revista Fortean Times em 1977; seu artigo foi publicado na
edição 23.
Hollywood também tem sua parcela de 23. Tomemos como
exemplo a produtora do seriado Arquivo X, chamada Ten-
Thirteen [Dez-Treze]. A soma de 10 e 13 é 23. O criador da
série, Chris Carter, nasceu no dia 13/10. Os fãs de Arquivo X
talvez se lembrem de um silo nuclear abandonado onde era
mantido um óvni. O número 1013 aparecia ao lado do silo. Em
outro episódio, o agente Mulder foi até o apartamento de um
homem que acabara de morrer; o número 23 estava na porta.
Na série de TV Lost, construída sobre camadas de sin-
cronicidades, diversas esquisitices envolvem o número 23.

• Voo Oceanic Flight 815: 8 + 15 = 23.


• O embarque do voo foi no portão 23.
• O assento de Jack no avião era 23A.
• Rose e Bernard estavam sentados na fileira 23.
• Hurley hospedou-se em um hotel em Sydney no 23o
andar.
• A recompensa pela entrega de Kate era de 23 mil dólares.
• Um dos números na sequência de seis com a qual Huxley
ganhou na loteria e que abria a escotilha era 23: 4, 8, 15,
16, 23, 42.

Ainda que a repetição do 23 na série seja intencional, trata-


se do tipo de estranheza que teria atraído a atenção tanto de
Burroughs quanto de Wilson.
128/299
Em 2007, um filme de Jim Carrey, Número 23, recebeu crít-
icas mornas, mas a premissa é intrigante. Walter Sparrow, um
cordial motorista de carrocinha, torna-se obcecado por um ro-
mance policial que gira em torno do número 23. As pessoas no
livro que ficam obcecadas pelo número 23 invariavelmente
acabam morrendo. O personagem de Carrey acredita que a
história é um paralelo de sua própria vida, e que o autor está
escrevendo sobre ele.
Burroughs e Wilson consideravam o 23 primordialmente
como o número da morte. Eles deviam saber de alguma coisa.
O salmo 23 é uma leitura popular em funerais. Burroughs
descobriu que o contrabandista Dutch Schultz mandou matar
Vincent “Mad Dog” Coll na rua 23, em Nova York, quando este
tinha 23 anos de idade. O próprio Schultz foi assassinado no
dia 23 de outubro. Wilson pesquisou um pouco mais fundo e
descobriu que Charlie Workman, condenado por ter atirado em
Schultz, cumpriu 23 anos da sentença antes de ser solto em
condicional. Wilsom percebeu que 23, no código telegráfico,
significa “desligar” ou “interromper a mensagem”. O hexa-
grama 23 no I Ching significa “desintegração”. No livro Um
conto de duas cidades, de Charles Dickens, o 23o homem, Sid-
ney Carlton, é guilhotinado na cena final. No filme O lutador, o
ator Mickey Rourke, que interpreta um lutador de meia-idade
prestes a participar de sua última luta e, provavelmente, mor-
rer, tinha o número 23 nitidamente rabiscado nas tiras de pano
enroladas na perna.
E o que dizer da ciência e da matemática? Nesses campos,
também, o número 23 mostra-se intrigante.
129/299
• Durante a concepção, cada um dos pais doa 23 cromos-
somos para o feto.
• A geometria euclidiana tinha 23 axiomas.
• 23 é o primeiro número primo em que os dois dígitos são
números primos e somam outro número primo.
• O sangue demora 23 segundos para circular pelo corpo
humano.
• A 23a onda a quebrar na praia é duas vezes maior que
uma normal.
• A primeira aterrissagem na Lua foi no mar da Tranquilid-
ade, 23,63 graus leste. A segunda foi no oceano das Tor-
mentas, 23,42 graus oeste. As duas primeiras missões de
aterrissagem foram Apollo 11 e Apollo 12; 11 + 12 = 23.
• A Terra completa seu movimento de rotação a cada 23
horas e 56 minutos.
• O ângulo de inclinação do eixo da Terra é 23,5 graus.
• Os seres humanos têm um ciclo de biorritmo físico de 23
dias.
• O padrão do DNA mostra conexões irregulares a cada 23
seções.
• Os seres humanos têm 23 vértebras na parte principal da
coluna.
• A Convergência Harmônica acontece a cada 23 mil anos.
• A órbita geossíncrona ocorre a 23 milhas acima da super-
fície da Terra.
• O equinócio de outono geralmente ocorre no dia 23 de
setembro.
130/299
• W é a 23a letra do alfabeto. Na numerologia, WWW, ou
World Wide Web, é representado por 23 + 23 + 23.

Repetindo, queremos salientar que vivenciar séries de sin-


cronicidade com o número 23 não significa que você morrerá,
que está amaldiçoado ou qualquer coisa dessa natureza. Mas
poderia significar que passará por um grande período de trans-
formação na vida. A repetição desse número pode indicar um
caminho que você ainda não reconheceu.

137
Esta sequência, e tudo associado a ela, é enigmática e misteri-
osa. Se esse número se repetir na sua vida, ele merece um ex-
ame mais minucioso.
Wolfgang Pauli, um dos primeiros defensores da teoria de
Jung sobre a sincronicidade, ficou perplexo com um dos mis-
térios não resolvidos da física moderna: o valor da constante de
estrutura fina, que envolve o número 137.
Um número primo só pode ser dividido por 1 e por ele
mesmo. Ou, dito de outra forma, primo é um número inteiro
positivo que não se iguala ao produto de dois números inteiros
menores. Isso torna 137 um número primo particularmente en-
igmático. Em Deciphering the cosmic number: the strange
friendship of Wolfgang Pauli and Carl Jung, Arthur I. Miller
fornece uma história breve, porém fascinante, do número 137
no mundo da física quântica.
131/299
Ele foi “descoberto” em 1915 por Arnold Sommerfield, ment-
or de Pauli quando este ainda era estudante. “A partir do mo-
mento em que o 137 apareceu pela primeira vez em suas
equações, ele e outros físicos [...] rapidamente perceberam que
essa ‘impressão digital’ única era a soma de certas constantes
fundamentais da natureza, quantidades específicas que
supostamente seriam invariáveis no universo inteiro, quan-
tidades centrais para a teoria quântica e da relatividade.”
O número se tornou tão enigmático que o grande Richard
Feynman, ganhador do Prêmio Nobel em 1965 por suas con-
tribuições ao desenvolvimento da eletrodinâmica quântica,
disse que os físicos deveriam colocar uma placa em seus es-
critórios para se lembrarem do quanto não sabem. A placa seria
simples: 137.
O número 137 não só é o “DNA da luz”, como diz Miller,
como também está associado à Cabala. Miller explica que, em
hebreu antigo, os números eram escritos com letras, e cada le-
tra tinha um número associado a ela. O sistema se parece
bastante com a numerologia. “Adeptos do sistema filosófico
conhecido como Guematria acrescentam números às palavras
hebraicas e, assim, descobrem nelas significados ocultos.” Em
hebreu, a palavra Cabala tem quatro letras que, somadas, dão
137. De maneira nada surpreendente, os físicos começaram a se
referir ao 137 como um número mágico.
Pauli certamente achava que este era o caso. Ele lutou com
suas implicações quase a vida inteira. Quando foi internado em
um hospital, aos 58 anos, e descobriu que ficaria no quarto 137,
132/299
supostamente disse: “Não sairei mais daqui”. Ele estava certo, e
morreu pouco tempo depois.
F. David Peat teve sua própria experiência com o número
137 quando visitou o Instituto Jung, em Bollingen, na Suíça.
Em um e-mail que nos enviou, ele explicou que foi convidado a
dar uma palestra em comemoração ao quinquagésimo aniver-
sário do instituto. Ao chegar ao hotel, recebeu uma chave e foi
avisado que seu quarto ficava no segundo andar do anexo.
Antes de ir para o quarto, caminhou até o lago para “sentir um
pouco do clima de Jung”. Mas, depois de 30 minutos, nada
aconteceu. Então Peat resolveu voltar para o hotel, dormir e as-
sim, talvez, ele sonhasse com Jung. “Peguei o elevador para o
segundo andar, tirei a chave do bolso e o número era 137! Per-
cebi que eu estava lá para falar de Pauli, e não de Jung.”
Naquela noite, Peat contou a história sobre a chave, e um
idoso no fundo da sala riu. “Depois, quando escrevi uma
equação no quadro, o mesmo homem disse: ‘Não vai dar
certo’.”
Na recepção, Peat perguntou quem era aquele homem, e
descobriu tratar-se de um assistente que estivera com Pauli no
hospital, no quarto 137.
Pauli identificava o número 137 com o arquétipo da morte.
Para Peat, o número era como o cartão de visitas de Pauli.
Como escreveu Frank Joseph em Synchronicity & you, “o re-
ceptor da sincronicidade é seu melhor intérprete. Para
qualquer outra pessoa, o número 137 não significaria nada”.
Até mesmo Hollywood usou o número 137. No seriado
FlashForward, que estreou no canal ABC no segundo semestre
133/299
de 2009, as sete bilhões de pessoas que vivem no planeta per-
dem os sentidos no mesmo momento, por 137 segundos, e
veem uma cena do próprio futuro. Por que esse número? Será
interessante ver como os roteiristas abordam isso no seriado.

Outros tipos de séries


Algumas pessoas nunca tiveram uma experiência com sin-
cronicidades envolvendo séries numéricas. Mas vivenciam
séries de nomes, frases, lugares e até mesmo datas. Se você se
enquadra nessa categoria, adquira o hábito de anotar as con-
dições e o seu humor no momento da experiência. Além disso,
registre a data e a hora em que a sincronicidade aconteceu.
Séries sincrônicas envolvendo nomes, frases, lugares e/ou
datas podem se referir a:

1. Um acontecimento, situação ou relacionamento que se


desdobrará no futuro.
2. Uma questão mais profunda ou uma crença que o está
detendo ou limitando de alguma maneira.
3. Um projeto, relacionamento, situação ou acontecimento
que existe agora na sua vida.
4. Uma amizade que você tem ou terá com outra pessoa.
5. As conexões mais profundas que você tem com o mundo
considerado de maneira mais abrangente.
6. Pessoas que fazem parte da sua vida neste momento ou
farão no futuro próximo.
7. Algo não incluído nesta lista.
134/299
Tenha sempre em mente que a sincronicidade é, antes de
qualquer coisa, significativa para você. Outras pessoas podem
reconhecer como é curioso o fato de você vivenciar essa recor-
rência de nomes ou objetos, mas o significado é seu, somente
seu.
Quando as séries envolvem nomes ou palavras, pesquise sua
etimologia. Pode haver uma mensagem na raiz da palavra ou
nome. Essas séries são temas recorrentes na sua vida? Tente
interpretá-las como metáforas, assim como interpretaria um
sonho.

• Preste atenção na fonte. Um sonho? Palavras de uma


música? Imagens na TV ou em revistas?
• Com que frequência elas se repetem – em questão de
minutos, dias, semanas? Elas desaparecem por um
tempo e depois surgem novamente?
• Observe os padrões seriais. Correlacione-os a eventos que
acontecem na sua vida ou na das pessoas próximas a
você.
• Pesquise e faça associações para descobrir o significado.
Às vezes, o significado só se torna óbvio com o passar do
tempo e a ocorrência de outros eventos. A questão é
identificar as séries; descobrir significados, insights e in-
formações; e ver como você pode utilizá-las.

Séries de nomes, frases, lugares, datas


135/299
No livro Sincronicidade: um princípio de conexões acausais,
Jung menciona uma experiência pessoal que tem o peixe como
tema, algo que ocorreu seis vezes em 24 horas.
Em 1o de abril de 1949, Jung anotou algo sobre uma in-
scrição que envolvia um peixe. No almoço, ele e sua família
comeram peixe. Em alguns países da Europa, naquela época, 1o
de abril era conhecido como “Dia do Peixe”, e durante o almoço
alguém mencionou sobre pregar uma brincadeira do “peixe de
Abril”2. Naquela mesma tarde, uma antiga paciente que não via
há meses lhe mostrou algumas pinturas que fizera de peixes. À
noite, alguém lhe mostrou um pedaço de bordado com mon-
stros marinhos parecidos com peixes. Na manhã seguinte, uma
paciente que não via há anos relatou que sonhara com um
peixe.
Na época em que essa série de sincronicidades ocorreu, Jung
estava pesquisando o simbolismo do peixe na história e perce-
beu que, em geral, ele representa conteúdos inconscientes.
“Essa série de acontecimentos me causou uma impressão con-
siderável”, escreveu Jung. “Para mim, parecia haver certa qual-
idade numinosa.”
Essa “qualidade numinosa” é uma característica que muitas
pessoas mencionam quando falam de suas sincronicidades. É
como se a mão do cosmos se infiltrasse na nossa vida e sacu-
disse as coisas de maneira tão mágica que deixamos de ver o
mundo ou nós mesmos da mesma maneira. Para Jung, a sin-
cronicidade foi a evidência de uma realidade unitária, à qual
chamou unus mundus, expressão alquímica que significa
“mundo unitário”. Dessa forma, até mesmo a sincronicidade
136/299
mais simples, como pensar em ovos e alguém na TV dizer
“ovos”, pode nos preencher do sentimento de magia e mara-
vilha inerente no universo. Em termos mais contemporâneos,
unus mundus poderia ser chamado de Lei da Atração, popular-
izada em O segredo.
Esse senso de espanto foi realmente válido quando viven-
ciamos a repetição do nome Max. Alguns minutos depois de
termos postado no nosso blog uma sincronicidade de alguém
que se chamava Max Action, um amigo nos enviou um e-mail
sobre uma exposição em Miami que exibiria Max, uma das
lendárias caveiras de cristal. Uma hora depois, no início da aula
de ioga de Rob, Trish perguntou ao rapaz ao seu lado se ele e
sua esposa não estariam interessados em adotar um dos gatos
de rua que estávamos alimentando. Eles deram risadas e re-
sponderam: “Não podemos ter gatos. Max os comeria inteiros”.
Max era o cachorro deles.
Esses tipos de sincronicidades não são destruidores de
paradigmas, mas séries que invariavelmente chamam nossa
atenção. E, quando prestamos atenção, somos mais capazes de
decifrar o que os antigos chamavam de “milagres dos deuses”.
A coincidência significativa, escreveu Alan Vaughan em A ver-
dade sobre as profecias, “é o resultado – e a evidência – de
uma divindade que organiza toda a criação por meio da oper-
ação de arquétipos”.

DESCOBERTAS SIMULTÂNEAS
137/299
Descobertas simultâneas, como a do cálculo, tanto por
Isaac Newton quanto por Gottfried Leibniz, independentes
um do outro, e a teoria da evolução, por Charles Darwin e
Alfred Russell Wallace, são outro tipo de série. “Será que
esses tipos de conceitos e insights existem em alguma
forma escondida e simbólica dentro de nossa mente incon-
sciente?”, perguntou F. David Peat em Synchronicity: the
bridge between matter and mind. “Ou fazem parte do
cerne da natureza, não diretamente, mas de alguma
maneira oculta, que pode se manifestar na linguagem da
arte, literatura, música ou ciência?”
Jung também via a sincronicidade como a razão pela
qual pesquisadores independentes podiam obter os mes-
mos resultados ou conhecimentos ao mesmo tempo. A ne-
cessidade de respostas está solidificada no inconsciente. Ao
buscar uma solução à sua própria maneira, os pesquisad-
ores resolvem o problema simultaneamente.
Peat, tempos depois, salientou que algumas sincronicid-
ades podem envolver “a ligação com o ambiente de uma
maneira especial, prevendo acontecimentos ou percebendo
padrões subjacentes do nosso mundo”.

Séries com datas de nascimento e signos astrológicos tam-


bém acontecem, às vezes nos lugares mais imprevisíveis. Carol
Bowman, escritora e pesquisadora de vidas passadas, estava
visitando sua mãe na área do vale Hudson, em Nova York. É
uma região pequena, sem muita coisa. Ela foi ao supermercado
para comprar produtos básicos e, enquanto estava na fila,
138/299
percebeu que uma mulher asiática atrás dela estava com uma
criança no carrinho, uma menina muito graciosa. Carol per-
guntou quantos anos a menina tinha.
– Vai fazer dois anos mês que vem – respondeu a asiática. –
Ela é de Áries.
– Minha filha também é ariana, fará 30 anos mês que vem.
Crianças de Áries são difíceis, não? – disse Carol.
– É verdade – respondeu a asiática, rindo. – E eu sou casada
com um ariano.
Carol levantou suas antenas:
– Eu também!
Nesse momento, imaginamos essas duas mulheres, na filha
de um supermercado minúsculo, que, de repente, tomam con-
hecimento desse tipo de conexão, ambas com filhas do signo de
Áries e casadas com arianos. Carol, então, perguntou:
– Qual o seu signo?
– Sou de Libra.
Carol entendeu que algo estranho e fascinante estava
acontecendo.
– Eu também sou de Libra. Que dia você nasceu?
– Quatorze de outubro.
– É... eu também nasci nesse dia.
Parece mais uma cena retirada de um episódio de Além da
imaginação. Quase podemos ouvir a música sombria tocando
no fundo da mente de Carol. Ela pegou um cartão de visitas e
disse:
– Vou ministrar um workshop sobre vidas passadas aqui,
em junho. Gostaria que você fosse.
139/299
O que começou como uma ida simples e corriqueira a um
supermercado transformou-se em algo mágico. Por trás da ca-
mada superficial da nossa vida cotidiana há uma ordem mais
profunda da existência que a sincronicidade nos permite
vislumbrar. Sentimo-nos amedrontados, surpresos, chocados,
ou talvez terminemos por perceber que nossas crenças são
imperfeitas.
Até mesmo para pessoas acostumadas a vivenciar sin-
cronicidades com frequência, cada ocorrência é um presente. O
roteirista Julian Winter diz que “fica nervoso” quando não con-
segue ver uma sincronicidade acontecendo. Vivian Ortiz, enfer-
meira de uma emergência psiquiátrica em Savannah, na Geor-
gia, é particularmente ligada a sincronicidades com animais e
segue orientações de seus próprios animais oriundas desses
“vislumbres do cosmos”. A roteirista Julie Scully obtém novas
ideias e projetos de roteiro por meio das sincronicidades que
lhe acontecem frequentemente em livrarias. Quando sin-
cronicidades ocorrem no decorrer da vida cotidiana, tendemos
a sentir que estamos no caminho certo, seguindo o ritmo, ex-
atamente onde deveríamos estar na nossa jornada pela vida.

Sintonia
Quando estamos em sintonia com nossa própria psique, é mais
fácil criar um ambiente fértil para a sincronicidade. Um dia
qualquer no mês de junho, Jenean Gilstrap acordou e se per-
guntou como seria aquele dia: 6/6/09. Para ela, havia algo
140/299
mágico e misterioso com esses números. Enquanto dirigia para
a praia, cerca de 24 quilômetros de sua casa, olhou para a placa
de um carro que passou por ela na pista da esquerda. A placa
tinha a sequência 222. A do próximo carro, 444, e do terceiro,
888. “Eu quase ri alto, e pensei onde estava a 666, e como seria
perfeito se aquilo acontecesse. Então, um Cadillac preto passou
por mim e a placa tinha a sequência 666 que faltava para com-
pletar meu pequeno ciclo numérico.” Vejamos como o número
de Jenean é analisado pela numerologia.
222 = 6
444 = 12 = 3
888 = 24 = 6
666 = 18 = 9
Embora o 444 não se encaixe em 6/6/09, é igual a 3, que di-
vide cada um dos outros de maneira uniforme, e também segue
a progressão de números de três dígitos.

AJUSTANDO SUA INTUIÇÃO


Ao começar seu dia, escolha uma pergunta que diga
respeito a uma questão ou problema importante naquele
momento. Então, peça que algum tipo de série apareça
durante o dia, que seja capaz de relacionar você à sua
pergunta, de modo que ela ilumine seu problema.
Talvez seu namorado pareça distraído nos últimos di-
as, e, como é seu aniversário, você se pergunta se ele
lhe dará um presente. Durante o dia, você encontra uma
141/299

balconista chamada Kate, ouve alguém no rádio dizer


Kate, e vê o trailer de um filme estrelando Kate Hudson.
É um nome comum. Talvez não signifique nada, mas
quando encontra seu namorado naquele dia, você lhe
pergunta: “Quem é Kate?”. E, para sua surpresa, ele re-
sponde: “Como você descobriu?”. Por um momento, vo-
cê pensa que ele terminará o relacionamento por causa
de uma moça chamada Kate. Mas, para seu alívio, ele a
leva até o carro e mostra seu presente de aniversário:
uma gatinha, a quem deu o nome de Kate.

1. O número de emergência nos Estados Unidos. (N.E.)


2. Na França, o dia da mentira é chamado de “poisson d'avril”, ou, literalmente,
“peixe de abril”. É uma tradição que remonta ao século XVI. (N.E.)
Segredo 6

O TRAPACEIRO

Uma sincronicidade pode se revelar com uma pitada


de ironia ou sarcasmo tão surpreendente que
ficamos atônitos.
“As sincronicidades são os curingas no baralho da
natureza, pois se recusam a seguir as regras e nos
dão o sinal de que, em nossa busca de certezas sobre
o universo, ignoramos algumas pistas vitais.”
– F. DAVID PEAT, SYNCHRONICITY: THE
BRIDGE BETWEEN MATTER AND MIND
O dicionário define trapaceiro como impostor, farsante, en-
ganador; aquele que faz trapaças; ou uma figura sobrenatural
que aparece disfarçada de várias maneiras, tipicamente
envolve-se em travessuras, é importante no folclore e na mito-
logia de povos primitivos e em geral é concebido como um her-
ói cultural. A essas definições, acrescentamos que o trapaceiro
costuma aparecer para nos lembrar de não nos levarmos tão a
sério.
A clássica sincronicidade com o trapaceiro começa com...
Bem, um pudim de passas. Em 1805, monsieur de Fontgibu
ofereceu ao escritor francês Émile Deschamps um pudim de
passas. Dez anos depois, Deschamps encontrou pudim de pas-
sas no cardápio de um restaurante em Paris e fez o pedido, mas
o garçom disse que a última porção tinha sido servida para
outro cliente, que no caso era monsieur de Fontgibu. Em 1832,
Deschamps foi a outro restaurante com um amigo e, mais uma
vez, pediu pudim de passas. Lembrou-se dos incidentes anteri-
ores e disse ao amigo que a única coisa que faltava para que o
ambiente estivesse completo era monsieur de Fontgibu.
Naquele momento, monsieur de Fotgibu, senil, entrou no res-
taurante por engano.
O pudim de passas se tornou uma conexão arquetípica entre
dois homens – a única conexão. O fato de ela ter continuado no
decorrer de 27 anos, mesmo quando um deles já estava bem
senil para entender o que estava acontecendo, caracteriza essa
história como uma dupla sincronicidade com o trapaceiro.
Ao escrever sobre este caso em Synchronicity: science,
myth, and the trickster, Allan Combs e Mark Holland
144/299
afirmaram que “apreende-se a ideia de um palhaço ou tra-
paceiro por trás das cenas, funcionando como a face mítica de
um deus brincalhão, visto de maneira turva, olhando por detrás
do véu da coincidência”.
Quem é exatamente o trapaceiro? Qual é sua mensagem?

O brincalhão ri de nós
Em O Senhor dos Anéis, o personagem sorrateiro e observador
Gollum, o Sméagol, é o exemplo perfeito do arquétipo do tra-
paceiro. Ele sempre tinha um plano específico de um ou outro
tipo que o impelia a enganar os hobbits (ou hobbitses, como os
chamava) em diversas ocasiões e convencê-los de que era uma
pessoa confiável.
Os arquétipos – o trapaceiro, o sábio ou a sábia, o herói, a
criança, mãe ou pai – são tão antigos quanto o planeta. Eles ad-
entram a mente consciente a partir do inconsciente coletivo,
um repositório de imagens comuns a todas as pessoas. São en-
contrados na mitologia, no folclore, nos contos de fadas, nas
lendas, nas alucinações, nas fantasias, na maior parte dos sis-
temas divinos e nos sonhos.
Um dos mitos do trapaceiro mais conhecidos é representado
pelo deus norueguês Loki, filho de dois gigantes. Ele era muito
ingênuo, mas também um contador de histórias bem malandro,
que gostava de causar confusão. Um “camaleão” capaz de as-
sumir várias formas – inclusive de cavalo, falcão e mosca –,
Loki podia até mesmo mudar de gênero, por isso não é de
145/299
espantar que as sincronicidades com o trapaceiro apareçam em
muitos disfarces.
Loki costumava passar o tempo ao lado dos principais
deuses, Odin e Thor, embora fosse inimigo de ambos. Quando
não foi convidado para um banquete em Valhalla, por exemplo,
entrou de penetra como o 13o convidado. Andou para todos os
lados, pedindo comida e bebida, perturbando a todos. Con-
venceu até mesmo Hoder, deus cego da escuridão, a atingir
Balder, deus da luz e da alegria, com uma flecha de ponta de
visco. Balder morreu, e a terra foi coberta de escuridão. Desde
então, 13 tem sido considerado o número do azar.
O mito inspirou o filme O Máskara, com Jim Carrey. Para
refrescar sua memória, Carrey interpreta um bancário chato,
chamado Stanley Ipkiss, que descobre uma antiga e misteriosa
máscara verde, de madeira, habitada por Loki. Quando coloca a
máscara, torna-se um super-herói maníaco, de pele verde, que
faz maluquices.
Na mitologia dos índios norte-americanos, geralmente o
coiote é representado como um trapaceiro. Ele é astuto e ad-
aptável, um “camaleão” que usa sua travessura para enfatizar
um ponto e fazer as pessoas rir. No livro infantojuvenil Gone, o
mundo termina aqui, Michael Grant usa coiotes para ilustrar
sua adaptabilidade a um novo mundo no qual todas as pessoas
acima dos 14 anos desapareceram misteriosamente. Em uma
coletânea de contos chamada The Coyote Road Trickster Tales,
o arquétipo do trapaceiro é explorado de diferentes maneiras:
um espírito decide fazer o possível para que os alunos de uma
classe parem de analisar as frases que escrevem; um garoto
146/299
inspira-se no Coelho Brer para ludibriar seus sequestradores;
uma garota prende fantasmas com fitas e os leva para todo
lugar, alimentando-os com seu próprio sangue.
Um dos trapaceiros mais conhecidos na mitologia é Koko-
pelli, o flautista corcunda. Entre os povos anasazi, hopi e zunhi,
era considerado a divindade da fertilidade, da música, da
dança, da renovação e das travessuras. De modo geral, ele apar-
enta ser muito mais benevolente que Loki, que se tornou mais
malicioso e malévolo à medida que envelheceu.
Em muitas culturas, o trapaceiro surge de diferentes
maneiras. Na cultura popular norte-americana, é encontrado
com maior facilidade nos filmes. O Curinga, da série Batman,
retrata o lado sombrio do trapaceiro, bem como o Loki mais
velho. Uma das encarnações mais bizarras do trapaceiro é o
capitão Jack Sparrow, de Piratas do Caribe, representado pelo
ator Johnny Depp. Sparrow é um fantasma capaz de grandes
truques e malvadezas. E, é claro, também é um herói.
Indiana Jones e Hans Solo são exemplos perfeitos da união
desses dois arquétipos, o trapaceiro e o herói. O fato de Harris-
on Ford interpretar os dois papéis também sugere que o arqué-
tipo está vivo e bem incorporado nele próprio.
O trapaceiro é, ao mesmo tempo, absurdamente humano e
divinamente inspirado – uma mistura de palhaço e herói cul-
tural. Em resultado, as sincronicidades que o envolvem in-
spiram temor, espanto e até mesmo choque. Elas podem nos
levar a reavaliar relacionamentos, considerar carreiras altern-
ativas e fazer escolhas que antes não teríamos considerado.
Quase sempre, no começo nos sentimos como se fôssemos o
147/299
único alvo das brincadeiras do universo. O truque para agir
com o trapaceiro é vasculhar o que há por trás da piada para
descobrir o que realmente está acontecendo, o que, em geral, é
difícil de descobrir.
Por exemplo, digamos que seu namorado, ou namorada, ter-
mine com você e, enquanto ouve a explicação dos motivos, um
passarinho passe e faça cocô na sua cabeça. É o sinal de pontu-
ação perfeito, um testemunho de como o estão tratando. E uma
sincronicidade trapaceira.
Os cenários com trapaceiros às vezes são complexos e sur-
preendentes. Há alguns anos, Rob estava levando dois amigos,
George e Hanna, até o aeroporto de Miami. George (pastor de
uma igreja liberal da Nova Era em Negril, na Jamaica) e
Hanna, sua namorada norueguesa, conheceram Rob antes de
ele se tornar pastor. Rob estava se separando da esposa, uma
grande transição na vida que, sem dúvida, contribuiu para a in-
tensidade da conversa. Eles estavam discutindo assuntos pro-
fundos, sistemas de crenças espirituais e questões cósmicas.
Um papo zen. Como o zen do momento, o zen do lugar, o zen
da meditação.
De repente, Rob olhou a placa de um carro que passou: ZEN
665. George disse sem pensar: “Seria realmente impression-
ante se víssemos ZEN 666”.
Alguns minutos depois, um carro esporte amarelo passou ao
lado. A placa era exatamente ZEN 666. Foi como se o tra-
paceiro estivesse no carro com eles, rindo de toda a perplexid-
ade. Eles pediram por isso, e aconteceu. Foi uma revelação,
148/299
como na origem da má fama desse número: o livro bíblico do
Apocalipse.
Rob repetiu diversas vezes a história do ZEN 666. Parecia
que não conseguia ir além disso, e queria que as outras pessoas
considerassem as probabilidades de tal coisa acontecer. Alguns
anos depois, enquanto dirigia por uma rua perto de casa, um
sedã vermelho passou por ele com uma placa idêntica. Era um
carro diferente, a mais de 80 quilômetros de onde vira a
primeira placa, mas era a mesma: ZEN 666. Trata-se de outro
lembrete de que a vida é muito mais misteriosa do que po-
demos imaginar, e que o derradeiro enigma, a sincronicidade,
desafia a definição.
Para Rob, a mensagem da primeira visão foi adotar uma at-
itude do tipo zen durante uma grande transição na vida, um pe-
dido para que ele seguisse o fluxo sem resistir. A sincronicidade
trapaceira parecia prometer que, se ele conseguisse fazer isso,
sairia do outro lado com uma grande sabedoria. A segunda
visão confirmou que ele foi bem-sucedido.

ENTENDENDO O TRAPACEIRO
Sincronicidades com o trapaceiro muitas vezes podem
ser desnorteantes; tanto que você deve pesquisar um
pouco para descobrir o que significa a sua. O lugar mais
óbvio para começar é o Google.
Quando buscamos “o trapaceiro” no Google, obtemos
milhares de resultados. Encontramos sites sobre o tra-
paceiro na mitologia norte-americana, o trapaceiro e o
149/299

paranormal, o trapaceiro nos filmes e livros, o trapaceiro


no decorrer da história, o trapaceiro na mitologia. Clique
em um deles e comece a ler. Siga os links para outros
sites.
Na sua pesquisa, você encontrará as sincronicidades
clássicas com o trapaceiro, inclusive a história do pudim
de passas. Algumas o farão dar gargalhadas, outras o
deixarão desconcertado. Talvez você seja uma das pess-
oas para quem a sincronicidade com o trapaceiro se
repita com o passar do tempo.
Em Bermuda, em 1975, por exemplo, um homem
guiando uma motocicleta foi atropelado e morto por um
motorista de táxi. Exatamente um ano depois, o irmão
do homem foi morto da mesma forma. Em si, isso é clas-
sificado como uma sincronicidade. Mas nos deixa ainda
mais confusos. As duas mortes aconteceram na mesma
rua, na mesma motocicleta, causada pelo mesmo mo-
torista de táxi levando o mesmo passageiro. Quatro
pessoas estavam envolvidas: os dois irmãos, o taxista e
o passageiro. O que havia em cada uma dessas pessoas
que agiu como um chamativo para que a situação e o
evento se repetissem? Qual seria a lição disso? A config-
uração desses eventos tem implicações descomunais
sobre o quão precisa pode ser a “ordem envolvida” de
David Bohm.
Se você vivenciar esse tipo de sincronicidade em
série, talvez queira descobrir por que continua atraindo
essa determinada experiência. Procure metáforas, faça
associações, peça para ter um sonho que ilumine a
150/299

questão. Converse com outras pessoas sobre o seu tra-


paceiro. Crie uma página no Facebook, um blog ou um
grupo de discussão sobre isso. Seu objetivo é descobrir a
mensagem. Se deixar que outras pessoas entrem nas
suas histórias com o trapaceiro, talvez elas sugiram sig-
nificados que jamais passariam por sua cabeça.

Os disfarces do trapaceiro
Os disfarces usados pelo trapaceiro parecem feitos sob medida
para nossas necessidades e propósitos. Dependendo da situ-
ação e das circunstâncias, o trapaceiro alerta, confirma, oferece
esperança, zomba e às vezes enfatiza a mensagem sobre a inter-
conectividade da vida. E também pode provocar uma revira-
volta na sua vida. No entanto, ele sempre nos lembra que deve-
mos rir – de nós e dos absurdos existenciais que nos cercam.
Mike Clelland, de Idaho, descobriu não apenas que o tra-
paceiro nos faz rir, mas também que o mote das brincadeiras
pode aparecer nos lugares mais improváveis. Mike passa boa
parte do tempo ao ar livre e está sempre procurando por um
bloqueador solar que não irrite sua pele sensível. Um colega de
trabalho sugeriu que usasse Neutrogena FPS-45. Mike foi pro-
curar o produto em uma farmácia e numa loja de produtos es-
pecializados, mas não encontrou em nenhum dos dois lugares.
Talvez ele pudesse encontrar no hipermercado do centro
comercial, mas não quis ir naquela direção. “A repugnância que
151/299
eu sentia pelo deprimente centro comercial parecia me repelir
de lá.”
E, assim, ele foi pra casa. No caminho, percebeu que havia
alguns sacos de lixo colocados no acostamento, oriundos do
trabalho de coleta anual durante a primavera. Todo ano, um
grupo de voluntários da região onde mora coleta lixo ao longo
da estrada depois que a neve derrete; como vivia perto da es-
trada, Mike costumava ajudar. Ao chegar em casa, pegou al-
guns sacos de lixo e caminhou pelo acostamento recolhendo
lixo, decidindo que faria a coleta até chegar à placa de “pare” na
outra esquina, cerca de um quilômetro depois.
“Quando cheguei à placa, encontrei um vidro inteiro de
Neutrogena FPS-45. Ele estava esperando por mim – literal-
mente – embaixo de uma placa de trânsito.”
O bloqueador solar estava vencido, então o trapaceiro deu
sua última risada. Mas a mensagem era clara. Ao seguir as pis-
tas – não dirigir para o centro comercial e render-se ao impulso
de participar da limpeza da estrada –, Mike recebeu a confirm-
ação sobre o produto, e deu uma boa risada.
Sincronicidades com o trapaceiro muitas vezes são camufla-
das em trocadilhos. Um dia, o produtor de cinema Rob McKen-
zie saiu do trabalho e foi dirigindo para casa, quando a música
“Solsbury Hill”, de Peter Gabriel, começou a tocar no rádio.
“Quando chegou o momento da letra em que ele canta ‘My
heart goin’ boom-boom-boom’ [Meu coração fez tum-tum-
tum], olhei para uma placa que nunca tinha visto na rua.
Estava escrito Ann Gina Boulevard.”
152/299
Angina, obviamente, é um distúrbio cardíaco que provoca
dor no peito e batimentos irregulares. O trapaceiro estava de
fato zombando de McKenzie. Mas também poderia haver uma
mensagem mais obscura nessa sincronicidade. McKenzie
deveria fazer um exame.
Sincronicidades com o trapaceiro às vezes têm um lado som-
brio e, com frequência, são um alerta. Muitas vezes esses aler-
tas estão incorporados em outras experiências e situações; é
preciso estar atento aos detalhes para percebê-los.
Celeste Maia, de Portugal, relatou uma história sobre um
amigo de Moçambique que estava dirigindo quando um carro o
cortou. Ele percebeu que o número 19 se repetia na placa. Mais
tarde, naquele mesmo dia, encontrou um amigo que lhe contou
sobre o aniversário do filho, que fazia 19 anos. De diversas
maneiras, o número 19 continuou aparecendo no decorrer do
dia. No dia seguinte, o amigo de Celeste viajaria de avião. Só
havia os assentos 19A e 27F livres. Ele escolheu o 19A. Houve
um incêndio durante o voo, e o avião teve de fazer um pouso de
emergência. Quase todos a bordo morreram, exceto quem es-
tava sentado na fileira 19.
Se o homem não tivesse prestado atenção o suficiente no
primeiro 19 da placa do carro, talvez tivesse escolhido o 27F e
morrido no incêndio.
Durante sua exploração do mundo da sincronicidade, o tra-
paceiro pode se tornar uma companhia frequente. Ele é tão ad-
epto ao disfarce e à surpresa que é fácil pensar que você esteja
vivenciando um tipo de sincronicidade, quando, na verdade, o
trapaceiro está de dentes arreganhados do outro lado. Certa
153/299
manhã, estávamos sentados numa mesa ao ar livre em um café
da região, conversando sobre as linhas gerais deste livro,
quando um homem mais velho se aproximou de nós. Ele nos
entregou um cartão que explicava que era surdo e vendia cha-
veiros. Nós compramos um e, nas costas do cartão, havia ilus-
trações da linguagem de sinais.
Quando voltávamos pra casa, seguindo a deixa do homem
surdo, falamos sobre a sincronicidade como uma língua de
sinais. Passamos pelo colégio local, onde a sinalização digital
na entrada noticiava uma aula em linguagem de sinais. Apon-
tamos para uma placa sobre linguagem de sinais enquanto
falávamos sobre linguagem de sinais, acrescentando mais uma
camada à sincronicidade. A princípio, interpretamos isso como
uma confirmação da nossa abordagem neste livro. Mas a con-
firmação era apenas um disfarce. Claramente, o trapaceiro es-
tava nos dando um sinal, chamando nossa atenção e
destacando que, antes de mais nada, o livro deveria ser
engraçado.
Quando o trapaceiro está sendo realmente malvado, ele
pode nos colocar frente a frente com uma faceta do nosso pas-
sado que nos provoca desconforto. As probabilidades envolvi-
das nesse tipo de sincronicidade geralmente são altas, e nossa
incredulidade faz que ignoremos o fato de que algo importante
está acontecendo.
O pai de Trish, Tony, contador aposentado, tinha quase 90
anos quando se mudou para uma residência de idosos na Geór-
gia, Estados Unidos, onde a irmã de Trish era chefe de enfer-
magem. Sua esposa, com quem fora casado por mais de
154/299
cinquenta anos, morrera alguns anos antes. O Parkinson já
levara grande parte de sua mobilidade, e aquele era um mo-
mento bastante solitário para ele. Várias semanas depois de se
instalar, uma mulher com cerca de 80 anos passou pela
entrada. Descobriu-se que ela era uma antiga colega de classe
com quem ele estudara há mais de 70 anos, quando os dois
moravam numa pequena cidade em Illinois.
Trish ficou maravilhada com a sincronicidade, mas Tony
não se divertiu. “O universo tem um senso de humor retor-
cido”, disse ele. “Continuo não gostando dela.”
A mensagem? Talvez esteja mais visível nas palavras de
David Bohm: “Lá no fundo, a consciência da humanidade é
uma só”. Era algo que Tony desesperadamente precisava
aprender naquela fase de sua vida.

O trapaceiro como um aliado


Algumas vezes, o trapaceiro pode aumentar as probabilidades
quando você está em apuros. Essa é a mensagem do seguinte
incidente ocorrido no início do século XVII na Escócia. Durante
décadas, as famílias MacGregor e Campbell enfrentaram-se em
disputas, geralmente por conta de terras. Em 1603, encorajado
pelos Campbell, o rei James VI publicou um édito banindo o
uso do nome MacGregor. A proibição durou até 1774.
Nos primeiros anos da proibição, os MacGregor foram caça-
dos como criminosos pelos Campbell, e um dos mais infames
155/299
dos perseguidos foi Callum MacGregor, avô do famoso Rob
Roy.
Em uma de suas muitas fugas, relatada por Forbes
MacGregor em Clan Gregor, Callum estava escondido numa
pequena ilha em Loch Katrine, e os Campbell, acampados na
orla cheia de árvores, perto o suficiente para que suas vozes
fossem conduzidas sobre a água. Callum teve o cuidado de
afundar todos os barcos, menos aquele que usara para chegar
até a ilha. Sabendo que aquele terreno era improdutivo, os
Campbell pensaram que Callum se renderia por conta da fome.
Quando a noite caiu, um dos integrantes do grupo, um sap-
ateiro de ofício, acendeu uma fogueira para preparar carne.
Callum apontou para a fumaça, rogou uma praga (“Thugad
thall a chrom thruaill sloightear!”) e atirou. A bala atingiu a
testa do sapateiro, matando-o. Em tradução livre, a frase em
gaélico quer dizer “Desapareça, maldito vigarista!”.
Mas, em gaélico, a palavra usada para vigarista tem um se-
gundo significado: sapateiro. Os Campbell ouviram o tiro, mas
não entenderam o sentido quando o sapateiro caiu morto. Rap-
idamente concluíram que Callum devia ser paranormal, e apan-
haria um por um. Depois de fugirem amedrontados, Callum re-
mou até a margem, escapou e envelheceu em paz em Glengyle.

O trapaceiro-sombra
A Sombra, arquétipo que enfatiza o lado escuro da nossa per-
sonalidade, nos impulsiona a repetir tudo aquilo que tentamos
156/299
evitar. Por exemplo, imagine uma pessoa de quem você de fato
não goste e não queira ver, mas continua a encontrando repeti-
damente, em situações e lugares improváveis. Sua resistência
parece atraí-la. É embaraçoso, irritante, talvez desagradável, e
você não consegue entender o que está acontecendo. “Quando a
sombra rouba o propósito de alguém e o utiliza para seu
próprio deleite, a sombra oculta é trazida para a luz do dia”, es-
creveram Combs e Holland em Synchronicity: science, myth,
and the trickster.
Quando atores representam personagens obscuros, eles
vivem essencialmente aquela realidade, ainda que por um curto
período de tempo. O palco é montado para que atraiam a sin-
cronicidade por meio do trapaceiro-sombra, às vezes com res-
ultados trágicos. Tome como exemplo o caso de Brandon Lee,
que morreu enquanto filmava uma cena de seu último filme, O
corvo.
Na cena em que Brandon foi morto, seu personagem, Eric
Draven, encontra a namorada sendo violentada por bandidos,
que depois matam os dois. Funboy, um dos vilões do filme, dis-
parou uma arma no personagem de Brandon enquanto ele en-
trava no apartamento carregando compras. A arma estava car-
regada com festim, mas havia um cartucho sem pólvora alojado
no cano, e a detonação de um festim foi suficiente para propeli-
lo pelo cano. Disparada à queima-roupa, a bala penetrou o
corpo de Brandon, matando-o.
O pai de Brandon, Bruce Lee, morreu sob circunstâncias
parecidas durante a gravação de um filme, ironicamente cha-
mado Jogo da morte, em 1978. Bruce Lee representava um
157/299
personagem, morto por um tiro, que volta do mundo dos mor-
tos para se vingar. Para aumentar a ironia, Brandon também
morreu representando um personagem morto que volta do
além. Bruce Lee morreu aos 32 anos de idade, Brandon aos 28.
As duas mortes foram acidentais, mas consideradas muito
suspeitas.
Surpreendentemente, enquanto trabalhávamos neste
capítulo, em meados de 2009, fomos surpreendidos por uma
manchete de primeira página que dizia: “No set de filmagem,
estrela de Kung Fu e Kill Bill vivia pela espada”. A manchete re-
fletia a repetição do trapaceiro-sombra, e dessa vez envolvia o
ator David Carradine.
No início da década de 1970, Carradine atuou como um
monge enigmático chamado Kwai Chang Caine, um conhecedor
de artes marciais que geralmente terminava cada episódio deix-
ando alguém muito ferido. Em 2004, participou do elenco de
Kill Bill, de Quentin Tarantino, como chefe de uma família de
assassinos e hábil espadachim. A princípio, os noticiários dis-
seram que Carradine enforcara-se em um quarto de hotel em
Bangkok, onde gravava seu novo filme. Mais tarde, diversas
fontes relataram que ele deve ter morrido acidentalmente de-
pois que uma perigosa prática sexual deu errado.
O trapaceiro-sombra também esteve presente na morte do
ator Heath Ledger. Aos 28 anos de idade, ele já era uma lenda,
e concorrera ao Oscar por seu papel em Brokeback Mountain.
Ele havia acabado de gravar Batman – O cavaleiro das trevas,
em que representava o Curinga de maneira jamais vista.
158/299
O filme se tornou o segundo na história a arrecadar mais de
500 milhões de dólares em bilheteria na América do Norte, e o
quarto a arrecadar mais de 1 bilhão de dólares no mundo todo.
Ledger ganhou um Oscar pelo papel. Mas, infelizmente, mor-
reu de uma overdose acidental de medicamentos seis meses
antes do lançamento do filme. Outro personagem sombrio,
outra morte. Ironicamente, Ledger estava interpretando o pa-
pel do próprio trapaceiro-sombra.
O que devemos fazer com essas sincronicidades com impac-
tos negativos? Uma das regras que domina a sincronicidade é
semelhante atrai semelhante. Muito embora os três homens
estivessem apenas representando papéis obscuros, vivenciaram
como era viver uma vida de violência e morte. Estavam tão en-
volvidos em seus papéis que atraíram as experiências reais que
os levaram à morte. Como Frank Joseph afirma em Synchron-
icity & you, “a sincronicidade, assim como a própria morte, não
tem nenhum respeito pelas pessoas”.
O ator britânico Joey Jeetun descobriu isso quando quase
morreu durante um ataque terrorista em Mumbai, na Índia, em
novembro de 2008. Ele estava num restaurante no centro fin-
anceiro quando os ataques começaram. Jeetun, cujo papel mais
famoso foi o de um terrorista, lembrou-se do evento no London
Times: “Eu estava coberto do sangue de outras pessoas.
Pensavam que eu tinha morrido.”
Essas sincronicidades às vezes são consideradas maldições.
Na verdade, a morte de Bruce e Brandon Lee foi chamada de “a
maldição do dragão”, porque o horóscopo chinês dos dois era
esse. No entanto, é certo que não foi a sombra da data de
159/299
nascimento que provocou essas mortes trágicas. Foram suas
carreiras, sincronisticamente notáveis por filmarem atos de vi-
olência. Em última análise, o que pensamos é o que criamos.

Trapaceiros múltiplos
Sincronicidades repetitivas foram de grande interesse para o
biólogo austríaco Paul Kammerer. Ele costumava se sentar dur-
ante horas em lugares públicos, observando as pessoas ao redor
e tomando notas de quantas carregavam sombrinhas, por ex-
emplo, ou usavam determinados tipos de chapéu. Estudou
ocorrências repetidas de números, nomes, lugares, sonhos, le-
tras e desastres. Kammerer tratava sua pesquisa como biólogo,
dissecando e categorizando essas sincronicidades em séries de
primeira, segunda, terceira e alta categoria. Ele acreditava que
o fenômeno era um princípio objetivo da natureza, porém
desconhecido, e o chamou de “lei da serialidade”. Sua pesquisa
influenciou os primeiros pensamentos de Jung sobre a
sincronicidade.
Kammerer provavelmente se divertiria com o que aconteceu
com Tony Vigorito, autor de Nine kinds of naked, e provavel-
mente classificaria o ocorrido como uma sincronicidade de alta
categoria. Foi algo tão surpreendente que, quando aconteceu,
Tony não conseguiu entender. Começou com uma reunião
acidental de amigos na sua casa em novembro de 2004; todo
mundo apareceu sem ser convidado. Alguém levou uma garrafa
de vinho, outra, um violão. Logo depois, outro violão e uma
160/299
gaita apareceram, além de salgadinhos. Todos se sentaram em
volta da lareira sobre um tapete oriental. A lenha estalava e
queimava enquanto eles comiam, bebiam, conversavam, riam e
tocavam algumas canções.
Em determinado momento, um artista tirou da bolsa um liv-
ro chamado Blue dog man [O homem do cachorro azul]. “Era
uma reunião dos trabalhos de George Rodrigue, cuja marca re-
gistrada era a inclusão de um cachorro azul em todas as suas
peças, um terrier/spaniel muito bonitinho, com olhos pedindo
amor e aprovação, aparentemente inspirado em sua falecida ca-
dela, Tiffany. O livro do cachorro azul passou na mão de todos,
e logo estávamos tentando imitar os olhos tristes e auspiciosos
de Tiffany.”
Mais tarde, naquela mesma noite, Tony abriu sua caixa de e-
mails. O assunto de uma mensagem enviada algumas horas
antes chamou sua atenção: “Olhos de um cachorro azul”. Intri-
gado, abriu a mensagem e leu comentários de alguém que tinha
lido algo que ele escrevera on-line. Para sua surpresa, não havia
nenhuma explicação sobre o assunto da mensagem. Ele correu
até o fim da mensagem e descobriu que a remetente se
chamava Tiffany, o mesmo nome da cadela de Rodrigue.
A credulidade de Tony chegou ao limite. Chamou os amigos,
que se juntaram em volta do computador e viram o assunto do
e-mail e o nome da remetente no final da mensagem. Todos
ficaram impressionados, confusos, até atônitos. Então, alguém
observou que a assinatura do e-mail de Tiffany parecia um re-
sumo da noite.
161/299
“Boa atmosfera, bons amigos, boa conversa, bom vinho,
bons livros e o espaço intermediário.”
Tony respondeu a Tiffany, pedindo uma explicação e dando
um breve resumo do que havia acontecido naquela noite. No
dia seguinte, descobriu que ela nunca tinha ouvido falar de Ge-
orge Rodrigue ou da cadela Tiffany, mas que recentemente lera
um conto de Gabriel García Márquez chamado Olhos de cão
azul. Ela também escreveu que só havia conhecido o conceito
de sincronicidade um mês antes, em um de seus cursos sobre
psicologia. Um dia antes de escrever para Tony, ela chegou à
casa dos pais e encontrou a palavra SINCRONICIDADE escrita
em maiúsculas num quadro branco na cozinha. Seu pai, ao que
parece, ouvira falar em sincronicidade num programa de rádio
e escrevera a palavra para se lembrar de ler mais sobre o
assunto.
Tony levou seu notebook para a cafeteria de que mais
gostava e escreveu a história dos acontecimentos da noite an-
terior e do dia seguinte. “Vocês se surpreenderiam ao saber
que, enquanto eu estava lá escrevendo, ‘I am the Walrus’
começou a tocar no rádio?”

TRABALHANDO COM O ELEMENTO TRAPACEIRO


Quanto mais consciente você se tornar das sincronicid-
ades, mais elas ocorrerão, principalmente se dedicar al-
gum tempo para registrá-las. As sincronicidades às vezes
são encontradas em seu ambiente imediato, através do
162/299

comportamento de pássaros e outros animais, padrões


climáticos, uma voz no rádio ou na TV. Anote quais sin-
cronicidades são relacionadas ao trapaceiro, aquelas que
o lançam numa consciência superior da interconexão
entre o mundano e o extraordinário.
Você pode tentar criar sincronicidades e até espe-
cificar tipos, como as sincronicidades com o trapaceiro.
Diga a si mesmo que vivenciará tal sincronicidade, talvez
uma variação do trapaceiro – mas certifique-se de acres-
centar que a experiência não será prejudicial para você
ou para os outros. Algumas vezes essas sincronicidades
serão tão óbvias quanto um jato de água fria no rosto.
Outras, tão sutis que você não as reconhecerá de
imediato.
Por exemplo, quando começamos a revisar este
capítulo, esperávamos encontrar mais um exemplo forte
da sincronicidade com o trapaceiro. Em poucos instantes,
um amigo nos enviou uma história sobre um coiote que
sobreviveu a circunstâncias impossíveis depois de ser at-
ingido por um carro viajando a 120 km/h e ficou preso
na grade, na frente do motor. Nas tradições esotéricas, o
coiote é conhecido como o trapaceiro.
Mantenha-se alerta para encontros “coincidentes”
que, em circunstâncias normais, passariam desperce-
bidos. De vez em quando, concentramo-nos no lado trá-
gico do evento e não prestamos atenção na sincronicid-
ade óbvia. No final do dia, você pode fazer um retro-
specto de tudo o que ocorreu de significativo e de
163/299

repente descobrir que a sincronicidade te pegou de sur-


presa, assim como o trapaceiro.
Segredo 7

O GLOBAL

Quando as sincronicidades se manifestam por meio


de eventos globais, parece que o universo nos aborda
como um coletivo.
“Só começamos a entender a natureza de qualquer
tipo de evento de massa quando consideramos como
um todo ainda maior o contexto de sua existência.”
– JANE ROBERTS, THE INDIVIDUAL AND THE
NATURE OF MASS EVENTS
Quer você more no Alabama ou na Albânia, em Nova Déli ou
Nova York, em Santiago ou San Francisco, o indivíduo que ocu-
pa a Casa Branca nos Estados Unidos tem uma grande im-
portância na qualidade da sua vida. Dada a natureza controver-
sa dos dois mandatos de George W. Bush na presidência do
país, foi impressionante testemunhar o modo como o universo
falou por meio da sincronicidade quando seu segundo mandato
terminou.
No dia 15 de janeiro de 2009, às 8 da noite, o presidente fez
seu último discurso para a nação. Em um governo definido
pelas repercussões dos ataques ao World Trade Center, foi in-
trigante o fato de apenas cinco horas antes o voo 1549 da U.S.
Airlines ter caído no rio Hudson a uma distância curta do trági-
co lugar do 11 de setembro. No entanto, a aterrissagem foi
quase perfeita, e todos os 155 passageiros sobreviveram.
O nome do primeiro bote de resgate a chegar lá era Thomas
Jefferson, uma homenagem ao principal autor da Declaração
da Independência, defensor convicto da separação entre Igreja
e Estado, um homem coerentemente classificado como um dos
melhores presidentes dos Estados Unidos. Depois de oito anos
de um nítido abuso de poder, uma desastrosa guerra, torturas e
a erosão dos direitos civis, foi como se o “milagre do Hudson”
fosse o universo garantindo que superaríamos aquilo tudo, in-
tactos. É bem irônico que cinco dias depois, e um dia depois do
Dia de Martin Luther King, o primeiro presidente afro-amer-
icano dos Estados Unidos tenha tomado posse.
Por meio dos acontecimentos de massa e as sincronicidades
associadas a eles com tanta frequência, o universo fala conosco
166/299
como um coletivo – um povo, uma comunidade, uma nação,
como cidadãos do mesmo planeta. Esses tipos de sincronicid-
ades certamente ilustram interconexões a uma camada mais
profunda da existência, de modo semelhante ao que dizem os
físicos quânticos quando se referem ao fato de tudo no universo
estar intimamente conectado. Conforme diz Michael Talbot em
O universo holográfico, “nosso cérebro constrói matematica-
mente a realidade objetiva ao interpretar frequências que, em
última instância, são projeções de uma ordem mais profunda
da existência que está além do espaço e do tempo – o cérebro é
um holograma envolvido em um universo holográfico”.

Sincronicidades nos jornais


Nessa era da cobertura jornalística 24 horas por dia, 7 dias por
semana, a maior parte de nós já ouviu ou leu uma história
nacional vista como uma coincidência significativa. De vez em
quando, os apresentadores de jornais de TV por assinatura
falam sobre elas. Quando o funeral de Tim Russert, da NBC, es-
tava no final, a música “Somewhere Over the Rainbow” [Em al-
gum lugar acima do arco-íris] começou a tocar. Enquanto os
amigos e a família saíam da igreja, um duplo arco-íris irrompeu
no céu. O jornalista Keith Olbermann falou dessa sincronicid-
ade em seu programa no dia seguinte, embora não tenha usado
o termo.
Como parte do funeral dos sete astronautas que morreram
no desastre com o ônibus espacial Challenger, em 1986, coroas
167/299
de flores foram atiradas de um helicóptero na costa da Flórida.
Um bando de golfinhos inesperadamente veio à tona perto das
coroas. A gravação do evento foi mostrada diversas vezes nos
noticiários. Os cientistas da Nasa o estudaram e contaram os
golfinhos; muito embora só houvesse sete visíveis, os cientistas
especularam que havia pelo menos mais dois no bando, um
para cada astronauta.
A aparição espontânea dos golfinhos nessa cerimônia excep-
cional foi inspiradora e reconfortante, o símbolo de algo maior.
Lendas gregas e mediterrâneas tratam o golfinho como a cri-
atura da boa fortuna e da inteligência, um talismã para viagens
tanto no mar quanto na vida após a morte.
No final da década de 1990, Elian Gonzalez, um menino de
cinco anos de idade, fugiu de Cuba com a mãe e mais dez pess-
oas numa pequena embarcação. Quando o navio afundou, to-
dos a bordo morreram, exceto Elian, que foi encontrado, no Dia
de Ação de Graças de 1999, flutuando perto da costa da Flórida.
Uma acirrada batalha pela sua custódia se deu entre seu pai,
em Cuba, e seus parentes em Miami. Como o menino suposta-
mente foi salvo por golfinhos que o mantiveram flutuando de-
pois que os outros passageiros se afogaram, um tipo de movi-
mento religioso cresceu ao redor dele.
Pare alguns minutos para pensar sobre acontecimentos de
massa – desastres, invasões, manifestações em larga escala,
mortes de pessoas públicas – e tente se lembrar de qualquer
sincronicidade relacionada a eles. Talvez você tenha tido um
sonho ou premonição sobre tal acontecimento. Talvez fosse
conectado com alguém ou algum lugar envolvido no caso. É
168/299
provável que os acontecimentos que chamem sua atenção car-
reguem algum significado pessoal.

11 de setembro
Milhões de pessoas no mundo inteiro observaram, pela tele-
visão, os desdobramentos do desastre no World Trade Center
no momento em que acontecia. Durante semanas, o assunto
dominou a cobertura da imprensa. Depois do ataque, milhares
de sincronicidades pessoais foram registradas sobre os eventos.
Quando procuramos “sincronicidades 11 de setembro” no
Google [em inglês, “9/11 synchronicities”], encontramos
dezenas de milhares de sites, a maioria com histórias de sobre-
vivência que ilustram como as sincronicidades pessoais cos-
tumam estar envolvidas em acontecimentos de massa.
Três semanas antes do desastre do World Trade Center, es-
távamos visitando amigos na comunidade espiritualista de Cas-
sadaga, na Flórida. O médium Art Burley estava fazendo uma
leitura de Rob focada na carreira dele quando, de repente,
prendeu a respiração e olhou para cima. “Vejo duas grandes ex-
plosões vindo de cima, como bombas gigantescas. Acontecerá
logo e mudará tudo.” Aparentemente ainda pensando que fa-
lava sobre a carreira de Rob, acrescentou: “Poderia ser um
filme. É grande”. Obviamente não foi um filme; foi real. E as
bombas não foram uma metáfora para uma mudança na car-
reira, mas, sim, dois aviões comerciais transformados em bom-
bas ao atingirem o alvo.
169/299
O escritor e biólogo britânico Rupert Sheldrake sentiu que
experiências psíquicas relacionadas ao 11 de setembro seriam
abundantes, e colocou um anúncio no jornal Village Voice e
pôsteres na Union Square, em Nova York, buscando sonhos e
premonições relacionados à tragédia. Ele recebeu 57 respostas:
38 envolviam sonhos precognitivos, e 15 eram relativas a pre-
monições. Cerca de um terço dos sonhos ocorreu na noite an-
terior ao desastre, e mais um terço durante os cinco ou seis dias
anteriores.
Sheldrake sentiu que as pessoas que responderam repres-
entavam uma fração daqueles que provavelmente vivenciaram
premonições relacionadas. Várias relataram sonhos com prédi-
os caindo, explosões em Nova York, queda de aviões em prédi-
os ou pessoas em pânico. As respostas que mais o impression-
aram vieram de pessoas que contaram para outras sobre os
sonhos antes do ataque terrorista, bem como premonições de
pessoas que raramente tinham a sensação de um presságio.
Mike Chirni, cientista forense que mora em Nova York, son-
hou que fazia um voo rasante sobre prédios na cidade de Man-
hattan. Todos no avião ficaram confusos. Ele teve uma forte
sensação de pânico, depois sentiu um impacto tremendo e
acordou.
Amanda Bernsohn, que trabalhava a três quarteirões do
World Trade Center, não entendeu por que não conseguia
parar de chorar na noite de 10 de setembro. Quando finalmente
dormiu, sonhou não com o World Trade Center, mas sim que
nazistas tomavam posse de Nova York. Perdeu a hora pela
primeira vez desde que conseguira aquele emprego, há oito
170/299
meses, e foi acordada com o telefonema de um amigo logo de-
pois que o primeiro avião bateu na Torre Norte.
Não é de surpreender que um evento como o 11 de setembro
tenha reverberado com o tempo. Voltando para o início da
década de 1990, Vicki DeLaurentis, que morava nos arredores
da Filadélfia, participou de um retiro espiritual de um dia com
a terapeuta de vidas passadas Carol Bowman. Durante uma
meditação guiada com projeção no futuro, Vicki viu as torres
gêmeas pegando fogo e se desintegrando no chão. Não tinha
ideia de quando aquilo aconteceria, mas seu guia espiritual
garantiu que ela não estaria lá quando acontecesse. Durante
anos ela tentou descobrir o momento exato, e perguntou a to-
dos os paranormais que conhecia, mas nenhum deles tinha
qualquer pista de algo parecido.
Em 1997, Vicki e o marido se mudaram para Long Island, e
ela, então, começou a realmente se preocupar com o que vira
no workshop de Carol. Seu marido passou a trabalhar no ramo
petrolífero, e seus clientes trabalhavam no World Trade Center.
Ainda assim, o guia espiritual garantiu que ela estaria bem.
Em 2001, o marido de Vicki tinha uma reunião no WTC
marcada para 11 de setembro. Ele e Vicki pensaram que poderi-
am jantar, naquela noite, no Windows on the World, um res-
taurante no topo do World Trade Center. Vicki, que tinha medo
de altura, ficou incomodada com a ideia. No entanto, uma sem-
ana antes de 11 de setembro, a reunião do marido foi adiada
para o dia 12. “Se a primeira reunião não fosse remarcada, meu
marido estaria lá.”
171/299

EXERCÍCIO DE ENERGIA CURATIVA


Quando um evento de grande importância acontece,
principalmente um desastre, é natural se sentir amed-
rontado e confuso. Nossa reação imediata é nos preocu-
par com nossa vida e com a das pessoas queridas.
Independentemente de se tratar de um evento natural,
como um furacão, ou provocado pelo homem, acabamos
por nos perguntar por que aconteceu e o que significará
para nós no futuro próximo. Vejamos um exercício que
pode levá-lo em direção à percepção interna.
Sente-se de maneira confortável, inspire profunda-
mente várias vezes, depois diminua o ritmo da respir-
ação de maneira gradual. Sinta seu corpo e sua mente
relaxando. Esqueça-se do que tem pra fazer. Diga a si
mesmo que atingirá o lugar da cura interior. Você atrairá
a energia necessária para se curar e para espalhar essa
cura para os outros.
Visualize uma essência energética ao redor do seu
corpo. Imagine-a como uma luz ardente dourada. Sinta-
a radiando à sua volta, depois concentre a luz dourada
em volta do coração. Visualize essa luz preenchendo seu
corpo, curando, purificando, rejuvenescendo, colocando
energia positiva na sua vida. Tente se concentrar nessa
energia por pelo menos cinco minutos. Quando sua
mente começar a devanear, traga-a de volta para a luz
dourada.
172/299

Antes de sair do estágio de meditação, imagine mais


uma vez que carregará consigo essa energia curativa.
Veja uma camada de luz violeta ao redor da luz dourada,
permitindo que você carregue a energia curativa para o
mundo. Sempre que interagir positivamente com os out-
ros, veja a energia se espalhando. Imagine-a se
movendo de pessoa para pessoa, espalhando-se pelo
mundo, curando antigas feridas, físicas, mentais e
espirituais.

FILMES QUE “PRENUNCIARAM” O 11 DE SETEMBRO


Um site chamado Conspiracy Archive apresenta uma in-
trigante reunião de referências ao 11 de setembro que
apareceram em filmes muito antes de o evento acontecer.
Por exemplo, em Independence Day, de 1996, uma cena
retrata o presidente e sua família sendo removidos em um
Air Force One. O ator Jeff Goldblum abre seu notebook e
observa a contagem regressiva – e a câmera corta para um
close-up do relógio: 9:11:01.
Já O pacificador, filme de 1997 estrelado por George
Clooney e Nicole Kidman, inclui uma cena no Aeroporto
JFK, onde os atores estão perseguindo um terrorista
iugoslavo. Quando Clooney sai de uma escada rolante,
vemos atrás dele os balcões de número 9 e 11.
Em Inimigo do Estado, filme de 1998, uma pesquisa di-
gital feita por Gene Hackman e Will Smith tem como
173/299
resultados dados pessoais de um político corrupto repres-
entado por Jon Voight. Sua data de nascimento é 11/09/
1940. Nas primeiras cenas do filme Traffic, de 2000, uma
van cheia de drogas é parada e apreendida. Quando
mostram a carga, cada caixa tem o número 911 estampado
na frente.
Embora o site seja obviamente voltado para o ângulo da
conspiração, essas referências cinematográficas podem ser
vistas como sincronicidades, mais especificamente precog-
nições. O choque coletivo do 11 de setembro reverberou no
tempo e no espaço, como mostrou a pesquisa do Global
Consciousness Project – GCP [Projeto de Consciência
Global].

Projeto de Consciência Global


O drástico impacto do desastre com o World Trade Center
tornou-se alvo natural para um estudo científico com o objetivo
de monitorar o que o autor Dean Radin chama de “mente glob-
al”. O Projeto de Consciência Global, sediado na Universidade
de Princeton e copatrocinado pelo Instituto de Ciências Noétic-
as dos Estados Unidos, é um experimento fundado na internet
iniciado pelo dr. Roger Nelson, de Princeton. Desde 1998, ele
monitora os movimentos dessa mente global. Radin, ao escre-
ver em maio de 2003 para uma edição da IONS Noetic Sciences
Review, descreveu o projeto como “um oceano de mentes
174/299
individuais [...] que explora a relação mente-matéria” usando
um gerador de números aleatórios (GNA).
A rede consiste de 65 sites no mundo inteiro que geram
números aleatórios. Uma vez a cada minuto, esses números são
baixados e analisados para que se descubra quanto são consist-
entes. Conforme explicado no site do Projeto de Consciência
Global (www.gcpdot.com), “nosso propósito é examinar cor-
relações sutis que possam refletir a presença e a atividade da
consciência no mundo. Nós predizemos a estrutura daquilo que
deveria ser dados aleatórios e associamos tudo a acontecimen-
tos globais de grande importância”. Em termos mais comuns,
jogar uma moeda para cima repetidas vezes poderia resultar
num número igual de caras e coroas. Mas, durante eventos de
alto interesse global, de acordo com a teoria da consciência
global, a atenção focada e a efusão emocional resultam em uma
diferença notável na porcentagem de caras e coroas.
Radin percebeu que os acontecimentos de 11 de setembro
forneceram um teste trágico, porém edificante, para o projeto,
devido à sua natureza, às emoções exacerbadas e à cobertura
maciça da mídia. No dia 11 de setembro, 37 dos geradores de
números aleatórios estavam ativos. As flutuações na análise da
curva em forma de sino indicaram que as anomalias
começaram duas horas antes de o primeiro avião atingir o
WTC, com probabilidades de 20 para 1, segundo Radin. O res-
ultado daquele dia foi o 15o maior em praticamente 1.400 dias.
“Isso significa que, naquele dia fatídico, os ‘sinos’ do Projeto to-
caram coletivamente no mundo inteiro numa frequência excep-
cionalmente única.”
175/299
O que é exatamente essa mente global? Nelson, pioneiro
nesse projeto, a descreve como a consciência combinada de
cada pessoa no planeta. “A consciência tem um papel criativo,
produtivo e gerador no mundo, de modo que aquilo que dese-
jamos é mais provável que aconteça do que se não desejásse-
mos”, escreveu ele no site do Projeto. “O que vislumbramos em
conjunto se manifestará no mundo de maneira sutil.”
Em 2003, Dean Radin afirmou que, depois que ele e os cole-
gas publicaram suas descobertas sobre o 11 de setembro na rev-
ista de física Foundations of Physics Letters, alguns cientistas
continuaram céticos. Durante a explicação de como explorou a
análise do GNA, ele disse: “se o Projeto de Consciência Global
detecta interações genuínas de mente-matéria em larga escala,
isso quer dizer que aumentou a possibilidade de que algumas
coincidências possam ser mais que mero acaso”. Depois, Radin
relacionou duas sincronicidades impressionantes relativas aos
eventos do Memorial do 11 de setembro, em 2002.
Na noite de 11 de setembro de 2002, a loteria de Nova York
sorteou a sequência 9-1-1. Radin disse que a probabilidade de
sortear qualquer sequência de três números é de 1 em 1.000.
Uma pequena investigação mostrou que, nos 5 mil sorteios an-
teriores dessa loteria, a sequência 9-1-1 tinha saído cinco vezes.
“No entanto, será que é uma coincidência esse número ter
aparecido nessa data, nessa cidade, e não em nenhuma outra
loteria do Estado? Dada a atenção maciça colocada na sequên-
cia 9-1-1 naquele dia e naquela cidade, isso é algo que nos faz
pensar.”
176/299
A outra sincronicidade aconteceu no marco zero, em Man-
hattan, também no dia 11 de setembro de 2002. O tempo
naquele dia estava tranquilo, o céu azul e limpo, e não havia
previsão de tempestades. No entanto, conforme reportou o Mil-
waukee Journal Sentinel, pouco antes de a cerimônia de
comemoração começar, os ventos ficaram mais fortes e o ar
encheu-se de poeira, exatamente como aconteceu um ano antes
quando as torres caíram.
Um mês depois, a revista Windsurfer publicou um artigo es-
crito por um praticante de windsurfe que estava lá. “Depois de
testemunhar esse vento forte que ‘veio do nada’, o jovem veri-
ficou os registros de vento para o dia 11 de setembro e para os
anteriores”, escreveu Radin no IONS Noetic Science Review.
“Os resultados foram extraordinários: durante uma semana
antes de 11 de setembro de 2002, os ventos próximos de Nova
York estavam calmos, numa média de 8 km/h. No dia 11 de
setembro, por volta das nove da manhã, os ventos na baía perto
de Long Island de repente aceleraram para mais de 72 km/h.”
Radin ficou tão impressionado com essa história que re-
solveu conferir os resultados com o posto da Estação Nacional
de Meteorologia no Central Park, e também no aeroporto
Dulles, perto de Washington, D. C. Os dois lugares marcaram
mudanças na pressão barométrica e na velocidade do vento a
partir das nove da manhã. Radin escreveu: “Esse experimento
contínuo sugere que, quando a mente geral se move, a matéria
também se move”.
177/299
A teoria sobre a qual se fundamenta o Projeto de Consciên-
cia Global tem suas raízes nos tempos antigos. No século
IV a.C., o filósofo grego Heráclito considerava que todas as
coisas eram inter-relacionadas ou seguiam uma “razão cós-
mica”. Ele acreditava que os acontecimentos não eram
ocorrências isoladas, mas repercutiam em toda a estrutura
da existência, que todas as coisas estavam ligadas por uma
rede de organização criada pelo logos.
Hipócrates, nascido 20 anos depois da morte de Her-
áclito, expressou pensamentos semelhantes. “Há um único
fluxo comum, uma respiração comum. Tudo está em con-
sonância. O organismo inteiro e cada uma de suas partes
trabalham juntos para o mesmo fim. O grande princípio
estende-se até a parte mais extrema, e das partes mais ex-
tremas retorna novamente até o grande princípio.”
O estudioso romano Agripa referia-se a uma Quinta
Essência – algo além da terra, do ar, do fogo e da água –
que mantinha a existência unida. Ele também a chamou de
Alma do Mundo, que penetra em todas as coisas e é uma
coisa em si. Plotino, contemporâneo de Agripa, escreveu:
“Não há lugar na vida para o acaso; nela reinam apenas a
ordem e a harmonia”.
Na Idade Média, essa ideia era conhecida como unus
mundus – mundo unitário –, considerado um conheci-
mento coletivo que existe independente de nós, embora
nos seja acessível. Nessa cosmologia, a fonte da coincidên-
cia significativa é separada de nossa percepção consciente e
178/299
de nosso ego, mas é onde a psique e o mundo externo se
tocam.
Isso se parece bastante com a teoria de F. David Peat,
segundo a qual a sincronicidade é uma ponte entre a mente
e a realidade exterior. Em Synchronicity: the bridge
between matter and mind, ele escreveu: “As sincronicid-
ades [...] abrem as comportas dos níveis mais profundos da
consciência e da matéria que, por um momento criativo,
superam a mente e fecham a divisão entre o interior e o
exterior”.

Às vezes, as sincronicidades associadas a eventos de massa


abrem nossa consciência para o fato de que o universo não é o
que parece ser. O escritor Daniel Pinchbeck, em 2012: the re-
turn of Quetzalcoatl, escreveu como, em setembro de 2001, ele
finalmente conseguiu terminar de revisar o “manifesto poético”
de um amigo, um tipo de crítica contra o corporativismo e a
globalização. Seu amigo estava no quarto alimentando a filha, e
as páginas do manuscrito se espalhavam sobre a mesa da sala
quando, de repente, eles ouviram algo lá fora, que ele descreveu
como “o rugido de um avião rasante e depois um rangido
metálico bem alto”. Ele e o amigo abriram as persianas e viram
“uma cratera pegando fogo em uma das torres do World Trade
Center”. O título do manuscrito era Mundo em chamas.
Pinchbeck cresceu sob um sistema materialista de crenças
que teria descartado essa coincidência e a considerado produto
da probabilidade ou do acaso. De acordo com o modo de
pensamento materialista, o cérebro naturalmente procura
179/299
encontrar padrões. “Como produto de nossa busca habitual por
padrões, estamos neurologicamente programados a procurar
significados mais profundos em um mundo que, no nível mais
fundamental, é destituído dessas coisas”, escreveu Pinchbeck.
“Nossa crença de que há ‘sinais’ escondidos dentro do caos dos
acontecimentos é um antigo mecanismo de sobrevivência, uma
tentativa de dar importância a nossa vida e evitar o fato exist-
encial de nossa insignificância.”
Ele vai além dessa perspectiva e a reformula. “Embora eu
não tenha percebido isso naquela época, correntes profundas
do pensamento do século XX – tanto na física quanto na psic-
análise – sugerem que essa perspectiva materialista é
imperfeita.”

Registrando premonições
Grupos de discussão para o registro de premonições sobre
catástrofes existem de uma maneira ou de outra desde o de-
sastre de Aberfan, em 1966, quando foi criado o Central Pre-
monition Registry [Centro de Registro de Premonições].
Naquele incidente, uma mina de carvão ruiu no vilarejo galês
de Aberfan, provocando uma avalanche que matou 144 pess-
oas, incluindo 116 crianças. O desastre atraiu a atenção do
mundo todo.
O dr. John Barker, um psicólogo britânico, suspeitou que al-
guns moradores dos vilarejos próximos poderiam ter tido
180/299
premonições desse acontecimento dramático. Ele fez algumas
entrevistas e recebeu 66 relatos. Destes, 24 foram confirmados.
Uma das premonições mais precisas veio de uma mulher de
47 anos de idade que sonhou com uma antiga escola em um vil-
arejo, uma mina de carvão galesa e uma avalanche de carvão
caindo pela encosta de uma montanha. Perto do pé da
montanha havia um garoto assustado. Ela viu uma tentativa de
resgate e percebeu que o garoto fora salvo. Um dia antes do de-
sastre, ela contou o sonho para seis pessoas na igreja.
Um ano depois do desastre, dr. Barker fundou a British Pre-
monitions Bureau [Agência Britânica de Premonições]. No ano
seguinte, Robert e Nancy Nelson fundaram uma organização
semelhante em Nova York, chamada Central Premonitions Re-
gistry [Centro de Registro de Premonições]. O nome atual é
Prophecies: Prediction and Premonition Registry [Profecias:
Registro de Predições e Premonições] e pode ser acessada pelo
endereço www.prophecies.us. Essas organizações reúnem rela-
tos de sonhos que podem predizer futuros acontecimentos que
teriam impacto sobre um grande número de pessoas de modo a
alertá-las a respeito de desastres prestes a acontecer. No ent-
anto, a maioria das premonições de desastres tende a ocorrer
um ou dois dias antes do evento, dificultando qualquer atitude
que poderia advir desses relatos.

O pessoal envolvido dentro do global


181/299
Prever tragédias por meio de premonições parece desafiador,
mas, em seu livro, F. David Peat conta a história de um cur-
andeiro que deteve um desastre. Essa história é originalmente
de Richard Wilhelm, amigo de Jung e famoso por sua tradução
do I Ching para o inglês, feita em 1950.
Já não chovia no vilarejo há semanas, e os moradores convo-
caram um “fazedor” de chuva. Em vez de executar rituais com-
plicados para fazer chover, o homem foi direto para a cabana
que lhe haviam providenciado. Ele percebeu que o vilarejo so-
fria com a discórdia, não estava em consonância com a
natureza. Quando o homem se acalmou e se recompôs, o
equilíbrio foi restabelecido no vilarejo, e a chuva caiu. De certo
modo, o vilarejo passava por uma crise espiritual coletiva, e o
fazedor de chuvas serviu como catalisador para sua solução.
Da mesma maneira, no século IV, Santo Agostinho passou
por uma crise espiritual em sua vida. Enquanto passeava pelo
jardim de Milão, escutou a voz de uma criança vinda de uma
casa vizinha, repetindo misteriosamente as palavras “Tolle,
lege, tolle, lege”. Toma e lê, toma e lê.
Atônito, acabou abrindo as epístolas de São Paulo e leu uma
resposta para seu conflito – a passagem falava até mesmo da
solução. “A luz da certeza inundou meu coração e todas as som-
bras da dúvida se dissiparam”, escreveu depois no Livro VIII de
Confissões, tido como a primeira autobiografia da literatura
ocidental. A voz da criança, assim como o fazedor de chuvas no
vilarejo chinês, ajudaram quando mais se precisava de ajuda.
Os dois casos são exemplos claros de sincronicidade.
182/299
Mil anos depois, os textos de Santo Agostinho levaram ao
nascimento do pensamento renascentista por meio das visões
de Petrarca. O estudioso e poeta italiano, nascido em 1304, é
conhecido como o pai do humanismo, e foi um dos primeiros a
chamar a Idade Média de Idade das Trevas. Durante anos, ele
pensou em escalar o monte Ventoux para ter uma visão panor-
âmica da região. A escalada de montanhas era uma raridade
naquela época, principalmente com o propósito de ter uma
vista melhor. Em abril de 1336, no entanto, Petrarca e o irmão
começaram a subida que os estudiosos, depois, considerariam
como o evento que simbolizou o início da Renascença.
Quando ele chegou ao topo, com as nuvens deslocando-se
abaixo dos seus pés, o vento no rosto, Petrarca ficou deslum-
brado com a vista da Provença Francesa, dos Alpes, do Medi-
terrâneo. Nesse estado de embriaguez, pegou seu exemplar de
Confissões, de Santo Agostinho. Abrindo aleatoriamente no liv-
ro X, leu: “E os homens vão além para admirar as alturas das
montanhas, as poderosas ondas do mar, a forte corrente dos ri-
os, o limite dos oceanos, o circuito das estrelas, e ignoram a si
mesmos”.
Petrarca ficou maravilhado com o que leu, reconhecendo a
coincidência como parte de um padrão mais amplo, um mo-
mento transformador. Depois, escreveu em uma carta que não
poderia ter sido acidente ele ter se deparado exatamente com
essas palavras. “Acredito que o que li destinava-se a mim, e
mais ninguém, lembrando que Santo Agostinho uma vez sus-
peitou da mesma coisa em relação a si mesmo.”
183/299
As experiências de Santo Agostino e Petrarca tornaram-se
não só momentos importantes em suas próprias jornadas da
percepção, mas também tiveram um impacto global. Do
mesmo modo, a experiência de Daniel Pinchbeck abriu sua per-
cepção e mudou sua orientação intelectual, de uma perspectiva
materialista para uma perspectiva da sincronicidade. Tal exper-
iência o levou a pensar e escrever seguindo o exemplo de Ter-
ence McKenna, Timothy Leary e Aldous Huxley. O pessoal en-
volvido dentro do global.

JFK, Lincoln e Obama


Depois do chocante assassinato de John F. Kennedy em 1963,
surgiu uma lista de similaridades impressionantes entre
Kennedy e Abraham Lincoln. Embora outras tenham sido
acrescentadas com o passar dos anos, as sincronicidades mais
fortes foram anotadas logo depois da morte de JFK.

• Kennedy foi eleito para o Congresso em 1946; Lincoln, em


1846.
• JFK foi eleito presidente em 1960; Lincoln, em 1860.
• Lincoln tinha um secretário chamado Kennedy.
• Kennedy levou um tiro em um carro chamado Lincoln.
• Lincoln levou um tiro em um teatro chamado Ford;
Kennedy levou um tiro em um carro da Ford.
• Ambos levaram um tiro na nuca numa sexta-feira, en-
quanto suas esposas estavam sentadas perto deles.
184/299
• Lincoln deu a liberdade e a igualdade de direitos aos
negros; Kennedy reforçou essa igualdade.
• Ambos tiveram sucessores de nome Johnson.
• O vice-presidente de Lincoln, Andrew Johnson, nasceu
em 1808; o vice de Kennedy, Lyndon Johnson, em 1908.
• Lincoln foi morto num teatro, e seu assassino fugiu para
um armazém; o suposto assassino de JFK atirou de um
armazém e fugiu para um teatro.
• O nome do assassino de Lincoln tinha três palavras: John
Wilkes Booth; o do suposto assassino de Kennedy tam-
bém: Lee Harvey Oswald.
• John Wilkes Booth nasceu em 1839; Lee Harvey Oswald,
em 1939.
• O pai de Kennedy foi embaixador da Inglaterra, na Corte
de St. James; o filho de Lincoln tornou-se embaixador
da Inglaterra na Corte de St. James.
• Lincoln teve dois filhos, Robert e Edward. Edward morreu
jovem, Robert não. Kennedy teve dois irmãos, Robert e
Edward. Robert morreu jovem, Edward não.

Os paralelos entre esses dois homens são impressionantes.


Descartá-los como meras esquisitices, além de ser tacanho, rev-
ela uma relutância em enxergar uma realidade mais profunda
escondida do mundo cotidiano. Quando nos permitimos olhar,
realmente olhar, nossas mentes racionais oscilam. Assim como
o mundo fixou o olhar para a televisão depois do 11 de setem-
bro, milhões de pessoas fizeram o mesmo depois do assassinato
185/299
de Kennedy. Eventos de massa afetam a consciência da massa e
criam um ambiente fértil para a sincronicidade.
Quando Barack Obama tornou-se o 44o presidente dos Esta-
dos Unidos, muitos notaram as sincronicidades entre ele e Lin-
coln. Os dois eram advogados que começaram a carreira polít-
ica na Assembleia Legislativa de Illinois, servindo no mesmo
distrito. Ambos cumpriram um único mandato no Congresso
antes de se tornarem presidentes. Os dois levaram filhos
pequenos para a Casa Branca. Ambos alcançaram os holofotes
nacionais com discursos poderosos. Nenhum dos dois serviu
como militar. Lincoln libertou os escravos, e Obama é o
primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos.
As histórias de vida de Lincoln e Obama revelam paralelos
fascinantes, assim como as de Lincoln e Kennedy estavam sin-
cronicamente conectadas.

NEDA: O CHAMADO DIVINO


Depois da eleição presidencial no Irã em junho de 2009,
manifestações em massa eclodiram enquanto os iranianos
protestavam contra os resultados. Ao que parecia, a eleição
fora manipulada, e a população rebelava-se contra o statu
quo. Qualquer rebelião que envolva aglomerados de pess-
oas, emoções intensas e cobertura mundial da mídia tem
uma probabilidade de envolver sincronicidades. Ao assi-
stirmos ao jornal no dia seguinte, descobrimos um incrível
exemplo de sincronicidade.
186/299
Houve um destaque sobre a morte de uma linda moça
nas ruas durante uma manifestação, e ela rapidamente se
tornou símbolo do movimento. O vídeo foi mostrado na TV
a cabo repetidas vezes e se espalhou na internet.
A sincronicidade foi o nome da moça: Neda, que em
persa quer dizer “O Chamado Divino”. Sua morte foi vista
como o sacrifício por uma causa maior.

Medindo a linha entre mente e matéria


Em 3 de outubro de 1995, aproximadamente meio bilhão de
pessoas viu ou ouviu a transmissão ao vivo do veredito do caso
de O. J. Simpson. Foi o assassinato que mais esteve em evidên-
cia na história dos Estados Unidos. A agência Reuters relatou
que a audiência desse evento superou três das cinco transmis-
sões do campeonato Super Bowl entre 1991 e 1995.
Dean Radin, Roger Nelson e um colega da Universidade de
Amsterdã estavam prontos para o evento com cinco geradores
de números aleatórios (GNAs). Eles procuravam correlações
incomuns no que deveriam ser dados aleatórios que indicariam
uma atividade aumentada na consciência global.
“Esperávamos que o nível incomum de atenção em massa
direcionada naquela noite geraria um resultado combinado de
cinco GNAs independentes, de maneira simultânea, que
mostrasse uma ordem inesperada quando o veredito fosse
anunciado”, escreveu Radin no IONS Noetic Sciences Review
no primeiro trimestre de 1998.
187/299
E foi exatamente isso o que aconteceu. A mente global – o
unus mundus – estava tão concentrada no veredito de O. J. que
impactou os geradores de números aleatórios de uma maneira
mensurável. Por volta das nove da noite do dia 3 de outubro de
1995, quando a cobertura de televisão sobre o veredito
começou, “um nível inesperado de ordem apareceu em todos os
GNAs”, afirmou Radin.
O gráfico, publicado junto com o artigo, mostra um aumento
acentuado durante a hora em que a cobertura começou, que
lembra o tipo de linha que vemos em um sismógrafo quando
um terremoto atinge sua maior intensidade. Um segundo
aumento ainda maior culminou quando o veredito foi
anunciado.
Radin disse que o experimento, e outros como este, ilustram
que a ligação comum entre a mente e a matéria é a ordem. E
lembram a ordem implicada de Bohm, dando a impressão de
uma sincronicidade.
Passemos para 13 anos depois de O. J. Simpson ter sido ab-
solvido da acusação de duplo homicício. Em 3 de outubro de
2008, o mesmo O. J. foi condenado por sequestro, assalto à
mão armada e dez outras acusações. Ele e cinco homens assal-
taram o quarto de um hotel-cassino, de onde levaram troféus,
fotos e bolas de futebol. Sua história, então, deu um giro de 360
graus.

PENSANDO GLOBALMENTE
188/299

Vivemos no planeta com praticamente sete bilhões de


pessoas. Portanto, nos cabe prestar atenção ao que
acontece no mundo como um todo e buscar sincronicid-
ades relacionadas a eventos globais que podem servir
como pistas vitais para tendências futuras. Mantenha
uma lista delas, e seja o mais detalhista possível. O que
as mensagens mais profundas dizem sobre o futuro?
Sobre o cenário político, sobre guerras e sobre a paz?
Sobre o aquecimento? Sobre o papel do indivíduo na so-
ciedade? Como tudo isso se relaciona a você?
Pense em organizar seu arquivo de sincronicidades
globais por categorias. Vejamos algumas sugestões:
• política;
• questões internacionais;
• pessoas famosas;
• finanças/economia;
• espiritualidade e religião;
• estado de espírito;
• descobertas/invenções;
• desastres e guerra;
• triunfos.
Em qual categoria você percebe mais sincronicidades?
Que tipos de sincronicidade encontrou? Metafóricas? Pre-
cognitivas? Literais?
A numeróloga Connie Cannon vivencia sincronicidades
frequentes em sonhos precognitivos relacionados a pess-
oas famosas. Ela também é psiquicamente sensitiva a
terremotos prestes a acontecer. Vários dias antes de
uma série de tremores, ou de tremores de 5 graus na
189/299

escala ou mais, Connie sempre passa por uma variedade


de sintomas, inclusive tontura extrema, náusea e
pressão alta. Demorou anos para que ela correlacionasse
esses sintomas aos terremotos, mas agora, às vezes,
consegue apontar as áreas em que eles ocorrerão com
base nos tipos de sintoma que vivencia.
Outra amiga nossa costuma ver manchetes na edição
atual dos jornais que ninguém mais vê – e depois
descobre que são exatamente iguais ou similares a man-
chetes publicadas um ou dois dias depois. Isso acontece
de forma espontânea. Com a prática, e se estiver dis-
posto, você pode desenvolver esse talento.
Sente-se diariamente, pela manhã, e olhe para a
primeira página do jornal. Você deve se concentrar numa
categoria específica de eventos globais que lhe in-
teressem, ou manter-se aberto a quaisquer aconteci-
mentos notáveis.
Diminua o ritmo da respiração; feche os olhos. Pres-
sione o polegar na sua narina direita e respire com a es-
querda. Prenda a respiração por alguns segundos, retire
o dedo e expire pela narina direita. Repita o processo,
dessa vez tampando a narina esquerda e inspirando pela
direita. Esse tipo de respiração equilibra os hemisférios
do cérebro. Repita o processo algumas vezes. De olhos
fechados, coloque sua mão sobre o jornal.
Quando estiver concentrado, tire a mão e olhe “at-
ravés” do jornal. Permita que sua visão “perca o foco”.
Se preferir, pode continuar de olhos fechados. Enquanto
respira profundamente mais algumas vezes, você pode
190/299

começar a ver manchetes do futuro. Quando as imagens


das manchetes aparecerem, anote-as.
PARTE DOIS

A mágica
ADIVINHANDO A
SINCRONICIDADE

“A adivinhação é como um laboratório de demon-


stração: ela nos mostra como os elementos da vida
cotidiana se movimentam e modelam a força maior
da Realidade Primeira.”
– DIANNE SKAFTE, LISTENING TO THE ORACLE
Do I Ching à astrologia, do tarô às runas e aos desenhos forma-
dos em folhas secas de chá, borras de café ou ossos, a sin-
cronicidade é o motor que governa todos os sistemas divinos.
Qualquer que seja o método ou os meios, a adivinhação é a
forma mais tangível de mobilizar a sincronicidade.
A adivinhação é praticada desde os tempos mais remotos da
civilização, e provavelmente começou antes de os seres hu-
manos descobrirem o fogo. Entre os antigos babilônios, adivin-
hos observavam padrões nas entranhas de animais, dando ên-
fase especial ao fígado, na fumaça, no óleo na superfície da
água e também por meio do comportamento dos animais, prin-
cipalmente dos gatos. Os babilônios, assim como os chineses,
os egípcios, os gregos, os asiáticos e os persas, também usavam
a astrologia.
Os druidas preferiam bolas de cristal e observavão padrões
nas nuvens e nas estrelas, nas raízes das árvores e no canto dos
pássaros. Por volta de 1200 a.C., os chineses usavam um sis-
tema de adivinhação chamado fuji, que lembra um pouco a
mesa Ouija. Os gregos antigos tinham o Oráculo de Delfos, mas
também adivinhavam padrões nos sonhos, no barulho das nas-
centes e arremessando pequenas pedras ou pedaços de
madeira, ossos ou dados.
“A história da adivinhação não tem ponto de partida nem
destino. Ela está tão enraizada na vida espiritual da humanid-
ade que é impossível imaginar uma época em que não tenha
sido usada nenhuma forma de adivinhação”, escreveu Dianne
Skafte em Listening to the oracle.
194/299
A única coisa que todos esses sistemas têm em comum é a
criação de padrões significativos intrínsecos ao momento. No
entanto, Jung afirmou em sua introdução à tradução de
Richard Wilhelm do I Ching que um padrão será significativo
somente se formos capazes de relacionar a interpretação aos
acontecimentos da nossa vida. Quando fazemos isso, estamos
obtendo uma orientação da mente inconsciente, que é ligada à
realidade subjacente, o inconsciente coletivo. Em essência, a
prática da adivinhação é nosso contato mais imediato com a
sincronicidade.

O I Ching
O I Ching existe há pelo menos cinco mil anos, mas foi in-
troduzido ao público ocidental de maneira mais ampla em 1950
por meio da tradução de Richard Wilhelm, europeu que passou
a maior parte da vida traduzindo antigos textos chineses. O sis-
tema de adivinhação é baseado em 64 desenhos conhecidos
como hexagramas, formados a partir do arremesso de três
moedas seis vezes consecutivas. Originalmente, usavam-se os-
sos e, mais tarde, caules de milefólio.
Os hexagramas consistem de seis linhas horizontais, inter-
rompidas ou contínuas. Usando as moedas, caras (yang) valem
três pontos, e coroas (yin), dois. Portanto, duas caras e uma
coroa daria oito. Seis e oito são linhas interrompidas; sete e
nove representam linhas contínuas. Vejamos um exemplo de
hexagrama:
195/299

Além disso, seis e nove representam “linhas mutáveis”, que


sugerem que a situação atual está em fluxo. Essas linhas levam
à formação de um segundo hexagrama, a evolução da sua per-
gunta. No final do livro do I Ching, há uma tabela para consul-
tar o nome e o número do hexagrama formado, para que depois
se possa ler a interpretação.
Conforme escreveu Jung na introdução da edição de Wil-
helm, a pessoa que inventou o I Ching acreditava que o hexa-
grama “era o expoente do momento no qual foi tirado”.
Em outras palavras, quando jogamos as moedas, o hexa-
grama formado é como um instantâneo do tempo, uma mani-
festação do interior. Em The invisible landscape: mind, hallu-
cinogens, and the I Ching, os escritores e visionários Terence e
Dennis McKenna argumentam que os hexagramas são arquéti-
pos “capazes de iluminar o destino da pessoa que consultou o
oráculo apropriadamente”.
Perguntamos ao I Ching sobre a importância da sincronicid-
ade e recebemos o hexagrama 15, “Modéstia”. Em parte, diz o
seguinte: “Ele distribui as bênçãos do céu, as nuvens e a chuva
que se acumulam no topo, e então brilha com o raiar da luz ce-
lestial”. Esse hexagrama mudou para o 45, “Reunião”, que sug-
ere: “No momento da reunião, devemos nos armar a tempo de
impedir o inesperado. Tragédias humanas geralmente
acontecem como resultado de eventos inesperados contra os
quais nunca estamos precavidos. Se estivermos preparados,
podemos evitá-las”.
196/299
Em outras palavras, esses hexagramas parecem dizer que as
sincronicidades são bênçãos, e que prestar atenção a essas co-
incidências significativas é uma forma de nos prepararmos
para os alertas e reunir informações para enfrentarmos o
futuro.
Depois que Adele Aldridge se separou do marido, quis entrar
em contato com uma velha amiga que, segundo ouvira dizer,
também havia se separado recentemente. Ela não sabia como
encontrá-la, mas o desejo era forte. Em um sonho, Adele viu
um cavalo alado voando no céu. Não fazia ideia do que aquilo
significava, mas adorou a imagem, e sentiu que se tratava de
uma forte mensagem de algo extraordinário. Então, pediu
ajuda ao I Ching sobre o significado do sonho. A resposta foi o
hexagrama 22, “Graciosidade”, com a quarta linha mutável. A
tradução de Wilhelm para essa linha mutável é:

Graça ou simplicidade?
Um cavalo branco chega como que voando.
Ele não é um salteador. Deseja cortejar no momento devido.

“Eu me arrepiei inteira quando li aquilo. Não só o I Ching


refletiu meu sonho com uma estranha precisão, como no dia
seguinte a pessoa que eu queria ver me ligou.” O sonho e a
leitura do I Ching – e a conexão posterior – marcaram o início
de eventos que mudariam a vida de Adele.
197/299

VOCÊ E O I CHING
Se não conhecer o I Ching e quiser experimentar, vá à
primeira livraria e procure uma das diversas edições ex-
istentes no mercado. Nossa predileta é a de Richard Wil-
helm. Outras traduções lutam para tornar o léxico da
vida chinesa antiga mais compreensível para os ociden-
tais. Leve sua tradução para a cafeteria, peça um café,
pegue três moedas e pense numa pergunta. Depois,
jogue as moedas e veja o que acontece. Ou procure no
Google por “jogar I Ching” para ver do que se trata.
A verdade é que o I Ching não é para qualquer um.
Alguns dos hexagramas que falam do papel da mulher
na antiga sociedade chinesa são nitidamente machistas
para os padrões atuais. Referências à colheita e à seca
não são representações tão reais da vida no século XXI,
a não ser que você trabalhe com agricultura. Porém, se
deixarmos de lado nosso viés ocidental e destilarmos a
essência dos hexagramas, podemos obter uma grande
sabedoria desse sistema divinatório. Ele é especialmente
bom para interpretarmos sonhos e a dinâmica de uma
situação em desenvolvimento.
As pessoas que usam esse sistema atestam regular-
mente sua misteriosa precisão. Ele funciona melhor se
estivermos acostumados a interpretar metáforas e fazer
associações. Às vezes, seguir o conselho do I Ching pode
ser um ato de fé.
198/299

Por exemplo, em Synchronicity: multiple perspectives


on meaningful coincidence, Shantena Augusto Sabbadini
conta uma história sobre seu mentor de I Ching, Rudolph
Ritsema, que passou 50 anos estudando o oráculo,
traduzindo-o e fazendo uso dele. Quando foi internado
numa clínica suíça com hemorragia cerebral, os médicos
estavam preocupados com seu estado cardíaco e
pensaram que ele precisaria de um marca-passo. Antes
de tomar a decisão de implantar o aparelho, Ritsema,
que estava com o lado esquerdo paralisado por causa da
hemorragia, consultou o I Ching, e decidiu não passar
pelo procedimento. Os médicos ficaram espantados. Rit-
sema já estava com 80 anos, e morreu alguns anos de-
pois, aos 88, mas tinha fé em um sistema no qual
acreditava.
“A sincronicidade [...] lida com o não repetível, o não
reproduzível”, escreveu Sabbadini. “Um evento sin-
crônico – inclusive uma consulta ao I Ching – fala cono-
sco por meio das especificidades de uma constelação de
circunstâncias internas e externas que jamais acontecerá
de novo exatamente naquele mesmo padrão. [...] A sin-
cronicidade é um fenômeno único.”
E como fenômeno único, seu conselho costuma ser
misteriosamente preciso.

Astrologia
199/299
Como ferramenta de adivinhação, a astrologia é tão rica e com-
plexa quanto o I Ching. Em vez de varetas de milefólio ou
moedas, ela é baseada nos padrões e movimentos dos corpos
celestes em determinado momento. O mapa astral é um dia-
grama geométrico dos céus visto do lugar e no momento do
nascimento; é determinado pela data, hora e lugar de nasci-
mento e parece um círculo com doze seções desiguais. Essas
seções são chamadas casas e retratam diferentes áreas da vida:
pessoal, financeira, sobre irmãos e vizinhos, família, parceiros e
assim por diante. Assim como o ato de atirar moedas no I Ch-
ing é um instantâneo do tempo, o momento em que respiramos
pela primeira vez marca esse instante. O mapa astral, como um
hexagrama, forma um padrão significativo, um esquema de po-
tencial arquetípico.
Muitos educadores e cientistas famosos descartam a astrolo-
gia como uma superstição do passado, e encaram a astronomia
como a ciência dos corpos celestes. No entanto, o pai da astro-
nomia moderna, Galileu Galilei, também era astrólogo. Ele foi
atacado pela Igreja por conta de suas predições astrológicas,
bem como pelos cálculos astronômicos, e passou boa parte da
vida em prisão domiciliar.
Apesar dos esforços com o passar dos séculos para negar a
astrologia, ela continua sendo um meio vibrante para a análise
de personalidades e relações – e para a predição do futuro. Al-
guns cientistas, na verdade, ficaram atônitos com sua precisão.
Em 1950, o estatístico francês Michel Gauquelin planejou
provar que as posições de nascimento das estrelas e planetas
não exerciam absolutamente nenhuma influência sobre o
200/299
desenvolvimento futuro das pessoas. Porém, ficou consternado
quando suas próprias estatísticas mostraram que ele estava er-
rado, com a probabilidade de cinco milhões para um,
mostrando que grandes soldados, líderes militares e comand-
antes tendiam a ter o ascendente de seus horóscopos em Marte.
Muitos tipos de astrologia podem ser usados para tratar de
padrões que atuam na sua vida neste momento – ou padrões
que podem influenciar sua vida daqui a seis meses ou 50 anos.
Os trânsitos, movimentos diários dos planetas, exercem o efeito
mais óbvio e imediato, sobretudo quando planetas que se
movem lentamente, como Plutão, Netuno e Urano, estão en-
volvidos. Quanto mais tempo um planeta permanece em de-
terminado signo, maior o impacto exercido sobre nós como in-
divíduos, sociedade, país e mundo.
“Em termos junguianos, a evidência astrológica sugere que o
inconsciente coletivo está, em última análise, incorporado no
próprio macrocosmo, e que os movimentos planetários são um
reflexo da dinâmica arquetípica da experiência humana”, escre-
veu Richard Tarnas em Cosmos e Psyche: intimations of a new
world view. Tarnas, assim como Grasse, acredita que esses ar-
quétipos planetários estão intimamente conectados ao mito.
Tomemos Marte como exemplo. Na mitologia, Marte era o
deus romano da guerra. Na astrologia, ele simboliza a energia
física e sexual, os impulsos, a agressividade, a fúria e o conflito.
Representa nossa capacidade de ir atrás do que desejamos,
conquistar e defender. Quando Marte atinge um dos planetas
ou pontos sensíveis no seu mapa astral, algo acontece. A
201/299
natureza do que acontece depende de onde ou o que Marte at-
ingiu e do ângulo que ele faz com o planeta ou casa.
Digamos que Marte esteja se movendo pelo céu
(transitando) e atinja o mesmo ponto no zodíaco onde o Sol es-
tava posicionado no momento do seu nascimento. O Sol é o ar-
quétipo do eu e simboliza a totalidade de quem você é. Durante
as cinco ou seis semanas em que Marte fica acima do seu sol,
sua vida se torna um estudo no caos, na velocidade e na ação.
Tudo que seu arquétipo solar exemplifica se torna mais evid-
ente, óbvio, urgente. Talvez você até se sinta mais batalhador.
O zodíaco consiste de doze signos, e cada um deles contém
três graus. O grau que o Sol ocupava no momento em que você
nasceu provavelmente corresponde a um ano na sua vida em
que algum tipo de experiência transformadora aconteceu – o
nascimento de um irmão, uma mudança, o divórcio dos pais ou
um novo casamento, um acidente, doenças ou algum outro
acontecimento determinante. O tempo não é sempre exato –
aumente uma margem de seis meses para a frente ou para trás.
Trish, cujo Sol está a 16 graus e 12 minutos de Gêmeos, passou
por um acontecimento determinante cinco meses depois do seu
aniversário de 16 anos. Seus pais se mudaram da Venezuela,
onde ela nasceu e cresceu, para os Estados Unidos. Naquele
ano, ela também descobriu a astrologia, o que ajudou a en-
tender as ramificações da mudança.
Se seu Sol está posicionado, digamos, a 25 graus do seu si-
gno, você deve encontrar seu cônjuge aos 25 anos, ou talvez
nasça seu primeiro filho. Se está a 8 graus, poderia significar
que seus pais se divorciaram quando você tinha oito anos, ou
202/299
que você foi aceito numa escola para superdotados e isso influ-
enciou o resto da sua educação.
No mapa astral de Reya, o Sol está a 24 graus e 58 minutos
de Aquário (faltando dois minutos para 25 graus). Quando
Trish viu esse mapa pela primeira vez, perguntou-lhe que
acontecimento de grande importância tinha ocorrido entre os
25 e 26 anos. Há exatos doze dias antes de ela completar 26
anos, Reya foi atingida por um trem e ficou inconsciente quatro
dias. “Esse acontecimento me retirou de um estilo de vida
muito destrutivo e foi o responsável pelo meu primeiro contato
com a medicina alternativa”, escreveu ela. “Seria isso?” Pode
apostar.
Se você não sabe o grau do seu Sol, entre no site
www.astro.com (em inglês) para uma versão gratuita do seu
mapa astral. Localize o Sol – seu símbolo parece um círculo
com um ponto no centro. Perto dele você verá números que in-
dicam o grau do signo no qual seu Sol de nascimento está local-
izado. Se você nasceu no dia 14 de outubro de 1950, por exem-
plo, seu Sol estaria a 20 graus de Libra. Isso significa que deve
ter havido um momento determinante na sua vida quando você
estava mais ou menos com 20 anos de idade. Aumente seis
meses para cima ou para baixo. Caso ainda não tenha atingido
a idade correspondente ao seu Sol natal, tenha em mente que
algum evento determinante pode ocorrer quando você chegar a
essa idade.
Em Cosmos and Psyche, Richard Tarnas afirmou que o
trânsito de Urano – planeta da inovação, genialidade e aconte-
cimentos repentinos – parece coincidir com períodos de grande
203/299
descoberta e criatividade. Tanto para Freud quanto para Jung,
seus períodos de maior criatividade e inovação aconteceram
quando Urano estava no oposto das posições que ocupou na
data de nascimento deles. Durante esses períodos, tornamo-
nos conscientes de nossa mortalidade e dos anos que ainda
temos no planeta. Buscamos liberdade. Galileu, Descartes e
Newton também vivenciaram reviravoltas monumentais dur-
ante as oposições de Urano. Todos esses homens, segundo
Tarnas, “terminaram suas obras revolucionárias quando o
trânsito estava em seu pico matemático, em um ou dois graus
de alinhamento exato, algo que, com esse trânsito, ocorre em
sua totalidade durante aproximadamente doze meses no decor-
rer de uma vida inteira”.
Já parou para pensar por que alguns alunos do ensino médio
ou da faculdade são tão rebeldes? Culpe Urano. Essa é a idade
em que o trânsito de Urano forma um ângulo desafiador com
sua posição natal. Quando Maria (que você conheceu no
capítulo 5) foi detida por conta do teste de embriaguez, Urano a
influenciava de uma maneira que pode indicar eventos caóticos
e perturbadores, que parecem acontecer do nada.
Se você se interessa pela astrologia como técnica de adivin-
hação, encontrará muitos sites que fazem mapas astrais gratui-
tos, com listas dos trânsitos diários, e explicam o que tudo isso
significa. Se busca respostas rápidas, a astrologia pode ser des-
encorajadora. No entanto, sua linguagem, assim como a do I
Ching, pode fornecer uma quantidade surpreendente de in-
formações, caso queira ir atrás delas.
204/299

Tarô
Enquanto o I Ching tende a usar muito das palavras e a astrolo-
gia é uma linguagem simbólica, o tarô é assombrosamente
visual. Suas 78 cartas são divididas em duas seções, conhecidas
como arcanos maiores e arcanos menores. As 22 cartas que
compõem os arcanos maiores representam arquétipos, espe-
cificamente aqueles de uma evolução na consciência. O Louco,
a primeira carta dos arcanos maiores, simboliza um ponto
máximo, uma euforia intensa oriunda do conhecimento de que
estamos todos conectados a algo maior do que imaginamos. O
Louco é a Pocahontas quando canta sobre a cor do vento, e rep-
resenta o início da magnificente jornada diante de nós. A úl-
tima carta, O Mundo, encerra a jornada do Louco e sugere que
o objetivo foi atingido. Agora você é o sábio, o mestre. As outras
56 cartas, os arcanos menores, representam os detalhes sin-
crônicos da vida e os passos ao longo do caminho, desde o Lou-
co até o Mundo.
Robert Hopcke relata uma história engraçada sobre uma de
suas clientes que ganhou de aniversário um baralho de tarô.
Primeiro, ela usou o baralho com uma atitude do tipo “me dê
uma resposta”. Um dia, recebeu uma resposta que não gostou,
e jogou as cartas de novo, mas todas saíram invertidas, “quer
dizer, voltadas para o outro lado, como se não quisessem falar
com ela. Em sincronicidades como esta, chega a parecer que as
cartas têm vontade própria”, escreve Hopcke.
Logo depois do 11 de setembro, Phyllis Vega, coautora do liv-
ro Power Tarot, escrito com Trish, afirmou que praticamente
205/299
todos os clientes para quem lia o tarô pareciam tirar a Torre.
Essa carta em geral retrata uma torre sendo atingida por um
raio. Há fumaça saindo das janelas, pessoas caindo ou pulando,
e tudo é escuro, feio, terrificante. Se há uma carta que retrate o
cenário do 11 de setembro, é esta. Nos meses que se seguiram
ao desastre, os arquétipos de destruição, caos e morte se incor-
poraram a nossa psique enquanto nação. A carta da Torre refle-
tia isso.
Sempre que você tirar a Torre em uma leitura pessoal, o ar-
quétipo geralmente aponta para o caos – mas não para a
destruição e para a morte no sentido físico. Com frequência, o
caos nos pega de surpresa. Digamos que você tire a cara da
Torre diversas vezes nos dias que antecedem suas férias – e ela
aparece quando suas perguntas não têm nada a ver com férias.
Ela pode indicar problemas com a viagem; então, seria in-
teressante verificar novamente o itinerário e a passagem, ir
para o aeroporto mais cedo que o habitual e certificar-se de que
pegou tudo que é necessário. Se o trajeto até o aeroporto for
longo, verifique se seu carro está preparado – se trocou o óleo,
se o tanque está cheio, se está tudo bem com o motor.
O tarô, assim como a astrologia e o I Ching, provavelmente
não é o sistema mais simples de adivinhação. Se quiser se en-
volver de maneira mais rápida com as sincronicidades, tente a
esticomancia.

VOCÊ E O TARÔ
206/299
Para se familiarizar com o tarô, pegue uma carta toda man-
hã para ter uma ideia do seu dia. Comece usando somente
os arcanos maiores. Deixe que a imagem fale com suas
partes mais profundas, depois confira suas impressões com
os significados no livro do tarô. Quando aprender o signi-
ficado das cartas, use o baralho inteiro.
Digamos que sua carta do dia seja o Carro. Isso pode
significar que, mais tarde, você talvez pegue a estrada –
para passear ou para voltar do trabalho para casa. Também
pode querer dizer que uma questão ou situação chegará ao
ponto crítico e você triunfará.
Você também pode “abrir” uma carta ao retirar uma se-
gunda para obter mais informações. Se tirar o três de copas
com o Carro, por exemplo, então seu dia será repleto de
celebração.
É importante ter um tarô que dê significados para as
cartas fáceis de entender.

Esticomancia
Este método é simples e fácil – e impressionantemente preciso.
Pense em uma pergunta ou questão que seja do seu interesse.
Mantenha-a na mente, abra um livro aleatório, aponte para um
lugar qualquer na página. Veja se a palavra ou frase onde seu
dedo encostou o ajuda a responder sua pergunta.
Pode ser qualquer livro – um dicionário, a Bíblia ou outro
texto religioso, os Contos de Grimm, seu romance predileto,
207/299
um livro de não ficção e até mesmo uma revista. Quanto maior
o livro, mais respostas possíveis você terá. A simbologia da
fonte usada também deve ressoar em você. Em outras palavras,
se não conhece tanto a Bíblia, então provavelmente não é o liv-
ro certo a ser usado. Você também pode tentar fazer isso on-
line, navegando em muitos dos sites que fornecem leituras por
esticomancia.
Digamos que você adore contos de fadas e esteja familiariz-
ado com a simbologia dessas histórias. Pense na sua pergunta
e, abra um livro dos irmãos Grimm aleatoriamente; depois, de
olhos fechados, encoste o dedo em um ponto qualquer da pá-
gina. É provável que a palavra, frase ou expressão localizada
pelo seu dedo diga algo a respeito da sua pergunta. Para ter
mais informações, observe o conto em particular.
Talvez você pergunte aonde está indo um relacionamento
amoroso e aponte a palavra “pensar” na história sobre o lobo
mau. Isso poderia ser uma indicação de que é preciso repensar
a relação, porque algo na pessoa amada pode estar te en-
ganando. Os valores da pessoa devem estar distorcidos de al-
guma maneira.
Suponha que você pergunte se receberá uma promoção que
deseja e aponte para um espaço em branco no conto Branca de
Neve. Isso pode sugerir que a resposta ainda é desconhecida,
ou que sua promoção acontecerá no inverno. Se obtiver uma
resposta ambígua, tente novamente e formule a pergunta de
outra maneira. Ou, quando apontar para uma palavra, leia toda
a frase ou parágrafo. Se escolheu uma frase em que a Branca de
Neve fura o dedo com a agulha e três gotas de sangue caem
208/299
sobre a neve, isso pode querer dizer que você terá notícias da
promoção em três minutos, dias ou semanas, ou durante os
meses de inverno.
Um dicionário talvez seja a maneira mais rápida de espiar a
ordem envolvida na sua vida. Por exemplo, Rob fez a pergunta:
“Quais são os benefícios da adivinhação?”. Abriu então o di-
cionário e colocou o dedo numa página qualquer. As palavras
em que seu dedo encostou foram: “Desejar ardentemente ou
intensamente”. Uma resposta razoável. Ao procurar uma pista
para o futuro, em geral queremos um resultado específico. A re-
sposta pode até revelar um pouco de humor ou ironia, como se
o universo estivesse dizendo que a adivinhação não passa de
um devaneio. Mas, então, de onde vem essa resposta?
Se você estiver no consultório de um médico ou dentista e
precisar de uma resposta imediata, escolha a revista mais
grossa que encontrar. Abra-a e aponte. Se seu dedo encostar
em uma propaganda, veja se há alguma palavra, imagem ou
produto que lhe diga alguma coisa. Se não, tente novamente e
reformule a pergunta de maneira mais específica.

O oráculo interior
A beleza dos sistemas de adivinhação é o fato de haver muitos.
Todos têm princípios semelhantes e podem nos levar ao
mesmo lugar: um ponto de conexão entre o mundo interior e o
exterior, o espaço intermediário.
209/299
Se você gosta de cores, pense em criar seu próprio oráculo
com quadrados coloridos feitos de cartolina ou papelão. As
cores, assim como as imagens no tarô, refletem significados ar-
quetípicos. No entanto, há uma diferença sutil. A cor é imedi-
ata, familiar, está em todos os lugares. Ela nos afeta constante-
mente e, por isso, serve como o oráculo ideal.
É importante que todos os quadrados sejam do mesmo
tamanho e que as cores estejam visíveis somente de um lado.
Dessa forma, você pode misturar e escolher os quadrados sem
saber que cores está escolhendo. Atribua significados às difer-
entes cores. Comece com as três primárias, vermelho, azul e
amarelo; depois, preto e branco. Acrescente mais cores – roxo
ou violeta, dourado, laranja e verde, também atribuindo-lhes
significados. Reúna de 12 a 15 cores e dê significado a todas.
Se não tiver certeza sobre o significado de cada uma, procure
sugestões na internet. As cores têm associações psicológicas,
culturais e pessoais. Escolha aquelas que lhe são apropriadas.
Vejamos algumas interpretações possíveis, retiradas de The
rainbow oracle: the book of color divination, que Rob escreveu
com Tony Grosso.

• Vermelho: paixão, intensidade, forte entusiasmo, energia


física e emocional elevada.
• Laranja: harmonia, equilíbrio entre mente e emoções.
• Amarelo: aprendizado, intelecto, lógica, documentos le-
gais, ordem.
• Verde: desafio, crescimento, cura, renovação, dinheiro,
nascimento, novas ideias.
210/299
• Azul: serenidade, tranquilidade, sensibilidade, devoção,
introversão, privacidade.
• Roxo: regras e regulamentos, tradição, o passado, o
romântico.
• Violeta: consciência elevada, espiritualidade, sabedoria,
amor ao próximo, idealismo.
• Rosa: ternura, amabilidade, saúde, sensibilidade,
vitalidade.
• Marrom: bases sólidas, fertilidade, segurança,
estabilidade.
• Salmão: equilíbrio, maturidade, felicidade.
• Dourado: sucesso, pensamento criativo, realização de
metas, pensamento positivo.
• Prateado: versatilidade, flexibilidade, intuição, percepção
mental.
• Cinza: confusão e má compreensão, desânimo, medo.
• Branco: percepção intuitiva, realização, proteção, entendi-
mento obtido por meio do pensamento claro e positivo.
• Preto: algo ainda não revelado ou compreendido,
pensamentos, ações ou sentimentos ocultos.

Personalize os significados das cores. Em vez de energia,


talvez o vermelho signifique, para você, “pare” ou “perigo”. De-
pois de determinar os significados das cores, crie alguns “es-
quemas”, talvez usando o tarô comum como modelo. Os mel-
hores são os mais simples. Primeiro, faça sua pergunta, sele-
cione o esquema adequado, embaralhe os cartões coloridos e
211/299
disponha-os de acordo com o esquema. Vejamos alguns exem-
plos de esquemas:

PASSADO, PRESENTE E FUTURO

1 2 3

Passado Presente Futuro

OBSTÁCULO NO CAMINHO

1 2 3 4

Questão Potencial oculto Desafio/obstáculo Resolução

ESQUEMA GERAL (VOCÊ DETERMINA O PERÍODO DO TEMPO)

Se você tem pelo menos de 12 a 15 cartas para usar, é pos-


sível criar esquemas maiores com mais cartas. O esquema a
seguir é baseado na astrologia e fornece bastante informação.
Estabeleça um período de tempo para sua questão ou problema
– uma semana, dois meses, seis meses.

ESQUEMA DA ASTROLOGIA

1 2 3 4 5 6

Eu Finanças Comunicação Casa Criatividade Trabalho / Saúde

ESQUEMA DA ASTROLOGIA

7 8 9 10 11 12 13

O que
Recursos Visão
Parcerias Viagem Carreira Amigos está
compartilhados geral
oculto;
212/299

resumo
da
pergunta

Os sistemas de adivinhação desencadeiam a sincronicidade,


e, às vezes, os resultados são tão diretos que tiram nosso fôlego.
Qualquer que seja o sistema de adivinhação que escolha, até
mesmo abrir um dicionário e apontar com o dedo, você estará
embarcando em uma jornada para a unidade do universo. Con-
forme escreveu Robert Hopcke, “métodos divinatórios nos per-
mitem usar exatamente a mesma capacidade que usamos para
criar arte, escrever ficção ou imaginar a existência de qualquer
coisa significativa”.

ADIVINHAÇÃO RÁPIDA E FÁCIL


Na verdade, nem todo mundo que se interessa pelas sin-
cronicidades sairá correndo para comprar um baralho de
tarô, estudar o I Ching ou fazer um mapa astral. No ent-
anto, ferramentas divinatórias simples estão à nossa dis-
posição o tempo inteiro.
Faça uma pergunta e, em vez de consultar um livro,
simplesmente diga a si mesmo que a próxima coisa que
ouvir, ver ou ler lhe dará uma resposta. Talvez ela venha
por meio de uma música no rádio, ou nas primeiras pa-
lavras que alguém lhe disser no começo do dia. Talvez a
resposta esteja na manchete do jornal matinal, ou algo
dito na televisão. Brinque com a informação, revire-a na
213/299

sua mente. Ela tem muito a ver com sua pergunta? Se


não encontrar nenhuma conexão, deixe-a de lado e
busque uma nova possibilidade. Se não funcionar, talvez
signifique que não deve receber qualquer resposta
agora. Mas também pode sugerir que você não queira
aceitar a resposta apresentada.
Espere uma hora, ou um dia, e tente novamente. De
uma forma ou de outra, você encontrará a resposta.
ORÁCULOS ANIMAIS

“Todo mundo já foi tocado por animais de alguma


maneira, seja na vida ou em sonhos, e a dificuldade
de sempre é determinar o que isso significa.”
– TED ANDREWS, ANIMAL-WISE
No final de dezembro de 2004, houve um terremoto submarino
no oceano Índico. A violenta sublevação das placas tectônicas
deslocou uma quantidade enorme de água e, em poucas horas,
ondas de 30 metros irradiaram do epicentro. Um tsunami at-
ingiu a costa de onze países no oceano Índico, matando mais de
250 mil pessoas.
Como a onda que se espalhou pela baía de Bengala foi visível
do espaço, os cientistas puderam medir com precisão o
tamanho do terremoto e o tsunami resultante. No entanto, fo-
ram incapazes de predizê-lo. O que se tornou aparente pelos
primeiros relatos – e pelas informações reunidas desde aquele
ano –, é que os animais sabiam do tremor horas, e até mesmo
dias, antes de acontecer.
Em 11 de janeiro de 2005, um artigo publicado on-line na
National Geographic mostrou diversas histórias sobre animais
que sobreviveram ao tsunami. Ondas gigantes inundaram mais
de três quilômetros costa adentro no Parque Nacional Yala, a
maior reserva de vida selvagem do Sri Lanka, lar de centenas
de elefantes, búfalos, leopardos, veados, chacais e macacos.
Contudo, o vice-diretor do Departamento Nacional de Vida
Selvagem, R. D. Ratnayake, disse que não houve registros de
animais mortos. “Elefantes, javalis, veados, macacos e outros
animais se deslocaram para dentro do continente, evitando as
ondas mortais.”
Sobreviventes descreveram que os macacos, que sempre
aceitam bananas, rejeitaram-nas na manhã do tsunami; ele-
fantes bramiram e fugiram para lugares mais elevados; cães se
recusaram a passear de manhã. Até mesmo um casal de
216/299
elefantes preso arrebentou as correntes e correu para um ter-
reno mais alto antes de o tsunami atingir a costa. Flamingos
que procriavam naquela época do ano no santuário de vida
selvagem Point Calimere, na Índia, fugiram para lugares mais
altos com antecedência, abandonando suas áreas de procriação.
Ravi Corea, presidente da Sociedade de Preservação da Vida
Selvagem do Sri Lanka, sediada em Nutley, Nova Jersey, estava
no Sri Lanka quando ocorreram as ondas gigantescas. Depois,
viajou até a praia Patanangala, dentro do Parque Nacional Yala,
onde 60 visitantes foram carregados pela água. Essa praia foi
uma das áreas mais atingidas na reserva de 1.300 km2, que ab-
riga grande variedade de animais, incluindo elefantes, leopar-
dos e 130 espécies de pássaros. Com exceção de dois búfalos
que morreram, Corea não encontrou nenhuma carcaça de an-
imal, assim como o pessoal que trabalha no parque.
Ao longo da costa de Cuddalore, na Índia, onde milhares de
pessoas morreram, a Agência de Notícias Indo-Asiática (Ians)
relatou que búfalos, cabras e cachorros foram encontrados
ilesos. Outro sobrevivente afirmou que morcegos voaram fren-
eticamente pouco antes de a onda atingir a região. Na Tailân-
dia, um golfinho foi pego com um filhote em uma lagoa depois
do tsunami, mas muitos outros fugiram.
As narrativas são numerosas e envolvem uma variedade de
espécies. Elas mostram claramente que os animais sentiram a
aproximação do tsunami e evacuaram a área.
“Imagine o que aconteceria [...] se, em vez de ignorar os
alertas dados pelos animais, as pessoas os levassem a sério”,
217/299
escreveu o biólogo britânico Rupert Sheldrake em Cães sabem
quando seus donos estão chegando.
Em 12 de maio de 2008, a China passou por um terremoto
de 7.9 na Província de Sichuan, o pior em três décadas. Três se-
manas antes do terremoto, em uma província a mais de 550
quilômetros do epicentro, o nível da água em uma lagoa de re-
pente despencou. Três dias antes do terremoto, milhares de sa-
pos apareceram nas ruas de Mianzhu. Os moradores tiveram
medo de que os sapos fossem o sinal da aproximação de um de-
sastre natural. Mas, de acordo com uma matéria da Associated
Press, um funcionário do órgão de administração florestal des-
mentiu essa teoria, afirmando que o comportamento dos sapos
era normal.
Um dia antes do terremoto, zebras do zoológico de Wuhan, a
quase mil quilômetros do epicentro, batiam a cabeça contra as
portas, elefantes balançavam rápido a tromba, e leões e tigres
andavam sem parar. Cinco minutos antes de o terremoto
começar, pavões começaram a gritar.
Segundo Sheldrake, antes de um terremoto que, em 26 de
setembro de 1997, destruiu a basílica de São Francisco de Assis,
na Itália, houve inúmeros relatos de animais agindo de maneira
estranha. Cachorros morderam mais que o comum, gatos pare-
ciam “perturbados”, pombos “voavam de forma esquisita” e
faisões “gritavam de maneira nada comum”. Pelo menos uma
semana antes do terremoto, os moradores de Foligno, a 19
quilômetros de Assis, relataram que ratos tinham invadido a
cidade.
218/299
Em algumas ocasiões, as autoridades previram com sucesso
grandes terremotos baseando-se, em parte, na observação do
comportamento estranho dos animais. A National Geographic
relata que, em 1975, o governo chinês ordenou a evacuação de
Haicheng, uma cidade com um milhão de pessoas, poucos dias
antes de um terremoto de magnitude 7.3. Apenas pequena
parte da população ficou ferida ou morreu. Se as autoridades
tivessem ignorado o esquisito comportamento dos animais,
estima-se que o número de mortos e feridos excederia 150 mil.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Geológica dos Esta-
dos Unidos, relatos de animais agindo de maneira incomum
antes de terremotos remontam ao ano 373 a.C. na Grécia,
quando ratos, doninhas, cobras e centopeias supostamente
deixaram seus lares e buscaram um terreno seguro vários dias
antes de um terremoto destrutivo. Plínio, o Velho, que viveu
entre 23 e 79 d.C., escreveu que um dos sinais de um terremoto
vindouro “é a agitação e o terror dos animais sem razão
aparente”.
Sheldrake apresentou quatro teorias sobre como os animais
sabem e refutou as três primeiras: eles são capazes de detectar
o que nós não conseguimos – sons, vibrações e movimentos
sutis da terra; eles sentem gases liberados pela terra antes dos
terremotos; eles reagem a mudanças elétricas que precedem
um terremoto. Sua quarta teoria diz que “os animais podem
sentir o que está prestes a acontecer de uma maneira que está
além da nossa compreensão científica atual. Em outras palav-
ras, eles podem ter presságios, ter a sensação de que algo vai
219/299
acontecer, ou ser precognitivos, saber com antecedência o que
vai acontecer”.
Há muitas evidências de animais que previram terremotos.
Será que eles poderiam agir como sistemas de alerta para out-
ros desastres naturais? Se sim, como esse conhecimento pode
nos beneficiar?
No decorrer de 2004, três furacões atingiram a Flórida:
Frances, Charlie e Jeanne. Pássaros aparentemente atrasaram
sua migração enquanto as tempestades se agitavam pela
Flórida. Quando o furacão Jeanne ainda estava a diversas horas
de distância de Gainesville, o biólogo Thomas Emmel, da
Universidade da Flórida, percebeu que as borboletas na floresta
fechada da universidade procuraram abrigo entre as rochas e as
árvores. Quando o furacão Charlie estava a doze horas de dis-
tância do sudoeste da Flórida, cientistas do laboratório Mote
Marine, perto de Sarasota, na Flórida, perceberam um com-
portamento estranho entre dez tubarões-tigre que então monit-
oravam. Oito deles fugiram do estuário para se abrigar no mar
aberto. Em 1992, o furacão Andrew atingiu gravemente
Homestead e varreu a cidade do mapa. No caminho havia um
habitat natural de crocodilos que viviam nos canais de resfria-
mento da usina nuclear de Turkey Point. Aparentemente, eles
sentiram a aproximação da tempestade; quando a tormenta
cessou, nenhum crocodilo foi encontrado morto. Especula-se
que eles fugiram para o mar aberto ou para o fundo dos canais
de seis metros de altura.
“Não faz diferença se é um furacão, um incêndio ou um ter-
remoto”, diz Frank Mazzotti, biólogo da vida selvagem na
220/299
Universidade da Flórida. “Os animais aparentemente sentem
essas coisas antes que os humanos possam fazê-lo. Há poucos
trabalhos para entender os mecanismos sensoriais. É provável
que se trate de uma combinação de odor, vibração e pressão.
Eles começam a se distanciar do perigo antes de os seres hu-
manos tomarem conhecimento dele.”

Animais como símbolos


Os animais estão entre os símbolos sincrônicos mais acessíveis,
e não é preciso morar em uma área rural para reconhecê-los
como mensageiros ou guias. Joseph Campbell, afinal, morava
no 14o andar de um prédio em Manhattan quando vivenciou a
sincronicidade do louva-a-deus (discutida no capítulo 1).
Ray Grasse, autor de The waking dream, lembra-se de como
o voo errático de uma mosca serviu como pista para que en-
tendesse uma questão que tinha em mente. O autor estava en-
volvido numa longa discussão com um curandeiro indígena do
Arizona quando o homem sugeriu que dessem um passeio pela
fronteira do vilarejo, onde conseguiriam observar o deserto. O
curandeiro perguntou a Grasse sobre sua vida, e ele mencionou
um projeto que começaria logo, dizendo que seus esforços
pareciam estar tomando uma direção que não desejava.
Naquele momento, um pássaro precipitou-se diante deles,
soltou um grito e voou para o outro lado imediatamente.
“Viu?”, disse o curandeiro. “Aí está! Como você pensou, as
coisas tomarão um rumo totalmente diferente do que você
221/299
esperava.” O curandeiro explicou que mensagens desse tipo nos
são apresentadas o tempo todo, mas que a maioria das pessoas
se esquece de lê-las.
A história de Grasse ilustra como pode ser clara a mensagem
de um animal quando entendemos quais deles falam conosco e
o que nos estão transmitindo. Qualquer criatura pode ser um
mensageiro, um veículo para a sincronicidade. Não importa se
chamamos esses animais de oráculos ou totens; a presença
deles na nossa vida estabelece um elo entre nós e as antigas
tradições xamanistas, um mundo mais natural do que este no
qual vive a maioria das pessoas.
Quando um animal aparece para nós – sobretudo um que
normalmente não vemos em situações cotidianas ou que
aparece em circunstâncias incomuns –, devemos considerar o
que estávamos pensando ou fazendo naquele momento. O sinal
pode ser uma verificação de que estamos tomando a decisão
certa, como no caso de Grasse. O surgimento do animal ou suas
ações pode nos alertar que estamos prestes a tomar uma de-
cisão errada.
Se prestar atenção, perceberá que diferentes animais podem
surgir sincronicamente, em momentos variados, por razões es-
pecíficas. A razão pode nem sempre ser clara no momento, mas
você sentirá a conexão de maneira intuitiva. Você pode chamar
essa criatura de sua força animal, espírito animal ou totem, e
valer-se da energia que ela oferece.
222/299

ENCONTRANDO SUA FORÇA ANIMAL


Esta meditação ajuda a encontrar sua força ou espírito
animal. Sente-se em uma cadeira confortável, num lugar
tranquilo. Mantenha as costas retas e inspire profunda-
mente diversas vezes para aquietar sua mente pouco a
pouco; depois, reduza a respiração até que ela fique nat-
ural. Deixe que seus pensamentos fluam por alguns mo-
mentos até que as preocupações diárias deixem de exer-
cer alguma influência.
Saiba que está protegido à medida que mergulha
cada vez mais fundo em um estado de relaxamento.
Imagine um lugar bonito na natureza – uma trilha numa
floresta majestosa, com a luz do sol irradiando através
das copas das árvores, ou um lugar perto de um rio ou
cachoeira com montanhas ao fundo. Coloque-se nesse
lugar. Sinta o ambiente circundante, os sons e o aroma
da natureza.
Chame seu animal guardião, mesmo que não saiba
qual é. Sinta-o se aproximando, vindo em sua direção.
Você se sente seguro e fora de perigo à medida que ele
chega mais perto. Agora, você pode ver o animal clara-
mente. Ele é peludo, emplumado, pequeno, grande?
Olhe nos seus olhos e sinta a conexão com ele.
A criatura tem uma mensagem para você. Ela pode
ser ouvida como uma voz na sua cabeça ou simbolica-
mente por meio das ações do animal. Depois de alguns
momentos, agradeça ao animal pela orientação. Saiba
223/299

que pode voltar de novo para visitar sua força animal


sempre que quiser.
Se você já sabe qual é sua força animal, peça-lhe
ajuda, cura ou qualquer coisa de que precisar. Jane Clif-
for, do País de Gales, considera o cisne sua força animal.
Ela o chamou uma manhã quando acordou se sentindo
triste e aborrecida – as palavras “o Senhor é meu
Pastor” não saíam da sua cabeça. “Eu estava tão deprim-
ida que, pela primeira vez, pedi ajuda ao cisne. Abri os
olhos e, para minha total surpresa, dois cisnes passaram
voando.” Embora morasse numa casa à beira-rio há dois
anos, essa foi a primeira vez que viu cisnes voarem.
Durante um momento, ela duvidou da experiência, per-
guntando se não havia imaginado tudo aquilo. “Como re-
sposta, eles voaram de novo, mas na direção oposta.”
Pense num problema ou questão importante. Durante
o dia, observe o surgimento de um animal. Se você tem
animais de estimação, exclua-os desse exercício divin-
atório, porque são uma presença constante na sua vida.
Nas próximas seções, você encontra uma lista curta
de animais e seus possíveis significados sincrônicos. Há
diversos livros excelentes sobre o assunto e vários sites
com muitas informações. Quando vivenciar uma sin-
cronicidade com um animal – na vida real ou em sonho
–, confie nas suas impressões e interpretações. O que o
animal significa para você? Quão significante ele é na
sua vida?
Pesquise o animal para descobrir possíveis pistas para
a mensagem. O que seu habitat, suas características
224/299

físicas, seu comportamento e hábitos lhe dizem? É um


mamífero, um pássaro, um réptil, um peixe ou um in-
seto? Quais são suas características mais marcantes?
Onde vive? Durante quanto tempo a fêmea fica grávida?
Ela dá à luz ovos ou filhotes? O animal vive a vida toda
com um único parceiro? É presa ou predador? Corre o
risco de extinção? Todas essas informações fornecem
pistas vitais sobre o que a sincronicidade pode querer
dizer.

Aves como mensageiros e oráculos


Em sentido amplo, todos os pássaros são mensageiros. Existem
tantas espécies que poderiam formar seu próprio livro de or-
áculos. Listamos alguns dos pássaros mais comuns. Use esses
significados apenas como linhas gerais para formular suas pró-
prias interpretações.

Melro
É hora de socializar. Talvez você precise pesquisar bastante
para ter a informação de que precisa, e o primeiro lugar para
começar é com outras pessoas. Alguém no seu círculo de con-
hecidos pode ter as habilidades ou o conhecimento para ajudar.

Gavião
225/299
Conhecido também como ave de rapina, os gaviões ou abutres
servem para livrar o ambiente dos restos mortais de animais. O
que você precisa limpar na sua vida? Quais são os pontos não
resolvidos que precisam ser amarrados?

Canário
Os mineiros levam canários para as minas para que lhes deem
alertas sobre gases perigosos no ar. O surgimento de um can-
ário pode significar um alerta. Anote os detalhes da sua visão
ou do sonho com esse pássaro. Não julgue as pessoas pela
aparência.

Condor
Ver esse pássaro ameaçado de extinção indica que você precisa
enxergar a situação de maneira mais ampla. Mas não se
coloque em perigo para obter essa perspectiva mais ampla.

Gralha
Acredita-se que a gralha, assim como seu “irmão” corvo, trans-
mite mensagens entre os mortos e os vivos, além de estar ligada
ao nascimento e ao renascimento e ser associada ao xaman-
ismo. Quando há um encontro sincrônico com um corvo, isso
pode significar que você deve trabalhar de maneira mais dili-
gente na manifestação dos desejos. Além disso, tente ser mais
aberto ao conceito de reencarnação.
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Pomba da paz
Você não está só procurando uma relação compromissada, mas
sim uma alma gêmea. Associamos esses pombos à paz. Port-
anto, se vir um e estiver preocupado com uma questão
amorosa, essa aparição pode indicar que o problema será
resolvido pacificamente.

Águia
Ver esse pássaro nos encoraja a usar a intuição. Assim como a
águia, há algo de magnificente em você e na maneira como faz
as coisas. Você gosta da companhia dos outros, mas uma pess-
oa do seu círculo pode estar com uma reputação melhor do que
de fato merece. Você está pronto para ver a situação como um
todo – ter a visão de um pássaro, do alto.

Falcão
Graça e agilidade são seus pontos fortes. Você procura uma
perspectiva mais ampla. Saia e socialize, não seja tão solitário.
Esteja alerta para práticas predatórias.

Beija-flor
Há uma viagem de longa distância no seu futuro, bem como
alegria, celebração e amor. A sincronicidade com esse pássaro
em geral aponta para algo positivo.

Coruja
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Através do tempo, das fronteiras e das culturas, a mitologia e o
folclore sobre as corujas envolvem extremos. Elas já foram con-
sideradas arautos da morte e da cura, do mal indizível e da
grande sabedoria. Na tradição celta, simbolizam o submundo.
Os zulus a consideram o pássaro dos feiticeiros. No Peru, são ti-
das como fortes xamãs. Entre os aborígenes da Austrália,
acredita-se que sejam a alma das mulheres. Na Sibéria, é con-
siderada um espírito generoso.
A longa tradição das corujas como mensageiras é linda-
mente ilustrada nos livros e filmes de Harry Potter. Você se
lembra das primeiras cenas do primeiro filme? Algumas coru-
jas entram voando no salão principal e jogam cartas para os
estudantes. Literalmente, são como carteiros que atravessam a
fronteira entre o mundo normal e o mundo mágico de Hog-
warts. Em muitas tradições xamãs, acredita-se que as corujas
transitem entre o mundo dos vivos e dos mortos com
facilidade, sentindo-se em casa em ambos.
Não é raro que as corujas sejam vistas como arautos da
morte. Uma tarde, Trish viu uma coruja pousada na cerca do
lado de fora da janela do quarto do seu pai. Na época, ele tinha
por volta dos 90 anos, era portador de Parkinson e lutava para
aceitar o fato de que sua esposa, casada com ele há 50 anos, es-
tava numa clínica para tratamento de Alzheimer.
Trish saiu para ver o pássaro mais de perto. Era uma coruja-
buraqueira, uma espécie em extinção que faz ninhos subter-
râneos. Ela não voou quando Trish se aproximou, provavel-
mente porque, como Trish percebeu, faltava uma parte da pata
esquerda. Aquilo a confundiu. Seu pai tinha ambas as pernas, e
228/299
usava uma bengala para se apoiar. Se a coruja simbolizava a
morte iminente do pai, o que queria dizer a ausência da perna?
Na manhã seguinte, Trish recebeu uma ligação da clínica
para tratamento de Alzheimer onde sua mãe morava, e alguém
lhe disse que ela quebrara o lado esquerdo da bacia. A coruja
não tinha uma parte da perna esquerda. Por causa do
Alzheimer, a mãe de Trish não poderia ser submetida a uma
cirurgia. A alternativa foi o uso de morfina e repouso. Três se-
manas depois, sua mãe faleceu.

Cisne
Cisnes passam a vida toda com um único parceiro. Ver essa ave
sugere que você deve confiar no processo. Um romance pode
rapidamente se tornar um compromisso para a vida toda.

Invertebrados como mensageiros e oráculos


Os invertebrados são tão comuns que poderíamos ficar loucos
tentando decifrar a mensagem cada vez que víssemos um. Mas,
se formos picados ou nossa casa de repente se encher desses
bichos, devemos prestar atenção.

Formiga
Você está inquieto, impaciente. Seu cronograma está apertado
e você corre o risco de se tornar um trabalhador compulsivo. Se
ama o que faz, tudo bem. Talvez sinta que está trabalhando por
229/299
um bem maior. Do contrário, a mensagem da formiga pode in-
dicar uma necessidade de avaliar sua situação de trabalho.

Abelha
A mensagem específica depende do tipo de abelha. A abelha
produtora de mel simboliza generosidade, trabalho em equipe e
leveza de espírito. Já a mamangava ou o zangão representam
comunicação e cura.

Borboleta
Ver uma borboleta pode anunciar uma transformação, ressur-
reição ou renascimento de algum tipo. Espere mudanças pro-
fundas na vida, nos relacionamentos, na carreira, na família ou
outra área.

Lagarta
Assim como a borboleta, lagartas estão ligadas à transform-
ação. Sua vida está prestes a passar por uma mudança que lhe
permitirá romper com as estruturas e mostrar quem você real-
mente é.

Libélula
Boas notícias estão a caminho. Essas lindas criaturas geral-
mente simbolizam boa sorte.

Vaga-lume
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Você está em busca da verdade. Seu esplendor interno ilumina
a escuridão e aumenta a atenção; seu brilho talvez até atraia o
parceiro ideal.

Joaninha
Ver uma joaninha sugere boa sorte, transformação e alegria.
Ela nos incita a prestar atenção à vida familiar e a consider-
ações espirituais.

Aranha
Aguarde ansiosamente por um período extremamente criativo.
Camuflagem e paciência também podem lhe ser úteis.

Vespa
Esse inseto representa independência e autoconfiança. Se uma
vespa picá-lo, talvez seja o momento de pensar onde e como vo-
cê se machucou na vida. Cure a ferida com o perdão.

Anfíbios e répteis como mensageiros e


oráculos
Embora seja difícil resumir com precisão essa categoria de cri-
aturas – pois significam coisas bem diferentes –, ainda é válido
prestar atenção na presença delas na sua vida para entender
seu significado e aplicação.
231/299
Rã/sapo
Na mitologia, no folclore e nos contos de fada, esse animal é
símbolo de transformação, cura, fertilidade e renovação. Ele
representa os arquétipos do trapaceiro e do mágico, o ciclo da
morte e renascimento. No conto de fadas O príncipe sapo, dos
irmãos Grimm, uma princesa é cortejada por um sapo que lhe
pede um beijo. Inicialmente horrorizada com o pedido, a
princesa, por piedade, consente. No momento em que beija o
sapo feio, ele se transforma em um príncipe. Os dois se casam,
claro, e a moral da história é que a verdadeira beleza só é en-
contrada internamente.
A rica história xamanista da rã baseia-se em qualidades
alquímicas. Rãs e sapos são portadores de veneno e drogas po-
derosas, que podem curar ou provocar alucinações. Algumas
tribos sul-americanas usam esse veneno em seus rituais espir-
ituais como parte daqueles que buscam a visão. A substância
química secretada pelos sapos venenosos pode ser usada como
estimulante cardíaco em pacientes infartados, mas também
produz um analgésico que, de alguma maneira, substitui a
morfina. Por essa razão, o simbolismo que envolve a figura do
sapo geralmente contém pelo menos duas facetas.
Rãs e sapos são uma “espécie indicadora”, isto é, estão entre
as primeiras a serem afetadas por mudanças no ambiente. Por
isso, quando sapos nos aparecem como símbolos, pode signifi-
car que nosso ambiente pessoal está prestes a passar por
grandes mudanças.
No livro The dreaming universe, o físico Fred Alan Wolf re-
lata a história de Catherine, uma terapeuta cuja paciente, uma
232/299
garota, estava tão doente, já em coma, que os médicos achavam
que morreria naquela noite. Catherine a visitou no hospital e
começou a conversar com ela, dizendo-lhe que poderia “ir até
um espaço amplo, e que aquele espaço seria o suficiente para
que se sentisse confortável. Catherine não disse como o espaço
seria, ou o que veria nesse lugar, mas deixou a informação em
aberto para que algo fosse desencadeado totalmente pela
garota”.
Em um curto período de tempo, a garota saiu do coma,
sentou-se e disse: “A rã pula”. Depois, caiu novamente na cama
e dormiu. Na manhã seguinte, começou a se recuperar.
Quando Catherine foi ao hospital no dia seguinte, parou
numa loja de presentes e comprou uma rã de brinquedo para a
garota. “Dei uma rã porque ela precisava de algo bastante con-
creto para reconhecer que aquela imagem a trouxera de volta à
vida.”
Só mais tarde Catherine descobriu que a rã, como símbolo,
tem uma história ilustre “envolvendo crianças doentes, e era
dada àquelas que precisavam acreditar na vida”.
Se a rã é um de seus totens, a aparição sincrônica de uma
delas alerta que algo significativo está no seu caminho. Se é
algo de bom ou ruim, depende das condições do animal. Se est-
iver morto ou machucado, o acontecimento ou as notícias po-
dem não ser positivos. Uma rã animada e saltitante poderia in-
dicar boas notícias, um novo começo, ou até mesmo uma
transformação.

Lagarto
233/299
Esse animal lembra que devemos nos acalmar, observar e nos
camuflar. Deixe que as pessoas se aproximem.

Cobra
Sua sexualidade está aguçada. E, talvez paradoxalmente, sua
espiritualidade também. Ao livrar-se de relações, crenças e
situações que não são mais do seu interesse, seu poder pessoal
cresce.

Tartaruga
Diversas oportunidades estão no seu caminho. Passe um tempo
analisando-as. Siga seus instintos sobre a escolha da opor-
tunidade certa pra você.

Mamíferos como mensageiros e oráculos


Mamíferos estão em todos os lugares. Assim, estar alerta para
seu significado especial pode abrir uma porta para sincronicid-
ades ainda maiores.

Gato
Os gatos trazem uma mensagem de que seus hábitos de sono
estão prestes a mudar. Talvez durma mais durante o dia, deix-
ando a noite para a exploração e o trabalho criativo. Ou talvez
comece a trabalhar no turno da noite. Mais independência e
234/299
solidão são benéficas nesse momento. Não se preocupe com o
que os outros pensam.

Veado
Veados são há muito tempo associados à graça e à camuflagem.
Quando um aparece sincronicamente na sua vida, pode signifi-
car que você precisa aceitar uma situação ou relação. Para
Jenean Gilstrap, uma sincronicidade que envolve um veado
trouxe à tona a necessidade de terminar uma relação.
“Há alguns anos, no meio de uma relação pessoal cósmica e
fantástica, eu estava questionando a lógica e a validade de lhe
dar continuidade, independentemente do quanto quisesse
continuá-la.”
Até certo ponto, Jenean sempre soubera que chegaria o mo-
mento de decidir se ficaria ou iria embora. Ela lutava diaria-
mente com a questão. “Um dia, pela manhã, enquanto fazia o
longo trajeto até o trabalho, comecei um novo diálogo mental –
ir ou ficar, ficar ou ir –, e mentalmente pedi um sinal do que
deveria fazer, alguma coisa, qualquer coisa, que me ajudasse a
ver as coisas de maneira mais clara.”
Com esse pensamento, enquanto dirigia pela pista da es-
querda de uma estrada de quatro pistas em uma área comer-
cial, ela olhou para o lado rapidamente. Depois olhou nova-
mente. “Lá, bem diante de mim, estava a cara de um veado, ol-
hando bem nos meus olhos. Sua cabeça estava bem na altura da
minha, e ele olhou bem nos meus olhos enquanto passava na
minha frente até pisar no canteiro.”
235/299
Parecia tão surreal que Jenean tinha certeza de ter ima-
ginado. Logisticamente, era impossível que um veado estivesse
na sua frente enquanto dirigia na pista da esquerda com outro
carro paralelo na da direita. Mas ela olhou pelo retrovisor e viu
o veado saltando o canteiro.
A mesma conversa mental passou de novo na cabeça de
Jenean enquanto ia para o trabalho alguns dias depois. Na
noite anterior, sonhara que o namorado tinha morrido, e o viu
dentro do caixão. “Daí, enquanto eu dirigia com a imagem
mental daquele caixão na cabeça, ainda questionando, pedindo
um sinal como garantia, passei pelo mesmo lugar na estrada
onde o veado pulara na frente do meu carro. Lá, no acosta-
mento, havia um veado morto. Uma fêmea.”
Poderia ser mais clara a mensagem? Jenean terminou o
relacionamento logo depois.

Cachorro
O rabo abanando, as lambidas molhadas quando você chega na
porta de casa... Os cães simbolizam a aceitação e o amor incon-
dicional. Sem dúvida, muitos de nós acreditam que nossos cães
nos entendem melhor que os seres humanos. Como outros ani-
mais, eles também servem de oráculos, de veículos para sin-
cronicidades e transformações.
Um dia, indo para o trabalho, Vivian Ortiz, enfermeira de
uma emergência psiquiátrica em Savannah, viu uma cadela
perambulando no meio do trânsito. Magra e confusa, estava
pronta para ser morta entre os carros velozes. Ela parou e
236/299
persuadiu a beagle mestiça a entrar no carro e a levou ao veter-
inário. Vivian acabou adotando-a, deu-lhe o nome de Sister e
ficou maravilhada ao ver que a cadela errante imediatamente
se dera bem com seus gatos.
Um ano depois, Vivian, que mora sozinha, estava indo para
o trabalho e viu outro cão na mesma situação, na mesma es-
trada; de novo, parou e colocou o animal no carro. Um sem-
teto das redondezas gritou em agradecimento por ela ter feito a
coisa certa. O cachorro era um mestiço de beagle, macho.
Agora, Sister e Brother são os melhores amigos e fazem com-
panhia um para o outro enquanto Vivian está no trabalho. Do
ponto de vida desses cães, Vivian serviu como um oráculo, um
símbolo de transformação para a vida deles. Em troca, o amor
incondicional deles por Vivian enriqueceu sua vida.

Golfinho
Golfinhos pedem que se preste atenção à espiritualidade e às
fantasias. Dessa vez, você conseguirá o máximo dentro de um
grupo ou trabalhando com uma equipe de pessoas com ideias
afins. De alguma maneira, você está protegido. Por ora, sexo só
por diversão.

Rato
O diabo mora nos detalhes, como diz o ditado. Ver um rato é
um lembrete para ligar os pontos e guardar algo para o futuro.
Mas não acumule tanta coisa a ponto de se atolar.
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Esquilo
Esquilos representam a comunicação. Eles também podem
aconselhar desenvoltura, necessidade de estocar algo ou um
planejamento para o futuro.

SEU GLOSSÁRIO ANIMAL


Alguns desses significados podem se encaixar em muitos
momentos de sua vida. É provável que descubra que
cada uma de suas experiências com animais signifique
algo diferente. Se você tem medo de cães, por exemplo,
provavelmente não os associará à aceitação e ao amor
incondicional. Para você, um cão pode ser o prenúncio de
que algo terrível está por acontecer. Fique de olho nas
suas experiências com animais e nas sincronicidades que
se sucedem. Use sua inspiração para criar seu próprio
glossário.
JORNADAS

“Além de aumentar as oportunidades para encontrar


coincidências significativas, viajar é, em si, uma ex-
periência transformadora.”
– FRANK JOSEPH, SYNCHRONICITY & YOU
Quer estejamos cruzando a cidade ou o mundo, viajar nos tira
da rotina e do pensamento habitual, nos abre para novas exper-
iências, encontros misteriosos e todas as grandes estranhezas
que o universo pode conter.
Muitos de nós fazem uma lista de itens essenciais para via-
gens de rotina pela cidade e planejam um itinerário para jor-
nadas maiores. Mas, ao longo do caminho, coisas acontecem. O
carro quebra. O voo de conexão é cancelado e você acaba em
Atlanta, em vez de estar em Albuquerque. Se deixarmos de
planejar grandes trechos da nossa viagem, teremos tempo para
explorações. E é aí que tudo fica mais interessante, quando
temos a chance de mobilizar a sincronicidade. De repente,
deparar-se com as mesmas pessoas repetidas vezes deixa de ser
uma singularidade para se tornar uma oportunidade de de-
cifrar e usar a mensagem. Por que essas pessoas? Nossa jor-
nada está sendo dificultada ou facilitada?

Encontros casuais
Um encontro improvável ajudou o autor Richard Bach a
descobrir uma parte que faltava numa rara aeronave. Conforme
relata Bach em Nada por acaso, em 1966 ele estava percor-
rendo o meio-oeste dos Estados Unidos num raro biplano, um
Detroit-Parks P-2A, de 1929; somente oito foram fabricados.
Em Palmyra, Wisconsin, Bach passou o comando do avião para
um amigo que, durante a aterrissagem, virou a aeronave com
um movimento brusco. O dano foi mínimo, e os dois
240/299
conseguiram consertar tudo, exceto um amortecedor. O reparo
parecia impossível, pois era uma peça sob medida.
Naquele momento, o proprietário de um hangar se aprox-
imou deles, perguntou se poderia ajudar, e lhes disse que po-
diam levar qualquer uma das peças armazenadas em seus três
hangares. Quando Bach descreveu a rara peça de que precisava,
o homem caminhou até uma pilha de sucata perto dele e apon-
tou exatamente para a peça.
Bach concluiu: “A probabilidade de o avião quebrar em uma
cidadezinha onde morava um homem que tinha a peça ne-
cessária para o conserto, fabricada há 40 anos; a probabilidade
de ele estar por perto quando o avião enguiçou; a probabilidade
de conduzirmos o avião para bem perto do hangar dele, a três
metros de distância da peça que precisávamos; a probabilidade
era tão pequena que ‘coincidência’ seria uma resposta idiota”.
Esse tipo de experiência é exatamente o que pode acontecer
quando saímos da nossa rotina. Livres da necessidade de
cumprir horários, trabalhar oito horas por dia, cozinhar, colo-
car o lixo para fora, levar as crianças para a escola e depois
apanhá-las, abrimos amplamente os braços para agarrar o que
quer que esteja no caminho. De repente, a lei da atração fun-
ciona perfeitamente.

DICAS DE VIAGEM
241/299

Você pode assumir algumas posturas antes de sair de


casa e durante a viagem para estimular a sincronicidade
enquanto estiver fora.
1. Esteja aberto e receptivo a novas experiências. Deixe
um espaço no seu itinerário para percursos paralel-
os, mudanças de direção e surpresas. Se pretende
estar em Atenas no quarto dia da sua viagem pela
Grécia, mas fica sabendo de uma oportunidade fas-
cinante para conhecer Mykonos, faça alguns ajustes
para que não perca algo extraordinário.
2. Cultive uma atitude de não resistência. Em vez de se
enfurecer com a lentidão da fila no aeroporto, ob-
serve. Preste atenção nas pessoas ao seu redor e
em seus minidramas. Leia um livro. Cheque seu e-
mail.
3. Siga o fluxo. Se está viajando com outra pessoa que
realmente quer ver um lugar que não lhe interessa,
como, talvez, Stonehenge, vá assim mesmo. A sin-
cronicidade pode estar lá, esperando por você.
4. A intuição geralmente fala por meio dos impulsos. Se
sentir um impulso de passar mais um dia no seu
destino, siga-o. Veja aonde ele leva.
5. Considere a viagem como uma aventura. Procure
novas experiências. Não hesite em fazer coisas
novas.

Quando Jennifer Gerard morava no Japão, estava aberta a


toda e qualquer experiência. Certo dia, foi a um vidente de rua
242/299
que lia saliências na cabeça, um acontecimento que provavel-
mente mudou o rumo da sua vida.
Ele disse que o Nepal seria um bom país pra ela. Jennifer
não sabia nada sobre o Nepal, nem tinha planos de viajar pra
lá. Mas queria ir para a China e pegar a Transiberiana, at-
ravessando a Mongólia até a Europa. Um ano depois, ela viajou
para a China com uma amiga. No caminho, conheceram dois
rapazes. Sem nenhum planejamento, cruzaram com os mesmos
rapazes em duas outras cidades na China, um país imenso com
a maior população do planeta. “Quais seriam as chances de nos
encontrarmos três vezes a centenas de quilômetros de distân-
cia?”, ela se perguntou.
Jennifer e a amiga concluíram que viajar juntos poderia ser
coisa do destino, então rodaram toda a China com os dois
rapazes. Planejaram tomar a Transiberiana juntos, mas,
quando chegaram em Pequim, foram informadas de que havia
um problema político na fronteira. E viajar para a Europa pela
via férrea seria impossível durante alguns meses. Um dos
rapazes pegou um folheto sobre o Nepal e leu “caiaque” e “boa
comida”. Então, decidiram viajar por terra até o Tibete e o
Nepal.
Jennifer descreve a jornada como difícil, mas fantástica. No
Nepal, eles acabaram se separando amigavelmente, sem nen-
hum motivo aparente. “Foi como se aqueles dois rapazes me
acompanhassem ao lugar onde minha nova vida começou. Com
certeza eu não teria viajado para tão longe sem um deles, um
escocês que falava mandarim fluentemente. Naquela viagem,
sem nenhum planejamento real, comecei um negócio no Nepal,
243/299
e tenho voltado para lá regularmente desde então.” Jennifer
agora vende bijuterias e artesanatos feitos no Nepal, que com-
pra em suas viagens anuais ao país.
Durante sua primeira visita ao Nepal, Jennifer encontrou
uma salagrama no leito de um rio. Essa rocha negra, quando
aberta, revela um amonite fossilizado em seu interior, uma es-
piral cheia de linhas radiadas. “No Nepal acredita-se que,
quando achamos uma salagrama, isso significa que estamos no
caminho de vida correto.” Da leitura de saliências na cabeça à
descoberta da salagrama, a sincronicidade completou o ciclo.

PRÁTICA DE SINCRONICIDADE EM VIAGENS


As sincronicidades são um chamariz para registrar suas
experiências de viagem. Comece seu dia esperando que
uma sincronicidade aconteça. Afinal, quando estamos
numa jornada, coisas inesperadas ocorrem.
Observe os encontros casuais, mas não se arrisque
em coisas das quais poderia se arrepender. Se você
começar a conversar com alguém, preste atenção ao que
a pessoa diz. Um comentário, uma frase, até mesmo
uma única palavra pode desencadear uma ideia ou uma
nova opção.
Infelizmente, dificuldades e complicações são comuns
em um típico cenário de viagem. Tente tirar vantagem
da situação. Pense positivo e veja-as como um novo
ponto de virada, uma nova aventura. A frustração e a
tensão podem levar a novas opções e possibilidades.
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No final do dia, anote seus pensamentos sobre os


eventos que vivenciou. Examine as sincronicidades e an-
alise de que maneira incidentes inesperados mudaram
seu caminho. Perceba com o tempo como um incidente
pode provocar outro, e outro, e mais outro, até que sua
viagem – e sua vida – tenha sido alterada de maneiras
imprevisíveis.

Algumas sincronicidades de viagem são como espelhos, re-


fletindo as circunstâncias e o ambiente circundante de modo
estranho, mas também têm implicações pessoais. Em 1988, vis-
itávamos a Venezuela, onde Trish nasceu e cresceu. Na volta de
uma visita às Cataratas Ángel, estávamos na fila do aeroporto
de Maiquetía, que serve a cidade de Caracas, para pegar o voo
para os Estados Unidos. Havia guardas armados com metral-
hadoras em todos os lugares. Traficantes colombianos tinham
começado a usar Caracas para exportar cocaína, e o governo es-
tava fechando o cerco.
Eles estavam particularmente interessados no homem na
nossa frente, um venezuelano alto, de meia-idade, usando ter-
no e carregando uma maleta. Eles pediram que o homem a ab-
risse. Enquanto ele lentamente a destrancava, os guardas in-
clinaram o corpo para a frente a fim de ver o que havia dentro.
O clima era bastante tenso.
Nós estávamos bem atrás dele e tínhamos uma visão privile-
giada. Para nossa surpresa, ele carregava apenas um item na
maleta: um exemplar de um dos romances de Trish, Fevered.
Ficamos tão espantados que não conseguimos contar a ele
245/299
aquela sincronicidade. A probabilidade de estarmos de pé atrás
daquele homem, no aeroporto da cidade onde Trish nascera, e
de que sua maleta contivesse apenas um objeto – o livro dela –
é tão ínfima que, mesmo se tivéssemos contado ao homem, ele
provavelmente não acreditaria. E como o livro tinha sido es-
crito sob um pseudônimo, Alison Drake, Trish não conseguiria
provar a informação.
O título do livro, Fevered (Febril), era um reflexo perfeito do
clima do aeroporto naquele dia. Os guardas, as metralhadoras,
o medo, a suspeita. Em um nível pessoal, foi uma afirmação
para Trish de que seus livros tinham atingido um público
bastante amplo.

Manifestando experiências em viagens


Em 1996, o australiano Marcus Anthony, escritor e terapeuta
futurista, estava visitando Coffs Harbour, uma cidadezinha
costeira na Austrália, quando seguiu algumas pistas intuitivas
que o levaram a uma experiência impressionante, que mudou
sua vida. Em The sage of synchronicity, Anthony descreveu o
encontro com uma mulher chamada Leslie, que o convidou
para uma aula de meditação, na qual oferecia uma breve leitura
psíquica para todos. “Ela parecia possuir um tipo de habilidade
mental que eu jamais tinha visto antes [...], e comecei a pensar
na possibilidade de que os seres humanos pudessem ‘ver’ além
dos cinco sentidos.”
246/299
No final da sessão, Leslie disse que tinha sonhado com óvnis
na noite anterior e que, se todos fossem para fora às duas da
manhã, poderiam ver algo incomum. Mesmo considerando im-
possível ver um óvni, Anthony pulou da cama às quinze para as
duas. “Meus olhos quase saltaram para fora quando [...], cinco
minutos depois, vi uma grande esfera de luz branca e brilhante
[...] a algumas centenas de metros no ar.”
Ele viu a bola de luz desaparecer sobre a casa vizinha en-
quanto flutuava em direção ao mar. Correu até a praia, andou
de um lado para o outro durante uma hora, mas não voltou a
ver o objeto. Quando retornou para casa, deu mais uma olhada
para o céu. Exatamente sobre ele havia cerca de 20 pequenas
luzes vermelhas formando dois Vs, um dentro do outro. Ele
observou maravilhado durante um minuto enquanto as luzes se
moviam silenciosamente, até desaparecerem atrás das árvores.
Em seu blog, Anthony escreveu: “Tive diversas experiências
interessantes desde aquele dia, mas provavelmente nada tão
extraordinário quanto aquilo. De todas as coisas que me
levaram a um caminho de questionamento das estruturas de
conhecimento dominantes na sociedade ocidental, [...] essa ex-
periência foi provavelmente a mais significante. O que era
aquilo que vi? Como Leslie sabia que as luzes estariam lá
naquela hora? Apenas por causa de um sonho? Por que esse
tipo de fenômeno ainda é um tabu na academia e na ciência
moderna? Ainda me faço essas perguntas até hoje”.
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A PRÁTICA DA MANIFESTAÇÃO
A manifestação é um dos aspectos mais desafiadores da
lei da atração. O processo foi descrito em diversos livros,
mas a essência é simples: conseguimos aquilo sobre o
qual nos concentramos. Com muita frequência,
concentramo-nos na falta, e não na abundância. Ol-
hamos para o copo como meio vazio.
Quando viajamos, a manifestação se torna mais fácil.
Nossas necessidades costumam ser imediatas e ur-
gentes, e somos capazes de superar nosso pensamento
habitual. Nossos desejos nos transcendem a uma velo-
cidade tão alta que nossa psique sequer tem a chance de
construir obstáculos.
Veja algumas dicas para ampliar suas habilidades de
manifestação, em casa ou na estrada:

1. Diga seu desejo em voz alta. Não pense muito sobre


ele, não se preocupe. Simplesmente diga-o e o
liberte, e mantenha-se aberto ao guia da sua
intuição.
2. O guia intuitivo surge de muitas maneiras e formas.
Uma pessoa desconhecida na rua pode dizer exata-
mente o que você precisa ouvir; um pedaço de pa-
pel que cai aos seus pés pode trazer uma
mensagem; palavras numa música que atravessa
uma janela aberta podem servir de insight.
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3. Acredite que seu desejo se manifestará. Nutra sua


crença com uma forte emoção. Aja como se seu
desejo já tivesse se manifestado. Sinta a presença
dele na sua vida. Quanto mais forte for sua
emoção, mais rápido o desejo se manifestará. Isso
também funciona ao revés, é claro. Emoções negat-
ivas podem atrair sincronicidades negativas.
4. Quando libertar seu desejo, saia do caminho. Deixe
que o universo o traga para você. Não monitore sua
conta bancária, sua relação ou sua carreira em
busca de resultados. Deixe estar.

Dizem que a necessidade é a mãe da invenção. Quando es-


tamos viajando, as sincronicidades são desencadeadas por ne-
cessidades mundanas, como a localização de uma estação de tr-
em, uma loja ou restaurante. O desejo de encontrar o que pre-
cisamos age como um ímã para a sincronicidade.
Durante uma viagem de negócios a Chicago, uma sin-
cronicidade levou Gabe Carlson exatamente aonde queria ir. O
proprietário da empresa onde trabalhava recomendou-lhe um
restaurante chamado Tempo, perto do hotel. Gabe e seus coleg-
as de trabalho, em sua última manhã na cidade, saíram procur-
ando um lugar para tomar café. Mas nenhum deles conseguia
se lembrar do nome do restaurante recomendado pelo chefe.
Gabe concluiu que deveriam simplesmente caminhar “numa
direção aleatória”, fazendo que alguém que não estivesse com
eles escolhesse uma direção e apontasse. Eles saíram de malas
249/299
nas costas, “todos sorrindo e abertos a qualquer coisa boa que o
universo e Chicago quisessem nos propor”.
Depois de vários quarteirões, ficou claro que tinham tomado
a direção errada. Mas continuaram, confiantes. Quando pas-
saram pelo McDonald’s, um mendigo todo esfarrapado
aproximou-se de Gabe e se apresentou como André. Gabe lhe
deu algumas moedas e o grupo continuou. Um quarteirão de-
pois, viram uma delicatessen. Não parecia promissora, mas to-
dos estavam famintos.
Quando atravessaram a rua, André veio saltando atrás deles,
gritando “É nojento!”, para que não comessem lá. Depois, disse
que conhecia um lugar melhor. Alguns quarteirões à frente,
André os apresentou Tempo, o café que estavam procurando
desde o início.
Alguns de nós apenas ignorariam o mendigo, mas Gabe e os
amigos estavam abertos ao que poderia acontecer. Seguiram as
pistas, e a busca foi recompensada.
Como afirmou Jane Teresa em The shape of things to come,
“o que surge em nossa jornada e nos desafia a um esforço além
de nossas limitações mentais encontra-nos no mundo exterior
por meio do espelho da sincronicidade”.
Encontros “acidentais” com pessoas generosas – como o
mendigo de Chicago que levou Gabe ao restaurante que pro-
curava e o jovem que Jennifer Gerard encontrou na China, que
falava mandarim fluentemente –, são comuns em sincronicid-
ades de viagens. Porém, outras vezes, esses encontros não pare-
cem ter razão de ser. Foi o que aconteceu com um australiano
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que Rob encontrou diversas vezes na Europa durante um
verão.
Os encontros começaram na Espanha, onde Rob e seu par-
ceiro de viagem, Rabbit, deparavam-se constantemente com
um australiano chamado Maurey, que parecida estar em todos
os lugares. Ele não era muito amigável, e nunca parecia sur-
preso em encontrá-los.
Depois de três semanas na Espanha, Rob e Rabbit partiram
para o Marrocos. Pegaram uma balsa até Ceuta e, de repente,
encontraram-se em uma cultura cuja língua não falavam e,
portanto, eram incapazes de ler as placas. Os dois subiram em
um ônibus sujo e quente, com uma decoração berrante, e escol-
heram dois lugares entre os marroquinos usando jalabas. Rob
percebeu que havia dois ocidentais três fileiras adiante e deu
uma cotovelada em Rabbit. “Você não vai acreditar”, disse ele
entre o ruído da música árabe e os gritos dos homens convers-
ando no corredor. “É Maurey.”
Eles o chamaram como se se tratasse de um velho amigo.
Maurey e o rapaz ao lado viraram-se para trás. Rob e Rabbit
ficaram chocados ao ver que Maurey estava sentado com Dave,
um amigo de Minneapolis, que supostamente estaria na Suécia,
não no Marrocos. Eles não faziam ideia de que Dave planejava
ir ao Marrocos, embora estivesse lá, no mesmo ônibus, sentado
com Maurey.
Qual o possível significado disso? Não é como se Maurey
pudesse ser útil – ele não falava a língua nem conhecia mais
sobre o país do que Rob ou Rabbit. Mas se as viagens são “jor-
nadas para o crescimento”, como dizem os escritores Allan
251/299
Combs e Mark Holland, talvez esses repetidos encontros servis-
sem para aguçar a percepção de Rob em relação à sincronicid-
ade. Talvez ele devesse aprender como usar essas experiências
de viagem como uma bússola.

Jornadas fora do corpo


Falemos agora de algo completamente diferente. Uma EFC, ou
experiência fora do corpo, é uma jornada estimulante na qual
deixamos nosso corpo físico para trás. Ela pode acontecer dur-
ante um estado alterado de consciência, enquanto sonhamos,
meditamos, ou até sob a influência de determinadas substân-
cias. Se você alguma vez já despertou num sobressalto de uma
experiência aparentemente real e se surpreendeu ao perceber
que estava na cama, é provável que tenha tido uma EFC. Son-
hos de que estamos voando, sobretudo quando achamos estar
acordados, também podem ser EFCs. Essas experiências nos
permitem viajar para lugares distantes e depois verificar o que
vivenciamos.
Em Beyond the quantum, o escritor de ciência Michael Tal-
bot descreve uma EFC que vivenciou quando tinha dez anos de
idade, para a qual conseguiu fornecer evidências verificáveis.
Primeiro, ele se viu dormindo na cama e tudo parecia normal.
Depois, “flutuei levemente para fora da cama e entrei na sala,
ainda maravilhado com o fato de que todas as características da
casa pareciam idênticas ao que eram no meu estado desperto
[...] De repente, enquanto nadava pelos cômodos como se fosse
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um peixe aéreo, percebi que estava prestes a bater de frente
com uma janela panorâmica”.
Sem ter tempo de sentir pânico, passou diretamente por ela
e começou a flutuar do lado de fora, passando sobre o gramado
até chegar a um jardim onde encontrou um livro caído na
grama. Ele se aproximou e viu que se tratava de uma coletânea
de contos de Guy de Maupassant. Embora já tivesse ouvido
falar do escritor, não conhecia o livro nem tinha nenhum in-
teresse nele. Depois disso, Michael perdeu a consciência e caiu
num sono profundo.
Na manhã seguinte, ao ir para a escola, uma garota vizinha
se juntou a ele e disse que tinha perdido um livro da biblioteca
– exatamente o que vira no sonho. Atônito, ele contou a exper-
iência, e os dois voltaram até o lugar onde tinha visto o livro. “E
lá estava ele, bem acomodado na grama, exatamente do jeito
que estava quando flutuei sobre ele.”
Sincronicidade? Sim. Clarividência ou visão remota? Sim.
Prova de uma viagem fora do corpo? Talvez.
Robert Monroe, empresário da Virgínia, registrou três déca-
das de EFC e escreveu Viagens fora do corpo, livro clássico
sobre o assunto. Suas experiências ocorreram espontanea-
mente, e ele não fazia ideia do que estava acontecendo.
Deitava-se para dormir e, em alguns minutos, seu corpo tremia
de maneira violenta, e ele sentia como se não pudesse se
mover. Era preciso muita força de vontade para se obrigar a
despertar e deter o domínio do sono traiçoeiro. Depois de di-
versas experiências do tipo, ele pensou que havia algo fisica-
mente errado, talvez epilepsia ou um tumor cerebral. No
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entanto, o médico da família confirmou seu perfeito estado de
saúde.
Monroe corajosamente decidiu explorar a sensação. Uma
noite, quando as vibrações começaram, percebeu que con-
seguia mover os dedos e encostá-los no tapete. Apertou-os, e
lhe pareceu que conseguiam penetrar o tapete. Então, apertou
mais, e sua mão afundou no chão. A experiência o deixou cho-
cado. Ele tentou mais seis vezes antes de ousar explorar mais
além.
Uma noite, ele pensou em flutuar no ar – e flutuou. Foi o in-
ício de sua viagem ao passado e ao futuro, a outras dimensões,
até mesmo a lugares além da morte. Ele escreveu três livros
sobre o assunto e fundou o Instituto Monroe, onde o fenômeno
é estudado e os visitantes aprendem como sair do corpo e em-
barcar em suas próprias jornadas.

EMBARCANDO EM UMA JORNADA DE SONHO


Para a maioria de nós, viagens fora do corpo são raras e
espontâneas, mas você pode aprender a “programá-las”.
Talvez queira pairar sobre o próprio corpo, explorar a
vizinhança, visitar um amigo do outro lado da cidade, ir
a outro país ou, possivelmente, a outro mundo.
O medo de não conseguir voltar para o corpo é natur-
al. Mas não há com o que se preocupar, voltar é a parte
fácil. É como se a parte que viaja estivesse presa a um
elástico gigante – é só puxá-lo de volta para o corpo as-
sim que a viagem terminar. Talvez você já tenha
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passado por EFCs momentâneas, sentindo uma onda de


força, uma sensação de euforia. Assim que percebeu que
estava fora do corpo, o fator medo tomou conta e você
instantaneamente voltou para o corpo, acordado.
Sair – e continuar fora até que esteja pronto para vol-
tar – é o desafio. Como o medo pode impedir seus es-
forços, é uma boa ideia evocar proteção antes de
começar. No Instituto Monroe, pede-se que os parti-
cipantes memorizem essa evocação:
“Desejo profundamente ajuda e cooperação, assistên-
cia e compreensão dos indivíduos cuja sabedoria,
evolução e experiência são iguais ou maiores que a
minha. Peço a eles a orientação e proteção de quaisquer
influências ou fontes que possam me fornecer menos do
que os desejos que declaro.”
Estabeleça uma meta para sua viagem. Comece com
um objetivo modesto, talvez ir até o quintal ou andar em
volta da casa.
Agora você está pronto para mergulhar num estado
de relaxamento. De olhos fechados, respire profunda-
mente, relaxando todos os músculos, da cabeça aos pés.
Quando começar a pegar no sono, volte sua atenção e
mentalize um objeto, como uma vela queimando.
Quando conseguir se fixar indefinidamente nesse estado
mental, tente manter a concentração em mais nada além
da escuridão diante de você.
Depois, solte-se do controle exercido pelos limites do
sono e vá mais fundo. Entregue-se à sugestão de que
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tudo que vivencia será benéfico para sua felicidade.


Repita isso diversas vezes.
Imagine duas linhas estendendo-se para cima, cada
uma de um lado da cabeça, encontrando-se mais ou
menos a 50 centímetros dos seus olhos. Pense nelas
como se fossem fios carregados. Quando encostarem um
no outro, estenda-os para um metro dos seus olhos, de-
pois dois. Desloque as linhas cruzadas em 90 graus, de
modo que se estendam a um metro da sua cabeça.
Mentalmente, tente tatear ao longo das linhas. Continue
fazendo isso até sentir uma reação, talvez uma onda
trêmula, sibilante, ou uma pulsação. Deixe que ela passe
por todo seu corpo. Nesse momento, é provável que vo-
cê o sinta rígido e imóvel.
Quando as vibrações começarem, solte-se de
qualquer sentimento de medo e saiba que pode voltar a
qualquer momento. Desloque as vibrações levemente
por todo o corpo, na forma de um anel. Depois que o
movimento for criado, deixe que ele continue por conta
própria. Quanto mais rápido for o movimento, mais fácil
será se separar do corpo.
Dê um comando a si mesmo, como “flutuar no ar” ou
“subir e descer”. Você deve começar com uma separação
parcial, explorando o lugar com a cabeça. Quando est-
iver pronto para uma separação completa, imagine-se
levitando e flutuando, ficando cada vez mais leve, apre-
ciando a experiência. Pense aonde quer ir. Seja es-
pecífico, pois chegará lá rápido. Lembre-se: você sempre
volta.
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Experiência de quase morte


Experiências de quase morte estão intimamente relacionadas
às experiências fora do corpo, exceto pelo fato de essas jor-
nadas não serem, de fato, explorações de recreação noturna. Na
verdade, quando ocorrem, em geral significa que você morreu
temporariamente, ou esteve bem perto disso.
No verão de 1966, Jenean Gilstrap tinha 23 anos de idade e
uma filha recém-nascida. Uma noite, ela acordou e não con-
seguia respirar. Seu marido a levou correndo para o hospital.
Depois de passar por uma bateria de exames, ela voltou a res-
pirar normalmente. O diagnóstico final foi que uma grande
pedra na vesícula deslizou por um canal e obstruiu uma via
respiratória.
Pouco tempo depois, Jenean voltou para o hospital para
fazer uma cirurgia. Ela se lembra de conversar com o cirurgião
antes de ser anestesiada, e de nada mais, até sentir uma dor
fortíssima no estômago. “Lembro-me de achar que os médicos
tinham mentido sobre o procedimento. Foi como se literal-
mente meu estômago tivesse sido arrebentado e nele entrado
uma bola de fogo. Senti um frio extremo na parte de fora da
mão direita, mas não conseguia me mover ou falar. Então, ouvi
alguém dizer de forma enfática: ‘Estamos perdendo-a, não
consigo trazê-la de volta!’”
Jenean começou a levitar acima do próprio corpo, a partir
da cabeça, e conseguia “ver” todo mundo no quarto, inclusive o
próprio corpo. “Enquanto continuava me movendo para cima
em direção ao teto, lembro-me de olhar para mim mesma,
257/299
embaixo, e sentir como se ‘o meu eu’ estivesse sendo puxado,
como uma luva sendo retirada.” Ela continuou observando toda
a atividade no canto superior da sala de operação.
A princípio, ela estava assustada. Sabia que estava mor-
rendo. “Eu era jovem, tinha acabado de começar a viver com
minha filha. Enquanto esse diálogo mental continuava na
minha cabeça, fui tomando uma consciência maior de mim e do
ambiente à minha volta. Deixei de prestar tanta atenção ao
meu corpo, sobre o qual os médicos ainda lutavam e gritavam
ordens. Senti que estava envolvida por uma luz branca e suave
que começou a tomar conta de tudo, uma luz de completa
brancura.”
A luz a chamou. Ela conseguiu ver um cordão prateado que
conectava o corpo à alma. Mas quanto mais se distanciava dele,
maior a sensação de que “o que chamam ‘morte’ não é o fim de
tudo. Era o início. Não havia nada a temer”.
Ela ouviu vozes ao redor, parentes que morreram há anos, e
alguns que não conhecera no mundo físico. “Mas, nesse
mundo, eu sabia quem eles eram.”
No momento de completa entrega à luz, uma voz perguntou
quem criaria sua filha. Foi quando Jenean voltou para o corpo.
Ficou furiosa porque os médicos a trouxeram de volta, e
projetou-se novamente para fora.
Jenean se lembra de sair da sala de cirurgia e descer um
corredor, onde sua família poderia vê-la pela última vez. “Eu
conseguia ouvi-los nitidamente, e fiquei furiosa por perceber
que faziam planos e organizavam coisas pra mim. Naquele
258/299
momento eu sabia que voltaria, que ninguém criaria minha
filha além de mim.”
Quando Jenean recuperou a consciência, os dois médicos
foram vê-la e lhe disseram que “quase a perderam”. Ela re-
spondeu que eles tinham perdido, e relatou o que escutara na
sala de cirurgia. Eles confirmaram suas experiências e disseram
que já tinham ouvido falar de coisas assim, mas que ela era a
primeira paciente a lhes contar.
Para Jenean, a experiência foi transformadora. Alguns
meses depois, ela acordou uma manhã e ouviu pássaros cant-
ando numa árvore próxima. “Olhei para mim no espelho do
banheiro e percebi que, aos 23 anos, não conseguia me lembrar
da última vez que tinha sentido o calor do sol ou ouvido pás-
saros cantar. Eu sabia que precisava sair do meu casamento in-
feliz e levar minha filha embora da infelicidade, levá-la para o
calor do sol e o cantar dos pássaros. Saí da frente do espelho,
fui até o armário, peguei uma mala e uma bolsa de fraldas, e fui
embora daquela casa para nunca mais voltar.”

A última jornada
As sincronicidades costumam ocorrer durante momentos de
grandes transições. Uma dessas transições é a última jornada
que fazemos: a morte.
Você já ouviu as histórias: relógios que param no momento
da morte, o comportamento estranho de um animal de estim-
ação nos dias ou semanas antes de o dono morrer, a visão
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aparentemente aleatória de um corvo ou coruja antes da morte
de uma pessoa querida. Às vezes, as flores murcham e perdem
as pétalas, um jardim fica marrom, aparelhos quebram sem
nenhum motivo, e todas as músicas que você escuta no carro
são sobre a morte. Você sente. Essas ocorrências sincrônicas
podem se multiplicar quando a morte se aproxima de alguém
que você ama. É como se o universo estivesse tentando alertá-
lo e prepará-lo psicológica, emocional e espiritualmente.
Sincronicidades associadas à morte também se manifestam
em impulsos, pressentimentos, visões e sonhos. Você pode sen-
tir, por exemplo, o impulso de entrar em contato com alguém
que não vê há algum tempo e descobrir que a pessoa morreu
exatamente no momento em que pensava nela. Se estamos to-
dos conectados, como acreditam os místicos, então a inform-
ação sobre a morte iminente de uma pessoa querida está
disponível a todos nós. Mas é preciso estar aberto para en-
tender como esse tipo de informação pode surgir no caminho.

No final da década de 1850, Mark Twain e o irmão, Henry,


trabalhavam nas embarcações fluviais do Mississippi que
faziam o trajeto entre St. Louis e Nova Orleans. Uma noite,
enquanto estavam na casa da irmã em St. Louis, Twain
sonhou que o corpo do irmão estava dentro de um caixão
de metal na sala daquela casa. Os detalhes eram específi-
cos: o caixão ficava apoiado em duas cadeiras, e sobre o
peito de Henry havia um buquê com uma única rosa
vermelha.
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Várias semanas depois, Twain e o irmão voltaram para
Nova Orleans. Dessa vez, tomaram diferentes embarcações
para St. Louis. Henry estava na Pennsylvania. Perto de
Memphis, as caldeiras explodiram, matando diversas pess-
oas. Henry ficou gravemente ferido e foi levado para Mem-
phis, onde morreu alguns dias depois.
A maioria das vítimas foi enterrada em caixões de
madeira, mas um grupo de mulheres de Memphis ar-
recadou dinheiro suficiente para enterrar Henry em um
caixão de metal, exatamente como Twain tinha visto no
sonho. No entanto, não havia um buquê com uma única
rosa vermelha. Quando Twain chegou perto do corpo do
irmão, uma mulher entrou e colocou um buquê de flores
sobre o peito de Henry. No centro havia uma única rosa
vermelha.
O que é especialmente forte no sonho de Twain é o fato
de ele ter se lembrado de detalhes específicos, que coin-
cidiram exatamente com a realidade. Sua experiência sali-
enta que, em um nível mais profundo, nossa percepção é
muito maior do que imaginamos.

Fugir da morte também pode ser uma fonte de fortes sin-


cronicidades. Em 1o de março de 1950, um coro de igreja em
Beatrice, no Nebraska, supostamente deveria começar suas
atividades às 19h20. Mas todos os 15 membros do coro se at-
rasaram por razões mundanas e perfeitamente legítimas. O
ministro e a família porque estavam terminando de lavar a
roupa; outra pessoa fazia tarefas escolares; uma outra teve
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problemas com o carro. Exatamente às 19h25, a igreja explodiu
por causa de um defeito no sistema de aquecimento.
Essa história, contada pela primeira vez na revista Life, é um
dos exemplos de sincronicidade mais impressionantes de fuga
da morte. “Se a presença da morte pode ser o foco de fenô-
menos sincrônicos desse tipo, então também pode ser igual-
mente significativa e sincrônica, sob circunstâncias sur-
preendentes, a ausência ou fuga da morte”, escreveu Hopcke
em Não há acasos.
Seria fascinante saber como essa experiência impactou a
vida e a crença dessas 15 pessoas. Alguma delas morreu logo
depois? Que lição tiraram dessa experiência? Seus caminhos de
vida foram radicalmente mudados?
A morte de uma pessoa amada geralmente escancara as
portas para outras realidades, para níveis mais profundos de
consciência, para o crescimento pessoal. Mary S., uma profess-
ora na América do Sul, nunca se imaginou como paranormal ou
intuitiva. “Exerci minha profissão como acadêmica por mais de
30 anos com um Ph.D em teoria literária e sempre pensei que
fosse objetiva, com os pés fincados firmemente na terra.”
Há quatro anos, Mary conheceu Danny, um psicólogo. Eles
aparentemente tiveram um incrível relacionamento amoroso,
mas, como ele morava a 200 quilômetros de distância, era difí-
cil se encontrarem regularmente. Então, Danny perguntou se
Mary podia mudar o foco da relação para algo mais espiritual.
“Ele queria que fôssemos almas gêmeas e basicamente
‘ressoássemos’ um no outro. Na verdade, ele me chamava de La
gloriosa donna della mia mente.” A expressão italiana significa
262/299
“gloriosa dona da minha mente”, e foi assim que Dante chamou
Beatriz Portinari, a mulher que ele amou e que inspirou alguns
de seus escritos, mas que continuava longe de seu alcance.
“Sendo uma mulher normal, eu era um pouco cética em relação
a apenas ressoar um no outro. Eu queria mais”, escreveu Mary.
Eles se falavam todos os dias por e-mail e por mensagens de
texto; trocavam poesias e citações literárias. No início de 2009,
Mary começou a sentir que havia algo estranho com Danny,
que sua força de vida estava esmorecendo. Em fevereiro,
enviou-lhe um e-mail perguntando se podia enviar energias
positivas toda manhã às sete horas. Ele concordou, e assim ela
fez nos meses seguintes, mesmo que nunca tivesse feito algo do
tipo. “Não era nada de mais, sem luzes cintilantes, apenas um
‘cordão umbilical’ entre nós, às vezes com o efeito de uma luz
difusa no coração dele.”
Em mais de uma ocasião, Danny dissera que um dia comet-
eria suicídio, e Mary acreditava nele. Ela teve certeza disso
quando recebeu seu e-mail dizendo que os cabos de eletricid-
ade tinham sido roubados pela quarta vez por ladrões, que ven-
diam como cobre para o ferro-velho. “Eu sabia que algo hor-
rível estava prestes a acontecer.” Nesse mesmo e-mail, ele dizia
que estava pensando em tirar uns dias de folga para descansar.
Ainda que não tivessem o hábito de se telefonar, Mary ligou
para ele imediatamente. Danny estava voltando para casa, e ela
perguntou para onde pretendia ir. Ele disse que não sabia, que
só queria descansar a cabeça. Ela pediu-lhe que fosse passar
uns dias com ela, porque ele “precisava ser mimado”. Ele re-
spondeu que talvez fizesse isso.
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Naquela noite, por volta das sete horas, Mary enviou uma
mensagem perguntando se ele tinha “sobrevivido à fria escur-
idão”. O celular estava desligado, e a mensagem não chegou.
Ela foi dormir às dez, mas vinte minutos depois levantou-se às
pressas, certa de que Danny precisava dela. Ela enviou outra
mensagem. “Estou preocupada com você, meu amor!” A
mensagem não chegou.
Na manhã seguinte, sexta-feira, Mary sentiu vontade de
meditar e enviar energia para Danny, o que não fazia há algum
tempo. A princípio, não conseguiu encontrá-lo, mas depois
visualizou seu coração nas mãos e viu uma luz magnífica, ros-
ada no centro com pitadas de verde-claro, depois uma grande
massa creme com um grande halo dourado em volta. “Era tão
calmo e sereno... Parecia sagrado, como uma liberdade e uma
glória plenas, pura calma e tranquilidade. Não tenho palavras
para descrever. Fiquei sentada, apenas mergulhando na ener-
gia suave daquela luz. Era como se a luz me tivesse sido dada,
não precisei me concentrar de modo nenhum para produzi-la.”
Mary sentiu que Danny não precisava de nada, que estava
calmo, feliz. E pensou que ele pudesse ter ido ao centro budista
meditar, o que explicaria a luz. Depois, percebeu que uma luz
como aquela não poderia pertencer a um ser vivo.
No sábado de manhã, a mesma coisa aconteceu, mas dessa
vez ela se sentou na presença da luz por mais de uma hora.
Sentiu-se satisfeita e confortada. Intuitivamente, sentiu que
Danny estava em paz. “Mais uma vez eu sabia, de coração, que
nenhum ser vivo produziria aquela luz. No domingo aconteceu
de novo, e tive a mesma sensação. Além disso, durante o fim de
264/299
semana inteiro senti a presença de Danny de maneira muito
forte. Foi como se ele estivesse comigo, relaxado e livre. Tive a
sensação eufórica de ter saído de férias e antecipado um longo
momento de descanso e liberdade.” Naquele fim de semana ela
cozinhou freneticamente – algo que Danny gostava, mas ela
não – com especiarias e ingredientes que ele teria usado.
Ela sabia que Danny não gostava que ficasse muito em cima
dele, e por isso não ligou para o trabalho dele na segunda-feira.
Quando telefonou na terça, a secretária disse que ele tinha
morrido na sexta. Mary ficou chocada, mas não surpresa. Ela
sabia que não tinha sido na sexta. Depois, a polícia confirmou
que Danny morrera na quinta-feira à noite, entre dez e onze
horas, o momento em que ela enviou a última mensagem de
texto.
“Ele se enforcou dentro de casa. Ficou bastante claro que
planejava fazer isso há um bom tempo. Antes de partir, apagou
toda uma vida que ficou para trás. Nenhum dos seus amigos
pôde ser contatado.”
No dia em que Mary soube da morte de Danny, uma amiga
psicóloga foi até lá ficar com ela. Ela queria ajudar Mary a se
recuperar, mas sem invadir seu espaço pessoal. Algum tempo
depois, confessou a Mary que, naquela noite, sentira uma forte
presença ao redor de si, e que, quando foi embora, sabia que
Mary não estava sozinha.
Mary também sentiu essa presença nas primeiras três sem-
anas depois da morte de Danny – uma presença forte e amável.
Muito embora a natureza de Danny não fosse assim quando
265/299
estava vivo, ela o sentiu por perto durante semanas. “Do seu
jeito, quieto, ele estava me ajudando a superar aquela crise.”
No entanto, Mary ficou espantada com o fato de Danny ter
deixado em testamento tudo o que tinha para uma amiga de
quem ela nunca ouvira falar. Então, lembrou-se de que ele
costumava encorajá-la a viver de maneira desprendida.
“Quando percebi que ninguém mais sentiu a presença dele de-
pois da morte, comecei a apreciar o maravilhoso presente de
despedida que me deu; na verdade, ele foi me visitar como pro-
meteu, e desde então nunca me deixou sozinha. Ele me guiou
com ternura para que eu entendesse sua partida. Ninguém me
telefonou para dar uma notícia chocante. Não precisei identifi-
car o corpo no necrotério. Ele não me deixou o estorvo de um
testamento e pertences. O que me deu foi o presente mais re-
quintado que se pode receber... E, por fim, entendo que
amantes não se encontram em algum lugar. Eles estão um no
outro o tempo todo!”
Mary vivenciou a sincronicidade por meio de uma conexão
telepática com Danny, e a experiência transformou sua vida.
Talvez ela e outros que relatam esses tipos de experiência es-
tejam no limite de uma mudança de paradigmas. Falaremos
sobre esse conceito no último capítulo.

Mensagens da vida após a morte


Nos sonhos, nossa consciência perambula livremente pelo
tempo e pelo espaço em narrativas com enredo, personagens e
266/299
motivos, como uma boa história. As histórias dos nossos son-
hos nem sempre fazem sentido, e colocá-las em ordem quando
acordamos pode ser desafiador, sobretudo quando o que lem-
bramos se parece com “cartões postais de uma viagem”, como
diz Ann Faraday. No entanto, às vezes a mensagem é clara e in-
spiradora, sobretudo quando se trata de entrar em contato com
alguém que já morreu.
Os místicos sempre disseram que, com frequência, fazemos
viagens enquanto dormimos até campos da vida após a morte,
das quais não nos lembramos quando acordamos. No entanto,
sonhos de contatos com pessoas queridas que já morreram são
impressionantes. Podemos sentir uma onda de energia, como
se estivéssemos mais vivos que o normal. Mas isso é irônico, se
pensarmos que o contato com o falecido é algo sombrio e as-
sustador, como uma cena do filme Sexto sentido.
Você pode vivenciar um sonho desse tipo perto do momento
em que um parente ou alguém próximo morre. O contato pode
ocorrer espontaneamente, sem nenhum esforço da sua parte.
Rob sabia que seu primo estava muito doente quando apareceu
em um sonho. Para a surpresa de Rob, ele parecia saudável e
cheio de vida, mas confuso. Ele olhou ao redor, sorrindo, e per-
guntou: “O que está acontecendo?”. Na manhã seguinte, Rob
recebeu uma ligação da irmã dizendo que o primo falecera.

ENTRE EM CONTATO
267/299

Se nenhuma experiência espontânea ocorrer, você pode


pedir para contatar alguém em um sonho. Digamos que
queira entrar em contato com seu avô, que morreu re-
centemente. Vocês eram próximos, e há muitas lem-
branças do que passaram juntos.
Quando se deitar para dormir, relaxe e respire pro-
fundamente algumas vezes. Diga a si mesmo que está
prestes a embarcar numa viagem para entrar em contato
com seu avô. Pense nele e lembre-se de um momento
feliz que tiveram juntos. Lembre-se com a maior quan-
tidade de detalhes possível. Mergulhe num estado medit-
ativo enquanto se imagina com seu avô. Você pode lhe
contar alguma coisa da sua vida, ou dizer que tem
pensado nele.
Quando estiver sonolento, imagine ouvir uma res-
posta. Tente se concentrar. Veja se consegue continuar a
conversa. Você pode dormir. Quando acordar, pergunte
a si mesmo o que sonhou. Às vezes basta o esforço para
desencadear a memória.
Se não conseguir se lembrar de nenhum sonho pertin-
ente, tente este exercício como uma meditação durante
o dia. Emita sinais psíquicos e, mesmo que não faça con-
tato, você pode encontrar uma ou mais sincronicidades
naquele dia que sejam diretamente relacionadas às
memórias do seu avô.
CONCLAMANDO
O DIVINO

“Lá no fundo, a consciência da humanidade é uma


só.”
– DAVID BOHM, WHOLENESS AND THE
IMPLICATE ORDER
Com a expansão da internet na década de 1990, entramos na
era da informação. Hoje, a informação e a comunicação quase
instantâneas impulsionam nossa civilização adiante. Pesquisas
que há apenas 25 anos demorariam horas, dias ou semanas
aparecem no monitor em segundos. Parece inevitável que até a
sincronicidade encontrasse seu caminho nessa era da inform-
ação e da alta tecnologia.

Sincronicidade de alta tecnologia


Uma noite, um alerta do Google para o termo “sincronicidade”
apontou um site chamado synctxt.com, uma forma de explorar
a sincronicidade por meio da tecnologia moderna. A ferra-
menta é descrita como “um experimento de pesquisa e uma fer-
ramenta de autoexploração que combina a tecnologia moderna
com o conceito de sincronicidade conforme postulado pelo
psicólogo Carl Jung”.
A tecnologia por trás do software veio do laboratório Prin-
ceton Anomalies Research, da Universidade Princeton, onde foi
descoberto que os seres humanos podem influenciar os aconte-
cimentos físicos em escala quântica, até mesmo a distância.
Isso não é algo novo. O físico e escritor Larry Dossey, por ex-
emplo, explorou a força da oração (intenção) na cura a longa
distância. O livro The intention experiment, de Lynne McTag-
gart, aborda essa teoria em detalhes. Esther e Jerry Hicks es-
creveram vários livros sobre a lei da atração que ilustram como
270/299
podemos influenciar os acontecimentos físicos por meio de
nossos pensamentos e intenções.
A diferença, no entanto, é que o site synctxt foi feito para uso
pessoal. Ele utiliza geradores de eventos aleatórios (GEAs) para
avaliar a influência da consciência nos acontecimentos físicos e
buscar padrões que indiquem um desvio da distribuição es-
tatística esperada. Quando acessamos o site, um gerador de
eventos aleatórios que funciona sem parar nos é atribuído.
Quando um padrão é detectado, o sistema manda uma
mensagem – escrita por você – para seu telefone celular.
De acordo com o site, essas mensagens costumam chegar em
momentos sincrônicos. Suas mensagens podem ser assim:
“Siga o fluxo.” “Não se preocupe com coisas pequenas.” “Viva o
momento.” “Agora você entendeu”. “Ria”. “Procure-nos sempre
que precisar”. “Expresse sua gratidão”. “Vá adiante”. “Chegou
um cheque surpresa”. “Você está no caminho certo”.
Você pode estar dirigindo para o supermercado uma manhã,
preocupado com as contas que precisa pagar, quando seu
iPhone ou Blackberry toca. No próximo farol vermelho, olha
para o telefone e lê uma mensagem do synctxt: “Ótimo dia, óti-
mas vendas.” Algumas horas depois, você recebe um e-mail e
nele há um comprovante de depósito de uma quantia exorbit-
ante, uma restituição da qual você nem se lembrava.
Numa outra tarde, você está conversando ao telefone com
um amigo sobre um evento de caridade que os dois estão or-
ganizando. Ambos estão ficando frustrados por conta dos detal-
hes. É quando chega um alerta: “Confie no processo.”
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Essas mensagens são consideradas sincronicidades. Na ver-
dade, a mensagem sobre o dinheiro foi uma premonição. Mas,
por uma máquina? Não exatamente. Embora a mensagem seja
transmitida digitalmente e o gerador seja uma máquina, você
criou as mensagens.
No site, alguns usuários compartilham suas histórias. Uma
das mais impressionantes provou que o synctxt funciona até
mesmo para quem não assinou o serviço. Uma assinante criou
uma mensagem que dizia: “Viu? Tudo tem sua hora”. Alguns
dias depois, estava num bar com uma amiga que discutia pla-
nos para se tornar uma arquiteta independente. Mas estava
preocupada sobre quanto tempo isso demoraria. A amiga
acabou a história dizendo que, se insistisse naquilo, provavel-
mente poderia trabalhar sozinha quando fizesse 30 anos. Assim
que disse isso, sua amiga recebeu uma mensagem no telefone
dizendo: “Viu? Tudo tem sua hora.” “Ela ficou bastante impres-
sionada, e acho que se sentiu um pouco melhor e mais confi-
ante em seus planos depois da mensagem.”
À medida que mais pessoas se conectam com a realidade
subjacente da sincronicidade, uma janela se abre com uma
visão para uma nova era, a era da transformação. Ao conclamar
ativamente a sincronicidade e confiar em nosso “eu” subcon-
sciente, começamos a viver de modo mais consciente e re-
fletido. Apreendemos a interconexão de toda a vida e enten-
demos plenamente que o que afeta um afeta a todos.

A era da transformação
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Nesta era, as respostas podem chegar como um passe de má-
gica. Você sabe quem é e quem quer se tornar. Está no caminho
certo, na hora certa. A sincronicidade é sua melhor amiga, e
suas mensagens agem como uma bússola. Na era da transform-
ação, você se concentra facilmente nas suas intenções e desejos,
e convida a sincronicidade para sua vida. Na era da transform-
ação, você conclama o divino.
Esse é o ideal. Mas, para chegar lá, é preciso que você
aprenda a se fazer perguntas, a definir seus desejos e emoldur-
ar sua vida de modo que crie um ambiente rico no qual as sin-
cronicidades possam acontecer sem demora. Em um ambiente
como esse, a lei da atração funciona como nunca; a intuição se
aprofunda, a criatividade floresce. “Quando decidimos trabal-
har com a coincidência, convidamos para nossa vida novos
padrões energéticos”, escreveu Robert Moss em The three
“only” things. “Não só observamos os acontecimentos de uma
nova maneira, como na verdade os atraímos – e também atraí-
mos as pessoas – para o nosso caminho de uma forma que é
diferente de antes.” Tudo na nossa vida começa a se deslocar
para uma direção mais rica e mais positiva.
As sincronicidades, quando estamos cientes delas, são como
pistas sussurradas, indicações ao longo da estrada. Vire aqui,
siga adiante. Arrisque-se. Desacelere, acelere. Na era da trans-
formação, se você for uma parte dela, as sincronicidades
acontecerão todos os dias. No entanto, elas não são experiên-
cias cotidianas.
273/299
Nem todos têm um computador na era da transformação, e
nem todos seguirão o caminho das sincronicidades nessa era.
Mas as influências serão sentidas em todo o universo.
Deepak Chopra identifica dois estágios de consciência super-
ior: a consciência divina e a consciência da unidade. Na
primeira, nossa capacidade de manifestar desejos aumenta. A
consciência divina, uma experiência que vem e vai, permite-nos
vislumbrar a “presença do Espírito em todas as coisas”, como
Mary S. fez depois do suicídio de seu namorado, conforme
descrito no capítulo anterior. A consciência da unidade, ou o
esclarecimento, envolve “a transformação completa do eu pess-
oal em um eu universal, um estado em que milagres acontecem
e tudo é possível”. Podemos conclamar o divino, ainda que por
breves momentos?

A lei da atração
Os metafísicos escrevem sobre a lei da atração há muito tempo,
bem antes de a prensa ser inventada. Mas sua popularização se
deu, pela primeira vez, no século XX, pela escritora Jane
Roberts.
No segundo semestre de 1963, Jane Roberts começou a can-
alizar Seth, “uma essência de personalidade não mais centrada
na realidade física”. Seu marido, Robert Butts, reconheceu a
qualidade do material sobre Seth e começou a tomar notas dur-
ante as sessões de transe da esposa. Quando Jane morreu em
1984, havia mais de 20 livros sobre Seth publicados, e centenas
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de notas inéditas sobre uma variada gama de assuntos – a
natureza da realidade física, vida após a morte, reencarnação,
saúde e doença, inteligência humana e animal, natureza da
consciência, guerra e paz, política. A pedra angular da filosofia
de Seth era simples: “Você cria sua realidade; você obtém
aquilo em que se concentra... Não há outra regra principal”.
Em outras palavras, a lei da atração. Muitas das descrições
de Seth sobre a natureza da realidade refletem os argumentos
de David Bohm e outros cientistas – sobre como tudo no uni-
verso está conectado e sobre a importância da intenção e da
crença na criação de nossas experiências. De acordo com Seth,
“como as crenças formam a realidade – a estrutura da exper-
iência –, qualquer mudança nas crenças que altere essa estru-
tura inicia a mudança”.
Os livros de Seth oferecem uma base filosófica para a
natureza da realidade e da consciência, para a lei da atração e
para o papel das crenças na criação de nossa realidade. No ent-
anto, ela carece de aplicação prática. Como fazemos isso exata-
mente? Felizmente, outros autores (já mencionamos alguns
neste livro) apresentaram a lei da atração de maneiras acessí-
veis a milhões de pessoas. Temas comuns perpassam seus liv-
ros: a importância das crenças, o foco de desejos intensos e a
força das emoções.
Nas duas histórias a seguir você verá a importância das
crenças, do desejo intenso e das emoções fortes.
Para Jane Clifford, mãe solteira do País de Gales, seu forte
desejo e sua intenção focada levaram aos resultados de que pre-
cisava. Seu filho mais jovem, Harry, não estava se dando bem
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na escola secundária local e lhe perguntou se poderia frequent-
ar uma escola particular onde o irmão mais velho se formara.
Harry não era estudioso, mas um músico brilhante, e a escola
concordou em entrevistá-lo por conta disso.
A entrevista correu tão bem que o diretor resolveu abrir uma
vaga para Harry e deu a ele uma bolsa de estudos. Mas, mesmo
com a bolsa, Jane ainda precisaria desembolsar 8 mil libras por
ano durante dois anos e mais 32 mil libras para completar os
estudos do filho. Sua relação com o pai de Harry acabara, as
dívidas só cresciam. Ela não tinha para quem pedir ajuda. E
não havia mais nada que pudesse vender.
Diversos amigos e membros da família investiram em Harry,
e Jane economizou o que podia, quando podia. Mas a quantia
de 32 mil libras não saía da sua cabeça, um obstáculo aparente-
mente intransponível. Quando esteve em Londres, uma grande
amiga lhe disse para visitar uma igreja minúscula onde havia
um santuário de Santo Antônio (santo das coisas perdidas) e
outro de São Judas (santo das causas perdidas). Sua amiga
tinha ido à igreja alguns anos antes, mas só conseguia se lem-
brar da localização geral. Com apenas uma vaga descrição, Jane
saiu para encontrar a igrejinha.
Ela perguntou a todos os taxistas londrinos do lado de fora
da estação de metrô sobre a localização da igreja; perguntou em
cafés e lojas, mas em vão. Desencorajada e frustrada, quase de-
sistiu. “Resolvi comprar um pêssego num camelô. Perguntei a
ele sobre a igrejinha, e ele apontou para o outro lado da rua.”
Jane correu para dentro da igreja, acendeu uma vela e
agradeceu a Santo Antônio pela ajuda com chaves de carros
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perdidas ao longo dos anos. Depois, acendeu uma vela para São
Judas e pediu ajuda com as mensalidades da escola. Nos três
meses posteriores, sem nenhuma solução à vista, ela con-
tinuava ansiosa e insegura.
Durante uma reunião de alunos na escola, Harry se ofereceu
como voluntário para ajudar no jantar. Um gentil senhor
começou a conversar com ele e disse que tinha ouvido que
talvez Harry tivesse de deixar a escola. Ele explicou que sua
mãe não podia pagar. O gentil senhor disse: “Eu não me pre-
ocuparia com isso se fosse você, Harry”, e saiu para falar com
um convidado do jantar.
A verdade é que aquele senhor estava fazendo uma doação
considerável para a escola naquele mesmo dia. O dinheiro
deveria ser investido e usado para ajudar estudantes mais
pobres. “Ele especificou que somente no caso de Harry o din-
heiro poderia ser usado para pagar todas as mensalidades que
faltavam, de modo que ele terminasse os estudos lá!”, escreveu
Jane. “Milagre!”
Jane não só teve um forte desejo e uma intenção, como tam-
bém se recusou a desistir. Muito embora ninguém soubesse a
localização da igreja, ela continuou perguntando até que por
fim a encontrou. Foi exatamente a sincronicidade de que pre-
cisava. Ela literalmente conclamou o divino ao visitar os san-
tuários de dois santos e pedir ajuda.

APROVEITANDO A SINCRONICIDADE
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Veja se consegue colocar a sincronicidade em prática a


seu favor. Pense numa pergunta ou concentre-se num
objetivo. Transforme-o em algo significativo. Leve-o a
sério. Entusiasme-se. Alimente-o com uma emoção
forte. O que você realmente quer ou precisa? Se estiver
com problemas para formular uma pergunta ou estabele-
cer um objetivo, encontre um lugar tranquilo e relaxe.
Deixe sua mente vagar enquanto se acomoda, dizendo a
si mesmo que a questão mais importante para você
neste momento virá à mente. Liberte-se de pensamentos
irrelevantes. Espere pela questão e pela pergunta.
Quando ela aparecer, reformule-a. Torne-a específica,
porém simples.
Espere os resultados. Imagine que você já obteve sua
resposta. Como você se sente? O que está fazendo de
diferente agora que obteve sua resposta? Escreva, conte
para os amigos. Espalhe a palavra para o universo.
Estabeleça um intervalo de tempo para receber uma
resposta. Você pode tentar uma abordagem do tipo
“tudo ou nada”, dizendo a si mesmo que a próxima coisa
que escutar – uma voz na televisão, um comentário
numa loja ou estacionamento – lhe dará uma resposta.
Isso funciona melhor para pessoas intuitivas e que per-
cebem sincronicidades com frequência. Talvez você
queira estabelecer um ou dois dias para que surja a
mensagem. Se não a reconhecer, concentre-se de novo
e comece do zero.
Procure por algo incomum no seu ambiente, algo in-
esperado. Talvez seja o telefonema de alguém com
278/299

quem você não fala há um bom tempo. Ou a chance de


encontrar com alguém. Qualquer encontro inesperado
pode servir para obter a resposta. Qual foi a primeira
coisa que a pessoa lhe disse? Você consegue encontrar
um significado relacionado à sua pergunta ou objetivo?
Ela oferece uma direção, uma nova abordagem, ou
talvez um alerta? Se não tiver certeza, observe a próx-
ima sincronicidade enquanto pensa sobre a pergunta ou
o objetivo.

Com a prática, ficará mais fácil para você aproveitar a sin-


cronicidade criando um espaço na mente e no coração para que
ela se manifeste. Algumas pessoas, como Jane, usam a oração,
a visualização e o ritual. Outras seguem pistas do ambiente,
como Jennifer Gerard em sua viagem à China e ao Nepal, que
mudou sua vida. Talvez, durante sua exploração da sincronicid-
ade, sua voz intuitiva tenha se fortalecido o suficiente para que
a escute mais de perto. Talvez agora você siga seus impulsos,
busque mensagens nos sonhos, interprete os acontecimentos
que vivencia como símbolos de suas crenças e intenções.
Se em algum momento da jornada ainda não tiver certeza de
suas crenças e intenções, olhe ao redor. Tudo o que vê na sua
vida pessoal – família, casa, entes queridos, animais de estim-
ação, crianças e amigos, perdas e ganhos na carreira, sua saúde
e prosperidade – é o resultado de crenças e intenções que você
guarda, desejos que mantém. Se perceber elementos de que
não gosta, mude suas crenças. Suas experiências e a realidade
externa mudarão como consequência.
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Leah Southey, escritora e editora, tem um anjo da guarda,
Shiva, que sempre a ajuda nos momentos difíceis. Em março de
2007, ela e o marido, Neil, visitaram Jenolan Caves, na Aus-
trália, onde comemoraram o aniversário de casamento. Eles
saíram num passeio até as cavernas, quando, de repente, seu
marido percebeu que perdera as chaves. Nenhum dos dois
sabia como voltariam para casa. Leah perguntou a Neil se ele
queria encontrar as chaves sozinho ou que alguém o ajudasse.
Para Leah, essa parte da decisão – a intenção – era o elemento
mais importante.
“Concordamos que seria melhor deixar que alguém as
trouxesse até nós. Mesmo assim, ele insistiu para que refizésse-
mos nosso trajeto, voltássemos ao quiosque e ao escritório dos
parques nacionais para ver se alguém havia entregado as
chaves. Quando isso não deu certo, ele saiu para um segundo
passeio nas cavernas que já havíamos visitado.”
Enquanto ele estava no passeio, Leah sentou-se perto do rio
e perguntou a Shiva onde estavam as chaves. “Em uma crise, eu
logo procuro por Shiva. Ele me ajudou diversas vezes.” A res-
posta? As chaves estavam na entrada da caverna.
Quando ela e Neil se encontraram de novo, voltaram à en-
trada da caverna, mas não encontraram as chaves. “A área
turística estava prestes a fechar quando dois guardas do parque
passaram de carro pela zona do estacionamento. Pararam perto
de nós e uma mulher perguntou: ‘Isso aqui ajuda?’. Ela estava
balançando as chaves com a mão para fora da janela.”
O casal não só recuperou as chaves como o ocorrido se deu
da maneira exata que pediram: alguém entregou as chaves.
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Quando Leah perguntou onde as chaves foram encontradas, a
mulher disse: “Na entrada da caverna”.
Ao pedir a ajuda de Shiva, acreditando que as chaves seriam
encontradas, ao definir sua intenção, Leah e o marido ativaram
a lei da atração e conclamaram o divino.

O caminho da sorte
No capítulo anterior, contamos a história do coro de uma igreja
em Beatrice, no Nebraska, cujos membros se atrasaram para as
atividades na noite em que a igreja explodiu. Pessoas sortudas,
não é mesmo? Então, qual a diferença entre sincronicidade e
sorte, e como podemos nos aproveitar dela?
Basicamente, a sorte é uma sincronicidade próspera. Mas
não acontece por conta própria. Geralmente, toma a forma de
algum tipo de ação. Imagine sonhar com seis números que
acabam sendo sorteados na loteria no dia seguinte. É sin-
cronicidade. No entanto, só seria sorte se você tivesse tomado
uma atitude em relação ao sonho e jogasse aqueles números.
No caso do coro da igreja, a ação dos membros foi uma inação,
ou uma ação atrasada.
Quando alguém se torna bem-sucedido da noite para o dia,
chamamos essa pessoa de sortuda. Mas um exame mais detal-
hado revela que foi preciso anos, talvez décadas, para que o su-
cesso “repentino” acontecesse. Elmore Leonard escreveu 37 ro-
mances antes de encontrar o gênero que o tornou famoso:
crime e mistério. Harrison Ford fazia pequenos papéis e
281/299
trabalhava como carpinteiro antes de fazer sucesso, em 1973,
com o filme Loucuras de verão, de George Lucas. Stephen King
jogou fora os manuscritos de Carrie, a estranha, mas sua es-
posa conseguiu recuperá-los; os direitos acabaram sendo ven-
didos por 400 mil dólares, e o livro impulsionou a carreira de
King. Jeff Lindsay escreveu textos de diversos gêneros ao longo
dos anos, mas já tinha mais de 50 anos quando atingiu o su-
cesso com um personagem chamado Dexter. Hoje, a série já
conta com cinco livros, faz parte da lista de best-sellers do New
York Times, e Dexter é o programa de maior audiência do canal
em que é exibido nos Estados Unidos.
Depois de se formar na faculdade, Trish escreveu cinco ro-
mances antes de escrever aquele que de fato seria publicado.
Alguns diriam que ela teve sorte, porque seu trabalho foi sele-
cionado entre centenas, talvez milhares, de manuscritos de es-
critores competentes. Mas não foi só sorte, houve trabalho,
uma forte intenção e a orientação das sincronicidades. O editor
da Ballantine Books, que comprou os direitos, leu o livro no fim
de semana, depois de ver a estreia de Miami Vice. Assim como
a série de TV, In Shadow tinha dois detetives de Miami, um
branco, outro negro, envolvidos numa investigação de drogas.
Sincronicidade. O editor fez uma oferta na segunda-feira
seguinte, e a carreira de Trish como escritora de ficção deslan-
chou. O interesse surgiu com o 25o envio do seu sexto livro, o
primeiro e único dos seis a ser publicado.
Rob estudou antropologia na faculdade e viajou pelo mundo
para visitar sítios arqueológicos em paralelo aos seus trabalhos
como jornalista. Porém, quando foi chamado para escrever o
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que se tornaria o primeiro dos oito romances de Indiana Jones,
nem a empresa LucasFilm nem o editor da Bantam Books
sabiam do seu interesse por arqueologia. Sabiam apenas que
ele publicara um livro, Crystal skull.
Quando estamos concentrados, entusiasmados, forçando
nossos limites, o cérebro libera endorfina. Pesquisas apontam
que isso acontece durante o sexo e no nascimento, em ativid-
ades físicas pesadas, na meditação e no intenso trabalho criat-
ivo. Se você visualizar o que quer quando a endorfina estiver
correndo no seu corpo, o desejo se manifesta mais rapida-
mente. É como se essa substância de alguma maneira o aju-
dasse a se conectar com a poderosa fonte de quem realmente é
e com o potencial de quem quer se tornar.
“Um cosmos fortuito é divertido e pueril, e uma abordagem
aventureira e prazerosa à vida encoraja a sincronicidade”, es-
creveu Marcus Anthony, autor de Sage of synchronicity. “O
ponto fundamental é trazer a mente completamente para o mo-
mento atual. No estado prazeroso da presença completa, é
como se o cosmos tomasse vida. O propósito e o significado
mais profundo das coisas são conhecidos, mesmo que velada-
mente, como se a psique e a mente cósmica mantivessem um
diálogo aberto.”
Quando a sincronicidade acontece, é importante perguntar o
que ela significa. A resposta pode vir na forma de outra sin-
cronicidade. Você talvez escute determinada música no rádio,
algo dito na TV ou leia uma passagem de um livro. Quanto mais
exploramos a sincronicidade, maior se torna nosso entendi-
mento. Quanto menos resistentes a essas experiências, maior a
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probabilidade de atrairmos mais experiências. A falta de res-
istência é um componente importantíssimo na lei da atração.
Quando o significado não chega de sobressalto, olhe para as
sincronicidades como oportunidades, sobretudo para explorar
alternativas criativas. Assim você atrai a sorte. Como Patricia
Einstein escreveu em Intuition: the path to inner wisdom, “to-
dos temos a experiência de estarmos no lugar certo na hora
certa, e, em algum momento da vida, todos conhecemos al-
guém que chamamos de sortudo. A sorte [...] não é uma
questão de acaso, mas sim de sincronicidade”.
Vejamos uma última história, um relato espantoso que com-
bina sincronicidade, crença, intenção e transformação pessoal.

Oprah está chamando


Em 1988, o filho de Carol Bowman sentou-se no seu colo e re-
latou memórias de sua vida passada como soldado na Guerra
de Secessão. Como resultado da lembrança, ele começou a sen-
tir pavor de barulhos altos e acabou tendo um problema de
saúde crônico. Nada na vida de Carol até aquele momento
aguçara tanto sua curiosidade. Ela se tornou obsessiva em
aprender o que podia sobre essas memórias na infância e
começou uma “pesquisa” informal sobre memórias de vidas
passadas de crianças. Entrevistou pais que conhecia e vascul-
hou livrarias e bibliotecas procurando livros sobre reen-
carnação e vidas passadas.
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Carol encontrou alguns trabalhos acadêmicos sobre vidas
passadas de crianças, mas percebeu rapidamente que ninguém
tinha escrito um livro prático, para os pais, que explicasse o que
fazer se seu filho expressasse uma memória de vidas passadas.
Então, percebeu que poderia escrever esse livro. “Não parei
para pensar que jamais escrevera algo maior que um artigo na
faculdade. Eu sabia como fazer, e, de algum modo, eu o faria.”
Em janeiro de 1992, Carol reuniu alguns estudos de caso de
pais cujos filhos tinham memórias de vidas passadas, e o livro
foi tomando forma na sua cabeça. Junto com uma amiga, foi a
uma conferência sobre vidas passadas na Flórida, e pôde se en-
contrar e se comunicar com pessoas da área. Durante uma ap-
resentação do físico e escritor de best-sellers Brian Weiss, ele
mencionou que tinha ido ao programa da Oprah. “Assim que
ele disse aquilo, tive a sensação de que tudo caiu ao meu
redor”, lembra-se Carol. “Senti um raio de energia correr pelo
meu corpo e tive uma certeza profunda ao ouvir minha voz in-
terna: Você também irá ao programa da Oprah.
Imediatamente virei-me para minha amiga e sussurrei: ‘Eu
também vou ao programa da Oprah’.” Sua amiga achou que ela
estava brincando, e riu.
Como parte de sua estratégia para legitimar a pesquisa e dar
credibilidade ao seu trabalho, Carol se matriculou numa pós-
graduação em consultoria na Universidade Villanova. Ela
deveria começar as aulas na mesma semana em que seu mar-
ido, Steve, soube que seria demitido de seu trabalho, por causa
de downsizing. Foi um choque, mas ela descobriu que, mais do
que nunca, precisava correr atrás do seu sonho. Ela presumiu
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que Steve logo conseguiria outro emprego e que as coisas vol-
tariam ao normal.
Porém, em vez disso, as coisas foram de mal a pior. As
portas continuavam se fechando para Steve, e eles não tinham
outra fonte de renda. Steve começou a escrever como freelan-
cer para ganhar algum dinheiro. “Mas começar um negócio re-
quer tempo, e, com dois filhos e um financiamento residencial,
não podíamos nos dar a este luxo.”
Carol continuou pesquisando, reunindo histórias de pais que
conhecia em atividades escolares e parques infantis. Colleen,
uma das mães, tinha um filho que vivia pesadelos traumáticos,
e Carol notou que aquilo se tratava de memórias de vidas pas-
sadas. Ela ajudou o garoto. Colleen ficou tão impressionada
que disse que escreveria para Oprah sobre a pesquisa de Carol.
Ótimo, pensou Carol. Mas isso não pagava a dívida acumu-
lada do cartão de crédito. Em 1994, ela e Steve estavam preocu-
pados com o fato de que não conseguiriam permanecer na casa
em que viviam, uma perspectiva desoladora. Eles não supor-
tariam contar para as crianças que teriam de vendê-la. Embora
estivesse fazendo uma pós-graduação, a pressão continuava e,
ela, então, começou a procurar um trabalho em tempo integral.
“Eu não trabalhava de fato há dez anos, minhas habilidades
com computador eram mínimas. Fiquei tão desesperada que
me candidatei a um emprego de vendedora na Scott Paper, mas
eles não quiseram me contratar nem para vender papel
higiênico. Era um momento ruim. Minha autoestima estava
realmente no vaso sanitário.” O mais perturbador era a
sensação de Carol de que tinha algo de valioso para oferecer ao
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mundo. Mantinha-se resoluta em relação ao seu sonho, mas
continuava se deparando com obstáculos intransponíveis. A
cada mês que passava, o sonho parecia se distanciar ainda
mais.
Ela não desistiu, mas as coisas também não melhoraram.
Em fevereiro de 1994, num dia que fazia um frio cortante, ela
caminhava pela vizinhança, enfurecida com o universo. “Tudo
bem, se você quer que eu escreva um livro, ajude-me!”, gritou
ela para as forças invisíveis ao redor. “Com lágrimas escor-
rendo pelo rosto, dei um ultimato ao universo. Senti-me uma
idiota, mas estava furiosa com a injustiça daquilo tudo.”
Ela sentiu tanta vergonha do seu comportamento que,
quando chegou em casa, sentou-se na varanda e não conseguiu
entrar. Steve colocou a cabeça para fora, com uma cara as-
sustada. Foi então que lhe passou o telefone. “Ouça a
mensagem”, disse ele. A voz de uma mulher falou: “Esta é uma
ligação do The Oprah Winfrey Show para Carol Bowman. Po-
deria nos ligar de volta?”.
“Naquele momento, senti que minhas preces tinham sido
atendidas. Em uma semana, eu e meus filhos, junto com outras
mães, estávamos em Chicago, conversando com Oprah sobre as
memórias de vidas passadas dos nossos filhos. Ela dedicou um
programa inteiro à minha pesquisa. Concluí que se Oprah es-
tava interessada no meu trabalho, outros também estariam.”
O curioso é que, quando a produção da Oprah recebera a
carta de Colleen, arquivaram-na incorretamente na parte de fo-
bias infantis. Aparentemente, eles queriam fazer um programa
sobre memórias de vidas passadas de crianças, mas não
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conseguiam encontrar um especialista. Por meio de uma sin-
cronicidade, o atraso beneficiou Carol, que teve um ano para
reunir casos.
Quando voltou de Chicago, Carol começou a contatar
autores que sabiam sobre a ideia do livro, perguntando-lhes
como encontrar um agente literário. Com o programa da Oprah
servindo-lhe de suporte, sentiu que alguém finalmente prestar-
ia atenção no que ela tinha a oferecer. Um escritor de sucesso
na área recomendou sua agente literária, e Carol e Steve
encontraram-se com ela em Nova York. Nos meses seguintes,
Carol e Steve trabalharam em tempo integral escrevendo uma
proposta de cem páginas. “Mais uma vez, isso significava que
não estávamos gerando renda. Trabalhávamos por pura fé. Afi-
nal, se Oprah nos chamara, certamente a renda também
apareceria.”
Eles terminaram o projeto. Semanas se passaram. Depois
meses. Carol percebeu que a agente não estava fazendo nada e
entrou em contato com outros. Alguns riram dela, pensando
que ninguém se interessaria num assunto como aquele. Outros
só conversariam com ela depois que encerrasse o contrato com
o primeiro agente.
Uma amiga, que tinha contatos em editoras, oferecera ajuda
alguns meses antes. Então Carol ligou para ela e explicou a
situação. “O marido dela fez uma ligação e disse que Ian Bal-
lantine, fundador da Ballantine e da Bantam Books, queria ver
minha proposta. Eu não entendia nada de publicações, nem
sabia quem era Ian Ballantine, mas agradeci por alguém des-
pertar interesse em mim.”
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Dentro de poucas semanas, Ian, na época com 79 anos de id-
ade, chamou Carol e disse que a ajudaria a publicar o livro. Ele
se ofereceu para apresentá-la aos diretores de algumas editor-
as, a maioria treinada por ele. “Na verdade, dei um grito
quando desliguei o telefone. Steve subiu as escadas correndo e
me encontrou pulando para cima e para baixo, gritando. Outro
milagre!”
Ian e Betty Ballantine, sua esposa e parceira de trabalho, en-
contraram Carol e Steve em Nova York e marcaram uma re-
união com Irwyn Appelbaum, presidente da Bantam Books.
Depois de um encontro de duas horas, Appelbaum perguntou a
Carol o que ela queria. “Pedi que ele me fizesse uma oferta. O
queixo de Steve caiu por conta da minha estratégia de acordo
incomum. Mas, naquele momento, eu tinha um número de seis
dígitos na cabeça, além do fato de que precisávamos pagar
nosso cartão de crédito altíssimo, montar um escritório em
casa, onde eu pudesse escrever, e nos sustentar pelo tempo ne-
cessário para que terminássemos o livro. Eu já tinha chegado
até ali, por que não sonhar mais?”
Appelbaum ligou para sua casa e ofereceu um adiantamento
substancial. Carol pediu o dobro. “Eu sabia que estava correndo
um risco, mas também sabia do que precisávamos para nos liv-
rar dos problemas. Houve um momento de silêncio, até que Ir-
wyn aceitou minha oferta. Tirei um peso enorme das costas.”
Antes de assinar o contrato, Steve e Carol encontraram os
Ballantine em Nova York mais uma vez para um almoço de
comemoração. No dia seguinte, Carol recebeu uma ligação de
Betty, dizendo que Ian tinha morrido. “Ficamos desolados.
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Meu novo amigo e mentor morrera tão rápido quanto tinha
aparecido.”
Betty editou o livro, e Carol é eternamente grata a ela e ao
marido por terem dado um pontapé na publicação. “Essas
forças invisíveis, a boa sorte, as sincronicidades, coordenaram-
me e me impulsionaram nessa jornada.”
Quando ouvimos essa história, mal conseguimos acreditar.
Parece um melodrama cinematográfico: escritora novata sem
nenhum agente recebe um adiantamento substancial, negocia
com o presidente de uma grande editora e o convence a dobrar
uma oferta de seis dígitos. Esse tipo de coisa não acontece na
vida real. Mas aconteceu. Carol seguiu as pistas da
sincronicidade, recusou-se a desistir do sonho, manteve sua
crença inabalável de que tinha algo único a oferecer e continu-
ou seguindo adiante, somente com a fé, a unidade de consciên-
cia. E encontrou o trabalho mais importante da sua vida.

SINTONIA FINA DA INTUIÇÃO


Quando Carol Bowman perguntou se o universo poderia
ajudar a publicar seu livro, a resposta veio de uma
maneira extremamente óbvia com o telefonema do The
Oprah Winfrey Show. O que poderia ser mais direto que
o telefonema de uma pessoa com um histórico de ter
lançado autores de tanto sucesso?
Obviamente, nem todas as respostas aparecem de
maneira tão direta. Às vezes elas precisam ser inter-
pretadas, como já enfatizamos em outros capítulos. Em
290/299

outras, é preciso esperar até que o significado se torne


mais claro.
Escreva um dos seus desejos mais ardentes.
Entusiasme-se com ele, descreva-o; imagine como esse
desejo pode se manifestar na sua vida.
Você acaba de responder à pergunta que anotou no
final do capítulo 1!
CONCLUSÃO

Quando começamos a vivenciar sincronicidades regularmente,


nossa vida passa para um campo mais rico e mais profundo. É
fácil atrair pessoas, oportunidades e situações benéficas.
Sentimo-nos no caminho certo, seguindo o fluxo, presos firm-
emente ao momento, no lugar exato onde deveríamos estar.
Esther e Jerry Hicks chamam esse estado de “estar em alin-
hamento com a fonte”. Eckhart Tolle chama de “o poder do
agora”. Deepak Chopra fala em uma “consciência divina”. Não
importa o nome que você escolher. A conclusão é que sua con-
sciência foi transformada. Agora, você é capaz de vivenciar a
vida e as relações que imaginar.
AGRADECIMENTOS

Nenhum livro é escrito no vácuo. Devemos nosso profundo


agradecimento a todos que visitaram nosso blog, que con-
tribuíram com histórias para este livro e cujas intuições sobre o
mistério da sincronicidade expandiram nosso conhecimento.
Obrigado também a nosso agente, Al Zuckerman, que
prestou uma atenção virginiana aos detalhes do livro, e à pis-
ciana Paula Munier, que observou a obra como um todo.
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SOBRE OS AUTORES

O casal Trish e Rob MacGregor, escritores profissionais há 25


anos, exploraram inúmeras sincronicidades e usaram de
maneira proveitosa o conhecimento que obtiveram por meio
delas. Um encontro sincrônico em uma viagem de avião na
década de 1980, por exemplo, teve como resultado a coorde-
nação de viagens de aventura à América do Sul pela Avianca
Airlines. Uma sincronicidade depois da outra os levou a escre-
ver muitos livros de não ficção sobre sonhos, desenvolvimento
psíquico, astrologia, ioga, tarô, adivinhação e simbolismo an-
imal. Em 2003, eles assumiram a redação da famosa série de
astrologia de Sydney Omarr.
Os dois também são romancistas premiados. Rob escreveu
sete romances de Indiana Jones, que venderam milhões de
cópias. Ele ganhou o cobiçado prêmio Edgar Allan Poe com
Prophecy rock, e a sequência, Hawk moon, foi finalista do
mesmo prêmio. Trish, que assina como T. J. MacGregor, gan-
hou o prêmio Edgar de melhor livro original em 2003 com Out
of sight. Ela já escreveu 30 livros e romances, traduzidos para
14 línguas. O mais recente, Esperanza – escrito como Trish J.
MacGregor –, foi publicado em 2010.
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Eles têm uma filha, Megan, especializada em artes e aspir-
ante a escritora. Vivem no sul da Flórida com três gatos e um
golden retriever.
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