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Os 7 Segredos Da Sincronicidade - Trish Macgregor e Rob Macgregor PDF
Os 7 Segredos Da Sincronicidade - Trish Macgregor e Rob Macgregor PDF
Rogério Bettoni
Copyright © 2010 by Trish MacGregor and Rob MacGregor
Todos os direitos reservados
Título original: The 7 secrets of synchronicity
M127s
MacGregor, Trish, 1947-
Os 7 segredos da sincronicidade : um guia para descobrir significados
em grandes e pequenos sinais / Trish MacGregor e Rob MacGregor ;
tradução: Rogério Bettoni. - São Paulo : Planeta, 2011. Tradução de:
The 7 secrets of synchronicity
ISBN 978-85-7665-761-3
O mundo da sincronicidade
Esse mundo da sincronicidade tem alguns paralelos arrepi-
antes com a popular série de TV Lost. Nela, um avião cai numa
ilha deserta e os sobreviventes veem-se diante de todos os tipos
de acontecimentos estranhos, intuições, além de perceber que
há, entre eles, conexões sincrônicas do passado. Nada é o que
parece. Enquanto as personagens lutam para sobreviver,
organizando-se como em uma comunidade, suas forças e
fraquezas individuais revelam camadas profundas de sua per-
sonalidade que complicam o enredo da semana seguinte. Os es-
pectadores ficam intrigados, com uma sensação de espanto e
cinco milhões de perguntas. A sincronicidade se parece muito
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com isso – uma aventura mágica que expande nossa concepção
daquilo que é possível.
Para nós, essa aventura começou no dia 12 de dezembro de
1981. Era nosso primeiro encontro, e Trish perguntou a Rob se
já ouvira falar de sincronicidade. Ele disse que sim, e, daquele
momento em diante, nossa vida mudou.
Avançamos agora para 1984. Estávamos casados, e tínhamos
largado nosso emprego para escrever o tempo todo. Passáva-
mos parte do tempo escrevendo artigos sobre turismo, e nos
juntamos a um grupo de agentes de viagem num passeio de
“convivência”. Ainda que o destino, Nashville, não fosse exata-
mente nossa primeira opção de viagem, o passeio era gratuito,
e estávamos abertos a qualquer coisa.
Na metade do voo, o ar-condicionado do avião parou de fun-
cionar, e a cabine rapidamente se aqueceu. Estávamos descon-
fortáveis, aborrecidos e famintos. O homem sentado perto de
nós começou a falar sobre as dificuldades das viagens aéreas, e
em pouco tempo estávamos todos reclamando como uns miser-
áveis. Descobrimos que o homem, que se chamava German,
nascera e crescera na América Latina, assim como Trish. Sua
família tinha diversos hotéis na Colômbia; ele era dono de uma
agência de viagens em Miami e tinha contatos na Avianca
Airlines.
Naquela época, os turistas americanos tendiam a evitar a
Colômbia e o Peru por causa do desenfreado tráfico de drogas.
A Avianca, por sua vez, buscava formas inovadoras de encora-
jar o turismo nessas áreas. German pensou que a empresa
talvez pudesse se interessar em fornecer passagens gratuitas
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para escritores de viagem. Ele cuidaria da hospedagem e, em
troca, os escritores publicariam artigos turísticos sobre a
Colômbia e o Peru. Nós teríamos de encontrar os escritores,
comandar os roteiros, reunir os artigos para serem publicados e
enviá-los para a Avianca. Será que isso poderia nos interessar?
Graças a essa fortuita sincronicidade de sentarmos perto de
German no avião, começamos a organizar viagens de aventura
para a América do Sul. Fizemos várias viagens de barco nos
afluentes do rio Amazonas e coordenamos diversos passeios a
outros destinos na América Latina. Todos forneceram material
para romances e artigos de viagem e de não ficção.
Em razão da sincronicidade, sentíamos que tudo estava
caminhando bem. Em setembro de 1984, Trish publicou seu
primeiro romance, In shadows, e Rob conseguiu um projeto
como ghostwriter do diretor executivo de uma empresa se-
diada em Washington, um contato que fizéramos escrevendo
artigos para revistas. Um ano depois, Rob publicou seu
primeiro romance, Crystal skull. Nunca mais voltamos para
nosso antigo emprego. Durante os 26 anos do nosso
casamento, escrevemos seis livros, tanto de ficção como de não
ficção. Fomos para onde as sincronicidades nos levaram.
Diversas vezes falamos em escrever um livro sobre sin-
cronicidade, mas não sabíamos como fazê-lo, que tipo de abor-
dagem adotar, ou por onde começar. Carl Jung parecia ser o
ponto de início mais lógico, tendo em vista que foi ele quem
cunhou o termo. Porém, com o passar dos anos, outros projetos
tomaram nosso tempo, e sempre adiávamos o livro. Contudo,
nossas sincronicidades se multiplicaram.
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Uma noite, em janeiro de 2009, começamos a namorar a
ideia de novo. Estávamos interessados em casos e histórias que
ilustrassem a mágica e o mistério da sincronicidade. Mesmo as-
sim, tivemos problemas em encontrar um tema. Um ou dois di-
as depois, percebemos que, após todos aqueles anos de exper-
iências com as sincronicidades, tomáramos conhecimento de
certos conceitos sobre a natureza da “coincidência significativa”
que não eram ainda amplamente conhecidos ou
compreendidos.
Esses conceitos se tornaram os segredos que discutimos na
parte 1 deste livro. Embora eles revelem grande parte do fenô-
meno, também acreditamos que haja um elemento mágico at-
ivo pelo qual os seres humanos podem se engajar na sin-
cronicidade e direcioná-la para seus próprios fins. Essa mágica
é o assunto da parte 2 deste livro.
A tecnologia – internet, blogs e e-mail – facilitou nossa
pesquisa e possibilitou a coleta de sincronicidades por todo o
planeta. Aparentemente, só fomos capazes de escrever o livro
por causa da tecnologia, que nos permitiu fazer novos contatos
e reunir histórias de pessoas do mundo inteiro.
Os segredos
Segredo 1
O SABER
Vivenciando a sincronicidade
Jung estava tratando de uma jovem paciente, que relatou um
sonho no qual alguém lhe dava um escaravelho dourado. Ele
sabia que este era um símbolo de renascimento na mitologia
antiga, e acreditava que o sonho podia ser o presságio de algum
tipo de renascimento psicológico que a retiraria do racional-
ismo excessivo que impedia o tratamento. Quando estava
prestes a dizer isso, ouviu um barulho atrás de si, virou-se e viu
um inseto batendo contra o vidro. Abriu a janela, pegou o in-
seto e percebeu que era um besouro, a espécie mais próxima do
escaravelho que havia naquela área. Jung contou sua inter-
pretação do sonho, e, daquele momento em diante, a paciente,
até então atordoada, começou a melhorar.
Jung ficou tão impressionado quanto sua paciente diante do
ocorrido. Com o passar dos anos, ele continuou investigando o
fenômeno e cunhou o termo sincronicidade para descrever es-
sas coincidências significativas.
Quando começamos a escrever o blog e pedimos que as
pessoas contassem seus relatos, descobrimos rapidamente que
algumas tinham concepções equivocadas do que na verdade é a
sincronicidade. Uma vez que os exemplos muitas vezes definem
algo muito melhor do que um dicionário, comecemos com uma
história simples.
Enquanto estávamos hospedados numa casa em Florida
Keys, dois amigos foram nos visitar: o Robert da cidade de Stu-
art, na Flórida, e o Robert de Minneapolis. Certa manhã, um
deles procurava frutas na geladeira e pegou um vidro de
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mangas em conserva da marca Robert Is Here [Robert está
aqui].
“Ei, vocês não vão acreditar nisso. A manga sabe de nós!”,
disse ele, rindo.
Essa sincronicidade não seria nem um pouco interessante se
só um Robert estivesse na casa. Mas três homens de nome
Robert e a descoberta da manga de nome incomum foi o sufi-
ciente para surpreender até mesmo o Robert cético, a quem
chamamos de Rabbit só para distinguir dos outros. E isso
acabou despertando Rabbit para a ideia da sincronicidade. Al-
guns dias depois, ele mesmo vivenciou uma.
Enquanto estávamos na ilha, Rabbit gostava de andar numa
bicicleta que havíamos encontrado no depósito da casa. Nela
havia um adesivo no qual se lia: “Island Bikes – 900 Truman,
Key West”. Ele falou dessa loja várias vezes, sugerindo que
deveria ir até lá. Uma noite, enquanto estávamos a caminho de
Key West para jantar, aconteceu de passarmos pela avenida
Truman, no quarteirão do número 900, e ficamos surpresos ao
ver uma loja de bicicletas com outro nome. Ela estava fechada,
então seguimos adiante. E aquilo parecia ser o fim da história.
Nós voltamos de viagem, e Rabbit continuou na ilha com
outro amigo. Durante sua estada, recebeu a visita de um ter-
ceiro amigo, Toni, que chegou com um presente: uma camiseta
da Island Bikes. Nas costas da camiseta, embaixo do nome da
loja, estava o novo endereço. Mistério resolvido. Obviamente,
Toni não fazia ideia de que faláramos diversas vezes nos últi-
mos dias daquela mesma loja, ou que Rabbit estava andando
numa bicicleta comprada lá. Para finalizar, a camiseta tinha
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listras verde-escuras, vermelhas e amarelas, as cores do movi-
mento rastafári da Jamaica, destino costumeiro de Rabbit dur-
ante o inverno.
Dois dias depois, Rabbit adentrou nossa casa usando a nova
camiseta.
“Vejam, tive uma sincronicidade”, disse ele. “Mas o que
significa?”
No sentido junguiano do termo, Rabbit vivenciou uma união
de acontecimentos internos e externos de uma maneira que
não pode ser explicada pela causa e efeito, mas que é signific-
ativa para o observador. Certamente ela lhe chamou a atenção,
e o fez questionar se as coincidências podem ser mais que even-
tos aleatórios. Depois de passar três dias ouvindo a gente falar
sobre sincronicidade, ele estava preparado para viver uma. Esta
é a beleza do fenômeno. Uma vez que nos tornamos con-
scientes das sincronicidades, elas tendem a proliferar. E é
simplesmente impossível ignorá-las quando começam a
acontecer com mais frequência. Passamos a procurar respostas,
fazer associações, assim como Jung fez entre o escaravelho
dourado, o renascimento e sua paciente.
Às vezes, uma única e dramática experiência é tudo do que
precisamos para sermos despertados para a mágica que paira o
tempo todo ao nosso redor, ou seja, a sincronicidade em con-
stante funcionamento em nossa vida. Na região metropolitana
de Minneapolis-Saint Paul, alguns exploradores urbanos pas-
sam o tempo explorando cavernas, minas, túneis, telhados e
porões. Um deles, Gabriel Carlson, tem um site onde escreve
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sobre sua paixão: explorar esses “espaços intermediários, es-
quecidos, proibidos”.
Em meados de janeiro de 2006, Gabe teve uma experiência
que mudou sua vida. Ele e um amigo caminharam até Tomales
Point, na Califórnia, a ponta no extremo norte do lado oeste da
falha de San Andreas.
“Estávamos cercados de oceano por três lados, há quilômet-
ros da estrada mais próxima, sendo esbofeteados pelo vento
que subia até os penhascos, na paisagem mais surreal e eston-
teante que já vira. A interação de terra, água, luz e vida era de
tirar o fôlego, e a proximidade do lugar e do momento ofuscou
todas as coisas que eu pensava serem importantes lá na civiliz-
ação. Fui levado à experiência da ‘unidade’ de todas as coisas.”
Depois da experiência, sua intuição parecia mais afiada, e
uma voz interior o impulsionou para onde precisava ir. Quando
retornou para a Califórnia, ele e alguns amigos foram a um baz-
ar de usados para “garimpar coisas legais”. Gabe logo se in-
teressou por um antigo bule, mas não conseguiu explicar por
que quis tanto comprá-lo. Ele dificilmente passava pela seção
de artigos domésticos, e jamais pensara que seria o tipo de
pessoa que teria – ou compraria – um bule. “Acabei decidindo
aceitar o pontapé inicial da minha intuição em Tomales Point e
ser guiado pelo instinto, pela mágica ou qualquer coisa que o
valha.”
Gabe levou o bule para casa, ainda sem saber por que o ob-
jeto chamara sua atenção, e preparou alguns saquinhos de chá.
O gosto era bom, mas sem nada de especial. “Fiquei decepcion-
ado por nada ter acontecido alguns dias depois da compra.”
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Depois de uma semana, Gabe resolveu dar uma olhada no
vão de acesso ao porão de sua casa em Minneapolis, construída
em 1912. Durante os oito anos em que morara na casa, nunca
tinha sentido vontade de inspecioná-lo, algo incomum para um
rapaz que passa o tempo livre explorando lugares subterrâneos.
Havia um alçapão na parede que dava acesso ao vão. Ele en-
controu algumas coisas: dois ratos mortos, um forro de
plástico, uma velha lata de café, sapatos decompostos. “Quando
passei a mão sob a escada, senti uma coisa dura por baixo do
plástico empoeirado, um tipo de objeto abaulado, saliente,
acima do solo.” Ele puxou o objeto, levou-o para fora e tirou,
com uma escova, a poeira de um bule de chá desgastado. Foi
quando percebeu o significado da descoberta. “O bule que en-
contrei enterrado na minha casa era idêntico ao que comprara
no bazar alguns dias antes. O mesmo design, o mesmo
tamanho, o mesmo material, os mesmos encaixes, o mesmo
bico. O mesmo bule.”
Gabe era o tipo de cara lógico, racional, cético, um ateu, sem
qualquer inclinação para o misticismo. Mesmo assim, seguiu
seus impulsos e vivenciou uma sincronicidade tão poderosa
que o modificou profundamente. Em um e-mail, que continha
anexa a fotografia dos dois bules extraordinariamente pare-
cidos, ele disse: “Tornei-me alguém que experimenta e aprecia
a sincronicidade [...] e mudei minhas crenças sobre muitas
coisas no mundo. Ele é um lugar muito mais estranho e mara-
vilhoso do que eu ousava acreditar”. Logo depois de postarmos
sua história, Gabe deu início ao seu próprio blog sobre sin-
cronicidade e continuou investigando a natureza do fenômeno.
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Decifrando a mensagem
Decifrar a mensagem costuma ser a parte mais delicada de
qualquer experiência de sincronicidade. O que o universo está
tentando nos dizer? Estamos recebendo um alerta? A experiên-
cia é a confirmação de algo que está acontecendo em nossa
vida? É a sugestão de que devemos tomar um rumo diferente?
Por que atraí essa experiência específica? Qual seu significado
mais profundo?
Digamos que você venha vivenciando uma série de números,
como o 8, por exemplo. O que este número significa pra você?
Qual seu significado secreto? É seu número de sorte? Blayne,
nativo de Wisconsin, estava pensando em se mudar para o
Havaí. Pensava nisso quase todos os dias e lia tudo o que podia
sobre aquele distante Estado. Também começou a ver o
número 808 em todos os lugares, como placas de automóveis,
livros e revistas. Ele não sabia o significado da experiência, até
que deparou com a resposta: 808 é o código de área do Havaí.
Foi como se o universo o conectasse sutilmente com seu sonho
e o encorajasse a realizá-lo.
Nesta primeira parte do livro, você aprenderá não só os se-
gredos da sincronicidade, mas também descobrirá como deco-
dificar suas próprias sincronicidades para enriquecer sua vida.
Na parte 2, aprenderá como fazer uso da sincronicidade e criar
ambientes férteis para que muitas delas aconteçam.
Na sua jornada, você descobrirá que as sincronicidades
surgem de muitas maneiras. Elas podem ser tão simples quanto
pensar em uma palavra e depois escutá-la assim que liga o
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rádio ou a TV, ou tão complexas e cheias de camadas como a
sincronicidade do bule de Gabe. Às vezes, uma sincronicidade
parece estar zombando de nós; outras vezes, é tão carregada de
emoções quanto um grande romance. As sincronicidades cos-
tumam tratar de temas amplos e vastos comuns a todos nós, o
que Carl Jung chamou de arquétipos.
Avaliando
Pense em uma coincidência significativa, um sinal ou um
presságio que tenha tido. O que acontecia na sua vida naquele
momento? Havia probabilidades estranhas envolvidas?
Aconteceu algo sobre o qual você tenha conversado com sua
família e amigos? Quem mais estava envolvido? A experiência
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de Anthony Hopkins, com o livro que procurava, envolveu
grandes probabilidades, e coincidiu com o projeto cinemato-
gráfico no qual trabalhava na época. E o seu sinal, presságio ou
coincidência significativa? Parece ser uma confirmação, um
alerta, ou parece estar impulsionando-o numa nova direção?
Depois que a escritora Deirdre Bair ganhou o Prêmio Na-
cional do Livro com Samuel Beckett: uma biografia, a sin-
cronicidade teve um papel fundamental na escolha de seu novo
projeto. “De repente, um monte de pessoas que não se con-
heciam, e muitas que também não me conheciam, começaram
a perguntar qual seria meu próximo livro e se eu já havia
pensado em escrever sobre Jung.”
Na nota da autora, no início de Jung: uma biografia, Bair
diz que ficou incomodada com a forma pela qual o nome de
Jung continuava surgindo, mas reconheceu a influência es-
pecífica das sugestões como uma sincronicidade. E começou a
pesquisar a vida e a obra de Jung. Pareceu o mais certo a se
fazer. E a ironia da sincronicidade foi que ela escreveria sobre o
homem que cunhou o termo “sincronicidade” e dissertou ex-
tensivamente sobre o assunto.
Esses tipos de sincronicidade atingem uma ordem mais pro-
funda no universo, à qual o físico David Bohm deu o nome de
“ordem envolvida” ou “ordem implicada”, um tipo de força
primordial que dá origem a tudo no universo. Bohm acredita
que até mesmo o tempo se desenvolve a partir da ordem im-
plicada, e referiu-se à realidade exterior como a ordem ex-
plicada. A sincronicidade, portanto, é quando o implicado e o
explicado, o interno e o externo, coincidem.
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Achados e perdidos
Quando perdemos algo importante, geralmente ficamos
bastante concentrados. Não importa o que seja – o carro, a
bolsa ou o telefone celular –, queremos de volta. Essa atenção e
determinação obstinada parecem desencadear uma sin-
cronicidade, permitindo que recuperemos o que perdemos, às
vezes por meios extraordinários e improváveis.
Tim Wallender, que mora em Memphis, no Tennessee, re-
latou um dos exemplos mais inacreditáveis de objetos perdidos
e encontrados. Aconteceu quando ele e o irmão trabalhavam na
mesma ferrovia. O irmão era engenheiro, e ele, maquinista. No
dia do incidente, os dois estavam trabalhando em trens
diferentes.
“Era o primeiro dia desde que a empresa havia fornecido um
telefone celular para cada engenheiro. O engenheiro com quem
eu trabalhava perguntou quem eu achava que seria o primeiro a
perder o telefone. Eu disse que, sem dúvida, seria meu irmão.”
Alguns quilômetros depois, eles tiveram de parar para liber-
ar alguns vagões. Tim disse que estavam a cerca de 190 quilô-
metros de distância de onde ele e o irmão tinham partido, e só
o seu trem estava programado para parar ali. “Liberamos os
vagões da locomotiva e, quando olhei para baixo, havia um ce-
lular na neve. Meu engenheiro estava lá para ajudar no tra-
balho, e nós dois nos olhamos e dissemos: ‘Mentira!’. Como era
de esperar, tirei a tampa traseira do telefone e havia um ad-
esivo com o nome do meu irmão.”
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Naquela noite, Tim ligou para o hotel em que seu irmão es-
tava hospedado em Chicago e lhe perguntou onde estava o celu-
lar. Ele respondeu que já o procurara em todos os lugares, mas
não conseguira encontrá-lo. “A segunda locomotiva tinha dado
problemas, e o telefone deve ter caído do bolso enquanto ele
caminhava para ver o que havia acontecido. Não sei quais são
as probabilidades de encontrar o telefone do seu irmão a 190
quilômetros de onde ele saíra e somente alguns minutos depois
de eu dizer que ele o perderia. Ou quais são as probabilidades
de parar em cima dele, olhar para baixo e encontrá-lo na neve.”
Essas histórias parecem sustentar o argumento de que vive-
mos em um holograma gigante, onde todas as informações –
passadas e futuras – estão disponíveis para nós. Em uma en-
trevista para a revista Psychology Today, o físico Karl Pribam
disse: “Se olharmos [...] para o universo como um sistema holo-
gráfico, chegamos a uma visão diferente, uma realidade difer-
ente. E essa outra realidade pode explicar coisas que até agora
continuam sem explicação científica: fenômenos paranormais,
sincronicidades, a aparente coincidência dos acontecimentos”.
DESENVOLVENDO A PERCEPÇÃO
A melhor maneira de desenvolver a percepção das
sincronicidades – e, com isso, ter mais experiências – é
registrá-las em um diário ou em um arquivo no com-
putador. Sempre que passar por um acontecimento que
pareça apenas uma coincidência, leve-o a sério.
Descreva-o com o maior número de detalhes que puder.
Minha pergunta:
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Numa sociedade que atribui o mais alto valor à mente objetiva,
ao raciocínio com o lado esquerdo do cérebro e à razão, as
emoções costumam ser vistas com certa suspeita, como um
poluente de algum tipo. No entanto, a própria natureza de uma
sincronicidade é subjetiva e emocional. Ela nos impele a invest-
igar partes de nós mesmos que talvez não estejamos prontos
para explorar – ou que não desejemos explorar. De vez em
quando, as sincronicidades começam com um impulso para
fazer algo que nunca fizemos antes. Foi o que aconteceu com o
escritor Kurt Vonnegut.
Certa manhã, muito antes de surgir a internet e os telefones
celulares, Vonnegut sentiu-se compelido a ligar para o cun-
hado, para quem jamais ligara nem tinha motivos para tal. “Saí
de repente do escritório [...], passei pelo corredor até chegar à
cozinha e fiz um interurbano para meu cunhado.” Ele não fazia
ideia de que o homem tinha morrido momentos antes.
Enquanto o telefone chamava, Vonnegut ouviu uma notícia
de última hora no rádio sobre um trem que se precipitara numa
ponte levadiça aberta em Nova Jersey. Embora seu cunhado
nunca pegasse o trem, Vonnegut soube instantanea- mente que
ele era um dos passageiros. Uma hora depois, o escritor estava
a caminho de Nova Jersey, onde sua irmã estava hospitalizada,
com câncer terminal, e os quatro filhos eram agora órfãos de
pai.
Antes de o sol se pôr, Vonnegut se encarregara da casa e das
crianças. Sua irmã morreu no dia seguinte. “Minha esposa e eu,
então, adotamos e criamos os filhos deles.” Algumas semanas
antes do incidente, a esposa de Vonnegut andava repetindo
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uma ideia estranha: “Os refugiados estão vindo, os refugiados
estão vindo.”
O grande Karass
O relato de Vonnegut deste evento dramático foi incluído no
livro A verdade sobre as profecias, de Alan Vaughan. Inicial-
mente, Vaughan entrou em contato com Vonnegut para saber
de onde surgira o conceito de Karass em seu romance Cama de
gato. Caso você não tenha lido esse brilhante romance de Von-
negut, Karass é um grupo de pessoas que trabalham juntas sem
saber que fazem parte de um plano cósmico maior. A pessoa
descobre que faz parte do Karass quando coincidências signific-
ativas ocorrem entre ela e os outros membros do grupo. No en-
tanto, na cosmologia de Cama de gato, é preciso distinguir
entre as coincidências do acaso e as significativas. Quem não
conseguisse poderia estar relacionado a um Granfaloon, um
falso Karass.
O impulso de Vonnegut para ligar para o cunhado fora tão
forte que ele o reconheceu como significativo e agiu. Aparente-
mente, sabia que não era um Granfaloon.
Vivenciamos sincronicidades por razões que talvez não se-
jam óbvias de imediato, mas, quando se manifestam pelos im-
pulsos, como no caso de Vonnegut, precisamos agir, seguir o
impulso. Sim, nosso lado racional gritará, berrará sobre nosso
comportamento irracional, esbravejando diversos motivos para
ignorarmos os impulsos. Porém, quando estamos em sintonia
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com a realidade da sincronicidade e entendemos a coincidência
como significativa, tornamo-nos participantes ativos de uma
camada mais profunda da vida. Quando ignoramos os im-
pulsos, o fazemos por nossa conta e risco.
Como observou F. David Peat em Pathways of chance, “as
sincronicidades podem acontecer quando as pessoas entram
em momentos de crise ou mudança, quando estão apaixonadas,
envolvidas em um trabalho altamente criativo ou à beira de um
colapso. São momentos em que os limites da mente e da
matéria são transcendidos, e as pessoas escapam das distinções
normais e rigorosas que fazem entre interno/externo, subjet-
ivo/objetivo, alma/matéria”.
Portanto, não é de surpreender que, durante esses picos de
experiências emocionais, as sincronicidades caiam de repente
na nossa vida. É como se o universo estivesse disposto a nos
oferecer um guia, a nos ajudar a seguir a direção correta ou nos
alertar de que algo importantíssimo está logo depois da esquina
e que deveríamos nos preparar para isso. Na terminologia de
Vonnegut, somos todos parte de um grande Karass.
Drama
O amor pode mover montanhas. Esse princípio trata da força
poderosa e dinâmica de nossas emoções e do efeito dessa força
no mundo físico. Quando nossas emoções são intensificadas e
nossas intenções estão focadas, coisas acontecem. As circun-
stâncias desencadeiam essas emoções, que podem variar desde
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transições dramáticas que alteram toda a nossa vida – nasci-
mento, morte, casamento ou divórcio, uma mudança, uma cri-
atividade intensa – a dramas comuns que encontramos no de-
correr do cotidiano.
Temos aqui algumas situações que você, possivelmente, de-
ve ter vivenciado. Perceba como cada uma está conectada a um
evento sincrônico, a algo que talvez você tenha ignorado ou se-
quer percebido quando aconteceu.
Sinais e símbolos
O grande Karass da sincronicidade fala conosco de muitas
maneiras: pelos impulsos, como no exemplo de Vonnegut, mas
também pelas emoções, visões, relacionamentos, sonhos, pres-
sentimentos e símbolos.
Em geral, as palavras símbolo e sinal são usadas indistinta-
mente. Até nos dicionários, às vezes, uma é usada para definir a
outra. Mas elas, na verdade, são bem diferentes. Sinal é
qualquer objeto, ação, evento ou figura que transmite signific-
ado e aponta para algo definido, tangível, finito, conhecível.
Quando nos aproximamos de um cruzamento e vemos o sinal
vermelho em forma de octógono, pisamos no freio. Símbolo é
um objeto, imagem, situação ou acontecimento que representa
outra coisa. Seu significado pleno pode ser ostensivamente
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óbvio ou pode nos enganar ou iludir por completo, fugindo da
nossa compreensão.
“Todos estamos cercados por uma vasta paisagem de símbo-
los, codificados dentro dos acontecimentos e fenômenos do dia
a dia”, diz Ray Grasse em The walking dream: unlocking the
symbolic language of our lives. Um símbolo pode aparecer
como uma figura peculiar numa nuvem, o vislumbre inesper-
ado de um animal, a descoberta de um objeto incomum, uma
mensagem oculta transmitida numa conversa casual. Grasse
chama isso de “símbolos ambientais”, que carregam mensagens
e pistas sobre os padrões da vida. O desafio está em reconhecê-
los e interpretá-los. À medida que tomamos consciência deles e
compreendemos sua significância, pouco a pouco vamos apren-
dendo a linguagem dos símbolos e nos tornando capazes de
desvendar as mensagens dessas sincronicidades com mais
facilidade.
Robert Hopcke, em Não há acasos, relata um incidente es-
petacular que ocorreu com um homem que se consultou com
ele enquanto ainda trabalhava como estagiário. O cliente havia
sido dominado pela mãe a vida inteira e acreditava que todos à
sua volta – inclusive Hopcke – só queriam controlá-lo e
dominá-lo, assim como sua mãe fizera. Então, eles chegaram a
um impasse na terapia.
Num domingo chuvoso, pela manhã, Hopcke apareceu para
a sessão marcada normalmente e, logo depois do início, houve
um corte de energia. Entrava bastante luz pela janela da sala,
então eles prosseguiram com a sessão como de costume – indo
a lugar nenhum –, e Hopcke decidiu tentar uma abordagem
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diferente. Disse que chegara lá durante uma tempestade e
agora conduzia a sessão sem eletricidade no prédio. Será que
ele aguentaria essa situação desagradável se não estivesse de
fato preocupado com o bem-estar do seu cliente?
À medida que Hopcke prosseguia nesse mesmo estado de es-
pírito, o cliente se acalmou, ponderou, e respondeu: “Entendo.
Talvez você se importe, e talvez nem tudo se trate de energia”.
No mesmo instante a energia foi restabelecida, iluminando a
sala. Hopcke explicou que a falta de energia e o início da sessão
na escuridão “refletiam o estado emocional de uma relação em
que nenhum de nós era capaz de encontrar seu caminho para a
luz da consciência”. Mas, uma vez conectado emocionalmente
com o cliente, e este tendo entendido e se sentido fortalecido de
novo, “a sala de repente foi tomada pela energia literal e
emocional”.
Hopcke escreveu: “Em todas as sincronicidades, o que im-
porta não são os ‘fatos objetivos’ das coincidências, mas o im-
pacto emocional que elas exercem nas pessoas envolvidas”.
Impacto emocional. É isso que move montanhas. E, quando
trazemos nossos desejos e intenções para a equação, a mágica
acontece. Há momentos em que queremos algo com tanta
veemência e desejamos fazer o que for preciso para a mudança
acontecer que o universo responde rápida e literalmente, de
uma maneira que não podemos desprezar como sendo uma co-
incidência aleatória.
Quando nossa filha Megan voltou para cursar o penúltimo
ano da faculdade, estava um pouco desnorteada por causa de
uma relação que tivera fim poucos meses antes. No dia em que
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voltou para o alojamento, o jovem em questão a recebeu com
um abraço apertado, mas, naquele mesmo dia, quando
passeavam com amigos em comum, surgiu um desconforto
entre os dois.
Ela é defensora da lei de atração – especificamente por meio
de Abraham, guia espiritual de Esther e Jerry Hicks. Então,
percebeu a importância de se mudar para um lugar onde
houvesse “melhores vibrações”. E buscava uma confirmação de
que poderia fazer aquilo.
Naquela tarde, ela caminhou até Sarasota Bay para ver o sol
se pôr. O celular estava no bolso, e o teclado desbloqueado.
Quem tem um telefone celular sabe que quando o teclado está
desbloqueado e o telefone no bolso, os movimentos do corpo
podem provocar uma ligação ou digitar mensagens aleatórias.
O resultado sempre é incompreensível. Mas, enquanto Megan
estava sentada no dique, num “momento perfeito” de otim-
ismo, sentiu o telefone vibrar dentro do bolso.
“Peguei o aparelho esperando ver uma chamada”, lembra-se
Megan. “Mas, em vez disso, havia uma mensagem escrito
ACREDITAR 88. Não digitei a mensagem. Ninguém a enviou
pra mim. Ela foi escrita pelos movimentos do meu corpo,
porque o teclado não estava bloqueado. Até a palavra
ACREDITAR estava escrita corretamente! E 8 é meu número
predileto; havia dois! Vocês chamam isso de sincronicidade.
Para mim, significa que eu estava entrando em alinhamento
com a Fonte. Foi uma afirmação.”
O número 8 é o símbolo do infinito. Se os físicos quânticos
estiverem certos, se de fato nossas intenções puderem afetar a
44/299
matéria, então a experiência de Megan parece sugerir que, às
vezes, esse efeito pode ser muito literal. Enquanto buscava con-
scientemente por uma vibração melhor, aquela mensagem lhe
confirmou que estava no caminho certo, que poderia ir além
daquele mal-estar.
Altos e baixos
Se quisermos nos beneficiar de uma sincronicidade, precisam-
os, primeiro, reconhecê-la como significativa, depois seguir as
pistas e ver aonde nos levam. Contudo, quando estamos no
meio de uma crise, seguir pistas pode não ser tão simples
quanto dar um passo depois do outro. Às vezes, certas coisas
precisam acontecer antes que possamos seguir as pistas.
Esse foi o caso da escritora Sharlie West, cujo marido mor-
reu em 1989. Um ano depois, sua mãe teve um derrame, e
Sharlie precisou enviá-la para uma clínica, pois não podia mais
cuidar dela. A clínica ficava perto, e Sharlie ia vê-la com fre-
quência. Certa tarde, durante uma visita, conversava com a
mãe quando, do nada, disse: “Eu deveria ter me casado com
Jimmy B. Ele sempre se importou comigo”.
A mãe olhou para ela, confusa. Sua filha não mencionava o
nome de Jim há quarenta anos. E se lembrou dele. “Ele era
completamente apaixonado por você”, ela disse. As duas riram.
Sharlie se esqueceu da conversa, e, três semanas depois, sua
mãe morreu.
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Pouco tempo depois, Sharlie estava sentada na sala de casa
com uma amiga quando, de repente, sentiu que alguém
pensava nela. “Foi tão intenso que pude sentir a pessoa na
minha mente, e até mesmo ver sua imagem: meia-idade, cabelo
grisalho, óculos. Ninguém que eu conhecesse. Contei para
minha amiga, mas ela deu de ombros e disse que eu estava ima-
ginando coisas.”
Então, Sharlie recebeu uma carta de condolências de Jimmy
B. Ele lera a nota de falecimento da mãe dela no jornal e pegara
seu endereço na funerária. Sharlie estranhou, mas se lembrou
da conversa que tivera com a mãe e ficou maravilhada com o
interessante sincronismo dos eventos. Será que Jimmy tentaria
entrar em contato se não tivesse lido o obituário da mãe dela?
Quando Jimmy apareceu na sua casa, não muito tempo de-
pois, Sharlie levou um susto. Era o mesmo homem que apare-
cera em sua visão. No entanto, o Jimmy de quem se lembrava
tinha cabelos pretos e não usava óculos, por isso seria
impossível imaginá-lo no presente. “Três semanas depois ele
foi morar comigo, e hoje, 18 anos depois, ainda estamos juntos.
Gostamos de pensar que minha mãe nos ajudou.”
O que a história de Sharlie tem de particularmente cativante
é que sua sincronicidade envolve três grandes transições emo-
cionais num período de cerca de um ano: a morte do marido, a
morte da mãe e o encontro com quem viria a se casar. “Em
acontecimentos do acaso, significativos tanto de maneira emo-
cional quanto sincrônica, nossa experiência psicológica de uma
sincronicidade sempre ocorre para possibilitar que nos mova-
mos adiante de alguma maneira”, escreveu Hopcke. “Durante
46/299
esses períodos, a psique às vezes nos dá, na forma de coin-
cidências significativas, um meio de ajuda interna e
psicológica.”
TRABALHE A RESPIRAÇÃO
Enquanto lida conscientemente com as emoções, preste
atenção na sua respiração. A consciência da respiração –
o modo como você inspira, expira, qual a profundidade
da respiração, se expira rápido ou devagar – é uma pre-
paração emocional. Quando estiver ciente de sua respir-
ação, diminua o ritmo. Respire mais profundamente. À
medida que sua respiração ficar mais lenta, você se sen-
tirá mais calmo, mais relaxado. Será mais fácil perceber
o que está certo na sua vida e evocar emoções mais fel-
izes. Se ainda não faz meditação, tente durante cinco
minutos por um mês. Você sentirá uma diferença notável
nas suas emoções, e um aumento na quantidade de sin-
cronicidades que vivencia.
Talvez você queira fazer o que a escritora, editora e
médica intuitiva Louise Hay faz toda manhã. Antes de se
levantar da cama, ela agradece por tudo na vida. É um
ótimo hábito a ser cultivado. E o universo sempre re-
sponderá trazendo mais experiências, situações e pess-
oas para que você agradeça.
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A TEORIA
EXPERIÊNCIAS PSÍQUICAS
As experiências psíquicas emanam do que o físico David
Bohm chamou de ordem implicada. Na sua visão do uni-
verso – bem como na de Jung –, esses aspectos da sin-
cronicidade fornecem pistas vitais de como estamos todos
conectados. O físico Victor Mansfield concorda. Conforme
escreveu em Synchronicity, science, and soul-making,
vivemos “em um mundo radicalmente interconectado e in-
terdependente, um mundo tão essencialmente conectado
num nível profundo que as interconexões são mais essenci-
ais, mais reais que a existência independente das partes”.
Essas ideias se refletem nas tradições espirituais ori-
entais que remontam a milhares de anos. No texto sagrado
indiano Rig Veda, Indra – rei dos deuses e deus da guerra
– lança uma grande rede espiritual (conhecida como Rede
de Indra), na qual todos os membros do cosmos estão in-
terconectados. Em Synchronicity in your life, Shawn Ran-
dall especula que, se a “rede é multidimensional, os pontos
em que seus fios se conectam seriam como pontos de inter-
secção dos quais poderíamos acessar a rede inteira. [...]
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Basicamente, é assim que a sincronicidade funciona”. Em
outras palavras, um puxão reverbera na rede inteira.
Bhagavad Gita, poema religioso hindu, reconhece a
natureza sincrônica da criação e a unidade cósmica subja-
cente. O termo hindu Brahman refere-se à conexão funda-
mental de todas as coisas no universo. A manifestação
dessa unidade universal na alma é chamada de Atman.
O zen-budismo se refere a satori, o sentido de unidade
que experimentamos com o universo e a consciência da in-
teligência compassiva que permeia os mínimos detalhes.
Pratitya samutpada, doutrina da filosofia budista, princip-
almente na China e na Coreia, significa “originação inter-
dependente” e refere-se a uma rede interdependente de
causa e efeito, o princípio motivador do universo.
Chi, segundo a filosofia chinesa, é a força vital que per-
meia todas as coisas e fortalece o universo. Na filosofia
ioga, chi é comparável ao pranayama, manifestada nos
seres humanos pela respiração.
Essas ideias orientais são semelhantes ao conceito de
noosfera, ideia criada pelo francês Pierre Teilhard de
Chardin, filósofo, paleontólogo e sacerdote jesuíta orde-
nado. Ele estava convencido da existência de uma “in-
teligência ordenadora” invisível, uma esfera mental que lig-
ava toda a humanidade. E sugeriu que, à medida que a hu-
manidade se organiza em redes sociais mais complexas, a
noosfera se expande na consciência.
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Premonições e precognições
A premonição geralmente é definida como um sentimento de
antecipação ou ansiedade em relação a eventos futuros. Já a
precognição é o conhecimento de uma situação ou aconteci-
mento futuro.
Por exemplo, suponha que você sinta que deve virar numa
esquina específica, mesmo não sendo seu caminho habitual
para o trabalho. Depois, descobre que houve um grave acidente
no caminho que costuma pegar e o trânsito ficou todo parado.
Isso é uma premonição. Mas se você sonha que alguém lhe en-
viou uma mensagem de texto no telefone com as palavras “Seu
tio faleceu” e ele morre duas semanas depois, isso é uma pre-
cognição – a previsão de acontecimentos futuros que pode
ocorrer momentos ou décadas antes de o evento se desdobrar.
Essas duas habilidades intuitivas originam-se na mente não
local, que opera fora dos limites de tempo e espaço normais.
“Por sua natureza, a mente não local diz respeito a todas as
coisas, porque ela é todas as coisas”, escreveu Deepak Chopra
em A realização espontânea do desejo.
Quando criança, Keith Fraser, arquivista universitário em
Aberdeen, na Escócia, teve uma experiência precognitiva sobre
uma mulher com quem acabou se casando. Durante algumas
visitas à casa de sua avó no início dos anos 1960, Keith lia The
friendship book, da editora D. C. Thompson, para passar o
tempo. Nele, havia várias fotografias, e a imagem de uma jovem
pintando um quadro chamou sua atenção.
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Anos depois, enquanto visitava a casa da namorada pela
primeira vez, viu um exemplar de The friendship book na est-
ante. Ele comentou que costumava lê-lo quando estava na casa
dos avós e começou a folhear o livro. “Foi quando reconheci a
imagem de uma jovem pintando um quadro. Mostrei-a para
meus futuros sogros, e imaginem só minha surpresa quando
me disseram que a foto era da minha futura esposa, que eles
tinham enviado para a editora, D. C. Thompson, no início dos
anos 1960.”
Aos doze anos, Ray Getzinger costumava sonhar com uma
mulher ruiva da Georgia que deixava o cabelo cacheado. Dez
anos depois, em 1966, casou-se com uma mulher ruiva que
morava na Virginia, mas nascera na Georgia. “Depois de um
ano de casados, ela arrumou o cabelo exatamente do jeito que
eu sonhava.”
Tanto Keith quanto Ray ficaram obviamente bastante im-
pressionados pela lembrança de suas experiências passadas.
Assim, quando as mulheres reais apareceram na vida deles, re-
conheceram as impressionantes sincronicidades. Essas históri-
as exemplificam como as sincronicidades nos conectam a algo
maior que nós mesmos, ao que é essencialmente invisível e
desconhecido. Mas se, como afirma a física quântica, a mente
não local existe fora dos limites de espaço e tempo, então talvez
o menino Keith e o sonhador Ray estivessem mergulhando em
possibilidades futuras.
Em seu livro Sincronicidade: a promessa da coincidência,
Deike Begg escreveu: “O aspecto mais interessante de todo
fenômeno sincrônico é que parece haver um conhecimento
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preexistente das coisas que estão por vir, coisas das quais,
naquele momento, não temos absolutamente nenhuma con-
sciência. Parece haver um ‘outro’ que sabe infinitamente mais
do que nós, pode prever o futuro e também tem a capacidade
engenhosa de encontrar a rota mais rápida para nos levar de
volta ao nosso destinado caminho”.
PRESSENTINDO O FUTURO
Assim como Keith e Ray, você também pode ter um vis-
lumbre do futuro. Veja como fazê-lo.
Como explicamos no capítulo anterior, as emoções
geralmente desempenham um papel nas sincronicidades,
inclusive incidentes de precognição. Pense num relacio-
namento importante que não faça parte de seus par-
entes próximos, especialmente um interesse amoroso.
Tente se lembrar de quando se conheceram. Você sentiu
uma conexão imediata, uma sensação de que uma re-
lação íntima e duradoura se desenvolveria? Houve
qualquer sensação física que desencadeou seus
pensamentos? Algumas pessoas sentem os dentes late-
jar ou “crescer” durante encontros importantes que
afetarão o futuro. Outras têm sonhos preditivos ou rece-
bem flashes de imagens relacionadas aos eventos futuros.
Talvez você pense que essas coisas não acontecem
com você, mas talvez aconteçam, e você nunca perce-
beu. Preste bastante atenção aos seus pensamentos e
emoções à medida que eventos importantes acontecem
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Vislumbrando o futuro
Também é possível vislumbrar o futuro de modo consciente e
intencional – até mesmo o futuro distante. No final da década
de 1980, nossa amiga Renie Wiley se ofereceu para nos projetar
no futuro por meio da hipnose. Renie não era hipnotista profis-
sional, mas praticava hipnose com a família e os amigos. E
também tinha uma voz reconfortante e uma técnica infalível de
relaxamento. Enquanto ela falava, Trish de repente se viu como
uma mulher alta, totalmente careca, vivendo numa cidade
coberta por uma cúpula.
– Por que as pessoas vivem em cúpulas? – perguntou Renie.
– É mais seguro na cúpula – respondeu Trish. – Lá fora o ar
é ruim, é inóspito.
– Todo mundo vive em cúpulas?
– Só os mais sortudos. Não somos muitos. Há poucas
cúpulas.
– Quantos anos você tem?
– Quase 30.
– Por que você é careca?
– Genética. Todos somos carecas.
– Em que ano você está?
– Não sei.
Trish ficou profundamente abalada com aquela progressão.
Parecia real. Ela conseguiu sentir a estrutura e a realidade da
vida daquela moça.
Não muito tempo depois, encontramos, por acaso, o livro
Mass dreams of the future, de Helen Wambach, Ph.D, e Chet
72/299
Snow. Depois de descobrir que conseguia projetar as pessoas
em suas vidas futuras, a dra. Wambach, terapeuta de vidas pas-
sadas há quase 30 anos, deu início a um projeto meticuloso na
França e nos Estados Unidos no qual projetou 2.500 pessoas.
Ela faleceu antes de o projeto ser completado, mas o dr. Chet
Snow terminou o trabalho e publicou as descobertas.
A maioria dos participantes concordou que, no futuro, a
população da terra estará amplamente reduzida. O futuro que
experimentaram tinha sido dividido em quatro categorias dis-
tintas: um mundo estéril e sombrio, no qual a maior parte das
pessoas vivia em estações espaciais e se alimentava de comida
sintética; outro, no qual as pessoas viviam em harmonia com a
natureza e entre si; um mundo pós-nuclear, povoado por sobre-
viventes; e um futuro em que as pessoas viviam em cidades
subterrâneas fechadas por cúpulas. Ficamos impressionados
com os paralelos.
Snow explicou os quatro cenários diferentes como apenas
probabilidades, futuros potenciais que estamos criando por
meio da consciência coletiva. Tempos depois, ele lançou um
mapa de como seriam os Estados Unidos após as mudanças
que acreditava que aconteceriam com o planeta entre 1998 e
2012. Mesmo assim, ele recomenda que as pessoas visualizem
um futuro mais positivo. Como escreveu em Mass dreams: “Se
estamos continuamente modelando nossa realidade física fu-
tura pelas ações e pensamentos coletivos de hoje, o momento
de despertarmos para a alternativa que criamos é o agora. As
escolhas entre os tipos de Terra mencionados são claras. Qual
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deles queremos para nossos netos? Para qual deles queremos
retornar algum dia?”
Crianças paranormais
Habilidades paranormais são comuns entre as crianças. Seja
por sua falta de condicionamento social ou por qualquer outra
coisa, elas podem ter o dom da telepatia ou da clarividência.
Talvez o futuro lhes seja acessível tanto quanto o presente. Para
ajudar seus filhos a desenvolver habilidades paranormais, tente
este jogo enquanto estiver no carro. O movimento do carro
tende a ser relaxante, induzindo uma espécie de transe.
Arme o cenário. Diga que fará um jogo com cores. Um de vo-
cês será o emissor, que pensará numa cor forte e viva. O outro
será o receptor, que deve dizer a primeira cor que vier à mente.
Depois, inverta os papéis. Ou, então, você pode perguntar à cri-
ança o que acha que acontecerá na vida dela amanhã. Ou na
próxima semana. Os resultados podem ser surpreendentes.
Esses tipos de jogos psíquicos ajudam a desenvolver as per-
cepções das crianças de um modo diferente. Elas aprendem a
confiar nos próprios instintos e na intuição.
Costumávamos brincar assim com nossa filha, Megan,
quando era criança. Mas ficamos surpresos quando, na terceira
série, ela entrou em sintonia com um acontecimento que afet-
aria nossa família.
Durante uma apresentação do Dia de Ação de Graças na
escola primária, Megan mostrou um cachorro que esculpira em
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barro e agradeceu pelo golden retriever que ganharia. Ficamos
confusos. Não tínhamos planos de arrumar nenhum cachorro.
Afinal, tínhamos três gatos. Mas, pouco antes do Natal, um
amigo da família perguntou se poderíamos adotar uma golden
retriever que precisava de um lar. Concordamos em ficar com a
cadela por uma semana para ver como se relacionaria com os
gatos. A retriever, Jessie, se deu bem com os gatos de imediato,
arrumou um canto diante da mesa de Rob e encontrou um
novo lar.
O desejo de Megan por um cão era forte e dominante, e por
isso não há dúvida de que ela atraiu as circunstâncias e a opor-
tunidade para ganhar um. Porém, como ela acertou a raça? Sua
escultura não foi apenas uma sincronicidade, mas sim espe-
cificamente precognitiva.
Telepatia
A telepatia é a comunicação sem fala – apreendemos os
pensamentos, sentimentos e sensações dos outros. A maioria
de nós já experimentou isso uma vez ou outra, em geral com al-
guém muito próximo. Você provavelmente já ouviu alguém
dizer “Eu ia falar exatamente isso”. Ou então já esteve prestes a
pegar o telefone quando recebe a chamada justamente da pess-
oa para quem ligaria.
Imagine que você acaba de visitar seu pai, já idoso, que mora
sozinho. Quando você está quase chegando em casa, ouve a voz
dele, na sua mente, pedindo ajuda. A princípio, você esquece o
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assunto, considerando ser reflexo da sua preocupação com a
saúde dele. Mas a voz persiste na sua cabeça. Você liga para ele
do celular, ninguém atende, e sua preocupação aumenta. Você
vai novamente para o apartamento dele, e o encontra no chão,
incapaz de se levantar e atender o telefone.
Jung, em sua autobiografia, descreve uma experiência
telepática com um de seus pacientes. Ele viajou para ministrar
uma palestra, voltou para o hotel mais ou menos à meia-noite,
mas não conseguiu dormir direito. “Por volta de duas da manhã
[...], acordei de repente, e tive a sensação de que alguém en-
trara no quarto; tive até a impressão de que a porta fora aberta
subitamente. Acendi a luz, mas não havia nada.” Jung pensou
que outro hóspede poderia ter aberto a porta por engano, mas,
quando olhou para o corredor, “estava tão quieto quanto a
morte”.
Esforçou-se para se lembrar do que tinha acontecido, e per-
cebeu que fora acordado “pela sensação de uma leve dor, como
se algo tivesse atingido minha testa e depois a nuca”. No dia
seguinte, Jung recebeu um telegrama informando que um pa-
ciente seu cometera suicídio, atirando em si mesmo. “Depois,
descobri que a bala havia se alojado no fundo do crânio.”
Jung disse que essa experiência foi um fenômeno genuina-
mente sincrônico, em geral associado a uma situação ar-
quetípica – neste caso, a morte. Ele acreditava que o conheci-
mento da morte do paciente se tornara possível porque, no in-
consciente coletivo, tempo e espaço são relativos. “O incon-
sciente coletivo é comum a todos; é o fundamento do que os
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antigos chamam de ‘simpatia de todas as coisas’. [...] O incon-
sciente sabia da condição do meu paciente.”
Clarividência
Você já desejou alguma vez ser como uma mosca na parede?
Poder visitar certa época ou lugar e ver o que acontece lá sem
que ninguém percebesse sua presença?
Puro devaneio? Não necessariamente.
A clarividência, palavra de origem francesa que significa
“visão clara”, é uma habilidade psíquica que se enquadra no
campo da sincronicidade, como Jung descreveu. Trata-se de
um talento extrassensorial que nos permite ver alguma coisa
além do alcance da nossa visão normal. Em outras palavras,
projetamos uma parte da mente em outro lugar. Outro termo
popular para esse talento é “visão remota”, que passou a ser
usado quando militares dos Estados Unidos começaram a usar
espiões paranormais.
Como isso é possível? Uma vez que nosso cérebro é um re-
ceptor físico, nossa mente existe além dos limites do corpo.
Talvez você não perceba isso, mas pode enviar sua mente para
lugares distantes com o intuito de obter informações. Na ver-
dade, isso é feito enquanto dormimos. Pesquisas mostraram
que todas as pessoas, com a prática, podem atingir algum grau
de clarividência. Às vezes, isso acontece espontaneamente. Por
exemplo, em 1759, o sueco Emanuel Swedenborg, cientista, in-
ventor e místico, disse para um grupo de convidados que um
grande incêndio assolava a Suécia a cerca de quinhentos quilô-
metros de distância. Posteriormente, sua afirmação foi confir-
mada. Como na época de Swedenborg não havia telefone,
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rádio, televisão ou internet, essa capacidade era uma habilid-
ade valiosa.
Empatia e psicometria
No capítulo 2, falamos sobre a relação entre as emoções e a sin-
cronicidade. Pessoas dotadas de habilidades empáticas, no ent-
anto, levam essa conexão um passo adiante. Uma pessoa “em-
pática” entra em sintonia com as emoções e sensações físicas da
pessoa que está sendo “lida”. A empatia já nos foi descrita como
uma “abertura ao vasto e tumultuoso oceano dos desejos,
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conflitos, dores, triunfos e alegrias específicos da pessoa que
você está lendo”.
Millie Gemondo, uma paranormal de West Virginia, afirma
que às vezes a conexão emocional com a pessoa que está sendo
lida simplesmente penetra na sua consciência. Enquanto lia
uma amiga na costa oeste da Flórida, ela de repente sentiu uma
dor no peito e disse, sem pensar: “Você tem um pequeno tumor
no seio esquerdo. Vá ao médico imediatamente”. A amiga foi ao
médico no dia seguinte. Como era previsto, um pequeno tumor
foi encontrado e posteriormente removido. O alerta de Millie
pode ter salvado a vida da amiga.
Algumas dessas pessoas “empáticas”, quando seguram obje-
tos que pertencem à pessoa que estão lendo, conseguem ler
seus pensamentos, que ficam impregnados no objeto. Essa ca-
pacidade é conhecida como psicometria ou toque psíquico. O
termo é derivado de duas palavras gregas: psyche, que significa
“alma”, e metro, que quer dizer “medida”.
Talvez você já tenha experimentado o toque psíquico ao se-
gurar um objeto velho ou visitar um lugar antigo. Alguns ar-
queólogos até já usaram psicometristas qualificados a fim de
obter orientações para a pesquisa de culturas antigas. O detet-
ive psíquico Johnny Smith, personagem representado pelo ator
Anthony Michael Hall, exibia essa capacidade semanalmente
na série de TV O vidente. Toda vez que Smith tocava um objeto
de interesse, sua reação era fundamental para a solução de um
crime ou para revelar um mistério.
Mas nem tudo é ficção. Renie Wiley, artista e uma dessas
pessoas “empáticas”, falecida em meados da década de 1990,
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costumava segurar objetos que pertenciam às pessoas que ela
estava lendo.
Em 1982, Renie e um agente do Departamento de Polícia de
Cooper City, na Flórida, passaram de carro perto de um centro
comercial em Hollywood, Flórida, onde o garoto Adam Walsh
tinha sido visto pela última vez, fazendo compras com a mãe,
no dia 27 de julho de 1981. O policial acreditava que Renie con-
seguiria, psiquicamente, capturar algo sobre o menino desa-
parecido – onde ele estava, o que acontecera, se tinha sido
raptado. A polícia suspeitava de rapto, mas não havia qualquer
pista. Renie não tinha um objeto que pertencesse a Adam, mas
cartazes com a foto do garoto estavam colados em todo o sul da
Flórida, como se seus olhos, grandes e inocentes, suplicassem
ajuda. O rosto dele estava presente no consciente coletivo, e
parecia ser tudo do que Renie precisava.
Quando estavam a poucos quilômetros do shopping, Renie
levou as mãos rapidamente até a garganta. Ela ficou sem ar e
começou a sufocar. O policial já tinha trabalhado com ela o su-
ficiente para entender que estava descobrindo algo relacionado
a Adam, e saiu dali a toda velocidade. Depois de dirigir vários
quilômetros, ele desviou para o acostamento.
“Adam foi decapitado”, ela disse, soluçando.
Pouco tempo depois, a cabeça do menino de seis anos de id-
ade foi encontrada em um campo em Vero Beach, a mais de
1.500 quilômetros ao norte do centro comercial de Hollywood.
Numa noite sombria, em meados da década de 1980, acom-
panhamos Renie no caso de uma garota desaparecida. Christie
Luna, de oito anos, desaparecera perto de sua casa em
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Greenacres, na Flórida, no dia 24 de maio de 1984. Por volta
das três horas da tarde, ela foi andando até uma loja para com-
prar comida para gatos e nunca mais voltou. A polícia sus-
peitava de um crime.
Renie pediu alguns brinquedos da menina, sentou-se e, de
olhos fechados, agarrou um velho urso de pelúcia. Ela bal-
ançava o corpo para a frente e para trás, sussurrando baixinho.
Renie era uma mulher alta, de ombros largos, embora naquele
momento tudo em seu corpo parecesse pequeno e infantil. Ela
começou a choramingar, depois chorou, soluçou, mantendo o
corpo curvado sobre o urso de pelúcia.
“O namorado da mãe costumava bater na menina”, mur-
murou Renie. “Ela é surda de um ouvido por causa disso.” A
surdez foi confirmada posteriormente pela mãe.
Acompanhados pelo policial, saímos da delegacia e dirigi-
mos pela noite úmida de Greenacres. Passamos pela casa onde
a menina morava e pela loja para onde ia quando desapareceu.
Renie nos conduziu pelas ruas até chegarmos a uma área ar-
borizada delimitada por uma cerca de tela. Ela não gostou do
que sentiu, e disse que o policial deveria fazer uma busca por
ali.
Renie sentiu que a menina tinha sido assassinada pelo
namorado da mãe, mas o corpo não foi encontrado, e o caso
continuou sem solução.
Passemos para 24 anos depois. Dennie Gooding, uma
paranormal de Los Angeles com quem nós dois nos con-
sultamos, ligou para dizer que estaria visitando o sul da
Flórida, onde morávamos, e que trabalharia no caso de uma
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pessoa desaparecida. Ela planejava ficar com a esposa do poli-
cial que a contratara para analisar o caso. Arranjamos um
tempo para nos encontrar, e acabamos descobrindo que Dennie
estava investigando o caso de Christie Luna.
O oficial de polícia que a contratara trabalhava em casos ar-
quivados para o xerife do condado de Palm Beach. Muito em-
bora Dennie não tenha conseguido localizar o corpo de
Christie, apontou a mesma área arborizada que Renie apon-
tara, diversos acres de um terreno inexplorado, de propriedade
do governo, cercados por tela. “A menina só pode estar enter-
rada lá”, disse Dennie.
O desaparecimento de Christie Luna é trágico, um caso que
talvez jamais seja solucionado, a não ser que se descubram
mais informações. Para nós, as investigações revelaram sin-
cronicidade. Dennie Gooding e Renie Wiley indicaram a
mesma área arborizada onde o corpo poderia ter sido enter-
rado. Os céticos diriam que o local seria um lugar óbvio para
esconder um corpo, que a lógica da causa e efeito – e não a sin-
cronicidade e a habilidade psíquica – estava envolvida. Mas
não há como negar que a sincronicidade foi fundamental no
nosso envolvimento. Dennie, que vive a quase cinco mil quilô-
metros de distância, nos visitou e contou sobre um caso ar-
quivado, que pesquisamos e sobre o qual escrevemos há mais
de duas décadas. Foi como se a própria Christie Luna cutucasse
todos nós, esperando justiça.
EXERCÍCIO DE PSICOMETRIA
Comece com objetos familiares, como o relógio ou o anel
de uma pessoa da família, ou talvez um broche usado
por sua avó. Se preferir, use uma peça de roupa ou a
carta de um amigo.
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A CRIATIVIDADE
O poder da imaginação
Nos livros e filmes de Harry Potter, a imaginação permite que
os jovens feiticeiros viajem para espaços intermediários com o
intuito de dominar alguma mágica. Aprender a voar numa vas-
soura nas partidas de quadribol, por exemplo, começa na ima-
ginação. É preciso enxergar-se, na mente, voando e controlan-
do a vassoura. Da mesma maneira, quando Luke Skywalker es-
tá aprendendo com Yoda a dominar a Força, primeiro deve
aprender a fazê-lo na sua mente, de olhos fechados. No filme
Da magia à sedução, todas as mágicas começam de dentro.
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Sabe-se que atletas profissionais também entram nessa
zona, no espaço onde visualizam suas jogadas, seus movimen-
tos, e dão o máximo de si. Essa visualização é feita da maneira
mais detalhada e precisa possível, e eles praticam tudo na
mente antes de efetuar os movimentos.
Como disse Coleridge, “a imaginação é o poder vivo e o prin-
cipal agente de toda a percepção humana”. Se considerarmos a
criatividade um arquétipo, faz todo sentido o fato de que,
quando estamos dominados por ela, nesse fluxo poderoso, es-
tamos criando um ambiente fértil para a sincronicidade.
A maioria de nós tem um talento criativo ou interesse que
gostaríamos de alimentar e desenvolver. Mas encontramos to-
dos os tipos de razões para procrastinar. Dizemos a nós mes-
mos que não temos dinheiro ou tempo para perseguir aquilo
que amamos. Talvez tenhamos medo de não conseguir sobre-
viver daquilo que amamos. Mas a conclusão é que, se não
tentarmos, nunca teremos uma fé verdadeira em nós mesmos,
nunca saberemos quão criativos somos. E, quando não nutri-
mos nossa criatividade, nos fechamos para as sincronicidades
que poderiam nos levar às oportunidades e pessoas certas, no
momento certo.
Ritual
Um ritual é uma ação executada por seu valor simbólico. É
usado na meditação, na visualização, na mágica e nas práticas
religiosas e espirituais. A maioria das pessoas criativas também
usa rituais – que podem ser algo tão simples quanto colocar de-
terminado tipo de música ou acender uma vela quando você se
senta para escrever ou pintar. Ou algo complexo, como proferir
palavras para atingir certo objetivo.
O primeiro tipo de ritual é um sinal para sua musa de que
está pronto para começar o trabalho. É o equivalente a abrir a
porta para seu eu criativo e se tornar um canal para qualquer
coisa que flua através de você. Significa que agora se encontra
em um estado receptivo da mente. O segundo é uma forma de
visualização. Um ritual pode ser uma ferramenta poderosa para
atrair a sincronicidade e desenvolver seus esforços criativos.
Quando a roteirista Hilary Hemingway quis melhorar as fin-
anças da família, ela e o marido, o escritor Jeff Lindsay, foram
até Key West executar um ritual de prosperidade envolvendo
uma antiga e conhecida espécie de paineira perto do fórum do
96/299
condado. A paineira, que aparece no filme Fonte da vida, era
considerada na cosmologia maia a árvore da vida que conecta a
terra ao céu, ou a humanidade ao divino.
Seguindo o ritual tradicional, eles deixaram um bilhete com
seus pedidos no pé da árvore e despejaram rum em volta, “ali-
mentando”, simbolicamente, tanto a árvore quanto a musa. Em
pouco tempo, o romance de Jeff, Dexter, foi vendido para Hol-
lywood e se tornou a série de televisão mais popular do mo-
mento. Depois, Andy Garcia demonstrou interesse em produzir
o roteiro de Hilary sobre os últimos dias de seu tio, Ernest
Hemingway, em Cuba.
Todos temos capacidade de criar novas possibilidades por
meio da imaginação e da intenção; o ritual é apenas uma
maneira de se concentrar nessa intenção. Em cada nível de cri-
atividade – da concepção à execução –, os rituais têm um papel
vital. Mas é a mente não local, a consciência universal, que “nos
permite imaginar além dos limites do que a mente local vê
como ‘possível’, pensar ‘fora da caixa’ e acreditar em milagres”,
escreveu Deepak Chopra em A realização espontânea do
desejo.
Que tipo de rituais você usa em seu trabalho criativo? Tem
alguma técnica para evocar sua musa? Há algum momento do
dia ou da noite em que é mais criativo? Michael Crichton escre-
via quase sem parar quando começava um novo livro. Stephen
King escuta rock no último volume. Algumas pessoas que tra-
balham com criação dão um passeio antes de ir trabalhar, ab-
sorvendo o mundo à sua volta. Julia Cameron escreve diários,
especificamente três páginas pela manhã, à mão, para entrar
97/299
no espírito criativo e começar o dia. Os tipos de rituais que você
faz dizem respeito só a você e ao tipo de trabalho criativo que
executa. Quando pegar o hábito, a sincronicidade não ficará tão
lá atrás.
A criatividade e os sonhos
Algumas das sincronicidades mais dramáticas relacionadas à
criatividade ocorrem nos sonhos, e por meio deles. Visto que
passamos cerca de um terço da vida dormindo, essa área
merece um exame mais detalhado.
Numa noite normal, passamos por quatro fases de sono,
diferenciadas pela frequência das ondas cerebrais, dos movi-
mentos dos olhos e da tensão muscular. Na primeira fase, o
ritmo muda de beta – nossa consciência normal de quando es-
tamos acordados – para alfa, quando as ondas cerebrais oscil-
am de oito a dez ciclos por segundo. Nesse estágio, costum-
amos experimentar imagens hipnagógicas – cenas surreais que
geralmente dizem respeito aos últimos pensamentos que tive-
mos antes de apagar a luz. Essas imagens breves e psicodélicas
podem ser tão significativas e sincrônicas quanto sonhos mais
longos nos estágios mais profundos do sono.
Na segunda fase, o cérebro registra ondas teta, caracteriza-
das por rajadas rápidas de atividade cerebral. Os olhos movem-
se repentinamente para a frente e para trás por trás das pálpeb-
ras. Em geral, esse período de movimento rápido dos olhos,
chamado de sono REM (do inglês Rapid Eye Movement), dura
vários minutos a cada vez. A maior parte dos nossos sonhos
ocorre nesse estágio, que representa até 25% do sono de uma
noite, ou cerca de uma hora e meia a duas horas para a maioria
das pessoas. Durante uma noite normal, passamos por quatro
ou cinco períodos de sono REM. Eles tendem a ser mais curtos
no início da noite, aumentando progressivamente perto da
102/299
manhã; é por isso que, a princípio, é mais fácil nos lembrarmos
dos sonhos matutinos.
O primeiro passo para se lembrar dos sonhos é fácil. Pegue
um caderno e uma caneta, de preferência que tenha luz na pon-
ta. Quando estiver prestes a dormir, pense com vontade que se
lembrará de todo e qualquer sonho relevante para aquilo em
que está trabalhando ou que o está preocupando. Com a prát-
ica, você acordará depois de ter sonhos relevantes e conseguirá
se lembrar do suficiente para fazer anotações. Quando tiver ex-
periência em se lembrar dos últimos sonhos que teve na noite,
aprenderá como retroceder a cada sonho sucessivo de modo
que consiga se lembrar de quatro ou cinco deles.
Com o tempo, o léxico do seu mundo de sonhos surgirá, e
você será capaz de interpretá-los com muita facilidade.
Até mesmo pesadelos podem ter pistas e respostas vitais
para sua criatividade. O inventor Elias Howe sonhou que tinha
sido capturado por selvagens que o atacavam com lanças com
buracos em forma de olho na ponta. Quando acordou do
pesadelo, percebeu que ele lhe dera a peça final de um quebra-
cabeça para sua máquina de costura: o buraco da agulha perto
da ponta.
O escritor Robert Louis Stevenson esforçou-se durante dias
para encontrar o enredo de uma nova história, e acabou
descobrindo-o num sonho, como se lhe tivesse sido entregue. O
resultado foi O médico e o monstro.
Os dois estavam profundamente mergulhados num trabalho
criativo e imaginativo que os consumia. Quando dormiram,
essa intensidade contornou o lado esquerdo e racional do
103/299
cérebro e atingiu o que Peat chama de “espaço intermediário”
para encontrar uma solução. Se não conseguissem se lembrar
dos sonhos, o desenvolvimento de máquinas de costura poderia
ser atrasado por décadas ou mais e a história de Jeckyll e Hyde
não seria escrita! Tendo como base somente esses dois exem-
plos, conseguimos ver o valor de nos lembrarmos dos sonhos.
Escrevemos diários de nossos sonhos há anos e os consid-
eramos extremamente úteis. Nossos sonhos já nos deram in-
sights sobre processos criativos e ideias para livros – e até nos
alertaram sobre vendas futuras dos nossos livros, bem como
nos libertaram de bloqueios criativos.
AS SÉRIES
3, 33
121/299
Séries de 3 também chamam a atenção. Esotericamente, o 3
representa a trindade corpo, mente e espírito, mas também se
refere a intuição, inventividade, espiritualidade, criatividade, os
arquétipos de mãe, pai e filho, e a Santíssima Trindade.
Quando vivenciamos séries de 3, qualquer um desses significa-
dos esotéricos pode ser válido, mas, como acontece com toda
sincronicidade, nós mesmos somos os melhores intérpretes da
experiência. Por vezes, a interpretação pode exigir alguma
pesquisa.
Durante uma viagem de avião para a Califórnia, notamos
que o número 33 aparecia com frequência. Fila 33, assento 33,
voo 233. Num período de mais ou menos sete horas, perce-
bemos meia dúzia de repetições do número. Não tínhamos
ideia do que aquilo significava. Trish finalmente recorreu ao I
Ching – antigo oráculo chinês que consiste em 64 desenhos
chamados hexagramas – e procurou o hexagrama 33. Assim
que viu o título – A Retirada –, entendeu a mensagem.
Na época, sua mãe estava em uma clínica para tratamento
de Alzheimer, no quarto 33. Estávamos em “retirada” daquela
situação. Interpretamos a sincronicidade como a confirmação
de que tínhamos feito a escolha certa em dar um tempo. Mas os
números só foram significativos para nós.
Para Kevin Harvick, piloto de stock car da NASCAR, o 33
teve um significado totalmente diferente. Em março de 2009,
ele liderou o circuito oval de meia milha no coração das
montanhas no Tennessee, e venceu o Bristol Motor Speedway.
Ele dirigia o carro 33, tinha 33 anos de idade e era sua 33a cor-
rida. Se observarmos a data da vitória – 21/03/09 –, ainda
122/299
podemos inferir mais dois 33. Se somarmos 2 + 1, temos 3/3,
ou 33. E o ano, 9, é 3 vezes 3, outro 33.
Ray Getzinger – aquele da história sobre a moça ruiva, que
vimos no capítulo 3 – escreveu que, quando estava lendo a
postagem de nosso blog sobre 11:11, concentrou-se em um
comentário de alguém que dizia acordar às 3h33 todas as
manhãs. “Lembrei-me de um episódio de CSI: NY, em que o
tenente Taylor acorda toda manhã às 3h33. Daí, ontem de
manhã, acordei às 3h33.”
Em alguns exemplos, a consciência de determinados númer-
os parece dar início às nossas próprias experiências.
O clube dos 27
Quando nos tornamos cientes das sincronicidades envolvendo
números, parece que elas acontecem em todo lugar. Uma noite,
estávamos na cozinha preparando o jantar enquanto Megan es-
tava na sala, assistindo a uma história de Hollywood sobre Kurt
Cobain. De certa forma, estávamos ouvindo de tabela.
Sabíamos que Cobain cometera suicídio, mas não percebemos
que ele morrera aos 27 anos, assim como os colegas Jimi
Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison e Brian Jones.
Charles R. Cross, biógrafo de Cobain e Hendrix, escreveu
que o número de músicos que morreram aos 27 anos é “real-
mente incrível sob todos os aspectos”. Um site chamado “27
club” lista 34 músicos que morreram aos 27 anos de idade,
desde 1892.
De acordo com a numerologia, se somarmos os números 27,
2 + 7, temos 9, número dos inícios e fins. Pensamos sobre isso.
No dia seguinte, Rob pegou o livro Synchronicity & you, de
Frank Joseph, que caiu aberto nas páginas 28-29. Isso foi o que
Rob leu sobre o número nove: “Entre alguns músicos, ele é
124/299
considerado o número da própria morte. Essa associação neg-
ativa começa com Beethoven, que morreu depois de completar
a nona sinfonia”.
Se você vivenciar séries com 27 e tiver 27 anos, ou menos,
não chegue imediatamente à conclusão de que morrerá nessa
idade. Esse significado específico é apenas um de muitos out-
ros. Em certas tradições, o número 27 representa a “luz divina”,
e não tem absolutamente nenhuma conexão com a morte.
Se o 27 se repete no seu ambiente – por exemplo, sua data
de nascimento, a data de nascimento das pessoas à sua volta, o
número da sua casa, eventos importantes ocorridos nessa id-
ade, dígitos no seu telefone celular –, talvez queira pesquisar o
número. Em um site, um único indivíduo registrou mais de 300
ocorrências do número 27 na sua vida. Esse tipo de padrão –
envolvendo o número 27 ou qualquer outro – pode aludir a al-
guma questão mais profunda, até mesmo um padrão trazido de
uma vida passada.
14
Séries numéricas variam do curioso ao verdadeiramente es-
tranho. Elas podem se aglutinar ao redor de um único aconteci-
mento ou continuar no decorrer de uma vida inteira. Para
Maria, no segundo ano da faculdade, o número 14 ocorreu
quatro vezes em quatro meses.
Uma noite, ela foi parada por uma blitz quando ia para o
McDonald’s. Mais cedo, tinha tomado duas cervejas. Depois de
125/299
testes preliminares, o policial a considerou debilitada, ela foi
presa e passou pelo teste do bafômetro. Muito embora o teste
de Maria estivesse abaixo do limite legal, ela passou 14 horas na
cadeia até que fosse liberada depois de pagar fiança.
Seus pais contrataram um advogado, que concluiu que ela
tinha um forte argumento para ser absolvida, tanto por causa
do vídeo feito durante a abordagem quanto porque o resultado
do bafômetro estava abaixo do limite legal. Depois de analisar
as evidências, o promotor estava pronto para descartar as acus-
ações, mas foi afastado do caso. Outro promotor pegou o caso e
manteve as acusações, e a audiência de Maria foi marcada para
dezembro. Como coincidia com a semana de provas finais na
faculdade, uma nova data foi marcada para fevereiro.
Antes do Natal, 14 escritórios de advocacia entraram com
uma petição afirmando que os postos de blitz naquele condado
específico eram ilegais porque a polícia agia segundo seus
próprios critérios. A petição foi analisada no dia 14 de janeiro e
considerada procedente. Todas as evidências foram rejeitadas
nos 14 casos, incluindo o de Maria. Foram 14 horas, 14 es-
critórios de advocacia, 14 de janeiro e 14 casos.
Talvez o 14 seja o novo número de sorte de Maria. A soma
dos dígitos do número 14 dá 5, que na numerologia é associado
à liberdade. Outra conexão: o nome “Maria” contém 5 letras, e
as letras de seu nome completo, quando convertidas em equi-
valentes numerológicos, equivalem a 5. Não só Maria foi lib-
erada das acusações, como na noite do incidente ela terminou
com o namorado porque queria mais liberdade. Maria sente
126/299
que atraiu a experiência para que pudesse entender melhor o
que, para ela, representava a liberdade.
23
Este número parece bastante inofensivo, mas, quando
começamos a pesquisar, algumas correlações e sincronicidades
são bastante esquisitas. Comecemos com a literatura.
William Shakespeare nasceu em 23 de abril de 1564 e mor-
reu em 23 de abril de 1616. Seu primeiro fólio foi publicado em
1623.
No início da década de 1960, em Tânger, no Marrocos, Willi-
am Burroughs, autor de Almoço nu, conheceu um certo capitão
Clark que comandava uma balsa de Tânger à Espanha. Clark
vangloriava-se do fato de conduzir a balsa há 23 anos sem nen-
hum acidente. Naquele mesmo dia, a balsa afundou, matando
todos a bordo, inclusive ele. À noite, enquanto Burroughs refle-
tia sobre esse pavoroso acontecimento, ligou o rádio e ouviu a
notícia sobre um acidente com um avião que ia de Nova York
para Miami. O avião era pilotado por um capitão Clark, e o
número do voo era 23.
Essa sincronicidade aparentemente chocou tanto Burroughs
que ele começou a compilar uma lista de sincronicidades en-
volvendo o número 23. Em 1965, seu amigo e escritor Robert
Anton Wilson também começou a fazer uma lista de esquis-
itices sobre esse número. Uma das sincronicidades pessoais
que anotou dizia respeito a suas filhas, nascidas nos dias 23 de
127/299
agosto e 23 de fevereiro. Wilson escreveu sobre o número para
a revista Fortean Times em 1977; seu artigo foi publicado na
edição 23.
Hollywood também tem sua parcela de 23. Tomemos como
exemplo a produtora do seriado Arquivo X, chamada Ten-
Thirteen [Dez-Treze]. A soma de 10 e 13 é 23. O criador da
série, Chris Carter, nasceu no dia 13/10. Os fãs de Arquivo X
talvez se lembrem de um silo nuclear abandonado onde era
mantido um óvni. O número 1013 aparecia ao lado do silo. Em
outro episódio, o agente Mulder foi até o apartamento de um
homem que acabara de morrer; o número 23 estava na porta.
Na série de TV Lost, construída sobre camadas de sin-
cronicidades, diversas esquisitices envolvem o número 23.
137
Esta sequência, e tudo associado a ela, é enigmática e misteri-
osa. Se esse número se repetir na sua vida, ele merece um ex-
ame mais minucioso.
Wolfgang Pauli, um dos primeiros defensores da teoria de
Jung sobre a sincronicidade, ficou perplexo com um dos mis-
térios não resolvidos da física moderna: o valor da constante de
estrutura fina, que envolve o número 137.
Um número primo só pode ser dividido por 1 e por ele
mesmo. Ou, dito de outra forma, primo é um número inteiro
positivo que não se iguala ao produto de dois números inteiros
menores. Isso torna 137 um número primo particularmente en-
igmático. Em Deciphering the cosmic number: the strange
friendship of Wolfgang Pauli and Carl Jung, Arthur I. Miller
fornece uma história breve, porém fascinante, do número 137
no mundo da física quântica.
131/299
Ele foi “descoberto” em 1915 por Arnold Sommerfield, ment-
or de Pauli quando este ainda era estudante. “A partir do mo-
mento em que o 137 apareceu pela primeira vez em suas
equações, ele e outros físicos [...] rapidamente perceberam que
essa ‘impressão digital’ única era a soma de certas constantes
fundamentais da natureza, quantidades específicas que
supostamente seriam invariáveis no universo inteiro, quan-
tidades centrais para a teoria quântica e da relatividade.”
O número se tornou tão enigmático que o grande Richard
Feynman, ganhador do Prêmio Nobel em 1965 por suas con-
tribuições ao desenvolvimento da eletrodinâmica quântica,
disse que os físicos deveriam colocar uma placa em seus es-
critórios para se lembrarem do quanto não sabem. A placa seria
simples: 137.
O número 137 não só é o “DNA da luz”, como diz Miller,
como também está associado à Cabala. Miller explica que, em
hebreu antigo, os números eram escritos com letras, e cada le-
tra tinha um número associado a ela. O sistema se parece
bastante com a numerologia. “Adeptos do sistema filosófico
conhecido como Guematria acrescentam números às palavras
hebraicas e, assim, descobrem nelas significados ocultos.” Em
hebreu, a palavra Cabala tem quatro letras que, somadas, dão
137. De maneira nada surpreendente, os físicos começaram a se
referir ao 137 como um número mágico.
Pauli certamente achava que este era o caso. Ele lutou com
suas implicações quase a vida inteira. Quando foi internado em
um hospital, aos 58 anos, e descobriu que ficaria no quarto 137,
132/299
supostamente disse: “Não sairei mais daqui”. Ele estava certo, e
morreu pouco tempo depois.
F. David Peat teve sua própria experiência com o número
137 quando visitou o Instituto Jung, em Bollingen, na Suíça.
Em um e-mail que nos enviou, ele explicou que foi convidado a
dar uma palestra em comemoração ao quinquagésimo aniver-
sário do instituto. Ao chegar ao hotel, recebeu uma chave e foi
avisado que seu quarto ficava no segundo andar do anexo.
Antes de ir para o quarto, caminhou até o lago para “sentir um
pouco do clima de Jung”. Mas, depois de 30 minutos, nada
aconteceu. Então Peat resolveu voltar para o hotel, dormir e as-
sim, talvez, ele sonhasse com Jung. “Peguei o elevador para o
segundo andar, tirei a chave do bolso e o número era 137! Per-
cebi que eu estava lá para falar de Pauli, e não de Jung.”
Naquela noite, Peat contou a história sobre a chave, e um
idoso no fundo da sala riu. “Depois, quando escrevi uma
equação no quadro, o mesmo homem disse: ‘Não vai dar
certo’.”
Na recepção, Peat perguntou quem era aquele homem, e
descobriu tratar-se de um assistente que estivera com Pauli no
hospital, no quarto 137.
Pauli identificava o número 137 com o arquétipo da morte.
Para Peat, o número era como o cartão de visitas de Pauli.
Como escreveu Frank Joseph em Synchronicity & you, “o re-
ceptor da sincronicidade é seu melhor intérprete. Para
qualquer outra pessoa, o número 137 não significaria nada”.
Até mesmo Hollywood usou o número 137. No seriado
FlashForward, que estreou no canal ABC no segundo semestre
133/299
de 2009, as sete bilhões de pessoas que vivem no planeta per-
dem os sentidos no mesmo momento, por 137 segundos, e
veem uma cena do próprio futuro. Por que esse número? Será
interessante ver como os roteiristas abordam isso no seriado.
DESCOBERTAS SIMULTÂNEAS
137/299
Descobertas simultâneas, como a do cálculo, tanto por
Isaac Newton quanto por Gottfried Leibniz, independentes
um do outro, e a teoria da evolução, por Charles Darwin e
Alfred Russell Wallace, são outro tipo de série. “Será que
esses tipos de conceitos e insights existem em alguma
forma escondida e simbólica dentro de nossa mente incon-
sciente?”, perguntou F. David Peat em Synchronicity: the
bridge between matter and mind. “Ou fazem parte do
cerne da natureza, não diretamente, mas de alguma
maneira oculta, que pode se manifestar na linguagem da
arte, literatura, música ou ciência?”
Jung também via a sincronicidade como a razão pela
qual pesquisadores independentes podiam obter os mes-
mos resultados ou conhecimentos ao mesmo tempo. A ne-
cessidade de respostas está solidificada no inconsciente. Ao
buscar uma solução à sua própria maneira, os pesquisad-
ores resolvem o problema simultaneamente.
Peat, tempos depois, salientou que algumas sincronicid-
ades podem envolver “a ligação com o ambiente de uma
maneira especial, prevendo acontecimentos ou percebendo
padrões subjacentes do nosso mundo”.
Sintonia
Quando estamos em sintonia com nossa própria psique, é mais
fácil criar um ambiente fértil para a sincronicidade. Um dia
qualquer no mês de junho, Jenean Gilstrap acordou e se per-
guntou como seria aquele dia: 6/6/09. Para ela, havia algo
140/299
mágico e misterioso com esses números. Enquanto dirigia para
a praia, cerca de 24 quilômetros de sua casa, olhou para a placa
de um carro que passou por ela na pista da esquerda. A placa
tinha a sequência 222. A do próximo carro, 444, e do terceiro,
888. “Eu quase ri alto, e pensei onde estava a 666, e como seria
perfeito se aquilo acontecesse. Então, um Cadillac preto passou
por mim e a placa tinha a sequência 666 que faltava para com-
pletar meu pequeno ciclo numérico.” Vejamos como o número
de Jenean é analisado pela numerologia.
222 = 6
444 = 12 = 3
888 = 24 = 6
666 = 18 = 9
Embora o 444 não se encaixe em 6/6/09, é igual a 3, que di-
vide cada um dos outros de maneira uniforme, e também segue
a progressão de números de três dígitos.
O TRAPACEIRO
O brincalhão ri de nós
Em O Senhor dos Anéis, o personagem sorrateiro e observador
Gollum, o Sméagol, é o exemplo perfeito do arquétipo do tra-
paceiro. Ele sempre tinha um plano específico de um ou outro
tipo que o impelia a enganar os hobbits (ou hobbitses, como os
chamava) em diversas ocasiões e convencê-los de que era uma
pessoa confiável.
Os arquétipos – o trapaceiro, o sábio ou a sábia, o herói, a
criança, mãe ou pai – são tão antigos quanto o planeta. Eles ad-
entram a mente consciente a partir do inconsciente coletivo,
um repositório de imagens comuns a todas as pessoas. São en-
contrados na mitologia, no folclore, nos contos de fadas, nas
lendas, nas alucinações, nas fantasias, na maior parte dos sis-
temas divinos e nos sonhos.
Um dos mitos do trapaceiro mais conhecidos é representado
pelo deus norueguês Loki, filho de dois gigantes. Ele era muito
ingênuo, mas também um contador de histórias bem malandro,
que gostava de causar confusão. Um “camaleão” capaz de as-
sumir várias formas – inclusive de cavalo, falcão e mosca –,
Loki podia até mesmo mudar de gênero, por isso não é de
145/299
espantar que as sincronicidades com o trapaceiro apareçam em
muitos disfarces.
Loki costumava passar o tempo ao lado dos principais
deuses, Odin e Thor, embora fosse inimigo de ambos. Quando
não foi convidado para um banquete em Valhalla, por exemplo,
entrou de penetra como o 13o convidado. Andou para todos os
lados, pedindo comida e bebida, perturbando a todos. Con-
venceu até mesmo Hoder, deus cego da escuridão, a atingir
Balder, deus da luz e da alegria, com uma flecha de ponta de
visco. Balder morreu, e a terra foi coberta de escuridão. Desde
então, 13 tem sido considerado o número do azar.
O mito inspirou o filme O Máskara, com Jim Carrey. Para
refrescar sua memória, Carrey interpreta um bancário chato,
chamado Stanley Ipkiss, que descobre uma antiga e misteriosa
máscara verde, de madeira, habitada por Loki. Quando coloca a
máscara, torna-se um super-herói maníaco, de pele verde, que
faz maluquices.
Na mitologia dos índios norte-americanos, geralmente o
coiote é representado como um trapaceiro. Ele é astuto e ad-
aptável, um “camaleão” que usa sua travessura para enfatizar
um ponto e fazer as pessoas rir. No livro infantojuvenil Gone, o
mundo termina aqui, Michael Grant usa coiotes para ilustrar
sua adaptabilidade a um novo mundo no qual todas as pessoas
acima dos 14 anos desapareceram misteriosamente. Em uma
coletânea de contos chamada The Coyote Road Trickster Tales,
o arquétipo do trapaceiro é explorado de diferentes maneiras:
um espírito decide fazer o possível para que os alunos de uma
classe parem de analisar as frases que escrevem; um garoto
146/299
inspira-se no Coelho Brer para ludibriar seus sequestradores;
uma garota prende fantasmas com fitas e os leva para todo
lugar, alimentando-os com seu próprio sangue.
Um dos trapaceiros mais conhecidos na mitologia é Koko-
pelli, o flautista corcunda. Entre os povos anasazi, hopi e zunhi,
era considerado a divindade da fertilidade, da música, da
dança, da renovação e das travessuras. De modo geral, ele apar-
enta ser muito mais benevolente que Loki, que se tornou mais
malicioso e malévolo à medida que envelheceu.
Em muitas culturas, o trapaceiro surge de diferentes
maneiras. Na cultura popular norte-americana, é encontrado
com maior facilidade nos filmes. O Curinga, da série Batman,
retrata o lado sombrio do trapaceiro, bem como o Loki mais
velho. Uma das encarnações mais bizarras do trapaceiro é o
capitão Jack Sparrow, de Piratas do Caribe, representado pelo
ator Johnny Depp. Sparrow é um fantasma capaz de grandes
truques e malvadezas. E, é claro, também é um herói.
Indiana Jones e Hans Solo são exemplos perfeitos da união
desses dois arquétipos, o trapaceiro e o herói. O fato de Harris-
on Ford interpretar os dois papéis também sugere que o arqué-
tipo está vivo e bem incorporado nele próprio.
O trapaceiro é, ao mesmo tempo, absurdamente humano e
divinamente inspirado – uma mistura de palhaço e herói cul-
tural. Em resultado, as sincronicidades que o envolvem in-
spiram temor, espanto e até mesmo choque. Elas podem nos
levar a reavaliar relacionamentos, considerar carreiras altern-
ativas e fazer escolhas que antes não teríamos considerado.
Quase sempre, no começo nos sentimos como se fôssemos o
147/299
único alvo das brincadeiras do universo. O truque para agir
com o trapaceiro é vasculhar o que há por trás da piada para
descobrir o que realmente está acontecendo, o que, em geral, é
difícil de descobrir.
Por exemplo, digamos que seu namorado, ou namorada, ter-
mine com você e, enquanto ouve a explicação dos motivos, um
passarinho passe e faça cocô na sua cabeça. É o sinal de pontu-
ação perfeito, um testemunho de como o estão tratando. E uma
sincronicidade trapaceira.
Os cenários com trapaceiros às vezes são complexos e sur-
preendentes. Há alguns anos, Rob estava levando dois amigos,
George e Hanna, até o aeroporto de Miami. George (pastor de
uma igreja liberal da Nova Era em Negril, na Jamaica) e
Hanna, sua namorada norueguesa, conheceram Rob antes de
ele se tornar pastor. Rob estava se separando da esposa, uma
grande transição na vida que, sem dúvida, contribuiu para a in-
tensidade da conversa. Eles estavam discutindo assuntos pro-
fundos, sistemas de crenças espirituais e questões cósmicas.
Um papo zen. Como o zen do momento, o zen do lugar, o zen
da meditação.
De repente, Rob olhou a placa de um carro que passou: ZEN
665. George disse sem pensar: “Seria realmente impression-
ante se víssemos ZEN 666”.
Alguns minutos depois, um carro esporte amarelo passou ao
lado. A placa era exatamente ZEN 666. Foi como se o tra-
paceiro estivesse no carro com eles, rindo de toda a perplexid-
ade. Eles pediram por isso, e aconteceu. Foi uma revelação,
148/299
como na origem da má fama desse número: o livro bíblico do
Apocalipse.
Rob repetiu diversas vezes a história do ZEN 666. Parecia
que não conseguia ir além disso, e queria que as outras pessoas
considerassem as probabilidades de tal coisa acontecer. Alguns
anos depois, enquanto dirigia por uma rua perto de casa, um
sedã vermelho passou por ele com uma placa idêntica. Era um
carro diferente, a mais de 80 quilômetros de onde vira a
primeira placa, mas era a mesma: ZEN 666. Trata-se de outro
lembrete de que a vida é muito mais misteriosa do que po-
demos imaginar, e que o derradeiro enigma, a sincronicidade,
desafia a definição.
Para Rob, a mensagem da primeira visão foi adotar uma at-
itude do tipo zen durante uma grande transição na vida, um pe-
dido para que ele seguisse o fluxo sem resistir. A sincronicidade
trapaceira parecia prometer que, se ele conseguisse fazer isso,
sairia do outro lado com uma grande sabedoria. A segunda
visão confirmou que ele foi bem-sucedido.
ENTENDENDO O TRAPACEIRO
Sincronicidades com o trapaceiro muitas vezes podem
ser desnorteantes; tanto que você deve pesquisar um
pouco para descobrir o que significa a sua. O lugar mais
óbvio para começar é o Google.
Quando buscamos “o trapaceiro” no Google, obtemos
milhares de resultados. Encontramos sites sobre o tra-
paceiro na mitologia norte-americana, o trapaceiro e o
149/299
Os disfarces do trapaceiro
Os disfarces usados pelo trapaceiro parecem feitos sob medida
para nossas necessidades e propósitos. Dependendo da situ-
ação e das circunstâncias, o trapaceiro alerta, confirma, oferece
esperança, zomba e às vezes enfatiza a mensagem sobre a inter-
conectividade da vida. E também pode provocar uma revira-
volta na sua vida. No entanto, ele sempre nos lembra que deve-
mos rir – de nós e dos absurdos existenciais que nos cercam.
Mike Clelland, de Idaho, descobriu não apenas que o tra-
paceiro nos faz rir, mas também que o mote das brincadeiras
pode aparecer nos lugares mais improváveis. Mike passa boa
parte do tempo ao ar livre e está sempre procurando por um
bloqueador solar que não irrite sua pele sensível. Um colega de
trabalho sugeriu que usasse Neutrogena FPS-45. Mike foi pro-
curar o produto em uma farmácia e numa loja de produtos es-
pecializados, mas não encontrou em nenhum dos dois lugares.
Talvez ele pudesse encontrar no hipermercado do centro
comercial, mas não quis ir naquela direção. “A repugnância que
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eu sentia pelo deprimente centro comercial parecia me repelir
de lá.”
E, assim, ele foi pra casa. No caminho, percebeu que havia
alguns sacos de lixo colocados no acostamento, oriundos do
trabalho de coleta anual durante a primavera. Todo ano, um
grupo de voluntários da região onde mora coleta lixo ao longo
da estrada depois que a neve derrete; como vivia perto da es-
trada, Mike costumava ajudar. Ao chegar em casa, pegou al-
guns sacos de lixo e caminhou pelo acostamento recolhendo
lixo, decidindo que faria a coleta até chegar à placa de “pare” na
outra esquina, cerca de um quilômetro depois.
“Quando cheguei à placa, encontrei um vidro inteiro de
Neutrogena FPS-45. Ele estava esperando por mim – literal-
mente – embaixo de uma placa de trânsito.”
O bloqueador solar estava vencido, então o trapaceiro deu
sua última risada. Mas a mensagem era clara. Ao seguir as pis-
tas – não dirigir para o centro comercial e render-se ao impulso
de participar da limpeza da estrada –, Mike recebeu a confirm-
ação sobre o produto, e deu uma boa risada.
Sincronicidades com o trapaceiro muitas vezes são camufla-
das em trocadilhos. Um dia, o produtor de cinema Rob McKen-
zie saiu do trabalho e foi dirigindo para casa, quando a música
“Solsbury Hill”, de Peter Gabriel, começou a tocar no rádio.
“Quando chegou o momento da letra em que ele canta ‘My
heart goin’ boom-boom-boom’ [Meu coração fez tum-tum-
tum], olhei para uma placa que nunca tinha visto na rua.
Estava escrito Ann Gina Boulevard.”
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Angina, obviamente, é um distúrbio cardíaco que provoca
dor no peito e batimentos irregulares. O trapaceiro estava de
fato zombando de McKenzie. Mas também poderia haver uma
mensagem mais obscura nessa sincronicidade. McKenzie
deveria fazer um exame.
Sincronicidades com o trapaceiro às vezes têm um lado som-
brio e, com frequência, são um alerta. Muitas vezes esses aler-
tas estão incorporados em outras experiências e situações; é
preciso estar atento aos detalhes para percebê-los.
Celeste Maia, de Portugal, relatou uma história sobre um
amigo de Moçambique que estava dirigindo quando um carro o
cortou. Ele percebeu que o número 19 se repetia na placa. Mais
tarde, naquele mesmo dia, encontrou um amigo que lhe contou
sobre o aniversário do filho, que fazia 19 anos. De diversas
maneiras, o número 19 continuou aparecendo no decorrer do
dia. No dia seguinte, o amigo de Celeste viajaria de avião. Só
havia os assentos 19A e 27F livres. Ele escolheu o 19A. Houve
um incêndio durante o voo, e o avião teve de fazer um pouso de
emergência. Quase todos a bordo morreram, exceto quem es-
tava sentado na fileira 19.
Se o homem não tivesse prestado atenção o suficiente no
primeiro 19 da placa do carro, talvez tivesse escolhido o 27F e
morrido no incêndio.
Durante sua exploração do mundo da sincronicidade, o tra-
paceiro pode se tornar uma companhia frequente. Ele é tão ad-
epto ao disfarce e à surpresa que é fácil pensar que você esteja
vivenciando um tipo de sincronicidade, quando, na verdade, o
trapaceiro está de dentes arreganhados do outro lado. Certa
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manhã, estávamos sentados numa mesa ao ar livre em um café
da região, conversando sobre as linhas gerais deste livro,
quando um homem mais velho se aproximou de nós. Ele nos
entregou um cartão que explicava que era surdo e vendia cha-
veiros. Nós compramos um e, nas costas do cartão, havia ilus-
trações da linguagem de sinais.
Quando voltávamos pra casa, seguindo a deixa do homem
surdo, falamos sobre a sincronicidade como uma língua de
sinais. Passamos pelo colégio local, onde a sinalização digital
na entrada noticiava uma aula em linguagem de sinais. Apon-
tamos para uma placa sobre linguagem de sinais enquanto
falávamos sobre linguagem de sinais, acrescentando mais uma
camada à sincronicidade. A princípio, interpretamos isso como
uma confirmação da nossa abordagem neste livro. Mas a con-
firmação era apenas um disfarce. Claramente, o trapaceiro es-
tava nos dando um sinal, chamando nossa atenção e
destacando que, antes de mais nada, o livro deveria ser
engraçado.
Quando o trapaceiro está sendo realmente malvado, ele
pode nos colocar frente a frente com uma faceta do nosso pas-
sado que nos provoca desconforto. As probabilidades envolvi-
das nesse tipo de sincronicidade geralmente são altas, e nossa
incredulidade faz que ignoremos o fato de que algo importante
está acontecendo.
O pai de Trish, Tony, contador aposentado, tinha quase 90
anos quando se mudou para uma residência de idosos na Geór-
gia, Estados Unidos, onde a irmã de Trish era chefe de enfer-
magem. Sua esposa, com quem fora casado por mais de
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cinquenta anos, morrera alguns anos antes. O Parkinson já
levara grande parte de sua mobilidade, e aquele era um mo-
mento bastante solitário para ele. Várias semanas depois de se
instalar, uma mulher com cerca de 80 anos passou pela
entrada. Descobriu-se que ela era uma antiga colega de classe
com quem ele estudara há mais de 70 anos, quando os dois
moravam numa pequena cidade em Illinois.
Trish ficou maravilhada com a sincronicidade, mas Tony
não se divertiu. “O universo tem um senso de humor retor-
cido”, disse ele. “Continuo não gostando dela.”
A mensagem? Talvez esteja mais visível nas palavras de
David Bohm: “Lá no fundo, a consciência da humanidade é
uma só”. Era algo que Tony desesperadamente precisava
aprender naquela fase de sua vida.
O trapaceiro-sombra
A Sombra, arquétipo que enfatiza o lado escuro da nossa per-
sonalidade, nos impulsiona a repetir tudo aquilo que tentamos
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evitar. Por exemplo, imagine uma pessoa de quem você de fato
não goste e não queira ver, mas continua a encontrando repeti-
damente, em situações e lugares improváveis. Sua resistência
parece atraí-la. É embaraçoso, irritante, talvez desagradável, e
você não consegue entender o que está acontecendo. “Quando a
sombra rouba o propósito de alguém e o utiliza para seu
próprio deleite, a sombra oculta é trazida para a luz do dia”, es-
creveram Combs e Holland em Synchronicity: science, myth,
and the trickster.
Quando atores representam personagens obscuros, eles
vivem essencialmente aquela realidade, ainda que por um curto
período de tempo. O palco é montado para que atraiam a sin-
cronicidade por meio do trapaceiro-sombra, às vezes com res-
ultados trágicos. Tome como exemplo o caso de Brandon Lee,
que morreu enquanto filmava uma cena de seu último filme, O
corvo.
Na cena em que Brandon foi morto, seu personagem, Eric
Draven, encontra a namorada sendo violentada por bandidos,
que depois matam os dois. Funboy, um dos vilões do filme, dis-
parou uma arma no personagem de Brandon enquanto ele en-
trava no apartamento carregando compras. A arma estava car-
regada com festim, mas havia um cartucho sem pólvora alojado
no cano, e a detonação de um festim foi suficiente para propeli-
lo pelo cano. Disparada à queima-roupa, a bala penetrou o
corpo de Brandon, matando-o.
O pai de Brandon, Bruce Lee, morreu sob circunstâncias
parecidas durante a gravação de um filme, ironicamente cha-
mado Jogo da morte, em 1978. Bruce Lee representava um
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personagem, morto por um tiro, que volta do mundo dos mor-
tos para se vingar. Para aumentar a ironia, Brandon também
morreu representando um personagem morto que volta do
além. Bruce Lee morreu aos 32 anos de idade, Brandon aos 28.
As duas mortes foram acidentais, mas consideradas muito
suspeitas.
Surpreendentemente, enquanto trabalhávamos neste
capítulo, em meados de 2009, fomos surpreendidos por uma
manchete de primeira página que dizia: “No set de filmagem,
estrela de Kung Fu e Kill Bill vivia pela espada”. A manchete re-
fletia a repetição do trapaceiro-sombra, e dessa vez envolvia o
ator David Carradine.
No início da década de 1970, Carradine atuou como um
monge enigmático chamado Kwai Chang Caine, um conhecedor
de artes marciais que geralmente terminava cada episódio deix-
ando alguém muito ferido. Em 2004, participou do elenco de
Kill Bill, de Quentin Tarantino, como chefe de uma família de
assassinos e hábil espadachim. A princípio, os noticiários dis-
seram que Carradine enforcara-se em um quarto de hotel em
Bangkok, onde gravava seu novo filme. Mais tarde, diversas
fontes relataram que ele deve ter morrido acidentalmente de-
pois que uma perigosa prática sexual deu errado.
O trapaceiro-sombra também esteve presente na morte do
ator Heath Ledger. Aos 28 anos de idade, ele já era uma lenda,
e concorrera ao Oscar por seu papel em Brokeback Mountain.
Ele havia acabado de gravar Batman – O cavaleiro das trevas,
em que representava o Curinga de maneira jamais vista.
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O filme se tornou o segundo na história a arrecadar mais de
500 milhões de dólares em bilheteria na América do Norte, e o
quarto a arrecadar mais de 1 bilhão de dólares no mundo todo.
Ledger ganhou um Oscar pelo papel. Mas, infelizmente, mor-
reu de uma overdose acidental de medicamentos seis meses
antes do lançamento do filme. Outro personagem sombrio,
outra morte. Ironicamente, Ledger estava interpretando o pa-
pel do próprio trapaceiro-sombra.
O que devemos fazer com essas sincronicidades com impac-
tos negativos? Uma das regras que domina a sincronicidade é
semelhante atrai semelhante. Muito embora os três homens
estivessem apenas representando papéis obscuros, vivenciaram
como era viver uma vida de violência e morte. Estavam tão en-
volvidos em seus papéis que atraíram as experiências reais que
os levaram à morte. Como Frank Joseph afirma em Synchron-
icity & you, “a sincronicidade, assim como a própria morte, não
tem nenhum respeito pelas pessoas”.
O ator britânico Joey Jeetun descobriu isso quando quase
morreu durante um ataque terrorista em Mumbai, na Índia, em
novembro de 2008. Ele estava num restaurante no centro fin-
anceiro quando os ataques começaram. Jeetun, cujo papel mais
famoso foi o de um terrorista, lembrou-se do evento no London
Times: “Eu estava coberto do sangue de outras pessoas.
Pensavam que eu tinha morrido.”
Essas sincronicidades às vezes são consideradas maldições.
Na verdade, a morte de Bruce e Brandon Lee foi chamada de “a
maldição do dragão”, porque o horóscopo chinês dos dois era
esse. No entanto, é certo que não foi a sombra da data de
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nascimento que provocou essas mortes trágicas. Foram suas
carreiras, sincronisticamente notáveis por filmarem atos de vi-
olência. Em última análise, o que pensamos é o que criamos.
Trapaceiros múltiplos
Sincronicidades repetitivas foram de grande interesse para o
biólogo austríaco Paul Kammerer. Ele costumava se sentar dur-
ante horas em lugares públicos, observando as pessoas ao redor
e tomando notas de quantas carregavam sombrinhas, por ex-
emplo, ou usavam determinados tipos de chapéu. Estudou
ocorrências repetidas de números, nomes, lugares, sonhos, le-
tras e desastres. Kammerer tratava sua pesquisa como biólogo,
dissecando e categorizando essas sincronicidades em séries de
primeira, segunda, terceira e alta categoria. Ele acreditava que
o fenômeno era um princípio objetivo da natureza, porém
desconhecido, e o chamou de “lei da serialidade”. Sua pesquisa
influenciou os primeiros pensamentos de Jung sobre a
sincronicidade.
Kammerer provavelmente se divertiria com o que aconteceu
com Tony Vigorito, autor de Nine kinds of naked, e provavel-
mente classificaria o ocorrido como uma sincronicidade de alta
categoria. Foi algo tão surpreendente que, quando aconteceu,
Tony não conseguiu entender. Começou com uma reunião
acidental de amigos na sua casa em novembro de 2004; todo
mundo apareceu sem ser convidado. Alguém levou uma garrafa
de vinho, outra, um violão. Logo depois, outro violão e uma
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gaita apareceram, além de salgadinhos. Todos se sentaram em
volta da lareira sobre um tapete oriental. A lenha estalava e
queimava enquanto eles comiam, bebiam, conversavam, riam e
tocavam algumas canções.
Em determinado momento, um artista tirou da bolsa um liv-
ro chamado Blue dog man [O homem do cachorro azul]. “Era
uma reunião dos trabalhos de George Rodrigue, cuja marca re-
gistrada era a inclusão de um cachorro azul em todas as suas
peças, um terrier/spaniel muito bonitinho, com olhos pedindo
amor e aprovação, aparentemente inspirado em sua falecida ca-
dela, Tiffany. O livro do cachorro azul passou na mão de todos,
e logo estávamos tentando imitar os olhos tristes e auspiciosos
de Tiffany.”
Mais tarde, naquela mesma noite, Tony abriu sua caixa de e-
mails. O assunto de uma mensagem enviada algumas horas
antes chamou sua atenção: “Olhos de um cachorro azul”. Intri-
gado, abriu a mensagem e leu comentários de alguém que tinha
lido algo que ele escrevera on-line. Para sua surpresa, não havia
nenhuma explicação sobre o assunto da mensagem. Ele correu
até o fim da mensagem e descobriu que a remetente se
chamava Tiffany, o mesmo nome da cadela de Rodrigue.
A credulidade de Tony chegou ao limite. Chamou os amigos,
que se juntaram em volta do computador e viram o assunto do
e-mail e o nome da remetente no final da mensagem. Todos
ficaram impressionados, confusos, até atônitos. Então, alguém
observou que a assinatura do e-mail de Tiffany parecia um re-
sumo da noite.
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“Boa atmosfera, bons amigos, boa conversa, bom vinho,
bons livros e o espaço intermediário.”
Tony respondeu a Tiffany, pedindo uma explicação e dando
um breve resumo do que havia acontecido naquela noite. No
dia seguinte, descobriu que ela nunca tinha ouvido falar de Ge-
orge Rodrigue ou da cadela Tiffany, mas que recentemente lera
um conto de Gabriel García Márquez chamado Olhos de cão
azul. Ela também escreveu que só havia conhecido o conceito
de sincronicidade um mês antes, em um de seus cursos sobre
psicologia. Um dia antes de escrever para Tony, ela chegou à
casa dos pais e encontrou a palavra SINCRONICIDADE escrita
em maiúsculas num quadro branco na cozinha. Seu pai, ao que
parece, ouvira falar em sincronicidade num programa de rádio
e escrevera a palavra para se lembrar de ler mais sobre o
assunto.
Tony levou seu notebook para a cafeteria de que mais
gostava e escreveu a história dos acontecimentos da noite an-
terior e do dia seguinte. “Vocês se surpreenderiam ao saber
que, enquanto eu estava lá escrevendo, ‘I am the Walrus’
começou a tocar no rádio?”
O GLOBAL
11 de setembro
Milhões de pessoas no mundo inteiro observaram, pela tele-
visão, os desdobramentos do desastre no World Trade Center
no momento em que acontecia. Durante semanas, o assunto
dominou a cobertura da imprensa. Depois do ataque, milhares
de sincronicidades pessoais foram registradas sobre os eventos.
Quando procuramos “sincronicidades 11 de setembro” no
Google [em inglês, “9/11 synchronicities”], encontramos
dezenas de milhares de sites, a maioria com histórias de sobre-
vivência que ilustram como as sincronicidades pessoais cos-
tumam estar envolvidas em acontecimentos de massa.
Três semanas antes do desastre do World Trade Center, es-
távamos visitando amigos na comunidade espiritualista de Cas-
sadaga, na Flórida. O médium Art Burley estava fazendo uma
leitura de Rob focada na carreira dele quando, de repente,
prendeu a respiração e olhou para cima. “Vejo duas grandes ex-
plosões vindo de cima, como bombas gigantescas. Acontecerá
logo e mudará tudo.” Aparentemente ainda pensando que fa-
lava sobre a carreira de Rob, acrescentou: “Poderia ser um
filme. É grande”. Obviamente não foi um filme; foi real. E as
bombas não foram uma metáfora para uma mudança na car-
reira, mas, sim, dois aviões comerciais transformados em bom-
bas ao atingirem o alvo.
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O escritor e biólogo britânico Rupert Sheldrake sentiu que
experiências psíquicas relacionadas ao 11 de setembro seriam
abundantes, e colocou um anúncio no jornal Village Voice e
pôsteres na Union Square, em Nova York, buscando sonhos e
premonições relacionados à tragédia. Ele recebeu 57 respostas:
38 envolviam sonhos precognitivos, e 15 eram relativas a pre-
monições. Cerca de um terço dos sonhos ocorreu na noite an-
terior ao desastre, e mais um terço durante os cinco ou seis dias
anteriores.
Sheldrake sentiu que as pessoas que responderam repres-
entavam uma fração daqueles que provavelmente vivenciaram
premonições relacionadas. Várias relataram sonhos com prédi-
os caindo, explosões em Nova York, queda de aviões em prédi-
os ou pessoas em pânico. As respostas que mais o impression-
aram vieram de pessoas que contaram para outras sobre os
sonhos antes do ataque terrorista, bem como premonições de
pessoas que raramente tinham a sensação de um presságio.
Mike Chirni, cientista forense que mora em Nova York, son-
hou que fazia um voo rasante sobre prédios na cidade de Man-
hattan. Todos no avião ficaram confusos. Ele teve uma forte
sensação de pânico, depois sentiu um impacto tremendo e
acordou.
Amanda Bernsohn, que trabalhava a três quarteirões do
World Trade Center, não entendeu por que não conseguia
parar de chorar na noite de 10 de setembro. Quando finalmente
dormiu, sonhou não com o World Trade Center, mas sim que
nazistas tomavam posse de Nova York. Perdeu a hora pela
primeira vez desde que conseguira aquele emprego, há oito
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meses, e foi acordada com o telefonema de um amigo logo de-
pois que o primeiro avião bateu na Torre Norte.
Não é de surpreender que um evento como o 11 de setembro
tenha reverberado com o tempo. Voltando para o início da
década de 1990, Vicki DeLaurentis, que morava nos arredores
da Filadélfia, participou de um retiro espiritual de um dia com
a terapeuta de vidas passadas Carol Bowman. Durante uma
meditação guiada com projeção no futuro, Vicki viu as torres
gêmeas pegando fogo e se desintegrando no chão. Não tinha
ideia de quando aquilo aconteceria, mas seu guia espiritual
garantiu que ela não estaria lá quando acontecesse. Durante
anos ela tentou descobrir o momento exato, e perguntou a to-
dos os paranormais que conhecia, mas nenhum deles tinha
qualquer pista de algo parecido.
Em 1997, Vicki e o marido se mudaram para Long Island, e
ela, então, começou a realmente se preocupar com o que vira
no workshop de Carol. Seu marido passou a trabalhar no ramo
petrolífero, e seus clientes trabalhavam no World Trade Center.
Ainda assim, o guia espiritual garantiu que ela estaria bem.
Em 2001, o marido de Vicki tinha uma reunião no WTC
marcada para 11 de setembro. Ele e Vicki pensaram que poderi-
am jantar, naquela noite, no Windows on the World, um res-
taurante no topo do World Trade Center. Vicki, que tinha medo
de altura, ficou incomodada com a ideia. No entanto, uma sem-
ana antes de 11 de setembro, a reunião do marido foi adiada
para o dia 12. “Se a primeira reunião não fosse remarcada, meu
marido estaria lá.”
171/299
Registrando premonições
Grupos de discussão para o registro de premonições sobre
catástrofes existem de uma maneira ou de outra desde o de-
sastre de Aberfan, em 1966, quando foi criado o Central Pre-
monition Registry [Centro de Registro de Premonições].
Naquele incidente, uma mina de carvão ruiu no vilarejo galês
de Aberfan, provocando uma avalanche que matou 144 pess-
oas, incluindo 116 crianças. O desastre atraiu a atenção do
mundo todo.
O dr. John Barker, um psicólogo britânico, suspeitou que al-
guns moradores dos vilarejos próximos poderiam ter tido
180/299
premonições desse acontecimento dramático. Ele fez algumas
entrevistas e recebeu 66 relatos. Destes, 24 foram confirmados.
Uma das premonições mais precisas veio de uma mulher de
47 anos de idade que sonhou com uma antiga escola em um vil-
arejo, uma mina de carvão galesa e uma avalanche de carvão
caindo pela encosta de uma montanha. Perto do pé da
montanha havia um garoto assustado. Ela viu uma tentativa de
resgate e percebeu que o garoto fora salvo. Um dia antes do de-
sastre, ela contou o sonho para seis pessoas na igreja.
Um ano depois do desastre, dr. Barker fundou a British Pre-
monitions Bureau [Agência Britânica de Premonições]. No ano
seguinte, Robert e Nancy Nelson fundaram uma organização
semelhante em Nova York, chamada Central Premonitions Re-
gistry [Centro de Registro de Premonições]. O nome atual é
Prophecies: Prediction and Premonition Registry [Profecias:
Registro de Predições e Premonições] e pode ser acessada pelo
endereço www.prophecies.us. Essas organizações reúnem rela-
tos de sonhos que podem predizer futuros acontecimentos que
teriam impacto sobre um grande número de pessoas de modo a
alertá-las a respeito de desastres prestes a acontecer. No ent-
anto, a maioria das premonições de desastres tende a ocorrer
um ou dois dias antes do evento, dificultando qualquer atitude
que poderia advir desses relatos.
PENSANDO GLOBALMENTE
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A mágica
ADIVINHANDO A
SINCRONICIDADE
O I Ching
O I Ching existe há pelo menos cinco mil anos, mas foi in-
troduzido ao público ocidental de maneira mais ampla em 1950
por meio da tradução de Richard Wilhelm, europeu que passou
a maior parte da vida traduzindo antigos textos chineses. O sis-
tema de adivinhação é baseado em 64 desenhos conhecidos
como hexagramas, formados a partir do arremesso de três
moedas seis vezes consecutivas. Originalmente, usavam-se os-
sos e, mais tarde, caules de milefólio.
Os hexagramas consistem de seis linhas horizontais, inter-
rompidas ou contínuas. Usando as moedas, caras (yang) valem
três pontos, e coroas (yin), dois. Portanto, duas caras e uma
coroa daria oito. Seis e oito são linhas interrompidas; sete e
nove representam linhas contínuas. Vejamos um exemplo de
hexagrama:
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Graça ou simplicidade?
Um cavalo branco chega como que voando.
Ele não é um salteador. Deseja cortejar no momento devido.
VOCÊ E O I CHING
Se não conhecer o I Ching e quiser experimentar, vá à
primeira livraria e procure uma das diversas edições ex-
istentes no mercado. Nossa predileta é a de Richard Wil-
helm. Outras traduções lutam para tornar o léxico da
vida chinesa antiga mais compreensível para os ociden-
tais. Leve sua tradução para a cafeteria, peça um café,
pegue três moedas e pense numa pergunta. Depois,
jogue as moedas e veja o que acontece. Ou procure no
Google por “jogar I Ching” para ver do que se trata.
A verdade é que o I Ching não é para qualquer um.
Alguns dos hexagramas que falam do papel da mulher
na antiga sociedade chinesa são nitidamente machistas
para os padrões atuais. Referências à colheita e à seca
não são representações tão reais da vida no século XXI,
a não ser que você trabalhe com agricultura. Porém, se
deixarmos de lado nosso viés ocidental e destilarmos a
essência dos hexagramas, podemos obter uma grande
sabedoria desse sistema divinatório. Ele é especialmente
bom para interpretarmos sonhos e a dinâmica de uma
situação em desenvolvimento.
As pessoas que usam esse sistema atestam regular-
mente sua misteriosa precisão. Ele funciona melhor se
estivermos acostumados a interpretar metáforas e fazer
associações. Às vezes, seguir o conselho do I Ching pode
ser um ato de fé.
198/299
Astrologia
199/299
Como ferramenta de adivinhação, a astrologia é tão rica e com-
plexa quanto o I Ching. Em vez de varetas de milefólio ou
moedas, ela é baseada nos padrões e movimentos dos corpos
celestes em determinado momento. O mapa astral é um dia-
grama geométrico dos céus visto do lugar e no momento do
nascimento; é determinado pela data, hora e lugar de nasci-
mento e parece um círculo com doze seções desiguais. Essas
seções são chamadas casas e retratam diferentes áreas da vida:
pessoal, financeira, sobre irmãos e vizinhos, família, parceiros e
assim por diante. Assim como o ato de atirar moedas no I Ch-
ing é um instantâneo do tempo, o momento em que respiramos
pela primeira vez marca esse instante. O mapa astral, como um
hexagrama, forma um padrão significativo, um esquema de po-
tencial arquetípico.
Muitos educadores e cientistas famosos descartam a astrolo-
gia como uma superstição do passado, e encaram a astronomia
como a ciência dos corpos celestes. No entanto, o pai da astro-
nomia moderna, Galileu Galilei, também era astrólogo. Ele foi
atacado pela Igreja por conta de suas predições astrológicas,
bem como pelos cálculos astronômicos, e passou boa parte da
vida em prisão domiciliar.
Apesar dos esforços com o passar dos séculos para negar a
astrologia, ela continua sendo um meio vibrante para a análise
de personalidades e relações – e para a predição do futuro. Al-
guns cientistas, na verdade, ficaram atônitos com sua precisão.
Em 1950, o estatístico francês Michel Gauquelin planejou
provar que as posições de nascimento das estrelas e planetas
não exerciam absolutamente nenhuma influência sobre o
200/299
desenvolvimento futuro das pessoas. Porém, ficou consternado
quando suas próprias estatísticas mostraram que ele estava er-
rado, com a probabilidade de cinco milhões para um,
mostrando que grandes soldados, líderes militares e comand-
antes tendiam a ter o ascendente de seus horóscopos em Marte.
Muitos tipos de astrologia podem ser usados para tratar de
padrões que atuam na sua vida neste momento – ou padrões
que podem influenciar sua vida daqui a seis meses ou 50 anos.
Os trânsitos, movimentos diários dos planetas, exercem o efeito
mais óbvio e imediato, sobretudo quando planetas que se
movem lentamente, como Plutão, Netuno e Urano, estão en-
volvidos. Quanto mais tempo um planeta permanece em de-
terminado signo, maior o impacto exercido sobre nós como in-
divíduos, sociedade, país e mundo.
“Em termos junguianos, a evidência astrológica sugere que o
inconsciente coletivo está, em última análise, incorporado no
próprio macrocosmo, e que os movimentos planetários são um
reflexo da dinâmica arquetípica da experiência humana”, escre-
veu Richard Tarnas em Cosmos e Psyche: intimations of a new
world view. Tarnas, assim como Grasse, acredita que esses ar-
quétipos planetários estão intimamente conectados ao mito.
Tomemos Marte como exemplo. Na mitologia, Marte era o
deus romano da guerra. Na astrologia, ele simboliza a energia
física e sexual, os impulsos, a agressividade, a fúria e o conflito.
Representa nossa capacidade de ir atrás do que desejamos,
conquistar e defender. Quando Marte atinge um dos planetas
ou pontos sensíveis no seu mapa astral, algo acontece. A
201/299
natureza do que acontece depende de onde ou o que Marte at-
ingiu e do ângulo que ele faz com o planeta ou casa.
Digamos que Marte esteja se movendo pelo céu
(transitando) e atinja o mesmo ponto no zodíaco onde o Sol es-
tava posicionado no momento do seu nascimento. O Sol é o ar-
quétipo do eu e simboliza a totalidade de quem você é. Durante
as cinco ou seis semanas em que Marte fica acima do seu sol,
sua vida se torna um estudo no caos, na velocidade e na ação.
Tudo que seu arquétipo solar exemplifica se torna mais evid-
ente, óbvio, urgente. Talvez você até se sinta mais batalhador.
O zodíaco consiste de doze signos, e cada um deles contém
três graus. O grau que o Sol ocupava no momento em que você
nasceu provavelmente corresponde a um ano na sua vida em
que algum tipo de experiência transformadora aconteceu – o
nascimento de um irmão, uma mudança, o divórcio dos pais ou
um novo casamento, um acidente, doenças ou algum outro
acontecimento determinante. O tempo não é sempre exato –
aumente uma margem de seis meses para a frente ou para trás.
Trish, cujo Sol está a 16 graus e 12 minutos de Gêmeos, passou
por um acontecimento determinante cinco meses depois do seu
aniversário de 16 anos. Seus pais se mudaram da Venezuela,
onde ela nasceu e cresceu, para os Estados Unidos. Naquele
ano, ela também descobriu a astrologia, o que ajudou a en-
tender as ramificações da mudança.
Se seu Sol está posicionado, digamos, a 25 graus do seu si-
gno, você deve encontrar seu cônjuge aos 25 anos, ou talvez
nasça seu primeiro filho. Se está a 8 graus, poderia significar
que seus pais se divorciaram quando você tinha oito anos, ou
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que você foi aceito numa escola para superdotados e isso influ-
enciou o resto da sua educação.
No mapa astral de Reya, o Sol está a 24 graus e 58 minutos
de Aquário (faltando dois minutos para 25 graus). Quando
Trish viu esse mapa pela primeira vez, perguntou-lhe que
acontecimento de grande importância tinha ocorrido entre os
25 e 26 anos. Há exatos doze dias antes de ela completar 26
anos, Reya foi atingida por um trem e ficou inconsciente quatro
dias. “Esse acontecimento me retirou de um estilo de vida
muito destrutivo e foi o responsável pelo meu primeiro contato
com a medicina alternativa”, escreveu ela. “Seria isso?” Pode
apostar.
Se você não sabe o grau do seu Sol, entre no site
www.astro.com (em inglês) para uma versão gratuita do seu
mapa astral. Localize o Sol – seu símbolo parece um círculo
com um ponto no centro. Perto dele você verá números que in-
dicam o grau do signo no qual seu Sol de nascimento está local-
izado. Se você nasceu no dia 14 de outubro de 1950, por exem-
plo, seu Sol estaria a 20 graus de Libra. Isso significa que deve
ter havido um momento determinante na sua vida quando você
estava mais ou menos com 20 anos de idade. Aumente seis
meses para cima ou para baixo. Caso ainda não tenha atingido
a idade correspondente ao seu Sol natal, tenha em mente que
algum evento determinante pode ocorrer quando você chegar a
essa idade.
Em Cosmos and Psyche, Richard Tarnas afirmou que o
trânsito de Urano – planeta da inovação, genialidade e aconte-
cimentos repentinos – parece coincidir com períodos de grande
203/299
descoberta e criatividade. Tanto para Freud quanto para Jung,
seus períodos de maior criatividade e inovação aconteceram
quando Urano estava no oposto das posições que ocupou na
data de nascimento deles. Durante esses períodos, tornamo-
nos conscientes de nossa mortalidade e dos anos que ainda
temos no planeta. Buscamos liberdade. Galileu, Descartes e
Newton também vivenciaram reviravoltas monumentais dur-
ante as oposições de Urano. Todos esses homens, segundo
Tarnas, “terminaram suas obras revolucionárias quando o
trânsito estava em seu pico matemático, em um ou dois graus
de alinhamento exato, algo que, com esse trânsito, ocorre em
sua totalidade durante aproximadamente doze meses no decor-
rer de uma vida inteira”.
Já parou para pensar por que alguns alunos do ensino médio
ou da faculdade são tão rebeldes? Culpe Urano. Essa é a idade
em que o trânsito de Urano forma um ângulo desafiador com
sua posição natal. Quando Maria (que você conheceu no
capítulo 5) foi detida por conta do teste de embriaguez, Urano a
influenciava de uma maneira que pode indicar eventos caóticos
e perturbadores, que parecem acontecer do nada.
Se você se interessa pela astrologia como técnica de adivin-
hação, encontrará muitos sites que fazem mapas astrais gratui-
tos, com listas dos trânsitos diários, e explicam o que tudo isso
significa. Se busca respostas rápidas, a astrologia pode ser des-
encorajadora. No entanto, sua linguagem, assim como a do I
Ching, pode fornecer uma quantidade surpreendente de in-
formações, caso queira ir atrás delas.
204/299
Tarô
Enquanto o I Ching tende a usar muito das palavras e a astrolo-
gia é uma linguagem simbólica, o tarô é assombrosamente
visual. Suas 78 cartas são divididas em duas seções, conhecidas
como arcanos maiores e arcanos menores. As 22 cartas que
compõem os arcanos maiores representam arquétipos, espe-
cificamente aqueles de uma evolução na consciência. O Louco,
a primeira carta dos arcanos maiores, simboliza um ponto
máximo, uma euforia intensa oriunda do conhecimento de que
estamos todos conectados a algo maior do que imaginamos. O
Louco é a Pocahontas quando canta sobre a cor do vento, e rep-
resenta o início da magnificente jornada diante de nós. A úl-
tima carta, O Mundo, encerra a jornada do Louco e sugere que
o objetivo foi atingido. Agora você é o sábio, o mestre. As outras
56 cartas, os arcanos menores, representam os detalhes sin-
crônicos da vida e os passos ao longo do caminho, desde o Lou-
co até o Mundo.
Robert Hopcke relata uma história engraçada sobre uma de
suas clientes que ganhou de aniversário um baralho de tarô.
Primeiro, ela usou o baralho com uma atitude do tipo “me dê
uma resposta”. Um dia, recebeu uma resposta que não gostou,
e jogou as cartas de novo, mas todas saíram invertidas, “quer
dizer, voltadas para o outro lado, como se não quisessem falar
com ela. Em sincronicidades como esta, chega a parecer que as
cartas têm vontade própria”, escreve Hopcke.
Logo depois do 11 de setembro, Phyllis Vega, coautora do liv-
ro Power Tarot, escrito com Trish, afirmou que praticamente
205/299
todos os clientes para quem lia o tarô pareciam tirar a Torre.
Essa carta em geral retrata uma torre sendo atingida por um
raio. Há fumaça saindo das janelas, pessoas caindo ou pulando,
e tudo é escuro, feio, terrificante. Se há uma carta que retrate o
cenário do 11 de setembro, é esta. Nos meses que se seguiram
ao desastre, os arquétipos de destruição, caos e morte se incor-
poraram a nossa psique enquanto nação. A carta da Torre refle-
tia isso.
Sempre que você tirar a Torre em uma leitura pessoal, o ar-
quétipo geralmente aponta para o caos – mas não para a
destruição e para a morte no sentido físico. Com frequência, o
caos nos pega de surpresa. Digamos que você tire a cara da
Torre diversas vezes nos dias que antecedem suas férias – e ela
aparece quando suas perguntas não têm nada a ver com férias.
Ela pode indicar problemas com a viagem; então, seria in-
teressante verificar novamente o itinerário e a passagem, ir
para o aeroporto mais cedo que o habitual e certificar-se de que
pegou tudo que é necessário. Se o trajeto até o aeroporto for
longo, verifique se seu carro está preparado – se trocou o óleo,
se o tanque está cheio, se está tudo bem com o motor.
O tarô, assim como a astrologia e o I Ching, provavelmente
não é o sistema mais simples de adivinhação. Se quiser se en-
volver de maneira mais rápida com as sincronicidades, tente a
esticomancia.
VOCÊ E O TARÔ
206/299
Para se familiarizar com o tarô, pegue uma carta toda man-
hã para ter uma ideia do seu dia. Comece usando somente
os arcanos maiores. Deixe que a imagem fale com suas
partes mais profundas, depois confira suas impressões com
os significados no livro do tarô. Quando aprender o signi-
ficado das cartas, use o baralho inteiro.
Digamos que sua carta do dia seja o Carro. Isso pode
significar que, mais tarde, você talvez pegue a estrada –
para passear ou para voltar do trabalho para casa. Também
pode querer dizer que uma questão ou situação chegará ao
ponto crítico e você triunfará.
Você também pode “abrir” uma carta ao retirar uma se-
gunda para obter mais informações. Se tirar o três de copas
com o Carro, por exemplo, então seu dia será repleto de
celebração.
É importante ter um tarô que dê significados para as
cartas fáceis de entender.
Esticomancia
Este método é simples e fácil – e impressionantemente preciso.
Pense em uma pergunta ou questão que seja do seu interesse.
Mantenha-a na mente, abra um livro aleatório, aponte para um
lugar qualquer na página. Veja se a palavra ou frase onde seu
dedo encostou o ajuda a responder sua pergunta.
Pode ser qualquer livro – um dicionário, a Bíblia ou outro
texto religioso, os Contos de Grimm, seu romance predileto,
207/299
um livro de não ficção e até mesmo uma revista. Quanto maior
o livro, mais respostas possíveis você terá. A simbologia da
fonte usada também deve ressoar em você. Em outras palavras,
se não conhece tanto a Bíblia, então provavelmente não é o liv-
ro certo a ser usado. Você também pode tentar fazer isso on-
line, navegando em muitos dos sites que fornecem leituras por
esticomancia.
Digamos que você adore contos de fadas e esteja familiariz-
ado com a simbologia dessas histórias. Pense na sua pergunta
e, abra um livro dos irmãos Grimm aleatoriamente; depois, de
olhos fechados, encoste o dedo em um ponto qualquer da pá-
gina. É provável que a palavra, frase ou expressão localizada
pelo seu dedo diga algo a respeito da sua pergunta. Para ter
mais informações, observe o conto em particular.
Talvez você pergunte aonde está indo um relacionamento
amoroso e aponte a palavra “pensar” na história sobre o lobo
mau. Isso poderia ser uma indicação de que é preciso repensar
a relação, porque algo na pessoa amada pode estar te en-
ganando. Os valores da pessoa devem estar distorcidos de al-
guma maneira.
Suponha que você pergunte se receberá uma promoção que
deseja e aponte para um espaço em branco no conto Branca de
Neve. Isso pode sugerir que a resposta ainda é desconhecida,
ou que sua promoção acontecerá no inverno. Se obtiver uma
resposta ambígua, tente novamente e formule a pergunta de
outra maneira. Ou, quando apontar para uma palavra, leia toda
a frase ou parágrafo. Se escolheu uma frase em que a Branca de
Neve fura o dedo com a agulha e três gotas de sangue caem
208/299
sobre a neve, isso pode querer dizer que você terá notícias da
promoção em três minutos, dias ou semanas, ou durante os
meses de inverno.
Um dicionário talvez seja a maneira mais rápida de espiar a
ordem envolvida na sua vida. Por exemplo, Rob fez a pergunta:
“Quais são os benefícios da adivinhação?”. Abriu então o di-
cionário e colocou o dedo numa página qualquer. As palavras
em que seu dedo encostou foram: “Desejar ardentemente ou
intensamente”. Uma resposta razoável. Ao procurar uma pista
para o futuro, em geral queremos um resultado específico. A re-
sposta pode até revelar um pouco de humor ou ironia, como se
o universo estivesse dizendo que a adivinhação não passa de
um devaneio. Mas, então, de onde vem essa resposta?
Se você estiver no consultório de um médico ou dentista e
precisar de uma resposta imediata, escolha a revista mais
grossa que encontrar. Abra-a e aponte. Se seu dedo encostar
em uma propaganda, veja se há alguma palavra, imagem ou
produto que lhe diga alguma coisa. Se não, tente novamente e
reformule a pergunta de maneira mais específica.
O oráculo interior
A beleza dos sistemas de adivinhação é o fato de haver muitos.
Todos têm princípios semelhantes e podem nos levar ao
mesmo lugar: um ponto de conexão entre o mundo interior e o
exterior, o espaço intermediário.
209/299
Se você gosta de cores, pense em criar seu próprio oráculo
com quadrados coloridos feitos de cartolina ou papelão. As
cores, assim como as imagens no tarô, refletem significados ar-
quetípicos. No entanto, há uma diferença sutil. A cor é imedi-
ata, familiar, está em todos os lugares. Ela nos afeta constante-
mente e, por isso, serve como o oráculo ideal.
É importante que todos os quadrados sejam do mesmo
tamanho e que as cores estejam visíveis somente de um lado.
Dessa forma, você pode misturar e escolher os quadrados sem
saber que cores está escolhendo. Atribua significados às difer-
entes cores. Comece com as três primárias, vermelho, azul e
amarelo; depois, preto e branco. Acrescente mais cores – roxo
ou violeta, dourado, laranja e verde, também atribuindo-lhes
significados. Reúna de 12 a 15 cores e dê significado a todas.
Se não tiver certeza sobre o significado de cada uma, procure
sugestões na internet. As cores têm associações psicológicas,
culturais e pessoais. Escolha aquelas que lhe são apropriadas.
Vejamos algumas interpretações possíveis, retiradas de The
rainbow oracle: the book of color divination, que Rob escreveu
com Tony Grosso.
1 2 3
OBSTÁCULO NO CAMINHO
1 2 3 4
ESQUEMA DA ASTROLOGIA
1 2 3 4 5 6
ESQUEMA DA ASTROLOGIA
7 8 9 10 11 12 13
O que
Recursos Visão
Parcerias Viagem Carreira Amigos está
compartilhados geral
oculto;
212/299
resumo
da
pergunta
Melro
É hora de socializar. Talvez você precise pesquisar bastante
para ter a informação de que precisa, e o primeiro lugar para
começar é com outras pessoas. Alguém no seu círculo de con-
hecidos pode ter as habilidades ou o conhecimento para ajudar.
Gavião
225/299
Conhecido também como ave de rapina, os gaviões ou abutres
servem para livrar o ambiente dos restos mortais de animais. O
que você precisa limpar na sua vida? Quais são os pontos não
resolvidos que precisam ser amarrados?
Canário
Os mineiros levam canários para as minas para que lhes deem
alertas sobre gases perigosos no ar. O surgimento de um can-
ário pode significar um alerta. Anote os detalhes da sua visão
ou do sonho com esse pássaro. Não julgue as pessoas pela
aparência.
Condor
Ver esse pássaro ameaçado de extinção indica que você precisa
enxergar a situação de maneira mais ampla. Mas não se
coloque em perigo para obter essa perspectiva mais ampla.
Gralha
Acredita-se que a gralha, assim como seu “irmão” corvo, trans-
mite mensagens entre os mortos e os vivos, além de estar ligada
ao nascimento e ao renascimento e ser associada ao xaman-
ismo. Quando há um encontro sincrônico com um corvo, isso
pode significar que você deve trabalhar de maneira mais dili-
gente na manifestação dos desejos. Além disso, tente ser mais
aberto ao conceito de reencarnação.
226/299
Pomba da paz
Você não está só procurando uma relação compromissada, mas
sim uma alma gêmea. Associamos esses pombos à paz. Port-
anto, se vir um e estiver preocupado com uma questão
amorosa, essa aparição pode indicar que o problema será
resolvido pacificamente.
Águia
Ver esse pássaro nos encoraja a usar a intuição. Assim como a
águia, há algo de magnificente em você e na maneira como faz
as coisas. Você gosta da companhia dos outros, mas uma pess-
oa do seu círculo pode estar com uma reputação melhor do que
de fato merece. Você está pronto para ver a situação como um
todo – ter a visão de um pássaro, do alto.
Falcão
Graça e agilidade são seus pontos fortes. Você procura uma
perspectiva mais ampla. Saia e socialize, não seja tão solitário.
Esteja alerta para práticas predatórias.
Beija-flor
Há uma viagem de longa distância no seu futuro, bem como
alegria, celebração e amor. A sincronicidade com esse pássaro
em geral aponta para algo positivo.
Coruja
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Através do tempo, das fronteiras e das culturas, a mitologia e o
folclore sobre as corujas envolvem extremos. Elas já foram con-
sideradas arautos da morte e da cura, do mal indizível e da
grande sabedoria. Na tradição celta, simbolizam o submundo.
Os zulus a consideram o pássaro dos feiticeiros. No Peru, são ti-
das como fortes xamãs. Entre os aborígenes da Austrália,
acredita-se que sejam a alma das mulheres. Na Sibéria, é con-
siderada um espírito generoso.
A longa tradição das corujas como mensageiras é linda-
mente ilustrada nos livros e filmes de Harry Potter. Você se
lembra das primeiras cenas do primeiro filme? Algumas coru-
jas entram voando no salão principal e jogam cartas para os
estudantes. Literalmente, são como carteiros que atravessam a
fronteira entre o mundo normal e o mundo mágico de Hog-
warts. Em muitas tradições xamãs, acredita-se que as corujas
transitem entre o mundo dos vivos e dos mortos com
facilidade, sentindo-se em casa em ambos.
Não é raro que as corujas sejam vistas como arautos da
morte. Uma tarde, Trish viu uma coruja pousada na cerca do
lado de fora da janela do quarto do seu pai. Na época, ele tinha
por volta dos 90 anos, era portador de Parkinson e lutava para
aceitar o fato de que sua esposa, casada com ele há 50 anos, es-
tava numa clínica para tratamento de Alzheimer.
Trish saiu para ver o pássaro mais de perto. Era uma coruja-
buraqueira, uma espécie em extinção que faz ninhos subter-
râneos. Ela não voou quando Trish se aproximou, provavel-
mente porque, como Trish percebeu, faltava uma parte da pata
esquerda. Aquilo a confundiu. Seu pai tinha ambas as pernas, e
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usava uma bengala para se apoiar. Se a coruja simbolizava a
morte iminente do pai, o que queria dizer a ausência da perna?
Na manhã seguinte, Trish recebeu uma ligação da clínica
para tratamento de Alzheimer onde sua mãe morava, e alguém
lhe disse que ela quebrara o lado esquerdo da bacia. A coruja
não tinha uma parte da perna esquerda. Por causa do
Alzheimer, a mãe de Trish não poderia ser submetida a uma
cirurgia. A alternativa foi o uso de morfina e repouso. Três se-
manas depois, sua mãe faleceu.
Cisne
Cisnes passam a vida toda com um único parceiro. Ver essa ave
sugere que você deve confiar no processo. Um romance pode
rapidamente se tornar um compromisso para a vida toda.
Formiga
Você está inquieto, impaciente. Seu cronograma está apertado
e você corre o risco de se tornar um trabalhador compulsivo. Se
ama o que faz, tudo bem. Talvez sinta que está trabalhando por
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um bem maior. Do contrário, a mensagem da formiga pode in-
dicar uma necessidade de avaliar sua situação de trabalho.
Abelha
A mensagem específica depende do tipo de abelha. A abelha
produtora de mel simboliza generosidade, trabalho em equipe e
leveza de espírito. Já a mamangava ou o zangão representam
comunicação e cura.
Borboleta
Ver uma borboleta pode anunciar uma transformação, ressur-
reição ou renascimento de algum tipo. Espere mudanças pro-
fundas na vida, nos relacionamentos, na carreira, na família ou
outra área.
Lagarta
Assim como a borboleta, lagartas estão ligadas à transform-
ação. Sua vida está prestes a passar por uma mudança que lhe
permitirá romper com as estruturas e mostrar quem você real-
mente é.
Libélula
Boas notícias estão a caminho. Essas lindas criaturas geral-
mente simbolizam boa sorte.
Vaga-lume
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Você está em busca da verdade. Seu esplendor interno ilumina
a escuridão e aumenta a atenção; seu brilho talvez até atraia o
parceiro ideal.
Joaninha
Ver uma joaninha sugere boa sorte, transformação e alegria.
Ela nos incita a prestar atenção à vida familiar e a consider-
ações espirituais.
Aranha
Aguarde ansiosamente por um período extremamente criativo.
Camuflagem e paciência também podem lhe ser úteis.
Vespa
Esse inseto representa independência e autoconfiança. Se uma
vespa picá-lo, talvez seja o momento de pensar onde e como vo-
cê se machucou na vida. Cure a ferida com o perdão.
Lagarto
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Esse animal lembra que devemos nos acalmar, observar e nos
camuflar. Deixe que as pessoas se aproximem.
Cobra
Sua sexualidade está aguçada. E, talvez paradoxalmente, sua
espiritualidade também. Ao livrar-se de relações, crenças e
situações que não são mais do seu interesse, seu poder pessoal
cresce.
Tartaruga
Diversas oportunidades estão no seu caminho. Passe um tempo
analisando-as. Siga seus instintos sobre a escolha da opor-
tunidade certa pra você.
Gato
Os gatos trazem uma mensagem de que seus hábitos de sono
estão prestes a mudar. Talvez durma mais durante o dia, deix-
ando a noite para a exploração e o trabalho criativo. Ou talvez
comece a trabalhar no turno da noite. Mais independência e
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solidão são benéficas nesse momento. Não se preocupe com o
que os outros pensam.
Veado
Veados são há muito tempo associados à graça e à camuflagem.
Quando um aparece sincronicamente na sua vida, pode signifi-
car que você precisa aceitar uma situação ou relação. Para
Jenean Gilstrap, uma sincronicidade que envolve um veado
trouxe à tona a necessidade de terminar uma relação.
“Há alguns anos, no meio de uma relação pessoal cósmica e
fantástica, eu estava questionando a lógica e a validade de lhe
dar continuidade, independentemente do quanto quisesse
continuá-la.”
Até certo ponto, Jenean sempre soubera que chegaria o mo-
mento de decidir se ficaria ou iria embora. Ela lutava diaria-
mente com a questão. “Um dia, pela manhã, enquanto fazia o
longo trajeto até o trabalho, comecei um novo diálogo mental –
ir ou ficar, ficar ou ir –, e mentalmente pedi um sinal do que
deveria fazer, alguma coisa, qualquer coisa, que me ajudasse a
ver as coisas de maneira mais clara.”
Com esse pensamento, enquanto dirigia pela pista da es-
querda de uma estrada de quatro pistas em uma área comer-
cial, ela olhou para o lado rapidamente. Depois olhou nova-
mente. “Lá, bem diante de mim, estava a cara de um veado, ol-
hando bem nos meus olhos. Sua cabeça estava bem na altura da
minha, e ele olhou bem nos meus olhos enquanto passava na
minha frente até pisar no canteiro.”
235/299
Parecia tão surreal que Jenean tinha certeza de ter ima-
ginado. Logisticamente, era impossível que um veado estivesse
na sua frente enquanto dirigia na pista da esquerda com outro
carro paralelo na da direita. Mas ela olhou pelo retrovisor e viu
o veado saltando o canteiro.
A mesma conversa mental passou de novo na cabeça de
Jenean enquanto ia para o trabalho alguns dias depois. Na
noite anterior, sonhara que o namorado tinha morrido, e o viu
dentro do caixão. “Daí, enquanto eu dirigia com a imagem
mental daquele caixão na cabeça, ainda questionando, pedindo
um sinal como garantia, passei pelo mesmo lugar na estrada
onde o veado pulara na frente do meu carro. Lá, no acosta-
mento, havia um veado morto. Uma fêmea.”
Poderia ser mais clara a mensagem? Jenean terminou o
relacionamento logo depois.
Cachorro
O rabo abanando, as lambidas molhadas quando você chega na
porta de casa... Os cães simbolizam a aceitação e o amor incon-
dicional. Sem dúvida, muitos de nós acreditam que nossos cães
nos entendem melhor que os seres humanos. Como outros ani-
mais, eles também servem de oráculos, de veículos para sin-
cronicidades e transformações.
Um dia, indo para o trabalho, Vivian Ortiz, enfermeira de
uma emergência psiquiátrica em Savannah, viu uma cadela
perambulando no meio do trânsito. Magra e confusa, estava
pronta para ser morta entre os carros velozes. Ela parou e
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persuadiu a beagle mestiça a entrar no carro e a levou ao veter-
inário. Vivian acabou adotando-a, deu-lhe o nome de Sister e
ficou maravilhada ao ver que a cadela errante imediatamente
se dera bem com seus gatos.
Um ano depois, Vivian, que mora sozinha, estava indo para
o trabalho e viu outro cão na mesma situação, na mesma es-
trada; de novo, parou e colocou o animal no carro. Um sem-
teto das redondezas gritou em agradecimento por ela ter feito a
coisa certa. O cachorro era um mestiço de beagle, macho.
Agora, Sister e Brother são os melhores amigos e fazem com-
panhia um para o outro enquanto Vivian está no trabalho. Do
ponto de vida desses cães, Vivian serviu como um oráculo, um
símbolo de transformação para a vida deles. Em troca, o amor
incondicional deles por Vivian enriqueceu sua vida.
Golfinho
Golfinhos pedem que se preste atenção à espiritualidade e às
fantasias. Dessa vez, você conseguirá o máximo dentro de um
grupo ou trabalhando com uma equipe de pessoas com ideias
afins. De alguma maneira, você está protegido. Por ora, sexo só
por diversão.
Rato
O diabo mora nos detalhes, como diz o ditado. Ver um rato é
um lembrete para ligar os pontos e guardar algo para o futuro.
Mas não acumule tanta coisa a ponto de se atolar.
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Esquilo
Esquilos representam a comunicação. Eles também podem
aconselhar desenvoltura, necessidade de estocar algo ou um
planejamento para o futuro.
Encontros casuais
Um encontro improvável ajudou o autor Richard Bach a
descobrir uma parte que faltava numa rara aeronave. Conforme
relata Bach em Nada por acaso, em 1966 ele estava percor-
rendo o meio-oeste dos Estados Unidos num raro biplano, um
Detroit-Parks P-2A, de 1929; somente oito foram fabricados.
Em Palmyra, Wisconsin, Bach passou o comando do avião para
um amigo que, durante a aterrissagem, virou a aeronave com
um movimento brusco. O dano foi mínimo, e os dois
240/299
conseguiram consertar tudo, exceto um amortecedor. O reparo
parecia impossível, pois era uma peça sob medida.
Naquele momento, o proprietário de um hangar se aprox-
imou deles, perguntou se poderia ajudar, e lhes disse que po-
diam levar qualquer uma das peças armazenadas em seus três
hangares. Quando Bach descreveu a rara peça de que precisava,
o homem caminhou até uma pilha de sucata perto dele e apon-
tou exatamente para a peça.
Bach concluiu: “A probabilidade de o avião quebrar em uma
cidadezinha onde morava um homem que tinha a peça ne-
cessária para o conserto, fabricada há 40 anos; a probabilidade
de ele estar por perto quando o avião enguiçou; a probabilidade
de conduzirmos o avião para bem perto do hangar dele, a três
metros de distância da peça que precisávamos; a probabilidade
era tão pequena que ‘coincidência’ seria uma resposta idiota”.
Esse tipo de experiência é exatamente o que pode acontecer
quando saímos da nossa rotina. Livres da necessidade de
cumprir horários, trabalhar oito horas por dia, cozinhar, colo-
car o lixo para fora, levar as crianças para a escola e depois
apanhá-las, abrimos amplamente os braços para agarrar o que
quer que esteja no caminho. De repente, a lei da atração fun-
ciona perfeitamente.
DICAS DE VIAGEM
241/299
A PRÁTICA DA MANIFESTAÇÃO
A manifestação é um dos aspectos mais desafiadores da
lei da atração. O processo foi descrito em diversos livros,
mas a essência é simples: conseguimos aquilo sobre o
qual nos concentramos. Com muita frequência,
concentramo-nos na falta, e não na abundância. Ol-
hamos para o copo como meio vazio.
Quando viajamos, a manifestação se torna mais fácil.
Nossas necessidades costumam ser imediatas e ur-
gentes, e somos capazes de superar nosso pensamento
habitual. Nossos desejos nos transcendem a uma velo-
cidade tão alta que nossa psique sequer tem a chance de
construir obstáculos.
Veja algumas dicas para ampliar suas habilidades de
manifestação, em casa ou na estrada:
A última jornada
As sincronicidades costumam ocorrer durante momentos de
grandes transições. Uma dessas transições é a última jornada
que fazemos: a morte.
Você já ouviu as histórias: relógios que param no momento
da morte, o comportamento estranho de um animal de estim-
ação nos dias ou semanas antes de o dono morrer, a visão
259/299
aparentemente aleatória de um corvo ou coruja antes da morte
de uma pessoa querida. Às vezes, as flores murcham e perdem
as pétalas, um jardim fica marrom, aparelhos quebram sem
nenhum motivo, e todas as músicas que você escuta no carro
são sobre a morte. Você sente. Essas ocorrências sincrônicas
podem se multiplicar quando a morte se aproxima de alguém
que você ama. É como se o universo estivesse tentando alertá-
lo e prepará-lo psicológica, emocional e espiritualmente.
Sincronicidades associadas à morte também se manifestam
em impulsos, pressentimentos, visões e sonhos. Você pode sen-
tir, por exemplo, o impulso de entrar em contato com alguém
que não vê há algum tempo e descobrir que a pessoa morreu
exatamente no momento em que pensava nela. Se estamos to-
dos conectados, como acreditam os místicos, então a inform-
ação sobre a morte iminente de uma pessoa querida está
disponível a todos nós. Mas é preciso estar aberto para en-
tender como esse tipo de informação pode surgir no caminho.
ENTRE EM CONTATO
267/299
A era da transformação
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Nesta era, as respostas podem chegar como um passe de má-
gica. Você sabe quem é e quem quer se tornar. Está no caminho
certo, na hora certa. A sincronicidade é sua melhor amiga, e
suas mensagens agem como uma bússola. Na era da transform-
ação, você se concentra facilmente nas suas intenções e desejos,
e convida a sincronicidade para sua vida. Na era da transform-
ação, você conclama o divino.
Esse é o ideal. Mas, para chegar lá, é preciso que você
aprenda a se fazer perguntas, a definir seus desejos e emoldur-
ar sua vida de modo que crie um ambiente rico no qual as sin-
cronicidades possam acontecer sem demora. Em um ambiente
como esse, a lei da atração funciona como nunca; a intuição se
aprofunda, a criatividade floresce. “Quando decidimos trabal-
har com a coincidência, convidamos para nossa vida novos
padrões energéticos”, escreveu Robert Moss em The three
“only” things. “Não só observamos os acontecimentos de uma
nova maneira, como na verdade os atraímos – e também atraí-
mos as pessoas – para o nosso caminho de uma forma que é
diferente de antes.” Tudo na nossa vida começa a se deslocar
para uma direção mais rica e mais positiva.
As sincronicidades, quando estamos cientes delas, são como
pistas sussurradas, indicações ao longo da estrada. Vire aqui,
siga adiante. Arrisque-se. Desacelere, acelere. Na era da trans-
formação, se você for uma parte dela, as sincronicidades
acontecerão todos os dias. No entanto, elas não são experiên-
cias cotidianas.
273/299
Nem todos têm um computador na era da transformação, e
nem todos seguirão o caminho das sincronicidades nessa era.
Mas as influências serão sentidas em todo o universo.
Deepak Chopra identifica dois estágios de consciência super-
ior: a consciência divina e a consciência da unidade. Na
primeira, nossa capacidade de manifestar desejos aumenta. A
consciência divina, uma experiência que vem e vai, permite-nos
vislumbrar a “presença do Espírito em todas as coisas”, como
Mary S. fez depois do suicídio de seu namorado, conforme
descrito no capítulo anterior. A consciência da unidade, ou o
esclarecimento, envolve “a transformação completa do eu pess-
oal em um eu universal, um estado em que milagres acontecem
e tudo é possível”. Podemos conclamar o divino, ainda que por
breves momentos?
A lei da atração
Os metafísicos escrevem sobre a lei da atração há muito tempo,
bem antes de a prensa ser inventada. Mas sua popularização se
deu, pela primeira vez, no século XX, pela escritora Jane
Roberts.
No segundo semestre de 1963, Jane Roberts começou a can-
alizar Seth, “uma essência de personalidade não mais centrada
na realidade física”. Seu marido, Robert Butts, reconheceu a
qualidade do material sobre Seth e começou a tomar notas dur-
ante as sessões de transe da esposa. Quando Jane morreu em
1984, havia mais de 20 livros sobre Seth publicados, e centenas
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de notas inéditas sobre uma variada gama de assuntos – a
natureza da realidade física, vida após a morte, reencarnação,
saúde e doença, inteligência humana e animal, natureza da
consciência, guerra e paz, política. A pedra angular da filosofia
de Seth era simples: “Você cria sua realidade; você obtém
aquilo em que se concentra... Não há outra regra principal”.
Em outras palavras, a lei da atração. Muitas das descrições
de Seth sobre a natureza da realidade refletem os argumentos
de David Bohm e outros cientistas – sobre como tudo no uni-
verso está conectado e sobre a importância da intenção e da
crença na criação de nossas experiências. De acordo com Seth,
“como as crenças formam a realidade – a estrutura da exper-
iência –, qualquer mudança nas crenças que altere essa estru-
tura inicia a mudança”.
Os livros de Seth oferecem uma base filosófica para a
natureza da realidade e da consciência, para a lei da atração e
para o papel das crenças na criação de nossa realidade. No ent-
anto, ela carece de aplicação prática. Como fazemos isso exata-
mente? Felizmente, outros autores (já mencionamos alguns
neste livro) apresentaram a lei da atração de maneiras acessí-
veis a milhões de pessoas. Temas comuns perpassam seus liv-
ros: a importância das crenças, o foco de desejos intensos e a
força das emoções.
Nas duas histórias a seguir você verá a importância das
crenças, do desejo intenso e das emoções fortes.
Para Jane Clifford, mãe solteira do País de Gales, seu forte
desejo e sua intenção focada levaram aos resultados de que pre-
cisava. Seu filho mais jovem, Harry, não estava se dando bem
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na escola secundária local e lhe perguntou se poderia frequent-
ar uma escola particular onde o irmão mais velho se formara.
Harry não era estudioso, mas um músico brilhante, e a escola
concordou em entrevistá-lo por conta disso.
A entrevista correu tão bem que o diretor resolveu abrir uma
vaga para Harry e deu a ele uma bolsa de estudos. Mas, mesmo
com a bolsa, Jane ainda precisaria desembolsar 8 mil libras por
ano durante dois anos e mais 32 mil libras para completar os
estudos do filho. Sua relação com o pai de Harry acabara, as
dívidas só cresciam. Ela não tinha para quem pedir ajuda. E
não havia mais nada que pudesse vender.
Diversos amigos e membros da família investiram em Harry,
e Jane economizou o que podia, quando podia. Mas a quantia
de 32 mil libras não saía da sua cabeça, um obstáculo aparente-
mente intransponível. Quando esteve em Londres, uma grande
amiga lhe disse para visitar uma igreja minúscula onde havia
um santuário de Santo Antônio (santo das coisas perdidas) e
outro de São Judas (santo das causas perdidas). Sua amiga
tinha ido à igreja alguns anos antes, mas só conseguia se lem-
brar da localização geral. Com apenas uma vaga descrição, Jane
saiu para encontrar a igrejinha.
Ela perguntou a todos os taxistas londrinos do lado de fora
da estação de metrô sobre a localização da igreja; perguntou em
cafés e lojas, mas em vão. Desencorajada e frustrada, quase de-
sistiu. “Resolvi comprar um pêssego num camelô. Perguntei a
ele sobre a igrejinha, e ele apontou para o outro lado da rua.”
Jane correu para dentro da igreja, acendeu uma vela e
agradeceu a Santo Antônio pela ajuda com chaves de carros
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perdidas ao longo dos anos. Depois, acendeu uma vela para São
Judas e pediu ajuda com as mensalidades da escola. Nos três
meses posteriores, sem nenhuma solução à vista, ela con-
tinuava ansiosa e insegura.
Durante uma reunião de alunos na escola, Harry se ofereceu
como voluntário para ajudar no jantar. Um gentil senhor
começou a conversar com ele e disse que tinha ouvido que
talvez Harry tivesse de deixar a escola. Ele explicou que sua
mãe não podia pagar. O gentil senhor disse: “Eu não me pre-
ocuparia com isso se fosse você, Harry”, e saiu para falar com
um convidado do jantar.
A verdade é que aquele senhor estava fazendo uma doação
considerável para a escola naquele mesmo dia. O dinheiro
deveria ser investido e usado para ajudar estudantes mais
pobres. “Ele especificou que somente no caso de Harry o din-
heiro poderia ser usado para pagar todas as mensalidades que
faltavam, de modo que ele terminasse os estudos lá!”, escreveu
Jane. “Milagre!”
Jane não só teve um forte desejo e uma intenção, como tam-
bém se recusou a desistir. Muito embora ninguém soubesse a
localização da igreja, ela continuou perguntando até que por
fim a encontrou. Foi exatamente a sincronicidade de que pre-
cisava. Ela literalmente conclamou o divino ao visitar os san-
tuários de dois santos e pedir ajuda.
APROVEITANDO A SINCRONICIDADE
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O caminho da sorte
No capítulo anterior, contamos a história do coro de uma igreja
em Beatrice, no Nebraska, cujos membros se atrasaram para as
atividades na noite em que a igreja explodiu. Pessoas sortudas,
não é mesmo? Então, qual a diferença entre sincronicidade e
sorte, e como podemos nos aproveitar dela?
Basicamente, a sorte é uma sincronicidade próspera. Mas
não acontece por conta própria. Geralmente, toma a forma de
algum tipo de ação. Imagine sonhar com seis números que
acabam sendo sorteados na loteria no dia seguinte. É sin-
cronicidade. No entanto, só seria sorte se você tivesse tomado
uma atitude em relação ao sonho e jogasse aqueles números.
No caso do coro da igreja, a ação dos membros foi uma inação,
ou uma ação atrasada.
Quando alguém se torna bem-sucedido da noite para o dia,
chamamos essa pessoa de sortuda. Mas um exame mais detal-
hado revela que foi preciso anos, talvez décadas, para que o su-
cesso “repentino” acontecesse. Elmore Leonard escreveu 37 ro-
mances antes de encontrar o gênero que o tornou famoso:
crime e mistério. Harrison Ford fazia pequenos papéis e
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trabalhava como carpinteiro antes de fazer sucesso, em 1973,
com o filme Loucuras de verão, de George Lucas. Stephen King
jogou fora os manuscritos de Carrie, a estranha, mas sua es-
posa conseguiu recuperá-los; os direitos acabaram sendo ven-
didos por 400 mil dólares, e o livro impulsionou a carreira de
King. Jeff Lindsay escreveu textos de diversos gêneros ao longo
dos anos, mas já tinha mais de 50 anos quando atingiu o su-
cesso com um personagem chamado Dexter. Hoje, a série já
conta com cinco livros, faz parte da lista de best-sellers do New
York Times, e Dexter é o programa de maior audiência do canal
em que é exibido nos Estados Unidos.
Depois de se formar na faculdade, Trish escreveu cinco ro-
mances antes de escrever aquele que de fato seria publicado.
Alguns diriam que ela teve sorte, porque seu trabalho foi sele-
cionado entre centenas, talvez milhares, de manuscritos de es-
critores competentes. Mas não foi só sorte, houve trabalho,
uma forte intenção e a orientação das sincronicidades. O editor
da Ballantine Books, que comprou os direitos, leu o livro no fim
de semana, depois de ver a estreia de Miami Vice. Assim como
a série de TV, In Shadow tinha dois detetives de Miami, um
branco, outro negro, envolvidos numa investigação de drogas.
Sincronicidade. O editor fez uma oferta na segunda-feira
seguinte, e a carreira de Trish como escritora de ficção deslan-
chou. O interesse surgiu com o 25o envio do seu sexto livro, o
primeiro e único dos seis a ser publicado.
Rob estudou antropologia na faculdade e viajou pelo mundo
para visitar sítios arqueológicos em paralelo aos seus trabalhos
como jornalista. Porém, quando foi chamado para escrever o
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que se tornaria o primeiro dos oito romances de Indiana Jones,
nem a empresa LucasFilm nem o editor da Bantam Books
sabiam do seu interesse por arqueologia. Sabiam apenas que
ele publicara um livro, Crystal skull.
Quando estamos concentrados, entusiasmados, forçando
nossos limites, o cérebro libera endorfina. Pesquisas apontam
que isso acontece durante o sexo e no nascimento, em ativid-
ades físicas pesadas, na meditação e no intenso trabalho criat-
ivo. Se você visualizar o que quer quando a endorfina estiver
correndo no seu corpo, o desejo se manifesta mais rapida-
mente. É como se essa substância de alguma maneira o aju-
dasse a se conectar com a poderosa fonte de quem realmente é
e com o potencial de quem quer se tornar.
“Um cosmos fortuito é divertido e pueril, e uma abordagem
aventureira e prazerosa à vida encoraja a sincronicidade”, es-
creveu Marcus Anthony, autor de Sage of synchronicity. “O
ponto fundamental é trazer a mente completamente para o mo-
mento atual. No estado prazeroso da presença completa, é
como se o cosmos tomasse vida. O propósito e o significado
mais profundo das coisas são conhecidos, mesmo que velada-
mente, como se a psique e a mente cósmica mantivessem um
diálogo aberto.”
Quando a sincronicidade acontece, é importante perguntar o
que ela significa. A resposta pode vir na forma de outra sin-
cronicidade. Você talvez escute determinada música no rádio,
algo dito na TV ou leia uma passagem de um livro. Quanto mais
exploramos a sincronicidade, maior se torna nosso entendi-
mento. Quanto menos resistentes a essas experiências, maior a
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probabilidade de atrairmos mais experiências. A falta de res-
istência é um componente importantíssimo na lei da atração.
Quando o significado não chega de sobressalto, olhe para as
sincronicidades como oportunidades, sobretudo para explorar
alternativas criativas. Assim você atrai a sorte. Como Patricia
Einstein escreveu em Intuition: the path to inner wisdom, “to-
dos temos a experiência de estarmos no lugar certo na hora
certa, e, em algum momento da vida, todos conhecemos al-
guém que chamamos de sortudo. A sorte [...] não é uma
questão de acaso, mas sim de sincronicidade”.
Vejamos uma última história, um relato espantoso que com-
bina sincronicidade, crença, intenção e transformação pessoal.
Sheldrake, Rupert. Dogs that know when their owners are com-
ing home: and other unexplained powers of animals. Nova York:
Crown Publishers, 1999.