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O PARÁGRAFO CONCLUSIVO: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

A estrutura dissertativo-argumentativa:
proposição, argumentação e conclusão
Um texto dissertativo-argumentativo obedece a uma estrutura sequenciada, isto
é, as partes que compõem essa estrutura devem estar articuladas, e uma
continuidade deve ser estabelecida entre as ideias e informações que são
apresentadas ao longo do texto. Dito isso, essa estrutura é descrita por proposição
– argumentação – conclusão (o atendimento a esse modelo é avaliado pela
competência 2: domínio da estrutura dissertativo-argumentativa, com proposição,
argumentação e conclusão).
É importante lembrar que o texto dissertativo-argumentativo contém traços
dissertativos e argumentativos. Logo, no que diz respeito à sua natureza
dissertativa, deve ser expositivo, quer dizer, deve expor um objeto de análise por
meio de dados objetivos, fatos científicos; e, no que diz respeito à argumentação,
deve centrar-se na defesa de um posicionamento sobre esse mesmo objeto. Sendo
assim, na primeira parte do texto, a que se chama de proposição (ou introdução),
o autor deve apresentar o assunto a ser discutido e seu posicionamento em relação
a ele. Em seguida, na argumentação (ou desenvolvimento), o objeto (assunto,
tema) apresentado e o posicionamento proposto em relação a ele devem ser
analisados à luz de conhecimentos compartilhados, reflexões teóricas e
informações de cunho científico. Nada de novo pode surgir, uma vez que a
discussão a que se limita o texto já foi definida na proposição.
Por fim, na conclusão, o texto deve ser encerrado por intermédio de uma
avaliação do que foi desenvolvido. Não cabe à conclusão a resolução de brechas
ou inconsistências que despontam do desenvolvimento textual. Todas defesas
feitas e informações apresentadas ao longo do desenvolvimento devem ser
encerradas no desenvolvimento, sem que se permita espaço para dúvidas. A
conclusão deve acrescentar algo relevante ao texto, deve, portanto, como qualquer
parte do texto, ser produtiva. Concluir não é repetir o que foi dito, mas suscitar uma
análise crítica do objeto (assunto, tema) de forma sucinta.

A conclusão na redação do Enem


A redação do Enem é um tipo específico de texto dissertativo-argumentativo.
Dessa forma, ainda que seja possível concluir um texto dessa natureza de diversas
maneiras (retomando-se a tese/ posicionamento; traçando perspectivas futuras), o
Enem exige que a conclusão da redação ocorra por intermédio da proposta de
intervenção (competência 5).
A proposta de intervenção consiste em uma sugestão de solução parcial ou
inicial dos problemas reconhecidos ao longo dos argumentos. É necessário, no
desenvolvimento da proposta, respeitar os direitos humanos e explicitar, além da
ação a ser posta em prática, o modo de pô-la em prática, o agente e a finalidade
dessa ação (como vai atingir a problemática levantada pela tese). A proposta deve
ser inovadora, o que não quer dizer que solucione completamente o problema ou
seja única, mas que ainda não seja uma medida em vigor. Além disso, deve evitar
vaguezas, assumindo uma especificidade, para que seja prática, realizável. Por fim,
essa proposta também deve estar conectada aos argumentos desenvolvidos,
sugerindo soluções para os problemas identificados.

Proposta de intervenção

“A proposta de intervenção deve refletir os conhecimentos de mundo de quem


a redige e, quando muito bem elaborada, deve conter não apenas a exposição
da ação interventiva sugerida, mas também o ator social competente para
executá-la, de acordo com o âmbito da ação escolhida: individual, familiar,
comunitário, social, político, governamental e mundial. Além disso, a proposta de
intervenção deve conter o meio de execução da ação e seu possível efeito,
bem como o detalhamento da ação ou do meio para realizá-la.”
(Cartilha do participante 2017, p. 24)

Uma proposta de intervenção deve conter:


(1) AÇÃO (o que deve ser feito?): uma medida a ser tomada frente aos
problemas identificados ao longo da argumentação (cuidado com
vaguezas: “conscientizar”, “respeitar”);

(2) AGENTE (quem/ que instituição deve agir?): os agentes devem ser
públicos, isto é, não podem ser indivíduos, mas sim instituições sociais
(Estado, família, mídia, escola). Não é aconselhável, por exemplo, que se
tome como agente uma única escola citada como exemplo no
desenvolvimento. Os problemas discutidos na redação do Enem são de
cunho coletivo, e, por isso, não se resumem a um problema particular (de
uma escola, uma família, um veículo de mídia). Isso não significa que esse
agente não deva ser especificado. Para que a medida seja praticável, é
preciso deixar claro quem deve agir. Indicar que o “governo” deve agir é
vago. Que instância governamental deve agir? A câmara dos deputados?
O Ministério da Educação? A Suprema Corte? O STF? O Ministério
Público? A Polícia Federal? O poder Executivo, Judiciário ou Legislativo?
esfera nacional, estadual ou municipal?
Já outros agentes são mais amplos e indeterminados, como a “escola”, a
“família”, a “mídia”, a “igreja”, as ONGs. Para se lembrar de alguns
agentes, pode-se usar a sigla GOMIFES:
G O M I F E S

Governo Mídia Família Sociedade


ONGs Indivíduo * Escola

* Indivíduo genérico, o cidadão; não uma pessoa em particular.

(3) MODO (como pôr em prática?): não basta sugerir uma ação, é preciso
determinar minimamente o modo de executá-la, o recurso pelo qual
ela será posta em prática (campanhas, debates, projetos de lei,
palestras, criação de fundos...)

(4) FINALIDADE (para quê?): a ação sugerida deve assumir um objetivo.


Esse objetivo não pode equivaler ao objetivo final inferido pelo próprio
tema. Por exemplo, se o tema é “A precarização do ensino no Brasil”,
infere-se que o problema a ser discutido é a precarização do ensino,
e, portanto, espera-se do candidato uma proposta que minimize esse
problema. Sendo assim, apresentar como finalidade da proposta “a
minimização da precarização do ensino” ou “o fim da precarização” é
uma obviedade. A finalidade deve ser específica em relação à forma
como a intervenção sugerida interfere no combate do problema,
pensando-se nos argumentos explorados ao longo do
desenvolvimento. A finalidade da proposta equivale ao seu efeito
esperado (“seu possível efeito”).

Detalhamento
O detalhamento é uma exigência da proposta de intervenção. Para além
dos quatro elementos que compõem essa proposta (ação, agente, modo,
finalidade), deve haver um acréscimo de informações à intervenção, ao qual se
chama de detalhamento. O detalhamento é uma especificação da proposta, que
pode assumir a forma de um exemplo, uma citação ou uma explicação mais
minuciosa de um dos elementos constitutivos da ação interventiva (ação, agente,
modo, finalidade). O detalhamento também pode se manifestar por meio do uso
de outra estratégia de conclusão de textos dissertativo-argumentativos
(discussão de perspectivas futuras sobre o problema, retomada da tese a partir
do que foi desenvolvido).

EXEMPLO:
Tema: Caminhos para combater a evasão escolar no Brasil
(a) Ação: criação de políticas de suporte financeiro aos estudantes
necessitados;
(b) Agente: governos federal, estadual e municipal;
(c) Modo: por intermédio da distribuição de bolsas, a partir do
acompanhamento frequente da situação familiar do jovem;
(d) Finalidade: garantir a permanência dos alunos de baixa renda na
escola, já que para atrair o interesse do jovem, é mister, primeiro,
sanar suas dificuldades básicas de alimentação, locomoção e
sustento familiar [detalhamento].

Pelos pontos levantados, conclui-se que, com a finalidade de se


garantir a permanência dos alunos de baixa renda na escola, deve haver
a criação de políticas de suporte financeiro aos estudantes necessitados.
Cabe às esferas federal, estadual e municipal a implementação dessas
políticas por intermédio da distribuição de bolsas, a partir do
acompanhamento frequente da situação familiar do jovem. Essa ação se
torna relevante dado que, para motivar o jovem ao aprendizado, é mister,
primeiro, sanar suas dificuldades básicas de alimentação, locomoção e
sustento familiar.
Resumindo...
no parágrafo conclusivo, é necessário:
(1) evidenciar o fim do processo argumentativo por meio do uso de um conectivo
conclusivo (logo, portanto, sendo assim);
(2) ratificar a tese, por intermédio da concordância com o que foi afirmado
anteriormente, estabelecendo-se um grau de coerência e unidade textual (o
parágrafo conclusivo deve concordar com o que o precede);
(3) solução para o problema identificado ao longo do texto: proposta de
intervenção.

O que não fazer na conclusão


(1) Não introduzir novas ideias e conceitos: o parágrafo de encerramento do
texto, para que se vincule ao resto dele, não pode introduzir novas ideias. A
proposição (ou introdução) da redação deve delimitar toda a discussão, e a
conclusão apenas encerra essa discussão.
(2) Não se repetir: concluir não é repetir o que já foi dito, mas sim refletir sobre
a tese proposta a partir do que foi desenvolvido.
(3) Não ser prolixo: é preciso evitar os discursos imprecisos e que insistem em
expressar uma mesma ideia de diferentes formas (tautológicos/ redundantes).
Diga sempre apenas o que pode contribuir produtivamente para o texto.
(4) Não usar clichês nem propostas vagas: Cuidado com propostas muito
banalizadas, como “a realização de palestras”. Caso essa seja uma proposta
adequada à discussão travada, busque inovar e detalhar como essas “palestras”
funcionariam (tente ir além do “com profissionais da área”). Atenção também à
imprecisão de propostas como aquelas que se resumem a sugerir uma
“conscientização”. A ação interventiva deve ser específica, para que possa ser
posta em prática. Busque elaborar propostas que se relacionem com o contexto
do tema e o problema por trás dele. Por exemplo, se o tema é “A persistência da
violência contra a mulher na sociedade brasileira”, uma proposta condizente (e
original) é o desenvolvimento de um aplicativo que permita o registro de
ocorrências de assédio e seu mapeamento no espaço da cidade (muito mais do
que “a realização de palestras nas escolas sobre o tema”).
(5) Não desrespeitar os direitos humanos: são contrárias aos direitos
humanos ações como a defesa de tortura, execução sumária, mutilação,
linchamento (“justiça com as próprias mãos”), castração química ou qualquer
forma de privação de direitos motivada por questões de raça, classe, etnia,
gênero, credo. A desqualificação e o demérito de diferentes práticas e tradições
(religiosas, culturais) são também opostos às determinações dos Direitos
Humanos, bem como a “exclusão social” por qualquer motivo (lembre-se que os
aparatos legais do Estado para controle de atividades ilícitas têm a função de
reabilitação).
Para respeitar os direitos humanos deve-se considerar:
• a laicidade do Estado;
• a democracia na educação;
• a sustentabilidade socioambiental;
• a igualdade de direitos;
• a valorização das diferenças e diversidades;
• a liberdade de expressão e de acesso à informação.

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