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2) A taxa de mortalidade aparenta estar abaixo da expectativa inicial

No início da crise, o que assustou muita gente na questão do COVID-


19, inclusive eu, foi a taxa de mortalidade estimada em 3%+, o que
colocava o COVID-19 bem acima de uma gripe comum, com um
número de reprodução também bem maior, parecida com a do SARS:
Fala-se muito de subnotificação e ausência de testes e como isso pode
nos ajudar a desvendar o “mistério” do Coronavírus. Na minha opinião,
o melhor report até agora sobre o assunto é do JP Morgan, dos mesmos
autores que modelaram as taxas de infecção em NY e no Brasil:

JPM: Market and Volatility 2020-04-13


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O argumento básico dos autores é que a taxa de mortalidade só pode ser


calculada com precisão uma vez que grande parte da população seja
testada. E os resultados da análise deles, usando dados de países que já
testaram grande parte das suas populações, resumidas no gráfico
abaixo, são surpreendentes:
Fonte: JP Morgan (report completo, y = mortalidade [óbitos/infecções]
| x = % da população testada)

Em resumo, a taxa de mortalidade do COVID-19 aparenta etsar


muito mais próxima de 0.4–0.5% do que dos valores de 6–13%
reportados em lugares com presença forte do vírus como NY, Itália e
Espanha.

Obviamente, temos que tomar muito cuidado com essa conclusão, já


que ela se baseia em estudos ainda pequenos e testar população
maiores e maiores deve ser o caminho. Recomendo a leitura
desse estudo em uma pequena cidade “hotspot” da Alemanha, que pode
nos dar o caminho das pedras, assim como os outros programas
mencionados no artigo na Islândia, Ilhas Faroe, Emirados Árabes
Unidos, além da China.

UPDATE 19/04

 Tive acesso a um artigo muito interessante sobre um estudo da


Universidade de Stanford, parecido com os estudos que foram
feitos em Gangelt. No estudo (link), os pesquisadores testaram
3.300 pessoas para COVID-19 de forma aleatória, recrutadas via
Facebook, em Santa Clara na Califórnia.

 Os achados são consistentes com outros estudos parecidos: a


prevalência do COVID-19 no grupo foi de 1.5% (ou 2.81% se levado
em consideração fatores populacionais), levando à conclusão que
a região de Santa Clara deve ter algo entre 2.49% a 4.16% de taxa
de infecção real pelo COVID-19, o que é entre 50 a 85 vezes os
casos oficiais reportados.

 Com isso, a taxa de mortalidade estimada seria de 0.12–


0.20% assumindo os óbitos na região. Isso adiciona mais um
estudo à lista de populações (segregadas) amplamente testadas e
que discuti anteriormente:

 Novamente esse estudo reforça a necessidade de se fazer


testes generalizados na população para termos um
panorama mais claro da mortalidade desse vírus. O governo de
SP informa que conseguirá ampliar significativamente os testes a
curto prazo, principalmente para pessoas em hospitais. Isso vai
reduzir o risco de subnotificações e nos dar muito mais
informação nos próximos dias.

Se for verdade, o Coronavírus é uma infecção que se compara de forma


muito favorável a outras infecções, algumas delas inclusive bem mais
comuns em mercados emergentes como o Brasil. No gráfico abaixo, o
COVID-19 estaria em R0 de 1–3 e taxa de mortalidade de 0.4–0.5%, no
mesmo quadrante de risco da gripe suína (H1N1) e a Zika, e menos
perigoso que dengue e e.coli:
Recomendo muito acessar o gráfico interativo que esse site montou,
inclusive abrindo a fonte de dados de todas as diferentes infecções,
permitindo várias análises e cortes dos dados.

3) O isolamento social achatou a curva no Brasil

Acho válido lembrar que a grande preocupação no início da crise do


Corona era conseguirmos “achatar a curva” para não sobrecarregar o
nosso sistema de saúde e colocar as vidas de mais pessoas em risco.
Minha leitura, baseado principalmente nos dados que apresentei no
primeiro ponto, é que o Brasil conseguiu fazer isso com sucesso.

O report do JP Morgan citado anteriormente faz uma análise muito


interessante sobre a real taxa de infecção assumindo uma mortalidade
de ~0.4%, ajustando esse fator pela idade já que esse fator de 0.4%
seria válido para uma população de idade média de 36 anos. Ou seja,
em uma população como o da Itália, de 45.5 anos de idade média, a
fatalidade seria maior.

O resultado dessa análise está na tabela abaixo:

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