Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Para além disso, a autora compreende que, em conjunto com a imagem visual
que carrega ou que se coloca no lugar das ações humanas, existe a imagem mental que
confere sentido àquilo que é visto e o adjetiva. Este processo de interpretação do que é
visual e que remete a uma imagem mental, é reflexo daquilo que Pesavento caracteriza
de “museu imaginário”. Sendo este último, presente em todos os indivíduos a partir das
suas experiências, ou seja, das leituras que fez, da formação profissional, território em
que vive, etc. A realidade, nesse sentido, é recriada pelo imaginário. (PESAVENTO,
2008)
Contudo, é a partir do terceiro tópico de seu capítulo que suas análises se tornam
fundamentais para justificação da pesquisa aqui apresentada e, acima de tudo, com o
tratamento a ser feito no objeto de estudo da mesma. Segundo Le Goff, apenas
compreendendo o documento enquanto monumento é possível recuperar o passado,
cientificamente pelo historiador, com conhecimento de causa. Ou seja, perceber que o
documento é produto de uma relação de forças que, conscientemente ou não, o
manipulam, construindo uma aparência enganadora. Dessa forma, o historiador francês
concebe a importância do historiador em desmistificar essa montagem feita sob aquilo
que restou do passado e entender as condições de produção dos documentos-
monumentos. (LE GOFF, 2003)
Nesse sentido, se o documento deste projeto de pesquisa, o álbum “The Radha
Krsna Temple”, chegou até os dias atuais e em diversas mídias possíveis, é porque
existe uma série de forças que atuam e/ou atuaram sobre ele, criando toda uma
roupagem ilusória. Cabe então, nesta pesquisa, compreender estas ações presentes em
torno do álbum védico, em direção a estudar esta produção musical e sua condição de
formação.
Por fim, o historiador francês Roger Chartier, em seu artigo O mundo como
representação, publicado na revista Annales, aborda alguns temas pertinentes aos
estudos históricos a partir do final dos anos 80, do século XX. Nesse sentido, o autor
discute a existência de uma “crise geral das ciências sociais”, a partir do abandono, por
exemplo, dos sistemas globais de intepretação, os “paradigmas dominantes”, como o
estruturalismo e o marxismo. Chartier compreende que, ao final da década supracitada,
a história é convidada a reformular seus objetos e renunciar os princípios de
inteligibilidade que governavam a prática de pesquisa há quase trinta anos. Renunciando
o projeto de história global, a definição territorial dos objetos de pesquisa e a primazia
ao recorte social. O autor propõe a passagem de uma história social da cultura para uma
história cultural do social. (CHARTIER, 1991)
“A apropriação, a nosso ver, visa uma história social dos usos e das
interpretações, referidas a suas determinações fundamentais e inscritas nas
práticas específicas que as produzem (12). Assim, voltar a atenção para as
condições e os processos que, muito concretamente, sustentam as operações
de produção do sentido (na relação de leitura, mas em tantos outros também)
é reconhecer, contra a antiga história intelectual, que nem as inteligências
nem as ideias são desencarnadas, e, contra os pensamentos do universal, que
as categorias dadas como invariantes, sejam elas filosóficas ou
fenomenológicas, devem ser construídas na descontinuidade das trajetórias
históricas.” (CHARTIER, 1991, p. 180)