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1
IGREJA LUTERANA
SEMINÁRIO
CONCÓRDIA
Diretor
Leonerio Faller
Professores
Acir Raymann, Anselmo Ernesto Graff, Clóvis Jair Prunzel, Leonerio Faller, Gerson
Luis Linden, Paulo Moisés Nerbas, Paulo Proske Weirich, Paulo Wille Buss, Raul
Blum, Vilson Scholz
Professores Eméritos
Donaldo Schüler
Leopoldo Heimann
Norberto Heine
IGREJA LUTERANA
ISSN 0103-779X
Revista semestral de Teologia publicada em junho e novembro pela Faculdade de
Teologia do Seminário Concórdia, da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB),
São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil.
Conselho Editorial
Gerson L. Linden (Editor), Acir Raymann e Lucas Albrecht
Assistência Administrativa
Ivete Terezinha Schwantes e Saulo P. Bledoff
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CORRESPONDÊNCIA
Revista Igreja Luterana
Seminário Concórdia
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93001-970 – São Leopoldo/RS
Telefone: (0xx)51 3037 8000
e-mail: revista@seminarioconcordia.com.br
www.seminarioconcordia.com.br
2
SUMÁRIO
PALAVRA AO LEITOR
5
ARTIGOS
“PAPAI, OS ANIMAIS VÃO ESTAR NO CÉU?” A FUTURA NOVA TERRA 7
Paul R. Raabe
AUXÍLIOS HOMILÉTICOS
AUXÍLIOS HOMILÉTICOS: PUBLICAÇÕES DE 1990 A 2014 81
RESENHAS
PLESS, John T. Martin Luther: Preacher of the Cross 83
Edenilson Gass
IGREJA LUTERANA
Volume 75 – Junho 2016 - Número 1
3
VEITH, Gene Edward Jr. Espiritualidade da cruz: os caminhos
dos primeiros evangélicos 87
Timóteo Felipe Patrício
DEVOCIONAIS
SEM MIM VOCÊS NÃO PODEM FAZER NADA! 90
Vilson Scholz
OS VERDADEIROS ADORADORES 93
Leonerio Faller
Gerson L. Linden
Editor
5
ARTIGOS
1
Tradução do artigo:“Daddy, Will Animals be in Heaven?” The Future of New Earth. Con-
cordia Journal 40 (Spring 2014), p. 148-160. Dr. Paul Raabe é professor de Exegese do
Antigo Testamento do Concordia Seminary, em St. Louis, EUA. Tradução feita pelo Dr. Acir
Raymann. A publicação deste artigo é feita com autorização do autor e do editor da revista
Concordia Journal.
7
IGREJA LUTERANA
2 PEDRO 3
O universo atual não permanecerá simplesmente como é como também
não convergirá de maneira gradativa para a utopia. Ele será destruído.
O texto clássico que enfatiza esta destruição vindoura está em 2 Pedro
3.1-13. Cito o comentário de Curtis Giese:
2
GIESE, Curtis P. 2 Peter and Jude: Concordia Commentary. St. Louis: Concordia Publishing
House, 2012, p. 161, 184.
8
“PAPAI, OS ANIMAIS VÃO ESTAR NO CÉU?” A FUTURA NOVA TERRA
3
GIESE, 2 Peter and Jude, p. 173-174.
4
O termo grego stoicheia, “elementos”, designa tanto os corpos celestes como sol, lua e
estrelas quanto os elementos básicos que constituem todo o universo. Cf. GIESE.2 Peter
and Jude, p. 189-190.
5
Um bom paralelo encontra-se em 1 Coríntios 3.12-15.
9
IGREJA LUTERANA
6
O adjetivo “novo” (kainos) não implica uma substância totalmente diferente, única. Por
exemplo, conforme 2 Coríntios 5.17, um cristão é uma “nova criatura” (kainektisis) mas
continua sendo o mesmo ser humano de antes.
7
Compare, por exemplo, Isaías 24.4-7.
8
Em 2 Pedro 1.1 o apóstolo se refere à justiça passiva da justificação, “aos que conosco
obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo”. Con-
fira R. C. H. Lenski, The interpretation of the epistles to St. Peter, St. John, and St. Jude.
Columbus: Wartburg Press, 1945, p. 247-253.
9
ROEHRS, Walter R. e FRANZMANN, Martin H. Concordia Self-study commentary. St. Louis:
Concordia Publishing House, 1979, s.v. Second Peter 3.
10
LENSKI, R. C. H. The interpretation of the epistles to St. Peter, St. John, and St. Jude.
Columbus: Wartburg Press, 1945, p. 350.
10
“PAPAI, OS ANIMAIS VÃO ESTAR NO CÉU?” A FUTURA NOVA TERRA
ROMANOS 8
Embora haja destruição para a presente criação, haverá também uma
nova criação com significativa continuidade entre ambas. A nova criação
do futuro não será uma realidade inteiramente nova sem espaço ou terra.
O texto clássico que enfatiza esta continuidade está em Romanos 8.17-23.
Do comentário aos Romanos de Michael Middendorf:
11
Pelo que entendo, esta parece ser a visão de Johann Gerhard, o clássico dogmático luterano
do século 17. Confira seu Loci Theologici, sob de consummatione seculie de vita aeterna.
Veja também Robert O. Neff Jr. The Preservation and Restoration of Creation with a Special
Reference to Romans 8:18-23. ThD Dissertation, Concordia Seminary, St. Louis, 1980.
11
IGREJA LUTERANA
12
MIDDENDORF, Michael. Romans 1-8. Concordia Commentary. St. Louis: Concordia Publish-
ing House, 2013, p. 635, 656.
13
John Reumann argumenta que Romanos 8.19-22 é um fragmento apocalíptico de outra fonte.
Segundo Reumann, embora Paulo empregue esse argumento para enfatizar a dimensão
já-ainda não, o interesse de Paulo é supostamente com pessoas, não com criação. Contudo,
Paulo explicitamente afirma o que os versículos 19-22 atestam ao dizer no versículo 23
“E não somente” a criação geme mas também nós. REUMANN, John. Creation and New
Creation: The Past, Present, and Future of God´s Creative Activity. Minneapolis: Augsburg,
1973, p. 98-99.
14
MIDDENDORF, op. cit., p. 670.
15
KOLB, Robert e WENGERT, Timothy J., ed. “The Formula of Concord I: Concerning Original
Sin”. In The Book of Concord. Minneapolis: Fortress, 2000, p. 487-491, 531-542.
12
“PAPAI, OS ANIMAIS VÃO ESTAR NO CÉU?” A FUTURA NOVA TERRA
APOCALIPSE 2
Junto com a criação, aguardamos a nova criação. Conforme Pedro:
“Nós, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos
quais habita justiça” (2Pe 3.13).
Em Apocalipse, João usa linguagem similar.
Na sua visão, João vê uma nova criação. Os atuais céus e terra fugi-
ram, desapareceram e não foi achado lugar para eles (Ap 20.11). João
16
Sobre crítica de texto em relação às palavras autontheos (“seu Deus”), veja BRIGHTON,
Louis A. Revelation. St. Louis: Concordia Publishing House, 1999, p. 589.
17
Ibid., p. 580, 588.
13
IGREJA LUTERANA
viu um novo céu e uma nova terra. Viu a Jerusalém celeste descendo
para a nova terra (confira também Ap 5.12). Naquele dia por vir o céu
estará na terra. Apenas Deus pode fazer com que tal aconteça. E o que
João conclui a partir disso? Que Deus habitará com os homens, o Criador
com suas criaturas humanas (anthropoi). O pressuposto por trás desta
afirmação é que os humanos são criaturas terrenas. Se for o caso de ha-
ver comunhão entre Criador e humanos, humanos não ascendem, mas o
Criador desce à terra.
Ecoando a afirmação de Jesus, João diz: “as primeiras coisas passaram”
(aperchomai). Então Aquele que estava sentado no trono disse: “Eis que
faço novas todas as coisas”. Ambas as afirmações estão juntas. A segunda
afirmação não diz que Deus faz tudo novas coisas como se criasse tudo ex
nihilo, mas que Deus faz todas as coisas (panta) que agora existem novas
(kaina). Esta segunda afirmação nos ajuda a entender a primeira. Quando
coisas velhas são tornadas em coisas novas, então as coisas velhas “pas-
saram”. Não mais existem como coisas velhas (cf. 2Co 5.17). Brighton co-
menta que “Deus não aniquilará a presente criação, jogada fora como lixo,
mas antes, por recriação, transformará a velha em nova”.18 João continua,
descrevendo a Jerusalém futura e o futuro jardim do Éden com a árvore da
vida. Tudo é muito físico e material, um futuro céu na terra.
ISAÍAS 65
A linguagem de Pedro e João sobre “o novo céu e a nova terra” provém
de Isaías 65.17-25, o grande vidente de antanho. A tradução é de Reed
Lessing no seu comentário sobre Isaías 56-66.
18
BRIGHTON, op. cit., p. 601. Brighton faz referência a G. B. Caird. The Revelation of St.
John the Divine. New York: Harper and Row, 1966, p. 265.
14
“PAPAI, OS ANIMAIS VÃO ESTAR NO CÉU?” A FUTURA NOVA TERRA
19
Veja Isaías 6.3 e 11.9. Sobre 6.3, confira Andrew H. Bartelt.“The Centrality of Isaiah 6
(-8) Within Isaiah 2-12”. Concordia Journal 30 (October 2004), p. 316-335, especialmente
328.
15
IGREJA LUTERANA
Porque o SENHOR, teu Deus, te faz entrar numa boa terra, terra
de ribeiros de águas, de fontes, de mananciais profundos, que
saem dos vales e das montanhas; terra de trigo e cevada, de
vides, figueiras e romeiras; terra de oliveiras, de azeite e mel; ter-
ra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela;
terra cujas pedras são ferro e de cujos montes cavarás o cobre.
Comerás, e te fartarás, e louvarás o SENHOR, teu Deus, pela boa
terra que te deu. (Dt 8.7-10)
20
Uma boa introdução sobre a teologia da terra no Antigo Testamento se acha em Elmer A.
Martens. God´s Design: a Focus on Old Testament Theology. Grand Rapids: Baker Book
House, 1981; Christopher J. H. Wright. An Eye for an Eye: The Place of Old Testament
Ethics Today. Downers Grove: InterVarsity Press, 1983.
16
“PAPAI, OS ANIMAIS VÃO ESTAR NO CÉU?” A FUTURA NOVA TERRA
AMÓS 9
Mas este não foi o fim da história. Por meio dos seus profetas, Deus
prometera que traria seu povo exilado de volta à terra. Amós 9.11-15 é
um bom exemplo. A tradução é de Reed Lessing no seu comentário sobre
Amós.
Ao tempo de Amós a casa de Davi era uma tapera pronta a cair. Deus
iria derrubar a tapera de Davi e exilar seu povo. Deus prometera, entre-
tanto, que iria reedificar a casa de Davi, restaurar seu povo, incorporar
gentios ao seu povo e frutificar a terra.
21
LESSING, R. Reed. Amos. Concordia Commentary. St. Louis: Concordia Publishing House,
2006, p. 575.
17
IGREJA LUTERANA
OSÉIAS 2
E o que dizer dos animais? Isaías descreve animais vivendo em paz
na futura nova criação. Oséias faz promessa similar em Oséias 2. Deus
anunciara que puniria os israelitas idólatras devastando seus vinhedos e
figueiras permitindo que animais do campo os devorassem (Os 2.12). O
Criador pune pela reversão da criação. Mas logo Deus promete abençoar
restaurando a criação. Mais adiante em Oséias 2, Deus promete fazer
nova aliança, só que esta aliança será com animais e para o benefício de
Israel.
22
Semelhantes promessas a respeito da terra enfatizam o mesmo tipo de fecundidade da
terra por vir. Veja Horace D. Hummel. Ezekiel 21-48. Concordia Commentary. St. Louis:
Concordia Publishing House, 2006, p. 1333-1337.
23
GIBBS, Jeffrey A. Matthew 1.1-11.1. Concordia Commentary. St. Louis, 2006, p. 112.
24
HOLWERDA, David E. Jesus and Israel: One Covenant or Two? Grand Rapids: Eerdmans,
1995, p. 112.
18
“PAPAI, OS ANIMAIS VÃO ESTAR NO CÉU?” A FUTURA NOVA TERRA
25
Veja BAUCKHAM, Richard. “Jesus and Animals II: What did he Practice?”. In Animals on
the Agenda: Questions about Animals for Theology and Ethics. Andrew Linzey e Dorothy
Yamamoto, ed. Urbana, IL: University of Illinois Press, 1998, p. 47-60, especialmente 54-
60.
26
VOELZ, James W. Mark 1-8. Concordia Commentary. St. Louis: Concordia Publishing House,
2013, p. 136-137.
19
IGREJA LUTERANA
EXORTAÇÕES
Os textos bíblicos claramente descrevem um futuro escatológico ca-
racterizado tanto por descontinuidade quanto por continuidade. Os dois
conjuntos de textos precisam ser enfatizados. A presente criação passará
e o Criador criará uma nova criação. Destes textos gostaria de extrair
algumas sugestões práticas para os pastores.
Percebo que de maneira frequente tanto na pregação como no ensino
não se faz suficiente uso do tempo futuro. Uma importante via para se
articular a lei é pregar as ameaças, e uma importante via para se articular o
evangelho é pregar as promessas. Ameaças e promessas são, por definição,
declarações do tempo futuro. Cuidado com a escatologia super-realizada.
Há ainda um ainda-não. Há coisas na narrativa total de Deus que ainda
não aconteceram. Faça uso frequente do tempo futuro.
Ao anunciar as ameaças de Deus, você está alertando os pecadores a
retornar do pecado a Deus antes que seja tarde. Alertar é um importante
ato discursivo. E ao proclamar as promessas de Deus você estará incul-
cando esperança em seus ouvintes de forma que estarão aguardando em
ardente expectativa a parusia, o dia da ressurreição, o dia da nova criação.
Por meio da sua pregação de ameaças e promessas de Deus, o Espírito
Santo cria e fortalece as expectativas escatológicas do povo.
As Escrituras não falam dos cristãos “subindo” por ocasião da ressur-
reição do corpo. A ascensão de Cristo não é paradigma escatológico para
nós. A descrição bíblica do último dia não é que nós ascendemos ao céu,
mas que Cristo, em glória pública e visível, descerá até nós. Mesmo um
texto como Filipenses 3.20, que fala da nossa cidadania nos céus, não
afirma que no fim nós iremos aos céus, mas, sim, que Jesus Cristo virá
novamente em glória para nos transformar.27 Assim como Deus desceu
até nós e tornou-se carne, assim no último dia Deus em carne descerá
até nós. Oremos com Isaías: “Oh! Se fendesses os céus e descesses!”
(Is 64.1).
Fale sobre o futuro da maneira que a Escritura fala sobre o futuro. Em
vez de usar apenas a palavra “céu” para designar o futuro, fale do futuro
como “céus na terra” a la Apocalipse 21. Ou, então, simplesmente diga “a
terra” como em “Bem-aventurados os mansos porque herdarão a terra”
(Mt 5.5) ou que o povo de Deus “reinará sobre a terra” (Ap 5.10). Em vez
de empregar o verbo “ir” dando a ideia de deixar a terra para trás, use
expressões bíblicas tais como “herdar a terra”, “herdar o reino”, “entrar
na vida eterna”.
27
Veja WRIGHT, N. T. Paul: In Fresh Perspective. Minneapolis: Fortress Press, 2005, p.
143.
20
“PAPAI, OS ANIMAIS VÃO ESTAR NO CÉU?” A FUTURA NOVA TERRA
ANIQUILAÇÃO OU TRANSFORMAÇÃO
Francis Pieper, na sua magistral dogmática, debate o futuro “fim do
mundo”.29 Ele observa que nossos teólogos luteranos de antanho discor-
davam em como entender o “passar” do mundo. Será uma total aniqui-
lação segundo a substância ou será uma transformação? Lutero, Brenz,
Nicolai e outros ensinavam a transformação, enquanto Johann Gerhard,
Quenstedt e Calov ensinavam a aniquilação segundo a substância. Pieper
segue Gerhard, preferindo a ideia da aniquilação, mas deixa a questão
em aberto.
Parte do meu propósito aqui é reabrir esse debate. Será o fim da terra
firma e do espaço? Será o futuro dos crentes no dia da ressurreição do
corpo longe da terra nos céus, definido não como um lugar, mas “onde
Deus se revela na sua glória desoculta, ‘face a face’?30 Tem a futura res-
surreição do corpo para os cristãos como paradigma a ascensão de Cristo
de sorte que nós também vamos ascender? Leva a ampla narrativa ao
objetivo de que ascenderemos à imediata, visível presença de Deus onde
não haverá árvores, nem animais, nem terra firma ou espaço? Ou é obje-
tivo da narrativa uma nova criação, céus e terra onde a imediata, visível
presença de Deus habitará no meio do seu povo? Haverá uma nova terra
física, terra firma com árvores e animais? Terá o povo de Deus trabalho
a fazer como mordomos dessa nova criação?
28
Para um debate provocativo e desafiador sobre como a Escritura descreve a futura nova
criação, veja Randy Alcorn. Heaven. Carol Stream, IL: Tyndale, 2004.
29
PIEPER, Francis. Christian Dogmatics III. St. Louis: Concordia Publishing House, 1953;
original: Christliche Dogmatik III publicada em 1920, p. 542-543.
30
PIEPER, op. cit., p. 553.
21
IGREJA LUTERANA
CONCLUSÃO
Vocês cristãos têm um futuro brilhante a sua frente. O Senhor Jesus
voltará visivelmente em glória e transformará o seu corpo humilde para
ser igual ao seu corpo glorioso. Então ele dirá a vocês, suas ovelhas:
“Vinde, benditos de meu Pai! Herdai o reino que vos está preparado desde
a fundação do mundo”. E você entrará na nova e magnífica terra prome-
tida, a nova criação, onde a colheita será abundante, os rios destilarão
com vinho novo e o lobo repousará com o cordeiro. Então você verá o seu
31
HOEKEMA, Anthony A. The Bible and the Future. Grand Rapids: Eerdmans, 1979, p. 281.
32
RAABE, Paul R. “Why the BC Scriptures Are Necessary for the AD Church”. Lutheran Forum
(Summer 1998), p. 11-12.
22
“PAPAI, OS ANIMAIS VÃO ESTAR NO CÉU?” A FUTURA NOVA TERRA
Criador e Salvador como ele é, face a face. Então o nome de Deus será
santificado de maneira perfeita, seu reino virá em toda a sua plenitude
e sua vontade será realizada de forma perfeita na terra. Que futuro de
eterna alegria e felicidade! Vem, Senhor Jesus, vem depressa!
23
OS 500 ANOS DO NOVUM INSTRUMENTUM
DE ERASMO
Vilson Scholz1
1
Dr. Vilson Scholz é professor do Seminário Concórdia e ULBRA e Consultor de Traduções
da Sociedade Bíblica do Brasil
OS 500 ANOS DO NOVUM INSTRUMENTUM DE ERASMO
feita por Nicholas Gerbel, em 1521. Fosse hoje, seria considerada uma
edição pirata, pois Gerbel simplesmente imprimiu o texto grego editado
por Erasmo, sem dar crédito a ele.
25
IGREJA LUTERANA
26
OS 500 ANOS DO NOVUM INSTRUMENTUM DE ERASMO
27
IGREJA LUTERANA
vida”). Essa confusão foi criada no latim, pois existe grande semelhança
entre ligno (árvore) e libro (livro).
Além disso, também em Atos 9.5-6, Erasmo criou um texto grego mais
longo a partir do texto latino (“ele te dirá o que deves fazer”). Este texto
mais longo foi incorporado na King James Version e aparece também na
Almeida Corrigida Fiel, que, neste caso, de fiel não tem absolutamente
nada.
Um caso que mereceria um estudo à parte, como de fato ocorre no nú-
mero da revista The Bible Translator mencionado no início, é o tratamento
dado do texto de 1João 5.7-8, ou seja, a não inclusão da referência às
três testemunhas no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo. Ainda hoje
essa omissão é vista como suposta tentativa de negar a Trindade, o que
é totalmente infundado. Na época de Erasmo foi vista como promoção
do ponto de vista ariano (isto é, como negação da divindade de Cristo).
Erasmo não incluiu essa frase nas duas primeiras edições do Novo Tes-
tamento por não tê-la encontrado em nenhum manuscrito grego. Aqui é
preciso destacar que Lutero, que se valeu da segunda edição de Erasmo,
questionou a canonicidade desse texto. Além de razões teológicas, Lutero
tinha a seu favor o “Nestle-Aland 28” de seu tempo, ou seja, a mais re-
cente edição do texto grego. Erasmo não havia feito nenhuma promessa
de incluir essa frase em sua edição. No entanto, como, para a terceira
edição, chegou às suas mãos um manuscrito contendo esse texto mais
longo, Erasmo, para silenciar os seus críticos, acabou fazendo a inclusão
desse texto que muitos conhecem por Comma Iohanneum. E o resultado
disso é sentido até os dias de hoje, embora seja a questão crítico-textual
mais fácil de resolver: nenhuma chance de ser original, pois só aparece
em manuscritos bem recentes, nos quais foi incluído por influência do
texto latino.
28
A NATUREZA PASSIVA DA IGREJA – UMA
ANÁLISE DO CONCEITO DE IGREJA E SUAS
IMPLICAÇÕES PARA A VIDA
DOS CRENTES1
Timóteo Felipe Patrício2
RESUMO
O objetivo do presente artigo é propor a passividade como caracterís-
tica essencial da igreja. Por meio da análise de referenciais sistemáticos
e bíblicos são apontados aspectos básicos do conceito de igreja para
demonstrar sua passividade. A igreja existe a partir da ação de Deus,
em Cristo, pelo seu Espírito, por meio da Palavra. O crente é puramente
passivo da ação de Deus para pertencer a ela. Tal noção é significativa
diante da tendência – suscitada pelo pecado – de considerar a igreja como
oriunda de iniciativa humana.
Palavras-chave: Igreja; passividade; evangelho; sacramentos.
ABSTRACT
The purpose of this article is to propose the passivity as an essential
characteristic of the church. Through the systematic and biblical analysis of
references are pointed out basic aspects of the church concept to demons-
trate their passivity. The church exists from the action of God in Christ, by
his Spirit, through the Word. The believer is purely passive of God’s action
for belonging to it. Such a notion is significant facing the trend – raised by
sin – of considering the Church as originated from human initiative.
Keywords: Church; passivity; gospel; sacraments.
1
Artigo apresentado à Universidade Luterana do Brasil como requisito para conclusão de
Pós-Graduação Lato Sensu, especialização em Ministério Pastoral.
2
Timóteo Felipe Patrício possui graduação de Bacharel em Teologia pela Universidade Luterana
do Brasil – ULBRA (2013) e Especialista em Teologia e Ministério Pastoral, também pela
Ulbra (2015). E-mail: timoteof@hotmail.com. Orientação por Paulo Wille Buss, o qual possui
graduação em teologia pelo Seminário Concórdia (1977), estudos em Ciências Sociais pela
UFRGS (1975-1979), estudos em História pela Faculdade Porto-Alegrense (1977-1979),
mestrado e doutorado em História da Igreja pelo Concordia Seminary de Saint Louis, EUA.
Atualmente é professor titular da Universidade Luterana do Brasil e do Seminário Concórdia.
Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em História da Igreja.
IGREJA LUTERANA
INTRODUÇÃO
Conceitos facilmente podem ser deturpados. É assim com o conceito
de igreja. A situação que levou à reforma luterana envolvia uma distor-
ção do conceito bíblico de igreja que afastava as pessoas de Cristo – o
fundamento de sua fé. Os cristãos eram escravizados por uma estrutura
eclesiástica, cuja cabeça era o papa, que constituía uma barreira para o
conforto procedente do evangelho. A fé simples não tinha espaço diante
de uma série de exigências que eram necessárias para que os crentes
fossem considerados membros da igreja. De acordo com o que se pro-
punha, estar em dívida para com essas exigências significava não ter
comunhão com Deus.
Uma situação tal como aquela pode ser repetida, uma vez que a natu-
reza corrompida dos seres humanos que a condicionaram é a mesma até
o fim dos tempos. Se não nos mesmos termos, é possível que, de alguma
forma, Cristo volte a ficar em segundo plano e o ser humano assuma o
lugar principal no estabelecimento da comunhão com Deus. Talvez seja
até conveniente dizer que isso acontece constantemente, sendo preciso
que haja arrependimento e fé, de modo que o crente desista de sua justiça
própria e se apegue novamente a Cristo.
Para o conceito de igreja, esta deturpação da verdade consiste em
considerá-la como organização que parte da iniciativa humana. Nestes
termos, o ser humano é ativo no estabelecimento, no crescimento e na
manutenção da igreja. O que define e determina quem pertence a ela é
formado a partir da vontade e da razão humanas.
O que se tem a partir da Palavra de Deus, no entanto, é diferente. A
igreja é de Deus e, portanto, é Ele quem determina o que ela é. Deus é o
único ativo na criação e manutenção da igreja. Esta atividade ele efetua
através de sua Palavra, que também é oferecida e concedida nos sacra-
mentos – Batismo e Santa Ceia. O crente é puramente passivo em todo o
processo. Sua certeza do favor de Deus procede unicamente do que Cristo
fez e faz por ele e lhe é conferida pela obra do Espírito Santo.
Através da pesquisa em referenciais sistemáticos e bíblicos, algu-
mas características básicas da igreja serão apontadas, para demonstrar
em pormenores como esta passividade se estabelece. De acordo com
isso, num primeiro momento, unidade, catolicidade, visibilidade, ocul-
tamento, santidade e pecaminosidade serão tomados como aspectos
essenciais da igreja. Na segunda parte do artigo, estes aspectos serão
considerados na apresentação do modo de existência da igreja, a partir
da Palavra de Deus. Esta verdade será proposta contra o pano de fundo
da tendência existente de considerar a igreja como fruto da ação e da
vontade humanas.
30
A NATUREZA PASSIVA DA IGREJA ...
ECLESIOLOGIA BÁSICA
Unidade e Catolicidade
A unidade e a catolicidade são dois aspectos relevantes nas formu-
lações sobre a igreja ao longo da História. A consciência dos cristãos a
respeito de si mesmos parece ter considerado que são aspectos essenciais
que precisam ser mantidos lado a lado. Dada esta importância, é preciso
abordá-los nas considerações pretendidas pelo presente artigo.
O uso da palavra “igreja” (ekklesia), no Novo Testamento, mostra que
o termo pode ter diferentes significados.3 Basicamente chamam a atenção
duas ideias que estão envolvidas. A Igreja de um local é identificada como
sendo a igreja. A igreja se manifesta em congregações locais. Há, assim, a
menção à igreja de determinado local como, por exemplo, quando se fala
da “igreja de Antioquia” (Rm 16.1); da “igreja de Cencreia” (At 20.28); da
“igreja que está em Corinto” (1 Co 1.2); da “igreja dos tessalonicenses”
(1 Ts 1.1). É interessante que até mesmo uma comunidade que se reúne
em uma casa pode ser chamada de Igreja (Cl 4.15, Fm 2). No entanto,
todos os crentes de todos os lugares são a igreja (Ef 1.22).4 De acordo
com isso, é preciso notar que a amplitude da realidade da igreja para
além de uma comunidade local não significa que ela resulta da adição de
comunidades particulares. Cada comunidade representa toda a igreja.5
É assim que Paulo identifica a igreja como sendo “de Deus” (At 20.28) e
pode falar de Cristo como sendo “o cabeça da igreja” (Ef 5.23).
L. Coenen, a partir do livro de Atos, diz que a igreja “é uma só, em
todo o mundo, e, ao mesmo tempo, é plenamente presente em todas
as assembleias individuais [...]. Lucas, portanto, pode falar no singular
igualmente da igreja em geral (At 8.3) e da ekklesia ‘por toda a Judeia,
Galileia e Samaria’ (9.31)”.6 A partir do que Paulo manifesta em suas cartas,
Guthrie afirma: “o padrão paulino para a igreja parece ser que cada grupo
local era uma igreja de Deus, mas nenhum deles podia ficar isolado dos
demais”.7 As pessoas que passam a pertencer à ekklesia não perdem sua
cidadania terrena, continuando a ser identificadas pela posição ou ordem
3
SCHOLZ, V. Reflexões introdutórias sobre o conceito de igreja no Novo Testamento. In: O
povo de Deus: estudos teológicos em homenagem ao Dr. Acir Raymann pelos 40 anos de
Seminário Concórdia. Porto Alegre: Concórdia, 2014, p.307.
4
Ibid., p.308.
5
SCHMIDT, K. L. Igreja. In: A Igreja no Novo Testamento. Trad: Helmuth Alfredo Simon.
São Paulo: ASTE, 1965, p.21.
6
COENEN, L. Igreja. In: Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (DITNT).
Organizado por Colin Brown e Lothar Coenen. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Vida
Nova, 2000, p.996.
7
GUTHRIE, D. Teologia do Novo Testamento. Trad: Vagner Barbosa. São Paulo: Cultura
Cristã, 2011, p.748.
31
IGREJA LUTERANA
8
COENEN, L. Op. Cit. p.992.
9
Ibid., p.994.
10
INÁCIO DE ANTIOQUIA. Carta aos Esmirnenses. In: GOMES, Cirilo Folch. Antologia dos
santos padres. 2.ed. São Paulo: Paulinas, 1980, p.43.
11
COENEN, L.Op. Cit. p.991.
12
SCHMIDT, K. L. Op. Cit. p.26.
32
A NATUREZA PASSIVA DA IGREJA ...
13
Apologia, VII, 10.
14
SCHMIDT, K. L. Op. Cit. p.29.
15
ELERT, W.Op. Cit., p.285.
16
CM, Credo, 42.
33
IGREJA LUTERANA
17
CA, VII, 2.
18
SCHLINK, E. Theology of the Lutheran Confessions. Philadelphia: Muhlenberg, 1961,
p.208.
19
Idem: “who is present and active wherever the Gospel is preached according to his com-
mission and the sacraments are administered”.
20
ELERT, W. Op. Cit. p.277: “The church is an inner unity that encompasses all believers”.
21
SCHLINK, E. Op. Cit. p.205: “unity and catholicity are indeed always in contrast when
viewed from the standpoint of church history”.
22
SCHLINK, E. Op. Cit. p.205: “The one, holy, catholic and apostolic church is to be believed
and is confessed in the same faith which confesses the triune God”.
23
LUTERO, CM, II, 51.
34
A NATUREZA PASSIVA DA IGREJA ...
igreja são Palavra e Sacramentos, que são os meios pelos quais Cristo
se dá aos seus. A unidade é criada e mantida pelo Espírito Santo, por
meio da Palavra de Deus.24 A unidade verdadeira é uma unidade espiri-
tual, baseada na justiça de Cristo da qual a fé se apropria.25 Assim, “a
unidade e a catolicidade da igreja são idênticos na unidade do Filho de
Deus para quem todos os homens estão sujeitos, e com isso também a
unidade do Espírito Santo que cria toda fé em Jesus Cristo e sem a qual
não há santo na terra”.26
Sempre houve a percepção de que a igreja, embora composta de
diversas comunidades, esteve unida, pois não é possível haver várias
igrejas, mas somente uma, que confessa a fé em Cristo. No entanto há
necessidade de perceber o que define a unidade e a catolicidade. Esta
unidade, estabelecida entre comunidades de todo mundo, existe não de
acordo com uma organização eclesiástica, mas unicamente pela ação do
Espírito Santo.27 Pois é verdade que “há somente um corpo e um Espírito,
como também fomos chamados numa só esperança da nossa vocação;
há um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4.4-5). Diz Lutero, no
Catecismo Maior, parte II: “Pelo Espírito a ela (comunhão dos santos)
fui levado e incorporado através do ato de haver ouvido e, ainda, ouvir
a palavra de Deus, que é o princípio para nela se entrar”.28 A Confissão
de Augsburgo, tal como organizada, deixa claro como esta unidade é
constituída. Os artigos VII e VIII, que tratam da igreja, são posteriores
aos artigos do pecado original (Art. II) e da justificação pela fé (Art. IV).
A igreja, pois, é a comunidade de todos aqueles que foram redimidos de
24
Ibid., 52.
25
Apologia, VII, 31.
26
SCHLINK, E. Op. Cit. p.208: “The unity and catholicity of the church are identical in the
unity of the Son of God to whom all men are subject, and therewith also the unity of the
Holy Spirit who creates every faith in Jesus Christ and without whom there is no saint on
earth.”
27
Unidade e catolicidade entendidas desta forma contrariam o conceito católico romano a
respeito. Isto porque a catolicidade não depende da submissão à hierarquia eclesiástica
que tem o bispo de Roma como o vigário de Cristo na terra. Desde então, não há porque
considerar os ritos e costumes estabelecidos pelos concílios. É certo que Lutero não queria
fundar uma nova igreja, antes reformar a existente, por entender que Deus age através
de sua Palavra apesar da corrupção daqueles que a administram. No entanto, a atitude
do catolicismo frente à reforma iniciada por Lutero tem consequências determinantes na
conceituação a respeito da unidade da igreja. Não há como estar em consenso com aqueles
que admitem e ensinam doutrina falsa. A Fórmula de Concórdia assim tem como objetivo
encontrar consenso na doutrina e administração dos sacramentos. É esta a intenção do
Livro de Concórdia, formulado para que se pudesse perseverar e permanecer na verdade
divina revelada nas Sagradas Escrituras e expostas nos documentos confessionais. A
declaração central para o espírito das confissões e que é determinante para o conceito
de igreja se encontra na Confissão de Augsburgo, no artigo VIII: “... para a unidade da
igreja, basta que haja acordo quanto à doutrina do evangelho e à administração dos
sacramentos”.
28
CM, II, 52.
35
IGREJA LUTERANA
Visibilidade e Ocultamento
A igreja é a comunhão dos santos. Todos aqueles que creem em Cristo
constituem a igreja. Desta forma a igreja não pode ser vista. Os santos
não podem ser reconhecidos por olhos humanos. Apenas Deus perscruta
os corações e sabe quem é verdadeiramente santo.29 Ao mesmo tempo,
a igreja pode ser vista e percebida por meio de sinais ou marcas que in-
dicam a sua existência. Onde Palavra e Sacramentos são administrados
corretamente, ali está a igreja.30
O desenvolvimento destes aspectos da igreja tem gerado compreen-
sões distintas. A Igreja Romana arroga para si o título de Católica porque
entende a catolicidade sociologicamente. Ser da igreja católica significa
fazer parte da organização visível chefiada pelo papa. Esta é considerada o
corpo místico de Cristo.31 A teologia calvinista propõe uma distinção entre
uma “igreja invisível” e uma “igreja visível”, colocando-as lado a lado sem,
no entanto, estabelecer uma devida integração ou ligação entre elas.32
A teologia luterana, no entanto, entende a igreja “encarnacionalmente”.
A eclesiologia luterana distingue a igreja invisível e a igreja visível sem
separá-las. A igreja é entendida como comunhão interior da fé e como
comunhão externa nos meios da graça.33
A igreja, pois, é sociedade espiritual e oculta a olhos humanos. Quando
interrogado pelos fariseus sobre quando o reino de Deus apareceria, Jesus
responde: “Não vem o reino de Deus com visível aparência” (Lc 17.20).
Somente Deus sabe quem é parte da verdadeira igreja, pois somente ele
sonda os corações (2 Tm 2.19). No entanto, a igreja também tem um
aspecto visível. A visibilidade da igreja está nos sinais que denotam a
29
ELERT, W. Op. Cit., p.258.
30
CA, VII, 1.
31
MARQUART, K. E. The church and her fellowship, ministry, and governance. Fort Wayne:
The International Foundation for Lutheran Confessional Research, 1995, p.10.
32
Idem.
33
Ibid., p.11.
36
A NATUREZA PASSIVA DA IGREJA ...
34
Esta definição se dá conforme a Apologia da Confissão de Augsburgo. Cf. Apologia, VII e
VIII, 5. No entanto, há ainda outros sinais que podem servir para a percepção da igreja:
1) a verdadeira pregação do evangelho, 2) a correta administração do Batismo, 3) o cor-
reto uso do Sacramento do Altar, 4) o correto uso das Chaves 5) o legítimo chamado de
ministros para ensinar e administrar os sacramentos, 6) oração, salmodia e instrução feitas
publicamente, 7) cruzes e tribulações de fora e de dentro (Cf. LUTERO, Dos Concílios e da
igreja. In: Obras Selecionadas vol. 3. 2 ed. Trad: Ilson Kayser. Porto Alegre: Concórdia;
São Leopoldo: Sinodal; Canoas: ULBRA, 2007, p.404-432.) Embora Lutero relacione um
maior número de notas, não há conflito entre esta sua formulação e a Apologia. As quatro
notas adicionais de Lutero indicam que a igreja está presente, mas nem sempre elas são
existentes. É preciso, pois, dizer que “Lutero está obviamente falando tanto das notas aci-
dentais como das essenciais” (PREUS, R. A Base para a Concórdia. Trad.: Paulo W. Buss.
In: Ensaios Teológicos, n.1. São Leopoldo: Departamento de Comunicação da IELB, 1978,
p.9.)
35
TEIGEN, B. W. The Church in the New Testament. In: CTQ, n.4. Fort Wayne: Concordia
Theological Seminary, 1978, p.384: “The invisiblity of the church does not consist in this
that it is not in the world, but rather that it is not part of the world, and hence it cannot be
judged according to the criteria which the world employs”.
36
Idem.
37
Apologia, VII,14.
38
GUTHRIE, D. Op. Cit. p.706.
37
IGREJA LUTERANA
39
Ibid., p.707.
40
PREUS, R. Op. Cit. p.8.
41
Apologia, VII, 10.
42
LUTERO, M. Comentário à Epístola aos Gálatas. In: Obras Selecionadas, vol. 10. Trad: Paulo
F. Flor. Porto Alegre: Concórdia; São Leopoldo: Sinodal; Canoas: Ulbra, 2008, p.46.
43
Idem.
44
Idem.
45
Idem.
38
A NATUREZA PASSIVA DA IGREJA ...
Santidade e Pecaminosidade
A santidade faz parte da identidade da igreja. A santidade cristã existe
“quando o Espírito Santo concede às pessoas a fé em Cristo, santificando-
as por meio disso (At 15.9)”.46 É assim que Paulo, ao escrever suas cartas
a algumas igrejas, refere-se aos crentes daquele local como santos (Ef
1.1; Fp 1.1; Cl 1.1). Evidentemente esta santidade é a que procede da
ação de Deus em Cristo, como diz Paulo aos cristãos de Corinto: “aos
santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos” (1 Co 1.2) e diz
também na carta aos Romanos: “a todos os amados de Deus, que estais
em Roma, chamados para serdes santos” (Rm 1.7). A igreja como cor-
po de Cristo é santa, porque ele “a si mesmo se entregou por ela, para
que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela
palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, [...] santa e sem
defeito” (Ef 5.25-27). No entanto, a igreja não está livre da realidade do
pecado. Como já dito anteriormente, na era presente, há e sempre haverá
maus e hipócritas na sociedade externa da igreja. Além disso, os crentes
verdadeiros não são apenas santos, mas também pecadores (Rm 7.18-
20). Esta é a realidade da igreja: ela “é santa, mas, ao mesmo tempo,
também é pecadora”.47
46
LUTERO, M. Dos concílios e da igreja. In: Obras Selecionadas vol. 3. 2 ed. Trad: Ilson
Kayser. Porto Alegre: Concórdia; São Leopoldo: Sinodal; Canoas: ULBRA, 2007, p.406.
47
LUTERO, M. Op. Cit. 2008, p.121.
39
IGREJA LUTERANA
48
ELERT, W. Op. Cit. p.257: “only those are holy who are holy in accordance with the veredict
of God.”
49
Idem.
50
SCHLINK, E. Op. Cit. p.209.
51
Apologia, VII, 20.
52
LUTERO, M. Op. Cit. 2007, p.412.
53
Idem
54
Idem
55
SCHLINK, E. Op. Cit. p.210.
56
Idem.
57
Apologia, VII, 21.
58
Idem
59
JOHNSON, J. F. Commentary on “The Doctrine of the Church in The Lutheran Confessions”.
In: The Springfielder 1969, n.1. Chicago: American Theological Library Association, 1969,
p.32: “When the Gospel is denied there is no question: the koinonia has been broken”.
40
A NATUREZA PASSIVA DA IGREJA ...
60
Idem.
61
LUTERO, M. apud ELERT, W. Op. Cit. p.262: “The Christian Church cannot be without suf-
fering, persecution, and dying, yes, not without sin either”.
62
SCHLINK, E. Op. Cit. p.203: “The believers are the saints; the saints are the believers”.
63
DS, VI, 7.
64
Apologia, II, 35.
65
Ibid., 36.
66
DS, III, 22.
41
IGREJA LUTERANA
67
SASSE, Herman. Luther’s Faith in the One Holy Church. Disponível em: http://mercyjourney.
blogspot.com.br/2013/01, p.5.
68
ELERT, W. Op. Cit. p.262: “The face of the church is the face of one who is a sinner, troubled,
forsaken, dying, and full of distress. […] Nevertheless, faith sees the opposite, the saint,
the ‘glory of God’ (gloria dei), the ‘glory of the Christian brotherhood’”.
42
A NATUREZA PASSIVA DA IGREJA ...
69
CA, VII, 2.
70
AE, Terceira Parte, XII, 3.
71
KOLB, Robert. The Sheep and the Voice of the Shepherd: The Ecclesiology of the Lutheran
Confessional Writings. In: Concordia Journal, Saint Louis: Concordia Seminary, 2010, p.328:
“The Church is God’s Mouth House”.
72
Idem.
73
BAYER, O. A teologia de Martim Lutero: uma atualização. São Leopoldo: Sinodal, 2007,
p.51.
74
Idem.
75
Idem.
76
JOHNSON, J. F. Op. Cit. p.30: “Koinonia with God in Christ leads to koinonia with one an-
other.”
43
IGREJA LUTERANA
conduz à sua santa congregação e nos põe no seio da Igreja, pela qual
nos prega e leva a Cristo”.77
A igreja é reunida por causa da necessidade dos crentes. Os grupos de
cristãos de comunidades locais não se reúnem, mas são reunidos. Por uma
questão de proximidade, eles são atraídos para um lugar comum onde a
Palavra é pregada e os Sacramentos são oferecidos. Este lugar, o templo,
onde são reunidos os cristãos, não constitui a igreja. Ela não é esse lugar
nem existe por causa dele. No entanto, ela depende dele porque nele a
sua substância é oferecida. Nos meios dispostos por Deus – na água do
Batismo, no pão e no vinho na Ceia e na Palavra proclamada, oferecidos
naquele lugar, Cristo está convidando: “Vinde a mim, todos os que estais
cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Por causa
disso, o Espírito Santo conduz os crentes daquele local até lá, para que
sejam alimentados, uma vez que a obra do Espírito consiste em conduzir
a toda verdade e Cristo é a verdade (Jo 16.13; 14.6).
O aspecto da unidade da igreja determina que a reunião das pessoas
em uma comunidade local se dá a partir da essência do que é a igreja,
que é Cristo. Esta comunidade que se reúne não está sozinha, mas em
comunhão com cristãos de todos os tempos e lugares, uma vez que a sua
fé está posta no mesmo Senhor. A catolicidade da igreja existe só porque
Deus expande seu amor por todo o mundo, pelo tempo da graça. A obra
de Cristo na cruz foi realizada para atrair pessoas de todas as nações (Jo
12.32). Para estar em comunhão com outros cristãos, ritos e cerimônias
de qualquer tipo são dispensáveis, pois a igreja consiste naquelas pessoas
em que há conhecimento e confissão verdadeiros da fé e da verdade. Esta
confissão de fé verdadeira é possível somente mediante o livre curso do
evangelho. Infelizmente há a possibilidade de que a estrutura se torne
um obstáculo para a proclamação do evangelho.78
Além disso, o aspecto revelado e o aspecto oculto da igreja precisam
ser mantidos em íntima relação. Não é possível perceber visivelmente a
plenitude da Santa Igreja Cristã, que está espalhada por todo o mundo e
que não corresponde a todos aqueles que dizem ser cristãos. Entretanto
é possível ir até onde a visibilidade da palavra nos permite. Sendo isto
verdade, é preciso que a prática das congregações que se identificam como
luteranas busquem sempre manter-se ao que contêm as confissões.
A unidade, que é premissa da una sancta, deve ser refletida na vida
da igreja no mundo.79 Esta unidade só pode ser refletida na confissão de
77
CM, Credo, 37.
78
ROSIN, R. Lutero e a Estrutura da Igreja então e agora. In: Lutero e o Ministério Pastoral:
1º Simpósio Internacional de Lutero. Organização de Paulo W. Buss. Porto Alegre: Concórdia,
2015, p.73.
79
JOHNSON, J. F. Op. Cit. p.31.
44
A NATUREZA PASSIVA DA IGREJA ...
80
Idem.
81
PREUS, R.Op. Cit. p.16.
82
DS, X, 15.
45
IGREJA LUTERANA
83
ROSIN, R. Op. Cit. p.69.
46
A NATUREZA PASSIVA DA IGREJA ...
84
ALTHAUS, P. A teologia de Martinho Lutero. Tradução: Horst R. Kuchenbecker. Canoas:
ULBRA, 2008, p.317.
85
Ibid., p.322.
86
DS, X, 15.
87
LUTERO apud TEIGEN, B. W. Op. Cit. p.386: “The place of the church is in the temple, in
the school, in the house, in the bedchamber”.
88
Idem.
89
“Por isso, redigi poucos artigos. Pois que, sem isso, já temos de Deus tantos encargos a
cumprir na igreja, no estado e na família, que jamais poderemos satisfazê-los. De que
serve, pois, ou a que auxilia fazerem-se, ademais disso, muitos decretos e ordenações
no concílio, especialmente quando esses pontos fundamentais, ordenados por Deus, não
são considerados nem observados? Precisamente como se ele tivesse de honrar a nossa
bufonaria” em troca do nosso ato de calcarmos aos pés os seus sérios mandamentos” (AE,
Prefácio.).
90
DS, X, 20,21.
91
Apologia, XV, 26.
47
IGREJA LUTERANA
92
ROSIN, R. Op. Cit. p.65.
93
Idem.
94
LUTERO, M., Op. Cit. 2007, p.405.
95
BUSTAMANTE, R. Breves Reflexiones sobre la Iglesia en el Nuevo Testamento. In: Revista
Igreja Luterana, vol. 74, n.1. São Leopoldo: Seminário Concórdia, 2015, p.16: “ella es,
primordialmente, espacio y objeto de la acción de otros (de Dios, de sus siervos y de los
enemigos)”.
96
Ibid., p.21.
97
ROSIN, R. Op. Cit. p.81.
98
BUSTAMANTE, R. Op. Cit. p.21.
48
A NATUREZA PASSIVA DA IGREJA ...
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A igreja é um grupo de pessoas existente para atender a objetivos em
comum. É este o conceito que naturalmente se estabelece. No entanto,
não é possível considerá-lo como concordante com a verdade bíblica.
A unidade da igreja católica – espalhada por todo o mundo – não se
dá por costumes e tradições estabelecidas pela vontade humana, mas
unicamente pela obra de Deus em Cristo. De acordo com isso, se em
outras organizações sociológicas se verifica o significado de um grupo
quantitativamente – pelo número de membros que se reúnem – na igreja,
que antes de tudo é uma organização teológica, se verifica o significado
do grupo qualitativamente – a partir de quem e do que reúne o grupo:
Deus, pelo evangelho de Cristo.
99
Idem: “del designio eterno que va a llegar a su consumación en la intervención final e
inminente de Yahvé en favor de su pueblo.”
100
LUTERO, Op. Cit. 2007, p.421.
101
Idem.
49
IGREJA LUTERANA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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50
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SCHOLZ, V. Reflexões introdutórias sobre o conceito de igreja no Novo
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Dr. Acir Raymann pelos 40 anos de Seminário Concórdia. Porto Alegre:
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TEIGEN, B. W. The Church in the New Testament. In: CTQ, n.4. Fort Wayne:
Concordia Theological Seminary, 1978.
51
DO QUE A IGREJA LUTERANA JAMAIS
PODERÁ ABRIR MÃO!
Jobst Schöne1
1
Dr. Jobst Schöne é bispo emérito da Selbständige Evangelisch-Lutherische Kirche (SELK),
Igreja Luterana na Alemanha; artigo publicado na revista Lutherische Beiträge – 1/2016.
Traduzido pelo Rev. Horst R. Kuchenbecker.
DO QUE A IGREJA LUTERANA JAMAIS PODERÁ ABRIR MÃO!
53
IGREJA LUTERANA
anjo vindo do céu vos pregue diversamente, seja anátema” (Gálatas 1.8).
“Outros escritos, entretanto, dos antigos ou dos novos mestres, seja
qual for o nome deles (inclusive Lutero), não devem ser equiparados à
Escritura Sagrada, porém todos lhe devem ser completamente subordi-
nados, não devendo ser recebidos diversamente de ou como mais do que
testemunhas da maneira como e quanto aos lugares onde essa doutrina
dos apóstolos e profetas foi preservada nos tempos pós-apostólicos”
(Fórmula de Concórdia, Epítome, De Suma, Regra e Norma § 1,2; Livro
de Concórdia, p. 4992). Naquele tempo em que escreveram isto, eles
estavam mais apegados a Lutero do que nós hoje. Mesmo assim, de
Lutero só foram incluídos nos livros confessionais os dois Catecismos,
Menor e Maior, e os Artigos de Esmalcalde.
A Escritura não é somente norma e regra para ensino e vida. Ela é
também um poderoso instrumento através do qual o Espírito Santo age,
gera e fortalece a fé, também hoje. Onde esta Palavra de Deus é procla-
mada e aceita, surge a igreja, também hoje. A Escritura Sagrada é, por
isso, muito mais do que um documento histórico, subordinado às condi-
ções do tempo em que foi escrito e que só pode ser lido e interpretado
conforme o método histórico-crítico. Ela é – independente dos diferentes
tempos de seu surgimento e das diferenças de seus autores – uma uni-
dade, um todo, que deve ser tomado e exposto tendo Cristo como centro
e alvo, mesmo que isto seja hoje contestado de forma veemente e não
haver consenso a respeito. A Escritura não é só palavra de homens, mas
ela é, em todas suas partes, Palavra de Deus, pela qual Deus nos fala
e se revela a nós. A Ele, Deus, todos os expositores e proclamadores
terão de prestar contas. Ninguém deve se sobrepor à Escritura, mas
subordinar-se a ela. “Exegese canônica” desses textos “inspirados” é o
adequado. A Palavra de Deus não se torna para nós “Palavra de Deus”
de caso a caso, conforme a nossa disposição em recebê-la, mas ela é e
permanece a priori.
Deus nos fala na Escritura Sagrada e isto acontece, conforme a con-
cepção luterana, em duas formas bem distintas: de Lei e de Evangelho,
como exigência e como presente, como acusação e como absolvição, como
mortificação e vivificação (cf. Apologia XII § 46; LC p. 198). Este reconhe-
cimento da Reforma Luterana, essa clara distinção entre Lei e Evangelho
é a chave indispensável para a compreensão da Escritura Sagrada. Assim
ela deve ser lida, anunciada, aplicada e crida. Uma mistura ou confusão
dessas duas formas de falar conduz ao erro dos entusiastas (isto é, a falha
e errada tentativa de querer dirigir o mundo pelo evangelho), ou então
2
LIVRO DE CONCÓRDIA. (LC). São Leopoldo (RS): Editora Sinodal; Porto Alegre (RS): Editora
Concórdia, 1980. - As notas ao pé das páginas são do tradutor.
54
DO QUE A IGREJA LUTERANA JAMAIS PODERÁ ABRIR MÃO!
3
Portanto, não podemos abrir mão dessa verdade de que a “Bíblia, Antigo e Novo Testamento,
é, em seu todo, palavra por palavra, inspirada por Deus. Deus deu aos escritores da Bíblia
os pensamentos e as palavras exatas que deveriam empregar. Deus nos deu sua palavra
a fim de fazer-nos sábios para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (Catecismo Menor.
Exposição de Schwan. Porto Alegre: Editora Concórdia, 2013, p. 33,34).
4
Quanto ao livre arbítrio, ensina-se que o homem tem até certo ponto livre arbítrio para
viver exteriormente de maneira honesta e escolher entre aquelas coisas que a razão
compreende. Todavia, sem a graça, o auxílio e a operação do Espírito Santo, o homem é
incapaz de agradar a Deus, temê-lo de coração, ou crer, ou expulsar do coração as más
concupiscências inatas. Isto, ao contrário, é feito pelo Espírito Santo, que é dado pela
palavra de Deus. Segundo Paulo, “O homem natural nada entende do Espírito de Deus”
(1 Co 2.14).
55
IGREJA LUTERANA
5
O pecado original é o pecado que herdamos de Adão, isto é, a completa corrupção de toda
a natureza humana, agora privada da justiça original, inclinada para todo o mal e sujeita
à condenação (Catecismo Menor, pergunta 100, p. 68).
56
DO QUE A IGREJA LUTERANA JAMAIS PODERÁ ABRIR MÃO!
mano, cada qual em sua forma. Se misturarmos esses dois reinos (como
acontece no Islã, onde uma Igreja se torna Igreja do Estado, dependente
do Estado), então facilmente se praticam injustiças em nome da religião
(como por exemplo em Genebra, no tempo de Calvino6); por fim, a Igreja
torna-se um serviçal do Estado, ou o Estado torna-se um Estado de Deus.
A distinção da forma de Deus governar os dois e a consequente separação
de Estado e Igreja pertence à tarefa da qual a Igreja Luterana não pode
abrir mão.
6
Calvino escreveu suas teses sobre Política e Igreja em 1535. Ao tentar implantá-las em
Genebra, foi expulso. Retornou em 1541. Exigiu para si plena autoridade para implantar a
“teocracia”, a cidade de Deus, em 1553. Passou a exigir de todos os cidadãos a “confissão
de fé” e passou a perseguir e executar os que não a aceitaram. Muitos foram mortos por
sua inquisição. Outros tantos fugiram. (Lutheran Cyclopedia, Concordia Publishing House,
1954, p. 155).
57
IGREJA LUTERANA
5. OS SACRAMENTOS E O CULTO
Justificação e sacramentos estão juntos de forma inseparável. Sem
os sacramentos, os frutos da obra salvífica de Cristo permanecem no
passado. Lemos no Catecismo Maior: “‘Quem crer e for batizado será sal-
vo’” (Marcos 16.16). Compreende-se, por isso, da maneira mais simples,
assim: a força, a obra, o proveito, o fruto e o fim (alvo) do batismo é
salvar... É bem sabido, entretanto, que ser salvo não significa outra coisa
que ser liberto do pecado, da morte, do diabo, chegar ao reino de Cristo
e com ele viver eternamente. Vês aqui de novo em que grande apreço se
deve ter o batismo, visto que nele alcançamos tão inexpressível tesouro”
(Catecismo Maior, Do Batismo, § 24; LC, pp. 477-478). Da mesma forma,
a Santa Ceia: “Porque, de outra maneira, como saberíamos que tal acon-
teceu ou que nos deve ser dado de presente, se não nos fosse anunciado
mediante a pregação ou palavra oral? De onde é que o sabem ou como
7
Lemos no Catecismo Menor: Justificação: Recebemos remissão dos pecados e nos tor-
namos justos perante Deus, não pelas nossas obras, mas pela graça, por Cristo, mediante
a fé (pergunta 209). O artigo da justificação pela fé temos que guardar fielmente em
todos os tempos por ser o artigo principal da doutrina cristã, pelo qual a Igreja de Cristo
se distingue de toda a religião falsa, sendo dada a glória somente a Deus e constante con-
forto ao pecador (pergunta 211). Catecismo Menor. 3ª ed. Porto Alegre: Editora Concórdia,
2013.
58
DO QUE A IGREJA LUTERANA JAMAIS PODERÁ ABRIR MÃO!
59
IGREJA LUTERANA
6. O MINISTÉRIO E A IGREJA
Como último ponto na enumeração de assuntos dos quais a Igreja da
Reforma não pode abrir mão está sua posição em relação ao Ministério
da Igreja, enraizado na comunhão dos santos, naquilo que chamamos de
Igreja. A “comunhão dos santos” (communio sanctorum), como o confes-
samos no Credo Apostólico, sabemos que é originalmente a participação
nas coisas santas, nos santos sacramentos. De fato, a Igreja brota da
Palavra e dos sacramentos, por meio deles o “corpo de Cristo” se edifica,
pois a Igreja não surge de resoluções de pessoas que se reúnem para a
finalidade de praticarem juntos a religião (Schleiermacher pensou assim).
Pelo contrário, é pela Palavra anunciada em seu meio e pelos sacramentos
administrados em seu meio que a fé é gerada. É pela fé que as pessoas
são incorporadas ao povo de Deus, no corpo de Cristo. Não são os fiéis que
fazem a Igreja, mas a Igreja faz os fiéis através dos meios que lhe foram
conferidos: Palavra e sacramentos. Assim, a Igreja, como congregação
dos santos, agradece total e inteiramente ao agir e falar de Deus, visto
ser ela criação da Palavra de Deus (creatura verbi divini).
Para levar os dons de Deus, Palavra e sacramentos, às pessoas, a fim
de implantar e fortalecer nelas a fé, Cristo deu à sua Igreja “pastores” e
instituiu o santo ministério que eles exercem. Na instituição desse ofício
pelo próprio Cristo, que chamou e enviou os apóstolos, a Igreja preci-
sa manter-se de forma imutável e não pode ver nisso uma instituição
humana. A concepção de que o santo ministério emana do “sacerdócio
universal de todos os crentes” e é simplesmente uma instituição humana
para manter a boa ordem, é bem pietista, mas não é doutrina da Igreja
Luterana (por isso também não se encontra assim em nossas Confis-
sões). Pelo contrário, a proclamação e a administração dos sacramentos
(sempre é exercido “vice et loco Christi”), é confiada aos portadores do
ministério que Cristo instituiu. Eles, como responsáveis diante de Cristo,
devem exercer seu ministério de forma conscienciosa, sem falsificações.
Sua incumbência e sua autoridade remontam aos apóstolos, aos quais
Jesus chamou diretamente.
Incumbência e autoridade são transmitidos, hoje, pela ordenação.
Cristo age hoje por meios, a saber, dos ministros ordenados. A Igreja tem
o dever de examinar os candidatos à ordenação e transmitir o ministério
àqueles que o querem administrar conforme a vontade de Deus. (E, con-
forme a visão da Igreja antiga e a maioria das igrejas fieis às Confissões,
isso excluía ordenação de mulheres). A imposição das mãos que acontece
60
DO QUE A IGREJA LUTERANA JAMAIS PODERÁ ABRIR MÃO!
61
HOMILÉTICA LUTERANA, PREGAÇÃO
TELEVISIVA E O ARTIGO VII DA
CONFISSÃO DE AUGSBURGO
Lucas André Albrecht1
INTRODUÇÃO
Discussões sobre forma e conteúdo são tópicos recorrentes na vida da
Igreja Luterana, especialmente no início do século XXI. Uma das frases
que se popularizou nestas conversações é “temos o melhor conteúdo, só
precisamos de uma boa embalagem”. Ainda que esta frase, em si, precise
ser melhor considerada, quando se trata de formas, de fato, as divergên-
cias são maiores do que em relação a conteúdos. Quais os métodos que
são adequados, quais as formas que não prejudicam o conteúdo, quais as
ilustrações adequadas para a mensagem bíblica são temas que, normal-
mente, não se esgotam. Um dos maiores receios inferidos deste tipo de
diálogo é a ‘perda da unidade’, e da ‘identidade’ luterana, ao se abdicar de
formas, e até tradições, que, em certas circunstâncias, são consideradas
parte da essência da igreja.
Na televisão, esta tensão é ampliada. Veículo que trabalha primor-
dialmente com a imagem, exige, na ocupação de seu espaço, constante
crescimento e profissionalização na utilização de seus recursos fundamen-
tais. Uma iniciativa luterana que trabalhe com imagem, portanto, muda a
forma, a produção e a emissão de mensagens, sermões, uma vez que a
tradição homilética luterana, quase na sua totalidade, refere-se ao locus
de pregação presencial, especialmente o culto em comunidade. Não se
identifica um campo específico de ensino e pesquisa sobre pregação no
ambiente televisivo. Assim são os conceitos e conteúdos da pregação
no contexto presencial que auxiliam a lançar luz sobre a comunicação
luterana na TV.
No contexto da discussão sobre unidade, essência da igreja e ritos
(formas), recebe destaque a afirmação clara das confissões luteranas,
especialmente em seu artigo VII, a respeito do papel das formas na essên-
cia da igreja e sua missão. Para a verdadeira unidade da Igreja, nenhum
rito (forma) é essencial, mas sim, Palavra e sacramentos. A partir destes
1
Teólogo pelo Seminário Concórdia (1998) e pela ULBRA (2015). Jornalista (2011) e pós-
graduado (2014) pela ULBRA. Mestre em Teologia pelo Seminário Concórdia (2015). Capelão
da Aelbra/ULBRA em Canoas, RS. Produtor, apresentador e diretor do programa “Toque de
Vida”, da Ulbra TV, desde 2004. (lucasalbrecht@gmail.com)
HOMILÉTICA LUTERANA, PREGAÇÃO TELEVISIVA E O ARTIGO VII DA C. DE AUGSBURGO
1. PREGAÇÃO LUTERANA
A partir da Grande Comissão de Cristo3 e, especialmente, do evento na
festa de Pentecostes,4 os cristãos tiveram confirmada a certeza de que o
papel da Igreja Cristã no mundo é, primariamente, anunciar o evangelho
de Jesus Cristo. Os apóstolos afirmam que não podem deixar de falar do
que viram e ouviram.5 Paulo afirma que a fé vem pelo ouvir da pregação
da Palavra. Por isso, é necessário haver, também, quem a pregue.6 Ao
longo de suas epístolas, aponta diversas vezes para o ofício da pregação e
sua importância para a Igreja Cristã.7 Desta forma, ao longo dos séculos,
a comunicação do evangelho, normalmente chamada de pregação, na
Igreja Cristã se consolidou como condição indispensável à sua existência
e manutenção.
Desde o início do movimento da Reforma Protestante, a pregação foi
uma das funções principais de um pastor. Proclamar o evangelho a partir
do púlpito era o meio mais comum de ensinar a doutrina. Até mesmo as
funções do trabalho pastoral foram redefinidas, procurando criar mais
2
THIELECKE, Helmuth. How Modern Should Theology be? London: Fontana, 1970, p.10
3
Evangelho de Mateus 28.19
4
Atos, Capítulo 2
5
Atos 4.20
6
Romanos 10.14-17
7
Por exemplo: 1 Coríntios 1.23; 2 Coríntios 4.1-6; 2 Coríntios 5.18-21; Filipenses 1.15-18;
Colossenses 1.28-29;
63
IGREJA LUTERANA
8
BURNETT, Amy N. How to preach a protestant sermon: a comparison of Lutheran and
Reformed homiletics. Department of Faculty Publications, Department of History. v. 63,
Lincoln, 2007. n. 2, Disponível em: http://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.cgi?ar
ticle=1106&context=historyfacpub Acesso em 01 dez 2015.
9
Id. Ibid.
10
KIRST, Nelson. Rudimentos de homilética. São Leopoldo: Sinodal, 1985
11
SCHMITT, David R. The tapestry of preaching. Disponivel em: http://concordiatheology.
org/2011/09/the-tapestry-of-preaching/ Acesso: Outubro, 2015
12
Id. Ibid.
64
HOMILÉTICA LUTERANA, PREGAÇÃO TELEVISIVA E O ARTIGO VII DA C. DE AUGSBURGO
2. PREGAÇÃO E TELEVISÃO
Quando se fala em pregação cristã na TV, as referências culturais
brasileiras, com maior velocidade, identificam as denominações proemi-
nentes no cenário televisivo, de origem predominantemente pentecostal
e neo-pentecostal. Como o faz, por exemplo, Luiz Carlos Ramos, no artigo
“Persuasão homilética na Idade Mídia”. Ramos analisa a prática homilética
cristã em sua inter-relação com o fenômeno dos meios de comunicação
de massa, particularmente a televisão. Afirma que:
13
JAGNOW, Dieter Joel. Pregação criativa. Porto Alegre, Concórdia, 2010, p.9.
14
Id.Ibid., p.9.
15
A pesquisa detalhada pode ser acessada em: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos
e para ninguém. Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário
Concórdia.
16
RAMOS, Luiz Carlos. Persuasão homilética na Idade Mídia. A pregação contemporânea e
os meios de comunicação de massa. Disponível em: http://www.metodista.br/ppc/camin-
hando/caminhando-15/caminhando-15/persuasao-homiletica-na-idade-midia-a-pregacao-
contemporanea-e-os-meios-de-comunicacao-de-massa Acesso em 26 de maio, 2015
17
Id. Ibid.
65
IGREJA LUTERANA
dos meios seculares.18 Da mesma forma que “quanto mais visual, maior
será a chance de certo conteúdo ser veiculado pelo meio televisivo. Daí a
impossibilidade de, neste caso, separar-se forma de conteúdo”.19
Assim, segue Ramos, quando a religião se serve desse canal de co-
municação,
18
Id.Ibid.
19
Id.Ibid.
20
Id.Ibid.
21
BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet. 2ª ed.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. p.19.
22
BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet. 2ª ed.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. p.249.
23
Id.Ibid., p.244
66
HOMILÉTICA LUTERANA, PREGAÇÃO TELEVISIVA E O ARTIGO VII DA C. DE AUGSBURGO
era bem menos citado do que 20 anos antes. Os debates iam além, es-
pecialmente abordando o papel da família. Muitos diziam que as crianças
precisavam de proteção contra a televisão, mas pouco consenso havia
sobre a forma de fazer isso.24 Depreende-se, assim, que, tendo recebi-
do críticas ferozes, especialmente entre os anos 1960-80, a televisão
também tem sido vista, mais recentemente, com menos preconceito e
por ângulos positivos, como exemplo, sua utilização como veículo de
comunicação e informação.
Quando olhamos a pregação em meios de comunicação a partir da
visão luterana, encontramos em Robert Rosin a definição de que há mui-
tos tipos de veículos de comunicação – mídias – e o papel dos cristãos,
especialmente dos comunicadores, é aprender o que eles fazem e de que
maneira afetam a mensagem. E recomenda:
24
Id. Ibid., p.244
25
ROSIN, Robert. O meio molda a mensagem. In: Lutero e a comunicação: o uso da mídia na
proclamação do evangelho. Organizado por Paulo W. Buss. Nilo Waccholz, ed. Porto Alegre:
Concórdia, 2015, p.53
26
Id. Ibid., p.37
27
Id. Ibid., p.38
67
IGREJA LUTERANA
28
Excelente pesquisa nesta área pode ser encontrada em: BUSS, Paulo Wille. Um grão de
mostarda: a história da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. V. 2. Dieter Joel Jagnow, ed.
Porto Alegre: Concórdia, 2006.
29
BORDINHÃO, Fernanda Chacon. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para
ninguém. Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concór-
dia.
30
SILVA, Fabiano Ribeiro da. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para nin-
guém. Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
31
NUCCI, Tatiana In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para ninguém. Dis-
sertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
68
HOMILÉTICA LUTERANA, PREGAÇÃO TELEVISIVA E O ARTIGO VII DA C. DE AUGSBURGO
32
BORDINHÃO, Fernanda Chacon. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para
ninguém. Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concór-
dia.
33
BRUM, Paulo César Fernandes. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para
ninguém. Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concór-
dia.
34
ELICKER, Ângelo Naor. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para ninguém.
Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
35
SCHMIDT, Marcos. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para ninguém. Dis-
sertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
36
RIES, Walter Trescher Júnior. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para nin-
guém. Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
37
ALBRECHT, Tiago José. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para ninguém.
Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
69
IGREJA LUTERANA
38
JAGNOW, Dieter Joel. Pregação criativa. Porto Alegre: Concórdia, 2010, p.272
39
ROSSOW, Justin P. Preaching the Story behind the Image: A Narrative Approach to Metaphor
for Preaching. Ph.D. diss., Concordia Seminary, 2008., p.5
40
JAGNOW, Dieter Joel. Pregação criativa. Porto Alegre: Concórdia, 2010, p.9.
41
KOLB, Robert. Comunicando o evangelho hoje. Traduzido por Dieter Joel Jagnow. Porto
Alegre: Concórdia, 2009, p.10.
42
Id.Ibid., p.11.
70
HOMILÉTICA LUTERANA, PREGAÇÃO TELEVISIVA E O ARTIGO VII DA C. DE AUGSBURGO
43
PATTEMORE, Stephen. On The Relevance of Translation Theory. In: Review and Expositor, n.
108, Spring 2011, p. 266. Na mesma página, o autor ilustra: “If I shout “Fire!” in a crowded
room, it will be understood by everyone to mean, “The house is on fire. Leave the building
immediately”. I could say exactly what I mean, but it would be not so relevant because it
would take too long for the listeners to process and might not gain their attention in the
first place. Similarly, few in the room would interpret my utterance to mean, “Squeeze the
triggers of your guns” although in another context that might be the precisely relevant
meaning. No code system conceivable distinguishes these two meanings of “Fire!” Context
does that.”
44
PATTEMORE, Stephen. On The Relevance of Translation Theory. In: Review and Expositor,
n. 108, Spring 2011. p. 267.
45
ALBRECHT, Tiago José. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para ninguém.
Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
46
SCHMIDT, Marcos. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para ninguém. Dis-
sertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
47
BRUM, Paulo César F. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para ninguém.
Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
48
REGIANI, Herivelton. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para ninguém.
Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
71
IGREJA LUTERANA
49
BORDINHÃO, Fernanda Chacon. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para
ninguém. Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concór-
dia.
50
SILVA, Fabiano Ribeiro da. In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para nin-
guém. Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
51
RAMOS, Luiz Carlos. Persuasão homilética na Idade Mídia. A pregação contemporânea e
os meios de comunicação de massa. Disponível em: http://www.metodista.br/ppc/camin-
hando/caminhando-15/caminhando-15/persuasao-homiletica-na-idade-midia-a-pregacao-
contemporanea-e-os-meios-de-comunicacao-de-massa Acesso em 26 de maio, 2015
52
PRIETO, Ely. Communication skills for postmodern challenges. San Antonio; 2003. Trabalho
apresentado em sala de aula para curso de pós-graduação. p.3
72
HOMILÉTICA LUTERANA, PREGAÇÃO TELEVISIVA E O ARTIGO VII DA C. DE AUGSBURGO
Lutero entende que aquilo que se proclama é a viva vox Dei, a voz
de Deus. O pregador e as palavras que ele fala são passageiros,
mas a mensagem transmitida trouxe vida.53
53
ROSIN, Robert. O meio molda a mensagem. In: Lutero e a comunicação: o uso da mídia na
proclamação do evangelho. Organizado por Paulo W. Buss. Nilo Waccholz, ed. Porto Alegre:
Concórdia, 2015, p.42
73
IGREJA LUTERANA
54
LIVRO DE CONCÓRDIA. Arnaldo Schüler, trad. 4 ed. Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1993,
p.66.
55
Apologia da Confissão. In: Livro de Concórdia. Arnaldo Schüler, trad. 4 ed. Porto Alegre:
Sinodal/Concórdia, 1993, p.182
56
Id. Ibid., p.182
57
Id. Ibid., p.183
58
Apologia da Confissão. In: Livro de Concórdia. Arnaldo Schüler, trad. 4 ed. Porto Alegre:
Sinodal/Concórdia, 1993, p.183.
74
HOMILÉTICA LUTERANA, PREGAÇÃO TELEVISIVA E O ARTIGO VII DA C. DE AUGSBURGO
59
Id.Ibid, p.183
60
Id. Ibid., p;184
61
Id.Ibid., p.184-5
62
LUECKE, David S. Trends among Lutheran Preachers. Word and World, Volume XIX,
Winter 1999. Disponível em: http://www2.luthersem.edu/Word&World/Archives/19-1_
Preaching/19-1_Luecke.pdf Acesso em 21 nov. 2010. p.22.
75
IGREJA LUTERANA
63
SCHAIBLEY, Robert. “Lutheran Preaching: Proclamation, Not Communication,” Concordia
Journal, St. Louis, v.18, n.1, p. 6-27, jan.1992.
64
Uma introdução a respeito das teorias da recepção encontra-se em Stuart Hall, Nilda Jacks
e Caroline Escosteguy. Estas, por exemplo, entendem o receptor como indivíduo ativo. A
mensagem dos meios é uma forma cultural que pode estar sujeita à análise e interpretações
diferentes da intenção original, já que a audiência é composta por pessoas que produzem
sentido. Assim, o que caracteriza a análise de recepção é uma comparação entre o con-
teúdo dos meios e o da audiência, confrontando a estrutura do conteúdo com a resposta
da audiência a ele (cf. referências na bibliografia).
65
KNOCHE, Gerald. In: JAGNOW, Dieter Joel. Pregação criativa. Porto Alegre: Concórdia,
2010, p.66
66
JAGNOW, Dieter Joel. Pregação criativa. Porto Alegre: Concórdia, 2010, p.67
67
Id. Ibid, p.66
68
KOLB, Robert. Comunicando o evangelho hoje. Traduzido por Dieter Joel Jagnow. Porto
Alegre: Concórdia, 2009, p.17.
69
JAGNOW, Dieter Joel. Pregação criativa. Porto Alegre: Concórdia, 2010, p.66
76
HOMILÉTICA LUTERANA, PREGAÇÃO TELEVISIVA E O ARTIGO VII DA C. DE AUGSBURGO
olhar que procura ver o que é familiar a partir de uma nova perspectiva
ou de um contexto diferente”.70
Sob o título “atualização, não acomodação”, vale, ainda, buscar em Kolb
o referencial de que as palavras que são anunciadas devem ser claras e
compreensíveis para as pessoas que não estão familiarizadas com o contexto
das Escrituras, evitando, no entanto, o perigo de, ao construir a ponte, fixar-
se demais no lado em que ela toca a cultura predominante. Os cristãos não
podem esquecer-se da orientação do Espirito Santo nesta questão. Mas,
70
Id. Ibid., p.66
71
KOLB, Robert. Comunicando o evangelho hoje. Traduzido por Dieter Joel Jagnow. Porto
Alegre: Concórdia, 2009, p.16.
72
JAGNOW, Dieter Joel. Pregação criativa. Porto Alegre: Concórdia, 2010, p.69
73
KNOCHE, Gerald. In: JAGNOW, Dieter Joel. Pregação criativa. Porto Alegre: Concórdia,
2010, p.69.
74
NUCCI, Tatiana In: ALBRECHT, Lucas André. Pregando para todos e para ninguém. Dis-
sertação de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
77
IGREJA LUTERANA
CONCLUSÃO
Ser criativo e investir na variedade de formas é, de certa forma,
arriscar-se. No ambiente televisivo, esta aventura fica ainda mais rica
pelo desafio da comunicação com um público amplo e ‘invisível’. A busca
pelo ideal de não subverter o conteúdo, mas flexibilizar as práticas que
fazem parte do cotidiano homilético de cada pastor, tem sua necessidade
ampliada no ambiente de utilização de veículos de comunicação como a
televisão.
A homilética luterana tradicional possui uma vasta produção e, como
destaca Schmitt, é uma tapeçaria onde, provavelmente, ninguém tem a
peça toda, mas todos podem contribuir como uma parte. A homilética para
a televisão, no entanto, ainda é uma peça por ser tecida, um campo que
pode ser amplamente explorado e para o qual este artigo buscou trazer
uma pequena contribuição.
Utilizar os fundamentos da homilética luterana como base para a
prática da comunicação do evangelho, sem dúvida, é fundamental para o
pregador luterano. Apoiar-se no artigo VII da Confissão, neste contexto,
dá a segurança e certeza das possibilidades e alternativas existentes para
que Palavra e Sacramentos, a essência da Igreja, cheguem às pessoas nas
formas e ritos que melhor estejam adequados ao contexto onde se está
inserido, comunicando, incansavelmente, e de todas as formas possíveis,
o amor de Jesus Cristo pelo ser humano.
REFERÊNCIAS
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de Mestrado, 2015. Disponível na Biblioteca do Seminário Concórdia.
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BURNETT, Amy N. How to preach a protestant sermon: a comparison of
Lutheran and Reformed homiletics. Department of Faculty Publications,
Department of History. v. 63, Lincoln, 2007. n. 2, Disponível em: http://
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KOLB, Robert. Comunicando o evangelho hoje. Traduzido por Dieter Joel
Jagnow. Porto Alegre: Concórdia, 2009.
LIVRO DE CONCÓRDIA. Arnaldo Schüler, trad. 4 ed. Porto Alegre: Sinodal/
Concórdia, 1993.
LOTZ, David. A proclamação da palavra no pensamento de Lutero. Word
and World, vol. 4, New York, 1983, n.3. Traduzido por Clóvis Jair Prunzel
(2004). Disponível em: http://www.seminarioconcordia.com.br/Artigos_
Prunzel/A%20Proclamacao_na_Teologia_de_Lutero.mht . Acesso em 25
abr. 2011.
LUECKE, David S. Trends among Lutheran Preachers. Word and World,
Volume XIX, Winter 1999. Disponível em: http://www2.luthersem.edu/
Word&World/Archives/19-1_Preaching/19-1_Luecke.pdf. Acesso em 21
nov. 2010.
79
IGREJA LUTERANA
80
AUXÍLIOS HOMILÉTICOS
Trienal A
Antigo Testamento – 1990/1, 2001/2, 2002/1, 2010/2, 2011/1
Epístola –1992/2, 1993/1, 2013/1
Evangelho – 1995/2, 1996/1, 2008/1, 2013/2 e 2014/1
Trienal B
Antigo Testamento – 1994/1, 2002/2 e 2003/1
Epístola – 1996/2, 1997/1, 2011/2 e 2014/2
Evangelho – 1999/2 e 2000/1
IGREJA LUTERANA
Trienal C
Antigo Testamento – 1993/2, 1994/1, 1995/1, 2009/2 e 2010/1
Epístola – 1997/2 e 1998/1
Evangelho –1991/2, 1992/1, 2000/2, 2001/1 e 2012/2
Tradicional Reformulada
Antigo Testamento – 1998/2 e 1999/1
Epístola – 2004/1
Evangelho – 1990/2, 1991/1, 2008/2 e 2009/1
82
RESENHA
PLESS, John T. Martin Luther: Preacher of the Cross. Saint Louis: Concordia
Publishing House, 2013.
Edenilson Gass1
1
Especialista em Teologia pelo Seminário Concórdia de São Leopoldo/RS. Mestrando em
Teologia Prática na mesma instituição.
IGREJA LUTERANA
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MARTIN LUTHER: PREACHER OF THE CROSS
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RESENHA
Horst Kuchenbecker1
1
Horst Kuchenbecker é pastor emérito da IELB, residindo em São Leopoldo/RS.
RESENHA
1
Timóteo F. Patrício, pastor na Congregação Cristo, em Duque de Caxias, RJ. É formado
em Teologia (Bacharel e Especialista) na Universidade Luterana do Brasil. Esta resenha foi
apresentada na disciplina de “Seminário em Teologia Contemporânea” e recomendada pelo
professor da disciplina, Dr. Paulo M. Nerbas.
IGREJA LUTERANA
ção], não há quem busque a Deus [para acabar com o misticismo]” (Rm
3.10, 11). Diz Jesus: “Eu sou o caminho [para acabar com o moralismo],
a verdade [para acabar com a especulação] e a vida [para acabar com o
misticismo]” (Jo 14.6).
A expansão das considerações de Veith levam o leitor a perceber a
simplicidade da ação de Deus entre seu povo. A acessibilidade a Deus que
faz parte da loucura da teologia da cruz é proposta contra toda religiosida-
de humana construída sobre uma base fraca e que conduz a rumos nada
promissores. É de suma importância que crentes tenham esta percepção
a respeito de sua vida cristã, vivida tanto na comunhão com os irmãos na
fé quanto em meio à vida comum do dia a dia.
Os crentes precisam ter consciência do que significa “ser igreja”, e o
livro fornece uma perspectiva para tanto. As características da igreja não
podem ser dimensionadas, de acordo com critérios humanos, a partir da
vida diária dos crentes. Na luta contra o pecado, a queda é constante;
na vida diária, há dor e sofrimento; no culto, não há uma manifestação
visível da glória de Deus; a igreja cristã está dividida em diversos grupos
denominacionais; a doutrina falsa é disseminada... diante desses e de
outros aspectos, cristãos podem se perguntar: onde está a una, santa,
católica e apostólica? Nenhuma destas verdades acerca da igreja parecem
ser verdade. No entanto, estas verdades, fazendo parte do credo, são con-
teúdo de fé, não características que podem ser buscadas e encontradas a
partir do esforço humano. Não há como alcançar estas verdades por meio
do moralismo, da especulação ou do misticismo. Estas são verdades que
pertencem à fides quae (fé que é crida).
Olhando para os atos externos realizados em um culto na igreja, não
parece haver nada de grandioso. No entanto, pela fé é possível crer que
nesses atos simples Deus está “comungando” com seus filhos. Em cada
culto estão presentes os meios da graça – o Santo Evangelho, o Santo
Batismo e a Santa Ceia. Sendo assim, Cristo está presente e ali há perdão
de pecados. Deus não está distante, no céu, mas presente entre o seu
povo, servindo-o com a sua graça. Na simplicidade da palavra, do batis-
mo e da ceia, Deus está realizando o milagre do perdão. Não há como
perceber, mas Deus está presente.
Na sua vida diária, cristãos não têm constante tranquilidade; são
diariamente atormentados pelo pecado e suas consequências. Para den-
tro desta realidade, precisam de uma verdade que os console. Esta é a
verdade do evangelho. Não precisam eles buscar sua santidade em si
mesmos. A sua santidade está em Cristo, que também está presente e
ativo em suas vidas para lutar contra o pecado. O sofrimento permanece
até a morte. No entanto, a mensagem cristã não deixa que esta realidade
leve os santos crentes ao desespero. Jesus, verdadeiro Deus, é também
88
ESPIRITUALIDADE DA CRUZ: OS CAMINHOS DOS PRIMEIROS EVANGÉLICOS
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DEVOCIONAL
Vilson Scholz1
1
Professor do Seminário Concórdia e ULBRA e Consultor de Traduções da Sociedade Bíblica
do Brasil. Mensagem proferida na Capela do Seminário Concórdia.
SEM MIM VOCÊS NÃO PODEM FAZER NADA!
Sem mim vocês não podem fazer nada! Tomada isoladamente, a frase de
Jesus poderia ter uma aplicação em termos bem amplos, no sentido do “nele
nos movemos e existimos”. Aqui estaríamos, então, no âmbito da criação.
Tomada isoladamente, a frase de Jesus poderia ser usada, como já foi e
ainda é, num contexto em que o assunto é salvação: sem Jesus a salvação
é impossível. Só que esse “sem mim” pode ser entendido de duas maneiras:
“sem a minha ajuda” e “separados de mim”. Se fosse “sem a minha ajuda”,
Jesus seria um poderoso aditivo ou uma espécie de “energético” que nos
possibilita fazer o que de outra forma não seria possível. Não se trata de
sinergismo no sentido de nós cooperarmos, mas sinergismo ainda mais
crasso no sentido de pensarmos que Jesus nos dá uma simples “mãozinha”.
O contexto de João 15 sugere mais a noção de “separados de mim”, e não
sem a minha ajuda. Não há salvação em nenhum outro (At 4.12).
A frase de Jesus começa com um “porque”, mostrando claramente
que se trata de uma continuação da conversa. Não é uma frase isolada.
O versículo todo diz: “Eu sou a videira, vocês são os ramos. Quem per-
manece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim vocês
não podem fazer nada”. Lido neste contexto, o “não podem fazer nada”
se refere a dar fruto. Um ramo separado não dá fruto. Por outro, o ramo
que permanece na videira dá muito fruto. Portanto, separado da videira
o ramo nada produz.
A diferença não é entre mais ou menos poder, mas entre ter vida e
estar morto. Na sua epístola (que é a do mesmo domingo), João afirma:
“Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o
seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele” (1Jo 4.9).
Sem mim, diz Jesus, nada. O contrário do “sem mim” é “permane-
cendo em mim”. E “permanecer” é um verbo marcante, pela repetição,
neste texto. São sete ocorrências em oito versículos. (Isso deve ter soado
estranho quando dito pela primeira vez, naquela ceia de despedida; hoje,
à luz da Páscoa, nem estranhamos tanto.)
A gente poderia esperar uma perspectiva mais “einsteiniana” (a teolo-
gia como ela realmente é), em que Jesus dissesse: Eu permanecerei em
vocês, para que vocês possam permanecer em mim. Mas Jesus traz uma
abordagem mais “newtoniana” (a teologia como é percebida, de um ponto
de vista mais fenomenológico) e diz: permaneçam em mim.
Este é um imperativo um tanto incômodo, pois nos deixa sozinhos com
a tarefa. Por isso podemos perguntar: Como se dá este permanecer? Isto
pode ficar como algo extremamente abstrato, quase como um exercício
mental. Mas isso não é algo abstrato, e sim algo que se dá concretamente.
Não deveria ser um simples exercício de pensamento ou concentração
no infinito.
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OS VERDADEIROS ADORADORES
João 4.19-30
Leonerio Faller1
1
Prof. Leonerio Faller é diretor do Seminário Concórdia de São Leopoldo/RS. Sermão pro-
ferido na abertura do ano letivo em 19 de fevereiro de 2016.
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ELE VIGIA! VOCÊS ESTAGIAM!
Marcos 13.24-37
Rony Marquardt1
INTRODUÇÃO
Fim de ano. Cansados da correria de provas, trabalhos, preparativos
para as férias? E os estagiários – ansiosos? As coisas se encaminham para
o fim do ano e muita coisa está por acontecer no novo ano.
É neste espírito de fim das coisas e de um novo começo que a leitura
do evangelho do último domingo do ano da Igreja nos coloca. Quero des-
tacar deste texto de Marcos 13 os versículos 27, 32 e 33: “E ele enviará
os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade
da terra até a extremidade do céu. Mas a respeito daquele dia ou da hora
ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai. Estai de
sobreaviso, vigiai [e orai]; porque não sabeis quando será o tempo”.
I.
Dúvida cruel: “Quando será a volta de Jesus?” Quantos já tentaram e
ainda tentam desvendar este mistério! E o próprio Jesus já havia dado a
resposta a esta pergunta:
• “Ninguém sabe” – nem os homens, apesar de tentarem calcular
e predizer a volta de Cristo;
• “Ninguém sabe” – nem os anjos, que são apenas ministros a
serviço de Deus;
• “Ninguém sabe” – nem o Filho, Jesus Cristo, que, segundo a
sua natureza humana e antes de sua ressurreição, escolheu não
saber.
Mas “alguém sabe” – o Pai, que controla o tempo e a duração não
apenas de nossa vida, mas da existência do mundo e do universo. Ele
criou tudo e no momento certo tudo destruirá para fazer “novos céus e
nova terra”.
E é justamente pelo fato de ninguém saber quando será que o nosso
Deus de amor nos ensina a lição da figueira: “Quando já os seus ramos
1
Rev. Rony Marquardt é Vice-Presidente de Ensino da Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
Sermão proferido na Capela do Seminário Concórdia por ocasião da designação de estagiários,
em 25 de novembro de 2015.
IGREJA LUTERANA
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ELE VIGIA! VOCÊS ESTAGIAM!
II.
Acho que, nisso tudo, estou deixando de fazer uma coisa fundamental.
Estou só olhando para mim, como se eu tivesse poder em mim mesmo
para poder vigiar, como se isso dependesse unicamente de mim! Estou
cansado porque estou olhando na direção errada.
Graças a Deus que ele vem ao meu encontro em sua Palavra e me
faz olhar na direção certa. Sempre de novo, como aconteceu no meu
Batismo e como acontece na Santa Ceia, Jesus me faz olhar para ele e
no que ele fez por mim e por todos. Ele vigiou! Ele ficou acordado! Ele
ficou firme em sua fé e jamais abandonou a vontade do Pai. E fez isso
não por si mesmo. Ele não precisava. Ele fez isso por mim. Ele se cansou
e se entregou à morte para que eu não precise andar cansado e morrer!
Ele vive para que eu possa descansar!
Este é o segredo: “Vigiai... e descansai!” A nossa salvação está em
Cristo. Podemos descansar. É por isso que podemos continuar vivendo a
nossa vida sendo bons filhos, pais ou maridos. É por isso que podemos ir
ao culto, ofertar, estagiar e pastorear! Não para vigiarmos e conseguirmos
a salvação, mas porque alguém – o Filho de Deus – já vigiou por nós, e nos
convida a vigiarmos descansando nele. É por isso que podemos continuar
a tarefa de Cristo e que foi dada por ele à sua Igreja até o dia em que ele
voltar, a missão de proclamar o Evangelho para a salvação das pessoas.
CONCLUSÃO
Queridos estagiários de 2016: não é sublime servir a um Salvador
assim? Não é consolador saber que não depende de nós a nossa vigilân-
cia, mas tão somente dele? É assim que vocês podem ir pelo Brasil nesta
confiança: ele está com vocês. Ele vigia! Vocês estagiam!
É o que Jesus quis dizer em Apocalipse 22.(11,12): “O justo continue
na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se. E eis que venho
sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada
um segundo as suas obras”. Continuemos nossa caminhada nesta vida
nesta certeza: não está em nós, mas em Cristo. Ele, e somente ele, é
o Vigilante!
É dele a promessa: “Certamente, venho sem demora”. E seja nosso o
pedido: “Amém! Vem, Senhor Jesus!”
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SIM! Desejo fazer uma assinatura da revista semestral Igreja Luterana. Para isso, estou assi-
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