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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Departamento de Engenharia Mecânica


DEM/POLI/UFRJ

GERAÇÃO HELIOTÉRMICA:
AVALIAÇÃO DO IMPACTO DA UTILIZAÇÃO DE NOVOS
FLUIDOS NO CUSTO DA ENERGIA GERADA

Rodrigo Fonseca Araujo Milani Tavares

Projeto de Graduação apresentado ao Curso


de Engenharia Mecânica da Escola
Politécnica, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de
Engenheiro.

Orientadores: Profs. Alexandre Salem Szklo,


D.Sc e Silvio Carlos Anibal de Almeida,
D.Sc

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL


FEVEREIRO DE 2014
Milani, Rodrigo Fonseca Araujo Tavares.

Geração Heliotérmica: Avaliação do impacto da utilização de novos


fluidos no custo da energia gerada/Rodrigo Fonseca Araujo Milani Tavares. –
Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2013.

X, 93p.:il; 29,7 cm

Orientadores: Alexandre Salem Szklo e Silvio Carlos Aníbal de


Almeida

Projeto de Graduação – UFRJ/Escola Politécnica/Curso de Engenharia


Mecânica, 2014.

Referência Bibliográficas: p. 90-93

1.Energia Solar. 2. CSP 3. Nanopartículas 4. Sal Fundido 5. Custo


nivelado da energia.

I. Szklo, Alexandre Salem. De Almeida, Silvio Carlos Aníbal.


II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Curso de Engenharia
Mecânica. III. Geração Heliotérmica: Avaliação do impacto da utilizadação de
novos fluidos no custo da energia gerada

i
“…a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem.”

João Guimarães Rosa

ii
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer aos meus orientadores, ao Prof. Alexandre Szklo não

somente pela atenção, bom humor e empenho com qual me orientou neste trabalho, mas

tambem por ter me apresentado o caminho das fontes alternativas de energia, tendo me

ajudado a trilhá-lo desde então, e ao Prof. Silvio Carlos de Almeida, por toda a

disposição, companherismo e confiança com o qual me conduziu durante a confecção

deste trabalho.

Tenho muita sorte de ter os amigos que tenho, gostaria de agradecer à todos eles:

W’s, Amigos do Colégio São Vicente de Paulo e CRJ, Plein!, pessoal de Vancouver,

Metalmat e todos os outros que não pertencem a nehum grupo específico, mas têm igual

importância em minha vida. Dentre todos os amigos, porém, gostaria de agradecer

especialmente a todos os amigos da Engenharia Mecânica pelos anos de empreitada e

ajuda mútua, e aos amigos Rafael Komatsu, Pedro Lund, Nícolas Martíns, Diego

Malagueta e Rafael Sória, pela ajuda neste trabalho.

Agradecimentos não faltam à Christina, Léo e Gustavo, por todos esses anos.

Não poderia esquecer de todos os funcionários, pesquisadores e professores com

quem trabalhei e trabalho no PPE – COPPE/UFRJ, tanto no projeto de búzios quanto no

projeto de inovação, pelo aprendizado diário ou a cada reunião.

E por ultimo, porém mais importante, a minha mãe, pai, irmão, vó Nair (in

memorian) e Lu. Por todo amor e carinho.

Obrigado!

iii
AGRADECIMENTOS ...................................................................................................................... iii
Índice das Figuras .........................................................................................................................vi
Índice das Tabelas....................................................................................................................... viii
RESUMO ........................................................................................................................................ix
ABSTRACT ..................................................................................................................................... x
Capítulo 1- Introdução.................................................................................................................. 1
Figura 3 – Geração elétrica nacional por fonte em 2012 ............................................................. 3
1.1- Objetivos, metodologia e organização dos capítulos. ..................................... 11

Capítulo 2 – Tecnologia Heliotérmica. ....................................................................................... 13


2.1 - Introdução ........................................................................................................ 13

2.2 - Coletores Solares ............................................................................................. 13

2.3 - Diferentes tecnologias CSP. ............................................................................. 14

2.3.1 - Torre de concentração. .......................................................................................... 15


2.3.2 - Cilindro Parbólico.................................................................................................. 18
2.3.3 - Refletor Linear Fresnel. ........................................................................................ 20
2.3.4 - Disco Stirling .......................................................................................................... 22

2.4 - Sistema de armazenamento térmico e múltiplo solar em plantas


heliotérmicas. ............................................................................................................ 24

2.4.1 - Arranjos para sistemas de armazenamento em plantas heliotérmicas. ............ 25


2.5 - Custos de uma planta heliotérmica ................................................................ 27

Capítulo 3 - Sistemas de Armazenamento para Geração de Energia Elétrica. ......................... 30


3.1 - Introdução ......................................................................................................... 30

3.2 - Armazenamento Mecânico de Energia .......................................................... 31

3.2.1 - Energia Potencial (Hidroacumulação) ................................................................ 31


3.2.2 - Energia Cinética (Volantes de inércia)................................................................. 33
3.2.3 - Trabalho (Compressão de gases) .......................................................................... 35
3.3 - Armazenamento Químico de Energia ............................................................ 36

3.3.1 - Baterias eletroquímicas ......................................................................................... 37


3.3.2 - Armazenamento Fotoquímico............................................................................... 39
3.4 - Armazenamento Magnético ............................................................................ 40

3.5 - Armazenamento Térmico (Termoacumulação). ........................................... 41

iv
3.5.1 - Calor Sensível. ........................................................................................................ 43
3.5.2 - Calor Latente.......................................................................................................... 45
3.5.3 - Reações termoquímicas ......................................................................................... 48
3.5.4 - Fluido de Trabalho. ............................................................................................... 49
3.5.5 - Desafio para o desenvolvimento do HTF/SM. ..................................................... 51
Capítulo 4 - Ganho Potencial de competitividade para CSP a partir do desenvolvimento do
dos fluidos de trabalho............................................................................................................... 55
4.1 – System Advisor Model ...................................................................................... 56

4.1.1 - Localidade............................................................................................................... 60
4.1.2 - Torre e Receptor .................................................................................................... 63
4.1.3 - Coletores (Heliostatos) ........................................................................................... 69
4.1.4 - Ciclo de potência: ................................................................................................... 73
4.1.5 - Armazenamento Térmico. ..................................................................................... 73
4.1.6 - Custos do Sistema da Torre. ................................................................................. 76
4.1.7 - Parâmetros de financiamento. .............................................................................. 77
4.2 - Resultados. ........................................................................................................ 78

4.3 - Análise de sensibilidade com uso de Cilindro Parabólico. ........................... 80

4.3.1 - Otimização do múltiplo solar. ............................................................................... 83


4.3.2 - Resultados ............................................................................................................... 85
Capítulo 5 - Conclusões. ............................................................................................................. 87
Referencias bibliográficas: ......................................................................................................... 90

v
Índice das Figuras

Figura 1 - Emissões de CO2 por fonte. .......................................................................................... 1


Figura 2 – Geração mundial de eletricidade por fonte. ................................................................ 2
Figura 3 – Geração elétrica nacional por fonte em 2012 ............................................................. 3
Figura 4 – Previsão da penetração de fontes renováveis por fonte. ............................................ 4
Figura 5 – Exemplo de uma planta CSP com termoacumulação ................................................... 6
Figura 6 – Tipos de radiação solar ................................................................................................. 7
Figura 7 – Mapa Mundi para radiação direta normal ................................................................... 7
Figura 8 – Previsão do aumento de geração de energia através de CSP ...................................... 8
Figura 9 – Classificação dos tipos de tecnologia CSP .................................................................. 15
Figura 10 – Ilustração de exemplo de torre solar ....................................................................... 16
Figura 11 – Torre GemaSolar....................................................................................................... 17
Figura 12 – Ilustração da planta de cilindro parabólico .............................................................. 19
Figura 13 – Exemplo de planta de cilindro parabólico ................................................................ 20
Figura 14 – Planta que opera com a tecnologia de refletor Linear Fresnel ................................ 21
Figura 15 – Ilustração do Refletor Linear Fresnel Compacto ...................................................... 22
Figura 16 – Ilustração de um Disco Stirling ................................................................................. 23
Figura 17 – Ilustração de uma planta CSP com arranjo de dois tanques .................................... 26
Figura 18 – Ilustração do armazenamento em um tanque ......................................................... 27
Figura 19 – Quadro esquemático com diversos tipos de armazenamento. ............................... 31
Figura 20 – Ilustração de um sistema de hidroacumulação alimentando geradores eólicos ..... 32
Figura 21 – Exemplo de um volante de inércia ........................................................................... 34
Figura 22 – Configuração de um sistema de armazenamento de ar comprimido ...................... 36
Figura 23 – Comparação entre os diferentes tipos de bateria.................................................... 39
Figura 24 – Melhora na capacidade de troca térmica ................................................................ 53
Figura 25 – Relação entre a capacidade térmica, diâmetro e espessura da camada. ............... 54
Figura 26 – Tela inicial do SAM ................................................................................................... 57
Figura 27 – Opções de tecnologia do SAM.................................................................................. 58
Figura 28 – Opções de simulação de CSP no SAM ...................................................................... 59
Figura 29 – Tela de simulação do SAM ....................................................................................... 60
Figura 30 – Otimização do múltiplo solar da planta 1 ................................................................ 70

vi
Figura 31 – Otimização do múltiplo solar da planta 2 ................................................................ 71
Figura 32 – Otimização do múltiplo solar da planta 3 ................................................................ 72
Figura 33 – Otimização do múltiplo solar da planta 4 ................................................................ 84
Figura 34 – Otimização do múltiplo solar da planta 5 ................................................................ 85

vii
Índice das Tabelas

Tabela 1 – Quadro comparativo das políticas de incentivo ........................................................ 10


Tabela 2 – Parâmetros técnicos, comerciais e econômicos das tecnologias CSP ....................... 24
Tabela 3 – Custo típico das plantas de torre e cilindro parabólico ............................................. 28
Tabela 4 – Características da principais baterias ........................................................................ 37
Tabela 5 – Materiais sólidos que utilizam calor sensível e suas características ......................... 44
Tabela 6 – Materiais liquídos que utilizam calor sensível e suas características ........................ 45
Tabela 7 – Materiais liquídos que utilizam calor sensível e suas características ........................ 46
Tabela 9 – PCMs em estágio comercial ....................................................................................... 48
Tabela 10 – Compostos e reações de armazenamento termoquímico ...................................... 49
Tabela 11 – Principais HTFs e suas plantas ................................................................................. 51
Tabela 12 – Dados climatologicos das localidades com dados georreferenciados .................... 62
Tabela 13 – Dados climatológicos de Bom Jesus da Lapa ........................................................... 63
Tabela 14 – Fórmulas e propriedades do 60% NaNO3 40%KNO3. ............................................... 66
Tabela 15 – Formular e valores simulados para o NaK ............................................................... 68
Tabela 16– LCOE em função do MS da planta 1 ......................................................................... 70
Tabela 17 – LCOE em função do MS da planta 2......................................................................... 71
Tabela 18 – LCOE em função do MS da planta 3......................................................................... 72
Tabela 19 – Parâmetros técnicos das simulações ....................................................................... 74
Tabela 20 – Parâmetros de custo das simulações ...................................................................... 77
Tabela 20 – Parâmetros financeiros das plantas simuladas. ...................................................... 78
Tabela 21 – Resultado das simulações ........................................................................................ 79
Tabela 22 – Parâmetros de custo das plantas com cilindro parabólico. ..................................... 81
Tabela 23 – Parâmetros de financiamento das plancar com cilindro parabólico. ...................... 81
Tabela 24 – Parâmetros técnicos das plantas com cilindro parabólico ...................................... 82
Tabela 25 – LCOE em função do MS da planta 4......................................................................... 83
Tabela 26 –LCOE em função do MS para planta 5 ...................................................................... 84
Tabela 27 – Variação do LCOE das 5 simulações......................................................................... 86

viii
RESUMO

O setor de geração de energia elétrica desempenha um papel importante na

transição para uma economia com menos emissões de gases de efeito estufa, uma vez

que eletricidade pode ser gerada através de fontes renováveis de energia não carbono-

intensivas. Entre as alternativas, a tecnologia heliotérmica ou Concentrated Solar

Power(CSP) demostra grande potencial; portanto, é necessário que se avaliem as

possibilidades de desenvolvimento desta tecnologia, a fim de que tal potencial seja

alcançado.

O presente trabalho visa avaliar o impacto de melhorias dos fluidos de trabalho e

de termoacumulação no custo nivelado da energia gerada. Para fazer tal avaliação,

primeiro foram selecionadas, com base na literatura cientifica, duas melhorias vistas

como promissoras: a melhora do ciclo termodinâmico da planta, através da utilização de

fluidos que operam em maiores faixas de temperaturas (NaK), e a melhoria das

propriedades dos fluidos, como a condutividade térmica e capacidade térmica.

Depois, foram feitas simulações no programa System Advisor Model (SAM),

cuja ferramenta simula parâmetros econômicos e técnicos de fontes alternativas de

energia, a fim de se quantificar tais melhoras em termos do custo nivelado da energia

em duas tecnologias: torres solares e cilindros parabólicos.

ix
ABSTRACT

The electric power sector plays a major hole in the transition for an economy with

less carbon emissions, through the electricity generated by renewable energy sources.

Concentrated Solar Power (CSP) is an interesting alternative, which shows large

potencial. Thus, it is worth evaluating the possibilities for the deployment of this

thecnology in order to achieve such potencial.

This work aims to evaluate the impact of improvements in the heat transfer fluid

and storage medium on the levelized cost of energy. The first step was to select, based

on the scientific literature, two improvements that are seen as promising: the

improvement of the thermodynamical cycle through the usage of a fluid which operates

in a wider range of temperature (NaK), and also a improvement in the fluid’s properties,

such as thermal conductivity and thermal capacity.

Then, the software System Advisor Model (SAM) was run aiming at quantifying

the improvements in terms of the levelized cost of energy in two types of CSP plants:

solar towers and parabolic cylinder throughs.

x
Capítulo 1- Introdução.

Os níveis de CO2 na atmosfera apresentam constante crescimento. Em

2011 foram emitidos um total de 31,3 Gt de CO2 (IEA, 2013), sendo a grande

maioria das emissões provenientes de fontes fósseis, como mostra a figura 1 .

Esta marca mostra uma necessidade de transição para uma economia menos

carbono-intensiva.

Figura 1 - Emissões de CO2 por fonte.


Fonte: IEA, 2013a

O setor elétrico tem grande potencial de contribuição nessa transição

uma vez que, em 2011, a maior parcela da energia elétrica gerada no mundo era

proveniente de fontes fósseis, como apontado na figura 2.

1
Figura 2 – Geração mundial de eletricidade por fonte.
Fonte: IEA, 2013a

O Brasil já possui uma geração de energia elétrica altamente renovável.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em seu relatório anual intitulado

Balanço Energético Nacional (BEN) de 2013, apontou que a geração brasiliera

em 2012, teve participação de 76,9% de hidroeletricidade, como mostra a figura

3. A hidroeletricidade, porém, é uma das formas de geração de energia elétrica

mais afetadas por mudanças climáticas. Previsões nesta área apontam grandes

mudanças no clima da Amazônia, local onde se localiza a maior parte do

potencial brasiliero de hidroeletricidade, o mesmo tende sofrer consideráveis

reduções caso estas previsões se concretizem (SCHAEFFER et al., 2013), logo é

necessário que o Brasil se torne menos dependente desta fonte.

Não obstante, é válido atentar também para o crescimento da participação

das usinas termelétricas no país, tais usinas vem sendo a principal opção a

2
hidroeletricidade. Entre o ano de 2011 e 2012, ainda segundo o BEN houve um

aumento de 2,3% da participação de termelétricas a partir de gás natural, carvão

e derivados de petróleo, logo é necessária uma expansão de outras renováveis.

Figura 3 – Geração elétrica nacional por fonte em 2012


Fonte: EPE, 2013

Apesar de ter participação pouco expressiva na geração elétrica mundial,

as fontes renováveis de energia têm boas perspectivas de crescimento. A

Agência Internacional de Energia, em inglês International Energy Agency (IEA),

prevê um crescimento de 658 GW de capacidade instalada no período de 2013

até 2018, gerando neste ano um total de 7400 TWh/ano em seu cenário mais

otimista (Energy Technology Perspective, ETP), como mostra a figura 4 (IEA,

2013).

3
Figura 4 – Previsão da penetração de fontes renováveis por fonte.
Fonte: IEA (2013b)

A figura 4 apresenta diversas fontes renováveis de energia, todas com

perspectiva de crescimento no médio prazo. Dentre estes fontes, a radiação solar

é a que se mostra mais abundante: chegam à superfície da terra, em média, 63

MW/m2 (KUSHNIR, 2000). Caso fosse possível converter toda esta quantidade

de energia primária em energia final, apenas uma hora de aproveitamento da

mesma seria suficiente para abastecer a demanda mundial de energia final

durante um ano inteiro (BARLEV; VIDU; STROEVE, 2011).

São utilizadas, majoritariamente, duas formas de aproveitamento da

energia solar para geração de eletricidade. A primeira e mais difundida é a placa

4
fotovoltaica (FV). Em 2012 a capacidade instalada chegou a 100 GWp 1 ,

atingindo 0,1% da geração de eletricidade mundial (EPIA, 2013) esta tecnologia

converte energia solar diretamente em eletricidade através do efeito fotovoltaico.

Resumidamente, tal efeito ocorre quando um semicondutor adequadamente

dopado com impurezas do tipo N e P é atingido pela radiação proveniente do

Sol, os elétrons da camada de valência saltam para camada de condução, assim

se tornando livres e gerando corrente elétrica. A segunda é a energia solar

heliotérmica, ou como é conhecida no mundo Concentrated Solar Power (CSP).

Nesse caso a energia proveniente do Sol é primeiro convertida em energia

térmica por meio de coletores e receptor(es), para que, através de um ciclo

termodinâmico seja convertida energia em trabalho, este trabalho por fim é

convertido elétrica. A figura 5 ilustra simplificamente uma planta do Tipo CSP.

1
Wp = watt pico. Watt pico é uma unidade que indica a pontência gerada em condições
climáticas padrão: 1kW/m2
5
Figura 5 – Exemplo de uma planta CSP com termoacumulação
Fonte: Soria, 2011

Quando se comparam as duas tecnologias, CSP e FV, a geração

heliotérmica tem como vantagem o fato de conseguir armazenar energia na

forma de calor, o que é considerado uma vantagem do ponto de vista de custo,

quando comparado ao armazenamento elétrico (DINCER; ROSEN, 2011). Em

contrapartida, a tecnologia FV apresenta como vantagem o fato de poder utilizar

como recurso a radiação difusa, além da radiação direta normal, do inglês Direct

Normal Irradiation (DNI), o que no caso da CSP não é possivel. A figura 6

ilustra os tipos de radiação solar que atingem a superfície da terra. O Brasil se

encontra em um local muito favorável do ponto de vista de recurso para geração

de energia elétrica a partir de CSP, tendo sua radiação direta normal na faixa de

1200 até 2400 kWh/m2/ ano, como mostra a figura 7.

6
Figura 6 – Tipos de radiação solar
Fonte: Bianchini, 2013

Figura 7 – Mapa Mundi para radiação direta normal


Fonte: Trieb, 2009

7
Em termos da penetração de CSP na geração mundial de energia elétrica,

a mesma ainda tem uma das menores capacidades instaladas dentre as fontes

renováveis de energia. Entre as alternativas com plantas instaladas no mundo e

operando comercialmente, a CSP possui a segunda menor capacidade instalada,

em 2013, a mesma possuía apenas 4 GW (IEA, 2013), ficando à frente apenas da

energia proveniente dos oceanos.

Para o caso particular da tecnologia CSP, a IEA (2010) prevê o

crescimento da capacidade instalada, chegando a 2018 em 12GW. Enquanto em

2050 serão gerados pouco mais de 2000 TWh/ano no cenário mais conservador,

como mostra a figura 8.

Figura 8 – Previsão do aumento de geração de energia através de CSP


Fonte: IEA, 2010

Para que se consiga alcançar as metas da Agência Internacional de

Energia, porém, é necessário que o custo da energia gerada através de CSP seja

reduzido. O custo atual da energia varia de 0,14 USD2/kWh até 0,22 USD/kWh

2
USD = dólar estadunidense

8
(SULYOK, 2013), dependendo do sítio e do tipo de tecnologia (os tipos de

tecnologia CSP serão aprofundados no capítulo 2). Para que se reduza o custo,

existem basicamente três possibilidades: a primeira é a produção em série dos

componentes, o que causa uma queda no custo de fabricação dos mesmos, a

segunda é o desenvolvimento tecnológico, o que melhora o desempenho dos

componente e, consequentemente, dinimui do custo da planta. Por fim, têm-se a

terceira possibilidade que é o ganho de escala. Neste caso a redução no custo é

decorrente de um aumento no tamanho da planta térmica que proporciona uma

queda nos custos unitários.

Esforços de P&D vêm sendo feitos para o desenvolvimento desta

tecnologia: por exemplo, em 2011 o departamento de energia dos EUA, em

inglês Departament of Energy (DOE), investiu 60 milhões de USD (DOE,

2011). Neste ponto é valido ressaltar a importância de incentivos para o

desenvolvimento da CSP. Tais incentivos fazem com que o risco do

investimento seja reduzido, o que promove maior expansão e competitividade

destas tecnologias. Na área das fontes renováveis podem ser adotados diferentes

tipos de incentivos. A tabela 1 apresenta os mesmos, suas vantagens e

desvantagens, dentre os incentivos apresentados vale ressaltar que o Brasil adota

o sistema de leilão.

9
Tabela 1 – Quadro comparativo das políticas de incentivo

Incentivo Vantagens Desvantagens


Subsídios diretos para Reduz o montante de Os critérios para escolha do
Investimento capital inicial próprio nível de subsídio e das
necessário para iniciar o tecnologias a serem
projeto. Garante o aumento beneficiadas podem
da capacidade em um curto dificultar a evolução de um
prazo. mercado mais competitivo
em curto prazo e também a
adoção gradual de avanços
tecnológicos. Em princípio,
o subsidio é arcado por
todos os contribuintes
(consumidores e não
consumidores)
Medidas fiscais Cria uma fonte de renda Em se tratando de um
(custo evitado) para o subsidio indireto, valem as
projeto ao longo do período mesmas desvantagens
do benefício fiscal. apontadas no item anterior.
Sistema Feed-in O mecanismo de Feed-In É um mecanismo caro que,
cria uma estabilidade dado o exemplo dos
financeira para o investidor grandes mercados eólicos
ao garantir a compra da (que o mantêm por um
energia por um período período muito longo), tem
pré- determinado. Os riscos se mostrado incapaz de
financeiros são gerar, por si próprio, um
minimizados uma vez que mercado mais competitivo
são protegidos através dos entre as FAEs de geração
contratos de compra e renovável. Não
venda de energia a um necessariamente estimula
prêmio ou preço pré- os empreendimentos
determinados. Garante um eólicos mais eficientes.
aumento de capacidade no Pode acarretar em uma
curto prazo. Em princípio, sobre capacidade instalada
os consumidores da energia e um sobre custo
são aqueles que arcam com indesejado aos
o ônus. consumidores.
Certificados Possibilidade de formação Em geral, o sistema de
Verdes/Sistema de Quotas de um mercado paralelo na cotas necessita uma
comercialização dos infraestrutura regulatória e
certificados verdes. Permite administrativa mais
a formação de um mercado sofisticada (elevados custos
competitivo que leva, em de transação). Não estimula
princípio, ao custo mínimo. pesquisa e
O valor da tarifa é desenvolvimento além de
determinado pelo mercado não estimular a
e não de forma aprendizagem tecnológica.
administrativa Não induz mercado para
fontes com elevado

10
potencial tecnológico,
porém pouco competitivas
Sistema de Leilão Este sistema tende a O sistema de licitação não
favorecer os projetos mais foi suficiente para atrair
eficientes uma vez que os grandes investimentos. Por
projetos de custos mais estar sujeita a muitas
reduzidos são escolhidos incertezas de oferta e
pelo processo de leilão. demanda do setor de
energia, o crescimento de
projetos em FAEs de
geração renovável é baixo.
Também apresenta o
problema de não fomentar
fontes com elevado
potencial tecnológico,
porém pouco competitivas.
Harmonização dos sistemas Cria uma estabilidade O sistema de licitação não
Feed-In e financeira para o investidor foi suficiente para atrair
Quota/Certificados Verdes ao garantir a compra da grandes investimentos. Por
energia por um período estar sujeita a muitas
pré- determinado em um incertezas de oferta e
primeiro momento de demanda do setor de
aplicação do sistema Feed- energia, o crescimento de
In. Após o amadurecimento projetos em FAEs de
da tecnologia a aplicação geração renovável é baixo.
do sistema de Também apresenta o
Quota/Certificados Verde problema de não fomentar
proporciona um cenário fontes com elevado
mais competitivo reduzindo potencial tecnológico,
assim os custos de geração porém pouco competitivas.
inicialmente aplicados
durante o sistema Feed-In.
Fonte: Malagueta (2013)

1.1- Objetivos, metodologia e organização dos capítulos.

O presente trabalho pretende avaliar os impactos de possíveis desenvolvimentos

tecnológicos associados aos fluidos de trabalho do sistema CSP na energia gerada e seu

custo. Em particular, o desenvolvimento tecnológico em questão foca no sistema de

armazenamento térmico. Dois meios compõem esse sistema, o fluido de trabalho e o

meio de termoacumulação, assim foram simuladas melhorias nesses dois fluidos. Tais

melhorias se baseiam na litertura científica.

11
Para concretizar esta análise foram desenvolvidos cinco capítulos, sendo o

primeiro o presente capítulo introdutório. No segundo capítulo serão abordados os

componentes de uma planta CSP e os custos típicos da planta, além da apresentação das

quatro tecnologias existentes (Cilindro Parabólico, Torre de Concentração, Disco

Stirling e Concentrador Linear Fresnel). No capítulo 3, serão discutidos os sistemas de

armazenamento de energia para obtenção de energia elétrica, ao final do mesmo será

dada ênfase à termoacumulação, apresentando também os desafios para o

desenvolvimento do armazenamento térmico em tecnologias CSP.

O capítulo 4 apresenta uma avaliação do potencial de ganho de competitividade

de plantas CSP, a partir da melhoria dos fluidos de trabalho e termoacumulação; esta

avaliação será feita através da ferramenta System Advisor Model, desenvolvida pelo

National Renewable Energy Laboratory (NREL); no final deste capítulo, há uma seção

para discussão dos resultados. Por fim, o capítulo 5 é um capítulo de conclusão, onde

são feitas as considerações finais e propostas para estudos futuros.

12
Capítulo 2 – Tecnologia Heliotérmica.

2.1 - Introdução

A tecnologia heliotérmica, ou CSP, é uma forma de aproveitamento da energia

solar para geração de energia elétrica. Este tipo de tecnologia utiliza superfícies

refletoras que concentram a radiação solar em um receptor. Neste receptor circula um

fluido de trabalho, geralmente óleo sintético ou sal fundido, que executa um ciclo

termodinâmico, usualmente Rankine ou Brayton (DUNHAM; IVERSON, 2014), cujo

objetivo é ativar de forma mecânica uma turbina, assim gerando energia elétrica.

As primeiras plantas CSP foram as Solar Energy Generating Systems, SEGS, um

conjunto de nove plantas situadas no estado da Califórnia, sudoeste dos EUA. Juntas

essas plantas somavam uma capacidade de 354 MW (PY; AZOUMAH; OLIVES,

2013). Em 2013, dezoito países dos 191 reconhecidos pela ONU possuíam plantas do

tipo CSP, totalizando 112 projetos (NREL, 2013a).

2.2 - Coletores Solares

O coletor solar é definido como um trocador de calor que capta a radiação solar

e a transforma em energia térmica (KALOGIROU, 2009). Esta energia térmica pode ser

utilizada diretamente nesta forma, como no aquecimento de água, ou convertida para

geração de energia elétrica, como ocorre em uma planta CSP.

Os coletores podem ser classificados em concentradores e não-concentradores.

Os não-concentradores possuem a mesma área de interceptação e absorção, sendo assim

sua superfície é plana. Por sua vez, os concentradores possuem uma superfície curva

para que se consiga focar os raios refletidos, afim de que sejam atingidas maiores

temperaturas, e consequentemente gerar energia de melhor qualidade. Os coletores de

13
uma CSP são, em geral, concentradores. Um bom exemplo de coletores não

concentradores são as placas para aquecimento de água (TIAN; ZHAO, 2013).

Os concentradores podem ser classificados de acordo com seu foco como

pontuais ou lineares, e, de acordo com seu rastreamento como móveis ou fixos. Os

concentradores classificados como pontuais focam a energia em um único ponto,

enquanto os concentradores lineares focam a energia em uma superfície. Já os

concentradores móveis rastreiam o sol, sendo que este movimento pode se dar em um

ou mais eixos (MALAGUETA, 2013).

2.3 - Diferentes tecnologias CSP.

Como foi dito anteriormente, existem quatro tipos de tecnologias CSP: Cilindro

Parabólico, Refletor Linear Fresnel, Torre de Concentração e Disco Stirling. Elas

podem ser classificadas de acordo com seu foco e receptor, como mostra a figura 9.

14
Figura 9 – Classificação dos tipos de tecnologia CSP
Fonte: Soria, 2011

2.3.1 - Torre de concentração.

A planta do tipo torre de concentração utiliza grandes espelhos,

aproximadamente 12m x 12m, planos (ou levemente côncavos), também chamados de

heliostatos. Tais espelhos são distribuídos 360º ou 180º em volta da torre, para que a

energia seja concentrada em um receptor no alto da mesma. Estes espelhos rastreiam o

Sol em dois eixos, a fim de refletir sua radiação no receptor central situado no alto da

torre. Uma vantagem desse receptor central decorre do fato de o foco ser pontual, assim

minimizando o transporte de energia térmica (MALAGUETA, 2013).

15
A torre de concentração ainda está longe de ter a mesma capacidade instalada

que o cilindro parabólico: em 2013, eram 64MW instalados com a tecnologia da torre,

contra 2.627MW do cilindro (NREL, 2013a). O interesse nesta tecnologia, porém, tem

crescido ao redor do mundo: em 2014, será inaugurada a torre Ivanpah, que apresentará

a maior capacidade instalada de uma planta CSP, 392MW; esta planta é de propriedade

das empresas BrightSource Energy e NRG energy (NREL, 2013a).

A figura 10 ilustra uma torre solar.

Figura 10 – Ilustração de exemplo de torre solar


Fonte: Bianchini, 2013

São utilizadas três possibilidades de fluidos de trabalho para a torre solar: vapor,

sais fundidos e ar. O vapor é o fluido de trabalho em diversas plantas da Espanha, como

a PS10: ele apresenta como vantagem o fato de não necessitar de trocadores de calor,

uma vez que o vapor gerado no campo solar pode ser diretamente utilizado na turbina a

vapor. Este arranjo, porém, apresenta escoamento multifásico e altas pressões de

trabalho, sendo tais condições ainda consideradas um desafio (BURGI, 2013). O

sistema que opera com sais fundidos necessita de trocadores de calor, e de um sistema
16
de backup devido à alta temperatura de fusão dos mesmos. Contudo, tais sais

apresentam como vantagem a alta temperatura que atingem sem se degradarem,

aproximadamente 600ºC (SKUMANICH, 2010). O arranjo com ar ainda está sendo

estudado: uma referência neste caso é o centro de pesquisa de Julich, na Alemanha. A

torre de concentração deste centro possui um sistema de armazenamento passivo em

meio sólido (HENNECK et al., 2008). Os sistemas de armazenamento passivo e ativo

serão mais detalhados na seção 2.4.

A figura 11 mostra a torre GemaSolar situada em Sevilla, Espanha.

Figura 11 – Torre GemaSolar


Fonte: TORRESOLARENERGY, 2013

17
2.3.2 - Cilindro Parbólico

O Cilindro Parabólico é o tipo de tecnologia CSP mais difundida no mundo. No

inicio de 2013 a mesma era responsável por 2.626 MW dos 2.655 MW instalados

(NREL, 2013a). Este fato pode ser explicado como uma decorrência de esta tecnologia

ser a tecnologia das SEGS, citadas na introdução deste trabalho.

Como mostrado na figura 8, o cilindro possui foco linear e os espelhos são

distribuídos no campo solar de forma paralela; os mesmos rastreiam o sol em apenas um

eixo, podendo ser este o eixo leste-oeste ou norte-sul. Cada um deles traz suas

vantagens e desvantagens. Quando o rastreamento se dá no eixo leste-oeste, a vantagem

decorre do fato de os espelhos se movimentarem pouco durante o dia e ficarem

diretamente voltados para o sol de meio dia. O rastreamento norte-sul não fica voltando

para o sol de meio dia, porém recebe mais radiação no início do dia e no fim de tarde

(MALAGUETA, 2013). A figura 12 ilustra esquematicametne uma planta de cilindro

parabólico com armazenamento térmico.

18
Figura 12 – Ilustração da planta de cilindro parabólico
Fonte: IEA, 2010

O fluido de trabalho mais utilizado neste tipo de tecnologia é um óleo sintético

que trabalha na faixa de 300ºC – 400ºC, apesar de, em alguns casos, ser utilizado vapor

(MILLER; LUMBY, 2012). O custo da energia gerada em um cilindro parabólico varia

entre 200 e 290 USD/MWh (LODI, 2011). A figura 13 mostra uma planta de cilindro

parabólico.

19
Figura 13 – Exemplo de planta de cilindro parabólico
Fonte: SEIA (2012)

2.3.3 - Refletor Linear Fresnel.

O Refletor Linear Fresnel se assemelha ao cilindro parabólico, pois possui foco

linear. Os espelhos deste, porém, são planos ou levemente côncavos. Neste arranjo o

receptor se situa um pouco acima dos espelhos que podem ser organizados em

diferentes arranjos, os mais comuns consistem em alinhá-los em uma parábola ou

posicionar “tiras” de espelho no chão. Para este arranjo, porém, é necessário o terreno

planto. Um cuidado necessário com este tipo de tecnologia é o sombreamento que pode

ocorrer, fazendo com que a luz solar não atinja os espelhos. (MALAGUETA, 2013). A

figura 14 mostra uma planta CSP que opera com Refletor Linear Fresnel.

20
Figura 14 – Planta que opera com a tecnologia de refletor Linear Fresnel
Fonte: Lodi, 2011

O Refletor Linear Fresnel ainda possui variações como o Refletor Linear Fresnel

Compacto, do inglês, Compact Linear Fresnel Reactor (CLFR). Esta variação utiliza

dois receptores em paralelo para cada espelho, o que ajuda a contornar o problema de

sombreamento citado acima (BIANCHINI, 2013), além de diminuir o tamanho e

consequentemente o custo da planta (LODI, 2011).

O fluido de trabalho mais utilizado no refletor linear Fresnel é a água/vapor, que

opera a aproximadamente 380ºC. Existem esforços para que essa temperatura atinja

450ºC (BARBOSE et al., 2012). A figura 15 ilustra a variação CLFR

21
Figura 15 – Ilustração do Refletor Linear Fresnel Compacto
Fonte: NREL, 2013b

2.3.4 - Disco Stirling

O disco stirling, assim como a torre de concentração, é um concentrador de foco

pontual. Outra semelhança é o fato de ambos rastrearem o sol em dois eixos. Graças a

essas características o disco possui a maior taxa de concentração, e a segunda maior

temperatura em seu receptor (somente a torre atinge temperaturas mais altas). O espelho

do disco tem formato semiesférico, podendo ser composto de um único espelho ou

diversos. O raio do disco varia entre 5 e 15m, e sua potência entre 5 e 25 kW

(KALOGIROU, 2009).

Este tipo de tecnologia pode ser utilizado de duas maneiras. A primeira delas

consiste em uma operação autônoma, composta por coletor, receptor e um motor

Stirling, (LODI, 2011): nesse caso, a energia é gerada diretamente no motor, que

geralmente opera com o ciclo Stirling. Esta variação é útil para regiões remotas

22
(MALAGUETA, 2013). A outra possibilidade é o arranjo de uma planta onde o disco

opera em conjunto com outros discos. O primeiro modelo é o mais utilizado por

apresentar menos perdas térmicas, alem de possuir menor custo (BIANCHINI, 2013). A

figura 16 ilustra um disco Stirling.

Figura 16 – Ilustração de um Disco Stirling


Fonte: LODI, 2011

Para facilitar a comparação e visualização entre as tecnologias CSP, Soria (2011)

produziu uma tabela com as principais características de cada um dos tipos de

tecnologia CSP. Esta tabela é apresentada abaixo.

23
Tabela 2 – Parâmetros técnicos, comerciais e econômicos das tecnologias CSP

Fonte: Soria, 2011

2.4 - Sistema de armazenamento térmico e múltiplo solar em plantas heliotérmicas.

Como foi dito no capítulo 1, o sistema de armazenamento térmico é uma

vantagem para CSP, quando comparado à tecnologia fotovoltaica. De fato, quando se

aborda o problema da intermitência destas alternativas de geração de eletricidade, o

armazenamento de energia térmica é uma alternativa mais barata que as baterias

eletroquímicas (DINCER; ROSEN, 2011). Neste subcapítulo, serão abordados os

principais arranjos de armazenamento térmico em CSP, enquanto os princípios físicos

deste armazenamento serão mais detalhandos na seção 3.5.

Antes de abordar tais sistemas, porém, é necessário definir um parâmetro de

extrema importância para o projeto de uma planta CSP: o Múltiplo Solar (MS). O

24
Múltiplo Solar é definido como a razão entre a superfície do campo solar da planta real

e a superfície do campo solar requerida para operar o bloco de potência na sua

capacidade nominal, dada uma radiação de projeto (plena carga) (NREL, 2011), ou seja

o MS será igual a 1 quando a área do campo solar permitir operar a turbina com 100%

de carga, para uma radiação normal direta (DNI) de projeto. Quando a planta não possui

termoacumulação o MS igual a 1 é sempre o desejado, porém quando a mesma possui

armazenamento térmico, o MS ideal é maior que 1 pois se deseja gerar mais energia no

campo solar do que a necessária para operar a turbina em plena carga, afim de se

armazenar este excesso.

2.4.1 - Arranjos para sistemas de armazenamento em plantas heliotérmicas.

Os sistemas de armazenamento de uma planta CSP podem ser organizados de

diversas formas. Tais sistemas são classificados como passivo ou ativo, direto ou

indireto (GIL et al., 2010). O sistema ativo é caracterizado quando a transferência de

calor para o meio de termoacumulação se der através de convecção, ou seja, ambos os

fluidos se encontram em movimento. Enquanto, no sistema de armazenamento passivo,

o fluido de trabalho passa pelo meio de termoacumulação apenas para carga e descarga;

o sistema de armazenamento passivo geralmente utiliza o meio de armazenamento no

estado sólido (GIL et al., 2010).

O sistema ativo apresenta como vantagem ter maiores velocidades nos processos

de carga e descarga, mas apresenta como desvantagem o fato de necessitar de sistema

de bombeamento e de trocador de calor, quando no passivo não há essa necessidade, o

que diminui o custo da planta (BARNES et al., 2011).

25
O sistema de armazenamento direto consiste em utilizar o mesmo fluido como

fluido de trabalho e meio de armazenamento térmico, enquanto o sistema indireto utiliza

fluidos diferentes. Uma vantagem do sistema direto é o menor custo quando comparado

ao sistema indireto (GIL et al., 2010).

Os sistemas de armazenamento mais comuns são arranjos ativos com dois

tanques, diretos ou indiretos (MEDRANO et al., 2010). No arranjo com dois tanques, o

meio que recebe calor do fluido de trabalho, proveniente do campo solar (fluido

quente), é armazenado em um tanque (tanque quente). Após o armazenamento de calor

neste tanque, o fluido de trabalho passa pelo bloco de potência; ao sair do mesmo, ele se

encontra a uma temperatura mais baixa. Assim, o calor deste fluido de trabalho (fluido

frio) é armazenado em outro tanque (tanque frio). (BARNES et al., 2011). A figura 17

mostra o esquema de armazenamento em dois tanques.

Figura 17 – Ilustração de uma planta CSP com arranjo de dois tanques


Fonte: Lodi, 2011

26
No sistema com um tanque tanto o fluido frio quanto o fluido quente são

armazenados em um mesmo tanque. Neste caso os fluidos se mantêm separados: um

ficando em cima e outro embaixo devido ao efeito chamado de “stratification”,

estratificação em português, e a zona que os separa é chamada de “thermocline”, em

português termoclina. O armazenamento em apenas um tanque apresenta como

vantagem o menor custo e tamanho (GIL et al., 2010). A figura 18 ilustra o

armazenamento em um tanque.

Figura 18 – Ilustração do armazenamento em um tanque


Fonte : Pacheco et al (2001)

2.5 - Custos de uma planta heliotérmica

Segundo a Agência Internacional de Energia Renovável, do inglês, International

Renewable Energy Agency (IRENA) o custo de uma planta CSP pode ser dividido em

três diferente grupos: custo de investimento ou custo de capital (CAPEX), custo de

27
operação e manutenção (CO&M) e Custo de Financiamento (CF). Em uma planta CSP,

sem hibridização, é válido ressaltar que o custo com combustíveis é menor que os

custos de capital, mesmo em plantas que operam com sal fundido e necessitam de

combustível de queima auxiliar para que o mesmo não solidifique (BURGI, 2013). Em

plantas CSP o CAPEX é responsável 80% do custo total da planta (SULYOK, 2013),

em grande parte por causa do custo do campo solar, maior responsável pelo alto preço

de uma planta CSP (LODI, 2011).

A tabela 3 resume os custos para tecnologia de cilindro parabólico e torre de

concentração, divididos segundo a IRENA (2012).

Tabela 3 – Custo típico das plantas de torre e cilindro parabólico

CAPEX Fator de O&M


(USD/kW) capacidade (USD/kWh)
3
(%)
Cilindro Sem 4.600 20 – 25
parabólico armazenamento
6h de 7.100-9.800 40 – 53
armazenamento
Torre de De 6 a 7 horas 6.300-7.800 40 – 45
concentração de 0,02 – 0,035
armazenamento
De 12 a 15 9.000-10.500 65 - 80
horas de
armazenamento
Fonte: IRENA, 2012

Quando se analisa o custo de uma planta geradora de energia elétrica, um

parâmetro importante é o custo nivelado da energia, em inglês Levelized Cost of Energy

(LCOE). O LCOE é o preço da eletricidade requerido por uma unidade geradora, que

anula a diferença entre as receitas e os custos da planta, considerando-se a recuperação

3
Fator de capacidade é a relação entre o que foi gerado e o máximo que poderia ser gerado em uma planta.

28
do capital investido conforme uma determinada taxa de desconto e uma vida útil

(IRENA, 2012). Em uma planta CSP, o LCOE é de suma importância. Por exemplo,

pode-se usar a minimização do LCOE como critério de determinação do múltiplo solar,

como foi feito por Malagueta (2013), Burgi(2013), Lodi (2011) e Soria (2011). Isto será

feito na presente monografia, mais especificamente no capítulo 4, de forma a garantir

que o dimensionamento da planta para uma dada radiação de projeto atinja o menor

custo possível.

O LCOE pode ser calculado a partir da seguinte fórmula:

onde:

 LCOE = Custo nivelado da energia

 It = gastos com investimentos a.a.

 Mt = gastos com O&M a.a.

 Ft = Gastos com combustível a.a.

 Et = Eletricidade gerada a.a.

 r = taxa de desconto

 n = vida útil do sistema

29
Capítulo 3 - Sistemas de Armazenamento para Geração de Energia Elétrica.

3.1 - Introdução

O armazenamento de energia é um fator predominante na geração de energia

elétrica: em 2008 12% do total da energia final consumida no planeta era proveniente de

sistemas de armazenamento, enquanto que as previsões apontam que até 2025 esse

número deve atingir 34% (IBRAHIM; ILINCA; PERRON, 2008). As alternativas de

armazenamento têm solucionado problemas como a intermitência das fontes renováveis

de energia (EVANS; STREZOV; EVANS, 2012), uma dificuldade que as mesmas

enfrentam perante as fontes fósseis. A sociedade industrial necessita de uma fonte de

energia confiável e firme e as fontes alternativas de geração de eletricidade estão

normalmente sujeitas a condições climáticas (KOUSKSOU et al., 2014). O

armazenamento de energia também confere à planta maior eficiência, qualidade na

energia, melhorias na transmissão e flexibilidade operacional, aumento no fator de

capacidade, despachabilidade1 e diminuição no custo da energia gerada (BARNES et

al., 2011).

Os sistemas de armazenamento energético são variados; existem diversas formas

de se armazenar energia. Os principais fatores para a escolha da alternativa de

armazenamento são o tempo e capacidade de armazenamento, a velocidade de carga e

descarga e o meio de armazenamento. Independente do método ou princípio físico em

questão todas as alternativas são compostas por três etapas: carga, acumulação e

descarga (GIL et al., 2010). A figura 19 resume os métodos de acumulação de energia.

1
Despachabilidade é a capacidade de gerir a operação de uma planta conforme a necessidade de energia elétrica ou como o ótimo
financeiro da operação.

30
Figura 19 – Quadro esquemático com diversos tipos de armazenamento.
Fonte: (GIL et al., 2010) adaptado pelo autor.

3.2 - Armazenamento Mecânico de Energia

O armazenamento mecânico de energia poder ser obtido, majoritariamente, de

três formas, como mostra a figura 19. Algumas dessas formas usam a energia cinética

como os volantes de inércia, outras utilizam a energia potencial como a

hidroacumulação, cujo principio físico é similar ao das usinas hidrelétricas.

3.2.1 - Energia Potencial (Hidroacumulação)

A hidroacumulação, como já foi dito, utiliza a energia potencial como princípio

físico, neste caso se utiliza uma bomba para que a água alcance um nível superior nos

momentos em que a demanda energética é mais baixa e há disponibilidade de energia

elétrica para que a bomba execute tal função. A água permanece no nível mais alto até

que a demanda por eletricidade ultrapasse a oferta; quando isso ocorre o fluxo de água é

liberado acionando uma turbina que gera energia elétrica, suprindo, assim, a elevada

demanda. Em 2011 a capacidade de armazenamento de energia através desse método

nos EUA era de 10.000 MW (DINCER; ROSEN, 2011).

31
Nesse caso a energia armazenada depende das seguintes variáveis:

 Massa específica da água (ρ) [kg/m3]


 Diferença entre os níveis (H) [m]
 Volume de água movido (V) [m3]
 Aceleração da gravidade (g) [m/s2]

E respeita a seguinte equação:

 EP = ρgVH

Onde EP é a energia potência em questão. (HALLIDAY; RESNICK; WALKER,

2005)

Figura 20 – Ilustração de um sistema de hidroacumulação alimentando geradores


eólicos
Fonte: (IBRAHIM; ILINCA; PERRON, 2008)

32
3.2.2 - Energia Cinética (Volantes de inércia)

O volante de inércia é o sistema de armazenamento de energia que acumula

energia cinética angular, através de um disco, e libera a mesma através de um eixo,

assim atendendo à demanda. Tal sistema faz uso de rolamentos avançados, com baixo

coeficiente de atrito, para que a energia cinética não seja dissipada na forma de calor

(DINCER; ROSEN, 2011). O volante de inércia pode chegar até a 90% de eficiência em

seu ciclo de armazenamento, porém tem limitações quanto à quantidade de energia

armazenada, e consequentemente do tempo de armazenamento, que geralmente são

pequenos (SØRENSEN, 2007).

Neste ponto é necessário definir o que é um ciclo termodinâmico e sua

eficiência. Um ciclo termodinâmico é quando um sistema, em um dado estado inicial,

passa por um certo número de processos e retorna ao mesmo estado inicial (VAN

WYLEN; SONNTAG; BORGNAKKE, 2009).

Quando se leva a primeira lei da termodinâmica em consideração, um ciclo tem

sua máxima eficiência quando a energia que sai do sistema é igual à energia que entra;

em outras palavras não houve perda de energia. A eficiência de um ciclo é dada pela

seguinte equação:

 η = Energia cedida pelo sistema


Energia cedida ao sistema

Obviamente o rendimento depende do tipo de energia de entrada e de saída do

sistema em questão (DINCER; ROSEN, 2011). Em uma máquina de Carnot, por

exemplo, onde se fornece calor para gerar trabalho a eficiência é dada por:

33
 η = Trabalho Realizado .

Calor cedido ao sistema

Os fatores que influenciam na acumulação energética através de volantes de

inércia são:

 Velocidade angular (ω)

 Momento de Inércia do corpo (I).

E seguem a seguinte relação:

 EC = ½ I ω2 ;

onde EC é a energia cinética armazenada.

Vale ressaltar que, para um disco, Iz = ½ mr2, Ix = Iy = ¼ mr2; onde m é a massa

do disco e r é o raio do mesmo.

Figura 21 – Exemplo de um volante de inércia


Fonte: DINCER AND ROSEN, 2011

34
3.2.3 - Trabalho (Compressão de gases)

A energia também pode ser armazenada através da compressão de gases. Na

maioria dos casos, o ar é escolhido devido a sua vasta disponibilidade. Nesse caso o gás

é comprimido para dentro de um reservatório através de um compressor, quando se tem

energia disponível para que se acione o mesmo. Esse método de armazenamento

necessita de grande quantidade de energia, sem contar o combustível necessário. Ele se

diferencia dos demais devido ao grande tempo de armazenamento, podendo chegar a

dezenas de horas de descarga. (BARNES et al., 2011). A figura 22 exemplifica este

sistema de armazenamento.

Esse tipo de armazenamento depende de parâmetros do gás em questão, como:

 Pressão (P) [MPa]

 Volume (V) [m3]

E a energia é armazenada na forma de trabalho “W” assim obedecendo:

 W = -∫PdV

35
Figura 22 – Configuração de um sistema de armazenamento de ar comprimido
Fonte: (SØRENSEN, 2007)

3.3 - Armazenamento Químico de Energia

O armazenamento químico consiste em um ou mais componentes que quando

entram em contato com outro(s) componente(s) reagem assim, absorvendo ou liberando

energia (DINCER; ROSEN, 2011). Caso essa reação libere (ou absorva) energia na

forma de calor, ela pode ser chamada de armazenamento termoquímico; nesse caso,

uma das reações libera calor (exotérmica) e outra absorve calor (endotérmica). O tipo de

armazenamento químico mais comum é a bateria, mas outras formas de armazenamento

eletroquímico também são utilizadas, como o capacitor eletroquímico (BARNES et al.,

2011) ou as células combustíveis que são uma opção para o armazenamento químico de

larga escala (DINCER; ROSEN, 2011).

36
3.3.1 - Baterias eletroquímicas

Existem baterias feitas de diversos tipos de materiais, desde as usuais baterias de

chumbo-ácido, até as baterias de íon-lítio. Independente do elemento que as compõe as

baterias são formadas por dois eletrodos, sendo um positivo (catodo), onde ocorre a

reação de redução, e um negativo (anodo), onde ocorre a reação de oxidação, além do

eletrólito, (SØRENSEN, 2007). As baterias são dispositivos de acumulação elétrica que

trabalham com uma quantidade menor de energia armazenada quando comparadas com

os sistemas mecânicos de armazenamento. Sua eficiência, porém, é maior chegando até

80%, quando nos sistemas mecânicos se alcança no máximo 60% (DINCER; ROSEN,

2011). As principais características de uma bateria são a densidade de potência,

densidade de energia e o número de ciclos (Borba, 2012). A tabela 4 resume as pricipais

características dos tipos de bateria mais utilizados.

Tabela 4 – Características da principais baterias

Eletro- Eficiên- Densi- Densidade Densida- Nú- Tempera


lito cia dade de de de de mero -tura de
Energét Energia potência – potência de operação
i-ca (Wh/kg pico (W/kg) ciclos (ºC)
(%) ) (W/kg)
Chumbo H2SO4 75 20 - 35 120 25 200 – -20 até
– ácido 2000 60
Níquel - KOH 60 40 - 60 300 140 500 – -40 até
Cadmo 2000 60
Íon-Lítio LiPF6 70 100 - 720 360 500 - -20 até
200 2000 60
Fonte: Elaboração própria a partir de (SØRENSEN, 2007)

Nesse caso a energia armazenada depende das seguinte variáveis:

 Força eletromotriz (Eo) [V]

 Fator de polarização (η)

 Resistência interna da bateria (R) [Ω]

37
 Corrente do circuito (I) [A]

E é regida pela seguinte equação:

 Vc = Eo – ηIR

Onde Vc é a voltagem da pilha. Neste caso, a energia cedida ou armazenada pela

bateria depende da corrente do circuito no qual a mesma esta conectada;

 Vc I = P

 Pt=E

Onde P é a potência e E é a energia. Um parâmetro muito utilizado, quando se

fala de baterias, é a capacidade da mesma. Esta capacidade é medida em Ampére-hora

(Ah); assim uma bateria de 100Ah dura uma hora conectada a uma corrente de 100

Ampéres ou ½ hora conectada a uma corrente de 200 Ampéres (DINCER; ROSEN,

2011).

38
Figura 23 – Comparação entre os diferentes tipos de bateria
Fonte: IEA, 2011

A figura 23 faz a comparação entre os diferentes tipos de bateria através de um

gráfico de potencia específica vs. energia específica, pode-se perceber que todas as

baterias tem uma queda na sua potencia especifica quando se aumenta a energia

específica, nas baterias de íon-lítio, porém, essa queda ocorre de forma mais branda.

3.3.2 - Armazenamento Fotoquímico

O armazenamento fotoquímico consiste em converter a energia da radiação solar

em energia química, esse processo é comum na natureza e os vegetais dependem dele

para sua sobrevivência. Apesar de a natureza fazer isso há milhares de anos, este

processo não é tão fácil assim de ser reproduzido em laboratório, uma vez que os

39
agentes que reagem se separando e, assim, liberando energia, tenderiam a reagir mais

uma vez, assim voltando para o seu estado inicial e absorvendo a energia liberada

(SØRENSEN, 2007).

Esse tipo de conversão funciona através da seguinte reação regenerativa:

 A + hv  B

 B  A + energia útil

Onde A é um elemento do material no qual o fóton (partícula de luz) incide, h é

a constante de Planck (6,626 x 10-34 J.s) e v é freqüência da luz. (DINCER; ROSEN,

2011)

O armazenamento fotoquímico não tem aplicação na geração de energia elétrica

e ainda se encontra em estágio embrionário de desenvolvimento (DINCER; ROSEN,

2011) , sendo assim não será aprofundado nessa monografia.

3.4 - Armazenamento Magnético

Energia também pode ser armazenada em um campo magnético, para tal se

utiliza uma bobina supercondutora, quando uma corrente elétrica passa por essa bobina

se cria o campo em questão. A supercondução é um fenômeno que acontece com certos

metais ou ligas metálicas, como Nióbio-Titânio. Quando se chega perto do zero

absoluto (0 K) eles passam a ter sua resistência elétrica quase nula; sendo assim não há

quase perda de energia nesse tipo de armazenamento. Esse método de armazenamento

tem muitas vantagens, como alta eficiência, aproximadamente 95%, resposta abaixo de

100ms e grande capacidade de armazenamento, nos EUA existem plantas que

armazenam 100GJ (SØRENSEN, 2007). Seus custos, porém, tanto dos elementos,

40
quanto para manter as baixas temperaturas ainda é muito elevado. (IBRAHIM;

ILINCA; PERRON, 2008).

Existe mais de um tipo de material supercondutor, o tipo I e o tipo II. A

diferença entre eles é que o tipo I aumenta a sua temperatura com alto valores de fluxo

de campo magnético (Bc(T)), saindo, assim, do estado de supercondução e se tornando

impróprio para acumulação energética. O tipo II não tem esse problema e pode trabalhar

com altos valor de Bc(T), sendo, portanto, apropriado para o armazenamento

(SØRENSEN, 2007).

No armazenamento através de supercondutores a quantidade de energia

armazenada é função de:

 Campo Magnético (B) [T]

 Permeabilidade do vácuo (μ0)

Essas variáveis seguem:

 W = B2/2 μ0

Vale ressaltar que μ0 = 1,26 x 10-6 [Henry . m-1]

3.5 - Armazenamento Térmico (Termoacumulação).

Energia também pode ser armazenada na forma de calor, tanto em altas quanto

em baixas temperaturas (KOUSKSOU et al., 2014) este método é chamado de

armazenamento térmico ou termoacumulação. Neste processo a energia é transferida do

fluido de trabalho, do inglês, Heat Transfer Fluid (HTF) para o material de

41
armazenamento (etapa de carga), do inglês, Storage Medium (SM), em seguida o SM

armazena o calor (etapa de armazenamento), por fim o calor é transferido novamente

para o HTF (etapa de descarga), quando há necessidade. Logo, apesar de o HTF não ser

o meio que acumula calor, ele é essencial nas etapas de carga e descarga do processo de

termoacumulação. Portanto, esses dois componentes devem ser analisados quando se

aborda um sistema de termoacumulação para geração de energia elétrica, não fazendo

sentido a abordagem isolada de cada um destes componentes. A seção 3.5.4 se dedica

ao HTF.

A termoacumulação tem como vantagens o baixo custo quando comparado com

os outros tipos de armazenamento (DUNHAM; IVERSON, 2014), além de perdas por

auto-descarga (self-discharge) serem desprezíveis (IBRAHIM; ILINCA; PERRON,

2008). Em uma planta CSP a termoacumulação ainda traz mais algumas vantagens

como a melhora o desempenho da planta, aumentando seu fator de capacidade em até

30%, além de diminuir o custo de manutenção (WAGNER; RUBIN, 2014).

Apesar destes benefícios, o sistema de termoacumulação ainda não é o ideal,

pois tanto o SM quanto o HTF ainda não possuem as características desejadas. Isso fica

evidente quando se analisa a tabela 2, esta mostra que a temperatura de trabalho na torre

solar é de aproximadamente 565ºC, o receptor da mesma, porém atinge temperaturas de

até 1000ºC (TAGGART, 2008). Esta perda exergética2 faz com quem o custo da energia

gerada, 0,22 USD/kWh, ainda seja alto quando comparado com o das fontes

convencionais (SULYOK, 2013). Sendo assim tanto o SM quanto o HTF são

2
exergia é definido como uma medida de utilidade, qualidade ou potencial de se causar mudança (DINCER AND ROSEN, 2011)

42
considerados os componentes que comprometem o desenvolvimento tecnológico desta

tecnologia.

O sistema de armazenamento pode ser classificado de acordo com o principio

físico utilizado, podendo ser calor latente, calor sensível ou até mesmo pares reações

químicas exotérmica e endotérmica, como a reação de síntese da amônia. Para cada um

destes princípios físicos são estudados diferentes SMs.

3.5.1 - Calor Sensível.

Calor sensível é o armazenamento de energia associado à variação de

temperatura do SM, geralmente liquido ou sólido. O SM, por sua vez, é, geralmente,

armazenado em tanques, o que é uma desvantagem do armazenamento via calor

sensível. Tanques de armazenamamento possuem grande volume, altos custos de

construção e perdas de energia devido à sua área de contato (KOUSKSOU et al., 2014).

Neste processo não há mudança de fase e o calor transferido é proporcional à variação

de temperatura (∆T) do SM.

O armazenamento através de calor sensível é função das seguintes variáveis:

 c = calor especifico [kg/K]

 ∆T = variação te temperatura [K]

 ρ = massa especifica [kg/m3]

 V = volume [m3]

Estas variáveis se relacionam através da seguinte relação:

 Q = ρVc∆T

43
Onde Q é o calor armazenado.

O armazenamento por calor sensível é o mais utilizado desde a década de 1970

nas SEGS, conjunto de nove plantas situadas no sudoeste estadunidense (PY;

AZOUMAH; OLIVES, 2013). Existem materiais de termoacumulação através de calor

sensível, as tabelas abaixo destacam as principais características dos mesmos.

Tabela 5 – Materiais sólidos que utilizam calor sensível e suas características

Meterial de Temperatura Densi- Condutividade Capacidade Capacidade


amrazenamento (ºC) dade térmica média térmica térmica por
2
Baixa Alta Média (W/m .K) média volume
(Kg/m3) (kJ/kgK) (kWh/m3)
Óleo mineral 200 300 1700 1,0 1,3 60
de areia e pedra
Concreto 200 400 2200 1,5 0,85 100
reforçado
NaCl(sólido) 200 500 2160 7,0 0,85 150
Ferro fundido 200 400 7200 37,0 0,56 160
Aço 200 700 7800 40,0 0,60 450
Tijolo de Sílica 200 700 1820 1,5 1,00 150
Tijolo de 200 1200 3000 5,0 1,15 600
Magnésia
Fonte: GIL et al., 2010 adaptado pelo autor

44
Tabela 6 – Materiais liquídos que utilizam calor sensível e suas características

Material de Temperatura Densi- Condutividade Capacidade Capacidade


termoacumulação (ºC) dade térmica média térmica térmica por
2
Baixa Alta Média (W/m .K) média volume
(Kg/m3) (kJ/kgK) (kWh/m3)
Hitec Solar Salt 120 133 - - - -
(60% NaNO3-
40%KNO3)
Óleo mineral 200 300 770 0,12 2,6 55
Óleo sintético 250 250 900 0,11 2,3 57
Nitritos 300 400 900 0,10 2,1 52
Nitritos 250 450 1825 0,57 1,5 152
Nitratos 265 565 1870 0,52 1,6 250
Carboneto 450 850 2100 2,0 1,8 430
Sódio liquido 530 530 850 71,0 1,3 80
Fonte: GIL et al.,2010 adaptado pelo autor

3.5.2 - Calor Latente

O armazenamento térmico através de calor latente traz algumas vantagens sobre

o calor sensível, como o tamanho, o baixo ∆T (ou menores perdas de 2ª Lei) entre o SM

e o HTF e alta densidade energética. Suas desvantagens são a baixa condutividade

térmica que acarreta em uma transferência de calor lenta (GIL et al., 2010).

Neste tipo de termoacumulação o SM absorve calor mudando de fase, tais

materiais são conhecidos no mundo como Phase Change Material (PCM) neste

processo a temperatura permanece constante. O armazenamento através de calor latente

depende das seguintes variáveis:

 ρ = massa especifica [kg/m3]

 V= volume do corpo [m3]

 L = Calor latente do corpo [J/kg]

45
Tais variáveis se relacionam através da sequinte equação:

 Q = ρVL

Os PCMs podem ser dividos em orgânico, inorgânico e eutéticos, sendo este

último uma mistura dos outros dois. As tabelas abaixo apresentam os principais

canditados orgânicos e inorgânicos para utilização como PCM, alem dos materiais em

estágio comercial.

Tabela 7 – Materiais liquídos que utilizam calor sensível e suas características

Componente Temperatura de Calor de fusão Calor de fusão


fusão (ºC) (kJ/kg) (kJ/kmol)
Isomalt 147 275 -
[(C12H24O11 +
2H2O) +
C12H24O11)
Ácido adípico 152 247 -
Ácido dimetilol 153 275 -
propionic
Pentaerythritol 187 255 -
AMPL [(NH2) 112 28,5 2991,4 (kJ/l)
(CH3)
C(CH2OH)2]
TRIS [(NH2) 172 27,6 3340
C(CH2OH2)]
NPG [(CH3 126 44,3 4602.4
C(CH2OH2)]
PE(C(CH2OH)4] 260 36,9 5020
Fonte: Gil et al., (2010), adaptado pelo autor

46
Tabela 8 – Materiais inorgânicos com potencial para PCM

Material Temperatura Calor de Densidade Calor Condutividade


de fusão (ºC) fusão (kg/m3) específico térmica
(kJ/kg) (kJ/kgK) (W/mK)
MgCl2-6H2O 116 167 1450 (l) - 0,585 (l)
1570 (s) 0,700(s)
Hitec: KNO3- 120 - - - -
NaNO2-NaKNO3
Hitec XL: 48% 130 - - - -
Ca(NO3)2-
45%KNO3-
7%NaNO3)
Mg(NO3)�2H2O 130 - - - -
KNO3–NaNO2– 132 275 - - -
NaNO3
68% KNO3– 133 - - - -
32%LiNO3
KNO3–NaNO2– 141 75 - - -
NaNO3
Isomalt 147 275 - - -
LiNO3–NaNO3 195 252 - - -
40%KNO3– 220 - - - -
60%NaNO3
54% KNO3– 220 - - - -
46%NaNO3
NaNO3 307 172 2260 - 0,5
KNO3/KCl 320 74 2100 1,21 0,5
KNO3 333 266 2110 - 0,5
KNOH 380 149,7 2044 - 0,5
MgCl2/KCl/NaCl 380 400 1800 0,96 -
AlSi12 576 560 2700 1,038 160
AlSi20 585 460 - - -
MgCl2 714 452 2140 - -
80.5% LiF– 767 790 2100(s) 1,97 (s) 1,7 (s)
19.5% CaF2 2670(l) 1,84(l) 5,9 (l)
eutetico
NaCl 800 492 2160 - 5
NaCO3– 500 – 850 - 2600 - 5
BaCO3/MgO
LiF 850 1800 - - -
MJ/m3
Na2CO3 854 275,5 2533 - 2
KF 857 452 2370 - -
K2CO3 897 235,8 2290 - 2
KNO3/NaNO3 - 94,25 - - 0,8
eutetic
Fonte: GIL et al., (2010), adaptado pelo autor

47
Tabela 9 – PCMs em estágio comercial

Nome RT110 E117 A164


Tipo Parafina Inorgânico Orgânico
Fabricante Rubitherm EPS EPS
Temperatura 112 117 164
de fusão (ºC)
Densidade - 1450 1500
(kg/m3)
Calor Latente 213 169 306
(kJ-kg)
Calor - 261 -
específico
(kJ/kgK)
Condutividade - 0,7 -
térmica
(W/mK)
Fonte: GIL et al., 2010 apatado pelo autor.

3.5.3 - Reações termoquímicas

O terceiro tipo de armazenamento pelo qual pode-se obter calor é através de

pares de reações químicas endotérmicas e exotérmicas, como a reação de síntese da

amônia. Este tipo de armazenamento, porém, não é térmico, pois não armazena calor

diretamente. A tabela 10 traz algumas destas reações.

48
Tabela 10 – Compostos e reações de armazenamento termoquímico

Material Reação Densidade Temperatura da


energética do reação (ºC)
material
Amônia NH3 + DH  67 kJ/mol 400 – 500
1/2N2 + 3/2H2
Metano/água CH4 + H2O  n.a. 500 – 1000
CO + 3H2
Hhidroxidos, e.g Ca(OH2) $ 3GJ/m3 500
CaO + H2O
Carbonato de cálcio CaCO3  CaO + 4,4 GJ/m3 800 – 900
CO2
Carbonato de ferro FeCO3  FeO + 2,6 GJ/m3 180
CO2
Hidróxidos de metal Metal xH2  4 GJ/m3 200 – 300
metal yH2 + (x +
y)H2
Óxidos de metal - - 2000 – 2500
(Zn e Fe)
Alumínio - Alumina - - 2100 – 2300
Methanolatio - CH3OH  CO + - 200 – 250
demathanolation 2H2
Oxido de magnesio MgO + H2O  3,3 GJ/m3 250 – 400
Mg(OH)2
Fonte: GIL et al., 2010

3.5.4 - Fluido de Trabalho.

O HTF, mais utilizado é o óleo sintético. Este, porém, apresenta características

indesejáveis como ser tóxico, poluente, explosivo, alto custo de produção e temperatura

de trabalho baixa, 400-450ºC(CIPOLLONE; CINOCCA; GUALTIERI, 2013). Sendo

assim, há um forte movimento dos programas de P&D para desenvolvimento de novos

fluidos. Segundo Py et al. (2013), as principais apostas dos programas de P&D são os

sais fundidos, vapor e ar. Alem dessas três áreas de estudo, o conceito de fluidos com

nano partículas que melhoram as características térmicas do fluido como a

49
condutividade térmica e o calor específico é promissor (PAUL et al.,

2013;TIZNOBAIK; SHIN, 2013).

Os sais fundidos são uma alternativa para se aumentar a temperatura de trabalho,

pois os mesmo conseguem trabalhar em temperaturas até 600ºC, porém apresentam

altos pontos de fusão, 220ºC (PACIO et al., 2013), o que acarreta em uma baixa

eficiência do ciclo termodiâmico, além do risco de solidificação do mesmo. Skumanich

(2010) aponta que, caso se desenvolva um sal que opere a 500ºC e tenha o ponto de

fusão a 80ºC, o custo da energia gerada atingiria 0,05-0,07 USD/kWh.

A geração direta a partir do vapor, do inglês Direct Steam Generation (DSG)

traz como vantagem um arranjo mais simples, não necessitando de trocadores de calor o

que diminui o preço de construção da planta. Este arranjo, porém, traz como desafio o

desenvolvimento de materiais que suportem as altas pressões atingidas pelo vapor, além

dos desafios provenientes do escoamento multifásico (BURGI, 2013). A torre PS10 da

Espanha opera com este arranjo.

A utilização de ar como fluido de trabalho também é uma alternativa para o

aumento da temperatura de trabalho, em Jülich esta temperatura é de 700ºC

(HENNECK et al., 2008). O ar, porém, possui uma desvantagem: a baixa capacidade

térmica. Sendo assim, transporta pouco calor, o que compromete sua performance como

HTF. Isso poderia ser resolvido aumentando-se a pressão do mesmo(CIPOLLONE;

CINOCCA; GUALTIERI, 2013), o que não é simples pois, do mesmo modo que na

utilização de vapor, seria necessário o desenvolvimento de componentes que

suportassem altas pressões.

50
Tabela 11 – Principais HTFs e suas plantas

HTF Plantas Tmax (ºC) Desvantagens Vantagens


Óleo SEGS I- <400 Imflamável -
mineral III
Oleio SEGS> <400 Imflamável/ -
sintético III/ tóxico/custo
Andasol
Água/Vapor Solar one/ - Altas Baixo
PS20/ pressões/ custo/
PS20/ PEI Custo/ inerte

Sal fundido Thermis/ 600


temperatura -
(nitrato) Solar two de fusão/
corrosivo
Ar (700ºC) Julich - performance barato
Fonte: PY; AZOUMAH; OLIVES, 2013

3.5.5 - Desafio para o desenvolvimento do HTF/SM.

Segundo SKUMANICH (2010), tanto o fluido de trabalho quanto o material de

termoacumulação necessitam das mesmas características para um bom desempenho da

planta CSP. São elas:

1. Alta capacidade de armazenamento térmico

2. Resistência a altas temperaturas

3. Alta taxa de transferência de calor

4. Baixo custo

Do subitem anterior sabe-se que a massa específica “ρ” é diretamente

proporcional à quantidade de calor armazenada no corpo, independente do tipo de

armazenamento térmico, assim há necessidade de que o mesmo seja elevado para que se

satisfaça a característica 1.

51
A taxa de transferência de calor, porém, é diretamente proporcional a difusidade

térmica “α”, que é definida como:

 α = k/(ρc),

onde k é a condutividade térmica do material (INCROPERA et al., 2011). Sendo

assim, a capacidade térmica e a condutividade térmica são diversamente afetadas pela

densidade do fluido. Da mesma forma, quanto maior o calor específico menor a

condutividade térmica. Um corpo que acumula mais energia térmica a transfere sob a

forma de calor a taxas mais lentas.

Estudos como (PAUL; MORSHED; KHAN, 2013 ; (THOMS, 2012 ;

TIZNOBAIK; SHIN, 2013 e DUDDA; SHIN, 2013) mostram que dispersão de

nanopartículas em fluidos como os sais fundidos e fluidos iônicos melhoram ambas as

propriedades, alcançando uma melhora na troca térmica de até 20% (PAUL;

MORSHED; KHAN, 2013). Assim, esta tecnologia é considerada a mais promissora. A

figura 24 apresenta um gráfico da melhora na troca térmica. O eixo das abcissas mostra

a relação x/D pois a simulação de Paul et al (2013) considerou o escoamento do fluido

em um tubo cilíndrico onde “D” é o diâmetro do mesmo e “x” a posição ao longo do

mesmo

52
Figura 24 – Melhora na capacidade de troca térmica
Fonte: Paul et al, 2013

Tal melhora na troca térmica deriva do aumento da capacidade térmica dos sais

ao se dispersarem nanopartículas no mesmo (PAUL; MORSHED; KHAN, 2013). Ainda

não se tem um modelo teórico que explique completamente como a dispersão de

nanoparticulas afeta a capacidade térmica. A principal teoria encontrada na literatura,

porém, é explicada por Thoms (2012).

Em seu estudo, Thoms (2012) explica que, quando nanopartículas sólidas,

geralmente Sílica (SiO2) ou Alumínia (Al2O3), são dispersada (geralmente na proporção

de 1% em base molar) na superfície de um sal fundido é criada uma camada de fluido

que adere a essas partículas. Tal camada passa a ter uma temperatura de fusão maior do

que a do resto do fluido que não está em contato com as nanoparticulas. Assim, o estado

dessa passa a ser um estado comprimido, que apresenta características mais próximas às

53
da fase sólida. Portanto, quando este novo fluido é aquecido, a camada em contato com

as nanopartículas sólidas muda de fase enquanto o resto do HTF permanece líquido,

essa mudança de fase é responsável pelo aumento na capacidade térmica.

Vale ressaltar que o aumento da capacidade térmica depende do raio das

nanopartículas. Quanto menor a nanopartícula, maior será o aumento da capacidade

térmica. Por exemplo, o raio de 1 nm causaria um aumento de 100% na capacidade

térmica do fluido (THOMS, 2012). Porém, a obtenção de partículas estáveis com essa

dimensão ainda é um desafio (THOMS, 2012). A figura 25 mostra a relação entre o

calor específico, diâmetro da partícula e espessura da camada de fluido no estado

comprimido.

Figura 25 – Relação entre a capacidade térmica, diâmetro e espessura da camada.


Fonte: Thoms, 2013

54
Capítulo 4 - Ganho Potencial de competitividade para CSP a partir do

desenvolvimento do dos fluidos de trabalho.

Nos capítulos anteriores foram descritos os tipos de plantas CSP e seus

componentes, além dos sistemas de armazenamento de energia térmica para geração de

energia elétrica. No subcapítulo de termoacumulação foram apresentados os principais

desafios em uma planta CSP e as principais apostas para sua solução.

Neste capítulo serão simulados, a exceção da sessão 4.3, três sistemas de torre de

concentração com auxilio do software System Advisor Model (SAM), a fim de avaliar a

variação de LCOE3, a energia gerada e o fator de capacidade. O motivo pelo qual a torre

foi escolhida decorre da temperatura alcançada em seu receptor, equivalente a cerca de

1000ºC (TAGGART, 2008), temperatura mais elevada que a das outras tecnologias,

havendo, assim, mais perdas exergéticas.

A primeira simulação consiste em uma torre solar padrão do programa. Tal torre

opera com sal fundido, tem potência de 100 MW e 7 horas de armazenamento térmico,

assim como a maioria das plantas em operação com este fluido (NREL, 2013). A

segunda simulação baseia-se em outro sal fundido como fluido de trabalho: o NaK, que

já é utilizado em usinas nucleares (INCROPERA et al., 2011). Este sal pode operar

numa faixa ampla de temperatura, de -12,6ºC até 785ºC (KOTZ, 2012). Esta simulação

tem como objetivo avaliar o impacto da mudança das temperaturas de trabalho do fluido

3
LCOE é o custo nivelado da energia, e foi definido no subcapítulo 2.5.

55
na energia gerada, em seu custo e fator de capacidade. Por fim, a terceira simulação

manterá os parâmetros financeiros e técnicos, porém será alterado a condutividade

térmica do HTF, sua massa específica e capacidade térmica, a fim de simular o efeito da

dispersão de nanopartículas, que foi explicitado no fim do capítulo anterior.

4.1 – System Advisor Model

O System Advisor Model (SAM) é um software desenvolvido pelo National

Renewable Energy Laboratory (NREL), Sandia National Laboratories e pela

Universidade de Wiscosin, além de outros colaboradores (SAM/NREL, 2013). Este

programa simula e modela tanto a parte financeira quanto a parte técnica e o

desempenho de diferentes fontes renováveis de energia, como eólica, solar (FV, CSP e

sistema de aquecimento de água), biomassa, geotérmica e até um sistema genérico. A

versão mais recente do software é a versão 2014.1.14, esta será a versão utilizada nas

simulações desta monografia.

O primeiro passo do SAM é dar um nome para seu projeto e em seguida clicar

no “botão” create a new file, após o clique é aberta automaticamente uma outra janela

com as opções tecnológicas. As figuras 25 e 26 mostram as duas primeiras telas.

56
Figura 26 – Tela inicial do SAM
Fonte: SAM/NREL, 2013

57
Figura 27 – Opções de tecnologia do SAM
Fonte: SAM/NREL, 2013

Uma vez escolhida a tecnologia aparecem diversas subopções. No caso do CSP,

o programa tem subopções para as quatro tecnologias, linear Fresnel, cilindro

parabólico, disco Stirling e torre de concentração. Cada uma dessas tecnologias

apresenta ainda variantes. Por exemplo, no caso da torre é possível simular plantas que

operam com sal fundido e com vapor gerado diretamente no campo solar, ou Direct

Steam Generation (DSG). Após a escolha entre essas duas ainda pode-se escolher entre

Unidade Produtora Independente, em inglês, Independent Power Producer (IPP) ou

Unidade Produtora Independente Avançada. Nesta monografia foi utilizado o formato

IPP. Apesar de esta opção ser mais restrita, ou seja, um menor número de parâmetros

58
pode ser mudados pelo analista, ela abrange todos os parâmetros necessários às

simulações desta monografia, cujo objetivo é analisar a energia gerada, o custo nivelado

da mesma e o fator de capacidade. A figura 27 detalha as subopções de CSP e da torre

de concentração.

Figura 28 – Opções de simulação de CSP no SAM


Fonte: SAM/NREL, 2013

Uma vez que se escolhe uma destas duas opções é aberta a área de simulação.

Esta área é diferente para cada tipo de tecnologia, porém segue um padrão similar.À

guisa de exemplo, a janela para o caso da torre de concentração que opera com sal

fundido é mostrada na figura 28.

59
Figura 29 – Tela de simulação do SAM
Fonte: SAM/NREL

4.1.1 - Localidade

A primeira aba é intitulada “Location and Resources”, onde é possível escolher

o sitio onde serão feitas as simulações. Nesta monografia as simulações serão feitas para

Bom Jesus da Lapa – BA, esta localidade foi escolhida com base na tese de mestrado de

Adriano Burgi (2013). Em sua tese, Burgi (2013) avaliou o potencial da tecnologia CSP

no Brasil, segundo a seguinte metodologia: primeiro foi feita uma etapa de

geoprocessamento que utilizou dados georeferenciados, a fim de excluir áreas inaptas à

instalação de plantas CSP; nessa etapa foram adotados diversos critérios de exclusão:

60
 Radiação direta normal mínima de 2.000 kWh/m2.ano.

 Declividade do terreno máxima de 3%.

 Exclusão de áreas pertencentes a unidades de conservação.

 Exclusão de áreas de terras indígenas.

 Exclusão de áreas de reservatórios de hidrelétricas.

 Exclusão de áreas urbanas.

 Distância máxima de subestações de 40 km.

 Distância máxima das linhas de transmissão de 200 m.

 Distância máxima de rodovias de 10 km.

 Disponibilidade hídrica.

Após esta estapa o autor identificou uma série de localidades consideradas aptas.

Contudo, destas localidades nem todas podem ser utilizadas no SAM, pois o mesmo

necessita de dados horários de radiação e lê três formatos, TMY2 (.tm2), TMY3 (.csv)

e EPW(.epw) (SAM/NREL, 2013). O Brasil possui apenas 20 localidades com dados

climatológicos nesses três formatos, são eles: Belo Horizonte, Boa Vista, Bom Jesus da

Lapa, Brasília, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Jacareacanga,

Manaus, Petrolina, Porto Nacional, Porto Velho, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Santa

Maria e São Paulo. A tabela 4.1 mostra os dados climatológicos destas 20 localidades.

61
Tabela 12 – Dados climatologicos das localidades com dados georreferenciados

Fonte: Malagueta, 2013

Da tabela 4.1, nota-se que a única localidade que possui dados georreferenciados e

DNI acima dos 2000kWh/m2/ano, primeiro critério de exclusão em diversos estudos

como Clifton & Boruff, 2010; Fluri, 2009; Gastli et al., 2010; Bravo et al., 2007; Anders

et al., 2005; e Burgi, 2013, é Bom Jesus da Lapa (BJL). Sendo assim, será a localidade

utilizada para as simulações dessa monografia.

A tabela 13 mostra os dados climatológicos de Bom Jesus da Lapa:

62
Tabela 13 – Dados climatológicos de Bom Jesus da Lapa

Fonte: MALAGUETA, 2013

4.1.2 - Torre e Receptor

Na aba intutulada “Tower and Receiver” é possível modelar parâmetros destes

dois componentes. Vale ressaltar que esta aba é diretamente influenciada pelo

Optimization Wizard, que será detalhado na próxima seção (SAM/NREL, 2013).

Aqui é selecionado o HTF. No SAM são dadas ao analista duas opções de sal

fundido: (60% NaNO3-40%KNO3) e (46,5%LiF - 11,5%NaF - 42%KF). Para as

simulações desta monográfia, à exceção da simulação com NaK, será utilizado o

primeiro dos sais citados acima, por ser o fluido utilizado na primeira torre, chamada de

CESA-I PSA localizada na Espanha, e ser utilizado até hoje como na Solar TRES-PSA

também na Espanha (MEDRANO et al., 2010). As propriedadaes termodinâmicas são

diretamente influenciadas pelas temperaturas do fluido de trabalho. Neste ponto vale

ressaltar que não é permitido pelo software SAM que o analista tenha acesso e nem que

ele mude tais propriedades, no caso de fluidos da biblioteca do modelo. Sendo assim,

63
afim de evitar erros, todos os fluidos dessa monografia serão modelados pelo autor,

incluindo o 60% NaNO340%KNO3 da simulação padrão, pois assim se saberá as

propriedades do mesmo, melhorando o controle do processo.

Para incluir um novo fluido de trabalho no SAM é necessário fornecer as

seguintes características:

 Capacidade térmica [kJ/kg.k]

 Massa específica [kg/m3]

 Viscosidade [Pa.s]

 Viscosidade cinemática [m2.s]

 Condutividade térmica [W/m.K]

 Entalpia específica [J/kg]

Vale ressaltar que é necessarário fornecer essas propriedades em no mínimo

duas temperaturas, pois o programa faz uma interpolação a partir destes dois (ou mais)

pontos. O SAM disponiblizou em seu manual de 2009 (SAM/NREL, 2009), as fórmulas

que utiliza para calcular essas propriedades, à exceção da viscosidade e da

condutividade térmica.

Para a condutividade térmica foi feita uma busca em diversos estudos que

abordaram o problema, como (WANG et al., 2012 ; JANZ, 1967 ; TUFEU et al., 1985 ;

SOHAL et al., 2010 ; KEARNEY et al., 2002 ;ZHAO et al., 2011 e JANZ et al., 1979).

Devido ao carater não linear da variação desta propriedade com o aumento da

temperatura, não é possível achar uma relação exata para a mesma (SOHAL et al.,

2010). A literatura ainda indica o uso da uma fórmula empírica presente em Janz et al.,

(1979). Ela encontra-se detalhada na tabela 14.

64
A viscosidade também apresenta comportamento não linear com a temperatura.

Assim, para identificação esta relação no caso do sal fundido escolhido, foram

consultadas fontes como (JANZ, 1967 e SOHAL et al., 2010). Dentre essas a que

aponta uma fórmula empírica de variação da viscosidade em função da tempratura

condizente com os valores, para temperaturas específicas, encontrados na literatura é

Janz (1967), a fórmula utilizada tambem se encontra na tabela 14.

Na terceira simulação (planta 3), foram considerados aumentos de 23% na

capacidade térmica e 6% na condutividade, após a adição de nanopartículas ao sal

fundido antes simulado. Estas variações nos dois parâmetros do HTF decorrem dos

resultados empíricos de (PAUL; MORSHED; KHAN, 2013) e (THOMS, 2012), que

constituem alguns dos trabalhos recentemente publicados na fronteira científica que

investiga o impacto de nanopartículas em fluidos de processos termodinâmicos. Tal

aumento na capacidade térmica acarreta em um aumento na entalpia específica, uma vez

que essas propriedades são função uma da outra. Além dessas três propriedades, outro

parâmetro que se altera com a dispersão de tais particulas é a massa especifica: essa

propriedade será calculada como apontado por (IAEA, 2008) 1/ρnanofluido= 0.99/ρsal+

0.01/ρSiO2.

A tabela 14 mostra as fómulas utilizadas, assim como as propriedades para as

plantas 1 e 3, considerando que ambas trabalham com 60% NaNO3-40%KNO3.

65
Tabela 14 – Fórmulas e propriedades do 60% NaNO3 40%KNO3.

Propriedade Fórmula Planta 1 Planta 3


Temperatura - 275 300 325 275 300 325
[ºC]
Capacidade 1,72×10-1 · 1490,3 1494,6 1498,9 1833,06 1838,35 1843,64
térmica (Cp) T+ 9 8 7
[J/kgºC] 1.443×103
Massa -6,36×10-1 · 1915,1 1899,2 1883,3 1933,82 1917,77 1901,72
específica T+
(ρ) [kg/m3] 2,090×103
Viscosidade [90,8112 - 0,0038 0,0031 0,0026 0,00383 0,00319 0,00269
(μ) [Pa.s] 35,1716 x 3 9 9
-2
10 x (T
+273) +
46,64877 x
10-5 x
(T+273)2 –
20,861 x
10-8 x
(T+273)3] x
10-3

Viscosidade 2,000 1,680 1,428x 1,980 x 1,663 x 1,415 x


cinemática μ /ρ x 10-6 x 10-6 10-6 10-6 10-6 10-6
(ν) [m2.s]

Condutivida 4,184 x 102 0,495 0,500 0,505 0,525 0,530 0,535


-
de térmica [9,318 x 10
4
(k) [W/m.ºC] + 4,6 x
-7
10 x (T +
273)]
Entalpia 8,6×10-2 · 40332 44064 47805 496093, 541987, 588012,
especifica T2 + 8 0 9 4 2 6
3
(h) [J/kg] 1,443×10 ×
T
Fonte: elaboração própria a partir de SAM/NREL, 2009; GIL et al., 2010 e KEARNEY

et al., 2002)

Para a planta 2, que utiliza NaK como HTF, as fórmulas utilizadas são apontadas

pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) em seu relatório intitulado

“Thermophysical Properties of Materials For Nuclear Engineering: A Tutorial and

Collection of Data” de 2008 (IAEA, 2008). Este relatório, porém, não possui formula

66
para entalpia específica. Assim, para o cálculo da mesma foi utilizada a fórmula: dH =

CpdT. Os limites de integração da mesma serão Ho e H para entalpia, e To e T, onde H é

a entalpia a uma certa tempratura T, Ho é a entalpia de formação do NaK, cujo valor é

7,5meV/atom ou 11,6548J/kg (KLEINMAN; ZHU; BYLANDER, 1996), sendo a

entalpia de formação dada para condições de 25ºC e 1 atm, To é 25ºC. A tabela 15

resume as formulas e valores utilizados nessa simulação.

67
Tabela 15 – Formular e valores simulados para o NaK

Propriedade Fórmula Planta 2


Temperatura - 20 50 80 110 140 170 200 230 260
[ºC]
Calor (0,22/22,99) x (38.12 –
especícico 0.069 × 106 x T–2 –
(Cp) 19.493 × 10–3 x T +
[J/kgºC] 955 950 942 934 926 918 911 904 898
10.24 × 106 x T2) +
(0.78/39.098) x (39.288
− 0.086 × 106T–2 −
24.334 × 10–3T +
15.863 × 10–6 x T2)

Massa {0,22 ÷ [0.89660679 +


específica 0.5161343(T × 10–3)
(ρ) [kg/m3] −1.8297218(T × 10–3)2+
2.2016247(T × 10–3)3−
1.3975634(T × 10–3)4 +
0.44866894(T × 10–3)5
− −0.057963628(T ×
10–3)6] + 0,78 ÷
[0.90281376 − 857 852 846 839 832 825 818 811 804
0.16990711(T × 10–3) −
0.26864769(T × 10–3)2
− 0.50568188(T × 10–
3 3
) − 0.46537912(T ×
10–3)4 + +0.20378107(T
× 10–3)5 –
0.034771308(T × 10–
3 6 -1
) ]}
Viscosidade 0,58 0,55 0,48 0,4 0,3 0,3 O,3 0,2 0,27
(μ) [Pa.s] νxρ x10-3 x10-3 x10-3 3 9 5 2 9 x10-
3
x10 x10 x10 x10 x10
-3 -3 -3 -3 -3

Viscosidade – 6.954 – 0.353lnT + 0,70 0,64 0,57 0.5 0.4 0.4 0,3 0,3 0,33
cinemática 511.3/T 6 3 1 15 67 26 90 60 5
(ν) [m2.s] x10-6 x10-6 x10-6 x10 x10 x10 x10 x10 x10-
-6 -6 -6 -6 -6 6

–3
Condutivida 8.2 + 27.3×10 xT – 22,3 22,6 23,1 23, 31, 32, 33, 34, 34,9
de térmica 41.0 × 10–6 x T2 + 16.1 0 0 0 60 10 11 10 04 4
(k) × 10–9 x T3
[W/m.ºC]
Entalpia - 2375 5181 801 106 133 159 185 211
especifica ∫(Cp x dT) + Ho 4475 0 0 15 490 110 425 320 030
(h) [J/kg]
Fonte: IAEA (2008)

68
4.1.3 - Coletores (Heliostatos)

A aba “Heliostat Field” é responsável por dimensionar o campo solar. O

software permite que se mude uma série de parâmetros do campo como o raio, além de

parâmetros dos espelho como o grau de reflexão dos mesmos.

Nesta aba vale destacar a presença do “Optimization Wizard” (OW), uma

ferramenta do programa que otimiza o campo solar, além da altura ótima da torre e do

receptor. O programa alerta que o Wizard, é influenciado pelos parâmetros da aba

financeira (mais detalhada na seção 4.1.8).

O Wizard, porém, necessita de um múltiplo solar4 como dado de entrada. Não se

sabe a priori qual é o múltiplo solar mais indicado, pois o mesmo é função de outros

parâmetros da planta, como as horas de armazenamento térmico, e principalmente dos

fluidos de trabalho e termoacumulação. Sendo assim, foram simulados diferentes

múltiplos solares para cada uma das plantas, uma vez que cada uma delas opera com um

fluido diferente, a fim de se escolher o mais indicado. O critério adotado para a escolha

do múltiplo solar foi o menor LCOE, na medida em que este seria a mínima

remuneração requerida por um gerador CSP no Brasil.

O procedimento para a otimização do múltiplo solar foi o mesmo para as três

plantas: primeiro simularam-se múltiplos solares de 1,0 até 3,5 variando os valores em

intervalos de 0,5. Uma vez identificada a faixa em que estaria o múltiplo solar que

confere o menor LCOE para planta, foram feitas simulações mais refinadas nessa faixa,

4
Múltiplo Solar foi definido no subcapítulo 2.4

69
com intervalo de 0,1 afim de se refinar o resultado. Vale ressaltar que, sempre que o

múltiplo solar era modificado, o Optimization Wizard era utilizado.

4.1.3.1 - Planta 1 (padrão)

Tabela 16– LCOE em função do MS da planta 1

MS 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5


LCOE (¢/kWh) 41,06 31,04 25,09 24,1 24,98 27,00

Fonte: Elaboração própria

Da tabela 16 pode-se concluir que o LCOE mínimo para planta 1 será dado por

valores de MS entre 2 e 3, sendo assim, a segunda bateria de simulações com intervalos

de 0,1 será feita para este intervalo.

LCOE
27
26,5
26
25,5
25
24,5
24
23,5
23
2 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8 2,9 3

LCOE

Figura 30 – Otimização do múltiplo solar da planta 1


Fonte: Elaboração própria

70
Analisando o gráfico acima pode-se concluir que o valor do múltiplo solar que

confere à planta o menor LCOE é 2,5. Logo, este será o valor utilizado na simulação da

palnta 1.

4.1.3.2 - Planta (com NaK como fluido de trabalho)

Tabela 17 – LCOE em função do MS da planta 2

MS 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5


LCOE (¢/kWh) 42,31 30,23 24,82 24,78 26,65 29,32

Fonte: Elaboração própria


Da tabela 17 pode-se concluir que o LCOE mínimo para planta 3 será dado por

valores de MS entre 2 e 3, sendo assim, a segunda bateria de simulações com intervalos

de 0,1 será feita para este intervalo.

LCOE
27
26,5
26
25,5
25
24,5
24
23,5
23
2 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8 2,9 3

LCOE

Figura 31 – Otimização do múltiplo solar da planta 2


Fonte: Elaboração própria

71
Analisando o gráfico acima pode-se concluir que o valor do múltiplo solar que

confere à planta o menor LCOE é 2,4. Logo, este será o valor utilizado na simulação da

planta 2.

4.1.3.3 - Planta (nano)


Tabela 18 – LCOE em função do MS da planta 3

MS 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5


LCOE (¢/kWh) 40,88 30,78 25,8 23,88 24,6 26,55

Fonte: Elaboração própria

Da tabela 18 pode-se concluir que o LCOE mínimo para planta 3 será dado por

valores de MS entre 2 e 3, sendo assim, a segunda bateria de simulações com intervalos

de 0,1 será feita para este intervalo.

LCOE
27
26,5
26
25,5
25
24,5
24
23,5
23
2 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8 2,9 3

LCOE

Figura 32 – Otimização do múltiplo solar da planta 3


Fonte: Elaboração própria

72
Analisando o gráfico acima pode-se concluir que o valor do múltiplo solar que

confere à planta o menor LCOE é 2,4. Logo, este será o valor utilizado na simulação da

palnta 3.

4.1.4 - Ciclo de potência:

Esta aba é responsável pelos parâmetros referentes ao ciclo termodinâmico da

planta, como a capacidade da planta, o design do bloco de potência, o controle da planta

e o sistema de resfriamento. Nesta monografia foi utilizado resfriamente seco. Este tipo

de resfriamento utiliza o ar para resfriar a planta. Apesar de ser mais custoso foi

escolhido devido à falta de água na região (BURGI, 2013).

4.1.5 - Armazenamento Térmico.

Nesta aba é possível modelar o sistema de armazenamento térmico. Pode-se

escolher se o armazenamento será em um tanque ou dois tanques, a temperatura dos

mesmos e do HTF, nos momentos de carga e descarga, além do material de que os

tanques são feitos. É permitido ao usuário controlar também o despacho de energia

proveniente do(s) tanque(s) de armazenamento.

Neste ponto é necessário ressaltar uma limitação do SAM: este não tem a opção

de armazenamento via calor latente, motivo pelo qual esta monografia só fará

simulações com armazenamento via calor sensível.

A tabela 19 mostra os parâmetros técnicos utilizados na simulação, incluindo

este subcapitulo e os dois anteriores.

73
Tabela 19 – Parâmetros técnicos das simulações

Características técnicas Planta 1 Planta 2 Planta 3


Parâmetros do Múltiplo solar 2,5 2,4 2,4
campo solar DNI 2198,5kW/m2/ano
Área total de 1.317.853m 1260392m 1.260.392m2
2 2
reflexão
Número de 9128 8730 8730
coletores
Ângulo de 360º
extensão
Fluido de Tipo Sal NaK Sal fundido
trabalho fundido com melhora
em estágio de 23% na
comercial capacidade
térmica e 6%
na
Campo condutividad
solar e térmica
Restrições Altura da torre 200m
Relação
máxima de 7,5
distância entre
coletor e torre
Relação
mínima de 0,75
distância entre
coletor e torre
Largura 12,2m
Altura 12,2m
Área total 0,97
Parâmetros dos Área de 144,375m2
coletores reflexão
Reflectância 0,9
Disponibilidad 0,99
e
Erro de 0,00153rad
imagem
Orientação do Radial 12º
coletor Azimuthal 12º
Tipo de Receptor Externo
receptor
Altura 20,74m 19,14m 19,14m
Caracterísitcas Diâmetro 18,67m 17,22m 17,22m
físicas Número de 20
painéis
Emitância do 0,88
Recep- revestimento
tor

74
Eficiência de 1
recirculação do
aquecedor
Diâmetros do 40mm
tubo
Espessura da 1,25mm
Características parede do tubo
termodinâmica Temperatura 574ºC 785ºC 574ºC
s de saída do
HTF
Temperatura 350ºC 20ºC 350ºC
máxima de
entrada do
HTF
Absorção do 0,94
revestimento
Fator de perda 1
de calor
Potencia de 115MWe
Capacidade da saída bruta da
planta turbina
Perdas 10% (padrão do SAM)
parasíticas
Potencia de 100MWe
saída liquida
Bloco da turbina
de Eficiência de 41,2%
potênci conversão do
a ciclo
Ponto de termodinâmico
design do Pressão de 100 bar
bloco de operação na
potencia caldeira
Fração de 0,02
reposição de
água no ciclo
Modo de Operação suplementar
despacho fóssil
T de entrada no 574ºC 785ºC 574ºC
bloco de
potência
T de saída no 290ºC 20ºC 290ºC
bloco de
potência
Controle da Máximo de 1,05
planta operação da
turbina acima
do design
Mínimo de 0,25
operação da
75
turbina
Tipo de Seco
resfriamento
Temperatura 43ºC
do ambiente de
Sistema de design
resfriamento Relação de 1,0028
pressão do
condensador

Temperatura 5ºC
de Approach
Sistema de Horas de 7h
armazenament armazenament
o de calor o
TES Fluido de Sal Fundido - 60% NaNO3 40% KNO3
armazenament
o
Sistema de Fração de 1,05
controle de potência de
despacho saída da
turbina
Modo de Uniforme
despacho
Fonte: Elaboração própria

4.1.6 - Custos do Sistema da Torre.

Nesta aba é possível modificar o custo de cada componente da planta. Neste

ponto vale ressaltar que ainda não há parâmetros de custo de componentes de uma

planta CSP no Brasil, uma vez que ainda não há uma planta piloto no país. Deste modo,

serão utilizados os parâmetros padrões do software. O SAM vem com valores padrões

que constam no relatório “Molten Salt Power Tower Cost Model for the System Advisor

Model (SAM)” (TURCHI; HEATH, 2013). Este relatório foi feito com base em outros

quinze estudos sobre CSP como Roadmap da IEA. A tabela 20 detalha os parâmetros

de custo utilizados nas simulações.

76
Tabela 20 – Parâmetros de custo das simulações

Planta 1 Planta Planta 3

Obras para melhoria 15 USD/m2


do sitio
Campo solar 180 USD/m2
Fluido de transferência O SAM não deixa alterar
Custos de capital de calor nem fornece o valor de custo
do fluido na Torre
TES 27 USD/kWht
Bloco de potência 1.200USD/kWe
Componentes de 350USD/kWe
balanço da planta e
controle
Contingência 10%
Total 675.419.617,33 USD
Custos indiretos EPC e custos do 11% dos custos diretos
de Capital proprietário
Terra 1.000 USD/ha
Custos de Custo fixo por 70 USD/kW-ano
operação e potência
manutenção Custo variável por 4 USD/MWh
geração
Fonte: elaboração prórpia a partir de TURCHI; HEATH, 2013

4.1.7 - Parâmetros de financiamento.

A aba Financing é responsável pelos parâmetros de financiamento da simulação,

onde é possível ajustar incentivos, taxação, inflação dentre outros parâmetros. Esta aba

é importante, pois influencia diretamente no Optimization Wizard, além de influenciar

diretamente LCOE.

Como o programa é desenvolvido nos EUA os parâmetros econômicos são

adequados para realidade estadunidense, e não se adequam à realidade brasileira. Nesta

monografia os parâmetros financeiros utilizados são os mesmo utilizados por SORIA

77
(2011), SCHAEFFER et al. (2012) e MALAGUETA (2013). Tais parâmetros serão os

mesmos para as três plantas simuladas e estão resumidos na tabela 20.

O programa possibilita também a simulação de incentivos governamentais para

reduzir o custo da energia gerada, e vem com o padrão do tipo feed-in. Já o Brasil

realiza sua expansão energética através do sistema de leilões. Sendo assim não foi

adotado nenhum tipo de incentivo nas simulações desta monografia

Tabela 20 – Parâmetros financeiros das plantas simuladas.

Período de análise 30 anos


Parâmetros de análise Inflação 0% a.a.
Taxa real de desconto 10% a.a.
Taxa Federal 34%
Taxas e garantias Taxa Estadual 0%
Taxa de Venda 5% do custo total
instalado
Seguro 0,5% do custo total
instalado
Valor residual - 0%
Parâmetros de Fração de Dívida 70%
empréstimo Prazo de amortização 16 anos
Taxa de juros 7,4% a.a.
TIR - 15% (a.a.)
Depreciação - Linear de 10 anos
Fonte: Elaboração própria a partir de SORIA (2011), SCHAEFFER et al. (2012) e
MALAGUETA (2013)

4.2 - Resultados.

Após a simulação das três plantas descritas nos subcapítulos anteriores, foram

obtidos o LCOE, a energia gerada e o fator de capacidade para cada caso. A tabela 21

resume os resultados obtidos.

78
Tabela 21 – Resultado das simulações

Planta 1 (padrão) Planta 2 (NaK) Planta 3 (nano)


LCOE (¢/kWh) 24,10 24,26 23,75
Energia gerada 421.228.832 405.130.464 413.872.544
(kWh/ano)
Fator de 48,1 46,2 47,2
capacidade (%)
Fonte: Elaboração própria

Antes de se analisar os resultados da tabela acima, é necessário ponderar alguns

pontos. O primeiro deles é o fato de não ser possível modificar o fluido de

armazenamento na torre solar do SAM. O fluido com nanopartículas, por exemplo,

poderia ser utilizado também como meio de termoacumulação, o que causaria uma

diminuição mais significativa no LCOE desta planta.

O segundo é o fato de nenhuma planta ter sido simulada com incentivo

governamental. Tanto os EUA quanto a Espanha, principais países quando se fala de

CSP, têm incentivo governamental. Apenas para ilustrar, a planta 3 foi tambem

simulada com incentivo governamental do tipo feed-in (vide capítulo 2) de 30% do

investimento, nessas condições o LCOE caiu para 14,46 ¢/kWh.

Concluídas as ressalvas, enfim pode-se analisar os resultados. Comparando a

planta que opera com NaK com a padrão percebe-se que esta apresenta maior custo da

energia, menor fator de capacidade e energia gerada. Isso pode ser justificado pelo

baixo calor específico do NaK, quando comparado ao Solar Salt (60% NaNO3 40%

KNO3), cerca de 1/3 menor, como visto nas tabelas das propriedades do fluido nos

subcapítulos anteriores.

Analisando a planta 3 (nano) em relação a planta 1 (padrão) vê-se uma melhora

no custo da energia gerada de 0,45 ¢/kWh. Levando em consideração as análises deste

capítulo e o fato de que a simulação aqui realizada deriva de um estudo científico

79
recente e ainda preliminar, pode-se prever que uma diminuição de até 1,00 ¢/kWh não

estaria longe da realidade. Na planta 3, tanto o fator de capacidade quanto a energia

gerada diminuíram em comparação com a planta 1. Tal resultado pode ser justificado

pelo fato de, apesar do Optimization Wizard ter sido utilizado em todas as simulações,

ele otimiza apenas o campo solar e não parâmetros técnicos como a potência da turbina

da planta, por exemplo, o que pode ter favorecido a planta 1 .

4.3 - Análise de sensibilidade com uso de Cilindro Parabólico.

Como foi explicitado no final do subcapítulo anterior, o SAM não confere ao

analista a liberdade de mudar o fluido de termoacumulação em simulações feitas com a

tecnologia de torre solar, escolhida para simulações dessa monografia por atingir

maiores temperatura em seu receptor e pelo SAM possibilitar a variação das

temperaturas de trabalho neste receptor. Quando se simula a tecnologia de cilindro

parabólico, porém, é permitido que se altere o fluido de armazenamento térmico, apesar

de não ser permitido alterar a temperatura de trabalho do HTF, logo serão feita mais

duas simulações com essa tecnologia, afim de se avaliar não só a influência do fluido de

trabalho como a do meio de armazenamento térmico.

Para estas simulações foram utilizadas os mesmos parâmetros de custo,

financiamento e investimento das simulações anteriores, tais parâmetros estão

explicitados nas tabelas 22 e 23.

80
Tabela 22 – Parâmetros de custo das plantas com cilindro parabólico.

Planta 4 Planta 5

Obras para melhoria do sitio 15 USD/m2


Campo solar 180 USD/m2
Fluido de transferência de O SAM não deixa alterar
calor nem fornece o valor de
Custos de capital custo do fluido na Torre
TES 27 USD/kWht
Bloco de potência 1.200USD/kWe
Componentes de balanço da 350USD/kWe
planta e controle
Contingência 10%
Total 506.769.311,81 USD
Custos indiretos de EPC e custos do proprietário 11% dos custos diretos
Capital Terra 1.000 USD/ha
Custos de operação Custo fixo por potência 70 USD/kW-ano
e manutenção Custo variável por geração 4 USD/MWh
Fonte: Elaboração própria

Tabela 23 – Parâmetros de financiamento das plancar com cilindro parabólico.

Período de análise 30 anos


Parâmetros de análise Inflação 0% a.a.
Taxa real de desconto 10% a.a.
Taxa Federal 34%
Taxas e garantias Taxa Estadual 0%
Taxa de Venda 5% do custo total instalado
Seguro 0,5% do custo total instalado
Valor residual - 0%
Parâmetros de Fração de Dívida 70%
empréstimo Prazo de amortização 16 anos
Taxa de juros 7,4% a.a.
TIR - 15% (a.a.)
Depreciação - Linear de 10 anos
Fonte: Elaboração própria

Quanto ao fluidos de trabalho e de armazenamento, a primeira destas simulações

(planta 4) terá o 60% NaNO3 40% KNO3 como HTF e fluido de armazenamento. Já a

segunda simulação (planta 5) terá como fluido de trabalho e de armazenamento térmico

o mesmo fluido da planta 3 – i.e., o fluido da planta 4 com adição de nanopartículas.

81
Trata-se, portanto, de um sistema de termoacumulação direto, em que os fluidos de

trabalho e de acumulação são idênticos (Gil et al., 2010).

Neste ponto é válido explicitar o motivo pelo qual não foi simulada uma planta

com NaK para cilindro parabólico. Esta escolha se deu pelo fato de o software não

permitir alterar as temperaturas de trabalho no modo de simulação do cilindro

parabólico, logo não haveria motivo de fazer uma simulação com NaK, uma vez que a

faixa de temperatura na qual este fluido opera e sua influência no custo da energia

gerada, é o que se deseja avaliar.

Tabela 24 – Parâmetros técnicos das plantas com cilindro parabólico

Características técnicas Planta 4 Planta 5


Parâmetros do Múltiplo solar 2,8 2,7
campo solar DNI 2198,5kW/m2/ano
Fluido de Tipo Sal fundido em Sal fundido com
Campo trabalho estágio melhora de 23%
solar comercial na capacidade
térmica e 6% na
condutividade
térmica
Orientação do Tilt 0º
coletor Azimuth 0º
Tipo de receptor Schott PTR70 2008
Receptor - Diâmetros do tubo 0,070mm
Espessura da 0,004mm
parede do tubo
Potencia de saída 115MWe
Capacidade da bruta da turbina
planta Perdas parasíticas 10% (padrão do SAM)
Potencia de saída 100MWe
liquida da turbina
Eficiência de 41,2%
conversão do ciclo
termodinâmico
Bloco de Ponto de Pressão de 100 bar
potência design do bloco operação na
de potencia caldeira
Fração de 0,02
reposição de água
no ciclo
Modo de despacho Operação suplementar

82
fóssil
Controle da Máximo de 1,05
planta operação da
turbina acima do
design
Mínimo de 0,25
operação da
turbina
Tipo de Seco
resfriamento
Temperatura do 43ºC
ambiente de
Sistema de design
resfriamento Relação de pressão 1,0028
do condensador

Temperatura de 5ºC
Approach
Sistema de Horas de 7h
armazenamento armazenamento
de calor Fluido de Sal Fundido - 60% NaNO3 40%
TES armazenamento KNO3
Sistema de Fração de potência 1,05
controle de de saída da turbina
despacho Modo de despacho Uniforme
Fonte: Elaboração própria

4.3.1 - Otimização do múltiplo solar.

Nesta seção será feita a otimização do múltiplo solar para as plantas 4 e 5. Para

tal será utilizado o mesmo procedimento das simulações anteriores, que consiste em

fazer duas baterias de simulações. A primeira com intervalos de 0,5 e seus resultados

são ilutrados na tabela 25.

Tabela 25 – LCOE em função do MS da planta 4

MS 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5


LCOE 42,46 31,28 25,4 23,16 22,59 23,38
(¢/kWh)

Fonte: Elaboração própria

83
Da tabela 25 pode-se concluir que o LCOE mínimo para planta 4 será dado por

valores de MS entre 2,5 e 3,5, sendo assim, a segunda bateria de simulações com

intervalos de 0,1 será feita para este intervalo.

LCOE
25
24,5
24
23,5
23
22,5
22
21,5
21
20,5
2 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8 2,9 3

LCOE

Figura 33 – Otimização do múltiplo solar da planta 4


Fonte: Elaboração própria

Analisando o gráfico acima pode-se concluir que o valor do múltiplo solar que

confere à planta o menor LCOE é 2,8. Logo, este será o valor utilizado na simulação da

palnta 4.

Para a planta 5 será utilizada a mesma metodologia, o resultado da primeira

bateria de exame é mostrado na tabela 26

Tabela 26 –LCOE em função do MS para planta 5

MS 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5


LCOE (¢/kWh) 39,41 29,18 24,39 22,28 22,25 23,11

Fonte: Elaboração própria

84
O resultado da segunda bateria, com intervalos de 0,1 é mostrada no gráfico

abaixo

LCOE
25
24,5
24
23,5
23
22,5
22
21,5
21
20,5
2 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8 2,9 3

LCOE

Figura 34 – Otimização do múltiplo solar da planta 5


Fonte: Elaboração própria

Analisando o gráfico acima pode-se concluir que o múltiplo solar

correspondente ao LCOE mais baixo é 2,7. Logo, este será o mutiplo solar utilizado

nessa dissertação.

4.3.2 - Resultados

Após as simulações, a planta 4 (cilindo padrão) mostrou LCOE igual a 22,54

¢/kWh enquanto na planta 5 (cilindro nano) foi atingido um LCOE de 22,08 ¢/kWh,

registrando assim uma redução de 0,46 ¢/kWh. Estes resultados indicam aparentemente

que não existiriam ganhos consideráveis em utilizar o sistema de acumulação

modificado. Contudo, eles devem ser vistos com cautela na medida em que se baseiam

nas simulações realizadas no software SAM para um resultado empírico de um fluido

85
com nanopartículas. O importante aqui, portanto, é notar a pertinência desta fronteira de

pesquisa científica, que leva à redução no LCOE de plantas CSP e as pode tornar

competitivas. A tabela 27, resume a variação do LCOE de todas as simulações desta

monografia.

Tabela 27 – Variação do LCOE das 5 simulações.

Fonte: Elaboração própria.

86
Capítulo 5 - Conclusões.

O presente trabalho procurou quantificar em termos da energia gerada e seu

custo, além do fator de capacidade, o impacto das inovações tecnológicas mais

estudadas na área de CSP, a fim de que a mesma se torne uma fonte competitiva com as

vigentes. Com base na literatura científica (WANG et al., 2012 ; SOHAL et al., 2010 ;

KEARNEY et al., 2002 ;ZHAO et al., 2011 SULYOK, 2013,SKUMANICH, 2010 ;

PACIO et al., 2013 ; LENERT; WANG, 2012)(TIZNOBAIK; SHIN, 2013 ; PAUL;

MORSHED; KHAN, 2013 ; FLAMANT et al., 2013 e LÓPEZ-GONZÁLEZ et al.,

2013), foram identificadas duas prospostas vistas como as mais promissoras para

melhoria de uma planta CSP.

Tais propostas são baseadas em duas abordagens diferentes do problema. A

primeira delas é uma abordagem termodinâmica, e visa diminuir o custo da energia

gerada através de uma melhora na eficiência do ciclo termodinâmico executado na

planta CSP. A segunda é uma solução física, onde se procura melhorar as propriedades

dos fluidos da planta, como explicitado no capítulo 3. Após as simulações pôde-se

indicar que, em princípio, a proposta mais promissora entre essas duas abordagens é a

87
abordagem física, pois apresentou uma redução no custo da energia, fato que não

ocorreu para a abordagem termodinâmica. Lembrando que os LCOEs obtidos foram:

24,10 (planta 1 - padrão), 24,26 (planta 2 - NaK) e 23,75 (planta 3 - nano), todos os

valores em ¢/kWh.

Vale lembrar o nível de inovação e atualidade das propostas analisadas (tanto o

uso do NaK em CSP quanto a dispersão de nano partículas). Atualmente tais

possibilidades estão sendo estudadas por centros de pesquisa, como o MIT e a

COPPE/UFRJ. Esta última conduz atualmente um projeto em parceria com a FINEP e

Embaixada do Reino Unido, cujo foco é o avaliação de tecnologias CSP através de

nanopartículas. Lembra-se também que muitos estudos principalmente em nanofluidos

avaliam apenas o potencial técnico do mesmo e não a sua viabilidade econômica, como

foi feito nessa monografia.

Por fim é válido destacar algumas propostar para estudos futuros. A primeira

delas consiste em um estudo da melhoria no sistema de perdas parasíticas e outros

parâmetros da planta, como espelho e receptor. Tal melhoria pode fazer com que o

resultado dos estudos com fluidos seja mais expressivo. A segunda proposta envolve um

estudo sobre a melhoria de outras propriedades dos sais fundidos e não só a capacidade

e a condutividade térmicas, tendo em vista os resultados obtidos nas simulações do

capítulo 4.

Outra frente de estudo pertinente seria o estudo da dispersão de nanoparticulas

em outros sais e não somente os à base de nitrato. Neste ponto é válido lembrar que o

NaK não obteve o resultado esperado devido a sua baixa capacidade térmica, o que

poderia ser solucionado com a dispersão de nanopartículas no mesmo. Ao se falar do

88
uso deste sal, porém, é necessário sempre se atentar à questões de segurança, uma vez

que o mesmo é altamente reativo com a água (IAEA, 2008).

Da mesma forma, poder-se-ia estudar o efeito de diferentes nanopartículas (em

qualidade e tamanho, e mesmo em teor de adsorção) sobre diferentes fluidos. Vale

notar, neste sentido, que esta é uma fronteira científica (a nanotecnologia) cujo

desenvolvimento pode levar a rupturas tecnológicas não apenas na área de CSP. Este

estudo é um primeiro ensaio preliminar para este tema, portanto.

Finalmente, novos estudos que desenvolvam empiricamente as propriedades

termodinâmicas relevantes dos fluidos de trabalho e termoacumulação também são

relevantes. Nesta monografia as propriedades termodinâmicas dos fluidos se basearam

em equações derivadas de, sobretudo, de manuais de sais fundidos. A literatura recente

indica, porém, a dificuldade ainda existente na caracterização de propriedades como

condutividade térmica de diferentes sais fundidos (WANG et al., 2012).

Nesta monografia, assumiu-se que a adição de nanopartículas aos sais fundidos

não afetaria significativamente seus custos. Isto pode não ser verdade e mereceria

investigaões futuras também. Da mesma forma, seria relevante dimensionar fora do

software SAM a torre solar, a fim de permitir alterar o fluido de termoacumulação e ter

maior controle sobre os balanços energético e de massa da planta.

Não obstante, é valido ressaltar a necessidade de P&D nesse tipo de tecnologia

no Brasil, uma vez que o país tem excelente índices de DNI, como mostrado no capítulo

1.

89
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