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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

BACHARELADO EM CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

ANÁLISE DE APROVEITAMENTO DO CALOR


EXAURIDO PELO TUBO DE ESCAPAMENTO DE
UM MOTOR DE CICLO OTTO

DOUGLAS JAMSON PEREIRA DA SILVA

CRUZ DAS ALMAS, 2016


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

BACHARELADO EM CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

ANÁLISE DE APROVEITAMENTO DO CALOR


EXAURIDO PELO TUBO DE ESCAPAMENTO DE
UM MOTOR DE CICLO OTTO

TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO APRESENTADO Á
UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RECÔNCAVO DA BAHIA PARA
OBTENÇÃO DO GRAU DE
BACHAREL EM CIÊNCIAS
EXATAS E TECNOLÓGICAS.
Orientador: Prof. Msc. Adelson
Ribeiro de Almeida Júnior

DOUGLAS JAMSON PEREIRA DA SILVA

CRUZ DAS ALMAS, 2016


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

BACHARELADO EM CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

ANÁLISE DE APROVEITAMENTO DO CALOR EXAURIDO PELO TUBO DE


ESCAPAMENTO DE UM MOTOR DE CICLO OTTO

Aprovada em: ___/___/______

EXAMINADORES:

____________________________________________________________________
Orientador: Prof. Msc. Adelson Ribeiro de Almeida Júnior

_____________________________________________________________
Examinador 1: Prof. Dr. Jacson Machado Nunes

_____________________________________________________________
Examinador 2: Profa. Dra. Jania Betania Alves da Silva
RESUMO

Numa sociedade onde as reservas não-renováveis de energia estão


chegando cada vez mais próximas de seu limite, a busca pela máxima
eficiência em todos os âmbitos possíveis deve ser fomentada. Como cerca
de 32% da energia calorífica do combustível fóssil é desperdiçada através
do tubo de escape, é necessário um aproveitamento desta energia para
geração de economia. Uma saída é a transformação desta energia térmica
em energia elétrica através de dispositivos termoelétricos fixados na
superfície deste tubo. Esta energia elétrica gerada é utilizada para a quebra
da molécula de água em uma célula de hidrogênio. A quebra desta
molécula gera gases hidrogênio e oxigênio que serão adicionados à mistura
ar-combustível do motor visando uma menor concentração de combustível
fóssil nessa mistura, gerando uma menor quantidade de gases poluentes e
também uma economia de combustível fóssil. É esperado no fim deste
trabalho ser mostrada uma utilização satisfatória desta energia outrora
completamente desperdiçada.

Palavras-chave: Termoeletricidade, energia renovável, hidrogênio,


termopares, peltier.
ABSTRACT

In a society where the fossil reserves for fuels are getting closer and closer
to the end, the search for maximum efficiency everywhere possible must be
fomented. As 32% of the calorific energy of the fossil fuel is wasted through the
exhaust pipe, it’s necessary to use this energy to generate fuel economy. Turn
this thermal energy into electric energy using thermoelectric devices welded to
the pipe is a way out. This electrical energy is used to break the water molecule
in a hydrogen cell. This cell injects Oxygen and Hydrogen into the air-fuel mix,
intending to low the fuel concentration in this mix, so this burn will release fewer
pollutant gases to the atmosphere and also save fuel. It’s expected in the end of
this work to show a satisfactory usage of this energy once fully wasted.

Keywords: Thermoelectricity, Renewable energy, Hydrogen, Thermocouples,


Peltier
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS.............................................................................................i

LISTA DE TABELAS............................................................................................ii
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11

1.OBJETIVO..................................................................................................... 12

2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 13

2.1 – TERMOELETRICIDADE ...................................................................... 13

2.1.1 – Efeito de Peltier.......................................................................... 13

2.1.2 – Efeito de Seebeck ...................................................................... 14

2.1.3 – Termopares ............................................................................... 16

2.1.4 – Placas de Peltier ........................................................................ 18

2.1.5 – Figura de Mérito ......................................................................... 20


2.2-ELETRÓLISE..........................................................................................21

2.2.1 – Eletrólitos ................................................................................... 22

2.3 – Hidrogênio ............................................................................................ 23

2.4 – Uso de combustíveis alternativos......................................................... 24

2.5 – Motores de combustão interna ............................................................. 25

2.6 – Relações estequiométricas ar-combustível .......................................... 25

2.7 – Taxa de compressão ............................................................................ 26

2.8 – Motores de ciclo otto ............................................................................ 26

2.9 – Rendimento de um motor ..................................................................... 29

3.MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................. 30

3.1 - Material: ................................................................................................ 30

3.1.1 – Placa de Peltier .......................................................................... 30

3.1.2 – Termopar Tipo J......................................................................... 30

3.1.3 – Computador com Microsoft Office.............................................. 30


3.2 – Método: ................................................................................................ 31

4. RESULTADOS ............................................................................................. 36

5.CONCLUSÃO................................................................................................ 42

6.PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................ 43

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 44

ANEXO I.............................................................................................................46
i

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Efeito Peltier numa junção, com inversão de corrente...............................13

Figura 2 – Ilustração do Efeito de Seebeck................................................................14

Figura 3 – Tipos de termopares e sua capacidade de geração...................................17

Figura 4 – Esquema interno de Placa de Peltier.........................................................18

Figura 5 – Construção da Placa de Peltier..................................................................19

Figura 6 – Datasheet Placa de Peltier modelo TEC1-12706.......................................20

Figura 7 – Gerador de hidrogênio por eletrólise.........................................................21

Figura 8 – Admissão da mistura, 1° tempo.................................................................27

Figura 9 – Compressão da mistura,2° tempo............................................................27

Figura 10 – Explosão da mistura, 3° tempo...............................................................28

Figura 11 – Descompressão do cilindro, 4° tempo.....................................................28

Figura 12 – Posicionamento dos termopares no tubo de escapamento....................32


ii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tipos de termopares e suas principais características..............................16

Tabela 2 – Reações do hidrogênio.............................................................................22

Tabela 3 – Comparação do potencial energético do hidrogênio.................................23

Tabela 4 – Características do hidrogênio...................................................................24

Tabela 5 – Medidas do tubo de escape Honda NXR Bros.........................................37

Tabela 6 – Área superficial externa do tubo de escape Honda NXR Bros.................37

Tabela 7 – Resistência dos materiais que compõem o termopar tipo J......................37

Tabela 8 – Cálculo de corrente gerada por termopar tipo J.......................................38

Tabela 9 – Área ocupada por cada termopar soldado, conforme bitola do fio............38

Tabela 10 – Quantidade de termopares a ser soldada no tubo, conforme bitola do


fio................................................................................................................................39

Tabela 11 – Quantidade de placas de Peliter a ser colada no tubo...........................39

Tabela 12 – Potência gerada por termopares soldados ao tubo, de acordo com sua
bitola...........................................................................................................................40

Tabela 13 – Potência gerada por placas de Peltier coladas ao silencioso..................40

Tabela 14 – Aumento da área de troca de calor da superfície do tubo de escape......40


INTRODUÇÃO

Diante da situação atual do planeta, onde as reservas de combustíveis fósseis


estão cada vez mais próximas do seu limite, é necessária a busca de uma maior
eficiência na queima deste combustível. Segundo Nascimento(2008), cerca de 67%
da energia calorífica do combustível é perdido na forma de energia térmica. Destes
67, 35% desta energia é dissipada através do tubo de escape.

O aproveitamento desta energia constantemente desperdiçada pode ser feito


através de dispositivos termoelétricos, que tem como característica a conversão de
energia térmica em energia elétrica e vice-versa. A energia elétrica gerada por estes
dispositivos tem por objetivo alimentar uma célula de hidrogênio, que tem por função
gerar hidrogênio para ser misturado na admissão junto à gasolina, demandando uma
menor quantidade do combustível fóssil para a geração de um mesmo desempenho
do motor e consequentemente emitindo uma menor quantidade de gases poluentes
para o meio ambiente.

O hidrogênio como combustível tem sido motivação de pesquisas científicas


há algum tempo, devido à sua abundância, quantidade de energia satisfatória quando
queimado e pelo fato de sua queima gerar água como resíduo, sendo assim não
poluente à atmosfera. Também tem sido motivação de pesquisas populares, sendo
comum encontrar à venda em diversos sites os chamados “kits HHO”, supostamente
milagrosos e que prometem uma economia de combustível fóssil da ordem dos 60%
sem muitas alterações na estrutura física do automóvel.

11
1.OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo verificar se, com o calor que é desperdiçado
pelo tubo de escape de um motor monocilíndrico de baixa cilindrada, é possível obter
por meio de dispositivos termoelétricos energia elétrica suficiente para gerar uma
quantidade de hidrogênio que consiga suprir a demanda necessária para
funcionamento pleno deste motor com a mistura hidrogênio/gasolina.

12
2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 – TERMOELETRICIDADE
A termoeletricidade é, segundo Piedade (1997), um conjunto de fenômenos
físicos que relacionam a temperatura com as propriedades elétricas dos materiais.
Esta relação permite, através de uma diferença de temperatura, gerar energia elétrica.
A relação inversa também é válida.
Dentre os vários fenômenos termoelétricos, faz-se necessário o destaque dos
principais efeitos que carregam os nomes de seus inventores: o Efeito Peltier e o Efeito
Seebeck.

2.1.1 – Efeito de Peltier


Segundo Fernandes (2012), caso passe uma corrente por um circuito que seja
constituído de dois materiais diferentes, em uma das junções ocorrerá a liberação de
calor enquanto em outra ocorrerá absorção de calor. Esse fenômeno ocorre pela
existência de uma força eletromotriz em tal junção, que é gerada pela diferença na
composição de cada material.

Figura 1: Efeito Peltier numa junção, com inversão de corrente – Fonte:


Fernandes(2012)

Segundo Lindler(1998) a corrente pode fluir em ambos os sentidos, sendo que


em um sentido o dispositivo absorve calor do meio que se encontra, e no outro sentido
o dispositivo passa a irradiar calor para o meio. Como pode ser visto na Figura 1, caso
a corrente flua da esquerda para a direita o dispositivo irá absorver calor, caso
contrário o mesmo irá irradiar calor.

13
Segundo Fernandes(2012) a passagem de corrente elétrica por um condutor
sempre é acompanhada por uma liberação de calor por efeito Joule, se torna difícil
explicar o efeito de Peltier, porém se faz necessário focar na teoria eletrônica, onde
os elétrons fluem através da junção entre os dois materiais, e apenas os elétrons de
maior energia conseguem passar pela junção, devido à absorção de energia e
consequentemente criando na mesma uma temperatura inferior e assim criando a
diferença de temperatura entre os dois lados.

2.1.2 – Efeito de Seebeck


Fernandes(2012) diz que o Efeito de Seebeck é o oposto do Efeito Peltier,
consistindo na produção de uma corrente ou tensão a partir de uma diferença de
temperatura. Foi descoberto em 1821, quando Thomas Seebeck descobriu que um
circuito feito de dois materiais diferentes cujas junções estejam em temperaturas
diferentes conseguiriam desviar o ímã da bússola, percebendo assim que a corrente
elétrica gerada pela junção que induziria tal desvio.

Figura 2: Ilustração do Efeito de Seebeck – Fonte: Campos, Oliveira (2011)

Onde:
𝑇𝑜= Temperatura inicial(°C)
Δ𝑇= Variação de temperatura(°C)
𝑑. 𝑑. 𝑝.= Diferença de potencial elétrico(V)

Segundo Fernandes(2012) o surgimento da força eletromotriz se dá pela


transferência de elétrons do local de temperatura mais elevada até o local de
temperatura mais baixa, e essa transferência só para quando é atingido o equilíbrio,
14
ou seja, a tensão passa a ser superior à energia possuída pelos elétrons para se
movimentar. Caso seja mantida a diferença de temperatura, a migração de elétrons
só irá parar quando alcançado o equilíbrio do gradiente térmico.
Para pequenas variações de temperatura entre os dois metais, a d.d.p. será
proporcional à diferença de temperatura e dependente dos materiais que compõem o
circuito.(W.He et al, 2015)
O valor da d.d.p. pode ser calculado pela equação:
Δ𝑉
𝛼=
Δ𝑇
Onde:
𝛼= Coeficiente de Seebeck(V/K)
Δ𝑉= Variação de tensão(V)
Δ𝑇= Variação de temperatura(K)

15
2.1.3 – Termopares
É dito por Kuphaldt(2006) que quando dois metais diferentes são unidos com o
fim de medição de temperatura, este dispositivo é chamado termopar. Termopares
são constituídos de metais de alta pureza para uma medição precisa da relação
temperatura/voltagem.
Fernandes(2012) diz que os termopares são dispositivos termoelétricos cujo
funcionamento tem como base o efeito Seebeck. Caso sejam soldados dois metais
diferentes e um dos lados for aquecido, a diferença de temperatura irá gerar uma
tensão que será proporcional a esta diferença de temperatura.
Os termopares são divididos em diferentes tipos, de acordo com os materiais
que são compostos, como pode ser visualizado na tabela 1:

Tabela 1: Tipos de termopares e suas principais características

Fonte: Fernandes (2012)

O uso de termopares é muito vasto, sendo utilizado desde aplicações simples,


como a medição de temperatura de um tubo de escape, até aplicações mais
16
complexas como medição de temperaturas em locais onde o ser humano não pode
ir.(Fernandes, 2012)
Segundo Kuphaldt(2006), a corrente passante em um termopar é o quociente
entre a tensão gerada e a resistência do material:
𝑉
𝐼=
𝑅
Onde:
𝐼= Corrente que flui pelo termopar
𝑉= Tensão gerada pelo termopar
𝑅= Resistência equivalente formada pelos dois materiais do termopar

Kuphaldt(2006) diz que a temperatura na extremidade do termopar é obtida


através da medição em milivolts diretamente na fonte da temperatura, sendo que se
faz necessário um parâmetro de correção para a tensão aferida, que é a tensão
gerada pelo termopar na temperatura de 0°C. A figura 3 tem como objetivo classificar
os termopares conforme sua sensibilidade:

Figura 3: Tipos de termopares e sua capacidade de geração – Fonte: Iope Materiais


de precisão, acesso em 8 de junho de 2016
17
2.1.4 – Placas de Peltier
Segundo Campos, Oliveira (2011), o módulo ou placa de Peltier é um
dispositivo termoelétrico que possui duas faces, sendo que uma das faces resfria e
outra esquenta conforme a passagem de corrente nesse dispositivo. O fluxo de calor
é definido pelo sentido da corrente que percorre o módulo. Assim, ao aplicar uma
diferença de potencial na pastilha, é criada uma diferença de temperatura entre as
placas.
Segundo Oliveira, Leismann(2007), uma típica Placa de Peltier é constituída
por uma série de semicondutores do tipo p e tipo n, agrupados em pares e soldados
entre duas placas cerâmicas, eletricamente em série e termicamente em paralelo.

Figura 4: Esquema interno de Placa de Peltier. Fonte: Oliveira, Leismann(2007)

Quando ligada a uma fonte de tensão, há uma redução na temperatura de uma


face, resultando no “lado frio” do módulo, resultando numa absorção de calor do meio
onde está a placa. No outro lado, o calor é transferido pela movimentação de elétrons
se movendo de um estado alto para um estado baixo, resultando no “lado quente” do
módulo.(Oliveira; Leismann, 2007)

18
Figura 5: Construção da placa de Peltier. Fonte: Oliveira, Leismann(2007)

Segundo Souza(2007), as dimensões das placas de Peltier variam de 3


milímetros de lado por 4 milímetros de espessura a 60 milímetros de lado por 5
milímetros de espessura, com uma taxa de calor transferido máxima de 1W a 125W.
A diferença de temperatura máxima suportada pelos módulos é de 70°C, e os
dispositivos contêm de 3 a 127 termopares em seu interior.

19
2.1.5 – Figura de Mérito
Fernandes(2012) diz que a figura de mérito é uma medida da capacidade dos
materiais termoelétricos de transformar energia térmica em energia elétrica para
determinada temperatura. Seu equacionamento é dado por:
𝛼2
𝑍=
𝜌. 𝜅
Onde:
𝑍= Figura de mérito(1/K)
𝛼= Coeficiente de Seebeck(V/K)
𝜌= Resistividade elétrica(Ω)
𝜅= Condutividade térmica(W/m.K)

Gonçalves(2008) diz que a figura de mérito não é constante com a temperatura,


logo pode ser encontrada uma referência à figura de mérito para determinada
temperatura, que é equacionada por:

𝛼2
𝑍𝑇 = 𝑇
𝜌. 𝜅
Onde:
𝑍= Figura de mérito(1/K)
𝛼= Coeficiente de Seebeck(V/K)
𝜌= Resistividade elétrica(Ω)
𝜅= Condutividade térmica(W/m.K)
𝑇= Temperatura(K)

Segundo Fernandes(2012), o parâmetro ZT é crucial na fase de projeto de


qualquer dispositivo termoelétrico, auxiliando na escolha dos materiais a serem
utilizados. Assim, um material bom do ponto de vista termoelétrico terá um alto
coeficiente de Seebeck e uma condutividade térmica e resistência elétrica baixos.
Essa combinação é muito difícil de ser encontrada num só material, visto que um
material que possua baixa resistência elétrica consequentemente terá uma
condutividade térmica elevada.

20
2.2 – ELETRÓLISE

Segundo Sardella(1999), a eletrólise é uma reação não espontânea de


decomposição de uma substância, por meio de corrente elétrica, sendo um processo
eletroquímico caracterizado pela ocorrência de oxi-redução em uma solução
condutora quando se estabelece uma diferença de potencial elétrico entre dois
eletrodos mergulhados nessa solução.
A primeira etapa da eletrólise consiste na decomposição do composto. A
depender do meio onde esta decomposição ocorre, novos compostos são formados.
A denominação da solução eletrolítica, que designa qualquer solução aquosa
condutora de energia elétrica, provém do processo de eletrólise.(Sardella, 1999)

Figura 7: Gerador de hidrogênio por eletrólise. Fonte: Wollmann(2013)

Sardella(1999) explica que, quando um composto iônico é dissolvido em água


de forma que seus íons estejam totalmente disponíveis no líquido, e é aplicada uma
corrente elétrica a este líquido que possui dois eletrodos inertes inseridos no mesmo,
o eletrodo negativo é chamado de cátodo e o positivo é chamado de ânodo. Os íons
carregados positivamente se movem no sentido do cátodo, enquanto os íons
carregados negativamente se movem no sentido do ânodo.

21
Tomando o 𝐾𝑂𝐻 como composto iônico, Sardella(1999) exemplifica a reação
de eletrólise da água e hidróxido de potássio:
Na solução, temos:
+ −
𝐾𝑂𝐻 = 𝐾(𝑎𝑞) + 𝑂𝐻(𝑎𝑞)
+ −
𝐻2 𝑂 = 𝐻(𝑎𝑞) + 𝑂𝐻(𝑎𝑞)
Tabela 2: Reações do hidrogênio.

Fonte: Sardella(1999)

Sardella(1999) diz que nesta reação pode ser visto ao redor dos eletrodos o
gás hidrogênio(𝐻2 ) e oxigênio(𝑂2), enquanto os elementos restantes 𝐾 + e 𝑂𝐻 − se
unirão formando moléculas de hidróxido de potássio.

2.2.1 – Eletrólitos

Pandey, Shan(1985) diz que os eletrólitos são quaisquer substâncias altamente


condutivas, pelo fato de possuírem em sua composição elétrons livres. Comumente
conhecidos como soluções de ácidos, bases ou sais, alguns gases podem agir como
eletrólitos em condições de alta temperatura ou baixa pressão.
Eletrólitos são comumente formados quando um sal é dissolvido num solvente
como a água e seus componentes individuais se dissociam devido às interações
termodinâmicas entre as moléculas de solvente e soluto.(Usberco; Salvador, 2006)
Os hidróxidos são amplamente utilizados como eletrólitos para a geração da
molécula de HHO para queima junto à gasolina em motores de ciclo Otto, com
destaque para os hidróxidos de sódio(𝑁𝑎𝑂𝐻) e de potássio(𝐾𝑂𝐻).(Wollmann, 2013)

22
2.3 – HIDROGÊNIO

O hidrogênio é o elemento químico mais abundante do planeta, constituindo


cerca de 70% da superfície da Terra. Na forma que é comumente encontrado, é
inodoro, incolor e insípido, sendo mais leve que o ar.(Usberco; Salvador, 2006)
Sua aplicação através de células a combustível produz apenas energia em
forma de calor e água. Como é altamente ativo quimicamente, o hidrogênio está
sempre à procura de um outro elemento para se ligar e, a depender da concentração,
suas misturas podem ser altamente explosivas.(Neto, 2005)
Embora seja explosivo, o hidrogênio não entra em detonação ao ar livre.
Embora não seja tóxico, pode asfixiar caso seja consumido todo o oxigênio do
ambiente. O gás hidrogênio(𝐻2 ) possui 2,4 vezes mais energia que o gás natural por
unidade de massa, sendo quantificada esta energia na tabela 3.(Almeida, 2005)

Tabela 3: Comparação do potencial energético do hidrogênio

Fonte: Almeida (2005)

23
E na tabela 4 são mostradas algumas características do hidrogênio:

Tabela 4: Características do Hidrogênio.

Fonte: Neto (2005)

2.4 – USO DE COMBUSTÍVEIS ALTERNATIVOS

Segundo Senra et al (2014), é uma unanimidade a busca por combustíveis mais


eficientes e menos poluentes, visto que as reservas de petróleo no mundo estão
chegando ao fim e cada vez mais a demanda pelos mesmos aumenta, e a queima

24
dos combustíveis fósseis só tem prejudicado nossa atmosfera e consequentemente o
ar que respiramos.
Nesse cenário, o hidrogênio surge como uma excelente opção, vista sua
abundância, rendimento e facilidade de produção através da quebra da molécula de
água, sendo uma fonte de energia limpa, renovável e economicamente viável.(Senra
et al, 2014)

2.5 – MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA

Nascimento(2008) diz que o motor de combustão interna é caracterizado por


queimar combustível internamente num sistema constituído por pistão, biela e
virabrequim, onde a energia térmica do combustível é transformada em energia
mecânica, onde o movimento alternativo do pistão dentro do cilindro é transformado
em movimento rotativo, através da biela e do virabrequim.
Os motores utilizados geralmente nos automóveis atuais são de ciclo Otto, e
possuem este nome em homenagem a Nikolaus Otto, seu criador.
Nascimento(2008) diz que estes motores podem ser chamados de dois tempos
ou de quatro tempos, de acordo com a complexidade do sistema mecânico, sendo os
de quatro tempos objeto de estudo deste trabalho.

2.6 – RELAÇÕES ESTEQUIOMÉTRICAS AR-COMBUSTÍVEL

Segundo Nascimento(2008), esta relação é a que permite que o motor tenha


uma queima eficiente, sem que combustível seja desperdiçado, tampouco que seja
injetado menos combustível que o necessário para alcançar a eficiência prometida.
Logo, se faz necessária uma boa vaporização da mistura ar-combustível antes que
ele seja inserido na câmara de combustão.
Geralmente, na queima da gasolina a relação estequiométrica ideal está entre
9:1 e 10:1, ou seja, para queimar um quilo de combustível serão necessários 9 quilos
de ar. Esta relação tem relação íntima com a quantidade de carbono e hidrogênio
presentes na gasolina. Caso exista mais combustível que o necessário na mistura ar-
combustível, existirá o desperdício de combustível pois o mesmo não será

25
completamente queimado e essa mistura será chamada de mistura rica. Caso o
inverso ocorra, existirá uma diminuição no desempenho do motor e maior liberação
de óxidos de nitrogênio, sendo assim chamada de mistura pobre. A utilização do motor
com mistura pobre é pior, pois pode danificá-lo.(Nascimento, 2008)
Nascimento(2008) diz que a qualidade da mistura ar-combustível está ligada
intimamente ao fator lambda. Fator esse que determina se a mistura utilizada é rica,
pobre ou ideal, através do quociente entre a mistura real e a mistura ideal, ou seja:
𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑟𝑒𝑎𝑙
𝜆=
𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑖𝑑𝑒𝑎𝑙
Logo, percebe-se que o ideal é que o fator lambda seja igual a 1. Caso seja
menor que 1, a mistura é considerada rica. Caso seja maior, é considerada pobre.

2.7 – TAXA DE COMPRESSÃO

A taxa de compressão é resultado do quociente entre a cilindrada parcial em


cm³ e o volume da câmara de combustão, também em cm³:
𝐶𝑝𝑎𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙
𝑇𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 =
𝑉𝑐â𝑚𝑎𝑟𝑎

2.8 – MOTORES DE CICLO OTTO


O motor de ciclo Otto tem como característica seu funcionamento através de
quatro tempos: admissão, compressão, explosão e escape. As figuras a seguir
ilustrarão cada tempo do motor:

1° tempo: Admissão
Nesta etapa a válvula de admissão se abre, sugando a mistura ar-combustível
para dentro da câmara de combustão a uma pressão constante, logo este é um
processo isobárico.(Nascimento, 2008)

26
Figura 8: Admissão da mistura, 1° tempo. – Fonte: Wollmann(2013)

2° tempo: Compressão
Nesta etapa ambas as válvulas são fechadas e o pistão sobe, pressionando
toda a mistura. O processo é adiabático, pois acontece muito rápido e não há troca de
calor.(Nascimento, 2008)

Figura 9: Compressão da mistura,2° tempo. – Fonte: Wollmann(2013)

3° tempo: Explosão
Nesta etapa ocorre a explosão da mistura, causada pela centelha da vela de
ignição. No momento da explosão não há alteração de volume. Após o aumento da
temperatura e pressão, o pistão é empurrado para baixo com velocidade suficiente
para que seja uma expansão adiabática, sem troca de calor.(Nascimento, 2008)

27
Figura 10: Explosão da mistura, 3° tempo. – Fonte: Wollmann(2013)

4° tempo: Exaustão
Nesta etapa ocorre a abertura da válvula de exaustão, por onde o gás resultante
da expansão da queima será exaurido pelo ambiente. Não há variação no volume,
logo esta descompressão é considerada isométrica.(Nascimento, 2008)

Figura 11: Descompressão do cilindro, 4° tempo. – Fonte: Wollmann(2013)

28
2.9 – RENDIMENTO DE UM MOTOR
Segundo Nascimento (2008), o rendimento real de um motor de ciclo Otto gira
em torno dos 21 a 25%. A energia restante é perdida de forma mecânica (cerca de
8% por meio do atrito de superfícies metálicas do veículo, da inércia do pistão e em
energia sonora) e térmica (cerca de 32% em troca de calor do motor para o ambiente
por meio de sistema de refrigeração e 35% em energia interna dos gases provindos
da combustão e exauridos pelo tubo de escape). Portanto, a perda gira em torno de
75 a 80%.
Pode-se determinar o rendimento de uma máquina como sendo o quociente
entre o trabalho que é gerado e o calor que é fornecido:
𝑊
𝜂=
𝑄
Onde:
𝜂= Rendimento da máquina térmica
𝑊= Trabalho produzido pela máquina térmica(J)
𝑄= Calor fornecido à máquina térmica pela fonte quente(J)

Caso toda energia do combustível fosse convertida em trabalho, o valor do


rendimento seria 1, ou 100%. E isso não é possível, já que foram citadas que existem
perdas na casa dos 75%. Segundo Carnot, uma máquina térmica tem rendimento
máximo próximo dos 50% em uma situação real, independente de qual seja a máquina
ou qual seja o combustível utilizado pela mesma.(Shapiro; Moran, 2002)

29
3.MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 - MATERIAL:
Para realização deste experimento pode-se utilizar qualquer motor de ciclo
Otto, seja ele carburado ou com injeção eletrônica, placas de Peltier e termopares do
tipo J soldados ao tubo de escapamento.

3.1.1 – Placa de Peltier


A placa de Peltier é um dispositivo de formato quadrado e espessura de poucos
milímetros que possui duas faces, sendo uma fria e outra quente. Na aplicação que o
trabalho objetiva, a parte quente estará em contato com o tubo de escapamento e,
consequentemente, a parte fria estará voltada para o meio ambiente. Esse
posicionamento da placa visa criar a maior diferença de temperatura possível entre as
duas faces da placa, assim obtendo o máximo rendimento dessa placa em geração
de potência elétrica. O módulo utilizado para os cálculos será o TEC1-12706, cuja
potência máxima é de 91W, e possui formato de 40x40mm.

3.1.2 – Termopar Tipo J


Este termopar possui Ferro puro como terminal positivo e Constantan como
terminal negativo. Embora menos sensível à temperatura que o termopar de tipo E,
tem maior sensibilidade que os outros tipos de termopares. Foi escolhido por sua boa
sensibilidade, atender às temperaturas especificadas e sua abundância no mercado,
sendo também viável financeiramente. Foi escolhido o comprimento de 60mm do fio
para que exista uma maior diferença de temperatura entre os terminais.

3.1.3 – Computador com Microsoft Office


Foi utilizado para a realização dos cálculos um computador com o pacote
Microsoft Office Professional Plus 2016.

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3.2 – MÉTODO:

Conforme mencionado anteriormente, o objetivo deste trabalho consiste em


avaliar a possibilidade de aproveitar o calor do escapamento transformando-o em
energia elétrica por meio de termopares e placas de Peltier. Para tanto, será feito ou
considerado que:
A área útil do tubo de escape para a soldagem dos termopares e colagem das
placas de Peltier será metade da área superficial, visto que é necessário um
espaçamento entre os termopares e placas no tubo;
Serão utilizados termopares na seção inicial do tubo, que se inicia na saída do
motor e vai até a entrada do silencioso, pelo fato das temperaturas nesta seção serem
mais altas do que a placa de Peltier pode suportar sem diminuição de sua vida útil.
As placas de Peltier serão coladas na seção do tubo onde se encontra o
silencioso, visto que a temperatura nesta região é menor que 90°C, permitindo o uso
do módulo sem comprometer sua vida útil.
Para as medições de temperatura, foram presos por arame termopares do tipo
K no tubo de escape de uma motocicleta Honda NXR 150 Bros, onde a mesma foi
ligada e permaneceu funcionando por dezesseis minutos em marcha lenta. As
posições escolhidas para as medições foram:
 30mm da saída do motor
 Entrada do silencioso
 Saída da descarga

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Figura 12: Posicionamento dos termopares no tubo de escapamento. Fonte: Autor

Estas posições foram escolhidas por serem determinantes na variação de


temperatura no comprimento do escape, assim permitindo que se tenha noção da
diferença de temperatura entre o tubo e o ambiente.
O primeiro experimento consistiu em deixar a motocicleta ligada em marcha
lenta por dezesseis minutos em um ambiente com uma baixa convecção de ar, com
os termopares ligados nas três posições mostradas na figura 12, a fim do colhimento
de temperaturas no tubo.
Com o objetivo de evitar flutuações e validar os resultados obtidos, foram
instalados termopares apenas na saída do motor da mesma motocicleta e a mesma
foi utilizada num percurso onde foi possível atingir rotações elevadas, a fim de elevar
ao máximo uma possível variação na temperatura do tubo de escape.

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Utilizando os dados de comprimento e diâmetro do tubo de escape, foi possível
calcular a área de sua superfície através da seguinte fórmula:
𝐴𝑡𝑢𝑏𝑜 = 2𝜋. 𝑅. 𝐿
Onde:
𝐴𝑡𝑢𝑏𝑜 : Área superficial do tubo de escapamento(m²)
𝑅 : Raio da seção do tubo(m)
𝐿: Comprimento da seção do tubo(m)

Para calcular quantos termopares serão soldados ao tubo, é necessário


calcular a área que cada termopar soldado irá ocupar no tubo de escapamento.
Adicionou-se 20% ao raio, no cálculo da área ocupada pelo termopar na superfície do
tubo, para compensar um aumento causado pela soldagem, logo a equação para o
cálculo dessa área é:
𝐴𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟 = 𝜋. (𝑟. 1,2)2
Onde:
𝐴𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟 : Área ocupada pelo termopar(m²)
𝑟 : Raio do fio da extremidade do termopar(m)

Como não é esperado que todos os termopares sejam soldados lado a lado
sem espaçamento, é necessário o espaçamento de pelo menos o espaço de
soldagem de um termopar livre entre dois termopares soldados para uma melhor
distribuição dos mesmos na superfície do tubo de escape, logo a área de superfície
utilizada para a soldagem dos termopares será metade da área superficial do tubo.
Sendo conservador e visando uma otimização da vida útil da placa de Peltier,
assume-se que o ∆𝑇 entre as placas será de 25°C, valor bastante distante da
diferença máxima de temperatura possível entre as duas placas, que é de 70ºC. Para
o módulo selecionado (TEC1-12706, cap. 3), com esta diferença de temperatura a
placa gerará 7 Volts de tensão e 3 Ampére de corrente.
O mesmo acontece com a área destinada à colagem das Placas de Peltier,
visto que é necessário um afastamento entre uma placa e outra para um melhor
desempenho das placas, visto que o contato de um módulo com o outro lateralmente

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pode diminuir sua eficiência de troca. Porém, a placa de Peltier é colada ao tubo de
escape através de pasta térmica, não necessitando exceder sua área. Logo:
𝐴𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 = (𝑙)2
Onde:
𝐴𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 : Área ocupada pela placa de Peltier(m²)
𝑙 : Comprimento da aresta da placa de Peltier(m)

Logo, a quantidade de termopares e placas de Peltier será calculada através


da seguinte fórmula:
𝐴
( 𝑡𝑢𝑏𝑜
𝑁𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟𝑒𝑠 𝑜𝑢 𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 = 2 )
(𝐴𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟 𝑜𝑢 𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 )
Onde:
𝑁𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟𝑒𝑠 𝑜𝑢 𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 : Número de termopares ou placas de Peltier
𝐴𝑡𝑢𝑏𝑜 : Área superficial da seção do escapamento
𝐴𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟 𝑜𝑢 𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 : Área do termopar ou placa a ser fixada no tubo

Com o número de termopares e placas que serão fixadas ao tubo, pode-se


fazer o cálculo da potência gerada por esse número de termopares e placas todos
ligados em série através da fórmula:
𝑃𝑒𝑙 = (𝑁𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟𝑒𝑠 𝑜𝑢 𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 . 𝑉). 𝐼
Onde:
𝑃𝑒𝑙 : Potência elétrica gerada pelos termopares ou placas de Peltier(W)
𝑉: Tensão em volts gerada pelo termopar ou placa de Peltier(V)
𝐼: Corrente gerada pelo termopar ou placa de Peltier(A)

É também necessário calcular a diferença de área de troca do tubo de escape


onde os termopares serão soldados, visto que a área onde foi soldado o termopar
será substituída pela área da superfície do fio do mesmo:
𝑆𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟 = 2𝜋. (𝑟). 𝐿. 2

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Onde:
𝑆𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟 : Área superficial do termopar a ser fixado no tubo(m²)
𝑟 : Raio do fio do termopar a ser fixado no tubo(m)
𝐿 : Comprimento do fio do termopar a ser fixado no tubo(m)

Assim, a área de troca será dada por:


𝐴𝑡𝑟𝑜𝑐𝑎 = (𝑆𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟 − 𝐴𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟 ). 𝑁𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟𝑒𝑠
Onde:
𝐴𝑡𝑟𝑜𝑐𝑎 : Incremento na área de troca do tubo de escape(m²)
𝑆𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟 : Área superficial do termopar a ser fixado no tubo(m²)
𝐴𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟 : Área ocupada pelo termopar(m²)
𝑁𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑝𝑎𝑟𝑒𝑠 : Número de termopares

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4. RESULTADOS

Após as medições feitas, as temperaturas colhidas geraram o gráfico 1,


conforme a posição do termopar no tubo de escape:

350
305 305 310 310 310 310
300 275
242
250
Temperatura (°C)

200
140 142 145 145 145
150 132
110
100 74
43
35
50 33 30 27 27 27 27 27 28 28

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Tempo (min)

Saída da descarga Ent. do silencioso 30 mm da saída do motor

Gráfico 1: Temperaturas obtidas através do termopar. – Fonte: Autor

Posteriormente, com o objetivo de validar e verificar possíveis flutuações nos


valores de temperatura, foram instalados termopares apenas na saída do motor e a
moto foi utilizada em um percurso onde foi possível atingir rotações elevadas, para
elevar ao máximo uma possível variação na temperatura do tubo de escape. Porém,
foi-se medido o mesmo valor de 310°C, comprovando assim que os valores de
temperatura obtidos no ambiente com baixa convecção e em marcha lenta são válidos
para calcular a energia gerada pela moto em movimento. As tensões verificadas,
oscilaram de 6,9 a 11,6 mV (até 310°C na Bros carburada) e 6,9 a 14,6 mV (até 358°C
na Bros injetada).
Foi-se medido o comprimento e diâmetro do tubo de escapamento para o
cálculo da área da superfície onde serão instalados os termopares e as placas de
Peltier. As medidas tomadas estão na tabela 5:

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Tabela 5: Medidas do tubo de escape Honda NXR Bros.
Medidas Tubo de escape Silencioso
Comprimento(m): 0,500 0,370
Diâmetro(m): 0,025 0,100
Fonte: Autor

Com a equação para o cálculo da área superficial do tubo citada no capítulo


anterior, as áreas superficiais das seções do tubo estão calculadas na tabela 6:

Tabela 6: Área superficial externa do tubo de escape Honda NXR Bros


Área externa do tubo de escapamento (m²)
Antes do silencioso 0,04
Área do silencioso 0,12
Fonte: Autor

As resistências elétricas dos materiais que constituem o termopar de tipo J


estão na tabela 7:

Tabela 7: Resistividade elétrica dos materiais que compõem o termopar tipo J


Material Resistividade em Ω x mm²/m
Constantan 0,500
Ferro Puro 0,097
Fonte: Tabela de resistividade dos materiais condutores, semicondutores e isolantes
(2010), com adaptações.

O cálculo da resistência equivalente do termopar, já que ambos os materiais


estão ligados em série, é dado por:
𝑅𝑒𝑞 = 𝑅𝐶𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑎𝑛 + 𝑅𝐹𝑒𝑟𝑟𝑜 𝑃𝑢𝑟𝑜
Segundo Kuphaldt(2006), a corrente passante em um termopar é o quociente
entre a tensão gerada e a resistência do material:
𝑉
𝐼=
𝑅

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É possível calcular a corrente gerada pelo termopar utilizando o valor da
resistência equivalente do ferro puro comercial e do constantan ligados em série. Os
valores da corrente que passa no termopar de tipo J em cada temperatura estão
listados na tabela 8:

Tabela 8: Cálculo da corrente gerada por termopar tipo J.


Temperaturas Milivolts Resistência equivalente Corrente
(°C) (Ferro/Constantan) (mA)
43 4 0,597 7,0
242 14 0,597 23,4
275 15 0,597 25,1
305 16 0,597 26,8
310 16 0,597 26,8
Fonte: Autor

Com os valores do raio do fio de cada termopar, já acrescido dos 20% da solda,
é possível estimar a área ocupada por cada termopar na superfície do tubo de escape.
O valor da área do fio já soldado, conforme sua bitola, se encontra na tabela 9:

Tabela 9: Área ocupada por cada termopar soldado, conforme bitola do fio.
Raio do fio(m) Raio com 20% Área do fio já Bitola do fio (AWG)
de soldado(m²)
acréscimo(m)
3,26E-03 3,91E-03 4,8E-05 8 AWG
1,62E-03 1,94E-03 1,2E-05 14 AWG
8,10E-04 9,72E-04 3,0E-06 20 AWG
5,10E-04 6,12E-04 1,2E-06 24 AWG
3,30E-04 3,96E-04 5,0E-07 28 AWG
2,50E-04 3,00E-04 2,8E-07 30 AWG
Fonte: Autor

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Possuindo os valores da área que cada termopar ocupa conforme sua bitola, e
também o valor da área da superfície do tubo onde serão fixados os termopares, é
possível calcular o número de termopares a serem soldados ao tubo. Esses números
estão mostrados na tabela 10:

Tabela 10: Quantidade de termopares a ser soldada no tubo, conforme bitola do fio.
Cálculo de quantos Termopares seriam soldados ao tubo (unidades):
8 AWG 415
14 AWG 1.680
20 AWG 6.721
24 AWG 16.954
28 AWG 40.493
30 AWG 70.556
Fonte: Autor

Com os valores da área que cada placa de Peltier ocupa na superfície do


silencioso, e possuindo o valor da área superficial do silencioso, pode-se calcular
quantas placas de Peltier podem ser coladas ao mesmo, conforme é mostrado na
tabela 11:

Tabela 11: Quantidade de placas de Peltier a ser colada no tubo.


Quantidade de placas Peltier a serem coladas no 36
silencioso (unidades):
Fonte: Autor

Possuindo o número de termopares a serem soldados ao tubo de escape, é


possível calcular a potência elétrica gerada por este conjunto, que estará ligado em
série. Como a quantidade de termopares é diferente conforme sua bitola, a tabela 12
mostra a potência gerada por cada bitola possível do termopar:

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Tabela 12: Potência gerada por termopares soldados ao tubo, de acordo com sua
bitola.
Potência(W) gerada por Termopar conforme bitola do fio:
8 AWG 0,18
14 AWG 0,7
20 AWG 2,9
24 AWG 7,3
28 AWG 17,4
30 AWG 30,3
Fonte: Autor

Como foi obtido também o número de placas de Peltier a serem fixadas, é


possível calcular a potência gerada pelas mesmas ligadas em série, como é mostrado
na tabela 13:
Tabela 13: Potência gerada por placas Peltier coladas ao silencioso.
Cálculo de Potência gerada por placas Peltier(W): 756
Fonte: Autor

O incremento na área de troca de calor da seção do tubo onde são soldados


os termopares deve ser quantificado, para que se tenha uma melhor noção do ganho
de eficiência de troca de calor que é obtido ao utilizar os termopares, essa
quantificação pode ser vista na tabela 14:

Tabela 14: Aumento da área de troca de calor da superfície do tubo de escape.


Incremento na área de troca(m²)
8 AWG 4,90E-01
14 AWG 1,01
20 AWG 2,03
24 AWG 3,24
28 AWG 5,02
30 AWG 6,63
Fonte: Autor

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Assim, fica notado que o termopar cuja bitola de fio é 30AWG é o mais
vantajoso, pois sua soldagem no tubo resultará num aumento de mais de 6 metros
quadrados em área para troca de temperatura, e consequentemente resfriando o tubo
de uma forma mais eficiente.
Além do incremento na área de troca do tubo devido à maior quantidade, o
termopar de 30AWG de bitola possui também a maior geração de potência para
aquela temperatura, que é de aproximadamente 30,2W.
Segundo Senra et al. (2014), é necessária uma corrente de 25A e uma tensão
de 12V – portanto 300W - sendo aplicados à célula de eletrolise de hidrogênio para
consumo junta a gasolina num motor de 89cm³, para que este funcione com um melhor
rendimento, gerando uma economia de 18% de gasolina. Com os termopares e
módulos escolhidos, a potência gerada somada é de aproximadamente 786W, o que
é mais que suficiente para alimentação da célula para utilização do hidrogênio em um
motor de cilindrada maior, no qual será necessária uma maior quantidade de
hidrogênio.

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5.CONCLUSÃO

Após a análise dos resultados obtidos, foi notado que:


• Com 70.556 termopares do tipo J(30 AWG) soldados em uma área de
escapamento de 0,02m² é possível gerar 30,2 W de potência elétrica;
 Com 36 placas de Peltier(TEC1-12706) fixados em uma área de escapamento
de 0,06m² é possível gerar pelo menos 756 W de potência elétrica;
 Como para um motor de 150cm³ é necessário 505,6 W para alimentar uma
célula de hidrogênio, gerando com melhor eficiência de queima 18% de redução de
consumo, somente a potência gerada pelas placas de Peltier ultrapassa em 50% a
potência necessária para alimentação da célula;
 24 placas de Peltier são suficientes para gerar 505W de potência, que é a
economia máxima(18%) para um motor de 150cm³;
• A presença do termopar tem o efeito de aleta para o tubo de escape, esse
aumento é da ordem de 6m² numa área inicial de (0,02m²) (Aumento de 300 vezes).
Essa eficiência de troca no tubo que sai do motor faz com que a velocidade e a
pressão dos gases exauridos diminuam, exigindo um projeto mais simples de
silencioso com perda de carga menor, portanto com economia de combustível.
Assim, fica visível que a energia térmica antes perdida em sua totalidade para
o ambiente pode ser aproveitada para geração de energia elétrica e economia de
combustível fóssil. Pode-se concluir que existe um aproveitamento palpável da
energia térmica perdida na transformação de combustível.

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6.PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS

Recomenda-se para um trabalho posterior a utilização de termopares de tipo


E, que são mais sensíveis e consequentemente geram uma maior tensão com a
temperatura disponível na superfície do tubo. A utilização de uma placa de Peltier que
possua uma maior potência para a diferença de temperatura aplicada irá resultar
numa quantidade maior de energia gerada pelo conjunto.
Caso essas melhorias sejam aplicadas e o rendimento seja aumentado, é
imprescindível o uso de um dispositivo de armazenamento da energia gerada que não
é aproveitada no momento, para que não haja desperdícios. Por fim, recomenda-se a
pesquisa por dispositivos termoelétricos que tenham um rendimento maior que os
termopares para a temperatura do tubo de escape (na saída do motor, onde as
temperaturas são mais elevadas), para que a energia térmica seja ainda melhor
aproveitada.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Energy, 2005. 240 p.

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1999

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1985.

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que utilizam como combustivel álcool e gasolina (ciclo otto), Universidade
Católica de Brasília, 2008.

FERNANDES, A.E.S.S. Conversão de Energia com Células de Peltier. 119p


Universidade Nova de Lisboa, 2012.

LINDLER, Keith W. Use of Multi-Stage Cascades to Improve Performance of


Thermoelectric Heat Pumps. Mgmt, v.39, n 10, 1998.

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CAMPOS, D.N.; OLIVEIRA, T.C. Controlador de Temperatura Microprocessado


Utilizando Célula Peltier. 84p, Universidade Gama Filho, 2011

44
OLIVEIRA, A.R.P., LEISMANN I.A. COOLER PELTIER MICROCONTROLADO.
2007. Disponível em http://www.ppgia.pucpr.br/~santin/ee/2007/1s/3/ Acesso em 8
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processos de refrigeração. Universidade de Brasília, 2007.

GONÇALVES, L. Microssistema termoelétrico baseado em teluretos de bismuto


e antimônio. Universidade do Minho, 2008

MORAN, M. J.; SHAPIRO, H. N. – Princípios de Termodinâmica para a


Engenharia, Ed. LTC. 2002.

USBERCO, J.; SALVADOR, E. Química Geral. 12ª.ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

ALMEIDA, A. T. Hidrogênio como Combustível. Faculdade de Ciências e


Tecnologia da Universidade de Coimbra, 2005.

SENRA, F.O.; LIMA, K.A.M.; ABREU, R.A. Estudo da aplicação de hidrogênio e


gasolina em motor ciclo Otto. 42p. Universidade São Francisco, 2014.

WOLLMANN, F.L. Estudo da utilização de gás hidrogênio em veículos


automotores. 74p. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul, 2013

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ANEXO I

Datasheet da placa de Peltier modelo TEC1-12706

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