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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ANA PAULA CRISTINA DOS SANTOS OJEA

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO, PRODUÇÃO DE BIOGÁS E GERAÇÃO DE


ENERGIA DE UM SISTEMA DE BIODIGESTÃO ANAERÓBIA A PARTIR DA
CODIGESTÃO DE LODO DE ETE COM RESÍDUOS ORGÂNICOS

CURITIBA
2023
ANA PAULA CRISTINA DOS SANTOS OJEA

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO, PRODUÇÃO DE BIOGÁS E GERAÇÃO DE


ENERGIA DE UM SISTEMA DE BIODIGESTÃO ANAERÓBIA A PARTIR DA
CODIGESTÃO DE LODO DE ETE COM RESÍDUOS ORGÂNICOS

Qualificação apresentada ao Programa de


Pós - Graduação em Engenharia de
Recursos Hídricos e Ambiental, área de
concentração em Engenharia Ambiental,
Departamento de Hidráulica e
Saneamento, Setor de Tecnologia,
Universidade Federal do Paraná, como
requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Engenharia.
Orientador: Prof. Dr. Miguel Mansur Aisse
Coorientador: Dr. Orlando A. Duarte
Hernandez

CURITIBA
2023
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Grupos microbianos e rotas metabólicas da digestão anaeróbia. .............. 20


Figura 2. Formatos típicos de reatores anaeróbios ................................................... 27
Figura 3. Tipos de mistura utilizados em digestores anaeróbios ............................... 28
Figura 4. Composição típica de biogás em reatores anaeróbios tratando esgoto
sanitário e digestores de lodo.................................................................................... 33
Figura 5. Relação entre o poder calorífico do biogás e o volume percentual de
metano que o compõe ............................................................................................... 34
Figura 6. Típico balanço de massa de um digestor anaeróbio de lodo. .................... 38
Figura 7. Medidor de vazão de gases ....................................................................... 39
Figura 8. Analisador de gases ................................................................................... 40
Figura 9. Fluxograma do processo de tratamento original da ETE ........................... 45
Figura 10. Vista de Satélite – ETE e Usina de Biodigestão ....................................... 46
Figura 11. Fluxograma de processo - Estação de Tratamento de Esgoto – ETE
Belém ........................................................................................................................ 48
Figura 12. Fluxograma simplificado Usina de Biodigestão. ....................................... 50
Figura 13. Gráfico de peso dos Sólidos Voláteis - Afluentes aos Biodigestores
Anaeróbios ................................................................................................................ 55
Figura 14. Medidor de biogás Vortex - Höntzsch (UVA-Ex-d -40-E-10) .................... 59
Figura 15. Medidor da composição do biogás - Sewerin (Multitec 560). ................... 59
Figura 16. Cronograma de trabalho - Mestrado Ana Paula ....................................... 66
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos de algumas


cidades brasileiras..................................................................................................... 14
Tabela 2. Caracterização físico-química da fração putrescível dos resíduos de cinco
cidades brasileiras..................................................................................................... 14
Tabela 3. Caracterização físico-química dos resíduos de frutas e hortaliças (RFH) . 15
Tabela 4. Composição típica do lodo de esgoto........................................................ 16
Tabela 5. Composição química típica do lodo de esgoto bruto e digerido ................ 16
Tabela 6. Teores de nutrientes e de substâncias inorgânicas de lodo gerado em
diferentes sistemas de tratamento de esgoto brasileiros .......................................... 17
Tabela 7. Classes do lodo de esgoto ........................................................................ 18
Tabela 8. Substâncias inorgânicas e respectivas concentrações inibidoras do
processo anaeróbio ................................................................................................... 23
Tabela 9. Classificação dos digestores anaeróbios .................................................. 24
Tabela 10. Digestão Anaeróbia: taxa de aplicação a ser empregada em projetos.... 25
Tabela 11. Resultados dos processos de digestão em um e dois estágios .............. 26
Tabela 12. Caracterização físico-química RFH ......................................................... 30
Tabela 13. Principais resultados dos estudos da codigestão de diferentes misturas
binárias e ternárias. ................................................................................................... 31
Tabela 14. Composição aproximada do gás produzido por digestão anaeróbia de
lodo. .......................................................................................................................... 37
Tabela 15. Comparação entre tecnologias de conversão. ........................................ 43
Tabela 16. Dados de base para o dimensionamento original da ETE ....................... 44
Tabela 17. Dados de base para o dimensionamento da ETE atual .......................... 46
Tabela 18. Tabela a ser preenchida com os dados selecionados para análise do lodo
de ETE afluente a usina de biodigestão .................................................................... 51
Tabela 19. Tabela a ser preenchida com os dados selecionados para análise dos
resíduos afluentes a usina de biodigestão ................................................................ 52
Tabela 20. Sólidos Voláteis - Afluentes aos Biodigestores Anaeróbios .................... 55
Tabela 21. Quadro de resultados do sistema de digestão a ser preenchido ............. 58
Tabela 22. Quadro de resultados de produção e composição do biogás a ser
preenchido................................................................................................................. 60
Tabela 23. Quadro de indicadores de produção de energia a partir do biogás ......... 61
Tabela 24. Resultados obtidos para taxas de aplicação e tempo de detenção
hidráulica dos digestores ........................................................................................... 62
Tabela 25. Resultados obtidos para os indicadores de produção de biogás e gás
metano ...................................................................................................................... 63
LISTA DE SIGLAS, SIMBOLOS E ABREVIATURAS

ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental


ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais
AME Atividade metanogênica específica
CEASA Central de Abastecimento do Paraná S. A.
C/N Relação Carbono Nitrogênio
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
COT Carbono orgânico total
COV Carga orgânica volumétrica
CT Carboidratos Totais
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DQO Demanda Química de Oxigênio
ETE Estação de Tratamento de Esgoto
LP Lipídio
NKT Nitrogênio Kjeldahl total
PCS Poder calorífico superior
PEM Produção específica de metano
pH Potencial hidrogeniônico
PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos
PT Proteína
Q Vazão
RA Resíduo Alimentar
RFH Resíduos de frutas e hortaliças
RSU Resíduos sólidos urbanos
ST Sólidos Totais
STV/SV Sólidos Totais Voláteis
SSV Sólidos Suspensos Voláteis
TDH Tempo de detenção hidráulica
UASB Upflow anaerobic sludge blanket (sigla em inglês)
Sumário
1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 9
2. OBJETIVOS ................................................................................................. 12
2.1. OBJETIVO GERAL ....................................................................................... 12
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................ 12
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 13
3.1. RESÍDUOS SÓLIDOS .................................................................................. 13
3.2. LODO DE ESGOTO ..................................................................................... 15
3.3. DIGESTÃO ANAERÓBIA ............................................................................. 18
3.3.1. MICROBIOLOGIA DA DIGESTÃO ANAERÓBIA ......................................... 18
3.3.2. BIOQUÍMICA DA DIGESTÃO ANAERÓBIA ................................................. 21
3.3.2.1. PH................................................................................................................. 22
3.3.2.2. ALCALINIDADE ............................................................................................ 22
3.3.2.3. NUTRIENTES E RELAÇÃO CARBONO/NITROGÊNIO ............................... 22
3.3.2.4. COMPOSTOS TÓXICOS E AGENTES INIBIDORES .................................. 23
3.3.3. CARACTERÍSTICAS DOS DIGESTORES ANAERÓBIOS .......................... 24
3.3.4. TIPOS DE DIGESTORES ............................................................................ 24
3.3.5. CODIGESTÃO DE LODO COM OUTROS RESÍDUOS ............................... 28
3.4. BIOGÁS ........................................................................................................ 32
3.4.1. CARACTERÍSTICAS DO BIOGÁS ............................................................... 33
3.4.2. PRODUÇÃO DO BIOGÁS ............................................................................ 35
3.4.3. INSTRUMENTAÇÃO .................................................................................... 38
3.4.3.1. MEDIDOR DE VAZÃO DO BIOGÁS............................................................. 38
3.4.3.2. MEDIDOR DE QUALIDADE DO BIOGÁS .................................................... 40
3.4.4. ARMAZENAMENTO E TRATAMENTO DO BIOGÁS ................................... 40
3.4.5. USO DO BIOGÁS COMO FONTE DE ENERGIA......................................... 42
4. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................ 44
4.1. ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO ............................................... 44
4.1.1. FLUXOGRAMA DE PROCESSO DE TRATAMENTO ATUAL DA ETE ....... 47
4.2. USINA DE BIODIGESTÃO COMBINADA DE LODO COM RESÍDUOS
ORGÂNICOS ............................................................................................................ 48
4.2.1. FLUXOGRAMA DE PROCESSO DA USINA DE BIODIGESTÃO ................ 49
4.3. MÉTODOS ................................................................................................... 50
4.3.1. ANÁLISE DO LODO E RESÍDUOS ORGÂNICOS AFLUENTES AOS
BIODIGESTORES ANAERÓBIOS ............................................................................ 50
4.3.1.1. ANÁLISE QUALI-QUANTITATIVA DO LODO .............................................. 51
4.3.1.2. ANÁLISE QUALI-QUANTITATIVA DOS RESÍDUOS ORGÂNICOS
AFLUENTES AOS BIODIGESTORES ANAERÓBIOS ............................................. 52
4.3.2. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOS BIODIGESTORES ANAERÓBIOS . 53
4.3.2.1. LEVANTAMENTO DOS DADOS QUALIQUANTITATIVOS ......................... 53
4.3.2.2. AVALIAÇÃO PRELIMINAR DO SISTEMA DE BIODIGESTÃO .................... 54
4.3.2.3. PROCESSAMENTO DOS DADOS PRELIMINARES ................................... 54
4.3.2.4. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOS BIODIGESTORES ANAERÓBIOS . 57
4.3.3. AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO E QUALIDADE DO BIOGÁS GERADO NO
PROCESSO DE CODIGESTÃO. .............................................................................. 58
4.3.4. AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ENERGIA A PARTIR DO BIOGÁS ........ 60
4.3.5. ELABORAÇÃO DE UM MODELO SUGESTIVO DE ROTINA DE
OPERAÇÃO DO SISTEMA DE BIODIGESTÃO ....................................................... 61
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 62
5.1. RESULTADOS PRELIMINARES RELATIVOS À AVALIAÇÃO PRELIMINAR
DO SISTEMA ............................................................................................................ 62
6. CRONOGRAMA DE TRABALHO ................................................................. 65
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ............................................................. 67
ANEXOS E APÊNDICES .......................................................................................... 74
1. INTRODUÇÃO

A percepção da humanidade para a problemática ambiental vem ganhando


destaque nas últimas décadas, um reflexo disto foram as reuniões e conferências
realizadas entre nações para a definição de diretrizes e regras que possibilitem o
desenvolvimento sustentável. Um destes eventos foi a Conferência das Nações
Unidas, em Estocolmo, a partir da qual foi difundida a imprescindibilidade de adotar
medidas que priorizam a qualidade do crescimento, e que admitam o ambiente como
base essencial (IBGE, 2005).
No Brasil, em 2002, foi publicada a Agenda 21 Brasileira, fundamentada no
documento Agenda 21, elaborado a partir da conferência UNCED (United Nations
Conference on Environmente and Development), realizada no Rio de Janeiro em
1992. Dentre os objetivos estabelecidos neste documento, estão o saneamento e a
produção de fontes de energia renováveis (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE,
2002).
O Plano Nacional de Saneamento Básico – Plansab de 2019, com projeção de
20 anos, evidencia a matriz tecnológica, diretriz do planejamento e política setorial,
como princípios básicos da política de saneamento (PLANSAB, 2019).
Neste contexto, o manejo, gerenciamento e disposição final dos resíduos
sólidos, tanto provenientes do tratamento de esgoto sanitário, quanto industriais e
urbanos, são desafios a serem superados para atendimento das diretrizes do
desenvolvimento sustentável.
O volume de lodo gerado no processo de tratamento de esgotos pode variar de
acordo com o tipo de tratamento. A determinação do processo de tratamento, de uma
estação de tratamento de esgotos (ETE), acontece em função da eficiência necessária
para a remoção de carga orgânica, nutrientes e patógenos. Normalmente os
processos aeróbios são escolhidos quando há a necessidade de maior de eficiência
na remoção de carga orgânica e nutrientes. Em contrapartida, nos processos
aeróbios, em especial o de lodos ativados, ocorre maior geração de lodo, se
comparados aos processos anaeróbios.
Quando não ocorre a fermentação do lodo, na fase líquida do tratamento
biológico, o lodo efluente deste tratamento, devido a sua alta concentração de

9
microorganismos patogênicos, atração de vetores e odor, precisa ser estabilizado
para a disposição final acontecer de forma segura e não causar impactos ao meio
ambiente, ou à saúde da população (JORDÃO E PESSÔA, 2014).
A digestão anaeróbia é um processo de estabilização biológica que ocorre por
meio da oxidação biológica do conteúdo volátil, no qual, microorganismos convertem
compostos orgânicos complexos, de elevado peso molecular, em produtos mais
simples, são eles matéria orgânica estabilizada, metano e gás carbônico (CAMPOS
et al.,1999).
Dentre as vantagens da digestão anaeróbia, estão a redução do volume dos
resíduos, a estabilização dos resíduos sólidos afluentes, o abatimento de
microorganismos patogênicos, e a possibilidade da utilização do subproduto sólido no
solo, para fins agrícolas ou recuperação de solos degradados (JORDÃO E PESSÔA,
2014). Também, o gás metano, componente do biogás, subproduto da digestão
anaeróbia, possui poder calorífico, o que possibilita a geração de energia a partir do
biogás. O metano tem o poder calorífico inferior de 35,9 MJ. Nm-3 e o do Biogás é de
21,5 MJ. Nm-3, aproximadamente 67% do poder calorífico inferior do gás natural
(SILVEIRA et al.,2015). De acordo com Andreoli et al. (2014), a produção de biogás é
estimada em 0,8 m³/kg de sólidos voláteis destruídos, e na composição típica do
biogás o percentual de metano está na faixa de 60 a 70%.
A codigestão de resíduos sólidos orgânicos para produção de biogás apresenta
vantagens em relação a digestão de um único substrato, como melhor rendimento do
biogás (SUKSONG et al., 2017). Com isto, a codigestão anaeróbia do lodo,
proveniente de estações de tratamento de esgoto, juntamente com resíduos
orgânicos, tem se apresentado como uma opção promissora para a estabilização do
lodo, o gerenciamento dos resíduos orgânicos, e fonte alternativa e renovável para
produção de energia. Diversos trabalhos abordam a digestão anaeróbia de resíduos
sólidos orgânicos, tais como lodo de esgotos, resíduos vegetais (Miki, 2017; Edwiges,
2017; Xu; Gong; Dai, 2020), estabelecendo relações entre concentração de sólidos,
fração volátil, composição química dos resíduos afluente aos digestores, eficiência da
digestão, produção, medição e composição do biogás.
O sistema de codigestão anaeróbia integrante da Usina, objeto do estudo, tem
como premissa o tratamento sustentável e ambientalmente correto de resíduos
orgânicos provenientes, tanto de estação de tratamento de esgotos, na forma de lodo

10
sanitário, quanto de geradores comerciais e industriais na forma de resíduas
orgânicos sólidos ou líquidos. A Usina e a ETE estão localizadas em Curitiba, com isto
surgiu a oportunidade do trabalho conjunto, constituindo a busca da integração
Empresa – Escola. O início de operação se deu no ano 2019 e a o empreendimento
tem por finalidade a geração de energia a partir do biogás, através da conversão da
energia química para energia mecânica, pelo processo de combustão, ativando um
gerador para produzir energia elétrica.

11
2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Avaliar o desempenho, produção de biogás e geração de energia de um


sistema de digestão anaeróbia a partir da codigestão de lodo proveniente de estação
de tratamento de esgoto com resíduos orgânicos.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

A. Analisar quali-quantitativamente o lodo e os resíduos orgânicos afluentes aos


biodigestores;
B. Avaliar o desempenho dos biodigestores anaeróbios;
C. Avaliar a produção e qualidade do biogás gerado no processo de codigestão;
D. Avaliar a produção de energia, a partir do biogás gerado no processo de
codigestão.
E. Elaborar, a partir deste estudo combinado com o estudo de outros sistemas
similares, um modelo sugestivo para rotina de operação dos biodigestores.

12
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. RESÍDUOS SÓLIDOS

De acordo com a norma técnica brasileira – ABNT NBR 10.004/2004, resíduos


sólidos são definidos como:
resíduos nos estados sólidos e semissólidos, que resultam de atividades de
origem industrial, doméstica, hospitalar comercial, agrícola e de serviços de
varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de
tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de
controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades
tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água,
ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face a
melhor tecnologia disponível (ABNT,2004).
Ainda, em 2010 foi aprovada a Lei 12.305/2010 da Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), na qual foi ampliada a definição descrita na norma técnica
ABNT 10.004/2004:
XVI – resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado
resultante de atividades humanas em sociedade, cuja destinação final se
procede, se propõe proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como
gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável
o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam
para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor
tecnologia disponível (BRASIL,2010).
Em 2022 a geração de resíduos no Brasil, segundo a Abrelpe (2022), foi de
aproximadamente 81,8 milhões de toneladas, correspondendo a 224 mil toneladas
por dia. A cobertura de RSU foi de 93%, destes 61% encaminhado diretamente a
aterros sanitários, com aproximadamente 46,4 milhões de toneladas encaminhados
para destinação ambientalmente adequada e 29,7 milhões de toneladas
encaminhados para destinação ambientalmente inadequada, são estes lixões, aterros
irregulares e demais áreas sem controle ambiental (ABRELPE, 2022).
A fração biodegradável do RSU, de aproximadamente 50%, é denominada
resíduo orgânico. A matéria orgânica putrescível (parcela orgânica do resíduo) está
compreendida em grande parte dos resíduos, sejam eles rurais, agrícolas, resíduos

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sólidos urbanos, resíduos industriais e lodos provenientes de estações de tratamento
de esgoto doméstico.
Os resíduos orgânicos apresentam um percentual de umidade superior a 50%,
leve acidez, pH próximo a 5,0, e relação C/N com variação de 20 a 30 (PROSAB,
2003).
Dados disponibilizados pelo PROSAB (2003) indicam a composição dos
resíduos sólidos urbanos de cinco cidades brasileiras diferentes, estes dados estão
dispostos na tabela 1 apresentada a seguir.

Tabela 1. Composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos de algumas cidades brasileiras
Belo Campina
Cidade/ Vitória Caxias do Sul Porto
Horizonte Grande
Componente (ES) (RS) Alegre (RS)
(MG) (PB)

Matéria orgânica
65,4% 56,8% 53,1% 58,8% 41,9%
putrescível

Papel e papelão 10,2% 13,6% 19,1% 17,3% 20,8%


Plástico 11,6% 15,5% 11,8% 6,6% 22,5%
Metais 2,6% 1,5% 2,7% 2,9% 4,1%
Vidro 2,5% 1,1% 2,7% 1,3% 2,1%
Outros 7,7% 11,5% 10,6% 13,1% 8,6%
Fonte: PROSAB, 2003
As características físico-químicas da fração orgânica putrescível presente nos
resíduos sólidos urbanos destas cinco cidades, estão apresentadas na tabela 2.

Tabela 2. Caracterização físico-química da fração putrescível dos resíduos de cinco cidades brasileiras
Belo Campina
Cidade/ Vitória Caxias do Sul Porto
Horizonte Grande
Parâmetro (ES) (RS) Alegre (RS)
(MG) (PB)
pH Ácido 4,9 5,4 5,5 4,5
Umidade (%) 60,0 80,0 53,7 70,6 89,8
ST (%) - 20 46,3 29,4 10,2
STV (%) 75 a 80 69,0 47,2 72,4 -
COT (%) - 38,3 26,2 40,2 43,0
NTK (%) - 1,3 1,2 - 2,0
DQO (%) - 26,7 - - -
C/N - 29,4 21,8 - 21,5
Fonte: PROSAB, 2003.

14
Edwiges (2017), em sua pesquisa sobre a biodigestão anaeróbia de resíduos
vegetais provenientes de central de abastecimento do paraná, realizou a
caracterização físico-química de resíduos de frutas e hortaliças, os resultados desta
caracterização estão apresentados na tabela 3.

Tabela 3. Caracterização físico-química dos resíduos de frutas e hortaliças (RFH)


Parâmetro Média
pH 4,2
Sólidos Totais - ST (%) 9,5
Sólidos Voláteis – SV (%ST) 92,0
Carbono Orgânico Total – COT (%ST) 51,1
Nitrogênio Total – NTK (%ST) 1,6
Relação carbono/nitrogênio – C/N 33,7
Proteína – PT (%SV) 15,9
Lipídio – LP (%SV) 4,5
Carboidratos totais – CT (%SV) 73,3
Celulose – CL (%SV) 17,1
Hemicelulose – HC (%SV) 9,4
Lignina – LG (%SV) 6,4
Carboidratos Não Estruturais – CNE (%SV) 46,7
Poder Calorífico Superior – PCS (MJ/kg) 16,5
Fonte: Adaptado de Edwiges, 2017

3.2. LODO DE ESGOTO

O lodo gerado na estação de tratamento de esgoto (lodo de esgoto) pode ser


definido como o resíduo semissólido, removido do fluxo líquido no tratamento dos
esgotos (ARNAIZ et al., 2006). O lodo é de predominância orgânica, com teores de
componentes inorgânicos variáreis, suas características mudam em função da origem
do esgoto tratado (doméstico, hospitalar, industrial etc.), processo de tratamento,
estabilização e condicionamento final (García-Delgado et al., 2007).
De acordo com Metcalf e Eddy (1991) o lodo de ETE é constituído, na maior
parte das etapas de tratamento, de aproximadamente 95% de água, e denominado
por convenção de fase sólida, para distinção da fase líquida do processo de
tratamento.
As ETEs tradicionais podem possuir até quatro níveis de tratamento, são eles
preliminar, primário, secundário e terciário.

15
O tratamento preliminar tem por objetivo a remoção de sólidos grosseiros,
gorduras e areia. Estes são removidos no início no início da fase líquida de tratamento,
e os resíduos separados para disposição final (não misturados com lodo).
O lodo primário, é o lodo gerado em tanque séptico e decantador primário,
composto por sólidos sedimentáveis do esgoto bruto. O lodo biológico ou secundário,
é produzido na etapa biológica do tratamento, e consiste na própria biomassa gerada
por meio do esgoto afluente. Quando o lodo primário é enviado para tratamento a
jusante junto com o lodo secundário ele é denominado de lodo misto. Há ainda, em
sistemas que incorporam a etapa físico-química no processo de tratamento,
resultando assim no lodo químico (ANDREOLI, et al. 2014).
De acordo com Ferreira (2017) a composição típica dos lodos bruto e digerido
esta apresentada na tabela 4.

Tabela 4. Composição típica do lodo de esgoto


Ácidos Sólidos
Relação Alcalinidade Sólidos
Tipo de Lodo Orgânicos Voláteis pH
C/N (mg/L) Totais (%)
(mg/L) (%)
Primário 11,6 600 500 4,8 66,2 5,5
Secundário 5,4 4.000 - 2,6 65,2 6,6
Digerido - 3.000 200 10,0 40,0 7,0
Fonte: Ferreira (2017)
Complementando a tabela acima, para Metcalf e Eddy (1991), os valores para
composição química típica do lodo de esgotos estão apresentados na tabela 5.

Tabela 5. Composição química típica do lodo de esgoto bruto e digerido


Lodos primários não Lodos primários Lodos
Constituinte tratados digeridos Ativados
Faixa Típico Faixa Típico Faixa
Sólidos Totais (% ST) 2,0 - 8,0 5,0 6,0 - 12,0 10,0 0,8 - 1,2
Sólidos Voláteis (% ST) 60 - 80 65 30 - 60 40 59 - 88
Éteres 6 - 30 - 5 - 20 18,0 -
Gorduras solúveis
e Graxas Éteres 7 - 35 - - - 5 - 12
(% ST) extraíveis
Proteínas (% ST) 20 - 30 25 15 - 20 18,0 32 -4 1

16
Nitrogênio (N) (% ST) 1,5 - 4,0 2,5 1,6 - 6,0 3,0 2,4 - 5,0
Fósforo (P2O5 ) (% ST) 0,8 - 2,8 1,6 1,5 - 4,0 2,5 2,8 - 11,0
Potássio (K2O) (% ST) 0 - 1,0 0,4 0,0 - 3,0 1,0 0,5 - 0,7
Celulose (% ST) 8,0 - 15,0 10,0 8,0 - 15,0 10,0 -
Fonte: Metcalf e Eddy (1991)

Bittencourt (2014) estudou os teores de nutrientes e substâncias inorgânicas


do lodo gerado em diferentes plantas de tratamento de esgoto brasileiras, estes teores
estão apresentados na tabela 6.

Tabela 6. Teores de nutrientes e de substâncias inorgânicas de lodo gerado em diferentes sistemas de


tratamento de esgoto brasileiros
Estação de Tratamento de Esgoto - ETE
Constituinte Unidade Franca Barueri Mangueira Belém Brasília Jundiaí Pacotuba
(SP) (SP) (PE) (PR) (DF) (SP) (ES)
Umidade % 38,5 72,3 - 22,7 86-88 68 -
pH % ST 6,1 8,7 5,7 11,6 - 5,9 5,2
C org % ST 34,1 37,4 28,6 20,3 31-33 28,9 16
N kjeldahl % ST 4,5 4,1 2,5 3,1 0,5-0,6 3,2 5646
Fósforo % ST 0,8 2,5 0,5 2,0 0,3-0,6 1,8 4128
Potássio % ST 0,2 0,1 0,2 0,2 0,02-0,06 0,2 1623
Cálcio % ST 1,9 2,5 2,2 12,6 - 1,3 -
Magnésio % ST 0,3 0,4 0,2 7,3 - 0,3 -
Manganês % ST 0,02 0,03 0,02 - - 0,07 -
Ferro % ST 1,9 3,2 1,6 - - 2,9 -
Alumínio % ST - 1,8 - - 0,2-0,4 - -
Arsênio mg kg-1 ST - - - - <0,6 0,59 <0,5
Bário mg kg-1 ST - - - - - - 156
Boro mg kg-1 ST - 9,5 - - - -
Cádmio mg kg-1 ST 2 10,9 3,1 8,5 4-6 7,21 <0,05
Chumbo mg kg-1 ST 100 206,1 350,1 43 10-11 184,4 29
Cobre mg kg-1 ST 204 879,5 59,5 120 87-104 722 98
Cromo mg kg-1 ST 102 791,1 - 40 18-21 152,7 26
Mercúrio mg kg-1 ST - - - 2,1 <4 <0,1 -
Molibdênio mg kg-1 ST - - - - <7 - 3,5
Níquel mg kg-1 ST 69 395,1 - 50 5-6 34,5 11
Selênio mg kg-1
ST - - - - <1,3 - <0,5
mg kg-1
Zinco 1279 2.827,3 937,1 549 159-169 500 409
ST
Fonte: Bittencourt (2014).
17
A resolução nº 375/2006 do CONAMA, defini que o lodo de esgoto é uma fonte
potencial de riscos à saúde pública e ao meio ambiente, contribuindo possivelmente
para a proliferação de organismos vetores de doenças, contaminação por metais
pesados, compostos orgânicos persistentes e patógenos. Nesta resolução o lodo de
esgoto está classificado de acordo com a concentração de agentes patogênicos,
conforme apresentado na tabela 7 a seguir:

Tabela 7. Classes do lodo de esgoto


Tipo de lodo Concentração de Patógenos
Coliformes Termotolerantes < 103 NMP / g de ST
Ovos viáveis de helmintos < 0,25 ovo / g de ST
A
Salmonella - ausência em 10 g de ST
Vírus < 0,25 UFP ou UFF / g de ST
Coliformes Termotolerantes < 106 NMP / g de ST
B
Ovos viáveis de helmintos < 10 ovos / g de ST
Fonte: Conama 375/2006

Segundo Metcalf e Eddy (1991) a destinação do lodo gerado nas estações de


tratamento de esgoto é um grande problema ambiental para as empresas de
saneamento, sejam elas públicas ou privadas.
A evolução nas discussões de problemáticas ambientais, envolvendo
tratamento e disposição final de resíduos, o aumento do custo da energia e a
segurança energética, estes também aplicados ao tratamento de águas residuárias,
têm evidenciado a digestão anaeróbia como uma das principais tecnologias para
tratamento de resíduos e produção de energia renovável (KHANAL et al., 2008).

3.3. DIGESTÃO ANAERÓBIA

3.3.1. MICROBIOLOGIA DA DIGESTÃO ANAERÓBIA

Os sistemas biológicos de tratamento de esgotos e águas residuárias


consistem na capacidade dos microorganismos envolvidos de transformarem os
compostos orgânicos biodegradáveis em subprodutos que podem ser removidos no
decorrer do sistema de tratamento, estes subprodutos podem se apresentar na forma
sólida (lodo biológico), gasosa (gás) e líquida (água) (Chernicharo, 1997).
Quando não ocorre a fermentação do lodo, na fase líquida do tratamento
biológico, o lodo proveniente deste tratamento, devido sua alta concentração de
18
microorganismos patogênicos, precisa ser estabilizado para a disposição final
acontecer de forma segura e não causar impactos ao meio ambiente, ou à saúde da
população. A estabilização do lodo pode ser realizada com processo químico ou
biológico.
A digestão anaeróbia de lodo é um processo de estabilização biológica por
meio de oxidação biológica do conteúdo volátil do lodo. A digestão anaeróbia
proporciona a redução de patogênicos, a eliminação da capacidade de putrefação do
lodo, e a redução da possibilidade de geração de maus odores (JORDÃO e PESSÔA,
2014).
O processo de digestão anaeróbia ocorre em quatro estágios bioquímicos,
nestes os microorganismos, na ausência de oxigênio, degradam a matéria orgânica.
Os estágios bioquímicos são hidrólise, acidogênese, acetogênese e
metanogênese, estes estão representados na figura 1 apresentada a seguir.

19
Figura 1. Grupos microbianos e rotas metabólicas da digestão anaeróbia.
Fonte: (adaptado de CHERNICHARO, 2007).
No primeiro estágio ocorre a hidrólise, conversão de compostos orgânicos
complexos (carboidratos, proteínas e lipídeos) em compostos orgânicos mais simples
(açucares, aminoácidos e ácidos graxos) a partir da digestão realizada por bactérias
hidrolíticas fermentativas.
As bactérias facultativas anaeróbias, são responsáveis pelo segundo estágio,
a acidogênese, caracterizado pela conversão de compostos orgânicos mais simples
em compostos de menor massa molecular, como ácidos orgânicos, ácidos graxos
voláteis, etanol, gás carbônico, hidrogênio e amônia.

20
O terceiro estágio, denominado acetogênese, é realizado por bactérias
sintróficas acetogênicas. Neste estágio ocorre a oxidação de compostos orgânicos
intermediários (propionato, butirato) em substrato (acetato, hidrogênio e dióxido de
carbono) próprio para os microorganismos metanogênicos.
O quarto estágio é efetuado por microorganismos metanogênicos, atualmente
classificados como Arqueas metanogênicas. Neste estágio ocorre a conversão do
acetato, 𝐻2 e 𝐶𝑂2 em metano 𝐶𝐻4 e 𝐶𝑂2.
As arqueas metanogênicas podem ser subdivididas em dois subgrupos em
função de sua fisiologia. O grupo de arqueas metanogênicas acetoclásticas realizam
a produção de 𝐶𝐻4 a partir do acetato, enquanto isto o grupo de arqueas
metanogênicas hidrogenotróficas realizam a produção de 𝐶𝐻4 a partir do 𝐻2 .
O processo de digestão anaeróbia pode compreender, ainda, a etapa de
redução de sulfetos (sulfetogênese), dependendo da presença e concentração de
sulfato na composição química do substrato. As bactérias sulforedutoras realizam o
metabolismo dissimilatório do sulfeto sob condições precisas de anaerobiose. Estas
bactérias são capazes de utilizar uma ampla gama de substratos como ácidos
orgânicos voláteis, hidrogênio, metanol, etanol, açucares, aminoácidos, e outros
compostos fenólicos.
Em relação as bactérias metanogênicas, as bactérias sulforedutoras são
agentes competidores de substrato, devido a capacidade de utilizar o acetato e o
hidrogênio em suas reações metabólicas, alterando assim as rotas metabólicas
anteriormente apresentadas (CHERNICHARO, 2007).

3.3.2. BIOQUÍMICA DA DIGESTÃO ANAERÓBIA

Muitos fatores podem influenciar o desempenho do processo de digestão


anaeróbia e na qualidade do biogás gerado, destaca-se por relevância a composição
do substrato, o tamanho das partículas, pH, alcalinidade, temperatura e a presença
de compostos tóxicos e/ou agentes inibidores e nutrientes (DEUBLEIN;
STEINHAUSER, 2008; ZHANG et al., 2014).
A caracterização bioquímica do substrato deve ser realizada antes de iniciar
o processo de digestão anaeróbia, uma vez que o processo é afetado diretamente
pelo tipo e pela complexidade dos resíduos que serão digeridos (ZHAO et al., 2010;
RAPOSO et al., 2012).

21
3.3.2.1. PH

O pH influencia a atividade metabólica dos microorganismos, em especial os


que compõe a metanogênese, assim o controle do pH é fundamental para produção
do metano (MAO et al., 2015).
Faixas de pH ideais que possibilitam um melhor desempenho do processo de
digestão anaeróbia, valores entre 6,8 e 7,2 foram apresentadas por Ward et al (2008),
enquanto Lee et al. (2009) e Kim et al. (2003) indicam que a fase metanogênica tem
melhor desempenho com pH entre 6,5 e 8,2, enquanto as fases de hidrólise e
acidogênese com pH entre 5,5 e 6,5.
A presença de ácidos orgânicos e CO2 na composição, podem acarretar a
queda do pH, em contrapartida os cátions gerados no processo, como o sódio obtido
a partir da degradação de sabões, e os íons cátion amônio aumentam a alcalinidade
e o pH do meio (DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008; MAO et al., 2015).

3.3.2.2. ALCALINIDADE

Resultado da presença de compostos como carbonatos, bicarbonatos e


hidróxidos, a alcalinidade promove um efeito tampão no reator, impedindo mudanças
súbitas de pH que ocorrem pelo acúmulo de ácidos graxos voláteis na composição.
Este efeito pode ter um melhor desempenho, quando na faixa de 2.500 mg a 5.000
mg de CaCO3 por litro (RAPOSO et al., 2012).
A alcalinidade pode ser também utilizada para verificação da estabilidade dos
digestores, no decorrer do processo de digestão anaeróbia. Segundo Chernicharo
(2007), pode ocorrer estabilidade no processo com valores de alcalinidade
intermediária por alcalinidade parcial (AI/AP) diferentes de 0,3.

3.3.2.3. NUTRIENTES E RELAÇÃO CARBONO/NITROGÊNIO

Nutrientes como carbono, nitrogênio e fósforo são fundamentais para o


desenvolvimento de macro e microorganismos anaeróbios. Também os minerais,
obtidos pela hidrólise de carboidratos, lipídios e proteínas, como o enxofre, ferro,
potássio e magnésio influenciam diretamente no processo anaeróbio e produção do
biogás (PARK, 2012).
No processo digestivo ocorre a assimilação do nitrogênio amoniacal (NH4+) e
o ortofosfato (HPO4-) pelos microorganismos. Neste processo os macronutrientes
22
nitrogênio e fósforo são requeridos em grandes quantidades pelas bactérias e arqueas
metanogênicas, por isto são caracterizados como elementos limitantes (GERARDI,
2003).
Faixas ideais para a relação C/N para o processo de digestão anaeróbia são
defendidas por diversos autores. Para Khalid et al. (2011) e Puyuelo et al. (2011) a
relação C/N deve estar compreendida entre os valores 20 a 35. Entretanto, para Mao
et al. (2015) e Zhang et al. (2014) a relação C/N deve estar compreendida entre os
valores 20 a 30. Hartman et al. (2005) adverte que o excesso de nitrogênio pode
ocasionar maior concentração de NH3, e possivelmente causar a inibição do
desenvolvimento das arqueas metanogênicas.

3.3.2.4. COMPOSTOS TÓXICOS E AGENTES INIBIDORES

Dependendo da concentração na solução a ser digerida, o composto pode se


tornar tóxico ou agente inibidor aos processos anaeróbios, principalmente os
processos que envolvem microorganismos metanogênicos (McCARTY, 1964). Estão
apresentados na tabela 8 a seguir, algumas substâncias e as respectivas
concentrações inibidoras / prejudiciais ao processo anaeróbio.

Tabela 8. Substâncias inorgânicas e respectivas concentrações inibidoras do processo anaeróbio


Concentração moderadamente Concentração fortemente
Substância
inibidora (mg L-1) inibidora (mg L-1)
𝑁𝑎 + 3.500 a 5.500 8.000
+
𝐾 2.500 a 4.500 12.000
𝐶𝑎+ 2.500 a 4.500 8.000
2+
𝑀𝑔 1.000 a 1.500 3.000
𝑁 − 𝑁𝐻3 1.500 – 3.000 3.000
2−
𝑆𝑢𝑙𝑓𝑒𝑡𝑜, 𝑆 200 200
0,5 (solúvel)
𝐶𝑜𝑏𝑟𝑒, 𝐶𝑢 -
50 a 70 (total)
3,0 (solúvel)
𝐶𝑟𝑜𝑚𝑜 ℎ𝑒𝑥𝑎𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒, 𝐶𝑟 (𝑉𝐼) -
200 a 250 (total)
2,0 (solúvel)
𝐶𝑟𝑜𝑚𝑜 𝑡𝑟𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒, 𝐶𝑟 (𝐼𝐼𝐼) -
180 a 420 (total)
𝑁í𝑞𝑢𝑒𝑙, 𝑁𝑖 - 30,0 (total)
𝑍𝑖𝑛𝑐𝑜, 𝑍𝑛 - 1,0 (solúvel)
Fonte: Parkin e Owen (1986)

23
3.3.3. CARACTERÍSTICAS DOS DIGESTORES ANAERÓBIOS

Os digestores anaeróbios são construídos com a finalidade de executar as


operações de estabilização de lodo, retenção e encaminhamento do biogás produzido
no processo digestivo, remoção de sobrenadantes (material resultante da liquefação),
redução do volume de matéria orgânica, remoção do subproduto do material digerido
para unidades subsequentes (JORDÃO e PESSÔA, 2014).
Os principais fatores que influenciam o processo de digestão anaeróbia são
temperatura, pH, alcalinidade, tempo de detenção hidráulica (TDH), carga orgânica
volumétrica (COV), sólidos voláteis totais, e nutrientes (NGUYEN, 2014).
De acordo com a norma NBR 12.209 de 2011, são faixas de temperatura de
processamento da digestão anaeróbia de 30 a 35ºC e 50 a 57ºC. A temperatura do
processo está diretamente relacionada a eficiência da digestão, com isto temperaturas
inferiores as faixas apresentadas ocorrem em menor eficiência da digestão.
A eficiência de projeto admitida em digestores anaeróbios, com temperatura
controlada de 30º a 35ºC, é de até 50% na remoção de sólidos solúveis voláteis (SSV).
Nos casos em que não ocorre o controle da temperatura, a eficiência admitida está na
faixa de 30 a 40% (ABNT, NBR 12.209/2011).

3.3.4. TIPOS DE DIGESTORES

Composto por uma estrutura física (tanques ou câmaras), na qual ocorre a


degradação da matéria orgânica, o biodigestor ou digestor é usualmente construído
em concreto armado, ou estrutura metálica, e pode ser classificado de acordo com as
características físicas e operacionais apresentados na tabela 9 a seguir.
Tabela 9. Classificação dos digestores anaeróbios
Classificação
Em função da temperatura de digestão Com aquecimento e sem aquecimento
Em função das cargas do teor de sólidos
Baixa carga e alta carga
voláteis aplicados
Em função da homogeneização do material a Com recirculação, com agitadores, com
ser digerido recirculação de gás
Em função dos estágios Simples estágio e múltiplo estágio
Em função da forma Cilíndricos, prismáticos, de seção retangular, ovais
Sem cobertura, com cobertura, cobertura fixa,
Em função da cobertura
cobertura móvel
Fonte: Adaptado de JORDÃO e PESSÔA, 2014.
24
A concentração de sólidos no digestor anaeróbio está relacionada ao resíduo
total presente no substrato, seja este de procedência inorgânica ou orgânica. O
processo de bioconversão do substrato realizado na digestão anaeróbia é realizado
somente na fração orgânica, assim, a taxa de bioconversão é proporcional a
concentração de sólidos totais voláteis no substrato (LEITE e POVINELLI, 1999).
Segundo a norma NBR 12.209 de 2011, os digestores anaeróbios, em função
do teor de sólidos, classificam-se em:
• Baixo teor de sólidos (baixa taxa) convencional, não homogeneizado, com taxa
de aplicação de SSV sobre o digestor igual ou inferior a 0,5 kg/m³. d;
• Baixo teor de sólidos (baixa taxa), convencional, homogeneizado, com taxa de
aplicação de SSV sobre o digestor entre 0,5 kg/m³. d e 1,2 kg/m³. d;
• Alto teor de sólidos (alta taxa), quando processado com taxa de aplicação de
SSV sobre o digestor entre 1,2 kg/m³. d e 4,8 kg/m³. d.
Ainda, conforme preconizado na norma regulamentadora, os digestores
anaeróbios com taxa de aplicação igual ou superior a 0,5 kg/m³. d, devem dispor de
dispositivos de homogeneização como misturadores internos, sistema de
homogeneização por gás ou bombas de recirculação interna.
Na tabela 10 está apresentado um resumo dos tipos de digestores, taxas de
aplicação, e tempo de detenção hidráulica característicos.

Tabela 10. Digestão Anaeróbia: taxa de aplicação a ser empregada em projetos


Tipo de Taxa de Aplicação Tempo de Comentário
Digestor (kg SSV/m3.d) detenção (dias)
Convencional não ≤ 0,5 ≥ 45 ------
homogeneizada
Convencional entre 0,5 e 1,2 ≥ 30 Homogeneizado
homogeneizada 1 W/m3 (*)
≥ 22 Homogeneizado
≥ 5 W/m3 (*)
Alta taxa entre 1,2 e 4,8 ≥ 18 Homogeneizado
≥ 5 W/m3(*);
Aquecido
Fonte: ABNT (2011)

25
O processo de digestão pode ser conduzido em um, dois ou mais estágios,
sendo o usualmente aplicado digestores anaeróbios de simples estágio (um estágio).
Em digestores de um estágio, todas as fases de digestão anaeróbia acontecem
simultaneamente em um mesmo digestor.
Nos digestores projetados para dois ou mais estágios as reações metabólicas
de hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese ocorrem em digestores
separados. Podem ser alcançados, nestes sistemas, níveis mais elevados de
degradação para menores tempos de detenção, otimizando assim, as etapas do
processo. Entretanto, os sistemas multi estágios demandam maior investimento
econômico e apresentam maior complexidade de manutenção e controle.
Em específico, nos sistemas de dois estágios, as etapas de hidrólise e
acidogênese acontecem separadas da metanogênese, apresentando assim, melhor
desempenho na etapa da metanogênese em relação ao sistema de simples estágio,
nos sistemas de um único estágio. (RODRIGUES, 2005).
Blank e Hoffmann (2011), realizaram o estudo de dois processos de digestão
anaeróbica, o primeiro compreendendo 2 estágios, e o segundo compreendendo
apenas 1 único estágio. Os resultados obtidos no processo estão apresentação na
tabela 11.

Tabela 11. Resultados dos processos de digestão em um e dois estágios


Digestão em 2
estágios Digestão em 1 estágio
Parâmetro 1ºestágio 2ºestágio
(hidrólise)
TDH (Dias) 0,96 14,3 20
Carga [kgDM (m³*dia)-1] 36,2 2,23 1,88
Carga[kgDQOtot(m³*dia) 68,6 4,83 3,5
[L Biogás (kg oDMred.) 970,6 - 899,9
[L Biogás (kg DQOred.) 503.6 - 425,8
[L Biogás (kg DQOtot, in) 293,3 - 260,0
Teor de metano (%) 65,0 - 57,0
DM (%) 50,0 - 55,0
*DM: Dry matter (DM) and organic dry matter (oDM)
Fonte: Blank e Hoffmann (2011).

26
Em digestores com aquecimento, o aquecimento pode ser realizado
internamente, por circulação de água em trocador de calor. A temperatura deve ser
monitorada para que a água não ultrapasse 54,4ºC, na qual podem ocorrer
incrustações do conteúdo digestor (BENICASA et al., 1991).
O formato dos digestores anaeróbios e sua configuração de operação, são
determinados em função da disponibilidade de área, a necessidade de manutenção
do regime de mistura, remoção de areia e escuma. Os formatos típicos mais aplicados
na construção dos digestores são o cilíndrico e ovalado, conforme apresentado na
figura 2 (ANDREOLI, et al. 2014).

Figura 2. Formatos típicos de reatores anaeróbios


Fonte: Andreoli, et al. 2014).

De acordo com Jordão e Pessoa (2014), a fim de promover uma boa


homogeneização no interior do digestor, indica-se a instalação de um sistema de
mistura, dentre as modalidades apresentadas a seguir:
a) Injeção de gases pressurizados: A partir do biogás gerado no próprio digestor,
coleta-se o gás na cúpula do digestor, com um compressor este gás é
comprimido, e encaminhado ao fundo do digestor, para injeção por meio de
difusores. As bolhas de gás percorrem o interior do digestor, do fundo em

27
direção ao topo, movimento que promove a mistura do lodo e a quebra da
camada de escuma superior.
b) Recirculação de lodo: Bombas, colocadas externamente ao digestor, realizam
a sucção do lodo no fundo do digestor, direcionando-o para o topo, promovendo
com este movimento de massa a mistura do lodo.
c) Agitador Mecânico: Instalado no topo do digestor, de baixa rotação, pode ser
combinado com outro sistema de mistura.

Figura 3. Tipos de mistura utilizados em digestores anaeróbios


Fonte: Andreoli, et al. (2014).

3.3.5. CODIGESTÃO DE LODO COM OUTROS RESÍDUOS

A utilização de um ou mais substrato na digestão anaeróbia, denominada de


codigestão anaeróbia, tornou-se uma alternativa para melhorar o rendimento do
processo de digestão anaeróbia (MATA-ALVAREZ et al, 2002).
O substrato complementar ao lodo pode prover nutrientes importantes ao
processo de digestão, eventualmente não presentes na composição do lodo, o que
potencialmente pode melhorar o processo de digestão e melhorar a produção do
biogás (FERREIRA, 2017).
Mata Alvarez et al. (2014) classifica o lodo de esgoto como o segundo principal
substrato utilizado para finalidade de digestão anaeróbia, sendo a mais relatada a
digestão combinada de lodo com a fração orgânica dos resíduos sólidos. Entretanto
na última década houve o aumento significativo dos estudos publicados sobre a
codigestão do lodo combinado com outros substratos como gorduras, óleos e graxas,
glicerol e algas, resíduos provenientes de matadouros, frutas e resíduos vegetais.

28
Ferreira (2017) indicou em seu estudo que a digestão anaeróbia do lodo,
quando combinada com cossubstratos orgânicos de alta concentração, como resíduos
alimentares, glicerol bruto (indústria do biodiesel) e resíduos agrícola, a digestão da
matéria orgânica e produção do biogás podem ser otimizadas, sem desencadear a
desestabilização do digestor.

a) Codigestão de lodo com resíduos alimentares


Muitos estudos foram realizados sobre a codigestão de lodo com resíduo
alimentar (RA), especialmente nos casos em que os substratos indicados são
produzidos em grande escala, na sequência estarão apresentados alguns destes
estudos.
Em um reator anaeróbio batelada de 160 mL, com temperatura de 35°C, Kim
et al (2003) estudou a codigestão de lodo combinada com resíduo alimentar em
diversas proporções (20, 50 e 80% de STV). O estudo foi realizado com tempo de
detenção de 18 dias, sendo o melhor resultado encontrado a partir da proporção de
50% de RA em relação ao lodo. A produção específica de metano obtida (PEM), no
melhor resultado foi de 215 mL CH4/g STV aplicado, e no biogás, a composição do
metano, relativa a melhor condição estudada foi de 72%.
A codigestão de lodo com resíduo alimentar também foi estudada por Heo et
al. (2003), que realizou o processo em um reator anaeróbio semi-contínuo de 3,5 L, a
35°C e tempo de detenção de 20 dias, com as proporções de 10 e 50% de RA. Os
valores obtidos para a fração de metano componente do biogás produzido, foram de
85% para 10% de RA e 63% para 50% de RA.

b) Codigestão de lodo com resíduos vegetais


Edwiges (2017) realizou o estudo da codigestão de lodo com resíduos de
frutas e hortaliças (RFH) coletados na Central de Abastecimento do Paraná S. A. –
CEASA – Unidade Foz do Iguaçu. Inicialmente foi realizada a caracterização dos
resíduos de RFH, e na sequência o processo de biodigestão anaeróbia. O sistema de
biodigestão, objeto do estudo, era composto por reatores de vidro de 250 mL,
compreendendo vários níveis de aclimatação e tempo de detenção, testados no
regime de batelada.

29
Os resultados obtidos na caracterização físico-química dos resíduos RFH,
para os parâmetros sólidos totais (ST), sólidos voláteis (SV), Carbono orgânico total
(COT), nitrogênio total (NTK), relação carbono nitrogênio (C/N), proteína (PT), lipídio
(LP), carboidratos totais (CT) e poder calorífico superior (PCS), estão apresentados
na tabela 12 a seguir:

Tabela 12. Caracterização físico-química RFH


Parâmetros de Análise
Parâmetro pH ST SV COT NTK C/N PT LP CT PCS
Unidade N.A. % %ST %ST %ST N.A. %SV %SV %SV MJ kg-1
Mínimo 3,9 7,2 89,9 49,9 1,2 22,3 9,6 1 58,5 14,8
Máximo 4,5 13,8 93,4 51,9 2 43,2 20,3 22,3 85,7 21,2
Média 4,2 9,5 92 51,1 1,6 33,7 15,9 4,5 73,3 16,5
Fonte: Adaptado de EDWIGES, 2017.
Os resultados médios obtidos nos ensaios de biodigestão para potencial
metanogênico específico (PME) e teor de metano foram respectivamente 377 [I.C.
95%] ¹ LN kg SV-¹ e 68%.

c) Codigestão de lodo com misturas binárias e terciárias


A codigestão do lodo com diferentes misturas binárias e ternárias têm sido
mencionada em diversos trabalhos. A combinação do lodo de esgoto com
cossubstratos orgânicos altamente concentrados, como resíduos alimentares,
resíduos da agricultura e pecuária, e glicerol bruto da indústria de biodiesel, têm
potencial para otimizar a remoção da matéria orgânica e a produção de biogás sem
danificar a estabilidade do reator (FERREIRA, 2017).
A tabela 13 apresentada a seguir apresenta alguns estudos sobrea codigestão
de lodo com misturas binárias e ternárias.

30
Tabela 13. Principais resultados dos estudos da codigestão de diferentes misturas binárias e
ternárias.
Remoção
Tipo de Produção de CH4 /
Referência Substrato de STV /
reator Biogás
DQO
Esterco suíno 35% CSTR
Abalde-Rodriguez et al. 640 mL CH4/g
+ resíduo de abate (TDH 21-33 --
(2016) STVaplicados
47% + glicerol 18% d)
Esterco
Batelada 432 mL
Amon et al. (2006) suíno+silagem de --
(TDH 45 d) CH4/gSTVaplicados
milho+glicerol
37%Resíduos de
Andriamanohiarisoamanana carne com osso Batelada 480 mL CH4/g
--
et al. (2017) +50% esterco suíno (35°C) STVaplicados
+ 13%glicerol
Batelada
Esterco suíno 80% STV: 78; 215 mL CH4/g
Astals et al. (2011) (35°C, TDH
+ glicerol 20% DQO: 62 DQOaplicada
30 d)
CSTR
Esterco suíno 96%
Astals et al. (2012) (TDH 20 d, STV: 62,3 5,44 L metano/d
+ glicerol 4%
36°C)
ILR contínuo
Esterco bovino 94% 590 mL CH4/g
Castrillón et al. (2013) (TDH 18 d, DQO: 88
+ glicerol 6% DOQremovida
55°C)
Lodo de esgoto CSTR
Grosser et al. (2017) 40% + gordura 30% (TDH 20 d, -- 13 L biogás/dia
+ FORSU 30% 37°C)
Batelada
Lodo + lixiviado de 176 mL CH4/g
Kim e Kang (2015) (TDH 40 d, --
RA + microalgas STVaplicados
35°C)
Esterco bovino 70% Batelada 268 mL CH4/g
Lehtomäki et al. (2007) STV: 43
+ silagem 30% (TDH 30 d) STVaplicados
UASB
Água residuária de
Ma et al. (2008) (TDH 20 h, DQO: 85 --
batata + glicerol
33 °C)
CSTR
Lodo 95% +
Maragkaki et al. (2016) (TDH 24 d, STV: 40% 185 L biogás/d
Glicerol Bruto 5%
35 °C)
Esterco bovino 70%
CSTR 603 mL CH4/g
Marañón et al. (2012) + RA 20% + lodo STV: 54
(36 °C) STVaplicados
esgoto 10%
50%Casca de
Batelada 385 mL CH4/g
Martín et al. (2013) laranja + --
(TDH 30 d) STVaplicados
50%glicerol
Esterco suíno 84%
CSTR
+ resíduo de peixe
Regueiro et al. (2012) (TDH 20 d, DQO: 78,5 0,55 L/L.d
5% + glicerol 11%
35 °C)
(m/m)
Esterco bovino 90% CSTR 825,7 mL biogás/g
Robra et al. (2010) --
+ glicerol 10% (37 °C) STVaplicados
Resíduo de
Batelada 121 mL CH4/g
Serrano et al. (2013) morango + resíduo STV: 87
(37 °C) STVaplicados
de peixe
Resíduos laticínios Batelada
234,7 mL CH4/g
Wang et al. (2012) + esterco de frango (TDH 30 d, STV: 62,3
STVaplicados
+ palha de milho 35 °C)
Fonte: Adaptado de FERREIRA, 2017.
31
3.4. BIOGÁS

O biogás é um gás inodoro e incolor, quando queimado apresenta chama azul,


semelhante ao GLP.
Produto da decomposição anaeróbia da matéria orgânica, o biogás é
composto predominantemente por metano (𝐶𝐻4 ) na faixa de 65 a 70%, e gás
carbônico (𝐶𝑂2) na faixa de 25 a 30%. O biogás foi descoberto por Shirley, em 1667,
e um século depois Alessandro Volta constatou a presença de metano em sua
composição. No século XIX, Ulysse Gayon, discente de Pasteur, realizou a
fermentação anaeróbia, com a mistura a 35ºC de estrume e água quente, obtendo
100 litros de gás por m³ de matéria. Pasteur, ao apresentar os trabalhos de seu aluno
à Academia das Ciências, observou que esta fermentação poderia constituir uma fonte
de energia para aquecimento e iluminação, em função da presença de metano,
componente de maior relevância no gás natural, de elevado poder calorífico
(CETESB, 2020).
O químico Sir Humphry Davy apontou a possibilidade de obtenção de metano
a proveniente da digestão anaeróbica de esterco bovino, e após 50 anos, foi iniciada
em Bombaim – Índia a operação da primeira planta de digestão anaeróbica
(HENRIQUES, 2004).
A Índia e a China foram os primeiros países a utilizar o processo de
biodigestão, nas décadas de 50 e 60, desenvolvendo modelos próprios de
biodigestores. No Brasil, a tecnologia de digestão anaeróbia chegou na década de 70,
devido à crise do petróleo (COELHO et al., 2001).
Em decorrência da crise do petróleo, muitos países buscaram alternativas
para sua substituição, proporcionando um impulso de outras fontes de energia, e na
recuperação da energia oriunda de processos de tratamento anaeróbios. Contudo, o
impulso recebido não substituiu os da utilização de energia de recursos não
renováveis, pois as soluções para as questões de desenvolvimento devem ser
adequadas às necessidades, recursos financeiros e humanos e cultura
(FIGUEIREDO, 2011).

32
3.4.1. CARACTERÍSTICAS DO BIOGÁS

O gás gerado nos digestores anaeróbios é obtido a partir da produção


aproximada de 15 a 20 l/hab.d, para lodo primário, e de 25 a 30 l/hab.d para lodo misto
(primário + secundário). A produção de gás no digestor (recebendo lodo misto) é da
ordem de 0,8 a 1,1 m³ por kg de SD destruídos, pode variar de acordo com as
características em que se processa a digestão, principalmente a temperatura
(JORDÃO e PESSÔA, 2014).
A figura 4 a seguir apresenta a composição típica do biogás, abrangendo
todos os gases componentes.

Figura 4. Composição típica de biogás em reatores anaeróbios tratando esgoto sanitário e digestores
de lodo
Fonte: SILVEIRA, 2015
33
O teor inferior de dióxido de carbono no biogás, preconiza sua maior parte
mantem-se no efluente como íons de carbonato (AGRAWAL, et al., 1997).
Pode acontecer o caso de o biogás conter siloxanos, produtos provenientes
da degradação anaeróbia de materiais frequentemente encontrados em cosméticos e
produtos de higiene. No processo de combustão do biogás é possível de ocorrer
depósitos compreendendo sílica, silicatos, cálcio, enxofre, zinco e fósforo. Estes
acarretam incrustações com vários milímetros de espessura, que devem ser
removidas com meios físicos, químicos ou mecânicos (CHERNICHARO, et al., 2008)
A quantidade de metano que compõe o biogás é um fator determinando do
seu potencial calorífico. O metano tem o poder calorífico inferior de 35,9 MJ. Nm-3 e
o do Biogás com 60% de metano é de 21,5 MJ. Nm-3, 67% do poder calorífico inferior
do gás natural (SILVEIRA, B.; et al.,2015)
A existência de substâncias não combustíveis no biogás, como gás carbônico
e água, dificulta a processo de queima, diminuindo sua eficiência energética, devido
ao fato de que estas substâncias absorvem parte da energia gerada. Desta forma,
conforme a maior concentração destas impurezas, menor o poder calorífico do biogás
(PECORA, 2006). Na figura 5 abaixo está representada em um gráfico a relação entre
o poder calorífico do biogás e a composição em volume percentual de metano neste
biogás.

Figura 5. Relação entre o poder calorífico do biogás e o volume percentual de metano que o compõe
Fonte: ALVES, 2000

Os principais fatores sobre gases, para finalidade de geração de energia, são


seu poder calorífico e umidade própria. As caraterísticas do biogás, bem como os
demais gases puros, dependem de temperatura, pressão e teor de umidade. O biogás
bruto tem poder calorífico próximo a 6 [kWh/m] ³, correspondendo a meio litro de óleo
diesel (aproximadamente), e o gás purificado a 9 [kWh/m]³ (COELHO et al., 2001).

34
3.4.2. PRODUÇÃO DO BIOGÁS

As principais unidades de produção de biogás nas estações de tratamento de


esgoto são os reatores anaeróbios e os digestores anaeróbios de lodo, a abordagem
da produção do biogás em cada uma destas unidades está apresentada a seguir.
a) Produção do biogás em reatores anaeróbios
O tratamento de esgotos pode acontecer de forma anaeróbia (ausência de
oxigênio), este acontece pelo uso reatores anaeróbicos de fluxo ascendente, também
conhecido pela sigla em inglês UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket), e para o
tratamento da matéria sólida, os digestores de lodo.
Os reatores UASB são determinados, muitas vezes, em plantas de
tratamento de esgotos, devido a possibilitar menor área de implantação, menor
geração de lodo, e a produção do biogás. Contudo, devido ao limite de sua eficiência,
típica quanto a remoção de matéria orgânica (DQO), de 60% a 70%, normalmente
necessita de um tratamento posterior, como um filtro biológico, para atendimento as
legislações vigentes (BARROS,2016).
Os reatores UASB destacam-se entre os sistemas de tratamento anaeróbio
de esgotos. A característica hidrodinâmica dos reatores do tipo UASB possibilita a
retenção de biomassa, oportunizando um elevado tempo de retenção celular, com
baixo tempo de detenção hidráulica (entre 6 e 10 horas). Um aspecto característico
dos reatores UASB é que o biogás por ele produzido possui alta concentração de
metano, variando entre 60 e 85% v/v (SILVEIRA, B.; et al.,2015).
No Brasil há uma grande aceitação da tecnologia anaeróbia para o tratamento
de esgotos. Segundo Chernicharo em uma amostra de 74 milhões de pessoas, 23
milhões são servidas por reatores UASBs em 637 ETES (2016), o que evidencia a
capacidade instalada desta tecnologia no país.
Em reatores UASB, o potencial de produção em ETEs, que servem
aproximadamente 100.000 habitantes, pode ultrapassar o valor de 350 MWh/dia de
energia elétrica, o que representa cerca de 10% da demanda do setor, justificando a
elaboração de estudos de viabilidade para o aproveitamento do Biogás (WORKSHOP
INTERNACIONAL, 2016).
O esgoto entra no reator UASB, iniciando o fluxo ascendente pelo leito de
lodo, lugar em que ocorre a digestão anaeróbia, impulsionado pelo contato e mistura

35
do substrato, o esgoto sanitário com carga orgânica em contato com a biomassa
(lodo).
No estágio da manta de lodo o efeito de floculação da biomassa favorece a
sedimentação e possibilita sua permanência no reator com elevado tempo de retenção
celular, para estabilização da biomassa formada.
Os produtos da degradação anaeróbia da matéria orgânica são: efluente
tratado, biogás, e biomassa gerada. No interior do reator a maior parte da biomassa
é retida devido a adesão nos flocos (pallets) e sedimentação. O restante da biomassa
pode seguir com o efluente, em conjunto com as bolhas de gás, até a seção superior
do UASB, local onde está situado o separador trifásico.
O compartimento de decantação encontra-se no entorno e acima do
separador trifásico, neste local a biomassa de maior peso é extraída do efluente
líquido e retomada ao compartimento de digestão. Na interface líquido-gás são
encontradas as bolhas que sobem da fase líquida, esta interface está locada no
interior do separador trifásico, neste local as bolhas se desprendem formando a fase
gasosa, o biogás.
O fluxo de saída do gás acontece por meio de tubulações, que conduzem o
biogás a um tratamento / aproveitamento (SILVEIRA, 2015).
Segundo Possetti el al. (2013) a produção do biogás nos reatores anaeróbios
segue um comportamento temporal variável, periódico e não-estacionário, o qual
depende criticamente das variações na vazão, e da concentração do esgoto no
decorrer do dia.
b) Produção do biogás em digestores anaeróbios de lodo
Posterior ao processo de tratamento da fase líquida, deve-se iniciar o
processo de tratamento da fase sólida, o tratamento do lodo. Este é realizado com o
objetivo de possibilitar o manuseio e destino do lodo. O processo de tratamento
bioquímico do lodo, assim como na fase líquida, também pode acontecer em função
da presença de oxigênio, por digestão anaeróbia ou digestão aeróbia.
A digestão anaeróbia, como tratamento do lodo proveniente do processo
líquido, resulta na estabilização da matéria orgânica, e substâncias instáveis
compreendidas no lodo fresco, a redução do volume de lodo, a partir dos fenômenos
de liquefação, adensamento e gaseificação, e com a remoção dos microorganismos

36
patogênicos, a possibilidade do uso e reaproveitamento do lodo para finalidades
agrícolas ou recuperação de solos degradados (JORDÃO e PESSÔA, 2014).
O processo de estabilização, realizado na digestão anaeróbia, oportuniza o
aproveitamento da energia bioquímica, convertida em biogás (SILVEIRA, 2015).
O gás produzido na digestão anaeróbia, é realizado a partir da produção
aproximada de 15 a 20 l/hab.d (lodo primário), e de 25 a 30 l/hab.d para lodo misto
(primário + secundário), referente ao lodo misto, a produção de gás é da ordem de 0,8
a 1,1 m³ por kg de SV removido, conforme a característica e configuração do digestor,
e principalmente e temperatura em que ocorre o processo (JORDÃO e PESSÔA,
2014).
A tabela 14, apresenta a composição aproximada característica do biogás
produzido no digestor:

Tabela 14. Composição aproximada do gás produzido por digestão anaeróbia de lodo.
Metano (CH4) 65 a 70 %

Gás Carbônico (CO2) 25 a 30%

Monóxido de Carbono (CO) 2 a 4%


Fonte: JORDÃO e PESSÔA, 2014.

O biogás, gerado no processo de digestão anaeróbia, é composto por metano


(CH4), dióxido de carbono (CO2), vapor d’água, amônia (NH3), sulfeto de hidrogênio
(H2S), e, em menores concentrações, outros compostos (BORTH, 2021). Devido a
presença de gás metano, o biogás é considerado uma fonte renovável de energia. O
potencial de geração de biogás, e correspondente teor de metano componente deste
biogás, está diretamente ligado a composição macromolecular dos substratos
afluentes ao processo de digestão (FONOLL et al. 2015).
A capacidade calorífica do lodo tem uma variação de 11 a 23 MJ/kgST,
conforme a concentração de sólidos voláteis. O lodo digerido tem a capacidade
calorífica menor com variação de 6 a 14 MJ/kgST, em conformidade com a menor
concentração de sólidos voláteis (SILVEIRA, 2015).
A figura 6 a seguir demonstra o balanço típico de massa e energia de um
digestor anaeróbio de lodo.

37
Figura 6. Típico balanço de massa de um digestor anaeróbio de lodo.
Fonte: Silveira, 2015.
Para o correto dimensionamento das plantas de aproveitamento de biogás, é
importante obter os volumes diários de produção deste biogás.
A fração de matéria orgânica biologicamente degradável e as demais
substâncias que compõe o esgoto (efluentes industriais, taxa de infiltração), interferem
na formação do lodo a ser digerido. Outros fatores são vazão do afluente, carga de
matéria orgânica, dimensões e distribuição em um ou mais reatores, sendo as
variáveis preponderantes volume e distribuição. É possível, muitas vezes, obter
resultados melhores a partir de reatores maiores (SILVEIRA, 2015).

3.4.3. INSTRUMENTAÇÃO

3.4.3.1. MEDIDOR DE VAZÃO DO BIOGÁS

De acordo com Hernandez (2021) o medidor de vazão é o elemento que


quantifica a taxa de transferência de um fluido, determinando com exatidão o volume
que percorre a tubulação em determinado período. A vazão do biogás é definida pela
quantidade de biogás produzido a partir da decomposição da carga orgânica no
digestor anaeróbio que passa pela seção de um conduto por unidade de tempo.
A vazão de biogás pode ser medida a partir de um transmissor de dispersão
diferencial. A pressão diferencial é caracterizada pela diferença de magnitude entre o
valor medido e uma pressão de referência. Um dos métodos mais utilizados para
obtenção da medida de um valor de pressão diferencial acontece por meio de um

38
obstáculo posicionado no conduto pelo qual passará o fluido (ex. tubo Pitot, bocal,
placa de orifício, tubo Venturi). O Fluxo volumétrico médio é proporcional a frequência
de vórtices formados na região na qual está posicionado o obstáculo.
Os medidores de vazão, de forma geral, são compostos por dois elementos,
um elemento denominado primário, que está associado a própria tubulação, fator que
interfere no escoamento e promove a diferença de pressão, e um elemento
denominado secundário, o qual tem a função de medir a pressão diferencial.
O princípio dos medidores de vazão do tipo vórtice é a detecção, a partir de
sensores, das ondas formadas pelos vórtices, e a emissão de um sinal de frequência
correspondente a vazão.
Outro modelo utilizado para medir a vazão é o medidor de vazão por dispersão
térmica, que consiste em um conjunto de transmissor e sonda com sensores de
temperatura. A medida da temperatura é realizada por um dos medidores, enquanto
o outro é aquecido a uma temperatura superior à que foi medida. A velocidade do gás
é correspondente a quantidade de corrente elétrica (energia) necessária para manter
o sensor quente a uma temperatura constante, assim a partir da medida da energia
pode-se obter a velocidade do gás (Hernandez, 2021).

Figura 7. Medidor de vazão de gases


Fonte: Vika Controls, 2023

39
3.4.3.2. MEDIDOR DE QUALIDADE DO BIOGÁS

A composição do biogás pode ser medida a partir de um analisador de gases.


A medida do gás metano (CH4) e do gás carbônico (CO2) ocorre por meio de sondas
infravermelhas seletivas (0–100%) v/ve CO2 (0–100%) v/v respectivamente, enquanto
a medida do gás oxigênio (O2) e gás sulfídrico (H2S) acontece por meio de sondas
eletroquímicas (0–25%) v/ve e (0– 5.000) ppm na mesma ordem (Hernandez, 2021).

Figura 8. Analisador de gases


Fonte: Engezer, 2023

3.4.4. ARMAZENAMENTO E TRATAMENTO DO BIOGÁS

Para a finalidade do aproveitamento energético, o armazenamento,


tratamento e monitoramento do biogás são fundamentais. O gasômetro deve
corresponder a forma de aplicação do biogás, e antecedente a sua instalação deve
ser previsto o uso e aproveitamento deste biogás, sendo possível sua instalação, em
relação ao fluxo principal, em linha reta ou paralelo, o mais indicado, segundo
pesquisas, é a instalação em linha reta.
Deve ocorrer, na instalação do gasômetro, a execução de uma tubulação by-
pass no fluxo principal, possibilitando o envio do biogás para o queimador durante
períodos de manutenções.
No gasômetro deve ser indicado e monitorado o nível de enchimento do
biogás, e ativado com alarme quando o nível de volume máximo for excedido, ou
reduzido de forma relevante, abaixo do volume residual determinado (SILVEIRA,
2015).
40
O armazenamento do biogás pode acontecer em diferentes sistemas, são
eles:
• Baixa pressão (1,5 kPa a 5 kPa) – Para esta condição, recomenda-se o uso de
gasômetros infláveis;
• Alta pressão (0,1 MPa a 1 MPa) - Estes tanques possuem volume invariável e
condicionam o biogás na forma comprimida. A utilização do armazenamento
em alta pressão é viável apenas em plantas de grande porte;
Não pressurizado (0 kPa a 0,1 kPa) – Recomendado para plantas de pequeno
porte, em que não há a geração de um volume considerável de biogás (SILVEIRA,
2015).

O biogás gerado nas unidades de tratamento de esgoto compreende em sua


composição, além seus componentes principais, o metano e dióxido de carbono, uma
variedade de contaminantes como vapor d’água, amônia, sulfeto de hidrogênio,
siloxanos, compostos sulfurados e compostos orgânicos voláteis.
Para o aproveitamento energético do biogás se faz necessário a projeção de
tecnologias de tratamento, a fim de atingir a pureza essencial para a sua utilização.
A geração de energia elétrica, a partir do biogás, poderá acontecer somente
após a remoção de contaminantes como siloxanos, umidade, e principalmente o H 2S
(SILVEIRA, 2015).
Os requisitos específicos para operação das microturbinas a gás são
temperatura, a qual não deve exceder 50°C, poder calorífico inferior e pressão
dependente do teor de metano, de forma que a potência de combustão seja constante.
Para o poder calorífico superior são admissíveis variações próximas a 10%,
compreendido na variação de 3,8 a 8,3 [kWh/NM] (DWA, 2011).
O teor de metano, do biogás a ser aproveitado nas microturbinas, deve ser na
faixa de 35 a 75%, sendo a variação de concentração máxima de 5%. O teor de
umidade (vapor d’água) presente no biogás, não pode ser superior a 1,6% do volume
de gás, e o teor de CO2 não deve ultrapassar 50% do volume, contaminantes como
poeira e partículas devem ficar restringidas a (< 10 µm, 20 ppm em peso), o teor de
óleo no máximo (2 ppm em massa), os siloxanos limitados a (5 ppb em volume), e a
concentração de hidrogênio na faixa de 1 a 2% em volume (DWA, 2011).

41
3.4.5. USO DO BIOGÁS COMO FONTE DE ENERGIA

a) Uso do Biogás como fonte de energia


A partir do processo de modificação da energia química das moléculas do
biogás para energia mecânica, por combustão controlada, o alternador do motor ou
turbina é acionado e então ocorre a conversão para a energia elétrica
A energia elétrica, gerada a partir do biogás, traz benefícios como uma
redução na geração de poluentes, utilização de combustível renovável de baixo custo,
e oportunidade de geração da energia próxima aos pontos de consumo.
Destacam-se, entre as tradicionais tecnologias para a conversão do biogás
em energia, turbinas a gás, motores de combustão interna, e caldeiras. Outras
tecnologias, consideradas promissoras, estão sendo estudadas e aperfeiçoadas
(CASTR0, 2006).
A. Turbinas a gás
As turbinas a gás apresentam dois ciclos de operação, o ciclo fechado e o
ciclo aberto. No ciclo aberto, mais comum utilizado, o fluido de trabalho é comprimido
no compressor, tendo sua pressão elevada.
O compressor, em condições ideais, opera em regime adiabático, assim o
trabalho de compressão aumenta a temperatura do ar. Na sequência, em contato com
o combustível, ao entrar na câmara de combustão, ocorre a reação e inicia-se o
processo de queima. Após a combustão, os gases expandem-se na turbina, e então
é gerada a energia mecânica, e por conseguinte o acionamento do compressor
(FIGUEIREDO,2011).
B. Microturbinas
Apresentando o princípio de funcionamento análogo ao das turbinas a gás de
circuito aberto, as microturbinas possibilitam a geração de eletricidade em pequena
escala, alta confiabilidade, projeto simples e compacto, fácil instalação e manuseio
(FIGUEIREDO, 2011)
A potência do ciclo é elevada devido a redução do consumo de combustível e
a máxima geração de potência. O ar de combustão pode ser resfriado na entrada do
compressor, obtendo-se assim melhor potência e eficiência destes ciclos, devido ao
ar apresentar menor densidade em elevadas temperaturas, assim diminuindo a massa
de ar que será fornecida à turbina (CASTRO, 2003).
C. Motores de combustão interna
42
Os motores de combustão interna funcionam de acordo com o ciclo de Otto.
O ciclo acontece na expansão e resfriamento adiabático, e o aquecimento com volume
constante. No tempo necessário para a entrada do ar, a válvula de entrada é aberta,
permitindo a mistura de combustível no cilindro, na sequência, ocorre a explosão, a
partir da vela de ignição. O pistão recebe a força da explosão e inicia o movimento
periódico, descendo e subindo, gerando a partir daí a energia mecânica (CORREA,
2003).
A tabela 15, apresentada a seguir, compreende um resumo das tecnologias
de conversão de biogás em energia.
Tabela 15. Comparação entre tecnologias de conversão.
Tecnologia de Potência Instalada Rendimento Elétrico Emissões de Nox
Conversão (ppm)
Motores a Gás 30 kW – 20 MW 30% - 40% 250 - 3000
(Ciclo Otto)
Turbinas a Gás 500 kW – 150 MW 20% - 30% 35 - 50
(Médio Porte)
Microturbina 30 kW – 100 kW 24% - 28% <9
(Pequeno Porte)
Fonte: Figueiredo, 2011.

43
4. MATERIAIS E MÉTODOS

A avaliação, de ordem quantitativa, será realizada a partir de unidades em


escala plena, atualmente em operação. São elas a estação de tratamento de esgoto,
que opera com o processo de lodos ativados convencional, e a Usina de Biodigestão,
instalada ao lado da ETE, que realiza a codigestão do lodo (proveniente da ETE), com
resíduos orgânicos.

4.1. ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO

A estação de tratamento de esgoto (ETE) que compõe este estudo, está em


funcionamento desde fevereiro de 1980, no município de Curitiba, estado do Paraná.
Esta estação foi idealizada objetivando o atendimento da bacia hidrográfica do Rio
Belém, de alta densidade populacional, cujo corpo hídrico que recebe o esgoto tratado
para diluição é o Rio Iguaçu.
O processo de tratamento do projeto original foi o de lodos ativados com
aeração prolongada. O fluxo da fase líquida, característico deste processo, composto
inicialmente por elevatória, gradeamento, desarenação, reatores biológicos aerados
(tanques de aeração), e decantadores secundários. No fluxo da fase sólida, uma
parcela do lodo sedimentado, nos decantadores, era conduzido para os tanques de
aeração (recirculação), e, a outra parcela de lodo (excesso de lodo ativado), recalcada
aos adensadores. Por fim, após o adensamento, o lodo era encaminhado ao sistema
de desaguamento, constituído por leitos de secagem (Aisse, 1985).
Os dados adotados no primeiro dimensionamento da ETE estão apresentados
na tabela 16 a seguir:
Tabela 16. Dados de base para o dimensionamento original da ETE
Descrição Ud Dado
População equivalente habitantes 500.000
Vazão média L/s 1.200
Vazão máxima L/s 2.200
Carga Orgânica per capita kg.DBO/dia 25.000
Fonte: Aisse (1985).
Na sequência está apresentado na figura 9 o fluxograma do processo original de
tratamento da ETE.

44
Figura 9. Fluxograma do processo de tratamento original da ETE
Fonte: Aisse, 1985.

45
Desde a sua implantação a ETE passou por algumas mudanças, e, no ano de
2022, migrou do processo de lodos ativados com aeração prolongada, para o de lodos
ativados convencional.
No presente, a estação atende aproximadamente 1.300.000 (um milhão e
trezentos mil) habitantes, com vazão média de tratamento de 2.520 L/s, e eficiência
superior a 90% (noventa porcento) na remoção de DBO.

Figura 10. Vista de Satélite – ETE e Usina de Biodigestão


Fonte: Google Earth Pro, 2022.

Os dados adotados no dimensionamento do processo de tratamento atual da ETE


estão apresentados a seguir na tabela 17.

Tabela 17. Dados de base para o dimensionamento da ETE atual


Descrição Ud Dado
População equivalente habitantes 1.030.910
Vazão média L/s 2.520
Vazão máxima L/s 4.530
Fonte: SANEPAR, 2022

46
4.1.1. FLUXOGRAMA DE PROCESSO DE TRATAMENTO ATUAL DA

ETE

O esgoto afluente a ETE é conduzido inicialmente a uma elevatória de esgoto


bruto, com bombas tipo parafuso, e então encaminhado ao início do processo de
tratamento.
O processo de tratamento tem início no tratamento preliminar, com
gradeamento e desarenação. O efluente do tratamento preliminar segue para o
tratamento primário constituído por decantadores primários. Após o tratamento
primário o efluente é então encaminhado ao tratamento secundário, tipo lodos
ativados convencional, composto por tanques de aeração tipo valo de oxidação, e
decantador secundário.
O lodo proveniente dos decantadores primários é encaminhado diretamente
ao tanque de equalização. O lodo oriundo dos decantadores secundários é
encaminhado para adensamento, em adensadores gravitacionais, e após adensado
ao tanque de equalização.
Após homogeneizado, parcela do lodo é encaminhada para a usina de
biodigestão, localizada ao lado da ETE, e o excedente encaminhado ao sistema de
desaguamento, composto por decanters centrífugos.
Na sequência está apresentado na figura 11 o fluxograma simplificado do
processo atual de tratamento da ETE.

47
Figura 11. Fluxograma de processo - Estação de Tratamento de Esgoto – ETE Belém
Fonte: Autor

4.2. USINA DE BIODIGESTÃO COMBINADA DE LODO COM RESÍDUOS

ORGÂNICOS

A usina de biodigestão, objeto deste estudo, está instalada ao lado da estação


de tratamento de esgoto, que também compõe este estudo. A planta foi projetada para
realizar a codigestão de lodo misto (primário e secundário) gerado na ETE ao lado
com resíduos orgânicos, provenientes da Central de Abastecimento do Paraná S.A –
CEASA., e de comércios e indústrias locais, processando resíduos orgânicos na forma
sólida, semissólida e líquida.
O fluxo de processos da usina é fechado, com todos os subprodutos
aproveitados. São subprodutos do processo de digestão o digestato, e o biogás. O
digestato final, seco, é encaminhado para aproveitamento no coprocessamento em
fábricas de cimento, e o biogás, que é aproveitado em sua máxima eficiência na
mesma planta, utilizado para geração de energia.

48
4.2.1. FLUXOGRAMA DE PROCESSO DA USINA DE BIODIGESTÃO

Parcela do lodo misto gerado na estação de tratamento de esgoto é


bombeado, por meio de duas bombas helicoidais, do tanque de equalização para o
sistema de desague, posicionado na planta da usina.
Antes do sistema de desague, está o misturador da solução de polímero, a
qual é adicionada ao lodo para maior eficiência no desague. O sistema de desague é
composto por duas mesas desaguadoras, que operam simultaneamente. O lodo vai
para as mesas desaguadoras com o teor de sólidos de aproximadamente 3%, e sai
dos equipamentos com o teor de sólidos na faixa de 7,0% a 7,5%. As mesas
desaguadoras funcionam 23,5 horas por dia, parando apenas para o intervalo de
limpeza de aproximadamente 30 minutos.
Após o desague o lodo é encaminhado ao primeiro tanque de mistura e
acidificação, no qual acontece a primeira fase da digestão anaeróbia.
Os resíduos orgânicos chegam à planta de tratamento por meio de
caminhões. Os resíduos recebidos na planta, são encaminhados, por rosca
transportadora, ao moinho de martelos, no qual acontece a sua moagem. Após a
moagem o substrato é encaminhado ao segundo tanque de mistura e acidificação.
O produto acidificado, resultante do processo de acidificação realizado nos
dois tanques de mistura e acidificação, é bombeado aos digestores anaeróbios, por
meio de bombas helicoidais. A dosagem de cada componente da mistura acontece a
partir das bombas, que realizam a dosagem das vazões dos percentuais
correspondentes ao processo, de acordo com o comando realizado pela central de
controle.
Os biodigestores, são aquecidos por serpentinas que conduzem água quente
no interior de cada biodigestor. O aquecimento da água acontece a partir do calor
produzido nos motores durante a conversão de biogás em energia elétrica.
O digestato, efluente dos biodigestores, é encaminhado ao tanque de pós
digestão, no qual acontece a separação de gás e sólidos (biogás e digestato).
O biogás gerado no processo, efluente do tanque de pós digestão, é medido
qual quantitativamente e encaminhado para o sistema de conversão de energia. Este
sistema compreende dois motores de ciclo Otto, que operam simultaneamente.

49
O digestato, efluente do tanque de pós digestão, é encaminhado ao segundo
sistema de desague, composto por prensa desaguadora. Após o segundo
desaguamento o digestato sai da prensa com um teor de sólidos de aproximadamente
20%. Após o desague o digestato é encaminhado ao sistema de secagem, composto
por secador tipo rotativo, após a secagem ele sai com o teor de sólidos na faixa de
80% a 90%.
Seco o digestato, já no caminhão, é pesado novamente em balança
rodoviária, e encaminhado para o uso em coprocessamento, realizado normalmente
em fábricas de cimento.
Todo o processo da usina é automatizado e controlado por uma central,
gerenciada pela equipe técnica de operação. A equipe acompanha o funcionamento
dos equipamentos, dados e informações pertinentes ao processo.
O fluxograma simplificado do processo da usina, está apresentado na figura
12 a seguir.

Figura 12. Fluxograma simplificado Usina de Biodigestão.


Fonte: Autor

4.3. MÉTODOS

4.3.1. ANÁLISE DO LODO E RESÍDUOS ORGÂNICOS AFLUENTES

AOS BIODIGESTORES ANAERÓBIOS

A identificação da composição dos resíduos orgânicos afluentes ao sistema


de biodigestão, análise das características e fatores inerentes da composição que

50
interferem diretamente no processo, será um dos elementos que subsidiarão a
avaliação do sistema de biodigestão e a identificação dos possíveis agentes inibidores
das etapas de digestão anaeróbia, principalmente da metanogênese, etapa da
responsável pela fração de metano no biogás.

4.3.1.1. ANÁLISE QUALI-QUANTITATIVA DO LODO

O lodo gerado na ETE é encaminhado para a usina por meio de


bombeamento, realizado por duas bombas helicoidais. Já na usina de biodigestão, no
trecho da tubulação posicionado previamente ao sistema de desague, encontram-se
instalados dois medidores de vazão do lodo, que operam de forma simultânea. A
análise de vazão do lodo afluente a usina será baseada nos dados retirados destes
dois medidores de vazão.
A caracterização de lodo, pretendida para basear a análise, será realizada a
partir dos dados de vazão (Q), sólidos totais (ST), sólidos voláteis totais (SVT), pH,
nitrogênio (N), fósforo (P), carbono (C) e enxofre (S). Na tabela 18 estão os dados que
serão preenchidos para posterior análise.

Tabela 18. Tabela a ser preenchida com os dados selecionados para análise do lodo de ETE afluente
a usina de biodigestão
Descrição Unidade Lodo Primário Lodo Secundário
Vazão (Q) m³/dia - -
Sólidos Totais (ST) kg - -
Sólidos Voláteis Totais (SVT) kg - -
pH - - -
Nitrogênio (N) mg/L - -
Fósforo (P) mg/L - -
Carbono (C) mg/L - -
Enxofre (S) mg/L - -

O levantamento dos parâmetros N, P, C e S não é realizado regularmente


pela Companhia de Saneamento, que, no entanto, realiza a análise dos sólidos do
Lodo.

51
Assim, para subsidiar a análise, serão utilizados os valores característicos
obtidos da literatura técnica.

4.3.1.2. ANÁLISE QUALI-QUANTITATIVA DOS RESÍDUOS

ORGÂNICOS AFLUENTES AOS BIODIGESTORES

ANAERÓBIOS

Na usina de biodigestão somente são recepcionados os resíduos aprovados


nos critérios de seleção realizados pela equipe técnica da usina. A equipe técnica
solicita a empresa fornecedora um relatório de caracterização do resíduo, de acordo
com o padrão estabelecida na norma ABNT NBR 10.004. A partir dos dados presentes
neste relatório ocorre o aceite ou não do resíduo na planta. Também por meio desta
base é determinada a combinação da solução a ser digerida, para maior otimização e
aproveitamento da planta.
Além da análise de caracterização, a equipe técnica da usina realiza também
a análise de recepção, na qual é considerada a capacidade e logística da estrutura
instalada.
O controle do peso dos resíduos é realizado por meio de uma balança
rodoviária que realiza a pesagem do caminhão na entrada e na saída da usina, e a
partir da diferença dos pesos obtém-se o peso de entrada.
Ainda, na entrada do caminhão acontece a retirada de amostras para a análise
dos sólidos voláteis, realizada no laboratório da usina.
A caracterização dos resíduos, pretendida para basear a análise, será
realizada a partir dos dados do peso, umidade, sólidos voláteis totais (SVT), pH,
nitrogênio (N), fósforo (P), carbono (C) e enxofre (S). Na tabela 19 estão os dados que
serão preenchidos para posterior análise.

Tabela 19. Tabela a ser preenchida com os dados selecionados para análise dos resíduos afluentes a
usina de biodigestão
Dado Unidade Resíduos Orgânicos
Peso kg -
Umidade % -
Sólidos Voláteis Totais (SVT) kg -

52
pH - -
Nitrogênio (N) mg/L -
Fósforo (P) mg/L -
Carbono (C) mg/L -
Enxofre (S) mg/L -

O levantamento dos parâmetros N, P, C e S não é realizado regularmente


pela equipe de gestão da Usina, que, no entanto, realiza a análise recorrente dos
sólidos voláteis dos resíduos.
Assim, para subsidiar a análise, serão utilizados os valores característicos
obtidos da literatura técnica.

4.3.2. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOS BIODIGESTORES

ANAERÓBIOS

A avaliação do desempenho dos biodigestores anaeróbios está dividida em


duas etapas, a primeira etapa consiste em uma avaliação simplificada preliminar,
realizada a partir dos dados registrados nos meses julho, agosto e setembro de 2022.
A segunda etapa, uma avaliação de maior detalhamento e complexidade,
realizada com os dados registrados no segundo semestre de 2023, subsidiada
também pela caracterização dos resíduos afluentes e efluentes do processo de
digestão (digestato).

4.3.2.1. LEVANTAMENTO DOS DADOS QUALIQUANTITATIVOS

O processo de levantamento dos dados de cada etapa está indicado a seguir.


a) Resíduos Orgânicos
Assim que os caminhões de resíduos chegam na usina em caminhões, eles
são pesados em balança rodoviária. Estes caminhões depositam o resíduo na usina,
e quando saem, já vazios, são pesados novamente em balança rodoviária. A diferença
do peso dos caminhões na entrada e na saída, é equivalente ao peso dos resíduos
depositados na usina.
Amostras dos resíduos de cada caminhão são coletadas, para análise de
sólidos e da fração volátil em laboratório local.

53
b) Lodo misto proveniente da ETE
O lodo de esgoto gerado na ETE vizinha, caracterizado como lodo misto, tem
sua vazão medida por medidores de vazão, posicionados na entrada da usina de
biodigestão. São registrados dados diários do volume de lodo encaminhado para a
usina de biodigestão.
c) Vazão e qualidade do biogás
O biogás produzido no processo de biodigestão, tem sua vazão medida antes
de adentrar o sistema de conversão de biogás em energia. O equipamento com função
de medir a vazão do biogás é o medidor tipo Vortex - Höntzsch (UVA-Ex-d -VA40-E-
10).
O levantamento da composição e qualidade do biogás é realizado quatro
vezes ao dia. O equipamento utilizado para o levantamento qualitativo do biogás é
medidor multigases - Sewerin (Multitec 560).

4.3.2.2. AVALIAÇÃO PRELIMINAR DO SISTEMA DE BIODIGESTÃO

A metodologia adotada na fase preliminar do projeto, foi a realização de visitas


locais, na ETE e na usina, para conhecimento da operação, dos processos e
atividades realizadas, para o desenvolvimento dos fluxogramas de processos das
unidades.
Durante as visitas locais, foram levantados os equipamentos que compõe os
processos, as atividades desenvolvidas na planta da usina, fluxo de trabalho, controle
e caracterização do lodo, dos resíduos e do biogás.
Em outubro de 2022, para a realização de uma análise preliminar, junto a
equipe de gestão da usina, foram levantados dados de processo, referentes ao
volume de lodo afluente a usina, a quantidade (peso) dos resíduos, a produção e
composição do biogás, relacionadas a operação dos meses julho, agosto e setembro
de 2022.

4.3.2.3. PROCESSAMENTO DOS DADOS PRELIMINARES

O processamento dos dados preliminares obtidos foi realizado a partir da


parametrização dos valores da relação de sólidos voláteis por sólidos totais (SV/ST)
comunicados pela equipe de gestão da usina com estudos de referência. Para os
resíduos provenientes do CEASA a fração de sólidos voláteis adotada nos cálculos foi
54
de 92%, baseado na pesquisa desenvolvida por Edwiges (2017). A fração de sólidos
voláteis adotada para os resíduos especiais foi de 80%, valor parametrizado com o
estudo desenvolvido pelo projeto PROSAB (2003). Por fim, para o lodo proveniente
da ETE a fração de sólidos voláteis adotada foi de 70%, conforme indicado por
Andreoli et al (2014).
Na tabela 20 e na figura 13 apresentadas a seguir estão os valores médios e
máximos mensais de sólidos voláteis correspondentes a cada componente orgânico
afluente a usina de biodigestão. Estes dados basearam a análise de desempenho do
processo de codigestão anaeróbia.

Tabela 20. Sólidos Voláteis - Afluentes aos Biodigestores Anaeróbios


SV afluente (Sólidos Voláteis) (kg)
Descrição / Mês jul/22 ago/22 set/22 Valor médio (jul-set)
Lodo ETE (Médio) 15.701,03 18.109,55 18.243,85 17.351,48
Lodo ETE (Máximo) 17.887,04 20.856,78 21.745,47 20.163,10
RSO (CEASA) (Médio) 1.088,34 1.587,14 3.002,79 1.892,76
RSO (CEASA) (Máximo) 5.834,70 5.859,42 9.221,52 6.971,88
ROE (Médio) 1.088,34 1.587,14 3.002,79 1.892,76
ROE (Máximo) 5.834,70 5.859,42 9.221,52 6.971,88
Fonte: Autor e Usina de Biodigestão (2022)

Figura 13. Gráfico de peso dos Sólidos Voláteis - Afluentes aos Biodigestores Anaeróbios
Fonte: Autor e Usina de Biodigestão (2022)

A metodologia adotada para análise dos dados relacionados, foi a verificação


de taxas e índices de produção correspondentes ao processo. Sobre os resultados
obtidos realizou-se uma análise comparativa, tendo como parâmetros de referência

55
os dados característicos do processo de digestão anaeróbia apresentados na ABNT
NBR 12.209 (2011), e literaturas correlatas.
O cálculo da taxa de aplicação de sólidos voláteis (Txa) foi realizado a partir
da divisão do peso médio diário de sólidos voláteis (SV) afluente ao biodigestor pelo
volume útil do digestor, de acordo com a equação 01:

𝐒𝐕 (𝐤𝐠)
𝐓𝐱𝐚 = 𝐕𝐨𝐥𝐮𝐦𝐞 𝐝𝐨𝐬 𝐃𝐢𝐠𝐞𝐬𝐭𝐨𝐫𝐞𝐬 (𝐦𝟑 ) equação (01)

O valor do tempo de detenção hidráulica (TDH) foi calculado a partir da divisão


do volume útil do digestor pela vazão (Q) da mistura, já acidificada do lodo com
resíduos orgânicos, afluente aos biodigestores, conforme a equação 02 e 03:

𝐕𝐨𝐥𝐮𝐦𝐞 𝐝𝐨𝐬 𝐃𝐢𝐠𝐞𝐬𝐭𝐨𝐫𝐞𝐬 (𝐦𝟑 )


𝐓𝐃𝐇 = equação (02)
𝐐 (𝐦𝟑 /𝐝)

Sendo, a vazão:
𝐌
𝐐 = 𝟏𝟎𝐓𝐒 equação (03)

Em que:

M= Massa de sólidos afluente


TS=Teor de sólidos

Foram calculados dois indicadores de produção de biogás e gás metano, o


primeiro indicador obtido a partir da razão dos dados diários de volume de biogás e
de metano produzidos pelo peso total de sólidos solúveis voláteis destruídos (SV), e,
o segundo indicador, obtido a partir da razão dos dados diários de volume de biogás
e de metano produzidos pelo volume útil total dos digestores. As equações 04 e 06
representam os cálculos dos indicadores de produção de biogás, e as equações 05 e
07 representam os cálculos dos indicadores de produção de gás metano.

𝐕𝐨𝐥𝐮𝐦𝐞 𝐝𝐞 𝐛𝐢𝐨𝐠á𝐬 (𝐍𝐦𝟑 .𝐝)


𝐈𝐧𝐝𝐢𝐜𝐚𝐝𝐨𝐫 𝐝𝐞 𝐩𝐫𝐨𝐝𝐮çã𝐨 𝟎𝟏. 𝐚: equação (04)
𝐒𝐕 𝐝𝐞𝐬𝐭𝐫𝐮í𝐝𝐨 (𝐤𝐠)

56
𝐕𝐨𝐥𝐮𝐦𝐞 𝐝𝐞 𝐠á𝐬 𝐦𝐞𝐭𝐚𝐧𝐨 (𝐍𝐦𝟑 .𝐝)
𝐈𝐧𝐝𝐢𝐜𝐚𝐝𝐨𝐫 𝐝𝐞 𝐩𝐫𝐨𝐝𝐮çã𝐨 𝟎𝟏. 𝐛: equação (05)
𝐒𝐕 𝐝𝐞𝐬𝐭𝐫𝐮í𝐝𝐨 (𝐤𝐠)

𝐕𝐨𝐥𝐮𝐦𝐞 𝐝𝐞 𝐛𝐢𝐨𝐠á𝐬 (𝐍𝐦𝟑 .𝐝)


𝐈𝐧𝐝𝐢𝐜𝐚𝐝𝐨𝐫 𝐝𝐞 𝐩𝐫𝐨𝐝𝐮çã𝐨 𝟎𝟐. 𝐚: equação (06)
𝐕𝐨𝐥𝐮𝐦𝐞 𝐝𝐨𝐬 𝐃𝐢𝐠𝐞𝐬𝐭𝐨𝐫𝐞𝐬 (𝐦𝟑 )

𝐕𝐨𝐥𝐮𝐦𝐞 𝐝𝐞 𝐠á𝐬 𝐦𝐞𝐭𝐚𝐧𝐨 (𝐍𝐦𝟑 .𝐝)


𝐈𝐧𝐝𝐢𝐜𝐚𝐝𝐨𝐫 𝐝𝐞 𝐩𝐫𝐨𝐝𝐮çã𝐨 𝟎𝟐. 𝐛: equação (07)
𝐕𝐨𝐥𝐮𝐦𝐞 𝐝𝐨𝐬 𝐃𝐢𝐠𝐞𝐬𝐭𝐨𝐫𝐞𝐬 (𝐦𝟑 )

4.3.2.4. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOS BIODIGESTORES

ANAERÓBIOS

A segunda etapa da avaliação do desempenho do sistema de biodigestão


acontecerá de forma simular a etapa preliminar, com outro período de coleta de dados
e será complementada pela análise dos resíduos afluentes ao sistema, assim como
pela análise do digestato.
Os biodigestores da planta recebem cada componente da mistura por meio
de bombas, que realizam a dosagem das vazões dos percentuais correspondentes ao
processo, de acordo com o comando realizado pela central de controle.
A digestão anaeróbia acontece por meio de dois biodigestores, equipados
com:
• Misturadores centrais do tipo hélice, que promovem a mistura e
homogeneização do conteúdo no interior do digestor;
• Serpentinas de aquecimento, as quais recebem a água aquecida a partir do
calor produzido nos motores, no processo de conversão do biogás em energia.
• Medidor externo de temperatura; tipo termômetro de parede, que mede a
temperatura da parede do tanque;
• Compressores para controle dos gases internos, que realizam a micro aeração
a partir da injeção de ar atmosférico;
• E, sensores de nível.
O tanque de pós digestão também é equipado com misturadores centrais e
serpentinas, de forma semelhante aos digestores.

57
Serão coletados os dados quantitativos dos componentes afluentes aos
biodigestores, assim como dados do digestato e biogás efluentes do sistema de
digestão, durante o período de aproximadamente 5 meses.
Os resultados obtidos das taxas e índices de produção correspondentes ao
processo serão parametrizados com os dados apresentados na literatura e na norma
regulamentadora ABNT NBR 12.209 (2011).
A tabela 21 (a ser preenchida) contém a descrição dos dados que subsidiarão
a análise de desempenho do sistema de biodigestão, está apresentada na sequência.

Tabela 21. Quadro de resultados do sistema de digestão a ser preenchido


Descrição Unidade Dado
ST afluente (mínimo, médio, máximo) kg/d -
SV afluente (mínimo, médio, máximo) kg/d -
Volume efetivo (por digestor) m³ -
Número de digestores und -
Volume efetivo total m³ -
Temperatura dos Digestores ºC -
Tempo de Detenção Hidráulica (TDH) real Dias -
Densidade de Potência dos Misturadores W/m² -
Taxa de aplicação (mínimo, médio, máximo) kgSVT/m³. d -
Sólidos Voláteis Totais do Digestato kg -
SV Destruídos na digestão kg/d -
Tempo de Detenção Hidráulica (TDH) calculado Dias -

4.3.3. AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO E QUALIDADE DO BIOGÁS

GERADO NO PROCESSO DE CODIGESTÃO.

O processo de controle da quantidade e qualidade do biogás acontece a partir


de equipamentos instalados na usina de biodigestão, no trecho da tubulação após
tanque de pós digestão, previamente aos motores de conversão de energia.
O equipamento com função de medir a vazão do biogás é o Medidor tipo
Vortex - Höntzsch (UVA-Ex-d -VA40-E-10). A vazão do biogás é medida
continuamento, e os registros são realizados 1 vez ao dia, na unidade em m²/d.

58
Figura 14. Medidor de biogás Vortex - Höntzsch (UVA-Ex-d -40-E-10)
Fonte: Höentzsch,2023.

O equipamento que identifica a composição do biogás é o Analisador de Biogás


Multitec® BioControl 560da Sewerin. Este sistema é composto por uma unidade fixa
e um dispositivo de medição portátil, que recebe amostras do biogás coletado no
sistema. Este analisador de biogás realiza a partir de sensores infravermelhos a
medição dos gases 𝐶𝐻4 (0% a 100%) v/v, 𝐶𝑂2 (0% a 100%) v/v, e utiliza sensores
eletroquímicos para medição dos gases 𝑂2 (0% a 25%) v/v e 𝐻2 𝑆 (0 a 5000) ppm.
O monitoramento e registro de dados da qualidade do biogás é realizado
quatro vezes ao dia.

Figura 15. Medidor da composição do biogás - Sewerin (Multitec 560).


Fonte: Sewerin, 2023.
Os valores obtidos de volume produzido e qualidade do biogás
correspondentes subsidiarão o cálculo dos indicadores de produção de biogás e gás
metano. Os resultados obtidos serão parametrizados com os dados apresentados em
literatura, permitindo assim a análise da produção e qualidade do biogás.
A tabela 22 a ser preenchida com os resultados, está apresentada na
sequência.

59
Tabela 22. Quadro de resultados de produção e composição do biogás a ser preenchido
Descrição Unidade Dado
Produção de Biogás (mínimo, médio, máximo) Nm³/d -
Produção de Gás 𝐶𝐻4 (mínimo, médio, máximo) Nm³/d -
Produção de Gás 𝐶𝑂2 (mínimo, médio, máximo) Nm³/d -
Produção de Gás 𝑂2 (mínimo, médio, máximo) Nm³/d -
Produção de Gás 𝐻2 𝑆 (mínimo, médio, máximo) Nm³/d -

Indicador de produção de biogás calculado Nm³/kgSV.d -

Indicador de produção de gás 𝐶𝐻4 calculado Nm³/kgSV.d -


Indicador de produção de gás 𝐶𝑂2 calculado Nm³/kgSV.d -
Indicador de produção de gás 𝑂2 calculado Nm³/kgSV.d -
Indicador de produção de gás 𝐻2 𝑆 calculado Nm³/kgSV.d -
Indicador de produção de biogás calculado Nm³/ m³digestor -
Indicador de produção de gás 𝐶𝐻4 calculado Nm³/ m³digestor -
Indicador de produção de gás 𝐶𝑂2 calculado Nm³/ m³digestor -
Indicador de produção de gás 𝑂2 calculado Nm³/ m³digestor -
Indicador de produção de gás 𝐻2 𝑆 calculado Nm³/ m³digestor -

4.3.4. AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ENERGIA A PARTIR DO

BIOGÁS

A planta da usina realiza a conversão do biogás em energia, a partir de


motores tipo Ciclo Otto. A energia produzida é lançada na rede de distribuição elétrica.
Os valores de produção de energia, correspondente ao período de estudo da
segunda etapa do projeto, serão levantados junto a equipe técnica de operação da
usina. Após o levantamento, os dados obtidos serão comparados a dados disponíveis
em literaturas técnicas correlatas.
A produção de energia será também parametrizada com a produção e
composição do biogás produzido no período.
Por fim, serão definidos indicadores de produção de energia elétrica do
sistema, a partir do biogás. Os indicadores pretendidos estão apresentados na tabela
23 abaixo.

60
Tabela 23. Quadro de indicadores de produção de energia a partir do biogás
Descrição Unidade Dado
Indicador de produção de energia a partir do biogás W/Nm³biogás -
Indicador de produção de energia a partir do gás 𝐶𝐻4 W/Nm³𝐶𝐻4 -

4.3.5. ELABORAÇÃO DE UM MODELO SUGESTIVO DE ROTINA DE

OPERAÇÃO DO SISTEMA DE BIODIGESTÃO

Plantas de usinas que realizam a codigestão de lodo com resíduos e


produzem energia são pouco usuais no Brasil. Portanto, com o objetivo de identificar
e sugerir uma rotina de operação otimizada para usina serão levantadas as atividades
compreendidas na rotina de operação atual da usina, objeto deste estudo, e
identificadas também as rotinas de operação de uma ou mais plantas de operação
que realizam um processo similar de digestão anaeróbia e produção de energia, para
identificação das principais atividades necessárias para operação da usina.
Em específico, serão abordados os procedimentos de caracterização e
dosagem dos resíduos afluentes ao sistema, tempo de detenção, metodologia de
operação dos digestores, e rotinas auxiliares necessárias para controle operacional.

61
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. RESULTADOS PRELIMINARES RELATIVOS À AVALIAÇÃO

PRELIMINAR DO SISTEMA

Com os dados fornecidos no período de meses de julho, agosto e setembro


de 2022, e admitindo a eficiência na destruição de sólidos voláteis de 50%, foi possível
o cálculo das taxas de aplicação, do tempo de detenção equivalente, dos indicadores
de produção do biogás e produção de metano. Os resultados obtidos nos cálculos,
estão apresentados na tabela 24 a seguir.

Tabela 24. Resultados obtidos para taxas de aplicação e tempo de detenção hidráulica dos digestores
Descrição Unidade Dado
ST afluente (mínimo) kg/d 18.462,27
ST afluente (médio) kg/d 28.175,16
ST afluente (máximo) kg/d 38.517,82
SV afluente (mínimo) kg/d 13.794,43
SV afluente (médio) kg/d 20.198,81
SV afluente (máximo) kg/d 28.139,93
Volume efetivo (por digestor) m³ 5.080,00
Número de digestores und 2
Volume efetivo total m³ 10.160,00
Temperatura dos Digestores ºC 37
Taxa de aplicação (mínimo) kgSV/m³. d 1,36
Taxa de aplicação (médio) kgSV/m³. d 1,99
Taxa de aplicação (máximo) kgSV/m³. d 2,77
SV Destruídos na digestão (Aprox. 50%) kg/d 10.099,40
Tempo de Detenção Hidráulica (TDH) real Dias 19
Tempo de Detenção Hidráulica (TDH) Dias 21
calculado
Fonte: Autor, 2022

De acordo com o apresentado na Tabela 24, as taxas resultantes


compreendem uma variação de 1,36 a 2,77 kg/m³. d, com valor médio de 1,99 kg/m³.
o que, de acordo com a ABNT NBR 12.209 (2011) caracteriza uma digestão anaeróbia

62
de alta taxa, pois se processa com taxa de aplicação de SV sobre o digestor na faixa
de 1,2 kg/m³. d e 4,8 kg/m³.d.
Atendendo também ao preconizado em norma para digestores de alta taxa,
os biodigestores deste estudo operam com misturador tipo hélice de agitação interna
O tempo de digestão praticado na rotina de operação da usina é de 19 dias,
este tempo atende o preconizado em norma, que determina para digestores
aquecidos, tempo de digestão maior ou igual (≥) a 18 dias. O tempo de digestão
equivalente calculado para o digestor foi de 21 dias, ficando muito próximo do
praticado na operação real do sistema.
Na tabela 25, a seguir, estão apresentados os resultados obtidos no cálculo
dos indicadores de produção de biogás e gás metano.

Tabela 25. Resultados obtidos para os indicadores de produção de biogás e gás metano
Descrição Unidade Dado
Produção de Biogás (mínimo) Nm³/d 1.971,00
Produção de Biogás (médio) Nm³/d 7.271,80
Produção de Biogás (máximo) Nm³/d 14.028,00
Produção de Gás 𝐶𝐻4 (mínimo) Nm³/d 1.196,08
Produção de Gás 𝑪𝑯𝟒 (médio) Nm³/d 4.312,31
Produção de Gás 𝐶𝐻4 (máximo) Nm³/d 8.346,66
Indicador 01.a de produção de biogás Nm³/kgSV.d 0,72
Indicador 01.b de produção de gás 𝑪𝑯𝟒
calculado Nm³/kgSV.d 0,43
Indicador
calculado 02.a de produção de biogás Nm³/ m³digestor 0,72
calculado 02.b de produção de gás 𝑪𝑯𝟒
Indicador Nm³/ m³digestor 0,42
Fonte: Autor, 2022
calculado

De acordo com o apresentado na tabela 25, o indicador de produção de biogás


obtido nos cálculos foi de 0,72 Nm³/kgSV.d, muito próximo da produção indicada por
Andreoli (de 0,8 Nm³/kgSV). O valor médio do percentual metano, componente do
biogás, resultante dos cálculos foi 59,30%, um pouco abaixo da faixa indicada por
Andreoli, de 60 a 70%.
Como a finalidade do sistema de biodigestão é a produção de energia a partir
do gás metano, componente do biogás, este indicador pode sinalizar a ocorrência de

63
algum componente afluente que resulta em um fator de inibição da rota metanogênica
no processo bioquímico de digestão.

64
6. CRONOGRAMA DE TRABALHO

O desenvolvimento do projeto teve início em maio de 2022, com a realização


de visitas locais nas plantas, objetos deste estudo, e a realização dos fluxogramas de
processo de operação das respectivas plantas. Em outubro de 2022 foi realizada a
coleta dos dados preliminares para realização dos cálculos e análises preliminares,
base para desenvolvimento do artigo.
Em janeiro de 2023 foi submetido o resumo do artigo para avaliação da ABES,
para o congresso 32° Congresso da ABES e feira FITABES 2023, e em 12 de abril de
2023, após aprovado, enviada a versão final.
Entre os dias 21 e 24 de maio de 2023, o trabalho foi divulgado e apresentado
no congresso.
A defesa da Qualificação 01 está prevista para 30 junho de 2023.
Após a apresentação da Qualificação 01, a sequência de trabalho pretendida
é a coleta de dados, dos meses de julho, agosto e setembro de 2023. Pretende-se
também obter os dados dos meses anteriores a julho de 2023 para análise
complementar.
A partir dos dados coletados serão realizados os cálculos das taxas e
indicadores, base para avaliação do sistema.
A defesa da dissertação está prevista para novembro de 2023.
O cronograma do programa de mestrado e de trabalho deste projeto, está
apresentado, se forma resumida, na figura 16 a seguir.

65
CRONOGRAMA DE TRABALHO 2021 2022 2023
V0
ANA PAULA CRISTINA S. OJEA 1º TRIM. 1º TRIM. 2º TRIM. 3º TRIM. 1º TRIM. 2º TRIM. 3º TRIM.
1 Disciplinas do programa 1 1 1
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0
1.1 Operações e processos de tratamento iii 1 1 1 1
1.2 Sistema de recursos hídricos 1 1 1 1
1.3 Seminários i 1 1 1 1
1.4 Química ambiental 1 1 1 1
1.5 Operações e processos de tratamento i 1 1 1 1
1.6 Operações e processos de tratamento ii 1 1 1 1
1.7 Seminários ii 1 1 1 1
1.8 Operações e processos de tratamento iv 1 1 1 1
1.9 Seminários iii 1 1 1 1
1.10 Matemática aplicada 1 1 1 1 1
2 Desenvolvimento do projeto 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0
2.1 Visitas locais 2 2 2 2
2.2 Coleta de dados (dados preliminares) 1 1 1 1
2.3 Revisão bibliográfica e metodologia 1 1 1 1 1 1 1 1
3 Artigo ABES 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0
3.1 Desenvolvimento 1 1 1 1 1
3.2 Submissão do resumo 2
3.3 Resultado 1
3.4 Envio da versão final 1
3.5 Apresentação no congresso 2
4 Defesa - qualificação 01 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0
4.1 Envio da versão para banca 1
4.2 Apresentação 2
4.3 Resultado da Quali 01, revisões 1
5 Coleta de dados e análises 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 0 0
5.1 Coleta de dados 1 1 1
5.2 Resultados 1 1
5.3 Análise e conclusões 1
6 Dissertação final 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0
6.1 Revisão geral do trabalho 1
6.2 Defesa da dissertação 2

1 1 1 Realizado
1 1 1 Futuras atividades

Figura 16. Cronograma de trabalho - Mestrado Ana Paula

66
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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73
ANEXOS E APÊNDICES

74

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