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UNIVERSIDADE FEEVALE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS CRIATIVAS E TECNOLÓGICAS

CURSO DE ENGENHARIA QUÍMICA

CELSO ANDERSON LEMES

AVALIAÇÃO DE COAGULANTES PARA REDUZIR OS EFEITOS CAUSADOS POR


SOBRECARGA HIDRÁULICA EM ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA.

Novo Hamburgo

2019
CELSO ANDERSON LEMES

AVALIAÇÃO DE COAGULANTES PARA REDUZIR OS EFEITOS CAUSADOS POR


SOBRECARGA HIDRÁULICA EM ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como


requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em
Engenharia Química pela Universidade Feevale.

Orientador: Professor Dr. Ricardo Martins de Martins

NOVO HAMBURGO

2019

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RESUMO

O presente trabalho teve como proposta central o estudo do processo de


clarificação da estação de tratamento de água do município de São Sebastião do Caí.
Para tal, foi de extrema relevância a análise do método de tratamento empregado, dos
produtos utilizados, dos boletins de controle operacional e das operações unitárias
executadas em cada etapa. A estação opera atualmente com sobrecarga hidráulica,
fato que, por vezes, compromete o rendimento do processo. Sendo assim, para
reduzir os efeitos causados pela redução nos tempos de detenção de cada bloco
hidráulico, foi avaliada a possibilidade de substituição do coagulante utilizado no
processo. Mediante testes de bancada realizados com o equipamento Jar Test, o
coagulante policloreto de alumínio se mostrou muito mais eficiente frente ao sulfato
de alumínio, reduzindo consideravelmente os tempos de clarificação, bem como as
dosagens necessárias para realizar a mesma. Desse modo, é possível inferir que a
aplicação do coagulante policloreto de alumínio elevaria a qualidade e eficiência do
tratamento de água da estação.

Palavras-chave: Clarificação; Estação de tratamento de água; Sobrecarga hidráulica;


Coagulantes; Eficiência.

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ABSTRACT

The present work had as central proposal the study of the process of clarification
of the water treatment plant of the municipality of São Sebastião do Caí. To this end,
it was extremely important to analyze the treatment method employed, the products
used, the operational control bulletins and the unit operations performed at each stage.
The station currently operates with hydraulic overload, a fact that sometimes
compromises the efficiency of the process. Thus, to reduce the effects caused by the
reduction in the holding times of each hydraulic block, the possibility of replacing the
coagulant used in the process was evaluated. By means of bench tests carried out
with the Jar Test equipment, the coagulant aluminum polychloride proved to be much
more efficient compared to aluminum sulphate, considerably reducing the clarification
times as well as the dosages required to carry out the referred clarification process.
Thus, it is possible to infer that the application of aluminum polychloride coagulant
would increase the quality and efficiency of the water treatment of the station.

Keywords: Clarification; Water treatment station; Hydraulic overload; Coagulants;


Efficiency.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Regiões hidrográficas do Brasil e distribuição da população...........13


Figura 2: Usina de dessalinização localizada na Arábia Saudita.................... 21
Figura 3: Processo simplificado de uma ETA..................................................23
Figura 4: Ressalto hidráulico .......................................................................... 24
Figura 5: Esquema simplificado do processo de coagulação/floculação ........ 26
Figura 6: Floculadores de chicanas ................................................................ 27
Figura 7: Decantador convencional ............................................................... 28
Figura 8: Filtro rápido ..................................................................................... 29
Figura 9: Classificação do processo de filtração com relação ao meio filtrante
.........................................................................................................................30
Figura 10: ETA São Sebastião do Caí / 1965 ................................................. 32
Figura 11: ETA São Sebastião do Caí / 2018 ................................................. 32
Figura 12: Esquema simplificado de floculador de chicanas horizontal .......... 33
Figura 13: Fluxo do fluído em decantador circular .......................................... 34
Figura 14: Floculador elétrico (Jar Test) ......................................................... 38
Figura 15: Filtração da água decantada. ........................................................ 40
Figura 16: Análise de alcalinidade .................................................................. 41
Figura 17: Análise de alumínio residual .......................................................... 43
Figura 18: Aqua-tester .................................................................................... 44
Figura 19: pHmetro Digimed DM-2P .............................................................. 45
Figura 20: Turbidímetro Hach 2100 Q. ........................................................... 46
Figura 21: Execução Jar Test com PAC ........................................................ 54
Figura 22: Sulfato de alumínio x PAC ............................................................ 54

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Características da água in natura - 1ª Série................................... 49


Quadro 2: Testes de clarificação Al2(SO4)3 - 1ª Série ................................... 49
Quadro 3: Testes de clarificação PAC - 1ª Série.............................................50
Quadro 4: Características da água in natura - 2ª Série ................................. 51
Quadro 5: Testes de clarificação Al2(SO4)3 - 2ª Série ................................... 51
Quadro 6: Testes de clarificação PAC - 2ª Série ........................................... 51
Quadro 7: Características da água in natura - 3ª Série................................... 52
Quadro 8: Testes de clarificação Al2(SO4)3 - 3ª Série ................................... 53
Quadro 9: Testes de clarificação PAC - 3ª Série.............................................53

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Tempos de detenção hidráulica ETA. ............................................. 56


Tabela 2: Custos Sulfato de Alumínio x PAC..................................................57

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 9
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 11
2.1. A água e a história humana ................................................................. 11
2.2. A importância da água ......................................................................... 12
2.3. Caracterização da água ....................................................................... 15
2.4. Tecnologias de tratamento ................................................................... 19
2.5. Estações de tratamento convencionais ................................................ 23
2.6. A ETA de São Sebastião do Caí .......................................................... 31
2.7. A escolha do coagulante ...................................................................... 35
3. METODOLOGIA ............................................................................................ 37
3.1. Caracterização da água bruta ............................................................. 37
3.2. Teste de clarificação (Jar Test) ............................................................ 37
3.3. Metodologias de análise ...................................................................... 39
3.4. Determinação dos tempos de detenção ............................................... 47
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................... 48
4.1. Execução dos testes de clarificação ................................................... 48
4.2. Determinação dos tempos de detenção .............................................. 55
4.3. Custos dos coagulantes ...................................................................... 56
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 58
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 59

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1. INTRODUÇÃO

A água é o recurso natural mais importante para a subsistência de todas as


espécies. Entretanto, diversos fatores como o crescimento populacional, o
desmatamento, a desenfreada evolução tecnológica aliada à falta de investimentos
na separação e tratamento dos resíduos gerados e a má gestão dos recursos naturais
têm causado impactos inestimáveis ao meio ambiente, condenando, de forma
definitiva, diversos mananciais e, em outros casos, alterando consideravelmente suas
características e todo o ecossistema envolvido. Mesmo assim, a água fornecida pelos
sistemas públicos de abastecimento deve estar em conformidade com os parâmetros
microbiológicos, físicos, químicos e radioativos estabelecidos pelos padrões de
potabilidade do Ministério da Saúde, assegurando-se assim a sua qualidade.

As águas superficiais geralmente possuem diversos contaminantes e partículas


em suspensão que, além de ocasionar um aspecto estético inaceitável, podem ainda
abrigar vírus e microrganismos patogênicos da ação do desinfetante. Dessa forma,
valores baixos de turbidez são a garantia de eficiência do sistema e sua remoção dá-
se pelo processo de coagulação/floculação, realizado nas estações de tratamento de
água.

A água bruta, ou in natura, é captada no manancial e bombeada, por meio de


adutoras, até as estações de tratamento, onde passa por uma série de etapas para
sua potabilização: primeiramente é clarificada e, após, desinfetada e fluoretada.
Comumente, a desinfecção é realizada pelo cloro, devido ao seu custo relativamente
baixo e ao fato de deixar, em solução, um residual de concentração facilmente
determinável e que, além de não ser prejudicial ao homem, protege o sistema de
distribuição de microrganismos que possam vir a se proliferar e interferir na qualidade
da água ao longo do sistema.

O município de São Sebastião do Caí possui uma estação de tratamento de


água que foi inaugurada no ano de 1965 e, até os dias de hoje, opera basicamente
com as mesmas instalações. É evidente a necessidade de uma expansão do sistema,
entretanto, os custos para a modernização ou mesmo a ampliação e reforma do
sistema são elevados. Por esta razão, o trabalho proposto teve como objetivo geral o

9
estudo do processo de clarificação da estação de tratamento de água com a finalidade
de diminuir os efeitos causados pela sobrecarga hidráulica de operação do sistema.

Para tanto, foi avaliada a eficiência entre dois coagulantes: o sulfato de


alumínio, produto utilizado atualmente pela empresa, e o policloreto de alumínio,
coagulante pré-polimerizado disponibilizado pela empresa Faxon Ltda. Dentre os
diversos coagulantes disponíveis na indústria, o policloreto de alumínio se apresenta
como um dos melhores, em razão de sua alta eficiência no processo de coagulação,
formando flocos maiores e mais densos, favorecendo a deposição do material
particulado de maneira mais rápida. Especificamente, será analisada a eficácia do
coagulante quanto à remoção de partículas em suspensão e dissolvidas nas amostras
de água bruta por meio de Jar Test e, fundamentalmente, o tempo requerido para a
clarificação, que influenciará diretamente no decorrer da proposta de estudo.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. A ÁGUA E A HISTÓRIA HUMANA

Desde os primórdios da vida no planeta Terra e da história da espécie humana,


a água sempre foi essencial. Sua história é complexa e está diretamente relacionada
ao crescimento da população humana, ao grau de urbanização e aos usos múltiplos
que afetam suas características. O aproveitamento e a conservação dos recursos
hídricos são atividades que requerem concepção, planejamento, administração,
projeto, construção e operação de meios para o controle e a utilização racional das
águas (TUNDISI & TUNDISI, 2011).

Ao longo dos séculos, a civilização humana foi dominando diferentes formas de


uso das águas: aprendeu a encontrar, armazenar, tratar e distribuir a água para seu
consumo próprio. O homem também adquiriu conhecimento acerca da construção de
poços, canais, represas, aquedutos, e uma série de obras que possibilitaram a
primeira grande revolução da humanidade, a revolução agrícola, há cerca de 10.000
anos (PINTO-COELHO, 2015)

A partir de então, as necessidades de uso da água foram aumentando


gradativamente, porém sem a consciência e preocupação em relação à sua
disponibilidade, limitada e variável dependendo da região. Entretanto, existem
registros muito antigos sobre a compreensão da associação entre a saúde e a água
de consumo humano, podendo esta ser um veículo de transmissão de doenças e
outros agravos (CAUBET, 2006).

A segunda grande revolução da humanidade também teve como protagonista


a água: a Revolução Industrial. O domínio da técnica de produzir trabalho mecânico a
partir do vapor de água mudou para sempre a vida do ser humano, possibilitando um
grande desenvolvimento das manufaturas que até então eram movidas pela força
motriz de animais e até mesmo de seres humanos. Desse modo, desenvolveram-se
grandes indústrias têxteis; as ferrovias e os transportes marítimo e fluvial também
foram enormemente impulsionados pelo aparecimento das máquinas a vapor (PINTO-
COELHO, 2015).

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Em contrapartida, o crescimento desenfreado da industrialização causou uma
rápida degradação não só das águas, mas do meio ambiente como um todo. A
industrialização, que inicialmente era concentrada na Europa e na América do Norte,
espalhou-se rapidamente para todos os continentes, levando consigo grandes
avanços tecnológicos e notável progresso para diversas nações. Porém, toda ação
gera uma reação e a perspectiva futura dos recursos hídricos é preocupante e muitos
dos problemas já relatados aparentam estar em um ponto irreversível (PINTO-
COELHO, 2015)

2.2. A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA

Entre os recursos naturais, a água é o elemento essencial para a subsistência


das espécies e para o funcionamento biológico em todos os níveis, desde o
metabolismo dos organismos vivos até o equilíbrio dos ecossistemas. Isto se aplica
também à biologia humana, já que é essencial para sua fisiologia, conforto e higiene
(BICUDO, TUNDISI, & SCHEUENSTUHL, 2010).

De acordo com Tundisi (2010), o consumo de água nas atividades humanas


varia muito entre diversas regiões e países. Os usos múltiplos da água e sua
permanente necessidade para fazer frente ao crescimento populacional e às
demandas industriais e agrícolas têm gerado permanente pressão sobre os recursos
hídricos superficiais e subterrâneos.

Uma das maiores reservas de água doce está localizada aqui no Brasil,
representando quase 13% das águas do planeta. Todavia, sua distribuição é
desproporcional em relação à densidade demográfica, além de muitos mananciais
estarem com padrões de qualidade e quantidade ameaçados. Nos grandes centros
urbanos ocorre uma redução considerável na qualidade da água, em decorrência da
elevada densidade populacional e da forte demanda pelos recursos hídricos. Na
Figura 1, tem-se a representação da disparidade entre a distribuição das bacias
hidrográficas e a distribuição da população em nosso país, destacando-se a Bacia
Hidrográfica do Amazonas, que possui 73% da reserva de água nacional e, em
contrapartida, somente 4% dos habitantes (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2018).

12
Figura 1: Regiões hidrográficas do Brasil e distribuição da população.

Fonte: Tundisi (2010).

Embora dependam da água para a sobrevivência e para o desenvolvimento


econômico, as sociedades humanas poluem e degradam esse recurso. A
industrialização, o aumento populacional dos centros urbanos, a diversificação de
usos múltiplos, o despejo de resíduos líquidos e sólidos em rios, lagos e represas e a
destruição das áreas alagadas e das matas ciliares e de galeria têm produzido
contínua e sistemática deterioração e perdas extremamente elevadas de água. Esses
processos, acrescidos de um ciclo ininterrupto de poluição, especialmente nos últimos
60 anos, tornaram a água o recurso natural mais estratégico de qualquer país do
mundo (HELLER & PÁDUA, Abastecimento de água para consumo humano, 2010).
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A água, que sempre foi considerada pelo homem como um recurso renovável
e infinito, há muitos anos já vem sendo uma preocupação mundial: cerca de 250
milhões de pessoas enfrentam escassez crônica de água e alguns analistas advertem
para a possibilidade de conflitos armados pela disputa de água, visto que, à medida
que a população cresce, a agricultura e a indústria também se expandem,
favorecendo ainda mais a sua escassez (DIAS, SILVA, & GHEYI, 2011).

No Brasil, no mês de setembro de 2018, a Agência Nacional de Águas emitiu


um alerta de que, até o mês de agosto, nove Estados já haviam ultrapassado ou
estavam no limiar do déficit hídrico, ou seja, quando a escassez de chuva começa a
comprometer a quantidade e, consequentemente, a qualidade das águas. Ademais,
alertou ainda para o nível elevado de desperdício que, em média, 37% da água se
perde entre a captação e a distribuição final. Esse desperdício equivale ao
investimento anual em saneamento no país, cerca de R$ 8 bilhões (BARRETO, 2018).

O cenário vivenciado pelos recursos hídricos é, sem sombra de dúvidas,


extremamente preocupante e vem causando sérios impactos financeiros em diversos
setores da economia. Para contornar essa situação são necessárias medidas que
visem uma melhor gestão entre a demanda e a oferta de água, com a redução de
perdas e otimização no fornecimento de água. Entretanto, é de extrema relevância a
despoluição das bacias hidrográficas aliada à conscientização ambiental, com ideias
voltadas para o reuso doméstico, industrial, na agricultura e nas demais atividades
que dependam da água (PINTO-COELHO, 2015).

O reúso de água tem enorme importância e se apresenta como uma ação


sustentável que visa a sua preservação, ainda mais tendo em vista que a escassez
deste recurso é realidade em diversos países em todo o mundo. O elevado
crescimento do grau de poluição das fontes de água elevou também os custos para o
seu tratamento, e a reutilização da água tem se mostrado uma ótima saída para
inúmeras finalidades, como geração de energia, refrigeração de equipamentos, em
diversos processos industriais, em prefeituras e entidades que usam a água para
lavagem de ruas e pátios, no setor hoteleiro, irrigação/rega de áreas verdes,
desobstrução de rede de esgotos e águas pluviais e lavagem de veículos (LEGNER,
Reúso de água e seus benefícios para a indústria e meio ambiente, 2013).

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A preservação da água potável exclusivamente para o atendimento de
necessidades que exijam a sua potabilidade tem um papel essencial para a
manutenção deste recurso, bem como a redução do volume de esgoto descartado e
a redução dos custos com água e energia elétrica. O reúso de água pode ocorrer de
forma indireta ou direta: no modo indireto, a água utilizada em alguma atividade
humana é descartada no meio ambiente e novamente utilizada em sua forma diluída;
no modo direto, os efluentes após serem tratados, são encaminhados diretamente de
seu ponto de descarga até o local onde serão reutilizados, não sendo descarregados
no meio ambiente (LEGNER, Reúso de água e seus benefícios para a indústria e meio
ambiente, 2013).

Assim sendo, o reúso da água tem se tornado cada vez mais importante para
preservar este bem, além de se mostrar como uma oportunidade de negócio.
Entretanto, o Brasil ainda não dispõe de normatização técnica específica para os
sistemas de reaproveitamento de água e, em geral, são adotados padrões referenciais
internacionais ou orientações técnicas produzidas por instituições privadas. Este é um
fator que tem dificultado a aplicação desta prática no país, pois a falta de legislação e
normatização específica dificulta o trabalho dos profissionais e pode colocar em risco
a saúde da população devido à falta de orientação técnica para a implantação dos
sistemas de reúso das águas servidas e a respectiva fiscalização de tais sistemas
(AQUINO, 2014).

2.3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁGUA

De acordo com Ferreira Filho (2017), a caracterização da água corresponde à


quantificação das impurezas de natureza física, química, biológica e radiológica
presentes na mesma. É a partir do conhecimento dessas impurezas que se pode
definir com segurança a técnica mais adequada para seu tratamento, uma vez que
águas com alto teor de contaminantes podem apresentar riscos e custos elevados
para a sua potabilização.

Contudo, faz-se necessária a distinção entre águas poluídas e águas


contaminadas. A poluição é considerada como a alteração das características físicas,
15
químicas, radiológicas ou biológicas naturais do meio ambiente e que podem causar
danos à saúde, segurança e bem-estar das populações, bem como criar condições
inadequadas para fins domésticos, agropecuários e industriais, ocasionando,
portanto, danos relevantes à fauna, à flora e a outros recursos naturais (HELLER &
PÁDUA, Abastecimento de água para consumo humano, 2010).

Por outro lado, a contaminação constitui um caso particular de poluição da água


e tem recebido uma definição mais restrita ao uso da água como alimento. Sendo
assim, considera-se contaminação qualquer elemento lançado nos corpos hídricos
que sejam diretamente nocivos ao homem, aos animais ou vegetais que consomem
esta água, independentemente do fato destes viverem ou não em ambiente aquático
(HELLER & PÁDUA, Abastecimento de água para consumo humano, 2010).

Apesar dos diversos contaminantes presentes nas águas, os serviços públicos


de abastecimento devem fornecer sempre água de boa qualidade (Richter, 2009).
Para tanto, a coagulação química é uma etapa imprescindível para o êxito de todo o
processo de tratamento e deve ser avaliada cuidadosamente, por meio de estudos
aprofundados sobre os diversos tipos de coagulantes (SANTOS, 2011).

2.3.1. Características biológicas

A presença de microrganismos nas águas destinadas ao consumo caracteriza-


se como a ameaça mais comum e disseminada para a saúde humana, podendo assim
ocasionar diversas enfermidades, que variam desde gastroenterites brandas a
doenças fatais. No entanto, determinados microrganismos, mesmo que não
patogênicos, podem causar os mais variados problemas, dentre eles a mudança no
grau de oxidação ou redução do ferro, mudanças no teor de dióxido de carbono na
água e aumento da coloração (HELLER & PÁDUA, Abastecimento de água para
consumo humano, 2010).

As características biológicas das águas são determinadas por meio de exames


bacteriológicos e hidrobiológicos. O exame hidrobiológico visa a identificar e
quantificar as espécies de organismos presentes na água. Em geral, esses

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organismos são microscópicos, sendo comumente denominados plâncton,
destacando-se os seguintes grupos: algas, protozoários, rotíferos, crustáceos, vermes
e larvas de insetos. Quando feitos regularmente, esses exames constituem elemento
auxiliar na interpretação de outras análises, principalmente no que se refere à poluição
das águas e possibilitam a adoção de medidas de controle para prevenir o
desenvolvimento de organismos indesejáveis do ponto de vista do tratamento de água
(DI BERNARDO & DANTAS, 2005).

2.3.2. Características físicas e organolépticas

Di Bernardo e Dantas (2005) afirmam que, embora as características físicas da


água tenham importância relativamente pequena do ponto de vista sanitário, elas
podem ser determinantes na escolha da tecnologia de tratamento ou condicionantes
dos processos e operações nas estações existentes. Normalmente, as características
físicas são fáceis de determinar, sendo as principais: cor, turbidez, sabor e odor,
temperatura e condutividade elétrica.

A análise de turbidez é de extrema importância para assegurar a qualidade da


água tratada, pois, além de ocasionar um aspecto visual inaceitável, microrganismos
podem proteger-se da desinfecção e estimular o crescimento microbiano no sistema
de distribuição. Neste mesmo contexto, a cor é uma medida que indica a presença na
água de substâncias dissolvidas ou finamente divididas. Assim como a turbidez, a cor
é um parâmetro estético de aceitação ou rejeição do produto (HELLER & PÁDUA,
Abastecimento de água para consumo humano, 2010).

Por outro lado, os gostos e odores são características de difícil avaliação por
serem de sensações subjetivas. Normalmente, decorrem de matéria excretada por
algumas espécies de algas e substâncias dissolvidas. Odores e sabores não devem
ser objetáveis (HELLER & PÁDUA, Abastecimento de água para consumo humano,
2010).

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2.3.3. Características químicas

As características químicas da água são de grande importância do ponto de


vista sanitário, pois determinadas substâncias podem inviabilizar o uso de certas
tecnologias de tratamento ou exigir tratamentos específicos para sua remoção. A
caracterização química da água, por meio da determinação de cloretos, oxigênio
dissolvido, nitritos e nitratos, dentre outros, permite avaliar o grau de poluição de uma
fonte de água (LIBÂNIO, 2008).

O pH é um parâmetro essencial para realizar o tratamento de águas. A etapa


inicial de coagulação necessita de uma faixa de pH que esteja entre 6,5 e 7,2, para
um melhor rendimento do processo. A faixa de pH para água tratada é estabelecida
pela legislação, devendo estar entre 6,0 e 9,5 (RICHTER, 2009).

Paralelamente, a alcalinidade é uma propriedade da água que permite a


neutralização ou a redução de suas características ácidas. Esta propriedade é devida
à presença de hidróxidos, bicarbonatos ou carbonatos. Seu controle tem grande
importância em vários problemas, tais como: processos de coagulação,
abrandamento e fenômenos de corrosão (FERREIRA FILHO, 2017).

O íon alumínio ocorre nas águas de abastecimento e residuárias como


resultante da utilização do sulfato de alumínio como coagulante. O excesso desse íon
na água tratada pode revelar uma dosagem inadequada de coagulante, ou ainda, a
passagem de flocos através dos filtros. Além disso, sua presença excessiva pode
provocar precipitações e, consequentemente, elevação da turbidez e incrustações nas
redes de distribuição (HELLER & PÁDUA, Abastecimento de água para consumo
humano, 2010).

2.3.4. Características radiológicas

De acordo com Di Bernardo e Dantas (2005), a liberação da radioatividade


pode provir das radiações alfa, beta e gama. Com base na ocorrência em águas de
abastecimento, os isótopos que merecem atenção especial são o rádio 226 e 228,
18
urânio 238 e 232, chumbo 210 e polônio 210. Águas de superfície e subterrâneas
podem apresentar pequenas quantidades de radioatividade natural proveniente de
rochas e minerais. Além disso, a poluição das águas com substâncias radioativas
também pode advir de laboratórios de pesquisa, hospitais e indústrias.

A identificação de espécies individuais radioativas e a determinação de suas


respectivas concentrações demandam análises sofisticadas e de alto custo. Deste
modo, devido ao baixo teor de elementos radioativos, utiliza-se o procedimento
contínuo que estabelece o total de radiação presente na forma de radiação alfa e beta,
sem considerar a identidade específica dos radionuclídeos (HELLER & PÁDUA,
Abastecimento de água para consumo humano, 2010).

2.4. TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO

Segundo Richter (2009), para produzir uma água potável, a seleção de


processos de tratamento deve ser feita de modo a permitir a remoção ou redução de
determinados constituintes da água bruta. Assim, as principais condicionantes na
escolha dos processos unitários são a natureza da água bruta e a qualidade desejada
para a água tratada. A adoção do tipo mais adequado para uma determinada água
deve ser feita em razão das suas características físico-químicas e de sua tratabilidade.

Diversos produtos químicos podem ser necessários para realizar o tratamento


da água: oxidantes, coagulantes, desinfetantes, produtos para a correção da dureza,
produtos para o controle da corrosão e carvão ativado para a adsorção de
contaminantes. Entretanto, todos eles devem ser manuseados cuidadosamente,
impedindo assim a introdução de contaminantes na água, bem como mantendo a
segurança dos operadores da estação de tratamento (HELLER & PÁDUA,
Abastecimento de água para consumo humano, 2010).

A seleção final dos processos mais adequados deve ser baseada na segurança
do processo, na facilidade de construção, na existência de equipamentos adequados,
facilidade de operação e manutenção, e custos de construção e operação (RICHTER,
2009).

19
Segundo Ferreira Filho (2017), a transição da qualidade da água bruta para a
tratada está diretamente relacionada aos padrões de potabilidade fixados pelas
autoridades competentes: padrões mais restritivos e rigorosos tendem a fomentar a
sofisticação das técnicas e dos equipamentos utilizados. Vale ainda ressaltar que as
estações de tratamento de água do tipo convencional não possuem a capacidade de
remoção de compostos inorgânicos (metais pesados), orgânicos e agrotóxicos. Caso
haja a necessidade de assegurar a remoção destes compostos, outras tecnologias
não convencionais devem ser incorporadas ao sistema, destacando-se a adsorção
em carvão ativado e processos de membrana.

Frente aos graves problemas de acesso à água potável em diversas nações,


inclusive no Brasil, o estudo e o desenvolvimento de novos processos para o
tratamento de águas têm-se intensificado cada vez mais. Pelo menos 150 países já
utilizam processos de dessalinização para produzir água potável, segundo estimativa
mais recente da Associação Internacional de Dessalinização. Entre as nações que
mais exploram a técnica estão países desérticos ou com dificuldades em oferecer
abastecimento regular para a sua população, como os do Oriente Médio e os do norte
da África (MARIA, 2019).

No Brasil, a dessalinização é muito utilizada para diversas e variadas


aplicações do setor industrial, incluindo os setores de celulose e automóvel. Além
disso, a dessalinização da água do mar surge como uma boa alternativa para o
Nordeste, onde as secas estão cada vez mais frequentes e demoradas. No estado do
Ceará está em fase de licitação a construção de duas usinas de dessalinização, com
um projeto para produzir, até o ano de 2020, 1 m³ por segundo de água potável. Esse
volume acrescentará 12% na oferta de água da Grande Fortaleza, equivalente ao
abastecimento de 720 mil pessoas (SAKAI, 2017).

Duas tecnologias são empregadas no processo de dessalinização: a destilação


por meio de energia térmica e a utilização de membranas para filtrar o sal da água.
No primeiro caso, a água salgada é aquecida para a produção de vapor, que em
seguida é condensado e coletado como água doce. O segundo método emprega a
osmose reversa para bombear água do mar através de membranas semipermeáveis,
que capturam o sal e permitem apenas que a água doce passe. A água salgada é
bombeada de volta para o oceano (PINTO-COELHO, 2015).
20
No Marrocos, está sendo construída a maior planta de dessalinização do
mundo que funcionará inteiramente com energia solar em uma tentativa de compensar
as necessidades de água na região semiárida, localizada no sul do país. A planta de
dessalinização de US$ 364,6 milhões deverá produzir 450 mil m³ de água por dia. No
entanto, começará inicialmente com uma produção de 275 mil m³ por dia, dos quais
150 mil m³ serão destinados ao consumo humano e 125 mil m³ serão utilizados para
irrigar 13,6 mil hectares de campos agrícolas (IWAKI, Planta de dessalinização em
Agadir funcionará inteiramente com energia verde, 2017).

A maior usina do ocidente está localizada na cidade de Carlsbad, na Califórnia,


cerca de 30 quilômetros de San Diego. A usina de dessalinização produz 50 mil m³ de
água doce por dia e as obras de construção de outras 17 usinas já estão em
andamento no estado norte-americano. As usinas de dessalinização devem se tornar
instalações cada vez mais comuns em cidades costeiras para transformar a água
salgada do mar em água doce potável. Dados de 2015 apontavam que existiam cerca
de 16 mil plantas de dessalinização no mundo. Abaixo, na Figura 2, apresenta-se a
maior usina de dessalinização da Arábia Saudita (BELTON , 2015).

Figura 2: Usina de dessalinização localizada na Arábia Saudita.

Fonte: BBC News (2015).

21
Os processos de separação por membranas apresentam-se hoje como as mais
modernas tecnologias para tratamento de água e efluentes, possibilitando dispensar
as unidades de coagulação, floculação, sedimentação e filtração. Estes métodos
podem ser combinados para a produção de água potável e também de processos
industriais, inclusive de mananciais com a qualidade degradada, de águas salobras
ou salinas. Entre eles, destacam-se: micro, ultra e nanofiltração, osmose reversa,
eletrodiálises, pervaporação e processos de oxidação fotoquímica (STOVER, 2018).

Apesar de sua excelente aceitação no mercado, confirmada com um expressivo


crescimento no seu emprego nos últimos anos, o uso das membranas de
microfiltração e ultrafiltração possui algumas restrições por apresentar maior custo de
implantação, operação e manutenção, exigindo mão de obra e equipes de
manutenção qualificadas (FERREIRA FILHO, 2017).

Outro método de tratamento que não utiliza produtos químicos e possui alto
grau de eficiência é a eletrodeionização. Essa técnica de desmineralização remove
os minerais, íons e metais pesados contidos na água, fazendo-a passar por uma ou
mais câmaras cheias de resina de troca iônica, em que os íons da água serão
substituídos por H+ e OH-, sob influência de campos elétricos. Por fim, os íons
resultantes desta câmara são eliminados, resultando em uma água de alta
pureza, sem que seja necessária a adição de produtos químicos (LEGNER, Como
funciona o processo de Osmose Reversa, 2019).

O cloro é tradicionalmente utilizado como desinfetante no tratamento de águas


e efluentes, por apresentar um método simples, de fácil aplicação e eficiente.
Entretanto, a cloração pode formar subprodutos tóxicos e carcinogênicos, como, por
exemplo, os THM (trialometanos), que são gerados quando o cloro se mistura com o
material orgânico no início do processo. Deste modo, a desinfecção com menor ou
sem utilização de produtos químicos tem importância aumentada nos dias de hoje e,
para isso, métodos que usam ozônio e radiação ultravioleta cada vez mais vão
ganhando espaço no mercado (IWAKI, A dessalinização e o reúso de água no mundo,
2019) .

22
2.5. ESTAÇÕES DE TRATAMENTO CONVENCIONAIS

A concepção de uma estação de tratamento de água não é uma tarefa fácil.


Deste modo, o estabelecimento de programas de controle e prevenção de poluição,
como por exemplo, os sistemas de coleta, afastamento e tratamento de esgotos
sanitários, indubitavelmente são os melhores investimentos para a minimização de
custos de implantação e operação. Quanto melhor for a qualidade da água bruta, mais
simples será o processo de tratamento e, consequentemente, melhor será a qualidade
do produto final. As estações de tratamento de água convencionais têm por finalidade
primordial a produção de água tratada com aspecto estético adequado ao consumo
humano, com uma concentração de subprodutos de desinfecção que não ofereça
riscos à saúde humana e apresente-se segura do ponto de vista microbiológico
(FERREIRA FILHO, 2017).

Richter (2009) explana sobre as estações de tratamento convencionais, que


possuem uma cadeia de processos que incluem: mistura rápida (coagulação),
floculação, decantação, filtração e desinfecção. É a categoria que apresenta o maior
número, seja em unidades usuais com decantadores de fluxo horizontal ou em
unidades de alta taxa, sendo adequadas para águas turvas correntes, de turbidez
média a elevada, suportando cargas de até 1.000 UNT (Unidades Nefelométricas de
Turbidez). Na Figura 3, é apresentado o esquema simplificado de uma estação de
tratamento de água convencional.

Figura 3: Processo simplificado de uma ETA.

Fonte: <https://portal.sanep.com.br/>, acesso em 01/10/2018.

23
A vida útil de uma estação de tratamento se situa entre 30 e 50 anos e esta tem
de ser capaz de trabalhar com as variações e mudanças da qualidade da água bruta
ao longo do tempo, principalmente em decorrência das influências antrópicas.
Lamentavelmente, há um grande número de mananciais em nosso país cuja
qualidade da água tem sofrido contínuas alterações ao longo do tempo, exigindo
assim a adequação tecnológica dos processos de tratamento. Portanto, ainda que
antigas, as instalações devem oferecer todas as condições de segurança e plena
operação, a fim de que todos os processos possam ocorrer de modo seguro e
confiável (FERREIRA FILHO, 2017).

2.5.1. Mistura rápida: Coagulação / Floculação

A mistura rápida nas ETAs pode ser realizada por sistemas hidráulicos,
mecanizados ou dispositivos especiais. As primeiras estações de tratamento de água
não dispunham de dispositivos especiais para a dispersão de produtos químicos,
sendo que os primeiros utilizados para essa finalidade foram os ressaltos hidráulicos.
Felizmente, dispositivos de mistura tão simples e de baixo custo como esse têm
demonstrado uma excelente eficiência na maioria das aplicações. Na Figura 4, tem-
se a representação do ressalto hidráulico (RICHTER, 2009).

Figura 4: Ressalto hidráulico.

Fonte: <https://www.ingenierocivilinfo.com>, acesso em 13/09/2018.

24
De acordo com Libânio (2008), a coagulação consiste essencialmente na
desestabilização das partículas coloidais e suspensas realizada pela conjunção de
ações físicas e reações químicas, com duração de poucos segundos, entre o
coagulante, a água e as impurezas presentes. Visa, principalmente, a remoção de
turbidez, matéria orgânica coloidal, substâncias tóxicas de origem orgânica e
inorgânica, e outras que possam conferir odor e sabor, além de microrganismos em
geral. Sua importância ainda é fundamental no contexto sanitário, visto que a remoção
de partículas de dimensões microscópicas associa-se a de microrganismos
patogênicos.

Na antiguidade, os povos egípcios já acondicionavam a água em vasilhas


durante alguns dias antes de utilizá-la com a finalidade de reduzir a concentração de
partículas em suspensão. Porém este método, por vezes, dependendo das
características da água, era insuficiente para proporcionar a clarificação desejada, o
que impulsionou a busca de novos métodos de remoção de turbidez (LIBÂNIO, 2008).

Assim, o processo de coagulação surgiu, inicialmente, da necessidade de


melhorar o aspecto visual da água para consumo humano. Registros remontam ao
século XVI no Egito, onde a coagulação era realizada com amêndoas maceradas que,
em contato com a matéria em suspensão, formavam um tipo de emulsão com a água,
e o óleo produzido pelos grãos causava a agregação das partículas para posterior
sedimentação. Já na Índia, nozes moídas eram utilizadas no processo e, na China, a
coagulação era realizada utilizando-se um sulfato duplo de alumínio e potássio, o
alume (LIBÂNIO, 2008) / (FONTOURA, 2009).

Os primeiros registros do emprego de sais de alumínio como agente coagulante


ocorreram na Inglaterra para o tratamento de águas minerais. Em Londres, a partir de
1827, a utilização do sulfato férrico associado ao aquecimento da água coagulada
proporcionava a remoção de cor e turbidez. Já na Holanda e na Bélgica, por volta do
ano de 1869, o sulfato de alumínio era o insumo utilizado, produzindo um precipitado
que removia satisfatoriamente a turbidez. Entretanto, apenas no final do século XIX
foi estabelecido o processo de coagulação antecedendo a filtração no tratamento de
água nos EUA (LIBÂNIO, 2008).

25
A coagulação depende fundamentalmente das características da água e das
impurezas presentes, conhecidas por meio de parâmetros como pH, alcalinidade, cor
verdadeira, turbidez, temperatura, condutividade elétrica, tamanho e distribuição das
partículas em estado coloidal e em suspensão, entre outros (DI BERNARDO &
DANTAS, 2005).

Quando a água coagulada é submetida ao processo de floculação, tem-se uma


alteração na distribuição granulométrica das partículas coloidais, ocorrendo o
aumento do seu diâmetro médio e a diminuição de sua concentração. As reações
químicas, que se iniciam na unidade de mistura rápida, possibilitam que as impurezas
presentes na água possam se aglomerar, formando os flocos, mediante uma agitação
relativamente lenta. Portanto, a etapa de floculação tem como finalidade promover a
junção das partículas coaguladas ou desestabilizadas para formar maiores massas,
de modo a possibilitar sua separação por sedimentação. Na figura 5, têm-se a
representação do processo explanado (FERREIRA FILHO, 2017).

Figura 5: Esquema simplificado do processo de coagulação/floculação.

Fonte: <http://www.kurita.com.br>, acesso em 15/09/2018.

Os floculadores são as unidades responsáveis por acondicionar a água que


será encaminhada aos decantadores e podem ser classificados como hidráulicos ou
26
mecanizados, de acordo com o seu sistema de agitação. Os floculadores hidráulicos
mais utilizados são os de chicanas, de fluxo horizontal ou de fluxo vertical,
apresentados na figura 6 (DI BERNARDO & DANTAS, 2005) / (HELLER & PÁDUA,
Abastecimento de água para consumo humano, 2010).

Figura 6: Floculadores de chicanas.

Fonte: <http://www.revistatae.com.br>, acesso em 22/09/2018.

2.5.2. Decantação / Sedimentação

A sedimentação é um processo físico que separa partículas sólidas em


suspensão da água, em decorrência da ação da gravidade, propiciando a clarificação
do meio líquido. Essa operação é realizada nos decantadores: o lodo (partículas
sólidas) sedimenta na zona inferior do tanque e o efluente clarificado segue seu fluxo,

27
saindo do equipamento pela zona superior, através da calha vertedora, conforme
ilustrado a seguir na figura 7 (DI BERNARDO & DANTAS, 2005) / (RICHTER, 2009).

Figura 7: Decantador convencional.

Fonte: Deca/Corsan, 2019.

Os primeiros decantadores foram tanques de fluxo horizontal e sua utilização é


ainda defendida por diversos engenheiros, devido à sua inerente simplicidade, alta
eficiência e baixa sensibilidade a condições de sobrecarga. Além disso, quando bem
projetados e operados, viabilizam a obtenção de água decantada com baixos valores
de turbidez. Entretanto, com o avanço dos estudos teóricos e pesquisas aplicadas,
desenvolveu-se o chamado decantador tubular ou de alta taxa, o qual pode alcançar
eficiência superior aos decantadores convencionais de fluxo horizontal (RICHTER,
2009).

Richter (2009) afirma que, dependendo da natureza físico-química da água


bruta, da eficiência hidráulica das unidades de processo e do tipo de coagulante
aplicado, de 60 a 95% do lodo gerado é acumulado nos tanques de decantação, e o
restante, nos filtros. A concentração de sólidos no lodo sedimentado aumenta com o
tempo em que fica acumulado pelo efeito de adensamento: tanques de decantação
horizontal de limpeza manual podem ter o lodo acumulado por 2 a 3 meses ou mais.
28
2.5.3. Filtração

A filtração consiste na remoção de partículas suspensas e coloidais e de


microrganismos presentes na água que escoa através de um meio poroso. Em geral,
a filtração é o processo final de remoção de impurezas realizado em uma estação de
tratamento de água e, portanto, principal responsável pela produção de água com
qualidade condizente com o padrão de potabilidade (DI BERNARDO & DANTAS,
2005).
Diversos materiais granulares podem ser usados como meio poroso, todavia, a
composição dos meios filtrantes, sua granulometria e altura são definidas por suas
taxas de filtração admissíveis. A areia é o mais comum, seguido do antracito, areia de
granada e carvão ativado granular. A camada suporte é geralmente constituída de
seixos rolados ou pedregulhos. Na figura 8, a representação de um filtro rápido (DI
BERNARDO & DANTAS, 2005) / (FERREIRA FILHO, 2017).

Figura 8: Filtro rápido.

Fonte: <http://www.aquastore.com.br>, acesso em 22/09/2018.

Evidentemente, a opção por um material filtrante com granulometria reduzida


viabiliza a produção de água filtrada com baixíssimos valores de turbidez e, por
conseguinte, impõe restrições em seus valores de taxas de filtração. Em contrapartida,
29
a adoção de unidades de filtração que operem com taxas de filtração elevadas tende
a ter uma redução na eficiência de remoção das partículas coloidais. As unidades de
filtração podem ser constituídas por meios filtrantes de camada única, dupla camada
ou tripla camada, como indicado na figura 9 (FERREIRA FILHO, 2017).

Figura 9: Classificação do processo de filtração com relação ao meio filtrante.

Areia, antracito Antracito Antracito

ou CAG ou CAG ou CAG

Areia

Areia
Granada

Camada única Dupla camada Tripla Camada

Fonte: Ferreira Filho (2017).

De acordo com Ferreira Filho (2017), os sistemas de filtração mais comumente


utilizados são os filtros de dupla camada, constituídos de uma camada superior de
antracito ou CAG (carvão ativado granular) seguido de uma camada inferior de areia.
Abaixo ainda localiza-se a camada suporte, composta por seixos rolados de diferentes
granulometrias que fazem a transição entre o meio filtrante e o sistema de drenagem.

Após certo tempo de funcionamento, há necessidade da lavagem do filtro,


geralmente realizada por meio da introdução de água no sentido ascensional com
velocidade relativamente alta para promover a fluidificação parcial do meio granular
com liberação das impurezas. A duração do processo de lavagem situa-se em torno
de 8 a 15 min, dependendo do tipo de filtro, do seu grau de colmatação e duração da
carreira de filtração (horas de operação) (DI BERNARDO & DANTAS, 2005).

30
2.5.4. Desinfecção e fluoretação

O processo de desinfecção apresenta a finalidade de destruição de


microrganismos patogênicos presentes na água. Entre os agentes de desinfecção, o
mais largamente empregado é o cloro, devido à sua disponibilidade na natureza, custo
relativamente baixo e de fácil aplicação. Além disso, o produto em questão deixa um
residual em solução, de concentração facilmente determinável, que, não sendo
prejudicial ao homem, protege o sistema de distribuição (HELLER & PÁDUA,
Abastecimento de água para consumo humano, 2010) / (RICHTER, 2009).

A etapa final de todo o processo de tratamento é a fluoretação, realizada


concomitantemente ao procedimento de cloração (desinfecção), na câmara de
mistura. A fluoretação consiste na adição de fluossilicato de sódio na água para
abastecimento, com a finalidade de prevenir a cárie dentária. Após, a água é
armazenada nos reservatórios e distribuída à população (HELLER & PÁDUA,
Abastecimento de água para consumo humano, 2010).

2.6. A ETA de São Sebastião do Caí

Os processos de tratamento de água para abastecimento público no Brasil


iniciaram-se a partir da década de 1970 e foram fortemente impulsionados pelo
Planasa, o Plano Nacional de Saneamento vigente na época. A partir de então, a
operação das estações de tratamento e dos sistemas de abastecimento passou a ser
executada por companhias estaduais de saneamento, serviços autônomos de água e
esgoto e prefeituras municipais. Todavia, mesmo após tantos anos de operação, boa
parte dessas unidades de saneamento encontram-se ainda com suas instalações
originais, operando acima de sua capacidade. Este cenário é o retrato da falta de
investimentos neste setor de extrema relevância para a saúde pública (LIBÂNIO,
2008).

Infelizmente, na cidade de São Sebastião do Caí não é diferente. A única


estação de tratamento do município foi inaugurada no ano de 1965, época na qual a

31
cidade possuía aproximadamente 4.000 habitantes. Operava inicialmente com uma
vazão de 30 L/s, sendo projetada para uma vazão máxima de 45 L/s. De lá para cá
muita coisa mudou: a cidade, a população e as indústrias cresceram muito e, em
contrapartida, as instalações permanecem praticamente as mesmas. Nas figuras 10
e 11, o comparativo da ETA no ano de construção e nos dias atuais.

Figura 10: ETA São Sebastião do Caí / 1965.

Fonte: Arquivos Corsan, 2018.

Figura 11: ETA São Sebastião do Caí / 2018.

Fonte: Próprio Autor, 2018.

32
A ETA de São Sebastião do Caí é uma estação de tratamento convencional,
composta por um floculador de chicanas de fluxo horizontal, um decantador de seção
circular com paredes concêntricas, dois filtros e uma câmara de mistura. A cadeia de
processos inclui a coagulação, floculação, decantação, filtração, desinfecção e
fluoretação. A captação de água bruta é realizada no Rio Caí a uma vazão de
aproximadamente 60 L/s (CORSAN, 2018).

Ao chegar à estação, já no ressalto hidráulico, é adicionado à água bruta o


sulfato de alumínio, promovendo assim o contato íntimo e imediato entre o coagulante
e a água. Dessa forma, a água coagulada segue pelo floculador, onde ocorre o
crescimento dos flocos juntamente com a desaceleração gradual da massa líquida,
impedindo, dessa forma, a ruptura dos flocos formados. O floculador é composto por
três blocos de 30 chicanas cada, totalizando 90 chicanas. Abaixo, na figura 12, têm-
se a representação da unidade citada, na qual as setas indicam o sentido do fluxo da
água (CORSAN, 2018).

Figura 12: Esquema simplificado de floculador de chicanas horizontal.

Fonte: Próprio Autor, 2019.

33
Posteriormente, a água floculada segue para o decantador circular, onde
ocorre a deposição do material particulado no fundo do tanque. Na figura 13, tem-se
a representação do sentido do fluxo de água no decantador e, no centro do mesmo, o
círculo representa o tubo de saída para os filtros (CORSAN, 2018).

Figura 13: Fluxo do fluído em decantador circular.

Não é possív el exibir esta imagem.

Fonte: Próprio Autor, 2019.

A água decantada então é distribuída entre dois filtros rápidos de areia de fluxo
descendente, que fazem a retenção das partículas menores que não sedimentaram
no decantador. O leito filtrante é composto por uma camada de areia de 60 cm, no
qual o diâmetro efetivo da areia situa-se entre 0,45 e 0,60 mm. O leito de sustentação
possui uma altura de 60 cm e é constituído de uma série de camadas de diâmetros
decrescentes, de baixo para cima, de seixos rolados (CORSAN, 2018).

Por fim, na última etapa do tratamento, a água já filtrada é direcionada à câmara


de mistura, onde ocorre a desinfecção e a fluoretação, pelas ações do cloro e do
fluossilicato de sódio, respectivamente.

34
2.7. A ESCOLHA DO COAGULANTE

Qualquer agente que produza a coagulação é um coagulante, normalmente um


produto químico. A coagulação, geralmente, é realizada por sais de alumínio e ferro e
resulta de dois fenômenos: o primeiro, essencialmente químico, consiste nas reações
do coagulante com a água e na formação de espécies hidrolisadas com carga positiva;
o segundo, fundamentalmente físico, baseia-se no transporte das espécies
hidrolisadas para que haja contato entre as impurezas presentes na água, que
apresentam carga superficial negativa (DI BERNARDO & DANTAS, 2005) /
(RICHTER, 2009).

Não restam dúvidas de que as características da água bruta são parâmetros


imprescindíveis para a escolha adequada de um coagulante. Entretanto, a definição
do mesmo ainda leva em consideração a sua adequabilidade à água bruta, à
tecnologia de tratamento, o seu custo e dos produtos químicos que, porventura, serão
a ele associados, como por exemplo, alcalinizantes, ácidos ou auxiliares de
coagulação (LIBÂNIO, 2008).

Um bom coagulante deve possuir como característica fundamental a


capacidade de produzir precipitados e espécies hidrolisadas em dissociação no meio
aquoso, capazes de desestabilizar ou envolver as partículas suspensas e coloidais
presentes na água. Para o tratamento de água potável, o sulfato de alumínio é o
coagulante mais utilizado por diversos fatores, entre eles, seu baixo custo, bons
resultados, fácil manuseio e transporte. Mesmo assim, é constante a busca por novos
produtos que satisfaçam ainda mais essas necessidades, melhorando o desempenho
e a eficiência no processo geral, mantendo a qualidade de água distribuída para a
população e reduzindo a quantidade de resíduos gerados (RICHTER, 2009).

A solução aquosa de sulfato de alumínio tem caráter ácido e corrosivo. Sua


fabricação é realizada a partir do hidrato de alumínio, mantendo-se um teor de água
suficiente para impedir sua cristalização. Além disso, sua solubilidade é função do pH
e apresenta valores mais baixos em pH entre 5 e 8. Fora dessa faixa, a coagulação
não ocorre (RICHTER, 2009).

35
Por sua vez, o policloreto de alumínio, também conhecido como PAC, é um sal
de alumínio polimerizado que geralmente apresenta maior eficiência no processo de
coagulação se comparado aos demais coagulantes inorgânicos. Isso se deve ao seu
estado pré-polimerizado, à característica de sua estrutura molecular condensada com
ligações de oxigênio entre os átomos de alumínio e, principalmente, pela maior
concentração do elemento ativo (Al2O3). Na eliminação de substâncias coloidais, sua
eficácia, em média, é 2,5 vezes superior em igualdade de dosagem ao íon Al3+ à dos
outros sais de alumínio habitualmente utilizados. (SANTOS, 2011).

Sua fórmula bruta é Aln(OH)mCl(3n-m), na qual a relação m/3n x 100 representa


a basicidade do produto. E é justamente devido a essa basicidade que, durante a
hidrólise, o policloreto de alumínio libera para uma mesma dosagem de íons
metálicos, uma quantidade de ácido significativamente inferior do cloreto de alumínio,
isso quando comparado a coagulantes tradicionais como sulfato de alumínio e cloreto
férrico. Dessa forma, há uma menor variação do pH do meio tratado ou um menor
consumo de neutralizante para reconduzir o pH à faixa desejada (SANTOS, 2011).

36
3. METODOLOGIA

O desenvolvimento da pesquisa foi realizado por meio de ensaios de


coagulação, floculação e sedimentação, com o equipamento de bancada Jar-Test a
fim de avaliar a eficiência entre os coagulantes sulfato de alumínio e policloreto de
alumínio, na remoção das partículas coloidais e dissolvidas, bem como o tempo
necessário para a sedimentação do material particulado e posterior filtração das
amostras floculadas. Para tanto, foi imprescindível a determinação das características
da água bruta, pois, somente a partir dessas informações, tornou-se possível a
escolha das dosagens analisadas inicialmente. As amostras de água bruta foram
coletadas na ETA de São Sebastião do Caí, cidade que é abastecida pelo Rio Caí.
Além disso, todas as metodologias de análise realizadas seguiram os padrões e
procedimentos adotados pela Corsan, visto que a proposta de melhoria foi direcionada
especificamente para a ETA em estudo.

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁGUA BRUTA

As amostras de água bruta foram coletadas na estação de tratamento de água,


antes do ressalto hidráulico e, consequentemente, antes do contato com qualquer
produto químico. Para realizar a caracterização das mesmas, foram analisados os
seguintes parâmetros: temperatura, pH, cor, turbidez, DQO e alcalinidade. Os
procedimentos de análise serão explanados no tópico 3.3.

3.2. TESTE DE CLARIFICAÇÃO (JAR TEST)

O teste de clarificação foi realizado com a finalidade de simular as condições


de operação da estação de tratamento de água, analisando-se os tempos de mistura
rápida, mistura lenta, decantação e filtração. Assim, foi possível determinar a dosagem
econômica, ou seja, as melhores dosagens de cada coagulante. (DECA/CORSAN,
2018).

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O aparelho Jar Test é um floculador elétrico que realiza a dispersão do
coagulante e demais produtos, com a regulagem de velocidade de rotação das pás,
permitindo assim a formação e o crescimento dos flocos. Este equipamento pode
realizar até seis testes ao mesmo tempo, o que possibilita uma comparação imediata
e avaliação da melhor dosagem de coagulante a ser usada no processo, podendo-se
ainda considerar o tempo de decantação e a qualidade do líquido clarificado em
relação ao parâmetro turbidez. Na Figura 14, é apresentado o aparelho Jar Test
utilizado, modelo Floc Control da marca Policontrol (DECA/CORSAN, 2018).

Figura 14: Floculador elétrico (Jar Test).

Fonte: Próprio Autor, 2018.

Para a execução do ensaio, a amostra in natura foi coletada em um balde na


chegada da água bruta na estação de tratamento, antes do ressalto hidráulico. Para
cada teste foi necessário um volume de aproximadamente 10 L para a realização de
todas as análises. Transferiu-se então, do balde para cada copo de floculação, 1.000
mL de amostra. Ao todo, foram utilizados 6 copos de floculação no aparelho Jar Test;
para cada copo foram adicionadas dosagens diferentes de coagulante, aumentando-
se da esquerda para a direita (DECA/CORSAN, 2018).
38
Inicialmente, para todos os testes realizados foram utilizados os seguintes
tempos para clarificação: 1 minuto, na velocidade máxima de rotação do aparelho,
para mistura rápida; do 1º até o final do 4º minuto, a velocidade foi regulada em
rotação intermediária, entre 70 e 80 RPM; e do 5º ao 15º minuto foi ajustada a rotação
entre 50 e 60 RPM. Ao fim dos 15 minutos, desligou-se o aparelho e as pás do agitador
foram levantadas, aguardando-se assim por mais 10 minutos, tempo destinado à
observação do comportamento dos flocos durante o período da sedimentação.

Após a observação do comportamento do coagulante PAC durante a realização


dos 5 primeiros ensaios, foram então estimados e utilizados novos tempos para
clarificação: 1 minuto, na velocidade máxima de rotação do aparelho, para mistura
rápida; do 1º até o final do 3º minuto, a velocidade foi regulada em rotação
intermediária, entre 70 e 80 RPM; e do 4º ao 6º minuto foi ajustada a rotação entre 50
e 60 RPM. Ao fim dos 6 minutos, desligou-se o aparelho e as pás do agitador foram
levantadas, aguardando-se assim por mais 4 minutos, tempo destinado à observação
do comportamento dos flocos durante o período da sedimentação. A partir de então,
os ensaios com o coagulante PAC seguiram esse procedimento, tendo sua eficiência
comprovada pelos ótimos resultados obtidos.

3.3. METODOLOGIAS DE ANÁLISE

Após o aguardo do tempo de sedimentação dos flocos formados e,


consequentemente, da decantação da água, cada amostra foi filtrada com o auxílio
de funis e algodão para simular o processo de filtração, conforme ilustrado na figura
15. As amostras, então filtradas, foram utilizadas para a execução das análises e
determinação dos seguintes parâmetros: alcalinidade, alumínio residual, cor, DQO,
pH e turbidez. As amostras que não flocularam foram descartadas ao final da agitação
dos copos.

39
Figura 15: Filtração da água decantada.

Fonte: Próprio Autor, 2018.

3.3.1. Alcalinidade

A análise de alcalinidade tem por finalidade quantificar os íons presentes na


água, os quais reagem para neutralizar os íons hidrogênio. Sendo assim, exerce a
função indicativa da capacidade da água de neutralizar os ácidos, expressando,
portanto, a capacidade de tamponamento da água, isto é, sua condição de resistir a
mudanças do pH (LIBÂNIO, 2008)

As vidrarias utilizadas para a determinação da alcalinidade foram provetas,


erlenmeyers, bureta, pipeta graduada e bastão de vidro. As soluções necessárias
foram ácido sulfúrico 0,02 N, metilorange e tiossulfato de sódio 0,25 N.

Primeiramente, homogeneizou-se a amostra e transferiu-se aproximadamente


200 mL para um erlenmeyer. Em seguida, adicionou-se algumas gotas da solução de
metilorange e transferiu-se 100 mL para outro erlenmeyer. Titulou-se então com
solução de ácido sulfúrico 0,02 N até a viragem da cor amarela para levemente
alaranjada, comparando-se com a solução que restou no primeiro erlenmeyer. O

40
resultado foi determinado multiplicando-se o volume gasto na bureta por 10, obtendo-
se assim o valor da alcalinidade, expressa em mg/L de CaCO3. Na figura 16, é
apresentado o registro ao término da análise de alcalinidade.

Figura 16: Análise de alcalinidade.

Fonte: Próprio Autor, 2018.

3.3.2. Alumínio Residual

Os reagentes e soluções utilizados para a determinação do alumínio residual


foram: bicarbonato de amônio, alizarina e ácido acético 30%. A adição de solução
saturada de bicarbonato de amônio provocou a precipitação de hidróxido de alumínio
que, na presença do corante alizarina e de ácido acético 30%, formou um complexo
de coloração amarela.

41
A execução do ensaio foi realizada utilizando-se provetas de vidro, pipetas
graduadas e cronômetro. Após homogeneização da amostra, mediu-se 50 mL da
amostra em uma proveta e, em outra, mediu-se o mesmo volume de água destilada,
que serviu como prova em branco. Adicionou-se, então, 1 mL de solução de
bicarbonato de amônio e 1 mL de alizarina em ambas as provetas. Aguardou-se o
tempo de 10 minutos e, por fim, adicionou-se 1 mL de solução de ácido acético 30%.
A leitura foi realizada observando-se a coloração desenvolvida, olhando por cima das
provetas e em fundo branco. Os resultados foram registrados conforme os padrões
adotados pela Corsan:

• P.F. – Positivo Forte (Vermelho claro);

• POS. – Positivo (Laranja);

• P.L. – Positivo Leve (Amarelo intenso);

• NEG. – Negativo (Amarelo canário).

O excesso de íons Al3+ na água tratada pode revelar uma dosagem inadequada
de coagulante e, desse modo, provocar precipitações e consequente elevação da
turbidez e incrustações nas redes de distribuição. Segundo a classificação
apresentada acima, referente à concentração de alumínio, o único que é considerado
fora do padrão é a designação de Positivo Forte (P.F.), resultado que ultrapassa o
valor máximo permitido pela portaria nº 2914 do Ministério da Saúde, que estabelece
o valor máximo permitido de 0,2 mg/L.

Na figura 17, têm-se na primeira proveta água destilada, na segunda uma das
amostras filtradas acrescida de bicarbonato de amônio e alizarina, e, na terceira, a
mesma amostra acrescida de bicarbonato de amônio, alizarina e ácido acético.

42
Figura 17: Análise de alumínio residual.

Fonte: Próprio Autor, 2018.

3.3.3. Cor

A análise de cor foi executada para amostras de água bruta e tratada. A


aparelhagem necessária para a realização do ensaio é composta pelo Aqua-tester,
tubos de Nessler de 50 mL, disco colorimétrico com padrões de cor, bastão de vidro
e frasco lavador.

Com o auxílio do bastão de vidro, homogeneizou-se a amostra e transferiu-se


a mesma para um tubo de Nessler, completando o volume até a marca. Em seguida,
o tubo com a amostra foi colocado no suporte da direita do aparelho Aqua-tester; o
tubo da esquerda é utilizado como padrão, no qual há água destilada. Os dois tubos
devem conter a mesma altura de líquido. Fechou-se, então, a tampa do aparelho e o
equipamento foi ligado. A leitura foi realizada girando o disco de padrões dos valores
menores para os maiores, buscando a igualdade dos campos. O valor máximo
permitido pela Portaria nº 2.914 do Ministério da Saúde para água tratada é de 15
mg/L Pt-Co; os resultados da análise foram expressos nesta mesma unidade. O
aparelho Aqua-tester é apresentado na figura 18.

43
Figura 18: Aqua-tester.

Fonte: Próprio Autor, 2018.

3.3.4. DQO – Demanda química de oxigênio

A determinação da demanda química de oxigênio permite avaliar a quantidade


de matéria passível de ser oxidada por um agente químico oxidante. A execução da
análise foi realizada com o auxílio de erlenmeyers, buretas, proveta, pipetas
graduadas, chapa elétrica e cronômetro. Ademais, foram utilizadas as seguintes
soluções: permanganato de potássio 0,0125 N, ácido oxálico 0,0125 N e ácido
sulfúrico 1:3.

Depois de homogeneizada, transferiu-se 100 mL de amostra para um


erlenmeyer e adicionou-se 5 mL da solução de ácido sulfúrico, utilizando-se uma
pipeta graduada. Em seguida, foi acrescido ao erlenmeyer um volume de 10 mL de
solução de permanganato de potássio, com o emprego de uma bureta, além de
algumas pedras de ebulição. Feito isso, a amostra foi levada à chapa elétrica,
previamente aquecida, para fervura de aproximadamente 10 minutos.

44
Na sequência, deixou-se a amostra esfriar por um minuto e então foi adicionado
10 mL de solução de ácido oxálico. Titulou-se com solução de permanganato de
potássio até a primeira coloração rósea persistente. O volume gasto na titulação, em
mL, corresponde ao resultado da análise, expresso em mg/L de O2. Tomando-se como
exemplo o volume de 4,5 mL gastos na titulação, tem-se o resultado de 4,5 mg/L de
O2.

3.3.5. pH

As análises foram realizadas com o auxílio do pHmetro Digimed DM-2P,


apresentado na figura 19. Para a execução do ensaio, foram retirados os eletrodos da
solução de repouso e, com água destilada, é feita a lavagem dos mesmos, seguida
de secagem com papel macio absorvente. Após, transferiu-se, aproximadamente, 100
mL de amostra para o copo de becker próprio do aparelho, mergulhando então os
eletrodos. Quando a leitura estabiliza, o equipamento emite um beep sonoro e o valor
de pH aparece no display. Ao início e término de cada análise, os processos de
lavagem e secagem foram repetidos. Recomenda-se que, no sistema de distribuição,
o pH da água seja mantido na faixa de 6,0 a 9,5.

Figura 19: pHmetro Digimed DM-2P.

Fonte: Próprio Autor, 2018.


45
3.3.6. Turbidez

O equipamento utilizado para a realização da análise foi o turbidímetro Hach


2100 Q, além de cubetas cilíndricas de 20 mL com tampa e bastão de vidro. O valor
máximo permitido pela Portaria nº 2.914 do Ministério da Saúde para a turbidez na
saída do tratamento é de 0,5 UT.

Para a execução da análise, transfere-se a amostra homogeneizada para a


cubeta, evitando a formação de bolhas de ar. Após fechar e secar a cubeta, a mesma
é inserida no compartimento específico do aparelho e a tecla “READ” deve ser
pressionada. A leitura é indicada no visor em e deve ser registrada no boletim de
controle. Na figura 20, o turbidímetro é apresentado.

Figura 20: Turbidímetro Hach 2100 Q.

Fonte: Próprio Autor, 2018.

46
3.4. DETERMINAÇÃO DOS TEMPOS DE DETENÇÃO

A estimativa do tempo em que o fluido permanece em cada bloco hidráulico é


essencial para a otimização do processo de clarificação. A partir deste dado, é
possível analisar, separadamente, cada etapa do sistema e, dessa forma, avaliar a
necessidade de alguma alteração ou ajuste de operação. Tempos de detenção muito
baixos podem ocasionar uma clarificação ineficiente devido à redução do período em
que coagulante e água permanecem em contato, afetando diretamente o
desenvolvimento dos flocos. Como consequência, o material particulado com baixa
densidade acaba sendo arrastado da unidade de sedimentação para os filtros,
provocando uma rápida saturação do leito filtrante e, em alguns casos, ocasionando
até mesmo a passagem de turbidez pelos filtros (FERREIRA FILHO, 2017).

A obtenção dos tempos de detenção hidráulica dá-se por meio da divisão do


volume do bloco hidráulico pela vazão de operação da ETA.

47
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A eficiência do processo de tratamento de águas está atrelada a diversos


fatores. Em alguns casos, somente a ampliação das unidades de tratamento é que
podem surtir um efeito realmente expressivo; em outros, alternativas
significativamente mais econômicas, como o estudo das condições de coagulação, já
podem apresentar bons resultados e uma melhoria visível no processo como um todo
(FERREIRA FILHO, 2017).

Conforme já mencionado anteriormente, a estação a qual é base deste estudo


opera atualmente com sobrecarga hidráulica, na vazão total de 60 L/s. Projetada para
uma vazão máxima de 45 L/s, a eficiência do processo acaba sendo comprometida
devido à redução dos tempos de detenção em cada bloco hidráulico. Assim,
dependendo das características e variações da água bruta, pode ocorrer a formação
de flocos pequenos e, por conseguinte, o arraste dos mesmos para os filtros. Dessa
forma, o leito filtrante satura muito mais rapidamente, ocasionando redução na taxa
de filtração e elevação de nível nos blocos anteriores até o limite máximo de
transbordo do decantador.

Ainda é válido ressaltar que a coagulação é extremamente dependente do tipo


de coagulante empregado e da integração plena dos aspectos químicos e
hidrodinâmicos envolvidos na dispersão do coagulante no meio aquoso. Ademais, a
escolha do coagulante e sua respectiva dosagem podem ser ditadas pelas
características dos processos unitários que compõem uma estação de tratamento de
água (FERREIRA FILHO, 2017).

4.1. EXECUÇÃO DOS TESTES DE CLARIFICAÇÃO

Para o desenvolvimento do estudo comparativo entre os coagulantes foram


executados diversos testes de clarificação durante os meses de janeiro e fevereiro
deste ano, levando em consideração variadas situações que podem afetar as
características da água in natura, como por exemplo os períodos de chuva e também
48
de estiagem. Desse modo, devido ao fato do elevado número de amostras analisadas,
estão explanados neste trabalho os principais testes realizados, que foram divididos
em três séries de acordo com a semelhança das características entre as amostras.

Os primeiros testes de clarificação foram realizados no início do mês de janeiro


(designados como 1ª. Série), que apresentou dias de calor intenso e sem
precipitações significativas. A água bruta manteve suas características praticamente
inalteradas por vários dias, e, consequentemente, as dosagens de coagulante
também foram mantidas constantes. No quadro 1 são apresentadas as características
da água in natura. Nos quadros 2 e 3, são apresentados os valores obtidos nos testes;
a tarja rosa indica a dosagem econômica de cada coagulante.

Quadro 1: Características da água in natura - 1ª Série.

Temperatura: 25° C
pH: 6,8
Cor: 100 mg/L Pt/Co
Turbidez: 45 UT
DQO: 3,4 mg/L O2 cons.
Alcalinidade: 26 mg/L CaCO3

Fonte: Próprio Autor, 2019.

Quadro 2: Testes de clarificação Al2(SO4)3 - 1ª Série.

Dosagem Água floculada


Nº Copo (ppm)
pH Alcalinidade Cor Turbidez Alumínio

1 15 6,5 15 2 0,7 P.L.


2 17 6,4 14 2 0,4 P.L.
3 19 6,3 12 2 0,2 P.L.
4 21 6,5 15 2 0,2 P.L.
5 23 6,4 14 2 0,5 P.L.
6 25 6,3 12 2 0,8 P.L.

Fonte: Próprio Autor, 2019.

49
Quadro 3: Testes de clarificação PAC - 1ª Série.

Dosagem Água floculada


Nº Copo (ppm)
pH Alcalinidade Cor Turbidez Alumínio

1 2 6,7 10 2 0,4 P.L.


2 4 6,5 9 2 0,1 P.L.
3 6 6,4 7 2 0,5 P.L.
4 8 6,1 6 2 1,1 POS.
5 10 x x x x x
6 12 x x x x x

Fonte: Próprio Autor, 2019

Ao avaliar os parâmetros obtidos com os primeiros testes, foi nítida a percepção


da superioridade do coagulante PAC, que apresentou como dosagem econômica
média uma quantidade de apenas 4 ppm contra 19 ppm de sulfato de alumínio. Ainda
para as dosagens econômicas, foi realizada a análise de DQO, a qual apresentou
valores médios de 1,5 mg/L de O2 consumido para o sulfato de alumínio, e 1,3 mg/L
de O2 consumido para o PAC.

Para os testes realizados com o sulfato de alumínio, os copos 1 e 6


apresentaram valores de turbidez acima do limite máximo permitido; já o teste em que
o coagulante PAC foi utilizado, o copo 4 extrapolou o limite máximo de turbidez e as
amostras presentes nos copos 5 e 6 não flocularam e, dessa forma, foram
descartadas. Todos os demais parâmetros analisados para ambos os coagulantes
mantiveram valores dentro dos padrões estabelecidos.

Após a primeira quinzena de janeiro, a água bruta apresentou alterações nas


suas características e, assim, novos testes de clarificação foram executados, aqui
denominados 2ª. Série. Assim, no quadro 4, são apresentadas as características da
água in natura. Nos quadros 5 e 6, são apresentados os valores obtidos nos testes
executados, sendo que a tarja rosa indica, novamente, a dosagem econômica de cada
coagulante.

50
Quadro 4: Características da água in natura - 2ª Série.

Temperatura: 28° C
pH: 7,0
Cor: 70 mg/L Pt/Co
Turbidez: 28 UT
DQO: 4,0 mg/L O2 cons.
Alcalinidade: 28 mg/L CaCO3

Fonte: Próprio Autor, 2019.

Quadro 5: Testes de clarificação Al2(SO4)3 - 2ª Série.

Dosagem Água floculada


Nº Copo (ppm)
pH Alcalinidade Cor Turbidez Alumínio

1 10 6,7 18 5 1,2 POS.


2 12 6,6 17 2 0,7 P.L.
3 14 6,6 16 2 0,4 P.L.
4 16 6,5 14 2 0,2 P.L.
5 18 6,4 13 2 0,1 P.L.
6 20 6,3 13 2 0,3 P.L.

Fonte: Próprio Autor, 2019.

Quadro 6: Testes de clarificação PAC - 2ª Série.

Dosagem Água floculada


Nº Copo (ppm)
pH Alcalinidade Cor Turbidez Alumínio

1 2 6,7 20 2 0,6 P.L.


2 3 6,7 19 2 0,3 P.L.
3 4 6,6 19 2 0,2 P.L.
4 5 6,6 18 2 0,2 P.L.
5 6 6,6 18 2 0,5 P.L.
6 7 6,5 16 5 1,2 POS.

Fonte: Próprio Autor, 2019

51
A análise dos resultados obtidos novamente revelou uma diferença significativa
nas dosagens aplicadas de cada coagulante: para o sulfato de alumínio, foi
encontrada como dosagem ideal a quantidade de 16 ppm; o coagulante PAC
apresentou como dosagem econômica apenas 3 ppm. Os copos 1 e 2 dos testes
realizados com o sulfato de alumínio, assim como os copos 1 e 6 dos testes realizados
com o PAC, apresentaram valores de turbidez fora de padrão. Todos os demais
parâmetros avaliados se mantiveram dentro dos padrões estabelecidos. Para estas
amostras, foi ainda realizada a análise de DQO, as quais apresentaram valores de 1,9
mg/L de O2 consumido, para o sulfato de alumínio, e 1,5 mg/L de O2 consumido para
o PAC.

Após vários dias de instabilidade e elevados níveis de precipitação, que


ocasionaram alterações significativas nas características da água bruta (aumento de
cor, turbidez e matéria orgânica), o desempenho dos coagulantes foi avaliado
novamente (3ª. Série). Entretanto, foram necessárias dosagens muito mais elevadas
para realizar a coagulação e floculação das amostras. Mesmo assim, o PAC obteve
melhores resultados para todas as amostras analisadas.

Assim, no quadro 7, são apresentadas as características da água in natura.


Nos quadros 8 e 9, são apresentados os valores obtidos nos testes executados; a
tarja rosa indica a dosagem econômica de cada coagulante.

Quadro 7: Características da água in natura - 3ª Série.

Temperatura: 23° C
pH: 6,9
Cor: 350 mg/L Pt/Co
Turbidez: 132 UT
DQO: 7,1 mg/L O2 cons.
Alcalinidade: 23 mg/L CaCO3

Fonte: Próprio Autor, 2019.

52
Quadro 8: Testes de clarificação Al2(SO4)3 - 3ª Série.

Dosagem Água floculada


Nº Copo (ppm)
pH Alcalinidade Cor Turbidez Alumínio

1 28 6,4 15 2 0,9 POS.


2 31 6,2 13 2 0,5 P.L.
3 34 6,2 13 2 0,2 P.L.
4 37 6,1 12 2 0,2 P.L.
5 40 6,0 11 2 0,7 P.L.
6 43 6,0 11 5 1,3 POS.

Fonte: Próprio Autor, 2019.

Quadro 9: Testes de clarificação PAC - 3ª Série.

Dosagem Água floculada


Nº Copo (ppm)
pH Alcalinidade Cor Turbidez Alumínio

1 4 6,6 18 5 1,4 P.L.


2 6 6,6 17 2 0,3 P.L.
3 8 6,5 17 2 0,2 P.L.
4 10 6,4 16 2 0,2 P.L.
5 12 6,4 16 2 0,5 P.L.
6 14 6,3 15 5 1,2 POS.

Fonte: Próprio Autor, 2019.

A partir dos dados explanados nos quadros anteriores foi possível ratificar a
eficiência do PAC frente ao sulfato de alumínio também para amostras visivelmente
mais turvas e contaminadas. Sua aplicação necessitou de quantidades muito
inferiores para promover a clarificação das amostras, além de causar pequena
interferência no pH das mesmas. A remoção de matéria orgânica também apresentou
ótimos resultados, com valores médios de 1,2 mg/L de O2 consumido.

53
Além disso, ainda é relevante salientar sobre os tempos de floculação e
sedimentação, que foram reduzidos consideravelmente para todas as amostras
analisadas: o sulfato de alumínio apresentou tempos médios de 12 minutos para a
floculação e de 10 minutos para a sedimentação, enquanto o PAC obteve tempos de
floculação e sedimentação de 5 e 4 minutos, respectivamente. Na figura 21 é
apresentada a execução de teste de clarificação com o coagulante PAC.

Figura 21: Execução Jar Test com PAC.

2 ppm
3 ppm
4 ppm
5 ppm

6 ppm
7 ppm

Fonte: Próprio Autor, 2019.

Na figura 22, para a mesma amostra de água in natura, são apresentados o


comparativo de dosagens econômicas entre o sulfato de alumínio (copo à esquerda)
e o PAC (copo à direita).

54
Figura 22: Sulfato de alumínio x PAC.

Sulfato de alumínio – 16 ppm PAC – 4 ppm

Fonte: Próprio Autor, 2019.

4.2. DETERMINAÇÂO DOS TEMPOS DE DETENÇÃO

A obtenção dos tempos de detenção hidráulica dá-se por meio da divisão do


volume do bloco hidráulico pela vazão de operação da ETA. Na tabela 1, são
apresentados os cálculos dos tempos de detenção do floculador e do decantador,
unidades que foram muito afetadas pela vazão excedente. Ambos apresentam,
respectivamente, volumes de 60 m³ e 500 m³. Os cálculos foram realizados com base
em duas vazões distintas: a vazão máxima de projeto e a vazão atual de operação,
quantificando assim o tempo perdido em cada etapa.

55
Tabela 1: Tempos de detenção hidráulica ETA.

Blocos hidráulicos Qmáx projeto = 45 L/s Q atual = 60 L/s

Floculador ϴ = 60 m³ ÷ 0,045 m³/s ϴ = 60 m³÷ 0,060 m³/s


V= 60 m³
ϴ = 22min13seg ϴ = 16min40seg

Decantador ϴ = 500 m³ ÷ 0,045 m³/s ϴ = 500 m³ ÷ 0,060 m³/s


V= 500 m³
ϴ = 3h05min ϴ = 02h18min

ϴ = tempo de detenção hidráulica.


Fonte: Próprio Autor, 2019.

4.3. CUSTO DOS COAGULANTES

No processo de tratamento de águas para consumo humano, um bom


coagulante é essencial para que se mantenha a eficiência em toda a cadeia produtiva,
garantindo-se, assim, a qualidade do produto final. Boa parte das companhias que
realizam o tratamento de águas utiliza o sulfato de alumínio como coagulante, pelo
seu custo relativamente baixo aliado a um bom rendimento. Entretanto, em alguns
casos, uma análise mais detalhada da etapa de clarificação faz-se necessária para
avaliar a necessidade de alguma alteração ou ajuste no sistema (LIBÂNIO, 2008).

A estação de São Sebastião do Caí é abastecida com solução de sulfato de


alumínio férrico líquido 65% m/v e, para sua aplicação no ponto de dosagem, o mesmo
é diluído para uma concentração de 20%. O fornecimento do produto é realizado pela
própria empresa e corresponde a um custo estimado no valor de R$ 0,65 / kg.
Ademais, a análise dos relatórios de controle de estoque de produtos químicos revelou
que uma carga de 15 toneladas supre a demanda da ETA por um período aproximado
de 3 meses.

O produto utilizado na comparação com o sulfato de alumínio foi fornecido pela


empresa Faxon Química, situada na cidade de Campo Bom. O PAC 18% m/v possui
56
um valor médio de R$ 1,85 / kg, o que representaria um custo superior para a empresa
de R$ 1,20 / kg em relação ao sulfato de alumínio. Entretanto, a partir dos dados
obtidos neste estudo, foram necessários para a clarificação de todas as amostras
analisadas, em média, dosagens 5 vezes inferiores ao se utilizar o coagulante pré-
polimerizado. Sendo assim, a quantidade de, aproximadamente, 3 toneladas de PAC
seriam suficientes para atender a demanda necessária da estação pelo mesmo
período dos 3 meses. Na tabela 14, apresentam-se os custos envolvidos na
substituição dos coagulantes.

Tabela 2: Custos Sulfato de Alumínio x PAC.

Sulfato de Alumínio PAC

Preço / kg R$ 0,65 R$ 1,85

Consumo trimestral 15 t 3t

Custo trimestral R$ 9.750,00 R$ 5.550,00

Fonte: Próprio Autor, 2019.

Embora possua um custo por quilo bem mais elevado que o sulfato de alumínio,
o PAC, além de mostrar-se mais eficiente na remoção das partículas, necessita de
quantidades muito inferiores para o desenvolvimento da clarificação. Dessa forma, a
relação custo-benefício é corroborada pela diferença expressiva requerida de cada
coagulante para o tratamento da água, apresentando, para um período de três meses,
uma redução de R$ 4.250,00. Assim sendo, pode-se inferir que a utilização do PAC
seria viável financeiramente, diminuindo os custos envolvidos no processo, uma vez
que sua utilização ainda reduz consideravelmente a aplicação de alcalinizantes.

57
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise geral de qualquer processo, bem como a determinação de pontos


específicos que necessitem de alguma alteração ou melhoria, somente são possíveis
após o conhecimento detalhado de cada etapa que o compõe. Nas estações de
tratamento de água muitas são as variáveis que afetam o rendimento do processo e,
para tanto, devem ser conhecidas e monitoradas.

Analisando-se os dados obtidos com o teste de jarros foi possível inferir que,
para diversas amostras de água bruta com as mais variadas características, o
coagulante PAC mostrou-se mais eficiente quando comparado ao sulfato de alumínio.
A etapa de coagulação ocorreu de forma quase instantânea, de maneira que os flocos
tornaram-se aparentes em poucos segundos e rapidamente foram adquirindo
consistência e um tamanho uniforme. Logo, os tempos de floculação e sedimentação
foram reduzidos satisfatoriamente, cerca de 2,5 vezes, obtendo-se ótimos resultados
na remoção de cor, turbidez e matéria orgânica.

Em termos de dosagem, foram obtidas reduções muito expressivas: enquanto


na ETA eram aplicados, em média, 40 ppm de sulfato de alumínio, por exemplo,
durante os testes de bancada foi necessária apenas a dosagem média de 8 ppm de
PAC para desenvolver a clarificação da água bruta. Ademais, sua interferência sobre
o pH das amostras foi muito pequena, fato que ainda resultaria em uma redução na
aplicação de alcalinizantes.

Assim, ao término deste estudo, é possível inferir que a otimização da etapa de


clarificação é imprescindível para minimizar os efeitos provocados pela sobrecarga
hidráulica. Embora o coagulante PAC apresente um custo mais elevado, sua
aplicabilidade seria justificada pela redução no uso de insumos (coagulante e
alcalinizante), pela melhora na qualidade da água decantada aliada à maior eficiência
no processo de filtração e, consequentemente, um aumento significativo na qualidade
da água fornecida para a população.

58
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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