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Aula 05_Parte B - A Concepção de Naturalismo de Comênio

Temática: A Concepção de Naturalismo de Comênio

  

 Vamos seguir com o significado que Comênio atribuía ao método natural no


processo de ensino. A concepção naturalista de Comênio defende que a única
forma de conhecer a realidade é o método científico. A Ciência e o “método”
que se estabeleceu na Idade Moderna é um conhecimento que busca explicar
os fenômenos a partir de um determinismo, de uma relação causal: as mesmas
causas, nas mesmas circunstâncias, provocam os mesmos efeitos. É desse
modo que se torna possível prever os resultados.

Essa Ciência vai se apoiar na metáfora do mundo como um mecanismo, uma


máquina. A máquina que vai levar o processo da manufatura, ainda realizada
com as mãos no século XVII, para a Revolução Industrial do século XVIII. O
método científico busca a regularidade habitual dos fenômenos, a
repetibilidade, a ordem que deve ser sempre a mesma. Essa era a grande
preocupação do século XVII: a aplicação do método.

“O problema do método ou da didática é o fastidioso problema pedagógico


deste século [XVII] e suas soluções não são isentas de pedanteria, também
nos maiores autores: mas como não ver que este é o problema real,
decorrência inevitável da evolução histórica? Desde que a instrução tende,
embora lentamente, a universalizar-se e a laicizar-se, mudando destinatários,
especialistas, conteúdos e objetivos, o “como ensinar” (até as coisas mais
tradicionais, como a preparação ‘instrumental’ ou ‘formal’ do ler, escrever e
fazer contas) assume proporções gigantescas e formas novas; tanto mais se o
problema do método se entrelaça com o problema dos novos conteúdos da
instrução ‘concreta’, que surgem com o próprio progresso das ciências e com
sua relativa aplicação prática” (MANACORDA, 1989, p. 280).

Como podemos concluir a partir da citação anterior, naquele momento


histórico, tanto Ratke quanto Comênio, propuseram uma transformação no
ensino com a aplicação do “método natural”, do método científico, em função
do processo produtivo da época, que foi a passagem do trabalho artesanal
para a manufatura. Desse modo, o “método natural” atende a necessidade da
transformação produtiva. O trabalho da manufatura começa a exigir pessoas
que saibam ler, escrever e fazer contas e esse conhecimento deveria ser
difundido o mais rápido possível a um maior número de pessoas. É por essa
razão que Ratke e Comênio defenderam a formação coletiva ao invés da
individual, a busca de uma linguagem que fosse acessível ao público a que se
destinava o ensino e “a imitação da natureza, a observação e a
experimentação, os processos das artes mecânicas, os métodos da nova forma
de trabalho e da ciência“ (GASPARIN, 1994. P. 41).
O método de Comênio é bem próximo ao de Ratke, pois também indica que as
coisas deveriam ser ensinadas de acordo com a ordem da natureza, pois “tudo
o que precede” fundamenta o que se segue e deve ser ensinado gradualmente,
sem interrupções, de modo que todas as coisas novas aprendidas hoje sejam
um reforço das aprendidas ontem e uma preparação para as que serão
aprendidas amanhã (COMÊNIO, 1997, p. 279.).

Isso quer dizer que Comênio reconhecia uma sequência lógica, natural e
ininterrupta dos conteúdos a serem aprendidos e afirmava:

“Que todos se formem com uma instrução não aparente, mas verdadeira,
não superficial, mas sólida; ou seja, que o homem, enquanto animal
racional, se habitue a deixar-se guiar, não pela razão dos outros, mas pela
sua, e não apenas a ler nos livros e a entender, ou ainda a reter e a recitar
de cor as opiniões dos outros, mas a penetrar por si mesmo até ao âmago
das próprias coisas e a tirar delas conhecimentos genuínos e utilidade”
(COMÊNIO, 1997, p. 164.)

Repare na citação anterior e na preocupação de Comênio com os


conhecimentos genuínos e úteis. Poderíamos nos perguntar: úteis para que?
úteis para quem? Apesar da sua obra mais citada ser a Didática Magna, não é
neste livro que Comênio deixa pistas sobre como conseguir esse conhecimento
“genuíno e verdadeiro”. Em sua Didática Magna, Comênio apresenta os
fundamentos filosóficos, apresenta muito mais as razões sobre o porquê
ensinar, do que o procedimento de como ensinar. Volte à citação anterior de
Comênio e observe como ele indica a finalidade do processo educativo: não
“deixar-se guiar pela razão dos outros, mas pela sua”. (COMÊNIO, 1997, p.
164.) 

Como a preocupação de Comênio era a de tornar acessível o conhecimento de


tudo a todos, recomendava que se ensinasse sempre o nome de um objeto a
sua forma ou a sua imagem (CHALMEL, 2004). É a partir desse princípio que
Comênio elaborou o seu Orbis sensualium Pictus (Mundo Sensível Ilustrado),
considerado o primeiro livro escolar em que a imagem ganha destaque e que
será o tema da nossa próxima aula.

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