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O Império Romano governou grande parte da Eu-


ropa no Mediterrâneo por mais de mil anos! Entre-
tanto, o funcionamento interno do grande império
começou a declinar a partir do século III d.C.

Copyright ©Fevereiro/2020 por Jafet Numismática. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total desse e-book sem autorização expressa do autor.
Por volta de 400 d.C., a cidade de Roma estava lutan-
do com o peso de seu império gigante e com in-
vasões pelos povos germânicos. Até que, em 476
d.C., veio sua inevitável queda, marcando o fim da
Idade Antiga e o início da Idade Média!

Ainda assim, a metade oriental do Império – que viria


a ficar conhecida na história como Império Bizantino
– sobreviveu por mais de um milênio, sendo uma im-
portante potência na Idade Média.

Nesse e-book, você vai conferir os acontecimentos e


reviravoltas que culminaram na queda da cidade de
Roma, desde a divisão definitiva do império pelo im-
perador Teodósio I, em 395 d.C., até 476 d.C.

E claro, preparamos uma seleção especial com as


moedas do período para encantar todos que, assim
como eu, são apaixonados pela numismática antiga.

Boa leitura!

Gladston Jafet Chamma


Numismata e fundador da
Jafet Numismática
Em 392 d.C, o imperador romano Teodósio, o
Grande, derrotou seus rivais na famosa Batalha do
Frígido e passou a governar sozinho as duas partes
do Império Romano.

Leia depois
A Divisão do Império Romano
(E-book Grátis)

Depois da sua morte em 395 d.C., o Império Romano


do Oriente ficou sob domínio de seu filho Arcádio. Já o
Império Romano do Ocidente, foi destinado a seu filho
mais novo, Honório, que tinha como tutor e defensor o
mestre dos soldados, Flávio Estilicão.

Síliqua datada de 392-395, que traz Arcádio com diadema


de pérola no anverso. Moeda cunhada em Constantinopla.

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Síliqua com o imperador Honório no anverso. No reverso,
traz a personificação de Roma segurando a deusa Vitória.
Moeda cunhada em Aquileia entre 407-408 d.C.

Veja as moedas do imperador


Honório disponíveis à venda
(Loja Online)

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Arcádio e Honório tinham políticas diferentes e não con-
cordavam nesse quesito. Uma de suas principais dis-
cordâncias era em relação a Estilicão, chefe das tropas
ocidentais. E, foi ele que, após a morte de Teodósio,
governou efetivamente o Império Ocidental.

Filho de pai bárbaro (que serviu o imperador Valente)


e mãe romana, Estilicão se considerava romano. Ele é
uma personagem considerada controversa pelos histori-
adores. Mesmo considerado pela maioria como fiel à cau-
sa do Império Romano do Ocidente, é inegável que suas
ações contribuíram para a queda do império em 476.

No início, Estilicão enfrentou inúmeras invasões bár-


baras. A política romana de estabelecer visigodos dentro
do império funcionou bem de 382 a 395. Porém, depois
desse período, as forças góticas vagaram praticamente
sem controle pelo império!

Réplica de escultura de marfim do general Estilicão com sua


esposa e filho. A original, esculpida em 395, fica na Itália.

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Alarico, rei dos visigodos, havia comandado unidades
de auxílio ao imperador Teodósio, ajudando a conquis-
tar importantes vitórias, como a da Batalha do rio Frígi-
do. Mas após a divisão, ele foi represado pelo imperador
Honório e não recebeu reconhecimento por seus es-
forços militares.

Assim, Alarico liderou uma rebelião gótica em 395. Em


402, Alarico invadiu a Itália, mas Estilicão conseguiu
força-lo a recuar. Porém, em 405, Alarico se tornou o
menor dos problemas de Estilicão. O território romano
sofreu uma invasão maciça sob o líder gótico Radagaiso.

Para combater essa ameaça, Estilicão mobilizou 30 regi-


mentos do exército de campo da Itália e completou com
um contingente da fronteira do Reno. Com essa força,
Estilicão prendeu e executou Radagaiso em 406. Ele tam-
bém convenceu grande parte dos soldados inimigos a se
juntar ao exército romano!

Entretanto, Estilicão foi muito menos eficaz em lidar com


vândalos, alanos e suevos. Nesse mesmo ano, esses po-
vos invadiram a província da Gália atravessando o rio
Reno congelado. Dessa forma, junto com os visigodos,
esses povos não saíram mais do império e fundaram os
primeiros reinos romano-germânicos.

Migrações germânicas em territórios romanos


entre os séculos IV e V.
(Clique para ver o mapa com detalhes).

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No auge dessa confusão, em 407, Alarico voltou a invadir
a Itália. Desta vez, Stilicão convenceu o senado romano
a pagar uma recompensa para Alarico. Isso enfraqueceu
gravemente a posição de Estilicão na corte.

Em agosto de 408, seus principais apoiadores morreram


durante uma revolta iniciada pelos seguidores de Rad-
agaiso. Pouco tempo depois, provavelmente a mando do
imperador Honório, Estilicão foi assassinado em Ravena!

Após sua morte, soldados leais à Honório mataram mil-


hares de bárbaros instalados na Itália, incluindo mul-
heres e crianças. Durante o período em que Estilicão se
manteve como chefe das tropas do Ocidente (395-408), o
Império Oriental não cooperou com o império Ocidental,
o que foi uma das principais causas da queda de Roma.

Sólido de ouro do imperador Honório datado


de 395-402. Cunhado em Mediolano (capital do
império ocidental até 402).

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O que Alarico realmente queria era uma terra onde seu
povo pudesse se estabelecer e ser aceito dentro do
império. Porém, isso era algo que o imperador Honório
não lhe daria. Então, em 410, Alarico liderou os visigo-
dos para algo que fazia mais de 8 séculos que não era
feito: uma invasão a Roma!

Nessa época, a capi-


tal do Império Romano
Ocidental era Ravena
(desde 402 d.C.). Apesar
disso, Roma ainda tinha
grande significado sim-
bólico e emocional, fa-
zendo com que o saque
reverberasse por todo o
Império!

Assim, embora a ci-


dade e o Império Roma-
no Ocidental tenham
sobrevivido, esse fato
deixou uma marca in-
delével que não pôde O saque de Roma pelos visigodos
em 410 retratado em pintura de
ser apagada! J-N Sylvestre (1890).

Com a ajuda de escravos de dentro de Roma, Alarico e


seus soldados entraram pelos portões de Roma, onde
permaneceram por três dias, saqueando totalmente a
cidade.

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Eles destruíram templos pagãos, queimaram a antiga
Casa do Senado, saquearam edifícios aristocratas. Mas,
como eram cristãos arianos, os visigodos deixaram in-
tocadas igrejas como a Basílica de São Pedro e de São
Paulo, onde pessoas buscaram abrigo durante os dias
do saque.

Durante a invasão, o imperador Honório permaneceu


completamente cego para a seriedade da situação.
Enquanto concordava temporariamente com as de-
mandas do rei visigodo, 6 mil soldados romanos foram
enviados para defender a cidade. Porém foram rapida-
mente derrotados pelas forças inimigas.

Os visigodos deixaram Roma após três dias. Além de


ouro e prata, levaram prisioneiros, que haviam toma-
do como escravos ou como resgate. Um dos cativos
era a meia-irmã do imperador Honório, Gala Placídia,
de apenas 20 anos, que, segundo os pesquisadores, foi
tratada de maneira respeitosa pelos visigodos.

Sólido de Gala Placídia cunhado em Ravena entre 421-422


d.C., quando ela era imperatriz consorte de Constâncio III.

As maiores imperatrizes romanas – Loja Online

Depois do saque a Roma, os visigodos saíram da Itália


e se estabeleceram no oeste da Gália.

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Dessa forma, em 410, enquanto as forças romanas
tentavam restabelecer a ordem na Gália, enfren-
taram mais um desafio!

O general que comandava a guarnição romana na


Britânia se declarou imperador, liderando suas tro-
pas através do Canal com o objetivo de expulsar os
bárbaros e estabelecer seu domínio!

Mas, ele acabou falhando em seus objetivos! As uni-


dades trazidas da Britânia nunca mais retornaram
ao ponto de origem e foram usadas como reforço
para as forças romanas na Gália.

Dessa forma, os habitantes da Britânia foram deixa-


dos para se defender da forma que podiam.

A caótica situação política do império no fim do ano 410 d.C.


(Clique para ver o mapa com detalhes)

Já na Gália, algum nível de ordem foi estabelecido nos


anos posteriores a 410. As forças romanas continuaram
efetivas e, na maioria das vezes, quando lutavam contra
tropas germânicas, saíam vitoriosas.

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No entanto, as defesas da fronteira do Reno não es-
tavam mais operando efetivamente. Assim, o exér-
cito romano estava fraco demais para expulsar os
bárbaros de seu território.

Dessa forma, as tribos se estabeleceram nas provín-


cias romanas do Oeste. Os visigodos e burgúndios
logo se tornaram aliados dos romanos, fornecendo
serviço militar!

Porém, os vândalos instalados na Espanha perman-


eceram hostis. Em 418, os visigodos, com a per-
missão dos romanos, invadiram a Espanha e ocu-
param grande parte desse território.

Síliqua do rei dos vândalos, Genserico (428-477) em


nome do imperador romano ocidental Honório.

Isso levou uma grande parcela dos vândalos a


cruzar para o norte da África. No ano 440, eles já
haviam estabelecido firmemente seu domínio so-
bre esta rica região, haviam construído uma frota
e tinham controle das ilhas da Sicília, Sardenha e
Córsega!
Mesmo agora dentro de terras sob domínios de várias
tribos germânicas, a administração romana anterior
continuou a funcionar até certo ponto. A lei romana
continuou a ser aplicada às populações romanas, en-
quanto os germânicos mantiveram os costumes de
suas respectivas tribos.

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Valentiniano III, sobrinho de Honório, era o impera-
dor romano ocidental de 425-455 d.C. O poder real
estava nas mãos de seu chefe militar, o general Aécio.
Enquanto vivo, Aécio conseguiu manter os bárbaros
sob controle na Gália e na Espanha.

Sólido do imperador Valentiniano III cunhado em Ravena


(426-430). A peça também traz o imperador no reverso, em
pé e segurando uma longa cruz e a deusa Vitória no globo.

Entretanto, no final da década de 430, os hunos, que


moravam na Europa Oriental, ficaram inquietos. Eles pre-
tendiam tirar proveito da confusão no império para ex-
pandir seu poder.

Em 451, sob liderança do famoso Átila, os hunos marcha-


ram para o Oeste, planejando conquistar as províncias
romanas desse lado. E esse era um evento muito espera-
do e temido por romanos e germânicos.

Assim, na Batalha dos Campos Cataláunicos, as forças


de Átila, o Huno foram derrotadas pelo exército roma-
no-visigótico, com liderança romana de Aécio e visigóti-
ca do rei Teodorico I (genro de Alarico, já morto em 410).

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Reconstituição do que teria sido a aparência de Átila,
o Huno, com base em registros arqueológicos.

Os hunos então invadiram brevemente o norte da Itália,


rapidamente se retirando para os Bálcãs – embora não
antes sem destruir completamente uma grande cidade
romana: a Aquileia.

Átila morreu logo depois e, enquanto o comando era dis-


putado por líderes rivais, o poder dos hunos diminuiu.
Em pouco tempo eles foram absorvidos pelos povos viz-
inhos e o medo que um dia suscitaram tornou-se nada
mais do que uma vaga lembrança!

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Por sua conhecida bravura e,
principalmente, após a vitória
contra Átila, o Huno, Aécio
viu sua popularidade cada
vez maior. Então, Valentini-
ano III começou a suspeitar
que seu general estivesse tr-
amando uma intriga para lhe
roubar o trono. Assim Aécio Relevo que os historiadores acredi-
foi assassinado em 454. tam representar o general Aécio.

4 generais romanos e seus maiores feitos - Blog

No ano seguinte, dois oficiais leais à Aécio acabaram assassi-


nando o imperador Valentiniano III durante um desfile mili-
tar. De acordo com os historiadores, essas intrigas e esquemas
foram planejadas pelo magistrado Petrônio Máximo, que con-
seguiu suceder Valentiniano como imperador do ocidente.

Petrônio também foi vítima de uma intriga e foi assassinado


apenas 11 semanas após ascender como imperador!

Sólido do imperador Petrônio Máximo cunhado em 455. O reverso segue


o padrão da moeda do imperador Valentiniano III: o imperador está em pé,
segurando uma longa cruz e a deusa Vitória está no globo.

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Após a morte de Aécio e Valentiniano III, os acordos de
casamento que haviam sido negociados entre o impera-
dor assassinado e o rei dos vândalos foram anulados. Isso
levou o rei vândalo furioso a liderar um ataque à Roma!

Esse segundo saque foi muito mais destrutivo do que o ex-


ecutado pelos visigodos em 410. Templos, palácios e out-
ros prédios públicos foram despidos de seus ornamentos
em ouro e prata. Cativos foram levados para o norte da
África como escravos.

Pintura de Karl Briullov representando Genserico e seus solda-


dos saqueando Roma.

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Na confusão que seguiu, um general de origem
germânica chamado Ricimero chegou ao poder
como líder do exército romano. Ele não conseguiu
dominar o palco como Stilicão e Aécio tinham feito
quando estavam em sua posição.

Moeda do imperador romano Líbio Severo. Traz no rever-


so monograma do general Ricimero. Cunhada em Roma,
entre 461-465.

Nesse momento, o poder já estava muito fragmen-


tado: existiam diferentes facções da corte em Rav-
ena, atores externos como os senadores em Roma,
reis bárbaros e comandantes semi-independentes
de exército romanos na Itália, Gália e Bálcãs.

Assim, os últimos imperadores eram marionetes


puxadas de um lado ou de outro, todos reinando
por alguns anos, no máximo, nenhum capaz de re-
alizar um grande feito!

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Após a morte de Ricimero em 472, os imperadores
do lado ocidental continuaram a ascender em rápida
sucessão. Em 474, o imperador era Júlio Nepos, que
nomeou como mestre dos soldados do exército roma-
no o general germânico Flávio Orestes.

Orestes logo assumiu o poder e obrigou Júlio Nepos a


fugir. Por ser de origem germânica, ele não podia as-
sumir como imperador. Empossou assim seu filho ain-
da adolescente, Rômulo Augústulo, que tinha mãe ro-
mana, como o novo soberano.

Tremissa cunhada em Roma em 475-476 d.C. Traz


Rômulo Augústulo no anverso. No reverso, apresen-
ta uma cruz dentro da coroa.

Conheça detalhes da história do último imperador romano - Blog

Durante seu governo, o império continuou sofrendo


invasões pelos povos bárbaros até que, em 476 d.C., os
hérulos sob liderança de Odoacro, tomaram o poder!

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Odoacro não queria um imperador fantoche e enviou
Rômulo para o exílio. Mas o rei dos hérulos tampou-
co quis se tornar imperador romano. Zenão, imperador
do Império Romano do Oriente naquela época, recon-
heceu Odoacro como rei da Itália sob sua autoridade
(nominal).

O império romano mais uma vez tinha apenas um im-


perador – embora a essa altura o império ocidental
tivesse deixado de existir efetivamente!

Reinos germânicos após a queda do Império Romano


do Ocidente em 476 d.C.
(Clique para ver o mapa com detalhes)

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Como no Ocidente, durante o século V d.C., os imper-
adores do Império Oriental estiveram sob domínio de
poderosos ministros. No entanto, a administração im-
perial de Constantinopla continuou a funcionar de ma-
neira suave e eficaz. Dessa forma, o lado Leste perman-
eceu intacto durante o período em que o Império do
Ocidente estava passando por toda sua agonia.

Desde a divisão em 395, os impostos coletados no Ori-


ente eram gastos no Oriente. E as províncias desse lado
do império eram mais ricas do que as do Ocidente.

A Economia e Cunhagem do Império Bizantino - Blog

O Império Oriental não sofreu com grandes invasões bár-


baras, tinha um exército com força total e conseguiu sub-
ornar bárbaros para que se afastassem de seus territórios.

Para a população como um todo, a vida no império


Romano do Oriente continuou como antes. Eventual-
mente, a civilização se afastou de suas raízes clássicas.
O cristianismo era forte e sua cultura e língua eram cada
vez mais gregas do que latinas.

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Por isso, ficou conhecido na história como Império Bi-
zantino (graças ao antigo nome de Constantinopla, que
era Bizâncio) em vez de Império Romano. E esse império
duraria mais de mil anos, até 1453, preservando grande
parte das antigas civilizações grega e romana!

Confira as moedas bizantinas disponíveis à venda -


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Outros E-books Para
Você se Aprofundar Ainda Mais:

A Divisão do Império Romano


O Império Romano teve sua adminis-
tração e território divididos diversas vez-
es ao longo dos anos. Porém, foi apenas
em 395 d.C., com a morte do imperador
Teodósio I, que veio a famosa divisão de-
finitiva entre Império Romano do Oci-
dente e Império Romano do Oriente.

A Era de Constantino, o Grande


Constantino I, estabeleceu importantes
reformas administrativas, econômi-
cas, monetárias, militares e religio-
sas, capazes de estabilizar um império
em decadência. Ficou mais conheci-
do por ter legalizado o cristianismo
e pela criação de nova capital para o
império: a poderosa Constantinopla.

Tetrarquia Romana
Quando assumiu como imperador, Di-
ocleciano sabia que sozinho podia sof-
rer um golpe de estado. Assim, promul-
gou a Tetrarquia, dividindo o governo
do grande império romano com out-
ros 3 imperadores. Mais tarde, uma
guerra civil se instalou entre os her-
deiros dos tetrarcas e usurpadores.

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