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VILLALBA, L.F. (Mestrando)
UNIGRANRIO/RJ
Resumo: Ao olharmos uma foto, instantaneamente nos remetemos ao dia em que ela foi feita, ou
se ela não faz parte da nossa história, tentamos identificar a qual momento nos traz aquela imagem. Em
sua obra A Memória Coletiva, Halbwachs nos indaga a respeito da relevância de “reconstruir ou
reconstituir a noção histórica de um fato que certamente aconteceu, mas do qual não guardamos nenhuma
impressão, para se construir uma lembrança em todas as suas peças.”
Este trabalho busca uma discussão acerca da fotografia como suporte da memória coletiva pensada por
Halbwachs. Passando por algumas discussões sobre memória, analisando a importância dos álbuns de
família e pela Análise Iconográfica e Interpretação Iconológica de Panofsky.
1 –Introdução
Ao olharmos uma foto, instantaneamente nos remetemos ao dia em que ela foi
feita, ou se ela não faz parte da nossa história, tentamos identificar a qual momento nos
traz aquela imagem. Em sua obra A Memória Coletiva, Halbwachs nos indaga a respeito
da relevância de “reconstruir ou reconstituir a noção histórica de um fato que
certamente aconteceu, mas do qual não guardamos nenhuma impressão, para se
construir uma lembrança em todas as suas peças.” (p.91).
Ele assinala que às vezes, para conseguirmos reconstruir uma lembrança, é
necessário trazer uma espécie de “semente da rememoração.” (p.32). A fotografia pode
ser encarada como um tipo dessa semente. Quando Halbwachs fala das diferenças entre
memórias coletivas e memória histórica, diz que na memória, o grupo tem a
confirmação de que continua o mesmo, passando a buscar sua identidade através do
tempo, já a história, deixa esses intervalos de lado transformando esse período em
cotidiano, sem alterações relevantes.
2 –Fotografia e Memória
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FONTE: Dicionário Aulete online (http://www.aulete.com.br/memoria) Acesso: 25/07/2014
É preciso que haja um testemunho para que um fato se perpetue e se torne
memória para um grupo. A esse testemunho, segundo Halbwachs, recorremos “para
reforçar ou enfraquecer e também para completar o que sabemos de um evento sobre o
qual já tivemos alguma informação” (HALBWACHS, 2006). Mas o que gostaria de
destacar e fazer uma relação com a fotografia, é que, além disso, ele diz que para
confirmar ou recordar uma lembrança, não são necessários testemunhos, no sentido
literal, não é preciso que tenhamos indivíduos presentes naquele momento para que ele
realmente tenha existido. Nesse caso, bastaria que eu visualizasse uma imagem
capturada pelas lentes de uma câmera sobre aquele fato, paisagem, viagem, etc. e eu
automaticamente começaria a confirmar aquela lembrança, criando uma memória
mesmo sem ter estado lá.
Por ser considerada a captação de um instante ou o "congelamento da uma
realidade" e em razão de seu efeito depender da existência de um objeto real diante das
lentes e de um indivíduo que "aperta o botão" (testemunha ocular de tal fato), a
fotografia nos fornece (ou deveria nos fornecer) provas. Sua natureza parece ser muito
próxima à da denúncia, pois geralmente a comprovação de um acontecimento é mais
rápida quando há fotos dele. "A fotografia pode constituir perfeitamente a prova
irrefutável de que certo evento ocorreu." (SONTAG, 1981)
Sobre isso, é importante pensarmos que quando observamos uma fotografia,
devemos estar cientes de que a nossa compreensão do real será, sem querer,
influenciada por uma ou várias interpretações anteriores. Por mais isenta que possa
parecer, o passado sempre será visto ali com os olhos do fotógrafo que optou por um
determinado ponto de vista, desde a captura, passando pelo processamento (seja ele
digital ou analógico) até a imagem final. Entre o que está sendo fotografado e a imagem
final, ocorreram inúmeras interferências que podem alterar a primeira informação. Tal
fato ocorre mais vezes no fotojornalismo, aonde as imagens são associadas a textos, que
orientam a leitura desta com objetivos nem sempre honestos, digamos assim.
Essas interferências são explicadas por Kossoy quando ele diz que o fotógrafo
funciona como um filtro cultural (KOSSOY, 2001) e que outros filtros são colocados ali
como o do contratante, ao fazer certo uso da imagem, alterando de certa maneira a
informação do ocorrido.
Portanto, apesar da aparente neutralidade e imparcialidade do olho da câmera, a
fotografia será sempre uma interpretação, pois o fotógrafo quando ali está, prestes a
apertar o botão, ele também está carregando consigo toda a bagagem cultural que ele
detém, todos os conceitos e preconceitos, fazendo com que esse seja o seu "filtro".
Apesar do amplo potencial de informação que essa imagem carrega consigo, ela não
substitui a realidade tal como se deu no passado. Na verdade, ela nos traz informações
visuais de um momento, um pedaço do real, que foi selecionado (pelos filtros do
fotógrafo, contratante, etc.) e organizado de acordo com as suas necessidades.
Corroborando com esse pensamento encontramos em Pollak um bom exemplo, o
das datas oficiais: "Todos sabem que até as datas oficiais são fortemente estruturadas do
ponto de vista político. Quando se procura enquadrar a memória nacional por meio de
datas oficialmente selecionadas para as festas nacionais, há muitas vezes problemas de
luta política." (POLLACK, 1992) Sacramentando assim que a memória é um fenômeno
construído.
A memória é seletiva, nem tudo fica gravado e registrado (POLLAK, 1992). Nós
mesmos fazemos essa seleção. Nos álbuns de família, por exemplo, só se guardam
momentos felizes, apesar de em alguns álbuns do século XIX e início do XX terem em
suas páginas fotos de entes queridos mortos (prática comum nesse tempo) aonde todos
os momentos da família deveriam ser registrados. Até o último, nesses casos.
Para Halbwachs, mesmo que aparentemente particular, a memória acabará se
remetendo a um grupo; o indivíduo traz em si a lembrança, porém este mesmo
indivíduo está interagindo na sociedade, já que “nossas lembranças permanecem
coletivas e nos são lembradas por outros, ainda que se trate de eventos em que somente
nós estivemos envolvidos e objetos que somente nós vimos” (HALBWACHS, 2006). O
exemplo dado por ele de um grupo de uma turma, e seu professor, é bem esclarecedor
quando se fala da importância do grupo para a memória e nos casos em que outros
reconstroem para nós eventos que vivemos com eles:
Cada um dos membros daquela sociedade era definido para nós por
seu lugar no conjunto dos outros e não por suas relações com outros
ambientes, que ignorávamos. Todas as lembranças que poderiam ter origem
dentro da turma se apoiavam uma na outra e não em recordações exteriores.
Assim, por força das circunstâncias, a duração de uma memória desse tipo
estava limitada à duração do grupo. (HALBWACHS, 2006, p.35)
Interpretação Iconológica
Considerações Finais
KOSSOY, Boris. Fotografia & História – São Paulo: Ateliê Editorial, 2001;