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Introdução ao Estudo das Dez Sefirot

Posted by Cabala em Portugal | 20:21 | artigo, baal hasulam, cabala

“Rabbi Yehuda Leib HaLevi Ashlag (1884-1954) é conhecido como Baal


HaSulam pelo seus comentários - Sulam(escada) - sobre o Livro do Zohar. Baal
HaSulam dedicou sua vida às interpretações e inovações da sabedoria da
Cabala, disseminando-a por Israel e por todo o mundo. Desenvolveu um
método especial para o estudo da Cabala, pelo qual, qualquer pessoa pode se
aprofundar na amplitude da realidade e conhecer suas raízes e o propósito de
sua existência.”-Fonte: Instituto Bnei Baruch

Introdução ao Estudo das Dez Sefirot

1) No início das minhas palavras, sinto uma grande necessidade de quebrar um muro de ferro
que nos tem separado da sabedoria da Cabala, desde a ruína do Templo até à geração actual.
Encontra-se pesadamente sobre nós e levanta o receio de nos termos esquecido de Israel.

No entanto, quando falo com alguém sobre este estudo, a sua primeira pergunta é: "Por que devo
eu saber quantos anjos existem no céu e quais os seus nomes? Não posso eu cumprir toda a
Torá, em todos os seus detalhes e complexidades, sem este conhecimento? "

Em segundo lugar, ele perguntará: "Os sábios já determinaram que é necessário, em primeiro
lugar, encher a barriga com Mishná e Gemará. Assim, como pode alguém enganar-se a si
mesmo, dizendo que já completou toda a Torá revelada e que lhe falta apenas a sabedoria do
oculto?"
Terceiro, ele tem medo de se tornar amargo por causa deste envolvimento. Isto deve-se a já
terem existido casos de desvio do caminho da Torá por causa de envolvimento na Cabala. Assim:
"Por que preciso deste incomodo? Quem é tão tolo ao ponto de se colocar em perigo sem
qualquer motivo?"

Quarto: Até mesmo aqueles que são a favor deste estudo permitem-no apenas aos sagrados, aos
servos do Criador. E nem todos os que desejam ter o Senhor podem chegar e levar.

Em quinto lugar, e mais importante: "Há o costume no nosso meio de, em caso de dúvida, seguir:
“Faz como as pessoas fazem”", e os meus olhos vêem que todos aqueles que estudam a Torá na
minha geração têm a mesma mente e abstêm-se de estudar o oculto. Para além disso, eles
aconselham aqueles que os consultam que é sem dúvida preferível estudar uma página de
Gemará a este envolvimento.
2) Na verdade, se dispusermos os nossos corações para responder somente a uma questão
muito famosa, estou seguro de que todas estas questões e dúvidas desaparecerão do horizonte,
e você olhará para o seu lugar e descobrirá que desapareceram. Esta questão indignada é uma
questão que todo o mundo pergunta, nomeadamente: "Qual é o significado da minha vida?" Por
outras palavras, estes anos passados da nossa vida que nos custam tão pesadamente, e as
dores e tormentos numerosos que sofremos com eles, para os concluirmos completamente,
quem é que os aprecia? Ou, mais precisamente ainda, a quem dou prazer?

É verdade que os historiadores se fartaram de reflectir sobre isto, particularmente na nossa


geração. Ninguém quer mesmo considerá-lo. No entanto, a questão permanece tão amarga e
veemente como sempre. Às vezes chega sem ser convidada, dá-nos bicadas nas nossas mentes
e humilha-nos até nos colocar de rastos, até descobrirmos o famoso truque de prosseguirmos
sem pensarmos, fluindo nas correntes da vida, como sempre.

3) Na verdade, é para resolver este grande enigma que o verso escreve: "Prova e vê que o
Senhor é bom". Aqueles que cumprem correctamente a Torá e os Mitzvot são os que sentem o
gosto da vida. São eles que vêem e testemunham que o Senhor é bom, como os nossos sábios
dizem, que Ele criou o mundo para fazer bem às Suas criações, pois a orientação do Bom é fazer
bem.

No entanto, aqueles que ainda não provaram o gosto da vida ao cumprir a Torá e os Mitzvot não
podem sentir e compreender que o Senhor é bom, como dizem os nossos sábios que, quando o
Criador nos criou, o Seu único objectivo foi beneficiar-nos. Portanto, não temos outro conselho
senão cumprir correctamente a Torá e os Mitzvot.

Está escrito na Torá (Parashat Nitzavim): "Vê, eu coloquei neste dia diante de ti a vida e o bem, a
morte e o mal". Isto significa que antes da entrega da Torá tivemos apenas morte e mal diante de
nós, como dizem os nossos sábios: "Os ímpios, na sua vida, são chamados de 'mortos'". Isto
porque a sua morte é melhor do que as suas vidas, dado que a dor e o sofrimento que suportam
para o seu sustento é muitas vezes maior do que o pouco prazer que eles sentem nesta vida.

No entanto, agora foram-nos concedidos a Torá e os Mitzvot, e por os cumprirmos seremos


recompensados com a vida real, alegre e agradável ao seu dono, como está escrito: "Prova e vê
que o Senhor é bom". Portanto, a escrita diz: "Vê, eu coloquei neste dia diante de ti a vida e o
bem", que você não tem minimamente, na verdade, antes da entrega da Torá.

E o texto termina: "portanto escolhe a vida, para que possas viver, tu e a tua descendência".
Aparentemente, há uma declaração repetida aqui: "escolhe a vida, para que possas viver". No
entanto, é uma referência para a vida no cumprimento da Torá e Mitzvot, que é quando existe
vida real. Porém, uma vida sem Torá e Mitzvot é mais difícil do que a morte. Este é o significado
das palavras dos nossos sábios: “Os ímpios, nas suas vidas, são chamados de "mortos"”.

A escritura diz: "para que possas viver, tu e a tua descendência". Isto significa que uma vida sem
Torá não só é triste para o seu dono, como também não poderá dar prazer a outros. Uma pessoa
não encontra satisfação nem na sua descendência, uma vez que a vida da sua descendência
também é mais difícil do que a morte. De facto, que presente lhes deixa?

No entanto, aquele que vive em Torá e Mitzvot não só desfruta da sua própria vida, como também
tem alegria por poder ter filhos e legar-lhes essa vida boa. Este é o significado de: "para que
possas viver, tu e a tua descendência", pois ele recebe prazer adicional pela vida da sua
descendência, da qual ele foi a causa.

4) Agora você pode entender as palavras dos nossos sábios sobre o verso: "portanto, escolhe a
vida". Afirma: "Eu dei-te instruções para escolheres a parte da vida, como quem diz ao seu filho:
“Escolhe para ti uma boa parte na minha terra”. Ele coloca-o na parte boa e diz-lhe: “Escolhe isto
para ti”". Está escrito sobre isto: "Ó Senhor, a porção da minha herança e a minha taça, Tu
mantiveste o meu lote. Tu colocaste a minha mão sobre o destino bom e disseste: 'Toma isto para
ti".

As palavras são aparentemente perplexas. O verso diz: " portanto escolhe a vida". Isto significa
que uma pessoa escolhe por si. No entanto, eles dizem que Ele a coloca sobre a parte boa.
Portanto, já não existirá escolha aqui? Além disso, eles dizem que o Criador coloca a mão sobre
o destino bom. Isto é realmente desconcertante, porque se assim for, onde está então a escolha?

Agora você pode ver o verdadeiro significado das suas palavras. É verdade que o próprio Criador
coloca a mão de uma pessoa sobre o destino bom, dando-lhe uma vida de prazer e satisfação
dentro da vida corpórea que está cheia de tormentos e dor, e desprovida de conteúdo. Uma
pessoa parte inevitavelmente e foge deles quando vê um lugar tranquilo, mesmo que
aparentemente apareça no meio de rachas. Ele foge da sua vida, que é mais difícil do que a
morte. Na verdade, não há melhor colocação da sua mão por Ele do que isto.

E a escolha de uma pessoa cinge-se apenas ao fortalecimento. Isto porque certamente ocorre
aqui um grande esforço e empenho antes de uma pessoa purificar o corpo para ser capaz de
cumprir correctamente a Torá e os Mitzvot, não para o seu próprio prazer, mas para trazer
satisfação ao seu Criador, o que é chamado Lishma (em Seu Nome). Somente desta forma é
uma pessoa dotada com uma vida de felicidade e prazer, que acompanha o cumprimento da
Torá.

No entanto, antes de uma pessoa chegar a essa purificação, existe certamente a opção de
fortalecer no bom sentido, através de todos os tipos de meios e tácticas. Além disso, deve-se
fazer tudo o que a mão tenha força para fazer até terminar o trabalho de purificação, e não cair
sob o seu fardo a meio caminho.

5) De acordo com o mencionado acima, você vai compreender as palavras dos nossos sábios em
Masechet Avot: "Assim é o caminho da Torá: comer pão com sal, beber pouca água, dormir no
chão, levar uma vida sofrida e de trabalho na Torá. Se assim o fizeres, serás feliz; feliz neste
mundo e feliz no próximo mundo".

Temos de questionar as suas palavras: em que é a sabedoria da Torá diferente dos outros
ensinamentos no mundo, que não necessitam deste ascetismo e desta vida sofrida, mas em que
o próprio trabalho é suficiente para adquirir esses ensinamentos? Mesmo que trabalhemos
extensivamente na Torá, isso ainda não é suficiente para adquirir a sabedoria da Torá, senão
através da mortificação de pão com sal e uma vida sofrida.

O fim das palavras é ainda mais surpreendente, ao terem dito: "Se assim o fizeres, serás feliz,
feliz neste mundo e feliz no próximo mundo". Isto significa que é possível que eu seja feliz no
próximo mundo. Mas neste mundo, enquanto eu me atormentar ao comer e beber, e levar uma
vida sofrida, deveria ser dito sobre este tipo de vida: "feliz neste mundo?" É este o significado de
uma vida feliz neste mundo?

6) No entanto, foi explicado anteriormente que o envolvimento correcto em Torá e Mitzvot, em


sentido estrito, consiste em dar satisfação ao Criador e não em auto-gratificação. E isto é
impossível de alcançar, excepto através de grande trabalho e esforço na purificação do corpo.

A primeira táctica é uma pessoa acostumar-se a não receber nada para o seu prazer, mesmo as
coisas necessárias e permitidas para a existência do seu corpo, como comer, beber, dormir e
outras necessidades similares. Assim, irá separar-se completamente de todo o prazer que vem
consigo, mesmo nas necessidades, no preenchimento da própria subsistência, até que leve uma
vida sofrida no seu sentido literal.

E depois de uma pessoa se acostumar a isso e o seu corpo não possuir qualquer desejo de
receber qualquer prazer para si, é-lhe agora possível envolver-se na Torá e cumprir
os Mitzvot também dessa maneira, com o objectivo de dar satisfação ao seu Criador e de obter
nada para o seu próprio prazer.

Quando se adquire isso, é-se recompensado com o gosto da vida feliz, cheia de bondade e
alegria, sem qualquer laivo de tristeza, que aparece com a prática da Torá e dos Mitzvot Lishma.
É como diz o Rabino Meir (Avot 86): "Qualquer um que se envolva em Torá Lishma é-lhe
concedido muitas coisas. Mais, o mundo inteiro é gratificante para ele, os segredos da Torá são-
lhe revelados e ele torna-se uma fonte abundante".

É sobre ele que o verso diz: "Prova e vê que o Senhor é bom". Aquele que experimenta o sabor
da prática de Torá e Mitzvot Lishma é dotado com a sua visão da intenção da Criação, que
consiste em fazer apenas bem às Suas criações, dado que a conduta do Bom é fazer bem.
Então, ele alegra-se e regojiza-se com o número de anos de vida que o Criador lhe concedeu, e o
mundo inteiro é gratificante para ele.

7) Agora você entenderá os dois lados da moeda sobre o envolvimento na Torá e nos Mitzvot: por
um lado, é o percurso da Torá, ou seja, a preparação extensiva que é preciso fazer para preparar
a purificação do seu corpo antes de ser realmente recompensado com o cumprimento da Torá e
dosMitzvot.

Nesse estado, ele envolve-se necessariamente em Torá e Mitzvot Lo Lishma (não em Seu nome),
mas misturado com auto-satisfação. Isto deve-se a ele ainda não ter purificado e limpo o seu
corpo do desejo de obter prazer das vaidades deste mundo. Durante este período, deve-se levar
uma vida sofrida e trabalhar na Torá, como está escrito no Mishná.

No entanto, após uma pessoa completar o percurso da Torá, ter purificado o seu corpo e estar
agora pronto para cumprir a Torá e os Mitzvot Lishma para trazer satisfação ao seu Criador, ele
chega ao outro lado da moeda. Esta é a vida de prazer e de grande tranquilidade, relativamente à
qual a intenção da Criação - "fazer bem às Suas criações" – se refere, o que significa a vida mais
feliz neste mundo e no próximo mundo.

8) Isto explica a grande diferença entre a sabedoria da Torá e o resto dos ensinamentos do
mundo: adquirir os outros ensinamentos do mundo não beneficia em nada a vida neste mundo.
Isto porque eles nem sequer apresentam mera gratificação para os tormentos e sofrimentos que
uma pessoa experiência durante a vida. Portanto, não é necessário corrigir o corpo, e o trabalho
que ele dá em troca por eles é suficiente, como todos os outros bens mundanos adquiridos em
troca de trabalho e labor.

No entanto, o único propósito do envolvimento em Torá e Mitzvot é tornar uma pessoa digna de
receber toda a bondade na intenção da Criação: "fazer bem às suas criações". Portanto, é
necessário purificar o próprio corpo para merecer essa bondade Divina.

9) Isto também esclarece completamente as palavras do Mishná: "Se assim o fizeres, serás feliz
neste mundo". Eles especificaram-no precisa e deliberadamente, para indicar que uma vida feliz
neste mundo é apenas para aqueles que tenham concluído o caminho da Torá. Assim, a
mortificação em comer, beber, dormir e levar uma vida sofrida, que são aqui mencionadas, só se
aplicam quando se está no caminho da Torá. É por isso que meticulosamente declararam: "Assim
é o caminho da Torá".

E quando se completa o percurso de Lo Lishma na vida sofrida e mortificada, o Mishná termina:


"... feliz és neste mundo". Isto porque lhe será concedida a felicidade e bondade na intenção da
Criação, e todo o mundo será gratificante para si, mesmo este mundo, quanto mais o próximo
mundo.

10) O Zohar (Beresheet, 31b) escreve sobre o verso: "E Deus disse: 'Haja luz' e houve luz",
houve luz para este mundo e houve luz para o próximo mundo. Isto significa que os actos de
criação foram criados na estatura e forma plenas, ou seja, na sua completa glória e perfeição.
Assim, a Luz que foi criada no primeiro dia surgiu com toda a sua perfeição, contendo a vida
deste mundo, também, em total amenidade e suavidade, tal como expresso nas palavras: "Haja
luz".

No entanto, para preparar um lugar de escolha e de trabalho, Ele reteve-a e escondeu-a para os
justos no fim dos dias, como dizem os nossos sábios. Por isso, eles disseram na sua língua pura:
"Haja Luz para este mundo". No entanto, não permaneceu assim, mas "Haja Luz para o próximo
mundo".

Por outras palavras, aqueles que praticam a Torá e Mitzvot Lishma são recompensados apenas
no fim dos dias, durante o fim dos dias, após terminar a purificação do seu corpo no caminho da
Torá. Então eles são recompensados também com essa grande Luz neste mundo, como os
nossos sábios disseram: "Deverás ver o teu mundo na tua vida".

11) No entanto, descobrimos e vemos nas palavras dos sábios do Talmud que estes fizeram o
caminho da Torá mais fácil para nós do que os sábios do Mishná. Isto porque eles disseram:
"Uma pessoa deve sempre praticar a Torá e os Mitzvot, mesmo em Lo Lishma, e
de Lo Lishma ela chegará a Lishma, porque a Luz presente neles corrige-a."
Assim, eles disponibilizaram-nos um novo meio, em vez da penitência apresentada no
mencionado Mishná, Avot: a “Luz na Torá". Ela tem poder suficiente para corrigir e trazer para a
prática de Torá e Mitzvot Lishma.

Eles não mencionaram penitência aqui, apenas o envolvimento em Torá e Mitzvot, por si só,
proporciona essa Luz que corrige, de forma que um pode envolver-se em Torá e Mitzvot com o
objectivo de trazer satisfação ao seu Criador, e não para o seu próprio prazer. E isto é chamado
deLishma.

12) No entanto, parece que devemos questionar as suas palavras. Afinal, encontrámos alguns
alunos cuja prática da Torá não os ajudou a chegar a Lishma através da Luz aí presente. De
facto, a prática de Torá e Mitzvot em Lo Lishma significa que uma pessoa acredita no Criador, na
Torá e em recompensa e punição. E ele envolve-se na Torá porque o Criador ordenou o
envolvimento, mas associa o seu próprio prazer ao objectivo de contentar o seu Criador.

Se, depois de todos os problemas na prática da Torá e dos Mitzvot, ele aprender que não obteve
nenhum prazer ou benefício próprio através deste grande esforço e pressão, ele arrepender-se-á
de ter realizado todos esses esforços. Tal deve-se a, desde o início, ele se ter torturado,
pensando que também ele iria desfrutar do seu esforço. Isto é chamado Lo Lishma.

No entanto, os nossos sábios permitiram igualmente o início da prática da Torá


e Mitzvot em LoLishma, porque a partir de Lo Lishma uma pessoa chega a Lishma. No entanto,
não há dúvida de que, se o estudante não foi recompensado com fé no Criador e na Sua lei, e
ainda vive em dúvida, não é sobre ele que os nossos sábios disseram: "de Lo Lishma ele chegará
a Lishma. Não é sobre ele que disseram que, por se envolver nisso, "a Luz presente corrige"-os.

Isto é assim porque a Luz da Torá brilha apenas sobre aqueles que têm fé. Além disso, o nível
dessa Luz é conforme o nível da força de fé que cada um tem. No entanto, é o oposto para
aqueles sem fé, pois eles recebem escuridão da Torá e os seus olhos escurecem.

13) Os sábios já apresentaram uma alegoria interessante sobre o verso: "Ai de vós que desejais
o Dia do Senhor! Porque tenderias o dia do Senhor? Ele é escuridão e não luz." (Amos 5). Existe
uma alegoria sobre um galo e um morcego que estavam à espera da luz. O galo disse ao
morcego: "Eu espero pela Luz, porque a Luz é minha. Mas tu, porque precisas da Luz?"
(Sanhedrin 98b).

Claramente, os estudantes que não foram dotados com a vinda de Lo Lishma para Lishma,
devido à sua falta de fé, não receberam qualquer Luz da Torá. Assim, eles andam em trevas e
morrerão sem sabedoria.
Por outro lado, aqueles a quem foi transmitida fé completa é-lhes garantido, nas palavras dos
nossos sábios, que, por se envolverem na Torá, mesmo em Lo Lishma, a Luz presente corrige-
os. Eles receberão a Torá Lishma, que traz uma vida boa e feliz neste mundo e no próximo
mundo, mesmo sem a prévia aflição e vida sofrida. É sobre eles que o verso diz: "Então deverás
tu deleitar-te no Senhor, e te farei cavalgar sobre os altos lugares da terra".

14) Relativamente a um assunto como o anterior, uma vez interpretei as palavras dos nossos
Sábios: "Aquele cuja Torá é o seu comércio". O nível da sua fé é evidente na sua prática da Torá,
pois as letras da palavra Umanuto (seu comércio), são as mesmas (em hebraico) que as letras da
palavra Emunato (sua fé).

É como uma pessoa que confia no seu amigo e lhe empresta dinheiro. Ele pode confiar um quilo
nele, e se ele lhe pedir dois quilos, ele recusará emprestar-lhe. Ele também lhe poderia confiar
cem quilos e não mais. Também, ele poderia confiar nele o suficiente para emprestar-lhe metade
das suas propriedades, mas não todas as suas propriedades. Finalmente, ele poderia confiar
nele todas as suas propriedades sem um pingo de medo. Esta última fé é considerada "fé total", e
as formas anteriores são consideradas "fé incompleta." Pelo contrário, é fé parcial, seja maior ou
menor.

Da mesma forma, um permite-se apenas uma hora por dia para praticar a Torá e trabalhar na
medida da sua fé no Criador. Outro permite-se duas horas, segundo a medida da fé no Criador. O
terceiro não descuida um momento sequer do seu tempo livre sem se envolver na Torá e no
trabalho. Assim, somente a fé deste último é total, pois ele confia no Criador toda a sua
propriedade. Relativamente aos anteriores, no entanto, a sua fé ainda é incompleta.

15) Assim, ficou completamente esclarecido que uma pessoa não deve esperar que o
envolvimento em Torá e Mitzvot em Lo Lishma a traga até Lishma, excepto quando saiba no seu
coração que lhe foi concedida fé adequada no Criador e na Sua Torá. Isto porque então a luz
presente corrige-o e ele alcançará o "dia do Senhor", que consiste em Luz total. A santidade da fé
purifica os seus olhos para que aprecie a Sua Luz até a Luz na Torá o corrigir.

No entanto, aqueles sem fé são como morcegos. Eles não podem olhar para a Luz do dia porque
a luz foi invertida para uma escuridão mais terrível do que a escuridão da noite, dado
alimentarem-se apenas na escuridão da noite.

Desta forma, os olhos das pessoas sem fé estão cegos relativamente à Luz de Deus; portanto, a
luz torna-se escuridão para elas. Para elas, a poção de vida é transformada numa poção de
morte. É sobre elas que o texto diz: "Ai de vós que desejais o Dia do Senhor! Porque tenderias o
dia do Senhor? Ele é escuridão e não luz". Assim, em primeiro lugar, uma pessoa deve tornar a
sua fé total.

16) Isto responde ainda a outra questão em Tosfot (Taanit pág. 7): "Aquele que pratica
ToráLishma, a sua Torá revela-se-lhe uma poção de vida. E quem pratica a Torá Lo Lishma, a sua
Torá torna-se para ele uma poção de morte." Eles perguntaram: "mas, eles disseram, 'Uma
pessoa praticará sempre a Torá, mesmo em Lo Lishma, e de Lo Lishma ele chegará a Lishma'".

De acordo com o explicado acima, devemos dividi-lo simplesmente: "Aquele que se envolve na
Torá com o Mitzva de estudar Torá, e acredita em recompensa e punição, mas associando
benefício e prazer próprios com a intenção de trazer satisfação ao seu Criador, a Luz presente
corrigi-lo-á e ele chegará a Lishma. E quem não estuda com o Mitzva de estudar a Torá, porque
ele não acredita em recompensa e punição nessa medida, em trabalhar por isso, mas que se
esforça apenas pelo seu próprio prazer, torna-se uma poção de morte para si, pois para ele a Luz
presente é transformada em escuridão.
17) Assim, o estudante compromete-se, antes do estudo, a reforçar-se na fé no Criador e na Sua
orientação em recompensa e punição, como os nossos sábios disseram: "O teu proprietário é
responsável por recompensar-te pelo teu trabalho". Uma pessoa deve direccionar o seu trabalho
para os Mitzvot da Torá e, desta forma, ser-lhe-á transmitido o prazer da Luz presente neles. A
sua fé fortalecer-se-á e crescerá através do remédio nesta Luz, como está escrito: "Será saúde
para o teu umbigo e medula para os teus ossos" (Provérbios 3:8).

Então o seu coração deve ficar descansado de que, a partir de Lo Lishma, ele chegará a Lishma.
Assim, mesmo quem reconhece não ter sido recompensado com a fé, ainda tem esperança
através da prática da Torá.

Porque que se uma pessoa regula o seu coração e a sua mente para alcançar fé no Criador, não
há maior Mitzva do que isso, como os nossos sábios disseram: “Habacuque veio e salientou
apenas que: ‘o justo viverá pela sua fé’” (Makkot 24).

Mais, não há outro conselho para além deste, como está escrito (Masechet Baba Batra pág. 16a):
“o Rabino disse: ‘Jó queria livrar o mundo inteiro de julgamento. Ele disse perante Ele: ‘Ó Senhor,
Tu criaste os justos, Tu criaste os ímpios; quem Te contém? ’’”

E Rashi interpreta aí: “Tu criaste justos por meio da boa inclinação; Tu criaste ímpios por meio da
inclinação do mal. Assim, ninguém está a salvo da Tua mão, pois quem Te contém? Coagidos
são os pecadores”. E o que reponderam os amigos de Jó (Jó 15:4)? “Sim, tu afastas o medo, e a
devoção degradada(?) perante Deus, o Criador criou a inclinação do mal, Ele criou para isso a
especiaria da Torá.”

Rashi interpreta aí: “Criaste a Torá, que é uma especiaria que revoga ‘pensamentos" de
transgressão’”, como está escrito (Kidushin pág. 30): “Se te cruzares com este vilão, puxa-o para
oBeit Midrash (seminário). Se ele é duro, ele vai amolecer. Portanto, eles não são coagidos, pois
eles poderiam salvar-se.”

18) Evidentemente, eles não podem livrar-se do julgamento se eles dizem que receberam essa
especiaria e ainda têm pensamentos de transgressão, o que significa que eles ainda duvidam e a
inclinação do mal ainda não amoleceu. Isto porque o Criador, que criou e deu força à inclinação
do mal, evidentemente soube criar o remédio e a especiaria passível de desgastar o poder da
inclinação do mal e erradicá-la completamente.

E alguém que pratique a Torá e não consiga remover de si mesmo a inclinação do mal, tal deve-
se a ter sido negligente no trabalho e no esforço necessário aplicado na prática da Torá, como
está escrito: “Eu trabalhei e não achei, não acreditai”, ou talvez tenha aplicado a quantidade
necessária de trabalho, mas foi negligente na qualidade.

Isto significa que ao praticar a Torá, eles não dirigiram as suas mentes e corações para atrair a
luz da Torá, que traz fé ao coração. Em vez disso, eles abstraíram-se do principal requisito
exigido pela Torá, nomeadamente a Luz que produz fé. E embora tenham inicialmente apontado
para isso, as suas mentes extraviaram-se durante o estudo.

De qualquer maneira, uma pessoa não se pode livrar do julgamento por alegar coacção, pois os
nossos sábios declaram precisamente: "Eu criei a inclinação do mal; Eu criei para ela a
especiaria da Torá". Se tivessem havido quaisquer excepções nisso, então a questão de Jó
permaneceria válida.

19) Através de tudo o que foi explicado até agora, eu removi uma grande queixa sobre as
palavras do Rabino Chaim Vital, na sua introdução a Shaar HaHakdamot (Porta para
Introduções) do Ari, e na introdução a A Árvore da Vida. Ele escreve: “Na verdade, um indivíduo
não deve dizer: 'Eu irei e envolver-me-ei na sabedoria da Cabala', antes que ele se envolva em
Torá, Mishná e Talmud. Isto porque os nossos sábios já haviam dito: ‘Não se deve entrar
na PARDESS [18] a menos que se tenha enchido o seu estômago com carne e vinho.’”

Tal é como uma alma sem um corpo: não tem recompensa ou acto ou consideração antes de
estar ligada a um corpo, quando está completa, corrigida nos Mitzvot da Torá, em 613 Mitzvot.

Inversamente, quando se está ocupado com a sabedoria do Mishná e do Talmud Babilónico, e


não se concede uma parte para os segredos da Torá e as suas ocultações, igualmente, é como
um corpo que permanece no escuro sem uma alma humana, vela divina, que brilha dentro dele.
Assim, o corpo é seco e não extrai de uma fonte de vida.
Assim, um discípulo sábio, que pratica Torá Lishma, deve primeiro envolver-se na sabedoria da
Bíblia, do Mishná e do Talmud, tanto tempo quanto a sua mente o consiga tolerar.
Posteriormente, ele concentrar-se-á em conhecer o seu Criador na sabedoria da verdade.

É como o Rei David ordenou ao seu filho Salomão: "conhece o Deus de teu pai e serve-O". E se
essa pessoa considerar o estudo do Talmud pesado e difícil, é melhor para ele que o abandone
após testar a sua sorte nesta sabedoria, e que se envolva na sabedoria da verdade.

Está escrito: "um discípulo que não viu um bom sinal no seu estudo dentro de cinco anos,
também não o verá" (Hullin pág. 24). Assim, cada pessoa para quem o estudo seja fácil deve
dedicar um período de uma a duas horas por dia a estudar a Halachá (código de leis judaicas) e
a explicar e interpretar as questões da Halachá literal.

20) Estas suas palavras parecem ser muito perplexas: ele diz que antes de ser bem-sucedida no
estudo do literal, uma pessoa já deve estar envolvida na sabedoria da verdade. Isto contradiz as
suas palavras anteriores de que a sabedoria da Cabala sem a Torá literal é como uma alma sem
um corpo, sem qualquer acção, consideração ou recompensa.

A evidência que ele traz de um discípulo que não vê um bom sinal é ainda mais desconcertante,
pois os nossos sábios disseram que ele deve então abandonar o estudo da Torá. Mas certamente
que é para adverti-lo para examinar os seus métodos e tentar com outro Rav ou em outra parte.
Mas certamente que ele não deve deixar a Torá, mesmo a Torá literal.

21) É mais difícil ainda compreender tanto as palavras do Rabino Chaim Vital como as palavras
da Gemará. Está implícito nas suas palavras que é preciso algum mérito e preparação
específicos para se atingir a sabedoria da Torá. No entanto, os nossos sábios disseram (Midrash
Raba, Porção “E esta é a Bênção”): “O Criador disse a Israel: ‘Reparai, toda a sabedoria e toda a
Torá são fáceis: quem Me tema e observe as palavras da Torá, toda a sabedoria e toda a Torá
estarão no seu coração.’”

Assim, não precisamos de nenhum mérito prévio aqui, e apenas em virtude do temor a Deus e da
manutenção dos Mitzvot se é concedido toda a sabedoria da Torá.

22) De facto, se examinarmos as suas palavras elas tornar-se-ão claras para nós como puras
estrelas celestes. O texto: “é melhor ele deixar a sua mão fora disso, uma vez que testou a sua
sorte nesta [revelada] sabedoria”, não se refere a sorte de perspicácia e erudição. Pelo contrário,
é como explicámos anteriormente, na explicação: “Eu criei a inclinação do mal; eu criei para isso
a especiaria da Torá”. Significa que uma pessoa investigou e praticou a Torá revelada, e ainda
assim a inclinação do mal tem o controlo e não derreteu minimamente. Isto porque ele ainda não
está a salvo de pensamentos de transgressão, como Rashi escreve acima na explicação: “Eu
criei para isso a especiaria da Torá.”
Por isso, ele aconselha a deixar as suas mãos fora e a envolver-se na sabedoria da verdade, pois
é mais fácil atrair a luz da Torá enquanto se pratica e trabalha na sabedoria da verdade do que
trabalhando na Torá literal. A razão é muito simples: a sabedoria do revelado é vestida por vestes
corpóreas, externas, tais como furtos, roubos, danos, etc. Por este motivo, é difícil e pesado para
qualquer pessoa apontar a sua mente e coração ao Criador enquanto estuda, de forma a atrair a
luz na Torá.

Mais ainda para uma pessoa para quem o estudo do Talmud seja, por si só, pesado e difícil.
Como pode ele lembrar-se do Criador durante o estudo, uma vez que o escrutínio diz respeito a
questões corporais, e não pode aparecer nele em simultâneo com a intenção para o Criador?
Por isso, ele aconselha-o a praticar a sabedoria da Cabala, pois esta sabedoria está inteiramente
vestida nos nomes do Criador. Assim, ele será certamente capaz de apontar facilmente a sua
mente e o seu coração ao Criador durante o estudo, mesmo que seja o mais lento dos alunos.
Isto é assim porque o estudo dos assuntos da sabedoria e do Criador são uma e a mesma coisa,
e isto é muito simples.

23) Por isso, ele traz uma boa evidência a partir das palavras da Gemará: "Um discípulo que não
tenha visto um bom sinal no seu estudo após cinco anos, também não o verá." Por que não viu
ele um bom sinal no seu estudo? Certamente, é apenas devido à ausência da intenção do
coração, e não devido a qualquer falta de aptidão, dado que a sabedoria da Torá não exige
aptidão.

Em vez disso, como está escrito no estudo referido: "Observai, toda a sabedoria e toda a Torá é
fácil: qualquer um que Me tema e observe as palavras da Torá, toda a sabedoria e toda a Torá
estão no seu coração".

É claro que é preciso que uma pessoa se acostume à luz da Torá e Mitzvot, e eu não sei quanto.
Uma pessoa pode passar todos os seus anos à espera. Daí Braita nos advertir (Hulin 24) para
não esperarmos mais de cinco anos.

Além disso, o Rabino Yossi diz que apenas três anos são suficientes para receber a sabedoria da
Torá. Se uma pessoa não vir um bom sinal durante esse período de tempo, não se deve enganar
com falsas esperanças e mentiras, mas saber que nunca verá um bom sinal.

Assim, deve-se imediatamente encontrar uma boa táctica para conseguir obter sucesso na
realização Lishma e para lhe ser concedida a sabedoria da Torá. Braita não especificou a táctica,
mas adverte para não permanecer parado nessa situação e não continuar a aguardar.

Este é o significado das palavras do Rav, que dizem que a táctica mais segura e com maior
sucesso é o envolvimento na sabedoria da Cabala. Uma pessoa deve largar o envolvimento na
sabedoria da Torá revelada, visto já ter testado a sua sorte sem ter obtido sucesso. E deve
dedicar todo o seu tempo à sabedoria da Cabala, onde o seu sucesso é certo.
24) Isto é muito simples, dado que estas palavras não têm qualquer ligação com o estudo da Torá
literal, em qualquer coisa que uma pessoa deva realmente praticar, pois "não é o ignorante que é
devoto, e uma aprendizagem enganada faz o mal, e um só pecador destrói muitos bens".
Portanto, deve-se necessariamente repeti-las tanto quanto seja necessário para não fracassar na
sua prática.

No entanto, aqui fala-se apenas do estudo da sabedoria da Torá revelada, sobre a explicação e a
análise de questões que surgem na interpretação das leis, como o Rabino Chaim Vital aí deduz.
Refere-se à parte do estudo da Torá que não é realizado de facto, ou às próprias leis.

De facto, aqui é possível ser brando e estudar as abreviações e não as origens. No entanto,
também isto requer aprendizagem extensiva, pois quem conhece a partir da origem não é como
quem conhece a partir de uma análise breve de alguma abreviação. Para que não se erre nisso,
o Rabino Chaim Vital diz logo no início das suas palavras que a alma se conecta ao corpo
apenas quando é corrigida nos Mitzvot da Torá, nos 613 Mitzvot.

25) Agora você vê como todas as questões que apresentámos no início da introdução são
completamente tolas. Estes são os obstáculos que a inclinação do mal espalha a fim de caçar
almas inocentes, para aliená-las do mundo, roubadas e abusadas.

Examine a primeira pergunta, na qual eles imaginam que podem cumprir toda a Torá sem o
conhecimento da sabedoria da Cabala. Eu digo-lhes: - “na verdade, se conseguis cumprir
apropriadamente o estudo da Torá e os Mitzvot, Lishma, ou seja apenas com o propósito de
trazer satisfação ao Criador, então, de facto, vós não precisais de estudar Cabala. Isso porque é
dito sobre vós: “a sua alma deverá ensiná-lo”. Isto porque então todos os segredos da Torá vos
aparecerão como uma fonte abundante, como nas palavras do Rabino Meir no Mishná (Avot), e
não precisareis de ajuda dos livros.

No entanto, se vós ainda estiverdes envolvidos em aprender Lo Lishma, mas esperais


merecerLishma por este meio, então eu pergunto: "Há quantos anos vós vinde fazendo isso?" Se
ainda estais no período de cinco anos, como diz Tana Kama, ou no período de três anos, como o
Rabino Yossi diz, então ainda podeis aguardar e ter esperança.

Mas se vós praticais a Torá em Lo Lishma há mais de três anos, como diz o Rabino Yossi, e cinco
anos, como o Kama Tana diz, então Braita avisa-vos que não vereis um bom sinal nesse caminho
que estais pisando! Porquê iludirem as vossas almas com falsas esperanças quando vós tendes
uma táctica tão próxima e segura como é o estudo da sabedoria da Cabala, como já demonstrei,
no raciocínio anterior, que o estudo nas questões da sabedoria e o próprio Criador são um?”

26) Vamos também analisar a segunda questão, acerca de se dever encher a barriga com
Mishná e Gemará. Todos concordam que é realmente assim. No entanto, tudo isso é verdade se
já lhe tiver sido concedido aprender Lishma, ou até mesmo Lo Lishma se você ainda estiver no
período de três anos ou de cinco anos. No entanto, após esse tempo, Braita avisa-o de que
nunca verá um bom sinal, e por isso você deve testar o seu sucesso no estudo da Cabala.
27) Temos também de saber que existem duas partes na sabedoria da verdade: a primeira,
chamada de "segredos da Torá", não deve ser exposta senão por insinuação, e de um cabalista
sábio a um discípulo que compreende com a sua própria mente. Maase Merkava e Maase
Beresheetpertencem a esta parte, também. Os sábios de O Zohar referem-se a esta parte como
"as primeiras três Sefirot: Keter, Hochma, Bina" e é também chamada de "a Rosh (Cabeça)
da Partzuf".

A segunda parte é chamada de “sabores da Torá". É permitido revelá-los e é considerado, na


verdade, um grande Mitzva revelá-los. O Zohar refere-se-lhe como as "sete Sefirot inferiores
daPartzuf", sendo também chamada de Guf (corpo) da Partzuf.

Cada uma das Partzuf de Kedusha (de santidade) consiste em dez Sefirot. Estas são
chamadasKeter, Hochma, Bina, Hesed, Gevura, Tifferet, Netzah, Hod, Yesod, Malchut. As
primeiras trêsSefirot são consideradas a "Rosh da Partzuf" e as sete Sefirot inferiores são
chamadas de "Guf daPartzuf". Mesmo a alma da pessoa inferior contém as dez Sefirot com os
nomes mencionadas, bem como cada discernimento, no Superior e no inferior.

A razão pela qual as sete Sefirot inferiores, que são o Guf da Partzuf, são chamadas de "sabores
da Torá" é de acordo com o significado do verso: "e o palato saboreou o seu alimento". As luzes
que aparecem nas três primeiras, ou seja, a Rosh, são chamadas de Taamim (sabores),
e Malchut de(da) Rosh é chamada Hech (palato).

Por esta razão, elas são chamadas de Taamim da Torá. Isso significa que elas aparecem no
palato da Rosh, que é a fonte de todos os Taamim, que é Malchut de Rosh. Daí para baixo não é
proibido revelá-los. Muito pelo contrário, a recompensa de quem os revela é imensurável e
ilimitada.

Além disso, estas três Primeiras Sefirot e as sete Sefirot inferiores expandem-se tanto no global
como no segmento mais específico que possa ser dividido. Assim, mesmo as primeiras
três Sefirotde Malchut no fim do mundo de Assiya pertencem à secção dos "segredos da Torá",
que não devem ser divulgados. E as sete Sefirot inferiores em Keter da Rosh
de Atzilut pertencem à secção "Taamim da Torá", que estão autorizados a ser divulgados, e estas
palavras estão escritas nos livros de Cabala.
28) Vós encontrareis a origem destas palavras em Mishná Pesachim (pág. 119), como está
escrito (Isaías 23): "os lucros, que lhe trouxer o seu comércio, serão consagrados ao Senhor, em
vez de serem entesourados; o seu comércio aproveitará àqueles que habitam na presença do
Senhor, a fim de que tenham o que comer até se saciarem e vestuário esplêndido." "O que é
“vestuário esplêndido”? Isto é o que cobre coisas que Atik Yomin cobriu. E que coisas são essas?
Os segredos da Torá. Outros dizem que é o que descobre coisas que Atik Yomin cobriu. Que
coisas são essas? Os sabores da Torá".

RASHBAM interpreta: "Atik Yomin é o Criador", como está escrito, "e Atik Yomin senta-se". Os
segredos da Torá são Maase Merkava e Maase Beresheet. O significado de "Nome" é como está
escrito: "Este é o Meu Nome para sempre". O vestuário significa que Ele não os dá a qualquer
pessoa, mas somente àqueles cujo coração está ansioso. "Isto é o que descobre coisas que Atik
Yomin cobriu" significa a cobertura dos segredos da Torá, que foram inicialmente cobertos, e Atik
Yomin revelou-os, e deu permissão para divulgá-los. E àquele que os divulga é-lhe concedido o
que ele disse neste versículo.

29) Agora podeis ver, evidentemente, a grande diferença entre os segredos da Torá, onde todos
os que os alcançam recebem esta grande recompensa para os cobrir e não os divulgar. E é ao
contrário com os Taamim da Torá, onde todos os que os alcançam recebem esta grande
recompensa para os divulgar aos outros.

Não há nenhuma controvérsia sobre o primeiro parecer, mas apenas examinação dos diferentes
significados entre eles. O Lishna Kama salienta o final, que diz: "vestuário esplêndido." Daí, eles
interpretam a realização da grande recompensa de cobrir os segredos da Torá.

Outros dizem que afirma o princípio, que diz: "comerem até se saciarem", significando
os Taamimda Torá, como está escrito: "e o palato saboreou o seu alimento". Isto porque as luzes
dos Taamimsão chamadas de "comer"; portanto, eles interpretam a realização da grande
recompensa mencionada no texto sobre aquele que revela os Taamim da Torá (não há disputa
entre eles, mas um fala dos segredos da Torá e o outro fala dos Taamim da Torá). No entanto,
ambos pensam que os segredos da Torá devem ser cobertos e que os Taamim da Torá devem
ser divulgados.

30) Assim, você obtém uma resposta clara à quarta e à quinta questões do início da introdução. E
o que você encontra nas palavras dos nossos sábios, assim como nos livros sagrados, que só é
concedido àquele cujo coração está preocupado, ou seja, a parte chamada de "segredos da
Torá", considerada as três Primeiras Sefirot e Rosh, que é concedida a alguns ocultos e sob
certas condições, você não encontrará nem um vestígio delas em todos os livros da Cabala,
escritos e impressos, uma vez que essas são as coisas que Atik Yomin cobriu, como está escrito
na Gemará.

Além disso, diga se é possível sequer pensar e visualizar todos os justos famosos e sagrados,
que são os maiores e melhores da nação, como Sefer Yetzira (Livro da Criação), O Livro do
Zohar, eBraita de Rabino Ishmael, Rabino Hai Gaon, e Rabino Hamai Gaon, Rabino Elazar de
Garmiza, e o resto de Rishonim (os primeiros), através de RAMBAN, e Baal HaTurim e Baal
Shulchan Aruch, até Vilna Gaon (GRA), e Ladi Gaon, e o resto dos justos, a memória de todos
seja abençoada.

Deles recebemos a totalidade da Torá revelada, e pelas suas palavras vivemos e sabemos o que
fazer de modo a ser favorecido pelo Criador. Todos eles escreveram e publicaram livros sobre a
sabedoria da Cabala. E não há maior revelação do que escrever um livro, em que o autor não
sabe quem lê o livro. É possível que ímpios o investiguem. Assim, não há maior descoberta dos
segredos da Torá do que essa.

E não devemos duvidar das palavras desses sagrados e puros, que pudessem violar nem mesmo
uma vírgula sobre o que está escrito e explicado em Mishná e Gemará, que estão proibidos de
divulgar, conforme escrito em Masechet Hagigah.

Pelo contrário, todos os livros escritos e impressos são necessariamente considerados


os Taamimda Torá, que Atik Yomin primeiro cobriu e depois descobriu, como está escrito: "e o
palato saboreou o seu alimento". Não só não é proibido divulgar estes segredos, como, pelo
contrário, é um grande Mitzva (muito boa acção) divulgá-los (como está escrito
em Pesachim 119).

E para quem sabe como os divulgar e os divulga, a sua recompensa é abundante. Isto porque da
divulgação destas luzes a muitos, especialmente à maioria, depende a vinda em breve do
Messias nos nossos dias Amen.

31) É fortemente necessário explicar de uma vez por todas porque a vinda do Messias depende
do estudo da Cabala pelas massas, que é tão prevalecente em O Zohar e em todos os livros da
Cabala. A população já o discutiu inutilmente até se ter tornado insuportável.

A explicação desta questão é expressa em Tikkunim (correcções) de O Zohar (Tikun 30).


Tradução abreviada: quando a Sagrada Divindade foi para o exílio, este espírito sopra sobre os
que se envolvem na Torá, pois a Sagrada Divindade está entre eles. Eles são como os animais
que comem feno, toda a graça que eles fazem, fazem-na para si próprios. Mesmo todos aqueles
que estudam a Torá, toda a graça que eles fazem, fazem-na para si próprios. Nesse tempo, o
espírito parte e não regressa ao mundo. Este é o espírito do Messias.
Ai daqueles que levam o espírito do Messias a partir e não regressar ao mundo. Eles tornam
seca a Torá e não pretendem investigar a sabedoria da Cabala. Essas pessoas causam a partida
do florescimento da sabedoria, que é o Yod no nome HaVaYaH.

O espírito do Messias parte, o espírito de santidade, o espírito de sabedoria e compreensão,


espírito de conselho e poder, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor. "E Deus disse:
'Haja luz'." Esta é a luz do amor, o amor de misericórdia, como está escrito: "Eu amo-te com um
amor eterno".

É dito sobre isso, "se despertardes, e se agitardes o amor, até satisfazer...", então isso não é
amor com o propósito de ser recompensado. Isto porque se o medo e o amor forem com o
propósito de se ser recompensado, são uma serva... "uma serva que é herdeira da sua senhora".

32) Vamos começar a explicar as Tikkunim de O Zohar dos pés à cabeça. Ele diz que o medo e o
amor na prática da Torá e Mitzvot, a fim de receber recompensa, ou seja, enquanto esperando
algum benefício da Torá e do trabalho, esta é considerada a criada. Está escrito sobre ela: "serva
que é herdeira da sua senhora."

Isto é aparentemente desconcertante, pois está escrito: "Uma pessoa sempre se envolverá em
Torá e Mitzvot, mesmo Lo Lishma" e porque "treme a terra?" Além disso, devemos entender a
correlação entre o envolvimento em Lo Lishma especificamente para a serva, e também a
parábola que ela é herdeira da sua senhora. Que herança há aqui?

33) Você entenderá o assunto relativamente a tudo o que é explicado acima nesta introdução,
que eles não permitiram o estudo em Lo Lishma, mas só a partir de Lo Lishma se chega
a Lishma, pois a Luz aí presente corrige. Assim, o envolvimento em Lo Lishma é considerado
uma serva auxiliar, que auxilia e executa os trabalhos ignóbeis da sua Senhora, a Sagrada
Divindade.

Isto ocorre assim porque, finalmente, um chegará a Lishma e ser-lhe-á transmitida a inspiração
da Divindade. Então a criada, que é o envolvimento em Lo Lishma, será também considerada
uma criada sagrada, pois ela suporta e prepara a santidade, embora sendo considerada o mundo
deAssiya de Kedusha (santidade).

No entanto, se a fé de uma pessoa não é completa, e ela não se envolve na Torá ou no trabalho
só porque o Criador lhe ordenou para estudar, então vimos anteriormente que, nessa Torá e
nesse trabalho, a Luz não aparece. Isto porque os olhos da pessoa estão deturpados e, como um
morcego, transformam a luz em escuridão.

Tal estudo já não é considerado uma criada de Kedusha, dado que ele não obterá Lishma por seu
intermédio. Vem então para o domínio da criada da Klipa (casca), que herda esta Torá e este
trabalho, e os rouba para si.

Assim, "a terra treme", representando a Sagrada Divindade, chamada "terra". Isto ocorre assim
porque essa Torá e esse trabalho que deveriam ter chegado até si, como possessões da Sagrada
Divindade, essa serva má rouba-os e redu-los a possessões das Klipot (cascas). Assim, a serva é
herdeira da sua senhora.

34) As Tikkunim de O Zohar interpretam o significado do juramento: "se despertardes, e se


agitardes o amor, até satisfazer". A precisão é que Israel atrairá a Luz de Hesed (Misericórdia)
Superior, denominado " Amor de Misericórdia", dado que isto é o que é desejado. Isto é atraído
especialmente pelo envolvimento na Torá e nos Mitzvot sem o objectivo de receber recompensa.
A razão é que a Luz da Sabedoria Superior é estendida a Israel através desta Luz da
Misericórdia, aparecendo e incorporando nesta Luz da Misericórdia, que Israel prolonga.

E esta Luz da Sabedoria é o sentido do verso: "E o Espírito do Senhor repousará sobre ele, o
espírito de sabedoria e de compreensão, espírito de conselho e de poder, espírito de
conhecimento e do temor do Senhor" (Isaías 11). É dito sobre o Rei, o Messias: "E Ele criará um
estandarte para as nações, e juntará os dispersos de Israel, e reunirá os dispersos de Judá dos
quatro cantos da terra". Isto porque depois de Israel estender a Luz da Sabedoria através da Luz
da Misericórdia, o Messias aparece e reúne os dispersos de Israel.

Assim, tudo depende da prática da Torá e do trabalho Lishma, que pode estender a grande Luz
da Misericórdia, onde a Luz da Sabedoria se incorpora e prolonga. Este é o significado do
juramento "se despertardes, e se agitardes". Assim é porque a redenção completa e a reunião
dos exilados são impossíveis sem isso, pois assim estão organizados os canais da santidade.

35) Também interpretaram: "e o espírito de Deus pairava sobre a superfície das águas". O que é
"o espírito de Deus"? Durante o exílio, enquanto Israel esteja ainda ocupado com Torá
e Mitzvot LoLishma, se eles estiverem nesse caminho por a partir de Lo Lishma se chegar
a Lishma, então a Divindade está entre eles, embora no exílio, uma vez que ainda não
atingiram Lishma.

Este é o significado do texto quando a Divindade está em ocultação. No entanto, eles estão
obrigados a realizar a revelação da Divindade, e então o espírito do Rei Messias paira sobre o
envolvimento e desperta-os para chegarem a Lishma, como está escrito: "a Luz presente corrige-
os". Ela ajuda e prepara para a inspiração da Divindade, que é a sua senhora.

No entanto, se esta aprendizagem em Lo Lishma não for adequada para trazê-los para Lishma, a
Divindade lamenta-o e diz que o espírito do homem que ascende não está presente entre os
praticantes da Torá. Pelo contrário, eles são suficientes para o espírito do animal, que desce, cujo
envolvimento em Torá e Mitzvot é apenas para o seu próprio benefício e prazer.

O envolvimento na Torá não pode trazê-los para Lishma, uma vez que o espírito do Messias não
paira sobre eles, mas deixa-os e não voltará, porque a criada impura rouba a sua Torá e herda da
sua patroa, visto que não estão no caminho para vir de Lo Lishma para Lishma.

Mesmo não conseguindo através da prática da Torá revelada, visto não haver qualquer Luz nela,
e estar seca devido à pequenez de suas mentes, eles poderiam ainda obter sucesso através do
envolvimento no estudo da Cabala. Isto porque a Luz aí presente está vestida nas vestes do
Criador: as Sefirot e os Nomes Sagrados. Eles poderiam facilmente chegar a essa forma
de LoLishma, que os traz a Lishma, e então o espírito de Deus pairaria sobre eles, como está
escrito: "a Luz presente corrige-os".

No entanto, eles não têm qualquer desejo de estudar Cabala. E assim eles causam pobreza,
pilhagem, ruína, morte e destruição no mundo, uma vez que o espírito do Messias parte, o
espírito de santidade, o espírito de sabedoria e de compreensão.

36) Aprendemos pelas palavras das Tikkunim de O Zohar que existe um juramento que a luz da
misericórdia e do amor não despertarão no mundo antes que as acções de Israel em Torá
e Mitzvottenham a intenção de não receber a recompensa, mas apenas de dar satisfação ao
Criador. Este é o significado do juramento: "Eu vos conjuro, ó filhas de Jerusalém".

Assim, a duração do exílio e da aflição que sofremos depende de nós e aguarda por merecermos
a prática de Torá e Mitzvot Lishma. E mal atinjamos isso, esta Luz de amor e Misericórdia, que
tem o poder de ampliar, despertará imediatamente, como está escrito: "E o espírito deve repousar
sobre ele, o espírito de sabedoria e de compreensão". Então ser-nos-á concedida a redenção
completa.

Também foi esclarecido que é impossível para toda a Israel chegar a essa grande pureza a não
ser através do estudo da Cabala, que é a maneira mais fácil, adequada até para plebeus.

No entanto, enquanto o envolvimento for apenas na Torá revelada, é impossível de se ser


recompensado através disso, com excepção de alguns escolhidos e após grandes esforços, mas
não para a maioria das pessoas (pelo motivo exposto no item 24). Isto explica perfeitamente a
irrelevância da quarta e da quinta questões no início da introdução.

37) A terceira questão, que é o receio de que uma pessoa fique amarga, bem, não há qualquer
receio disso. Isto porque o desvio do caminho de Deus, que ocorreu previamente, se deveu a
dois motivos: ou porque eles arruinaram as palavras dos nossos sábios com coisas que estavam
proibidos de divulgar, ou porque entenderam as palavras da Cabala no seu sentido superficial,
como instruções corpóreas, violando: "não farás para ti uma imagem esculpida".

Assim, até este dia, tem realmente havido uma muralha à volta desta sabedoria. Muitos tentaram
iniciar o seu estudo, mas não conseguiram continuar por falta de entendimento e devido às
denominações corpóreas. É por isso que trabalhei com a interpretação Panim Meirot e Panim
Masbirot, para interpretar o grande livro A Árvore da Vida, do Ari, para tornar as formas corpóreas
abstractas e consagrá-las como leis espirituais, acima de tempo e lugar. Assim, qualquer
principiante pode compreender as questões, as suas razões e explicações com uma mente limpa
e grande simplicidade, não inferior à comprensão da Gemará através da interpretação de Rashi.

38) Continuemos a reflexão sobre a prática de Torá e Mitzvot Lishma. Devemos entender esse
nome "Torá Lishma". Porque é o trabalho inteiro e desejável definido pelo nome Lishma, e o
trabalho indesejável denominado Lo Lishma?

O significado literal implica que aquele que se envolve em Torá e Mitzvot com o propósito de
direccionar o seu coração para trazer satisfação ao seu Criador e não a si mesmo, deveria ter
sido referido de Torá Lishmo (em Seu nome) e Torá Lo Lishmo (não em Seu nome), ou seja, pelo
Criador. Porque, então, é isto definido pelo nome Lishma e Lo Lishma, ou seja, pela Torá?

Há certamente algo mais para entender aqui para além do que já foi mencionado, dado que o
versículo prova que Torá Lishmo, ou seja, para trazer satisfação ao seu Criador, é ainda
insuficiente. Em vez disso, o estudo deve ser Lishma, ou seja, pela Torá. Isto exige uma
explicação.

39) É sabido que o nome da Torá é "Torá da Vida", como está escrito: "Porque são vida para
quem os encontra" (Provérbios, 4:22): "Pois não é coisa vã para vós, porque é a vossa vida
"(Deuteronómio 32:47). Assim, o significado da Torá Lishma é que a prática de Torá e Mitzvot traz
vida e dias longos, e então a Torá é como o seu nome.

E quem não direcciona o seu coração e a sua mente para o acima exposto, a prática de Torá
eMitzvot traz-lhe o oposto de vida e dias longos, ou seja, completamente Lo Lishma, uma vez que
o seu nome é "Torá da Vida". Estas palavras estão explicadas nas palavras dos nossos sábios
(Taanit7a): "Aquele que pratica Torá Lo Lishma, a sua Torá torna-se uma poção de morte para
ele, e aquele que pratica Torá Lishma, a sua Torá torna-se uma poção de vida para ele".

No entanto, as suas palavras exigem explicação; como entender e porque razão a Sagrada Torá
se torna uma poção de morte para ele? Não só o seu trabalho e o seu esforço são em vão, e ele
não recebe qualquer benefício do seu trabalho e empenho, como a Torá e o trabalho se tornam
uma poção de morte para ele. Isto é realmente desconcertante.
40) Em primeiro lugar, devemos entender as palavras dos nossos sábios (Megillah 6b), que
disseram: "Eu trabalhei e achei: acreditai. Eu não trabalhei e achei: não acreditai”.

Temos de perguntar sobre as palavras: "trabalhei e achei", que parecem contradizer-se, já que o
trabalho se refere à obra e ao esforço que se dá em troca de qualquer posse desejada. Por uma
posse importante, uma pessoa faz um grande esforço, por uma posse menor, uma pessoa
esforça-se menos.

O seu oposto é o achado. O costume é chegar a uma pessoa distraída e sem qualquer
preparação no trabalho, labuta e preço. Assim, como se pode dizer "trabalhei e achei"? E se
existe esforço aqui, deveria ter-se dito "trabalhei e comprei" ou "trabalhei e adquiri", etc., e não
"trabalhei e achei".

41) O Zohar escreve sobre o texto: "e aqueles que Me procuram achar-Me-ão" e pergunta: "onde
uma pessoa encontra o Criador?" Eles disseram que o Criador é encontrado somente na Torá.
Além disso, em relação ao verso: "Verdadeiramente Tu és um Deus que Te ocultas", que o
Criador Se esconde na Sagrada Divindade.

Devemos entender inteiramente as suas palavras. Parece que o Criador está escondido somente
em coisas e comportamentos corpóreos e em todas as futilidades deste mundo, que estão fora
da Torá. Assim, como se pode dizer o contrário, que Ele Se esconde apenas na Torá?

Existe também o significado geral, que o Criador Se esconde de forma a ter de ser procurado;
porque precisa Ele desta ocultação? E também: "Todos os que O procuram deverão achá-Lo",
que entendemos a partir do verso "e aqueles que Me procuram deverão achar-Me". Devemos
compreender completamente essa procura e esse achado, o que são e porque o são?

42) Na verdade, você deve saber que o motivo da nossa grande distância do Criador, e porque
somos tão propensos a transgredir a Sua vontade, deve-se apenas a um motivo, que se tornou a
causa de todos os tormentos e os sofrimentos que sentimos, e de todos os pecados e erros em
que caímos. Claramente, eliminando esse motivo, livrar-nos-emos imediatamente de qualquer
tristeza e dor. Ser-nos-á imediatamente concedida a adesão com Ele de coração, alma e força. E
digo-lhe que o motivo basilar não é mais do que a "falta de compreensão da Sua Providência
sobre as Suas criações", que não O entendemos correctamente.

43) Se, por exemplo, o Criador estabelecesse Providência aberta com as suas criações de modo
que, por exemplo, quem comesse uma coisa proibida sufocasse logo nesse momento, e qualquer
pessoa que praticasse um Mitzva descobrisse prazeres maravilhosos nisso, como os melhores
prazeres deste mundo corpóreo; então, que louco ponderaria sequer provar uma coisa proibida,
sabendo que perderia imediatamente a sua vida por causa disso, tal como ninguém considera em
lançar-se a um fogo?

Além disso, que louco deixaria qualquer Mitzva sem o executar o mais rapidamente possível, tal
como alguém que não consegue deixar ou lidar com um grande prazer corpóreo que lhe chega
às mãos, sem o receber tão rapidamente quanto ele consiga? Assim, se a Providência fosse
aberta perante nós, todas as pessoas no mundo seriam justos completos.

44) Assim, você vê que tudo o que precisamos no nosso mundo é Providência aberta. Se
tivéssemos Providência aberta, todas as pessoas no mundo seriam justos completos. Elas
também adereriam a Ele com amor absoluto, pois certamente seria uma grande honra, para
qualquer um de nós, ajudar e amá-Lo com o nosso coração e a nossa alma, e aderirmos a Ele
sem desperdiçarmos um minuto sequer.

No entanto, uma vez que não é assim, e um Mitzva não é recompensado neste mundo, e aqueles
que desafiam a Sua vontade não são punidos diante de nossos olhos, mas o Criador é paciente
com eles, e para além que às vezes consideram o contrário, como está escrito (Salmos 73): "Eis
que são estes os ímpios: e eles que vivem à vontade aumentam as riquezas". Portanto, nem
todos os que querem levar o Senhor podem chegar e levar. Em vez disso, nós tropeçamos a
cada passo do caminho até, como os nossos sábios escreveram (VaYikra Rabba, 2) sobre o
verso: "Eu encontrei um homem em mil, pois mil entram numa sala, e um sai para ensinar".

Assim, a compreensão da Sua Providência é a razão para todo o bem, e a falta de compreensão
é a razão para todo o mal. Acontece que este é o eixo que todas as pessoas do mundo rodeiam,
para o melhor ou para o pior.

45) Quando examinamos atentamente a realização da Providência que as pessoas chegam a


sentir, encontramos quatro tipos. Cada um dos tipos recebe Providência específica do Criador, de
modo que existem aqui quatro discernimentos na realização da Providência. Na verdade, eles
são apenas dois: ocultação da face e revelação da face, mas estão divididos em quatro.

Há dois discernimentos na Providência de ocultação da face, que são "ocultação única" e


"ocultação dentro de ocultação", e dois discernimentos na Providência de revelação da face:
Providência de "recompensa e punição" e "Providência eterna".

46) O verso diz (Deuteronómio 31:17): "Então a Minha ira se acenderá contra eles nesse dia, e
Eu abandoná-los-ei, e Eu esconderei a Minha face deles, e eles serão devorados, e muitos males
e problemas recairão sobre eles; de modo que eles dirão nesse dia: Não recaem estes males
sobre nós porque o nosso Deus não está entre nós? E Eu certamente esconderei a Minha face
nesse dia por todo o mal que tiverem feito, na medida em que eles estão ligados a outros
deuses".

Quando observa estas palavras, você percebe que no início ele afirma: "Então, a Minha ira se
acenderá (…) E eu esconderei a Minha face ", significando uma ocultação. Depois disso, é
afirmado: "e muitos males e problemas recairão sobre eles (...) E Eu certamente esconderei a
Minha face", o que significa dupla ocultação. Devemos entender o que é esta “dupla ocultação”.

47) Devemos começar por entender qual é o significado da "face do Criador", sobre o qual a
escritura diz: "Eu esconderei a Minha face". Pode ser pensado como uma pessoa que vê a cara
do seu amigo e o reconhece imediatamente. No entanto, quando o vê por detrás, ele não tem
certeza da sua identidade. Ele poderia duvidar: "Talvez seja outra pessoa e não o seu amigo?".

Assim é a questão diante de nós: Toda a gente sabe e sente que o Criador é bom e que é norma
do bom fazer o bem. Assim, quando o Criador generosamente dá às Suas criações, é
considerado que a Sua face é revelada às Suas criações. Isto porque então toda a gente sabe e
sente-O, dado que Ele se comporta de acordo com o Seu nome, como vimos acima a respeito da
Providência aberta.

48) No entanto, quando Ele se comporta com as Suas criações de forma oposta ao que foi
mencionado, ou seja, quando eles sofrem angústia e tormento no Seu mundo, é considerado a
parte posterior do Criador. Isto porque a Sua face, ou seja, o Seu atributo completo de bondade,
está totalmente escondido deles, uma vez que este não é um comportamento adequado ao Seu
nome. É como uma pessoa que vê o seu amigo por detrás, pode ser que duvide e pense: "Talvez
seja outro?".

A escritura diz: "Então, a Minha ira se acenderá ... ... E eu esconderei a Minha face". Durante a
raiva, quando as pessoas sofrem transtornos e dores, significa que o Criador está escondendo a
sua face, que é a Sua bondade absoluta, e somente o Seu posterior é revelado. Nesse estado, é
necessário um grande reforço na Sua fé, para ter cuidado com os pensamentos de transgressão,
uma vez que é difícil conhecê-Lo por detrás. Isto é chamado de "Ocultação única".

49) No entanto, quando os problemas e sofrimentos se acumulam em grande volume, tal provoca
uma dupla ocultação, que os livros denominam de "ocultação dentro de ocultação." Significa que
mesmo a Sua parte posterior é invisível, ou seja, eles não acreditam que o Criador esteja
zangado com eles e os esteja a punir, mas atribuem-no ao acaso ou à natureza, e chegam a
negar a Sua Providência de recompensa e punição. Este é o significado do verso: "E Eu
certamentel esconderei a Minha face (...) na medida em que eles estão ligados a outros deuses",
isto é, que se tornam hereges e adoradores de ídolos.

50) No entanto, antes disso, quando a escritura fala apenas da perspectiva de uma ocultação, o
texto termina: " eles dirão nesse dia: Não recaem estes males sobre nós porque o nosso Deus
não está entre nós?". Isso significa que eles ainda acreditam na Providência de recompensa e
punição, e dizem que os problemas e o sofrimento recaem sobre eles por não aderirem ao
Criador, como está escrito: "estes males recaem sobre nós porque o nosso Deus não está entre
nós". É considerado que eles ainda vêem o Criador, mas apenas por detrás. Por essa razão é
chamada de " Ocultação Única", somente ocultação da face.

51) Explicámos agora os dois discernimentos sobre a percepção da Providência oculta, que as
pessoas sentem: "ocultação única" e "ocultação dentro da ocultação." Ocultação única refere-se
apenas a ocultação da face, sendo-lhes revelada a parte posterior. Isso significa que eles
acreditam que o Criador lhes deu a aflição como uma punição. E embora lhes seja difícil
conhecerem o Criador sempre através do seu lado posterior, que os leva a transgredir, mesmo
assim eles são considerados "ímpios incompletos". Por outras palavras, estas transgressões são
consideradas como erros, porque resultam da acumulação da aflição, visto que, em geral, eles
acreditam em recompensa e punição.

52) Ocultação dentro da ocultação significa que mesmo a parte posterior do Criador está
escondida deles, pois não acreditam em recompensa e punição. Estas suas transgressões são
consideradas pecados. Eles são considerados "ímpios completos", porque eles se revoltam e
dizem que o Criador não vigia, de todo, as suas criações, e voltam-se para a idolatria, como está
escrito: "na medida em que eles estão ligados a outros deuses".

53) Devemos saber que toda a matéria do trabalho no cumprimento da Torá e dos Mitzvot por
questão de escolha, se aplica principalmente aos dois discernimentos mencionados de
Providência oculta. E Ben Ha Ha diz sobre esse período (Avot, capítulo 5): "A recompensa é de
acordo com a dor".

Dado que a Sua Orientação não é revelada, é impossível vê-Lo senão com ocultação da face, por
detrás, como quem vê um amigo por detrás e pode duvidar e pensar se se trata de outra pessoa.
Desta maneira, uma pessoa tem sempre a opção de manter a Sua vontade ou quebrá-la. Isto
porque os problemas e as dores que sofre fazem-na duvidar da realidade da Sua orientação
sobre as Suas criações, seja na primeira maneira, que é a dos erros, ou na segunda maneira,
que são os pecados.

De qualquer forma, uma pessoa sente ainda grande dor e trabalho. O escrito diz sobre este
momento: "Tudo o que te vier à mão para fazer, fá-lo, conforme as tuas forças" (Eclesiastes 9).
Isto sucede assim porque não lhe será concedida a revelação da face, a medida completa da Sua
bondade, antes de ele se esforçar e fazer tudo o que está ao seu alcance para fazer, e a
recompensa é de acordo com a dor.
54) Quando o Criador vê que uma pessoa completou a sua medida de esforço e terminou tudo o
que tinha para fazer no fortalecimento da sua escolha na fé no Criador, o Criador ajuda-o. Então,
a pessoa atinge Providência aberta, ou seja, a revelação da face. Então, ele é recompensado
com o arrependimento completo, significando que ele se liga ao Criador, uma vez mais, com o
seu coração, a sua alma e a sua força, como se naturalmente atraído pela realização da
Providência aberta.

55) Esta realização e este arrependimento mencionados atingem uma pessoa em dois níveis: o
primeiro é a obtenção da Providência de recompensa e punição absolutas. Além de atingir a
recompensa para cada Mitzva no próximo mundo com clareza absoluta, ele é também
recompensado com a realização do prazer maravilhoso na observação imediata do Mitzva neste
mundo.

Além disso, além de atingir a punição amarga que se estende de cada pecado após a morte, é-se
também recompensado com a sensação do gosto amargo de cada transgressão ainda em vida.

Naturalmente, a quem é dada essa Providência aberta é certo que não pecará novamente, como
é certo que ele não vai cortar a sua própria carne e provocar um sofrimento terrível. Além disso, é
certo que ele não descurará um Mitzva sem o executar no instante em que lhe chegue à mão,
tanto quanto é certo que ele não negligenciará qualquer prazer mundano ou grande lucro que lhe
chegue às mãos.

56) Agora você pode entender as palavras dos nossos sábios: "O que é o arrependimento?
Quando Aquele que conhece todos os mistérios testemunha que ele não voltará à folia". Estas
são palavras aparentemente desconcertantes, pois quem subiria ao céu para ouvir o testemunho
do Criador? Além disso, perante quem deveria o Criador depor? Não é suficiente que o próprio
Criador saiba que a pessoa se arrependeu e que não voltará a pecar?

Pela explicação, a questão torna-se bastante clara: em verdade, não é absolutamente seguro que
ele não peque novamente antes de ser recompensado com a realização de recompensa e
punição, ou seja, com a revelação da face. E esta revelação da face, da perspectiva da salvação
do Criador, é chamada de "testemunho", pois a Sua salvação, por si mesma, para esta realização
de recompensa e punição, é o que garante que ele não pecará novamente.

É, portanto, considerado que o Criador testemunha por ele. Está escrito: "O que é o
arrependimento?". Por outras palavras, quando terá uma pessoa a certeza de que lhe foi
concedido o arrependimento completo? Relativamente a isto, é-lhe dado um sinal claro: "Quando
Aquele que conhece todos os mistérios testemunha que ele não voltará à folia". Isto significa que
a pessoa atingirá a revelação da face, momento em que a sua própria salvação testemunhará
que não voltará à folia.
57) O arrependimento mencionado anteriormente é chamado de “arrependimento por medo". Isto
porque, embora uma pessoa regresse ao Criador de coração e alma, até que Ele, que conhece
todos os mistérios, ateste que ele não voltará à folia, essa certeza de que ele não pecará
novamente deve-se à realização e sensação da punição terrível e do tormento perverso
resultantes das transgressões. Por isso, uma pessoa está segura de que não pecará, tal como
tem a certeza de que não se afligirá com sofrimento horrível.

No entanto, por último, estes arrependimentos e certezas devem-se apenas ao medo de punição
que se estende a partir das transgressões. Acontece que o arrependimento é apenas pelo medo
de punição. Por isso, é chamado de “arrependimento por medo".

58) Com isto compreendemos as palavras dos nossos sábios: aquele que se arrepende por medo
é recompensado com a transformação dos seus pecados em erros. Precisamos de entender
como isso acontece. De acordo com o mencionado anteriormente (Item 52), pode entender
perfeitamente que os pecados que uma pessoa comete se estendem da recepção da Providência
através de dupla ocultação, ou seja, de ocultação dentro de ocultação. Isto significa que não
acredita na Providência de recompensa e punição.

Ocultação única significa que ele acredita na Providência de recompensa e punição. No entanto,
devido ao sofrimento acumulado, por vezes tem pensamentos de transgressão. Isso ocorre
porque, embora ele acredite que o sofrimento lhe chegou como um castigo, ele ainda é como
alguém que vê o seu amigo de trás, e pode duvidar e confudi-lo com outra pessoa. E estes
pecados são apenas erros, visto que ele não acredita globalmente em Providência de
recompensa e punição.

59) Assim, quando se é concedido o arrependimento por medo, ou seja, uma clara realização de
recompensa e punição, até que a pessoa esteja segura de que não voltará a pecar, a ocultação
dentro de ocultação nela é totalmente corrigida. Isto porque agora ela vê que, evidentemente,
existe a Providência de recompensa e punição. Torna-se claro para si que todo o sofrimento que
alguma vez sentira fora uma punição da Sua Providência pelos pecados que cometera. Em
retrospectiva, ela cometera um erro grave, por isso, ela arranca estes pecados pela raíz.

No entanto, isto não é totalmente assim. Eles tornam-se pecados. Por outras palavras, é como as
transgressões que ele cometeu em ocultação, quando falhou por causa da confusão que sentiu,
gerada pela multiplicidade de tormentos que deixam uma pessoa fora de si. Estes são
observados apenas como erros.

60) No entanto, neste arrependimento, ele não corrigiu totalmente a primeira ocultação da face,
que ele tinha antes, mas só a partir deste momento, após ter atingido a revelação da face. No
passado, contudo, antes de ter atingido arrependimento, a ocultação da face e todos os erros
permaneceram como eram, sem qualquer alteração ou correcção. Isto porque também então ele
acreditara que os problemas e o sofrimento surgiam como punição, como está escrito: "eles dirão
nesse dia: não recaem estes males sobre nós porque o nosso Deus não está entre nós?".

61) Por isso, ele ainda é considerado justo incompleto, porque alguém que é premiado com a
revelação da face, ou seja, a medida completa de Sua bondade, como é próprio do seu nome, é
chamado de "justo" (item 55). Isto porque ele justifica a Sua Providência como realmente é, que
Ele é totalmente bom e totalmente perfeito com as Suas criações, que Ele é bom para os bons e
para os maus.

Assim, visto que lhe foi concedida a revelação da face, doravante ele merece o nome de "justo".
No entanto, visto não ter concluído a correcção mas apenas a ocultação dentro de ocultação, e
não ter corrigido a primeira ocultação, mas somente doravante, então esse momento, antes de
lhe ter sido concedido o arrependimento, ainda não merece o nome de "justo". Isto porque depois
ele permanece com a ocultação da face, como antes. Por esta razão, ele é chamado de " justo
incompleto ", significando alguém que ainda precisa de corrigir o seu passado.

62) É também chamado de "médio", pois depois de ele atingir o arrependimento por medo ele fica
igualmente qualificado, através da sua conclusão em Torá e boas acções, para atingir o
arrependimento por amor. Então atinge ser um "justo completo". Assim, agora está no intermédio
entre o medo e o amor, e por isso é chamado de "médio". No entanto, antes disso, ele não estava
totalmente qualificado nem sequer para se preparar para o arrependimento por amor.

63) Isto explica completamente o primeiro nível de realização da revelação da face, a realização
e a sensação da Providência de recompensa e punição, de uma maneira que Aquele que
conhece todos os mistérios testemunhará que ele não voltará à folia. Isso é chamado de
"arrependimento por medo", quando os seus pecados se tornam erros. Isto também é chamado
de "justo incompleto" e "médio".

64) Agora vamos explicar o segundo nível de realização da revelação da face, que é a obtenção
da Providência completa, verdadeira e eterna. Isso significa que o Criador cuida das Suas
criações na forma de "Bom que é bom para os bons e para os maus". Agora, uma pessoa é
considerada um "justo completo" e "arrependimento por amor", quando lhe é concedida a
transformação dos seus pecados em virtudes.

Isso explica os quatro discernimentos da percepção da Providência que se aplicam nas criações.
Os três primeiros discernimentos, ocultação dupla, ocultação simples e realização da Providência
de recompensa e punição, não são mais do que preparações através das quais se atinge o
quarto discernimento, que é a obtenção da verdadeira e eterna Providência.
65) Mas nós ainda devemos entender porque o terceiro discernimento não é suficiente para uma
pessoa, nomeadamente a realização da Providência de recompensa e punição. Dissemos que
ela já fora recompensada com o testemunho de Aquele que conhece todos os mistérios de que
não pecará novamente. Assim, porque é ele ainda chamado de "justo incompleto" ou "médio",
cujo nome revela que o seu trabalho ainda não é desejável aos olhos do Criador, e que ainda
existe um defeito e uma falha no seu trabalho e na sua Torá?

66) Em primeiro lugar, vamos examinar o que os intérpretes perguntaram sobre o Mitzva de amar
o Criador. Como pôde a Torá Sagrada obrigar-nos a um Mitzva que não podemos cumprir
minimamente? Uma pessoa pode-se coagir e escravizar por qualquer coisa, mas nenhuma
coerção ou escravidão no mundo ajudará com o amor.

Eles explicaram que, quando se cumprem adequadamente os 612 Mizvot, o amor de Deus
prolonga-se, por si mesmo, à pessoa. Assim, considera-se possível o cumprimento, uma vez que
se pode escravizar e obrigar a cumprir adequadamente os 612 Mitzvot, e então a pessoa atingirá
também o amor de Deus.

67) Na verdade, as suas palavras exigem uma explicação mais elaborada. No final, o amor de
Deus não deve chegar até nós como um Mitzva, uma vez que não há nenhum acto ou escravidão
da nossa parte nele. Antes vem, por si só, após a conclusão dos 612 Mitzvot. Assim, bastam-nos
perfeitamente os mandamentos dos 612 Mitzvot, portanto porque foi escrito o Mitzva do amor?

68) Para compreendermos isso, devemos primeiro adquirir uma verdadeira compreensão sobre a
própria natureza do amor de Deus. Devemos saber que todas as inclinações, tendências e
propriedades incorporadas numa pessoa, com as quais serve os amigos, todas estas tendências
e as propriedades naturais são necessárias para a obra de Deus.

Para começar, elas foram criadas e impressas no homem apenas por causa do seu papel final,
que é o obectivo último do homem, como está escrito: "aquele que é banido, que não seja exilado
dele". Uma pessoa necessita de todas, para que a complementem nas formas de recepção de
abundância, e para que complementem a vontade de Deus.

Este é o significado de "Todo aquele que é chamado pelo Meu nome, e que criei para minha
glória" (Isaías 43:7) e também de: "O Senhor fez todas as coisas para os seus próprios fins"
(Provérbios 16: 4). Contudo, entretanto foi dado ao homem um mundo inteiro para desenvolver e
concluir todas estas qualidades e inclinações naturais, através do envolvimento entre as pessoas,
tornando-as apropriadas para os seus propósitos.

Está escrito: "Uma pessoa deve dizer: “o mundo foi criado para mim”" porque todas as pessoas
no mundo são necessárias a uma pessoa, dado desenvolverem e qualificarem os atributos e as
inclinações de cada indivíduo para se tornar um instrumento adequado para a Sua obra.

69) Assim, devemos entender a essência do amor de Deus a partir das propriedades do amor
pelo qual uma pessoa se relaciona com outra. O amor de Deus é determinado necessariamente
por essas qualidades, pois só foram impressas nos humanos em Seu Nome. E quando
observamos os atributos do amor entre homem e homem, encontramos quatro medidas de amor,
uma sobre a outra, significando duas que são quatro.

70) A primeira é o "amor condicional". Significa que, devido à grande bondade, prazer e benefício
que se recebe de um amigo, a sua alma une-se à do amigo com amor maravilhoso.

Existem duas medidas nessa situação: a primeira é que, antes de eles se conhecerem e
começarem a amar o outro, eles fizeram mal um ao outro. No entanto, agora eles não querem
recordar isso, pois "o amor cobre todas as transgressões". A segunda medida é que eles sempre
fizeram bem e ajudaram-se um ao outro e não há qualquer vestígio de dano ou prejuízo entre si.

72) A segunda é o "amor incondicional". Significa que uma pessoa sabe que a virtude do seu
amigo é sublime, para além de qualquer medida imaginável. Por isso, a sua alma apega-se a ele
com amor infinito.

Também aqui existem duas medidas: a primeira medida é antes de uma pessoa conhecer cada
conduta e cada acção do seu amigo relativamente aos outros. Nesse período, este amor é
considerado "menos do que o amor absoluto."

Isto porque um amigo tem relações com outros, e superficialmente ele parece estar a prejudicar
os outros por negligência. Desta forma, se o amado os visse, o mérito do seu amigo ficaria
totalmente manchado e o amor entre eles seria corrompido. No entanto, desde que ele não tenha
visto estas relações, o seu amor ainda é total, grande e maravilhoso.

73) O segundo atributo do amor incondicional é o quarto atributo do amor em geral, que também
provém de conhecer o mérito do seu amigo. No entanto, ele agora conhece adicionalmente todas
as suas relações e condutas com cada pessoa, sem excepção. Ele verificou e constatou que não
só não existe um vestígio de falha nelas, como a sua bondade é maior do que qualquer coisa
imaginável. Agora é “amor eterno e completo”.

74) Note-se que estes quatro atributos do amor entre homem e homem aplicam-se também entre
homem e Deus. Além disso, aqui, no amor de Deus, eles tornam-se graus, por meio de causa e
consequência.
É impossível adquirir qualquer um deles sem adquirir o primeiro atributo do amor condicional.
Depois de completamente adquirido, esse primeiro atributo leva-nos a adquirir o segundo
atributo. Após adquirir o segundo atributo ao máximo, este leva à aquisição do terceiro atributo.
Finalmente, do terceiro atributo para o quarto atributo, o amor eterno.

75) Assim, surge a pergunta: "Como se pode adquirir o primeiro grau do amor de Deus, o
primeiro grau de amor condicional, que é o amor que chega através da multiplicidade de bondade
que se recebe do amado, quando não há recompensa por um Mitzva neste mundo?"

Além disso, de acordo com o exposto anteriormente, é preciso atravessar as duas primeiras
formas da Providência por meio da ocultação da face. Por outras palavras, a Sua face, ou seja, a
Sua medida de bondade – a conduta do bom é fazer o bem – está escondida nessa altura (ponto
47). Portanto, nessa altura, uma pessoa experiencia dor e sofrimento.

No entanto, aprendemos que toda a prática da Torá e todo o trabalho de escolha são realizados
principalmente durante esse período, de ocultação da face. Se assim é, como pode suceder que
uma pessoa seja premiada com o segundo atributo do amor condicional, que o ser amado
sempre tenha feito apenas bem maravilhoso e abundante, e que nunca lhe causou qualquer
dano, e mais ainda quando ele atinja o terceiro grau, ou o quarto?

76) De facto, aqui nós mergulhamos em águas profundas. Pelo menos temos de pescar uma jóia
preciosa aqui. Para esse efeito, vamos examinar as palavras dos nossos sábios (Berachot 17):
"Verás o teu mundo na tua vida, e o teu fim para a vida do próximo mundo".

Devemos entender, por que não dizem: "Receberás o mundo na tua vida", mas apenas "verás"?
Se eles quisessem abençoar, eles deveriam ter abençoado totalmente, ou seja, adquirindo e
recebendo o mundo na sua vida. Também temos de compreender porque deverá uma pessoa ver
o seu próximo mundo na sua vida? Pelo menos o seu fim será a vida do próximo mundo. Além
disso, porque colocaram esta bênção em primeiro lugar?

77) Em primeiro lugar temos que perceber, como é isto de ver o próximo mundo na sua vida?
Certamente não conseguimos ver nada espiritual com os olhos corpóreos. Também não é
conduta do Criador mudar as leis da natureza. Isto porque o Criador organizou originalmente
estas condutas desta maneira por serem as mais eficientes para o seu objectivo. Através delas,
uma pessoa chega a unir-se a Ele, como está escrito: "O Senhor fez todas as coisas para o Seu
próprio objectivo". Portanto, temos de entender como uma pessoa vê o seu mundo na sua vida.

78) Eu devo dizer-lhe que esta visão chega a uma pessoa através da abertura dos olhos na
Sagrada Torá, como está escrito: "Abre os meus olhos, para que eu veja as maravilhas da Tua
lei". É sobre isto que a alma deve jurar antes de entrar no corpo (Nida pág. 30), e "mesmo que
todo o mundo diga que és justo, sê ímpio aos teus próprios olhos", especificamente aos teus
próprios olhos.

Por outras palavras, enquanto não tiver atingido a "abertura dos olhos" na Torá, considere-se um
ímpio. Não se deixe enganar pela sua reputação em todo o mundo como sendo um justo.

Agora também pode entender por que eles efectuaram a bênção: "Deves ver o mundo na tua
vida" no início de todas as bênçãos. É porque antes disso não foi ainda concedida a propriedade
de "Justo Incompleto".

79) Devemos ainda compreender, se uma pessoa sabe dentro de si que já cumpriu toda a Torá, e
todo o mundo concorda com ele sobre isso, porque não é isso suficiente para ele? Em vez disso,
ele deve jurar continuar a considerar-se um ímpio. É por faltar esse grau extraordinário de abrir
os seus olhos na Torá que você o compara a um ímpio?

80) Na verdade, as quatro medidas de realização da Sua Providência sobre as próprias pessoas
já foram explicadas. Duas delas estão na ocultação da face, e duas estão na revelação da face.

Além disso, a razão para a ocultação da face às pessoas tem sido explicada: é deliberadamente
para dar às pessoas espaço para trabalho e envolvimento no Seu trabalho em Torá e Mitzvot sem
outra escolha. Isto porque isso aumenta a satisfação do Criador pelo seu trabalho na Sua Torá
eMitzvot, mais do que a sua satisfação pelos seus anjos acima, que não têm escolha e cujo
trabalho é forçado.

81) Apesar do louvor acima pela ocultação da face, ainda não é considerado total, mas apenas
como uma "transição." Este é o local a partir do qual a esperada plenitude é atingida.

Isso significa que qualquer recompensa por um Mitzva que está preparado para uma pessoa é
adquirida somente através do seu trabalho em Torá e boas acções durante a ocultação da face,
quando ele se envolve sem outra "escolha". Isto sucede assim porque então a pessoa sente dor
devido ao seu fortalecimento na Sua fé, cumprindo a Sua vontade. E a sua recompensa total é
medida apenas de acordo com a dor que ele sofre por cumprir a Torá e o Mitzva, como está
escrito: "A recompensa é de acordo com a dor".

82) Assim, cada pessoa deve experienciar esse período de transição de ocultação da face.
Quando o termina, ele é recompensado com a Providência aberta, ou seja, a revelação da face.

E até ser recompensado com a revelação da face, e embora ele veja o lado posterior, ele não
pode abster-se de nunca cometer um pecado. Não só ele é incapaz de manter todos os
613 Mitzvot, porque o amor não vem por meio da coerção e compulsão, como não concluiu nem
os 612 Mitzvot, visto que nem o seu medo está reparado como deveria estar.

Este é o significado de a Torá ser 611 em Gematria (qualquer Gematria é o lado posterior), que
ainda não se consegue observar corretamente os 612 Mitzvot. Este é o significado de: "Ele não
vai combater sempre". No final, será recompensado com a revelação da face.

83) O primeiro grau da revelação da face é a obtenção da Providência de recompensa e punição


com perfeita clareza. Isto chega a uma pessoa somente através da Sua salvação, quando lhe é
concedida a abertura dos olhos da Sagrada Torá em realização maravilhosa, e se torna "uma
fonte abundante" (Avot 86). Em qualquer Mitzva na Sagrada Torá que já cumprira por sua
escolha, é-lhe concedido ver a recompensa do Mitzva em si, que lhe é destinado no próximo
mundo, bem como a grande perda na transgressão.

84) E, apesar da recompensa ainda não estar na sua mão, pois a recompensa de um Mitzva não
está neste mundo, a nítida realização é suficiente para ele doravante, sentir o grande prazer ao
executar cada Mitzva. Isto ocorre assim porque: "tudo o que está prestes a ser cobrado é
considerado cobrado".

Por exemplo, um comerciante que fez um negócio e ganhou uma grande quantia, mesmo que o
lucro lhe chegue só depois de um longo período. Mas se ele está seguro, sem qualquer sombra
de dúvida, que o lucro lhe chegará no momento, ele fica tão feliz como se o dinheiro lhe
chegasse imediatamente.

85) Naturalmente, tal Providência atesta que a partir de agora ele se unirá à Torá e
aos Mitzvotcom o seu coração e alma, e força, e que ele abandonará os pecados como se
escapasse de um incêndio. E embora ele ainda não seja um justo completo, já que ele não
adquiriu o arrependimento por amor, a sua grande adesão à Torá e às boas acções ajudam-no
lentamente a que lhe seja concedido o arrependimento por amor, ou seja, o segundo grau da
revelação da face. Então consegue ele cumprir todos os 613 Mitzvot na íntegra, e torna-se um
justo completo.

86) Agora, nós entendemos perfeitamente o que perguntámos sobre o juramento, que a alma
deve jurar antes de vir a este mundo: "mesmo que todo o mundo diga que és justo, sê ímpio aos
teus próprios olhos ". Perguntámos: "Se todo o mundo concorda que ele é justo, porque deve ele
ainda considerar-se ímpio? Não confia ele em todo o mundo?"

Devemos ainda acrescentar, no que respeita à frase: "mesmo que todo o mundo diga". Qual é a
relação entre isto e o testemunho de todo o mundo, visto que uma pessoa se conhece melhor do
que o resto do mundo? Deveria ter-lhe jurado: "Mesmo que tu saibas para ti próprio que és justo".
No entanto, a perplexidade maior é que a Gemará afirma explicitamente (Berachot 61) que uma
pessoa deve saber na sua alma se ela é justa ou não. Assim, existe uma obrigação e uma
possibilidade de realmente ser completamente justo.

Além disso, é preciso investigar e conhecer esta verdade. Se isto é assim, como é a alma jurada
de ser perversa aos seus próprios olhos, e nunca conhecer a verdade real, quando os nossos
sábios obrigaram o contrário?

87) As palavras são muito precisas, de facto. Enquanto não lhe for concedida a abertura dos
olhos na Torá com realização maravilhosa, suficiente para a sua realização evidente de
recompensa e punição, ele não será certamente capaz de se enganar a si mesmo e considerar-
se justo. Isso porque ele necessariamente sentirá que lhe faltam os dois Mitzvot mais
abrangentes na Torá, nomeadamente o amor e o medo.

Mesmo alcançando o medo completo, de uma forma que "Aquele que conhece todos os mistérios
testemunhará que ele não voltará à folia", devido ao seu grande medo do castigo e da grande
perda por transgredir, é completamente inimaginável antes de lhe ter ser sido concedida a
realização absoluta, clara e completa da Providência de recompensa e punição.

Isto refere-se à realização do primeiro grau de revelação da face, que chega a uma pessoa
através da abertura dos olhos na Torá. Mais ainda com o amor, que vai para além das
capacidades de uma pessoa, uma vez que depende do entendimento do coração, e nenhum tipo
de trabalho ou coerção ajudará aqui.

88) Por isso, o juramento declara: "Mesmo que o mundo inteiro diga que és justo". Isto porque
estes dois Mitzvot, o amor e o medo, são dados apenas ao indivíduo, e mais ninguém no mundo
pode distingui-los e conhecê-los.

Assim, logo que eles vêem que ele completou 611 Mitzvot, eles dizem imediatamente que
provavelmente ele também possui os dois mandamentos do amor e do medo. E uma vez que a
natureza humana compele uma pessoa a acreditar no mundo, ela pode cair num erro grave.

Por essa razão, a alma é jurada sobre isso ainda antes que chegar a este mundo, podendo
ajudar-nos. No entanto, é o próprio indivíduo que deve questionar e saber no seu coração se ele
é um justo completo.

89) Também conseguimos entender o que perguntámos: "Como pode sequer o primeiro grau de
amor ser atingido, se não há recompensa para um Mitzva neste mundo (nesta vida)?" Agora está
claro que uma pessoa não precisa realmente de receber a recompensa pelo Mitzva na sua vida,
daí a sua precisão: "verás o teu mundo na tua vida, e o teu fim para a vida do próximo mundo",
indicando que a recompensa por um Mitzva não está neste mundo, mas no próximo mundo.

No entanto, para conhecer, ver e sentir a recompensa futura do Mitzva no próximo mundo, é
preciso conhecê-lo com plena certeza e clareza durante esta vida, através da realização
maravilhosa na Torá. Isso ocorre assim porque então uma pessoa atinge amor condicional, que é
o primeiro nível da saída de ocultação da face e da entrada na revelação da face, que se deve ter
para cumprir a Torá e os Mitzvot correctamente, de uma forma que "Aquele que conhece todos os
mistérios testemunhará que ele não voltará à folia".

90) E trabalhando para observar a Torá e os Mitzvot sob a forma de amor condicional, que
provém de conhecer a futura recompensa no próximo mundo, como em: "tudo o que está prestes
a ser cobrado é considerado cobrado", alcança-se o segundo nível de revelação da face: a Sua
Orientação sobre o mundo a partir da Sua eternidade e veracidade, o que significa que Ele é Bom
e faz bem para os bons e para os maus.

Nesse estado, um indivíduo atinge o amor incondicional e os pecados tornam-se virtudes para
ele. E, a partir daí, ele é chamado de "justo completo", uma vez que ele pode cumprir a Torá e
osMitzvot com amor e medo. E ele é chamado de "completo", porque ele possui os
613 Mitzvot na totalidade.

91) Isto responde ao que perguntámos: "Aquele que atinge a terceira medida da Providência,
nomeadamente a Providência de recompensa e punição, quando Ele que conhece todos os
mistérios já testemunha que ele não voltará à folia, ainda é considerado "Justo Incompleto".
Agora entendemos perfeitamente que ainda lhe falta um Mitzva, o Mitzva do amor. Claro que está
incompleto, visto que ele tem necessariamente de completar os 613 Mitzvot, o que é
obrigatoriamente o primeiro passo na porta da perfeição.

92) Com tudo o que foi dito anteriormente, compreendemos o que eles perguntaram: "Como é
que a Torá nos obrigou ao Mitzva do amor, quando não está nas nossas mãos envolvermo-nos
nesteMitzva e nem sequer conseguir tocar-lhe?" Agora você vê e entende que é sobre isto que os
nossos sábios nos advertiram: "Eu trabalhei e não achei, não acreditai", e também: "Deixe
sempre um envolver-se em Torá e Mitzvot em Lo Lishma porque, a partir de Lo Lishma, um chega
a Lishma" (Pesachim 50). Além disso, o verso "aqueles que Me procuram achar-Me-ão"
(Provérbios 8) comprova isso.

93) Estas são as palavras dos nossos sábios (Meguilá pág. 6): "O Rabino Yitzhak disse: “Se uma
pessoa vos disser: «eu trabalhei e não achei», não acreditai"; «eu não trabalhei e achei», não
acreditai, «eu trabalhei e achei", acreditai”". E nós questionamo-nos sobre "eu trabalhei e achei,
acreditai", que as palavras parecem contradizer-se, já que o trabalho está relacionado com a
posse, e um achado é algo que surge sem qualquer trabalho, distraidamente. Ele deveria ter dito:
"eu trabalhei e comprei".

No entanto, você deve saber que este termo "achar", aqui mencionado, diz respeito ao verso:
"aqueles que Me procuram achar-Me-ão". Refere-se a achar a face do Criador, como está escrito
em O Zohar, que Ele é achado somente na Torá, o que significa que se é recompensado com o
achado da face do Criador através do trabalho na Torá. Por isso, os nossos sábios foram precisos
nas suas palavras, e disseram: "Eu trabalhei e achei, acreditai" porque o trabalho está na Torá e
o achado na revelação da face da Sua Providência.

Eles abstiveram-se deliberadamente de dizer: "eu trabalhei e ganhei, acreditai" ou "eu trabalhei e
comprei". Isto porque então não haveria margem para erro na matéria, visto que ganhar ou
possuir referem-se apenas à posse da Torá. Assim, eles ecolheram precisamente a palavra
"achei", indicando que se refere a uma outra coisa para além da aquisição da Torá,
nomeadamente a revelação da face de Sua Providência.

94) Isso resolve o verso: "Eu não trabalhei e achei, não acreditai." Parece intrigante, pois quem
poderia pensar que é possível atingir a Torá sem ter que trabalhar por ela? Mas visto que as
palavras se relacionam com o verso: "aqueles que Me procuram achar-Me-ão" (Provérbios 8:17),
isso significa que qualquer um, pequeno ou grande, que O procure, encontra-O imediatamente.
Isto é o que a palavra "procuram" implica.

Poderíamos pensar que isto não exige tanto trabalho, e até mesmo uma pessoa menor, sem
vontade de fazer qualquer esforço por isto, vai encontrá-Lo também. Os nossos sábios avisaram-
nos, a este respeito, para não acreditarmos em tal explicação. Pelo contrário, o trabalho é
necessário aqui, e não: "Eu trabalhei e achei, não acreditai."

95) Agora você vê porque a Torá é chamada de "Vida", como está escrito: "vê, eu coloquei diante
de ti, neste dia, a vida e o bem" (Deuteronómio 30:15) e também: "portanto escolhe a vida" e
"porque eles são vida para aqueles que os encontram" (Provérbios 4:22). Isto provém do verso:
"À luz do semblante do rei está a vida" (Provérbios 16), uma vez que o Criador é a fonte de toda
a vida e de todo o bem.

Assim, a vida estende-se àqueles ramos que aderem à sua raíz. Isto refere-se àqueles que
trabalharam e acharam a Luz de Sua face na Torá, que lhes foi concedido abrirem os seus olhos
na Torá com realização maravilhosa, até lhes ter sido concedida a revelação da face, a realização
da verdadeira Providência própria do Seu nome: "Bom", e a conduta do Bom é fazer o bem.

96) E os que venceram não conseguem mais deixar de cumprir correctamente o Mitzva, como
não consegue largar um prazer maravilhoso que lhe chega às mãos. Por isso, eles correm da
transgressão como quem foge do fogo.
É dito sobre eles: "Mas vós que aderistes ao Senhor vosso Deus estais vivos, cada um de vós
neste dia", dado que o Seu amor chega abundantemente até eles como amor natural, através dos
canais naturais preparados para um indivíduo pela natureza da Criação. Isto é assim porque
agora o ramo está devidamente aderido à sua raiz, e a vida jorra abundante e incessantemente a
partir da sua origem. É por isso que a Torá é chamada de "Vida".

97) Por essa razão, os nossos sábios advertiram-nos em muitos lugares sobre a condição
necessária para a prática da Torá, que seja especificamente Lishma, de forma a que a um lhe
seja concedido a vida através dela, pois é uma Torá de vida, e é por isso que nos foi dada, como
está escrito: "portanto escolhe a vida".

Assim, durante a prática da Torá, cada pessoa deve trabalhar sobre ela, e direccionar a sua
mente e o seu coração para encontrar "a luz do semblante do rei" nela, ou seja, a realização da
Providência aberta, chamada de "luz do semblante". E qualquer pessoa está apta para isso,
como está escrito: "aqueles que Me procuram achar-Me-ão", e como está escrito: "Eu trabalhei e
não achei, não acreditai".

Assim, nada é necessário nesta matéria excepto o próprio trabalho. Está escrito: "Aquele que
pratique Torá Lishma, a sua Torá torna-se uma poção de vida para ele" (Taanit 7a). Isso significa
que se deve apenas direccionar a mente e o coração para alcançar a vida, que é o significado
deLishma.

98) Agora você pode ver que a questão que os intérpretes colocaram sobre o Mitzva do amor,
dizendo que este Mitzva não está nas nossas mãos, visto que o amor não vem por meio de
coerção e força, nem sequer é uma questão. Isto porque está totalmente nas nossas mãos. Cada
pessoa pode trabalhar na Torá até encontrar a realização da Sua Providência aberta, como está
escrito: "Eu trabalhei e achei, acreditai".

Quando um indivíduo atinge a Providência aberta, o amor estende-se até ele por si mesmo
através dos canais naturais. E quem não acredita poder atingi-lo através dos seus esforços, por
um qualquer motivo, está, forçosamente, a desacreditar as palavras dos nossos sábios. Em vez
disso, ele imagina que o trabalho não é suficiente para cada pessoa, o que é o oposto do verso:
"Eu trabalhei e não achei, não acreditai". Também vai contra as palavras: "aqueles que me
procuram achar-Me-ão", especificamente aqueles que "procuram", sejam quem forem, grandes
ou pequenos. No entanto, certamente que ele precisa de trabalhar.

99) Posto isto, você entenderá o significado de: "Aquele que pratica Torá Lo Lishma, a sua Torá
torna-se uma poção de morte para ele" (Taanit 7a), e o verso: "Verdadeiramente Tu és um Deus
que Te ocultas", que o Criador se esconde Ele próprio na Torá.
Perguntámos: "Parece racional que o Criador está escondido neste mundo, fora da Torá, e não
na própria Torá, que só aí é o local da revelação. E perguntámos mais: "Esta ocultação em que o
próprio Criador se esconde, para ser procurado e achado, porque deverei eu fazê-lo?"

100) Pelo que foi explicado anteriormente, você pode entender perfeitamente que esta ocultação,
em que o Criador Se esconde de modo a ser procurado, é a ocultação da face, que Ele efectua
com as Suas criações de duas maneiras: ocultação única e ocultação dentro da ocultação.

O Zohar diz-nos que não devemos sequer considerar que o Criador deseja permanecer na
Providência de face oculta das Suas criações. Pelo contrário, é como uma pessoa que se
esconde deliberadamente para que o seu amigo a procure e encontre.

Da mesma forma, quando o Criador Se comporta em ocultação da face com as Suas criações é
somente porque Ele quer que as criaturas procurem a revelação da Sua face e O encontrem. Por
outras palavras, não haveria qualquer forma ou abertura para as pessoas atingirem a Luz do
semblante do Rei caso Ele não Se tivesse comportado com eles, em primeiro lugar, com
ocultação da face. Assim, a ocultação total não é mais do que uma preparação para a revelação
da face.

101) Está escrito que o Criador Se esconde na Torá. Quanto aos tormentos e dores que se
experiencia durante a ocultação da face, um indivíduo que possui alguns pecados e tenha pouca
prática em Torá e Mitzvot não é como um que se tenha envolvido extensivamente em Torá e boas
acções. Isto porque o primeiro é bastante qualificado para julgar o seu Criador numa escala de
mérito e considerar que o sofrimento que chegou até ele se deveu aos seus pecados e escassez
de Torá.

Para o outro, no entanto, é muito mais difícil sentenciar o seu Criador a uma escala de mérito.
Isto porque na sua mente ele não merece tal severa punição. Além disso, ele vê que os seus
amigos, que são piores do que ele, não sofrem tanto, como está escrito: "os ímpios: e eles que
vivem à vontade, aumentam as riquezas", e também "em vão purifiquei eu o meu coração ".

Assim, enquanto um indivíduo não atinja a Providência de revelação da face, a abundância de


Torá e Mitzvot que ele praticou torna a sua ocultação da face muito mais pesada. Este é o
significado de " o Criador esconde-Se na Torá."

De facto, todo o peso que ele sente através da Torá não é mais do que proclamações pelas quais
a Sagrada Torá o chama para si, despertando-o para se apressar e exercer a quantidade
necessária de trabalho, para o dotar imediatamente com a revelação da face, como é a vontade
de Deus.
102) É por isso que está escrito que todos os que aprendem Torá Lo Lishma, a sua Torá torna-se
uma poção de morte para eles. Não só eles não emergem de ocultação da face para a revelação
da face, uma vez que não orientaram as suas mentes para trabalhar e atingi-la, como a Torá que
acumulam aumenta a sua ocultação da face. Por fim, eles caem em ocultação dentro da
ocultação, o que é considerado morte, completamente isolados da raíz de cada um. Assim, a sua
Torá torna-se uma poção de morte para eles.
103) Isto esclarece os dois nomes atribuídos à Torá: "revelada" e "oculta". Temos de entender
porque necessitamos da Torá oculta, e porque não está revelada toda a Torá?

De facto, há aqui uma intenção profunda. A Torá oculta implica que o Criador Se oculta na Torá,
daí o nome "a Torá do oculto". Por outro lado, é chamada de "revelada", pois o Criador é revelado
pela Torá.

Assim, os Cabalistas disseram, e também o encontramos no livro de orações de Gaon de Vilna


(GRA), que a ordem na realização da Torá começa com o oculto e termina com o revelado. Isto
significa que através do trabalho apropriado, em que um indivíduo se envolve primeiro na Torá do
oculto, é-lhe concedida a Torá revelada, a literal. Assim, um inicia com o oculto,
chamado Sod(segredo), e quando ele é recompensado, termina na literal.

104) Ficou perfeitamente esclarecida a forma como é possível alcançar o primeiro nível de amor,
que é o amor condicional. Aprendemos que, embora não exista nenhuma recompensa por
umMitzva neste mundo, a realização da recompensa pelo Mitzva existe, não obstante, na vida
mundana. Chega a uma pessoa pela abertura dos olhos na Torá. E esta realização evidente é
completamente semelhante a receber a recompensa instantânea pelo Mitzva.

Por isso, um indivíduo sente o benefício maravilhoso contido no Pensamento da Criação, que é
dar prazer às Suas criaturas com a Sua mão cheia, boa e generosa. Devido à abundância de
benefício que atinge, aparece amor maravilhoso entre uma pessoa e o Criador. Jorra
incessantemente para o indivíduo, pelas mesmas vias e canais pelas quais aparece o amor
natural.

105) No entanto, tudo isto chega a uma pessoa a partir do momento em que ela atinge em diante.
No entanto, ela não se quer lembrar de todos os tormentos causados pela Providência de
ocultação da face, que sofrera antes de atingir a revelação da face, uma vez que "o amor cobre
todas as transgressões". No entanto, é considerado uma grande falha, mesmo com o amor entre
as pessoas, muito menos relativamente à veracidade da Sua Providência, porque Ele é Bem que
é bom para os bons e para os maus.

Portanto, devemos entender como um indivíduo pode atingir o Seu amor de tal maneira que
sentirá e saberá que o Criador lhe fez sempre um bem maravilhoso, desde o dia em que nasceu;
que Ele nunca lhe causou ou causará sequer um grama de dano, o que é a segunda forma de
amor.

106) Para entender isso, precisamos das palavras dos nossos sábios. Eles disseram: "àquele que
se arrepende por amor, os seus pecados tornam-se como virtudes". Isto significa que não só o
Criador perdoa os seus pecados, como cada pecado e transgressão que se tenha cometido é
transformado num Mitzva pelo Criador.

107) Assim, após um indivíduo alcançar a iluminação da face em tal medida que cada pecado
que cometera, mesmo os deliberados, é invertido e se torna um Mitzva para si, ele alegra-se com
todo o tormento e aflição que alguma vez sofrera, desde o momento em que foi colocado nos
dois discernimentos de ocultação da face. Isto porque são eles que lhe trouxeram todos estes
pecados, que agora tornaram-se Mitzvot, pela iluminação da sua face, que realiza maravilhas.

E qualquer sofrimento e problema que o deixara fora de si, e no qual falhou com erros, como na
primeira ocultação, ou falhou com pecados, como na ocultação dupla, tornou-se agora uma
causa e preparação para o cumprimento de um Mitzva e para a recepção da recompensa eterna
e maravilhosa por isso. Portanto, qualquer tristeza transformou-se em grande alegria, para ele, e
qualquer mal em bem maravilhoso.

108) Isto assemelha-se a um conto bem conhecido sobre um judeu que era governante da casa
de um determinado senhorio. O senhorio amava-o muito. Certo dia, o senhorio ausentou-se e
deixou os seus negócios nas mãos do seu substituto, que era anti-semita.

O que fez ele? Ele pegou no judeu e bateu-lhe cinco vezes em frente de toda a gente, para o
humilhar completamente.

Após o retorno do senhorio, o judeu dirigiu-se até ele e disse-lhe tudo o que lhe tinha acontecido.
A sua ira irrompeu, chamou o substituto e ordenou-lhe que desse imediatamente ao judeu mil
moedas por cada vez que lhe batera.

O judeu guardou-as e foi para casa. A sua esposa encontrou-o chorando. Ela perguntou-lhe
ansiosamente: "O que te aconteceu com o senhorio?" Ele disse-lhe. Ela perguntou: "Então
porque estás a chorar?" Ele respondeu: "Estou a chorar porque ele só me bateu cinco vezes.
Desejaria que ele me tivesse batido pelo menos dez vezes, já que agora eu teria dez mil
moedas".

109) Agora você vê que, após um indivíduo ter sido recompensado com o arrependimento dos
pecados de uma forma que os pecados se tornaram virtudes para ele, é-lhe concedida a
realização do segundo nível de amor do Criador, no qual o amado nunca causou qualquer mal ao
seu amado, nem mesmo uma sombra de mal. Em vez disso, ele pratica bem maravilhoso e
abundante, sempre e para sempre, de forma que o arrependimento por amor e a transformação
dos pecados em méritos surgem como um só.

110) Até agora, examinámos apenas os dois graus de amor condicional. No entanto, devemos
ainda compreender como se pode ser recompensado com as duas formas de amor incondicional
para com o Seu Criador.

Para isso, devemos entender completamente o que está escrito (Kidushin pág. 40): "Uma pessoa
deve-se sempre considerar meia indigna e meia digna. Se ele pratica um Mitzva, feliz é ele, pois
sentenciou-se a si mesmo a uma escala de mérito. Se ele comete um pecado, ai dele, pois
sentenciou-se a si mesmo a uma escala de pecado.

Rabino Elazar, filho de Rabino Shimon, diz: “Visto que o mundo é julgado pela sua maioria, e o
indivíduo é julgado pela maioria, se ele pratica um Mitzva, feliz dele, pois sentenciou-se a si
mesmo e ao mundo inteiro a uma escala de mérito. Se ele comete um pecado, ai dele, pois se
sentenciou a si mesmo e ao mundo inteiro a uma escala de pecado”. Pois este pecado que ele
cometera, o mundo e ele perderam muito bem."

111) Estas palavras parecem intrigantes do início ao fim. Ele diz que aquele que pratique
umMitzva, imediatamente sentencia a uma escala de mérito, pois ele é julgado pela maioria. No
entanto, isto refere-se apenas àqueles que são meio indignos e meio dignos. E Rabino Elazar,
filho de Rabino Shimon, não fala sequer sobre esses. Assim, a essência ainda está omissa.

Rashi interpretou as suas palavras como referindo-se às palavras: "Uma pessoa deve-se sempre
considerar meia indigna e meia digna". Rabino Elazar, filho de Rabino Shimon, acrescenta que
deve-se também considerar todo o mundo como sendo meio indigno e meio digno. No entanto, a
essência ainda está omissa, porque mudou ele as suas palavras, se o significado é o mesmo?

112) Isto é ainda mais difícil para o próprio objecto, ou seja, para uma pessoa ver-se a si mesma
como se fosse meia indigna. Isto é um espanto: se alguém conhece as suas muitas iniquidades,
iria ele enganar-se dizendo que ele é apenas meio isto e meio aquilo?

A Torá declara: "Mantém-te longe de uma falsa questão!" Além disso, está escrito: "Um só
pecador destrói muitos bens". Isto porque um pecado sentencia a pessoa e o mundo inteiro a
uma escala de pecado. Assim, é sobre a própria realidade, e não uma falsa imaginação pela qual
uma pessoa deveria considerar-se a si e ao mundo.

113) E ainda há outro espanto: é possível que não existam muitas pessoas em cada geração que
pratiquem um Mitzva? Então, como é o mundo sentenciado a uma escala de mérito? Isso
significa que a situação não muda minimamente, e não há nada novo sob o sol? Na verdade,
grande profundidade é necessária aqui, pois as palavras não podem ser compreendidas
superficialmente.

No entanto, isto não diz respeito a uma pessoa que sabe que são muitos os seus pecados, para
ensinar-lhe equívoco, que ela é meio isto e meio aquilo, ou insinuar que lhe falta apenas
um Mitzva. Este não é, de todo, o caminho do sábio. Pelo contrário, isto diz respeito a alguém
que se sente e imagina como sendo completa e absolutamente justo, e se encontra totalmente
completo. É assim porque ele já foi recompensado com o primeiro nível de amor, pela abertura
dos olhos na Torá, e Aquele que conhece todos os mistérios já testemunha que ele não voltará à
folia.

Para ele, a escrita mostra o caminho e prova que ele ainda não é justo, mas intermédio – meio
indigno e meio digno. Isto é assim porque ainda lhe falta um dos 613 Mitzvot da Torá,
nomeadamente o Mitzva do amor.

Todo o testemunho de Aquele que conhece todos os mistérios, de que ele não pecará
novamente, deve-se apenas à clareza na própria realização da grande perda em transgredir. Este
é considerado o medo de punição, e por isso é chamado de "arrependimento por medo".

114) Aprendemos também anteriormente que este nível de arrependimento por medo ainda não
corrige uma pessoa, mas somente a partir do momento do arrependimento em diante. No
entanto, toda a tristeza e toda a angústia que sofrera antes de lhe ser concedida a revelação da
face permanecem como estavam, não corrigidas. Além disso, as transgressões que tinha
cometido não são completamente corrigidas, permanecendo como erros.

115) É por isso que é dito que tal pessoa, à qual falta ainda um Mitzva, considerar-se-á como
meia indigna e meia digna. Ou seja, uma pessoa deve imaginar que o momento em que ele lhe
foi concedido o arrependimento foi a meio dos seus anos. Assim, ele ainda é meio indigno, na
metade dos seus anos que passaram antes de ele se ter arrependido. Nesse período, certamente
é-se indigno, uma vez que o arrependimento por medo não os corrige.

Segue-se que ele também é meio digno, na metade dos anos a partir do momento em que lhe foi
concedido o seu arrependimento. Durante esse perído, é-se certamente digno, pois tem certeza
que não pecará novamente. Assim, na primeira metade dos anos ele é indigno e, na segunda
metade dos anos, ele é digno.

116) É-lhe dito para pensar que, se realizar um Mitzva, aquele Mitzva que lhe falta do número
613, ele será feliz, pois ele sentenciou-se a uma escala de mérito. Isto porque um indivíduo a
quem seja concedido o Mitzva do amor por via de arrependimento por amor, através disso ele
será recompensado com a transformação dos seus pecados em méritos.

Então, toda a tristeza e todo o sofrimento que ele alguma vez sofrera, antes de lhe ser concedido
o arrependimento, são transformados em prazeres maravilhosos e infinitos para ele. Além disso,
ele lamenta não ter sofrido o dobro ou mais, como na alegoria sobre o senhorio e o Judeu que o
amava.

Isto é chamado de "sentenciação a uma escala de mérito", visto que todas as emoções, os erros
e os pecados foram transformados em méritos. Assim, a sentenciação a uma escala de mérito
significa que toda a taça que estava cheia de pecados foi agora transformada numa taça cheia de
méritos. Nas palavras dos sábios, esta inversão é chamada de "sentenciação".

117) Além disso, adverte-nos mais e diz que, enquanto um indivíduo está no meio e não lhe tenha
sido concedido o Mitzva que está em falta do número 613, ele não deve acreditar em si mesmo
até ao dia da sua morte. Ele também não deve fiar-se no testemunho de Aquele que conhece
todos os mistérios, que ele não voltará à folia, mas que ele pode ainda transgredir.

Assim, deve pensar por si mesmo que se cometer um pecado, ai de si, porque ter-se-á
condenado a uma escala de pecado. Isso ocorre porque, em seguida, ele perderá imediatamente
toda a realização maravilhosa na Torá e toda a divulgação da face que lhe tenha sido concedida,
e voltará à ocultação da face. Assim, ele sentenciar-se-á a uma escala de pecado, pois perderá
todos os méritos e o bem, mesmo da segunda metade dos seus anos. E como prova, traz o
verso: "um só pecador destrói muitos bens".

118) Agora você compreende a adição que Rabino Elazar, filho de Rabino Shimon, acrescenta, e
também porque ele não traz a frase: "meio indigno e meio digno". Isto ocorre assim porque aí fala
do segundo e do terceiro discernimentos de amor, enquanto Rabino Elazar, filho de Rabino
Shimon, fala do quarto discernimento de amor, o amor eterno: a divulgação da face, como
realmente é, Bom que é bom para os bons e para os maus.

119) Aprendemos aí que é impossível alcançar o quarto discernimento, excepto quando se é


proficiente e se conhece todas as condutas do ser amado, e como ele se comporta com todos os
outros, sem excluir alguém. É também por isso que o grande privilégio, quando é concedido a
alguém sentenciar-se a uma escala de mérito, ainda não é suficiente para se alcançar o amor
total, ou seja, o quarto discernimento. Isto porque agora ele não atinge o Seu mérito como sendo
bom que faz bem, para o bem e para o mal, mas apenas a Sua Providência sobre si.

No entanto, ele ainda desconhece a Sua Providência nesta forma sublime e maravilhosa com o
resto das pessoas no mundo. Assim, aprendemos anteriormente que, enquanto não se conhecem
as condutas do amado com os outros, até não faltar nenhum, o amor ainda não é eterno. Por
isso, um indivíduo tem que sentenciar também todo o mundo a uma escala de mérito, e só então
lhe surge o amor eterno.

120) Isto é o que Rabino Elazar, filho de Rabino Shimon, diz: "visto que o mundo é julgado pela
sua maioria, e o indivíduo é julgado pela maioria" e visto que ele se relaciona com o mundo
inteiro, ele não pode dizer, como está escrito, que os vai considerar meio indignos, meio dignos.
Este nível chega a uma pessoa só quando lhe é concedida a divulgação da face e o
arrependimento por medo.

No entanto, como é dito isto sobre o mundo inteiro, quando não lhes foi concedido este
arrependimento? Assim, deve-se apenas dizer que o mundo é julgado pela sua maioria, e o
indivíduo é julgado pela sua maioria.

Explicação: um indivíduo pode pensar que não se tornará um justo completo, excepto quando
não tenha transgressões e nunca tenha pecado. Mas aqueles que falharam nos pecados e
transgressões não merecem mais tornarem-se justos completos.

Por essa razão, Rabino Elazar, filho de Rabino Shimon, ensina-nos que isto não é assim. Pelo
contrário, o mundo é julgado pela sua maioria, tal como é o indivíduo. Isto significa que após um
indivíduo já não ser considerado médio, depois de se ter arrependido por medo, ele atinge
instantaneamente os 613 Mitzvot e é chamado de "médio", significando que em metade dos seus
anos ele é indigno e em metade dos seus anos ele é digno.

Então, se ele acrescentar apenas um único Mitzva, o Mitzva do amor, considera-se que ele é
maioritariamente digno e sentencia tudo a uma escala de mérito. Assim, a escala dos pecados
torna-se, também, uma escala de mérito.

Acontece que, mesmo que se tenha uma escala completa de transgressões e pecados, todos
eles se tornam méritos. Então é-se como alguém que nunca tenha pecado, sendo-se considerado
"justo completo".

Este é o significado do adágio que o mundo e o indivíduo são julgados pela maioria. Assim, as
transgressões nas mãos do indivíduo anteriores ao arrependimento não são tidas em conta, pois
tornaram-se méritos. Neste sentido, mesmo "ímpios completos" são considerados "justos
completos" após lhes ter sido concedido o arrependimento por amor.

121) Portanto, ele diz que, se um indivíduo pratica um Mitzva, após o arrependimento por medo,
então fica a faltar-lhe apenas um Mitzva, e "ele fica feliz porque se sentenciou, a si mesmo e ao
mundo inteiro, a uma escala de mérito". Assim, não só ele é recompensado através do seu
arrependimento por amor, com a própria sentenciação a uma escala de mérito, como o verso diz,
como ainda lhe é concedido sentenciar todo o mundo a uma escala de mérito.

Isso significa que lhe é concedido ascender em realizações maravilhosas na Sagrada Torá, até
ele descobrir como será finalmente concedido a toda a gente no mundo o arrependimento por
amor. Então, também eles descobrirão e verão toda essa Providência maravilhosa, tal como ele
alcançara para si mesmo. E todos eles serão também sentenciados a uma escala de mérito.
Nesse tempo, os "pecados extiguir-se-ão da terra e os ímpios desaparecerão".

E pese embora as pessoas no mundo não tenham ainda, elas próprias, lhes sido sequer
concedido o arrependimento por medo, mesmo assim, após um indivíduo atingir a sentenciação a
uma escala de mérito, destinada a chegar a elas com realização clara e absoluta, é similar a
"deverás ver o teu mundo na tua vida", dito sobre aquele que se arrepende por medo. Dissemos
que um indivíduo fica impressionado e feliz por isso como se o obtivesse instantaneamente, uma
vez que "tudo o que está prestes a ser cobrado é considerado cobrado".

Além disso, aqui é considerado sobre o indivíduo que alcança o arrependimento de todo o
mundo, precisamente como se lhes tivesse sido concedido e chegado ao arrependimento por
amor. Cada um deles sentenciou suficientemente os seus pecados a méritos para conhecer as
Suas condutas com cada pessoa no mundo.

É por isso que Rabino Elazar, filho de Rabino Shimon, diz: "Feliz é ele, pois se sentenciou a si
mesmo e a todo o mundo a uma escala de mérito". De agora em diante, conhece perfeitamente
todas as condutas da Sua Providência com cada uma das criações, através de revelação do seu
verdadeiro face, ou seja, o Bom que é bom para os bons e para os maus. E, por o saber, foi-lhe
asssim concedido o quarto discernimento de amor, nomeadamente o "amor eterno".

Como o verso, também Rabino Elazar, filho de Rabino Shimon, adverte que mesmo após uma
pessoa sentenciar todo o mundo a uma escala de mérito, não deve acreditar em si mesmo até ao
dia da sua morte. Se ele falhar com uma única transgressão, ele perderá imediatamente todas as
suas realizações maravilhosas, como está escrito: "um só pecador destrói muitos bens".

Isso explica a diferença sobre a qual Rabino Elazar, filho do Rabino Shimon, escreve. O texto só
fala sobre o segundo discernimento e o terceiro discernimentos de amor, portanto, não menciona
a sentenciação do mundo inteiro.

Mas Rabino Elazar, filho de Rabino Shimon, fala do quarto discernimento do amor, o qual não
pode ser descrito excepto pela realização da sentenciação de todo o mundo a uma escala de
mérito. No entanto, nós ainda temos que entender como atingimos esta maravilhosa realização
da sentenciação de todo o mundo a uma escala de mérito.
122) É preciso entendermos o que está escrito (Taanit 11a): "Quando o público está de luto, não
se deve dizer, 'Eu irei para casa comer e beber, e terei a minha alma em paz'. Se um indivíduo
fizer isso, a escrita diz sobre ele: "E eis a alegria e o contentamento, chacinando bois e matando
ovelhas, comendo carne e bebendo vinho: comamos e bebamos, porque amanhã morreremos!"
O que diz sobre isso? "E o Senhor dos Exércitos revelou-Se nos meus ouvidos: Certamente esta
maldade não será expiada por ti até morreres".

Até ao momento sobre o atributo de médio. Mas está escrito sobre o atributo de ímpio: "Vinde,
vou buscar o vinho, e vamos encher-nos de bebida forte, e amanhã será como este dia".

O que diz sobre isso? "O justo pereceu, e ninguém levou isto a sério (...) que o justo é retirado do
mal que há-de vir". Em vez disso, quando se sofre com o público, é-se recompensado com o
conforto do público".

123) Estas palavras parecem completamente irrelevantes. Ele pretende evidenciar, baseado no
texto, sobre o sofrimento que se deve obter com o público. Assim, porque deveríamos dividir e
separar o atributo de médio do atributo de ímpio? Além disso, qual é a precisão que ele faz sobre
o atributo de médio e o atributo de ímpio? E por que não diz "intermédio" e "maus", e por que
preciso eu dos atributos?

Além disso, onde se implica que o texto fala de uma iniquidade, quando um indivíduo não sofre
com o público? Ainda para mais, não vemos qualquer punição no atributo dos maus, mas no que
está escrito: "O justo perece, e ninguém leva isso a sério". Se o ímpio peca, o que o justo faz
para que ele seja punido, e porque deveria o ímpio chorar se o justo perecesse?

124) No entanto, você deve saber que todos esses atributos: "médio", "ímpio" e "justo" não são
de pessoas especiais. Pelo contrário, os três estão presentes dentro de cada uma das pessoas
no mundo. Estes três atributos são perceptíveis em cada indivíduo. Durante o período de
ocultação da face, mesmo antes de se atingir o arrependimento por medo, ele é perspectivado
como estando no atributo de ímpio.
Depois, se lhe for concedido o arrependimento do medo, ele é considerado médio. Então, se
também lhe for concedido o arrependimento por amor, no seu quarto discernimento, ou seja, o
amor eterno, ele é considerado "justo completo". Assim, eles não falaram apenas em médio e em
justo, mas em atributo de médio e em atributo de ímpio.

125) Devemos também recordar que é impossível atingir o referido quarto discernimento de amor
sem antes alcançar a revelação da face, que está destinada a chegar ao mundo inteiro. Isso dá
força a um indivíduo para sentenciar todo o mundo a uma escala de mérito, como diz Rabino
Elazar, filho de Rabino Shimon. E nós já aprendemos que a questão da revelação da face
transformará inevitavelmente cada dor e cada tristeza, surgidas durante a ocultação da face, em
prazeres maravilhosos, até ao ponto de se arrepender por se ter sofrido tão pouco.

Portanto, devemos questionar: "Quando um indivíduo se sentencia a uma escala de mérito,


certamente se recorda de todas as dores e tristeza que tivera durante a ocultação da face". É por
isso que é possível que todas elas sejam transformadas em prazeres maravilhosos para si, como
dissemos anteriormente. Mas quando ele sentencia todo o mundo a uma escala de mérito, como
conhece ele a medida do sofrimento e da dor suportada por todas as pessoas no mundo, de
modo a compreender como é que elas são sentenciadas a uma escala de mérito, da mesma
forma que explicámos sobre a sua própria sentenciação?

Para evitar que a escala de mérito do mundo inteiro esteja em falta, quando um indivíduo está
qualificado para sentenciá-los a uma escala de mérito, ele não tem outra táctica senão sofrer
sempre com os problemas do público tal como ele sofre com os seus próprios problemas. Então
a escala do pecado do mundo inteiro estará preparada dentro de si, como a sua própria escala de
pecado. Assim, se lhe for concedido sentenciar-se a uma escala de mérito, ele também será
capaz de sentenciar todo o mundo a uma escala de mérito, e atingir ser "um justo completo".

126) Assim, se um indivíduo não sofrer com o público, então, mesmo quando lhe é concedido o
arrependimento por medo, ou seja, o atributo de médio, a escrita diz sobre ele: "E eis que alegria
e felicidade". Isto significa que a quem tenha sido concedido a bênção: "deverás ver o teu mundo
na tua vida", e vê a toda a recompensa pelo seu Mitzva, o qual está preparado para o próximo
mundo, está certamente "cheio de alegria e felicidade". E diz a si mesmo: "chacinando bois e
matando ovelhas, comendo carne e bebendo vinho: comamos e bebamos, porque amanhã
morreremos!".

Por outras palavras, ele é preenchido com grande alegria por causa da sua recompensa
garantida no próximo mundo. É por isso que ele diz isso com prazer: "pois amanhã morreremos",
e eu vou cobrar a minha vida no mundo próximo Ao Todo depois de morrer.

No entanto, é escrito sobre isso: "E o Senhor dos exércitos revelou-Se nos meus ouvidos:
Certamente esta iniquidade não deve ser expiada por ti até morreres". Isto significa que o texto
repreende-o dos erros nas suas mãos.

Nós aprendemos que os pecados de quem se arrepende por medo se tornam meros erros.
Assim, dado que ele não sofreu com o público e não pode alcançar o arrependimento por amor,
momento em que os pecados são tranformados em virtudes, é forçoso que os erros nas suas
mãos nunca sejam arrependidos na sua vida. Assim, como pode ele alegrar-se da sua vida no
próximo mundo? É por isso que está escrito: "Certamente esta iniquidade não deve ser expiada
por ti até morreres", significando os erros, "até morreres", significando antes de ele morrer. Assim,
ele é desprovido de arrependimento.

127) Está também escrito que isto é o "atributo de médio", significando que o texto fala de uma
época a partir da qual um indivíduo se tenha arrependido por medo. Nessa época, ele é
considerado "médio".

No entanto, o que está escrito sobre o "atributo de ímpio"? Por outras palavras, o que será feito
do tempo em que estava em ocultação da face, o que então foi chamado de "atributo de ímpio"?
Nós aprendemos que o arrependimento por medo não corrige o passado anterior ao seu
arrependimento.

Por conseguinte, o texto traz um outro verso: "Vinde, vou buscar o vinho, e vamos encher-nos de
bebida forte, e amanhã será como este dia". Isto significa que esses dias e anos que passaram
desde o momento da ocultação da face, que ele ainda não corrrigiu, são chamados de "atributo
de ímpio", pois não querem que ele morra, visto que eles não têm lugar no próximo mundo depois
da morte, dado serem o atributo de ímpio.

Por conseguinte, na altura em que o atributo de médio nele está feliz e alegre, "pois amanhã
morreremos", e será recompensado com a vida do próximo mundo, nessa mesma altura o
atributo de ímpio não fala assim. Antes diz: "e amanhã será como este dia", significando que
deseja viver e ser feliz neste mundo para sempre, pois ainda não tem lugar no próximo mundo,
visto que ainda não o corrigiu, pois só é corrigido através de arrependimento por amor.

128) Está escrito: "o justo pereceu", ou seja, o atributo de justo completo, que a pessoa deve
merecer, está perdido dela. "E nenhum homem o levou a sério (...) o justo é retirado do mal que
há-de vir". Isto significa que, por esse médio não ter sofrido com o público, não pode atingir o
arrependimento por amor, invertendo pecados em virtudes e males em prazeres maravilhosos. Ao
invés disso, todos os enganos e o mal que havia experienciado antes de ter adquirido o
arrependimento por medo ainda estão presentes no atributo de ímpio, o qual sente dano na Sua
Providência. E por causa destes danos que ainda sentem, eles não podem ser recompensados a
serem justos completos.

A escritura afirma: "e nenhum homem levou isto a sério", significando que essa pessoa não leva a
sério "do mal que há-de vir". Por outras palavras, por causa do dano que ainda sente na Sua
Providência do passado: "o justo perece", ou seja, ele perdeu o atributo de justo. E ele morrerá e
partirá do mundo como mero médio.

Tudo isto é sobre aquele que não sofre com o público, e que não é recompensado com o conforto
do público, pois não será capaz de os sentenciar a uma escala de mérito e ver o seu consolo. Por
conseguinte, ele nunca atingirá o atributo de justo.
129) Por tudo o que foi mencionado anteriormente, vimos a saber que não há nenhuma pessoa
nascida mulher que não chegue a experenciar os três atributos anteriores: o atributo de ímpio;
atributo de médio; atributo de justo.

Eles são chamados de Midot (atributos), dado que se estendem da Midah (medida) da sua
realização da Sua Providência. Os nossos sábios disseram: "é-se medido na medida em que se
mede" (Sutah 8). E aqueles que alcançam a Sua Providência em ocultação da face são
considerados ímpios: ou ímpios incompletos da perspectiva da ocultação única ou ímpios
completos da perspectiva da dupla ocultação.

E porque se sentem e pensam que o mundo é conduzido com má orientação, é como se eles se
condenasem a si próprios, visto que eles recebem tormentos e dores da Sua Providência e
sentem-se unicamente mal ao longo do dia. E eles condenam-se mais ainda por pensarem que
todas as pessoas no mundo são guiadas como eles, com má orientação.

Assim, aqueles que atingem a Providência pela perspectiva da ocultação da face são chamados
"ímpios", pois esse nome aparece neles vindo da profundidade das suas sensações. Depende da
compreensão do coração, e as palavras ou pensamentos que justifiquem a Sua Providência não
interessam minimamente, opondo-se à sensação de cada órgão e sentido, que não pode forçá-
los a mentirem, como o faz.

Assim, os que se encontram nesta medida de realização da Providência são considerados como
se tendo sentenciado e ao mundo inteiro a uma escala de pecado, conforme está escrito nas
palavras de Rabino Elazar, filho de Rabino Shimon. Isto porque imaginam que todas as pessoas
no mundo são guiadas com má orientação, como se estivesse de acordo com o Seu Nome: "o
Bom que faz bem aos bons e aos maus".

130) Aqueles a quem é concedida a sensação da Sua Providência na forma de primeiro nível de
revelação da face, chamado de "arrependimento por medo", são considerados médios. Isto
ocorre porque as suas emoções são divididas em duas partes, chamadas "duas taças de
escalas".

Agora que adquiriram a revelação da face, por via de "deverás ver o teu mundo na tua vida", pelo
menos eles atingiram a Sua Boa Providência de acordo com o Seu Nome: "Bom". Por isso, eles
têm uma escala de mérito.

No entanto, todos os tormentos amargos e sofrimentos que foram completamente impressos nos
seus sentimentos, de todos os dias e anos que receberam Providência da face oculta, do tempo
anterior à recompensa do arrependimento, todos continuam de pé e são chamados de "uma
escala de pecado".

E visto que eles que possuem estas duas escalas posicionadas opostamente, de forma que a
escala do pecado é definida a partir do momento do seu arrependimento para trás, e a escala de
mérito está definida e garantida a eles a partir do momento do seu arrependimento em diante, o
tempo do arrependimento posiciona-se "entre" o mérito e o pecado, e assim eles são chamados
de "médio".

131) E aqueles que merecem a revelação da face no segundo nível, chamado "arrependimento
por amor", quando os pecados se tornam como méritos para eles, são considerados como tendo
sentenciado a escala anterior de pecado a uma escala de mérito. Isto significa que todo o
sofrimento e toda a aflição nos seus ossos, enquanto sob a Providência de ocultação da face,
foram agora invertidos e sentenciados a uma "escala de mérito".

Isso ocorre porque cada sofrimento e cada dor já se transformou em prazer maravilhoso e infinito.
Agora são chamados "justos", pois justificam a Sua Providência.

132) Devemos saber que o atributo de médio aplica-se mesmo quando se está sob a Providência
de ocultação da face. Devido a um grande esforço na fé em recompensa e punição, a Luz de
grande confiança no Creator aparece-lhes. Por um momento, é-lhes concedido um nível de
revelação de Sua face no nível de médio. Porém, a contrapartida é que não podem ficar
permanentemente nos seus níveis, visto que ficar permanentemente num nível só é possível
através de arrependimento por medo.
133) Também devemos saber que aquilo que dissemos, que há escolha apenas quando há
ocultação da face, não significa que depois de se ter atingido Providência de face revelada não
haja mais trabalho ou esforço na prática de Torá e Mitzvot. Pelo contrário, o trabalho apropriado
em Torá e Mitzvot começa principalmente após ter sido concedido o arrependimento por amor. Só
então é possível participar em Torá e Mitzvot com amor e medo, como nos é ordenado, e "o
mundo foi criado apenas para os justos completos" (Berachot 61).

É um pouco como um rei que pretendeu escolher para si os mais fiéis dos seus súbditos no país
e trazê-los para trabalharem dentro do seu palácio. O que fez ele? Emitiu um decreto para que
qualquer um que assim desejasse, jovem ou velho, viesse ao seu palácio para participar nos
trabalhos no interior do seu palácio.

No entanto, ele nomeou muitos dos seus criados para guardarem o portão do palácio e todas as
estradas que levam até ele, e ordenou-lhes que astuciosamente afastassem todos os que se
aproximassem do seu palácio e os desviassem do caminho que conduz ao palácio.

Naturalmente, todos os indivíduos no país começaram a correr para o palácio do rei. Mas os
guardas diligentes rejeitaram-nos astuciosamente. Muitos deles dominaram-nos e chegaram
perto do portão do palácio, mas os guardas no portão foram os mais diligentes, e alguém que se
aproximasse do portão seria desviado e afastado por eles com grande astúcia, até que uma
pessoa desesperasse e regressasse como viera.

E assim eles vieram e foram, e recuperaram força, e vieram e foram novamente, e assim por
diante por vários dias e anos, até que se cansaram de tentar. E só os heróis entre eles, cuja
paciência resistiu, derrotaram os guardas e abriram o portão. E eles foram imediatamente
premiados com a visão do face do rei, que nomeou cada um deles para o seu lugar certo.

Obviamente, a partir daquele momento, eles não tiveram mais contacto com aqueles guardas,
que os desviaram e enganaram e amargaram as suas vidas durante vários dias e anos, correndo
para a frente e para trás à volta do portão. Isto porque eles foram recompensados com
trabalharem e servirem diante da glória da face do rei, dentro do Seu palácio.

Assim é com o trabalho dos justos completos. A escolha aplicada durante a ocultação da face
certamente não se aplica após abrirem a porta para atingirem a Providência aberta.

Contudo, eles começam o seu trabalho principalmente a partir da revelação da face. Nessa
altura, eles começam a marchar os muitos degraus na escada estabelecida na terra, cujo topo
atinge os céus, como está escrito: "os justos deverão ir de força em força".

É como dizem os nossos sábios: "todo e cada justo é coberto pela cobertura do seu amigo".
Estas obras habilitam-nos para a vontade de Deus, para realizar em si o Seu Pensamento da
Criação, que é "deliciar as Suas criaturas", de acordo com a Sua mão boa e generosa.

134) Você deve conhecer esta lei, que só há revelação num lugar onde houve ocultação. Isto é
semelhante às questões deste mundo onde a ausência precede a existência, como o crescimento
do trigo só aparece onde foi semeado e apodreceu.

É idêntico com as questões mais elevadas, onde ocultação e revelação relacionam-se entre si
como o pavio e a luz que o pega. Isto porque qualquer ocultação, uma vez corrigida, é uma razão
para a revelação da Luz relacionada com esse tipo de ocultação, e a Luz que aparece apega-se
a ela como a luz a um pavio. Lembre-se disto em todos os seus caminhos.

135) Agora você pode entender o que os nossos sábios escreveram, que a Torá inteira é os
nomes do Criador. Isto parece intrigante, pois existem muitas indecências, como nomes de
ímpios (Faraó, Balaão, etc.), proibição, impureza, maldições implacáveis nas duas
admoestações, e assim por diante. Assim, como podemos compreender que todos estes são os
nomes do Criador?
136) Para compreender isso, devemos saber que os nossos caminhos não são os Seus
caminhos. O nosso caminho é vir do imperfeito para a perfeição. No Seu caminho, todas as
revelações chegam-nos da perfeição para o imperfeito.

Em primeiro lugar, perfeição completa emana e emerge de Ele. Esta perfeição desce de Sua face
e baixa restrição a restrição, através de vários níveis, até que chega à última fase, a mais restrita,
adequada ao nosso mundo material. E então a matéria aparece-nos aqui neste mundo.

137) A partir do que foi mencionado, você aprenderá que a Sagrada Torá, cuja Altura é infinita,
não emanou ou emergiu a partir de Ele, como nos parece a nós aqui neste mundo, pois é sabido
que "a Torá e o Criador são um", e isso não é de todo aparente na Torá do nosso mundo. Além
disso, aquele que se envolve nela em Lo Lishma, a sua Torá torna-se uma poção da morte para
ele.

Pelo contrário, quando foi inicialmente emanada de Ele, foi emanada e emergiu em perfeição
absoluta, ou seja, sob a forma real de "A Torá e o Criador são um". Esta é chamada de "A Torá
deAtzilut" na Introdução às Correções de O Zohar (pág. 3), em que "Ele, a Sua Vida e Ele Próprio
são um". Depois, desceu de Sua face e foi progressivamente restringida através de muitas
restrições, até que foi dada no Sinai, quando foi escrita como está perante nós aqui neste mundo,
vestida com as vestes rudes do mundo material.

138) No entanto, você deve saber que a distância entre as vestes da Torá neste mundo e as
vestes da Torá no mundo de Atzilut é imensurável. No entanto, a Torá em si, ou seja, a Luz dentro
da veste, mantém-se completamente inalterada entre a Torá de Atzilut e a Torá deste mundo,
como está escrito: "Eu, o Senhor, não mudo” (Malaquias 3:6).

Além disso, estas vestes rudes na nossa Torá de Assiya não são, de todo, de valor inferior à Luz
que está vestida nela. Pelo contrário, a sua importância é muito maior, relativamente ao final da
sua correção, do que todas as suas vestes puras nos Mundos Superiores.

Isto sucede assim porque a ocultação é a razão para a revelação. Após a sua correcção, durante
a revelação, a ocultação está para a revelação como um pavio está para a luz que o pega.
Quanto maior a ocultação, maior Luz se apegará a ele quando for corrigido. Assim, todas estas
vestes rudes com que a Torá está vestida, neste mundo, o seu valor não é em nada inferior à Luz
que os veste, muito pelo contrário.

139) Este é o triunfo de Moisés sobre os anjos com o seu argumento: "Existe inveja entre vós?
Está a inclinação do mal entre vós?" (Shabbat 89). Isto significa que uma maior ocultação revela
uma Luz maior. Ele mostrou-lhes que nas vestes puras em que a Torá se veste, no mundo dos
anjos, as maiores Luzes não conseguem aparecer através delas como conseguem nas vestes
deste mundo.

140) Assim, aprendemos que não há qualquer mudança da Torá de Atzilut, onde "a Torá e o
Criador são um" até à Torá neste mundo. A única diferença está nas vestes, visto que as vestes
deste mundo ocultam o Criador e escondem-No.

Saiba que, por Se vestir na Torá, esta é chamada de "Ensino". Diz-lhe que, mesmo durante a
ocultação da face, e mesmo durante a dupla ocultação, o Criador está incorporado e vestido na
Torá. Ele é o "Mestre" e é a Torá, mas as vestes rudes da Torá perante os nossos olhos são
como asas que cobrem e escondem o Mestre, que está vestido e escondido nelas.

No entanto, quando é concedido a um indivíduo a revelação da face em arrependimento por


amor, no seu quarto discernimento, é dito sobre ele: "não deverá o teu Mestre esconder-se mais,
mas os teus olhos verão o teu Mestre" (Isaías, 30: 20). Daí em diante, as vestes da Torá não
escondem e ocultam mais o "Mestre", e um indivíduo descobre para sempre que "a Torá e o
Criador são um".

141) Agora você pode entender o significado das palavras: "abandonem-Me e cumpram a Minha
lei". Eles interpretaram: "eu desejo que Me tenham deixado e cumprido a Minha Torá, a Luz aí
contida corrige" (Yerushalmi, Hagiga, pág. 6b).

Isto é desconcertante. Eles querem dizer que eles estavam em jejum e tortura para encontrar a
revelação de Sua face, como está escrito: "eles têm prazer em chegar perto de Deus"
(Isaías 58:2). No entanto, o texto diz-lhes, em nome do Criador: "Eu gostaria que vós me
deixásseis, pois todo o vosso trabalho é em vão e inútil. Eu não sou encontrado em nenhum outro
lugar senão na Torá. Portanto, cumpram a Torá e procurarem-Me aí, e a Luz aí contida corrigir-
vos-á e vós achar-Me-eis", como está escrito: "aqueles que Me procuram achar-Me-ão".

142) Agora podemos esclarecer um pouco a essência da sabedoria da Cabala, o suficiente para
uma percepção segura na qualidade dessa sabedoria. Assim, um indivíduo não se deve enganar
com falsas imaginações, como as massas enfrentam.

Você deve saber que a Sagrada Torá divide-se em quatro discernimentos, que abrangem a
totalidade da realidade. Três discernimentos são discernidos na realidade geral deste mundo.
Eles são chamados de "Mundo", "Ano" e "Alma". O quarto discernimento é a orientação de
existência das três partes referidas da realidade, a sua nutrição, as suas condutas e todos os
seus incidentes.

143) A parte exterior da realidade, como o céu e os firmamentos, a terra e os mares, etc., que
estão escritos na Torá, são todos chamados de "Mundo". A parte interna da realidade: homem e
besta, animais e aves diversas, etc., trazidos pela Torá, que existe nos locais anteriores,
chamados de "parte externa", são chamados de "Alma".

A evolução da realidade ao longo das gerações é chamada de "causa e consequência". Por


exemplo, na evolução das cabeças das gerações desde Adam ha Rishon até Josué e Calebe,
que vieram à terra, que são trazidos pela Torá, o pai é considerado a "causa" do filho, que é
"causado" por ele. Esta evolução dos detalhes da realidade por meio da referida causa e
consequência é chamada de "Ano". Da mesma forma, todas as manifestações da existência da
realidade, tanto externas como internas, em cada incidente e em cada comportamento, trazidas
pela Torá, são chamadas de "a existência da realidade".

144) Saiba que os quatro mundos são chamados, na sabedoria da Cabala,


de Atzilut, Beria, Yetzirae Assiya. Quando eles saíram e evoluíram, eles emergiram um a partir do
outro como um selo e a sua impressão. Isso significa que tudo o que está escrito no selo aparece
necessariamente no que é impresso a partir dele, nem mais nem menos, e assim foi também com
a evolução dos mundos.

Assim, todos os quatro discernimentos MAA (Mundo, Ano, Alma), com todos os seus modos de
subsistência, que estavam no mundo de Atzilut, saíram, foram impressos, e manifestaram a sua
imagem também no mundo de Beria. O mesmo sucedeu do mundo de Beria para o mundo
deYetzira, descendo até ao mundo de Assiya.

Assim, os três discernimentos na realidade diante de nós, chamados MAA, com todos os seus
modos de subsistência, que são determinados diante dos nossos olhos aqui neste mundo,
estenderam e apareceram aqui provenientes do mundo de Yetzira, e em Yetzira do seu superior.

Desta forma, a origem dos numerosos detalhes diante dos nossos olhos está no mundo
de Atzilut. Além disso, mesmo com as inovações que aparecem hoje neste mundo, cada
novidade deve aparecer primeiro Acima, no mundo de Atzilut, e de lá desce e aparece-nos neste
mundo.

Este é o significado das palavras dos nossos sábios: "não há uma lamina de grama abaixo que
não tenha uma fortuna e um guarda acima, que lhe bate e lhe diz: “cresce!”" (Beresheet Rabba,
Capítulo Dez). Este é o significado do texto: "Um indivíduo não move um dedo abaixo, sem que
seja declarado Acima" (Hulin pág. 7).

145) Saiba que o facto de a Torá se vestir nos três discernimentos da realidade: "Mundo", "Ano" e
"Alma" e a sua existência neste mundo material produzem as proibições, as impurezas e
interdições encontradas na Torá revelada. Foi explicado que o Criador está vestido nela por
intermédio de "A Torá e o Criador são um", mas em grande ocultação. Isto ocorre porque estas
vestes materiais são as asas que O cobrem e escondem.

No entanto, o vestir da Torá na forma de MAA puros, e a sua existência nos três mundos
superiores, chamados Atzilut, Beria, Yetzira, são geralmente chamados de "A Sabedoria da
Cabala".

146) Assim, a sabedoria da Cabala e a Torá revelada são uma e a mesma coisa. No entanto,
quando uma pessoa recebe de uma Providência de face oculta, e o Criador Se esconde na Torá,
considera-se que ela está praticando a Torá revelada. Por outras palavras, ela é incapaz de
receber qualquer iluminação da Torá de Yetzira, já para não falar de Yetzira Superior.

E quando lhe é concedida a revelação da face, ela começa a envolver-se na sabedoria da


Cabala. Isso ocorre porque as vestes da Torá revelada foram purificadas para si, e a sua Torá
tornou-se a Torá de Yetzira, chamada "A Sabedoria da Cabala".

Mesmo para aquele a quem é concedido a Torá de Atzilut, não significa que as letras da Torá
tenham mudado para ele. Pelo contrário, as mesmas precisas vestes da Torá revelada foram
purificadas para ele e tornaram-se roupas muito puras. Tornaram-se como o verso: "não deverá o
teu Mestre esconder-se mais, mas os teus olhos verão o teu Mestre". Nessa altura, elas tornam-
se como "Ele, a Sua Vida e Ele Próprio são um".

147) Deixe-me dar-lhe um exemplo, para trazer a questão um pouco mais próximo da sua mente.
Por exemplo: enquanto um indivíduo esteve com ocultação da face, as letras e as vestes da Torá
esconderam necessariamente o Criador. Assim, ele falhou, devido aos pecados e aos erros que
cometera. Nessa altura, ele foi colocado sob a punição das vestes rudes na Torá, as quais são:
impureza, proibição e interdições.

No entanto, quando se é concedido Providência aberta e arrependimento por amor, quando os


seus pecados se tornam virtudes, todos os pecados e os erros em que ele falhara enquanto
esteve sob a ocultação da face, deixaram agora as suas vestes rudes e muito amargas e
vestiram as vestes de Luz, Mitzva e méritos.

Isto sucede assim porque as mesmas vestes rudes tornaram-se virtudes. Agora elas são como
vestes que se prolongam do mundo de Atzilut ou de Beria, e não cobrem ou escondem O Mestre.
Pelo contrário, "os teus olhos verão o teu Mestre".

Assim, não existe diferença alguma entre a Torá de Atzilut e a Torá neste mundo, entre a
sabedoria da Cabala e a Torá revelada. Pelo contrário, a única diferença está na pessoa que se
envolve na Torá. Duas pessoas podem estudar a mesma porção e as mesmas palavras na Torá,
mas para uma esta Torá será como a sabedoria da Cabala e a Torá de Atzilut, enquanto para a
outra será a Torá de Assiya, a revelada.
148) Agora você entenderá a verdade nas palavras de Gaon de Vilna no livro de orações, na
bênção da Torá. Ele escreveu que a Torá começa com Sod (segredo), significando a Torá
revelada de Assyia, que é considerada oculta, uma vez que o Criador está completamente oculto
nela.

Depois ele segue para a Remez (intimação), significando que Ele é mais revelado na Torá
deYetzira. Finalmente, alcança-se a Peshat (literal), que é a Torá de Atzilut. É chamada Peshat,
pois éMufshat (despida) de todas as vestes que ocultam o Criador.

149) Uma vez que chegámos até aqui, podemos providenciar alguma ideia e discernimento sobre
os quatro mundos, conhecidos na sabedoria da Cabala pelos
nomes: Atzilut, Beria, Yetzira, Assiya de Kedusha (santidade), e sobre os quatro
mundos ABYA das Klipot, dispostos cada um oposto ao outro, opostos a ABYA de Kedusha.

Você compreenderá isso nos quatro discernimentos de realização da Sua Providência e nos
quatro níveis de amor. Primeiro, vamos explicar os quatro mundos ABYA de Kedusha, e
começaremos a partir de baixo, do mundo de Assiya.

150) Já explicámos os dois primeiros discernimentos da Providência de ocultação da face. Você


deve saber que ambos são considerados no mundo de Assiya. É por isso que está escrito no
livro A Árvore da Vida que o mundo de Assiya é maioritariamente mau, e até mesmo o pouco de
bom contido nele está misturado com o mal e é irreconhecível.

Pela perspectiva da primeira ocultação, segue-se que é maioritariamente má, significando os


tormentos e as dores que sentem aqueles que recebem esta Providência. E, pela perspectiva da
dupla ocultação, o bem está misturado com o mal, igualmente, e o bem é completamente
imperceptível.

O primeiro discernimento de revelação da face é considerado "o mundo de Yetzira". Assim, está
escrito no livro A Árvore da Vida (Porta 48, Capítulo III), que o mundo de Yetzira é meio bom e
meio mau. Isto significa que aquele que alcança o primeiro discernimento de revelação da face,
que é a primeira forma de amor condicional, considerada um mero "arrependimento por medo", é
chamado de "médio", e ele é meio indigno, meio digno.

O segundo discernimento de amor também é condicional, mas não existe qualquer vestígio de
dano ou prejuízo entre eles. Conjuntamente, o terceiro discernimento de amor é o primeiro
discernimento de amor incondicional. Ambos são considerados como sendo o mundo de Beria.
Assim, está escrito no livro A Árvore da Vida que o mundo de Beria é maioritariamente bom e
apenas uma minoria é má, e essa minoria má é imperceptível. Isto significa que quando o médio
é recompensado com um Mitzva, ele sentencia-se a uma escala de mérito. E por essa razão, ele
é considerado "maioritariamente bom", representando a forma de discernimento do amor.

O minúsculo e imperceptível mal que sai em Beria estende-se do terceiro discernimento de amor,
que é incondicional. Além disso, ele já se sentenciou a uma escala de mérito, mas ainda não
sentenciou todo o mundo; assim, uma minoria em si é má, uma vez que este amor ainda não é
considerado eterno. No entanto, esta minoria é imperceptível porque ele ainda não sentiu
qualquer dano ou prejuízo, mesmo relativamente a outros.

O quarto discernimento de amor, o amor incondicional que também é eterno, é considerado o


mundo de Atzilut. Este é o significado do que está escrito no livro A Árvore da Vida, que no
mundo de Atzilut não há qualquer mal, e aí "o mal não deve andar convosco".

Isto porque após se ter sentenciado todo o mundo a uma escala de mérito, igualmente, o amor é
eterno, completo e nenhuma ocultação ou dissimulação será concebida. Isto ocorre assim porque
é o lugar da revelação absoluta da face, como está escrito, "não deverá o teu Mestre esconder-se
mais, mas os teus olhos verão o teu Mestre". Isto porque agora ele conhece todas as ligações do
Criador com todas as pessoas, como verdadeira Providência que emana do seu nome: "O Bom
que é bom para os bons e para os maus".

151) Agora você pode entender também o discernimento dos quatro mundos de ABYA de Klipa,
posicionados opostamente a ABYA de Kedusha, como em "Deus fez justamente um tão bem
como o outro". Isto porque a carruagem das Klipot de Assiya provém do discernimento da face
oculta em ambos os seus níveis. Essa carruagem domina para fazer o homem sentenciar tudo a
uma escala de pecado.

E o mundo de Yetzira de Klipa apanha a escala de pecado, não corrigida no mundo de Yetzira de
Kedusha, em suas mãos. Assim, eles dominam o médio, que recebem do mundo de Yetzira por
meio de "Deus fez justamente um tão bem como o outro".

O mundo de Beria de Klipa tem o mesmo poder de anular o amor condicional, cancelando a única
coisa que segura o amor, isto é, a imperfeição no amor do segundo discernimento.

E o mundo de Atzilut de Klipa é o que capta na sua mão essa minoria do mal, cuja existência
emBeria não é aparente, devido ao terceiro discernimento de amor. E embora seja amor
verdadeiro, pela força do Bem que é bom para os bons e para os maus, que é
considerado Atzilut de Kedusha, não obstante, por não lhe ter sido concedido sentenciar todo o
mundo a uma escala de mérito, a Klipa tem força para falhar o amor relativo à Providência sobre
os outros.

152) Este é o significado do que está escrito em A Árvore da Vida, que o mundo de Atzilut das
Klipot fica oposto ao mundo de Beria, e não oposto ao mundo de Atzilut. Isto é assim porque só o
quarto discernimento do amor se estende do mundo de Atzilut de Kedusha. Assim, aí não há
qualquer domínio das Klipot, uma vez que já sentenciou o mundo inteiro a uma escala de mérito,
e conhece igualmente todas as condutas do Criador, na Sua providência sobre as pessoas, a
partir da Providência do Seu nome: "O Bom que é bom para os bons e para os maus".

No entanto, no mundo de Beria, a partir do qual estende-se o terceiro discernimento, ainda não
há sentenciar de todo o mundo. Portanto, ainda há um suporte para as Klipot. No entanto,
estasKlipot são consideradas o Atzilut da Klipa, uma vez que estão opostas ao terceiro
discernimento, o amor incondicional, e este amor é considerado Atzilut.

153) Agora explicámos perfeitamente os quatro mundos ABYA de Kedusha e as Klipot, que estão
vis-à-vis cada um dos mundos. Elas são consideradas a deficiência que existe no seu mundo
correspondente, em Kedusha, e elas são os chamados " quatro mundos ABYA de Klipot ".

154) Estas palavras são suficientes para qualquer observador sentir em certa medida a essência
da sabedoria da Cabala. Você deve saber que a maioria dos autores de livros de Cabala dirigiu
os seus livros apenas para leitores que já hão alcançado uma revelação da face e todas as
realizações sublimes.

Não deveríamos perguntar: "se já lhes tinham sido concedidas realizações, então eles conhecem
tudo através da sua própria realização. Por que precisariam então eles de se envolver em livros
de Cabala de outros autores?"

No entanto, não é sábio fazer essa pergunta. É como alguém que se envolve na Torá literal que
não tem conhecimento das condutas deste mundo em relação ao Mundo, Ano, Alma deste
mundo, e que não conhece o comportamento das pessoas e as suas condutas entre si e os
outros. E também não conhece as feras e os pássaros neste mundo.

Você considera mesmo que essa pessoa seria capaz de compreender mesmo uma única edição
da Torá corretamente? Ele reviraria os assuntos na Torá de bons a maus e de maus a bons, e
não encontraria as suas mãos ou os seus pés em nada.

Assim é a questão diante de nós: mesmo que lhe tenha sido concedida realização, e mesmo ao
nível da Torá de Atzilut, ele ainda não percepcionará mais do que diz respeito à sua própria alma.
Não obstante, é necessário conhecer todos os três discernimentos Mundo, Ano, Alma, em todos
os seus incidentes e comportamentos com plena consciência, para ser capaz de compreender as
questões da Torá que dizem respeito a esse mundo.

Estas questões são explicadas em O Livro do Zohar e nos livros de Cabala genuína com todos os
seus detalhes e complexidades. Assim, cada sábio e aquele que entende com a sua própria
mente, deve contemplá-los dia e noite.
155) Portanto, devemos perguntar, porque obrigaram então os cabalistas cada pessoa a estudar
a sabedoria da Cabala? De facto, existe nisso uma grande coisa, digna de ser divulgada: existe
um remédio maravilhoso, de valor inestimável para aqueles que se dedicam à sabedoria da
Cabala. Embora eles não entendam o que estão aprendendo, através do esforço e do grande
desejo de entender o que estão a aprender, eles despertam sobre si as Luzes que rodeiam as
suas almas.

Isto significa que é garantido a cada pessoa de Israel alcançar finalmente todas as realizações
maravilhosas que o Criador contemplara no Pensamento da Criação para deliciar cada criatura. E
aquele a quem não tenha sido concedido nesta vida ser-lhe-á garantido na próxima vida, etc., até
lhe ser concedido concluir o Seu Pensamento, que Ele planeara para si.

E enquanto não tenha atingido a perfeição, as Luzes que estão destinadas a alcançá-lo são
consideradas Luzes Circundantes. Isto significa que elas estão prontas para ele, mas estão
esperando até que ele purifique os seus recipientes de recepção, momento no qual essas luzes
vestirão os recipientes habilitados.

Assim, mesmo quando ele não tem recipientes, quando ele se envolve nesta sabedoria,
mencionando os nomes das Luzes e os recipientes relacionados com a sua alma, elas
imediatamente brilham sobre ele até certa medida. No entanto, elas brilham para ele sem vestir o
interior da sua alma, por falta de recipientes capazes de os receber. No entanto, a iluminação que
se recebe vez após vez durante o envolvimento atrai sobre ele graça do Superior, transmitindo-
lhe abundância de santidade e pureza, que o aproxima muito mais do alcance da perfeição.

156) Contudo, há uma condição rigorosa durante o envolvimento nesta sabedoria: não
materializar os assuntos com casos imaginários e corpóreos. Isto porque assim eles violam "Não
farás para ti uma imagem esculpida, nem qualquer tipo de semelhança".

Nesse caso, é-se prejudicado em vez de se receber benefícios. Por isso, os nossos sábios
advertiram para estudar a sabedoria só depois dos quarenta anos, ou de um Rabino, e outras
precauções do género. Tudo isto prende-se com o motivo exposto anteriormente.

Para acautelar os leitores de qualquer materialização, eu compus o livro Talmud Eser Sefirot (O
Estudo das Dez Sefirot) pelo Ari. Nele eu seleccionei, a partir dos livros do Ari, todos os ensaios
principais associados à explicação das dez Sefirot, na linguagem mais simples e fácil que
consegui. Também organizei a tabela de perguntas e a tabela de respostas para cada palavra e
assunto. " (...) E que a vontade de Deus tenha sucesso na Sua mão".

[18] Ver explicação no ensaio PARDESS.

Introdução ao Estudo das Dez Sefirot, Rav Yehuda LeiB HaLevi Ashlag (BAAL HASULAM)
Categories: artigo, baal hasulam, cabala

Fonte do artigo: http://cabalaportugal.blogspot.com.br/2010/09/introducao-ao-estudo-das-dez-


sefirot.html

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