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NEWEN
MAPUCHE:
LA
FUERZA
DE
LA
GENTE
DE
LA
TIERRA
Texto
coletivo
do
Gecilava:
Gabriela
Justine
Lucas
Xavier
Marie
Goulart
Mario
Miranda
Sérgio
César
Junior
Yanet
Aguilera
Neste
filme
se
denuncia
que,
ao
longo
dos
últimos
anos,
o
Estado
democrático
chileno
tem
violado
cada
vez
mais
os
direitos
dos
povos
Mapuches,
principalmente
no
que
diz
respeito
a
garantias
de
direitos
territoriais.
Esclarece-‐
se
também
que
a
luta
para
preservar
as
terras
é
feita
contra
grandes
corporações
estrangeiras.
A
fabricação
de
celulose,
3
indústria
do
Chile,
cria
desertos
verdes
a
de
eucaliptos
e
pinheiros
que
sugam
a
água
e
desalojam
inúmeras
famílias
no
sul
do
Chile.
Como
isto
é
possível
em
plena
democracia?
Efeitos
da
brutalidade
de
um
capitalismo
neoliberal,
predatório
e
irresponsável,
que
foi
implementado
pelas
ditaduras
a
base
de
chumbo, tortura e desaparecimento?
O
filme
endossa
de
certa
forma
a
versão
de
que
se
trata
de
tenebrosos
resquícios
do
regime
ditatorial.
Além da feroz defesa do neoliberalismo na atualidade , exemplo
contundente do resquício do regime ditatorial
é
a
lei
antiterrorismo,
criada
pela
ditadura e que ressuscitada permite
criminalizar,
no
presente
democrático,
os
indígenas
que
resistem
à
invasão
e
destruição
de
suas
terras.
A
cumplicidade
criminosa
de
uma
mídia
covarde
e
subserviente
aos
interesses
escusos
das
empresas
é
outra
herança
destes
tempos
nefastos.
Que
o
sistema
judicial,
implementado
durante
décadas
de
ditadura,
seja
conivente
e
apoie
este
estado
de
violência
tampouco
é
de
estranhar.
Entretanto,
o
filme
vai
além.
Ficamos
horrorizados
ao
escutar
de
uma
velha
senhora
mapuche
que
seu
neto,
ainda
criança,
foi
torturado
diante
dela,
no
pátio
de
sua
casa.
Assistimos
perplexos
a
policiais
arrastando
uma
anciã
mapuche.
Acostumados
às
imagens
redentoras
das
mães
de
maio
argentinas,
não
esperamos
que
avós
e
crianças
sejam
tratadas
com
tal
brutalidade.
A
repressão
policial
e
os
julgamentos
arbitrários
encarceram
por
longos
anos
as
lideranças
mapuches,
mulheres
e
homens. Mas essas
não
são
as
únicas
formas de
intimidação.
As
forças
repressoras
invadem
casas,
batem
e
prendem
sem
nenhum
mandado
judicial.
Telefonemas
anônimos
ameaçam
os
filhos
dos
ativistas
indígenas.
A
dimensão
inconcebível
da
violência
perpetrada
pelo
Estado
chileno
acaba
atingindo
aqueles
que
se
solidarizam
com
as
populações
indígenas.
O
advogado
dos
direitos
humanos
sofre
ameaças
de
morte.
E,
pasmem,
Elena
Varela,
pela
simples
realização
deste
filme,
ficou
dois
anos
presa,
acusada
de
terrorismo
e
assalto
a
banco.
O
Estado
de
direito
democrático
não
existe,
permanecemos ainda
no
meio
do
horror
do
regime
ditatorial.
Ao
olhar
de
frente
estes
acontecimentos
apavorantes,
em
plena
democracia,
o
documentário
ultrapassa
a
simples
denuncia.
Exibir
a
verdade
histórica
destes
episódios
de
extrema
brutalidade
não
é
suficiente.
Como
manifestação
do
puro
horror,
eles
contém,
em
si,
aquilo
que
Giorgio
Agamben
chama
de
aporia
do
conhecimento
histórico:
a
não
coincidência
entre
fatos
e
verdades,
entre
constatação
e
compreensão.
Elena Varela e sua equipe enfrentam
este desafio aporético. Nas primeiras
imagens
do
filme
vemos
uma
claquete
de
cinema,
revólveres,
faixas
de
protesto,
rolos
de
película,
fotos,
o
roteiro
do
filme,
capacetes,
coturnos
e
armas
militares.
Ouvimos
as
vozes
intimidadoras
dos
policiais
seguida
pela
música
triste
de
Patrício
Wang.
A
composição
audiovisual
da
sequência
mistura
os
instrumentos
do
cinema
aos
dos
militares.
As
imagens
e
os
sons
recompõem
sutilmente
a
invasão
à
casa
da
cineasta
pelos
carrascos,
sugerindo
que
a
câmera
pode
ser
tão
poderosa
e
perigosa
quanto
o
disparo
de
uma
bala.
De
que
outra
maneira
entender
os
dois
anos
de
prisão
sofridos
pela
cineasta?
O
que
resta
diante
de
tamanha
violência?
Elena
não
é
mais
um
terceiro
que
narra
o
embate
entre
as
populações
indígenas
e
o
Estado.
Como
sofreu
na
carne,
é
a
partir
da
própria
experiência
que
se
faz
testemunha
desta
terrível
tragédia.
Portanto,
a
fala
dela
não
se
limita
a
denunciar
a
cobiça
e
as
ações
terroristas
e
criminosas
do
Estado,
das
empresas
e
da
mídia.
Ela
lança
uma
questão
mais
funda:
como
é
possível
tão
longo
genocídio?
Quase
no
final
do
filme,
nas
cenas
da
inauguração
do
Museu
dedicado às memórias das
vítimas
da
ditadura Pinochet,
a
mapuche
Catalina
Catrileo
interrompe
o
discurso
de
Michelle
Bachelet,
acusando
o
governo
da
mandatária
de
ter
assassinado
seu
irmão.
Causa
comoção
ver
que
este
ato
de
coragem
surpreendente
é
feito
no
meio
de
um
ato
de
reparação
às
vitimas
dos
crimes
da
ditadura.
Porém,
inesperadamente,
a
canção,
Pido
silencio
(poema
de
Neruda
musicado
por
Wang),
se
sobrepõe
à
voz
de
Catalina
e
passamos
a
não
escutar
o
que
ela
diz.
Na
reportagem
completa
deste
acontecimento,
que
está
na
internet,
se
percebe
que
a
canção
entra
no
filme
para
se
sobrepor
à
voz
do
repórter
que
já
tinha
deixado
inaudível
a
voz
da
jovem
mapuche.
Não
ouvimos
ainda,
no
filme,
a
Bachelet
pedindo
que
Catalina
respeite
a
dor
das
pessoas
presentes.
Cinismo
atroz
que
deixa
claro
que
a
dor
desta
jovem
mulher
e
a
morte
do
irmão
não
têm
valor
para
esta
senhora.
Esta
reação escancara
o
racismo
não
declarado
que
estrutura
a
sociedade
dual,
que
assola
América
Latina.
O
filme
pede
silêncio
ou
respeito
para
estas
mortes
recentes,
das
quais
somos
responsáveis diretos.
Assim
Newen
Mapuche
torna
visível
e
audível
a
resistência
destes
povos.
Peças
audiovisuais
de
arquivo
exibem
confrontos
com
a
polícia,
manifestações,
julgamentos,
matérias
de
jornais,
programas
de
rádio.
As
encenações
da
violência
perpetrada
às
comunidades
indígenas
muito
pertinentemente
são
inseridas
na
construção
desta
história.
Nessa
conjunção
de
materiais
e
suportes,
a
voz
suave
e
pausada
da
realizadora
não
abafa
as
vozes
mapuche:
relatos
e
canções
participam
ativamente
dando
forma
ao
documentário.
A
música
é
fundamental
neste
sentido.
Composições
de
Patrício
Wang
abrem
e
fecham
o
filme.
Participante
do
grupo
mais
importante
da
“Nueva
Canción
Chilena”,
Quilapayún,
Wang
consegue
realçar
o
lirismo
da
música
de
protesto
num
diálogo
com
o
registro
erudito.
A
potência
do
tambor,
do
canto
elegíaco
e
da
figura
de
Elisa
Avedanho
cria
uma
performance
audiovisual
impactante.
Lautaro,
dos
Combi,
lembra
a
valentia
e
inteligência
guerreira
deste
lendário
cacique
que
derrotou
Pedro
de
Valdivia,
o
primeiro
espanhol
que
invadiu
a
Araucania.
Sons
que
provocam
nostalgia,
queixumes,
coragens
etc.
Por
outro
lado,
o
ritmo
e
o
timbre
quase
desconhecidos
dos
tambores
e
apitos
mapuches,
constantes
no
filme,
vão
além
da
conhecida
codificação
musical
da
ordem
mimética
dos
sentimentos.
Sons
estranhos
e
instigantes
desafiam
a
nossa
capacidade
de
escuta
e
modificam
nossa
postura.
Músicas
e
instrumentos
ressoam
feitos
corpos
sonoros
fluidos,
sincopados,
ligados
à
dança
e,
portanto,
a
uma
partilha
que
nossos
corpos
não
podem
ignorar.
Afinal,
o
ouvido
não
tem
pálpebra
e
a
música
e
a
dança
são
legados
dos
espíritos
ancestrais.