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PAIXÃO SEM LIMITES –-SRP

O livro narra à vida de Natasha Bertolini, uma menina


rica, que se apaixona por Gregory, um homem pobre e que
tem dislexia, que o levou a parar com os estudos.

Seu pai, Arnold Bertolini, um magnata, dono do


terceiro maior estaleiro do país, fará de tudo para impedir
esse amor...
Londre, 1975

Natasha abriu seu closed e separou um vestido de


corte simples, mas clássico. Tudo que queria era passar
despercebida na festa de sua amiga Raquel. Era um pouco
acima do joelho, moldava seu corpo e valorizava suas
formas.

Deixou para trás as várias opções de vestidos que ela


tinha, todos caros e de marcas caras.

Seu pai era um rico empresário, dono de um grande


estaleiro. Arnold Bertolini era o maior fabricante de
barcos a vela de todo o país, lutou muito para chegar
aonde chegou. Todos da região o conheciam, pois seu pai,
sempre foi muito popular, e grande freqüentador de festas
da alta sociedade, hoje ele estava mais pacato, parecia
que havia cansado dessa vida.

Mas a popularidade de seu pai acabou caindo sobre


Natasha e isso acabou influenciou a vida dela, pois
quando Natasha ia ás festas, chamava a atenção, não
somente, por ela ser uma moça bonita, como tantas
outras, mas muitos a viam como uma filhinha de papai,
mimada, e única herdeira de uma grande fortuna.

Sua mãe, Lucinda, teve problemas para engravidar, e


quando engravidou teve uma menina, para grande
frustração de seu pai, no fundo ele queria ter tido um
filho, ele nunca escondeu isso, para grande frustração de
sua mãe que nunca conseguiu engravidar de novo.
Detestava ser filha única, seu pai chegava aos
extremos de investigar todas as pessoas que faziam parte
de seu círculo de amizades. Arnold só permitiu sua
amizade com Rachel, de origem mais simples, pois ela era
filha de um respeitado Cirurgião do Hospital São Miguel.

Natasha conheceu Rachel quando acompanhou seu pai


ao hospital para um consulta. Rachel aguardava seu pai,
Dr Jonas Forest, para irem ao teatro. Natasha sentou-se
no banco ao lado dela e começaram a conversar. Como a
consulta demorou, passaram um bom tempo conversando.
Natasha pela primeira vez fazia amizade com uma pessoa
de classe média, isso despertou sua atenção e o desejo de
conhecer esse meio, além de descobrir em Raquel
algumas afinidades, pelo gosto de músicas e livros. Desde
então Rachel passou a freqüentar sua casa.

Poucas vezes foi á casa da amiga. Rachel se sentia


constrangida por ser de origem humilde. Ela achava sua
casa muito simples em relação à mansão que Natasha
morava.

Raquel adorava ir a sua casa, lá ficavam na piscina,


almoçavam juntas, ouviam músicas. Já Natasha adorava
ir á casa de Raquel, ela adorava almoçar na casa dela.

Todos conversavam alegremente na mesa e isso fazia


com que ela se sentisse bem, o calor humano na hora da
refeição era patente. O pai de Raquel e a própria Raquel
eram pessoas simples e maravilhosas.

Muito diferente de sua casa aonde havia todo aquele


ritual de empregados servindo, e aquela conversa fria,
respeitosa que tanto a irritava.
Natasha embora tivesse nascido em berço esplêndido,
não estava ligada ao material, na verdade, invejava
Rachel. Se pudesse trocaria de raízes com ela.

Natasha, sempre se sentiu a pobre menina rica, vivia


com o chofer de um lugar para outro, e quando queria
usar seu carro, tinha sempre um segurança na sua cola.

Arnold, seu pai, ditava sua vida o tempo todo. Natasha


ficava frustrada, nem o curso universitário que queria
tanto fazer, seu pai permitiu. Ele se mostrou resistente,
como sempre, ignorando sua vontade. Sua resposta era
sempre essa: “Não será preciso. Você logo assumirá os negócios
da família”. Mas sempre quando ela o cobrava, ele fugia do
assunto e esse dia não chegava nunca.

Natasha se perguntou com um suspiro se chegaria a


conhecer algum dia o que era o dia-dia normal das
pessoas que trabalhavam e estudavam; imediatamente
seu rosto ficou sombrio e triste.

Natasha com vinte um anos, infelizmente não era


dona de seu próprio nariz, tudo que fizesse, precisava
antes consultar seu pai e sua mãe.

Lucinda o apoiava em tudo, pois ela também se


anulava por causa dele, já lhe era natural agir dessa
forma.

Sua mãe não entendia que a diferença delas, era que:


Ela fez sua escolha em viver dessa forma ao lado de
Arnold que era extremamente dominador. Mas Natasha
não, era lhe imposto isso, e isso lhe trazia no íntimo, uma
revolta.

A imposição de Arnold piorou quando ele teve no


passado, um aumento do ritmo cardíaco, por causa de
stress, mas isso foi o suficiente para ele sempre usar isso
como chantagem emocional. Arnold usava sua antiga
doença para alcançar seus objetivos.
Quando sentia Natasha resistente para qualquer coisa
imposta por ele, dizia que ela o queria matar de infarto, e
que seu coração não ia agüentar uma filha ingrata.

Arnold, logo encenava um grande mal estar, fazendo


Natasha se sentir culpada. Nessas horas, Natasha saia
triste, e geralmente ia chorar no quarto, frustrada.

Poucas vezes Natasha contestou com ele, mas a sua


passividade diante de tantas coisas, trazia uma grande
infelicidade, pois a cada dia se anulava não indo atrás de
seus sonhos.

Via a vida passar diante de seus olhos, sem poder


interferir no seu futuro, sem poder ditar suas escolhas.

Seus pais infelizmente, não a conheciam, embora


convivessem no mesmo teto por tanto tempo. Não sabiam
que o seu lado enfadado, rebelde, e desinteressado pelo
seu meio tão fútil que gritava em seu peito, ou eles
ignoravam isso nela.

Por isso, se alegrou muito de ter conhecido Rachel,


passou a conhecer um lado da vida que lhe era
desconhecido. Amava a simplicidade, as pessoas simples,
que não se importavam com etiquetas, roupas de grife ou
pelo mundo das futilidades.

Muito diferente de seu mundo, onde seu pai adorava


convidar seus ricos amigos que participavam de
banquetes em sua casa, regado a champanhe, caviar,
conversas fúteis e etiquetas.
Ela sabia que nesses jantares, seu pai sempre tentava
fazê-la se interessar por alguns dos rapazes que iam.

Arnold vivia frustrado, pois nenhum deles lhe


despertava o interesse. Natasha os achava
desinteressantes, uns playboys, que nunca lutaram por
nada na vida, pois seus pais eram ricos, como o pai dela.

Ela desprezava a imagem de sua mãe. Uma mulher


fútil, cercada de um luxo, uma vida sem sentindo. Em sua
casa não havia calor humano, pareciam marionetes, cada
um representando seu papel no lar. E para ela ter essa
vida, que sua mãe tinha, ela se recusava. Pois se casasse
com eles, era isso que ela iria ser, um bibelô.

Como se sentia um ET!

Natasha olhou-se mais uma vez no espelho, e analisou


o vestido. Era a primeira vez que participava da festa de
Raquel, queria dessa vez, passar despercebida, não ser
olhada por ninguém como a filha de Arnold Bertolini.

Seu pai estava viajando, isso significava liberdade,


pois sua mãe era mais liberal em relação aos seus
passeios e amizades.

Natasha gostou do que viu, o vestido ficara bem.


Resolveu deixar os cabelos negros, que lhe iam um pouco
abaixo dos ombros, fez uma maquiagem bem leve, deu
leve toque de lápis nos olhos verdes, passou seu perfume
preferido e colocou uma gargantilha de pedras negras.
Pronto! Feliz rodopiou em frente ao espelho.

Tinha combinado de dormir na casa de Raquel depois


da festa, pois a festa terminaria tarde, por isso preparou
uma pequena mala, com uma camisola, produtos de
higiene pessoal e um vestido branco e dourado para o dia
seguinte.
Natasha saiu do quarto com a mala e desceu as
escadas lentamente, logo viu sua mãe tocando piano, uma
linda melodia, “Can you feel the love tonight”. Natasha
sorrindo se posicionou em frente ao piano.

Sua mãe ao vê-la parou de tocar.

— Você trocará de roupa na casa de Rachel?

Natasha sorriu consigo, sua mãe estranhava o


vestido simples que ela usava, não adiantava explicar
para ela sua opção.

Ela então concordou com um gesto de cabeça.

— Mas não irá amassar?

— Não mamãe, não se preocupe, está tudo certo. O


motorista está lá fora?

Lucinda confirmou.

— Ele já está te esperando.

— Então até amanhã, mamãe.

— Juízo lá, hein Natasha. Seu pai está fora, e a


responsabilidade é toda minha.

— Mamãe, eu tenho vinte um anos, sou madura o


suficiente para fazer as escolhas certas. Tchau.

Natasha beijou Lucinda, que lhe sorriu. Ela pegou a


mala e se dirigiu a garagem, onde o motorista a esperava.
Roger era um senhor de sessenta anos, magro e muito
sério.

— Estou pronta Roger. A festa é na casa de Raquel,


minha mãe já foi avisada que voltarei só amanhã depois
do almoço.

— Tudo bem senhorita.


CAPÍTULO II

Roger abriu a porta para ela sentar e guardou sua


mala no porta-malas. Natasha lançou um olhar para o
relógio do seu pulso. Passavam das nove horas, ia chegar
meia hora depois do combinado. Já havia avisado a amiga
que desejava ficar no anonimato, e para sua amiga lhe
chamar de Sacha. E jamais falar seu sobrenome, pois não
queria ser reconhecida como a filha de Arnold Bertolini.

Natasha pediu para o motorista parar uma pouco antes


da casa, pois não queria ser vista. Roger fez como ela
pediu e lhe entregou a mala. Natasha o viu se afastar e se
dirigiu a casa de Raquel.

Natasha conforme andava observou a casa. Gostava


muito da casa de Raquel, era um sobrado, estilo Tudor,
branca, com detalhes em marrom. Jardineiras floridas nas
janelas e um lindo jardim.

Da calçada Natasha já podia ouvir a música que vinha


de dentro da casa. A festa parecia animada.

Ela se dirigiu a porta de entrada e tocou a campainha.


Raquel abriu a porta e sorrindo, lhe deu um abraço
efusivo.

Natasha sorriu e entrou na casa. Natasha passou os


olhos nos convidados. A maioria eram rapazes, moças,
todos jovens médicos, que faziam universidade com
Rachel, outros eram amigos do Dr. Jonas, o pai de
Raquel.

— Sacha. — Raquel piscou para ela, quando lhe disse


seu apelido, mostrando que ela se lembrou do combinado.
— Estou feliz que tenha vindo, vou levar sua mala para o
quarto de hóspede.
Natasha sorriu e falou animada.

— Raquel, eu é que estou feliz, de ter vindo.

Raquel sorriu, como se não acreditasse muito. Ela


ainda não havia assimilado que Natasha adorava a vida
simples, as pessoas em geral, independente de sua classe
social. E pelo contrário, achava as pessoas comuns,
batalhadoras, muito mais interessantes.

Natasha a viu subir as escadas e se misturou entre os


convidados. Estava indo pegar uma bebida quando avistou
perto da mesa de bebidas um homem, que olhava em sua
direção.

Ele era alto, pernas compridas, bronzeado. Os cabelos


eram escuros, e o porte, másculo. Os olhos negros eram
intensos. Natasha continuou a andar sem conseguir
desviar os seus olhos dos dele, que também ficou a
observá-la. Percebendo que o encarava desviou os olhos
dele, mas como se houvesse uma força invisível, voltou a
olhar para ele e reparou em seus lábios carnudos, no seu
arrogante nariz e o queixo quadrado.

Ele então lhe sorriu, fazendo-a corar de vergonha, se


dando conta que desde que o vira, não conseguia deixar
de olhar para ele.

Natasha, então com muito custo desviou seus olhos e


mudou de direção, não queria dar a impressão errada, que
iria pegar a bebida, para se aproximar dele.

Natasha então se dirigiu a varanda, e se apoiou no


parapeito, sentindo o cheiro das flores que vinha do
jardim, trazida pelo vento. Fechou os olhos e aspirou
fundo.
Poucos minutos depois Natasha sentiu um toque no
ombro e viu um jovem, de mais ou menos sua idade, loiro
e de olhos azuis sorrindo para ela. Ele era bem alto e
magro.

Natasha lhe sorriu de volta.

— Olá, nunca te vi nas festas de Raquel?Meu nome


é Henri Frame.

Natasha levantou as sobrancelhas, surpresa pela


rapidez do rapaz em fazer amizade e sorriu.

— É verdade. É a primeira vez que venho à festa de


Raquel. — Ela então se lembrou que só estava ali, pois
sua mãe havia permitido. Ela então lhe deu uma breve
explicação. — É que eu conheço Raquel há apenas dois
meses. Chame-me de Sacha.

Henri sorriu-lhe novamente. Natasha nessa hora viu


Raquel se aproximando.

— Henri, você não perdeu tempo hein. Logo veio


falar com minha amiga.

Henri sorriu para Raquel e fitou Natasha dizendo.

— Estava aqui dizendo que nunca a vi em nossas


festas.

Raquel observou Natasha.

— Nós nos conhecemos há pouco tempo.

— Foi o que ela me disse. Você faz o que Sacha?

Natasha ficou triste com a pergunta, pois tinha


uma vida de festas caras e ociosa. Raquel vendo-lhe a
aflição falou.
— Sacha está indecisa quanto à escolha do curso na
universidade. Por enquanto está de férias.

Natasha sorriu tristemente para a amiga, ao


lembrar-se de suas intermináveis férias, onde seu pai
sempre relutava de interá-la nos negócios da família.
Muitas vezes pensava, ao vê-lo dar os jantares e convidar
os filhos de seus amigos ricos, que na verdade, ele queria
que ela se casasse com um deles, para que seu futuro
marido assumisse o estaleiro.

Raquel mudou de assunto.

— Sacha. Você não está comendo e nem bebendo


nada.

Raquel olhou para Henri e pediu.

— Henri pegue uma Martine para Sacha.

Natasha sorriu para ele dizendo.

— Eu gostaria muito.

Henri se prontificou.

— Vou trazer para você.

Natasha seguiu o rapaz com os olhos e estava para


se virar quando viu o homem que havia lhe chamado
atenção de novo. Quando seus olhos verdes se
encontraram com os negros dele, ele lhe sorriu e levantou
o copo numa saudação. Natasha sustentou o olhar e lhe
sorriu provocativamente, fazendo com que ele sorrisse
também, Natasha então voltou sua atenção para Raquel
que lhe falava.

— As festas que você freqüenta deve ser o máximo.


A imagem das festas que seu pai dava surgiu em sua
mente. Natasha lembrou-se das mulheres com roupas
extravagantes, os homens com seus charutos cubanos
regado a champanhe e conversa fútil.

— Se você acha um bando de gente fútil, onde cada


um conta suas ultimas aquisições materiais, se achando o
máximo. Você iria adorar. Pois é isso que ouço o tempo
todo.

— Mas você deveria entender que eles falam o que


eles vivem no momento. Afinal, eles têm dinheiro para
isso não é? Para gastar.

— Eu que sou uma chata então. Tenho asas, mas não


gosto de voar.

Henri nessa hora chegou com as bebidas. Natasha se


virou para ele, sorrindo, pegando a taça que ele lhe
estendia. Levou aos lábios, enquanto sorvia lentamente o
líquido, seus olhos procuraram o homem novamente, mas
ele havia saído de lá. Raquel nessa hora foi chamada e
entrou na sala.

Natasha voltando a sua atenção para Henri


perguntou-lhe.

— Você disse que é estagiário. Você já se formou?

Henri passou a mão pelos cabelos, que agora foram


despenteados pelo vento, dizendo.

— Estou no último ano.

Natasha também sentiu o vento frio.

— Vamos entrar, está frio agora. — Natasha disse


passando a mão pelos braços arrepiados. Enquanto
caminhavam para dentro ela foi dizendo, sorrindo para
Henri — Você parece tão novo.
— Tenho vinte e oito anos.

Henri a pegou pelo braço, conduzindo-a até um lado


da sala mais tranqüilo. Natasha conforme caminhava viu
o homem conversando com o pai de Raquel, eles
pareciam ter afinidades, pois ambos sorriam, numa
conversa animada. Ela reparou melhor na calça jeans
surrada, na camisa branca aberta no peito peludo e
moreno. Alto, forte e vigoroso, impunha presença em
qualquer lugar. Tinha um físico de atleta aliado a uma
elegância natural.

Essa combinação resultava numa evidente


autoconfiança que com certeza a intimidava. Natasha
desviou os olhos dele, com muito esforço, pois seus olhos
insistiam em fitá-lo.

Henri ainda falava com ela, lhe explicando seu


cotidiano de trabalho e as aulas que cursava na faculdade.
Aproximaram-se da mesa de salgados.

— Gostei muito de você Sacha, uma pena que meu


tempo é tão tomado. Mas gostaria de te ver amanhã.

Natasha ficou sem ação por um momento, nessa hora


Raquel se colocou ao seu lado. Natasha pegou um salgado
e se preparava para a resposta.

— Perdi alguma coisa? — Raquel gracejou.

Henri impaciente fitou Raquel, Natasha então se


dirigiu a Henri e explicou.

— Amanhã depois do almoço eu irei embora.


— Você mora longe daqui? — Henri indagou com
insistência.

Raquel então convidou.

— Sacha, ligue para sua casa e passe o dia comigo.


O que você acha? Você iria embora à noitinha e Henri
poderia vir aqui.

Natasha sorriu, pois se agradou com a idéia.


Ligaria para sua mãe e a avisaria. Ia aproveitar que seu
pai estava fora.

— Tudo bem, amanhã eu ligarei para ela.

Henri a fitou com olhos ardentes sorrindo


satisfeito. Nessa hora ele foi chamado por um grupo de
amigos. Natasha aproveitou para lhe perguntar do homem
que havia visto, ele não parecia ser médico ou estudar
medicina. Ele destoava da festa.

— Raquel, quem é aquele homem que está


conversando com seu pai, mas, por favor, olhe
discretamente.

Raquel procurou seu pai com os olhos e o avistou.

— È Gregory Thonson, meu primo, filho da minha


falecida tia, irmã de mamãe. Ele comprou um pequeno
apartamento num bairro pobre em Horley, que está
reformando. Por isso ele ficará um tempo conosco até o
apartamento ficar pronto. Ele não é daqui, ele morava em
York.

Natasha ficou surpresa com a revelação de Raquel e


tornou a fitá-lo, discretamente. Raquel nessa hora lhe
pediu licença e se afastou. Natasha o fitou novamente e
então o surpreendeu observando-a, seus olhos escuros,
insinuantes, mediram-na de cima a baixo, e nesse
instante Natasha teve certeza de quanto ele mexia com
ela.
Será que ele percebia isso?

Ele então se moveu em sua direção, de uma maneira


decidida, como um felino, seus olhos estavam fixos nela e
Natasha ficou presa no olhar dele.

Ele parou a sua frente. Disse com uma voz profunda e


agradável.

— Você veio sozinha?

Natasha, com o coração saltando do peito,


torcendo para ele não perceber o quanto ele mexia com
ela respondeu

— Vim.

Ele lhe sorriu e Natasha ficou extasiada com seu


sorriso, seus lábios eram carnudos, e os dentes
perfeitamente brancos.

— Eu também. Sou primo de Raquel, meu nome é


Gregory Thonson. E o seu?

— Natasha Bertolini. Mas pode me chamar de Sacha.

Natasha disse seu nome completo de propósito para


ver sua reação diante do seu nome, que carregava suas
origens e seu berço de ouro. Ele não teve reação alguma,
então se lembrou de que ele era de fora e seu pai era
muito conhecido na região de Brighton.

Gregory então a fitou, demonstrando interesse nos


olhos, e parecia não se importar de transparecer isso.

— Aquele rapaz que estava com você, é seu


namorado?

— Não. Eu o conheci aqui.


Raquel se colocou ao lado deles surpresa, pois Natasha
tinha acabado de perguntar com interesse do seu primo e
agora ela os encontrava, juntos.

— Já vi que vocês já fizeram as apresentações.

Nessa hora Henri se aproximou. Natasha observou


Henri, que parecia incomodado, com a presença de
Gregory ao seu lado.

Gregory vendo a reação de Henri; sorriu irônico para


Natasha com um traço levemente cruel.

Os olhos de Gregory eram intensos quando a


convidou.

— Dança comigo?

Ela arregalou os olhos surpresa, e desviou os olhos


dos dele por um instante. Ficou indecisa alguns
segundos, pensando se aceitava ou não.

Gregory Thonson mexia muito com ela, tinha medo


desse desejo e sentimento estranho que ele lhe
despertava. Levantou o rosto a fim de recusar, mas
quando seus olhos verdes se encontraram com os olhos
negros intensos dele, Natasha se perdeu neles. Sua mente
ficou embotada, e seu coração disparou, suas pernas
fraquejaram e quando se viu, estava aceitando.

— Danço.

Gregory rodeou sua cintura, provocando em Natasha


um leve estremecimento. Um canto da sala os móveis
haviam sido afastado para as pessoas dançarem.
Ele a conduziu para lá e a estreitou nos braços e
apertou contra si, ao ponto de seus seios se esmagarem
contra seu peito.

Ela tentou se afastar, mas a mão dele segurava-lhe,


firme, as costas. Podia sentir o calor da pele dele através
do tecido da camisa.

Ele passou a levá-la a se mover lentamente, em


sincronia com ele, quase numa dança sensual. O coração
de Natasha estava a mil e as pernas moles, estava cativa
nos braços dele. Dançaram assim por um tempo. A
colônia barata que ele usava, o deixava mais másculo.
Percebia pelas mãos dele que ele era um homem rústico.

Natasha se afastou um pouco e ergueu o rosto, viu que


os olhos dele desceram para sua boca e se fixaram lá.
Nesse momento Gregory foi subindo lentamente o olhar
até seus olhos se encontrarem. Gregory então sorriu e foi
descendo lentamente o rosto, uniu seus lábios nos dela.

Natasha estremeceu ao sentir a umidade morna da


boca dele, os lábios dele se moviam delicadamente sobre
os seus. Natasha ficou estática totalmente sem ação em
seus braços, se deixando ser beijada. Ele usava uma
colônia barata, mas parecia combinar tanto com ele...

Parecia tudo uma loucura. Quantas vezes os jovens que


freqüentavam sua casa, tentavam sem sucesso, lhe
impressionar. Principalmente Francisco, um jovem amigo
de seu pai, formado em engenharia.

Quantas vezes ele a convidou para sair sem sucesso.


Ela sempre tinha uma desculpa na ponta da língua. E
agora ela estava ali, nos braços de Gregory e ele já estava
virando seu mundo de cabeça para baixo.
CAPÍTULO III

Quando seus lábios se afastaram, deram-se conta que a


música já tinha acabado e já fazia um tempo. Tocava
agora uma música em um ritmo mais rápido. Ambos
estavam com as respirações irregulares, olhavam-se como
se não acreditassem na emoção experimentada nos
braços um do outro. Gregory lhe sorriu com ternura, e
isso a fez ficar presa em seu olhar, pálida, sem forças.

Gregory falou em seu ouvido, fazendo-a se arrepiar.

—Vem. Vamos a um local mais afastado, quero


conversar com você.

Gregory a pegou possessivamente pela cintura e a


conduziu para os fundos da casa onde dava em um
jardim. Havia uns casais se beijando em cada ponto do
jardim, ele então a conduziu novamente a lateral da casa
onde tinha um banco tranqüilo, aonde ele a fez sentar-se.
Gregory sentou-se ao lado dela e a fitando intensamente
lhe disse com nostalgia.

— Quando criança eu sempre visitava tio Jonas e aqui


era o meu lugar preferido.

Natasha sorriu fraco e fitou as mãos no colo, ele a


deixava totalmente sem ação, pois nunca em sua vida
tinha experimentado um desejo tão intenso.

Pensava nisso, quando ele a rodeou com o braço a sua


cintura, trazendo para mais perto de si. Natasha o fitou
novamente, e seus olhos verdes ficaram presos nos olhos
negros dele.
— O que você tem que eu não consigo deixar de olhar
para você?Você me atrai, de uma maneira que nenhuma
mulher conseguiu.

Gregory ainda com o braço segurando possessivamente


sua cintura a fitava intensamente.

Natasha observou-o séria. Seus olhos passaram pelos


cabelos negros dele, levemente grisalhos nas laterais,
revelando uns trinta e oito anos, seus olhos negros, seu
queixo quadrado e arrogante.

O mesmo ocorrera com ela. Ele também a atraía, de


uma maneira intensa.

Natasha podia sentir a respiração dele em seu rosto, ele


estava muito próximo e isso fora o suficiente para deixá-
la indefesa, a mercê dele.

Nessa hora ele tomou sua boca num beijo intenso,


apaixonado. Natasha quase se viu correspondendo, por
um momento ficou mole em seus braços, mas o medo do
sentimento que ele lhe despertava se apoderou de seu
coração e isso fez com que ela o afastasse com um
empurrão.

Estremeceu, ao se lembrar do beijo que ele lhe dera na


sala e ainda agora. Ao lembrar como ele a fizera sentir-se,
tinha vergonha. Naqueles momentos, sentira-se como
uma mulher vulgar...

— Meu Deus! Isso é errado eu mal te conheço.

Ela se levantou nervosa. Gregory se levantou depressa


e se colocou a sua frente, antes que ela se afastasse.

— Por favor, não vá. Realmente eu me precipitei.


Vamos nos conhecer então. Respondo todas as suas
perguntas.
As palavras num tom apaziguador, a acalmou por um
instante e o apelo que ela viu em seus olhos negros, fora
o suficiente para ela concordar.

Não podia mentir para si mesma: O que ela mais


queria era conhecê-lo.

Gregory a pegou pelo braço e a fez sentar-se


novamente. Natasha o fitou nos olhos e esperou que ele
lhe falasse de si. Ela não estava com a mínima vontade de
falar de si mesma, mas queria saber tudo sobre ele.

Como ele ainda a fitava esperando ela lhe perguntasse


alguma coisa sobre ele. Ela lhe falou, o observando
atentamente.

— Eu não gostaria de ter perguntar nada. Apenas fale-


me de você.

Gregory pegou as mãos dela do colo, e apertou-lhe os


dedos. Por um momento ficou calado, como se a imagem
de si mesmo lhe passasse pela cabeça. Ele hesitava.

Gregory então a olhou tristemente. Natasha percebeu


que:

O que ele iria lhe contar ainda mexia com ele.

— Eu morei a vida toda em York, depois que minha


mãe morreu me mudei para cá. Tive uma infância difícil,
pois tenho dislexia, foi diagnosticado tardiamente,
apanhei muito de meu pai que me julgava burro, pois ia
mal à escola, não conseguia ler as palavras, e não
entendia como meus amigos conseguiam. Quando eu já
havia repetido pela quarta vez a quarta série, uma
professora descobriu meu problema e explicou para minha
mãe, que eu sofria de Dislexia, que é um problema
cerebral, que tem como conseqüência: Problemas visuais,
para ler, escrever e soletrar; de entendimento do texto
escrito; para identificar fonemas, associá-los às letras e
reconhecer rimas e aliterações; para decorar a tabuada,
conceitos matemáticos; ortográficas: troca de letras,
inversão, omissão ou acréscimo de letras e sílabas,
organização temporal e espacial. — Então seu rosto ficou
sombrio, triste. Ele o tempo todo quando lhe falava a
fitava intensamente, mas nessa hora ele direcionou o
olhar para o chão e com um olhar vago e o rosto sombrio,
continuou, com voz cansada, resignada. — Eu, com
quinze anos, revoltei-me. Saí de casa por causa de meu
pai, que constantemente me batia. Ele não aceitava o
falto que eu tinha uma doença, dizia que era preguiça,
vadiagem de minha parte. Fui trabalhar em uma fazenda
como capataz, mas nunca deixei de visitar minha mãe.
Depois de três anos, meu pai morreu, voltei para casa e
passei a morar com ela. Senti muito a morte de meu pai,
eu o amava, apesar de tudo. Desde então, trabalhei em
vários tipos de emprego, sempre soube que nunca teria
um curso superior por causa da doença.

Ele então fez uma pausa emocionada e continuou.

— Hoje leio com dificuldade, e escrevo as palavras


razoavelmente bem, abandonei a escola há muito tempo.
Mas uma coisa, faço bem, toco piano. Eu escuto a música
apenas uma vez e consigo reproduzi-la de ouvido. No meu
último emprego como zelador de uma boate tinha um
piano velho, e pude praticar bastante lá.

Nessa hora Natasha se aproximou dele comovida, não


estava acostumada a conhecer o lado triste da vida. Seus
pais sempre a protegeram, sempre lhe deram de tudo,
principalmente conforto. Embora vivesse num lar, tão
vazio de amor, de vida. Ela sabia que seus pais a amavam
do jeito deles, mas agora estava ao lado do homem, mais
interessante que conhecera em sua vida, com um passado
tão triste, tão sofrido e isso só a fazia se interessar mais
por ele.
Natasha levantou o rosto dele e o beijou de leve nos
lábios, como se isso lhe desse algum conforto. Gregory a
envolveu nos braços a fazendo sentar no colo dele e a
beijou apaixonadamente. Sua língua invadindo sua boca,
enlouquecendo. Natasha não pensava em mais nada, tudo
parou de existir naquele momento. Quando seus lábios se
afastaram permaneceram abraçados.

Gregory então a afastou passando o dedo no rosto


dela com carinho.

— Fale-me sobre você.

Natasha evitou seus olhos. Constatou que sua vida


em contraste com a vida dele, era uma maravilha. Se
sentindo ingrata com seus pais que lhe davam de tudo e a
tratavam bem. Triste o abraçou e falou evasiva.

— Eu tenho vinte um ano. Não me formei ainda em


nada, meu pai quer que eu me envolva com os negócios
da família, mas tem relutado a me chamar. Gosto muito
de ler livros, principalmente os policiais e de romances.
Conheci Raquel há dois meses.

Natasha então assustada saiu de seu colo e se


levantou.

— Meu Deus, Raquel. O que ela pensará?

Gregory se levantou e a enlaçou pela cintura.


Natasha ergueu os olhos e fitou os intensos olhos dele.

— Ela vai entender que estamos nos conhecendo, e


que precisávamos desse tempo, para conhecer um ao
outro.
Natasha sorriu pensando em Henri.

— Henri, então vai me julgar uma mulher fácil, ele


deve ter presenciado nosso beijo, quando dançávamos.

— Eu fiz de propósito. — Quando Natasha fitou-o


assustada, Gregory corrigiu rápido. — Não para ele pensar
isso de você. Mas para afastá-lo de você, quando eu te vi,
eu a quis para mim.

— Quantos anos você tem, Gregory?

— Trinta e oito.

— O que você faz?

— Estou desempregado atualmente. Saí de minha


cidade, e com a venda da casa de meus pais comprei um
apartamento pequeno.

— Qual é sua profissão?

Gregory satisfeito, por ela querer tanto conhecê-lo


a estreitou nos braços ainda mais e lhe disse com o rosto
em seus cabelos perfumados abraçado a ela.

— Já fiz tanta coisa, sei um pouco de tudo,


conserto encanamentos, sou um bom eletricista, já fui
capataz em uma fazenda, já fui jardineiro, motorista,
segurança...

Meu Deus! Ele tinha todos os ingredientes para seu


pai implicar com ele. Seu pai não o aceitaria. Sua origem
era humilde, ele era da classe operária, tinha deficiência
na leitura, seu passado era conturbado, pela sua saída de
casa aos quinze anos, e estava desempregado.
Natasha com esses pensamentos ficou triste, ela
levantou o rosto e seus olhos se encontraram. Os dele
intensos, os dela inseguros. Ele baixou o rosto e a beijou
delicadamente nos lábios.

Seus mundos eram opostos, e tinha um grande


abismo que precisavam passar, e não era o fato dela ser
rica. O abismo se chamava Arnold Bertolini, seu pai.
Natasha se arrepiou.

Gregory percebeu e disse gentilmente.

— Vamos entrar. Você está com frio.

Natasha concordou com um gesto de cabeça.

Seu arrepio, não fora de frio, era só de imaginar a


cena que seu pai faria quando conhecesse Gregory. Só ela
sabia o quanto seu pai era difícil.

Ele a pegou pela mão, e juntos seguiram até a casa.

Quando entraram na casa avistaram Raquel, que


sorriu ao vê-los. Os olhos dela então observaram Natasha,
admirados, pois sabia das tentativas frustradas do pai de
Natasha dela namorar alguém de seu meio.

— Ora, Ora. Vocês sumiram. O que foi isso? Não vão


me dizer que vocês de alguma maneira se conheciam,
pois eu não vou acreditar.

Gregory fitou a prima e pegou Natasha


possessivamente pela cintura e fitando Natasha falou
olhando-a intensamente.

— Não Raquel, nós não nos conhecíamos antes. Mas é


como se eu a tivesse conhecido há muito tempo.
— Meu Deus. Eu estou impressionada. Agora nos dê
licença Gregory que vou dar uma palavrinha com Sacha.

Gregory sorriu para Natasha e beijando-lhe as mãos


se afastou.

— Natasha. O que foi aquilo? Eu mal acreditei nos


meus olhos quando os vi beijando-se.

— Eu não sei o que ocorreu. Eu me interessei muito


por ele, sem explicação. E muito mais agora que
conversamos.

— Você contou a ele que você é filha de Arnold


Bertolini?

— Contei, mas ele não esboçou qualquer reação.

— Meu primo não lê jornais. Por isso ele não conhece


seu pai. Ele explicou o problema dele?

— Sim, contou-me que ele tem dislexia, e não


consegue ler e um monte de coisas que já esqueci.

— Você pretende contar para ele, de como você é


rica?

Natasha o avistou conversando com Jonas


novamente, de costas para ela. Apreciou aquelas costas
largas. Ainda podia sentir a colônia dele em seu vestido.

— Não, você sabe que detesto ser uma filhinha de


papai, sem uma profissão, vivendo para cima e para baixo
com um chofer, com um pai que me dita regras o tempo
todo. Uma vida fútil, de festas, de viagens, onde essas
viagens, meu pai sempre está presente, como um cão de
guarda.
Tenho medo de assustá-lo também, pois nossos
mundos são muito diferentes.

— Ou você está com medo que ele sabendo, se


interesse pela sua fortuna, ao invés de você?

Natasha observava agora ele sorrindo para Jonas, ele


estava de lado agora. E ao ouvir pergunta de Rachel ela se
assustou e disse logo.

— Rachel. Que horror. Não! Eu não pensei nisso. O


pouco que conversei com ele, percebi que ele é honesto o
suficiente para se ligar a mim, por mim mesma. E afinal,
ele não sabe quem eu sou. E mesmo assim demonstrou
interesse por mim.

— É eu sei. Ele te contou que o pai dele já foi para a


cadeia?

Natasha negou com a cabeça.

— Isso foi antes de se casar com minha tia. O pai dele


era um delinqüente juvenil. Parece que depois que ele se
casou, ele se tornou direito. Foram todos contra minha
tia por ter se casado com o pai de Gregory, mas ela lutou
contra todos e se casou.

Natasha fitou Gregory novamente, os olhos dele


estavam sobre ela. Gregory lhe sorriu provocador, ela
retribuiu o sorriso, eles por um tempo ficaram se
olhando.

Raquel então comentou.

— Henri quando avistou vocês se beijarem, ficou


pasmo como eu. Ele parecia não acreditar. Então sem
dizer uma palavra, nervoso, foi embora.
Natasha apertou com os dedos a cabeça, sua cabeça
estava estourando. Ainda bem que sempre carregava
alguma aspirina na bolsa.

— Raquel, eu estou com dor de cabeça, vou me


recolher. Não vou agüentar ficar até o final da festa. Diga
para Gregory que já fui me deitar. E que amanhã nos
veremos.

— Teu quarto é o primeiro à direita.

— Obrigada.

Natasha se dirigiu a escada, que ficava no canto


direito do sobrado que ficava um pouco afastada da visão
de Gregory. Ela subiu lentamente e entrou no quarto
acendeu as luzes e encontrou sua mala em cima da cama.

O quarto era bonito, todo em tom bege, desde os


armários, a colcha, e o carpete. Um tapete colorido
quebrava a monotonia do quarto. Um baú aos pés da cama
de madeira maciça, todo trabalhado. Cortina marrom, em
tom claro e o abajur combinando com as cortinas. Em um
aparador tinha uma toalha branca de renda com uma
bandeja. Estava depositada uma jarra de barro com água e
um copo.

Natasha pegou uma aspirina da bolsa e tomou com um


copo de água. Dirigiu-se ao banheiro com as suas roupas
na mão. Tomou uma ducha e vestiu a camisola. Apagou as
luz e deitou-se na cama. A imagem de seu pai surgiu em
sua mente, seu coração ficou descompassado, em se
imaginar enfrentando ele por causa de seu romance com
Gregory.

Gregory mostrou claramente, com seu gesto e


atitudes, que ele tinha um real interesse nela.
Um nó em sua garganta se formou. Pelo fato dela
ocultar dele que era filha de um grande magnata no ramo
dos estaleiros. Mas no fundo ela não dava importância
para sua condição social.

Até que ponto ela enfrentaria seu pai por causa de Gregory?

Meu Deus. Precisava ponderar as coisas.

Mas também ela não vivia infeliz com a vida que levava?

Não seria hora de dar um basta e começar a fazer suas


escolhas e viver a sua própria vida, independente das imposições
de seu pai?

Gregory despertou nela o desejo de mudança!

Seu pai iria acabar fazendo-a casar com algum rapaz


rico, com intenção de aumentar os negócios da família e
iria colocá-lo para tocar o estaleiro.

Nunca, Arnold lhe passaria a administração do


estaleiro e ela seria uma dondoca do lar.

Ele o tempo todo queria investir em um genro, não


nela. Por isso ela não conseguia seu lugar ao sol. Para ele,
a felicidade de uma mulher estava em ser à sombra de seu
marido.

Queria isso para sua vida?

Não definitivamente não!

Mesmo que seu namoro com Gregory não desse certo, seria um
ponto de partida para enfrentar seu pai. Já devia ter feito isso há
muito tempo.

Como seria sua vida hoje, se ela tivesse lutado por sua
independência?

Estaria cursando Administração, que era o curso que tanto


queria fazer?
Estaria estagiando em alguma empresa?

Ou teria apenas arrumando confusão e seu pai a estaria


boicotando o tempo todo, com suas cenas de problemas no
coração?

E como ela manteria a universidade?

Ele teria feito sua vida um inferno? Não duvidava nada que ele
teria lutado contra e acabasse fazendo-a desistir dos estudos.

Natasha chorou no travesseiro, como invejava Raquel


que podia fazer suas escolhas. Como gostaria de ter
nascido em um lar comum.

Então refletiu. Há tantas famílias ricas que eram mais


liberais e não assim como seu pai. Que seus filhos podiam
fazer suas escolhas. O problema não era sua riqueza, seu
problema se chamava Arnold.

No dia seguinte, Natasha se levantou cedo. Depois de


escovar os dentes, vestiu seu vestido branco e dourado,
sandália branca, passou seu perfume que era um perfume
suave que lembrava flores do campo, fez uma maquiagem
leve, penteou os cabelos.

Desceu para a sala e viu copos, guardanapos e pratos,


espalhados pela casa. Foi até a cozinha e encontrou a
empregada lavando alguns copos. Há apenas oito meses,
Raquel havia perdido sua mãe. Desde então Valéria, uma
empregada rechonchuda, cuidava de tudo.

— Bom dia, onde tem um saco de lixo para eu


recolher aqueles guardanapos na sala?

— Imagine menina, nem Raquel me ajuda na casa.

— Por favor, eu quero ajudar.


Então Natasha ouviu a voz de Gregory.

— Bom dia!

Natasha se virou ao ouvir aquela voz que já estava


começando a lhe ser familiar. Gregory estava parado na
soleira da porta lindo. Com uma calça preta um pouco
desbotada, uma camisa meio amarrotada branca, mas
limpa.

Os cabelos negros estavam molhados pelo banho. Os


olhos negros a fitaram divertidos, observando-a.

— Bom dia. — Disse depois de um tempo.

Natasha mesmo com o coração descompassado,


desviou os olhos para Valéria com muito esforço.

— Então trarei os copos e pratos.

— Tudo bem, se você quer ajudar. — Disse Valéria


resignada.

— Eu te ajudo. — Gregory disse, fazendo-a olhar para


ele de novo.

Natasha assentiu com um gesto de cabeça e juntos


foram até a sala e em silêncio começaram a recolher os
copos e pratos. Com várias viagens até a cozinha,
arrumaram a sala.

Raquel desceu na hora, que Natasha e Gregory


estavam colocando os móveis no lugar, pois eles haviam
sido afastados.

— Meu Deus! Deixe isso aí. Valéria aos poucos arruma


a casa. Ela já está acostumada.

— Não custa nada. — Então ela fitou Gregory que a


observava. — Gregory me ajudou.
Jonas desceu as escadas.

— Bom dia! Já tomaram café?

Valéria nessa hora apareceu na sala, dizendo.

— Eu vou colocar a mesa e servi-los.

CAPÍTULO IV

Natasha se sentia estranha ao lado de Gregory,


parecia que agora pela manhã, ela via tudo diferente e já
não tinha mais certeza se gostaria de enfrentar seu pai,
por causa de um rapaz que só tinha visto em um dia.

Para se ver fora da presença de Gregory se viu


dizendo.

— Eu te ajudo.

Valéria vendo sua determinação em ajudá-la, deu de


ombros e Natasha como uma fugitiva entrou na cozinha.
Valéria arrumou uma bandeja, com xícaras e
colherzinhas. Natasha levou para a sala de jantar e
arrumou a mesa dispondo as xícaras, ignorando Gregory
completamente.

Tinha consciência onde ele estava, sentia seus olhos


negros dele sobre si. Com o canto dos olhos o avistou Ele
estava sentado displicentemente no sofá.

Voltou para a cozinha e encheu a bandeja com


salgados, pão fresco, um bule de café quente e leite
quente.
Valéria trazia nas mãos uma jarra de suco e chamou
todos para participarem do café. Natasha sentou-se a
mesa ao lado de Raquel, Gregory sentou-se a sua frente, e
o senhor Jonas sentou-se na cabeceira.

Natasha observou Jonas Forrest, ele tinha uns


cinqüenta anos. Pensou consigo, ele era tão novo e viúvo.
Não devia ser fácil ver o lugar vago da esposa.

Natasha estava sem fome, só tomou café puro e logo


pediu licença. Foi para a varanda e sentou-se em uma
cadeira. Ficou a olhar para o jardim, resolveu ligar para
sua casa e pedir para o motorista pegá-la.

Não poderia ficar. Estava confusa. Ontem a noite


estava tão certa em lutar, mas agora tinha medo.

Até que ponto seu pai prejudicaria Gregory? Temia por ele.
Seu pai sabia ser bem maquiavélico com seus adversários.

Ou seria o medo de apostar nesse amor e lutar por ele, para se


sair ferida?

Estava distraída, quando sentiu a colônia de Gregory e


erguendo os olhos encontrou-o, fitando-a intensamente,
pensativo.

— O que aconteceu? — Ele puxou uma cadeira e se


colocou de frente a ela.

Natasha o encarou, seu coração a traía, batendo forte


por ele. Natasha abaixou a cabeça sem conseguir encará-
lo.

— Eu percebi que você está me evitando. O que você


teme? São dúvidas sobre minhas intenções com você?

Natasha levantou o rosto e fitou os olhos negros


intensos dele, e nada respondeu. Nem ela sabia o que a
fazia relutar.
Gregory vendo-lhe o silêncio aproximou mais a
cadeira dela, pegando-lhe as mãos frias que estavam
depositadas no colo. As mãos dele eram quentes, ele
apertou-lhe os dedos.

— Ajuda se eu lhe disser que minhas intenções são


sérias com você? Eu não tenho muito a te oferecer, estou
reformando um pequeno apartamento, uma kitnet por
assim dizer, estou desempregado, mas pretendo resolver
logo isso, por isso não posso lhe oferecer jantares,
passeios caros. Mas posso te oferecer minha companhia, e
principalmente meu coração, sei que posso amar você. E
quando amamos, não importa o lugar que estamos, mas
com quem estamos.

Natasha por fim respondeu, com a voz trêmula.

— Desculpe-me, mas estou um pouco insegura, mas o


problema não é você, sou eu.

Natasha se levantou, incomodada com a presença


dele, pois ele mexia muito com ela. Gregory se levantou
também e a pegou pelo braço, impedindo-a de sair.

— Como assim? O problema é você?

Gregory ficou pálido, e a fitou sem entender.

— Você tem algo que não me contou? Senti você


vibrar em meus braços ontem, isso não se pode esconder
ou dissimular. Eu sei que você sente a mesma coisa que
eu.

— Realmente nos atraímos um pelo outro, mas é só.


Adeus.
Natasha puxou seu braço e firme apressou o passo e
subiu a escada. Aliviada alcançou o quarto. Ligou para
casa e pediu para o motorista pegá-la mais cedo do que o
combinado. Arrumou a mala e aguardou olhando a janela
que tinha vista para a rua.

Nessa hora Raquel entrou no quarto.

— Você já vai embora?

— Já vou Raquel

— Você não ia ficar até a noitinha?Lembra. Você ficou


de ligar para a sua mãe.

— Eu sei, mas estou com mal estar. Acho que estou


com enxaqueca.

Natasha nessa hora avistou o motorista estacionando


em frente à casa.

— Meu motorista já está lá embaixo. — Natasha fitou


Raquel e com um sorriso de gratidão lhe disse. —
Obrigada por ter me convidado para sua festa.

Raquel sorriu e disse animada.

— Quando tiver uma festa legal em sua casa, me


convida que eu vou. Pode ter certeza que não irei
desperdiçar a chance de conhecer algum rapaz
interessante, que pode me dar uma vida de rainha. Eu
invejo você.

Natasha a fitou tristemente.

— Pode deixar, não vou me esquecer de te convidar.


Despede de seu pai por mim. Você tem um pai
maravilhoso. Lembre-se sempre disso.
Raquel deu de ombros e Natasha pegou a mala e
desceu as escadas. No final dela estava Gregory. Natasha
desceu com cuidado, com o coração batendo no ouvido, e
as pernas moles. Quando ela desceu o último degrau, ela
ergueu os olhos e encontrou os olhos negros dele. Os dois
ficaram sem ação por um momento. Houve um silêncio
cheio de tensão. Ele se aproximou mais, fazendo com que
Natasha quase se encolhesse. Estava tensa, forçando-se a
não fugir dali. Era quase um magnetismo, uma irresistível
força de atração. A respiração acelerou-se quando ele
chegou tão perto que podia até sentir o calor de seu
corpo.

A presença dele dominava-a, fazendo-a se sentir cada


vez mais vulnerável. Prendeu a respiração quando ele a
fitou direto nos olhos, e viu a mão dele ajeitando uma
mecha de seu cabelo que lhe caía nos olhos. Desejava
ignorar que a mão dele tocara-lhe os cabelos. E por uma
fração de segundo criou-se um clima de intimidade e
ternura que tão logo veio e desapareceu.

— Quando nos vemos?

— Não sei.

— Você saiu como uma fugitiva, sem me dar uma


explicação. O que te impede de nos conhecermos
melhor?

Natasha fitou Gregory e bem séria disse.

— Há um abismo entre nós. E eu não quero falar sobre


isso. Desculpe-me.
Ela então tentou passar, Gregory a segurou pelo braço.
Ela fitou-o de novo pronta a puxar seu braço, mas viu
tristeza no rosto dele, ficou estática. Sua mala caiu no
chão, mas ela nem prestou atenção.

Os olhos de Gregory a fitavam limpidamente. Calmo e


pacientemente, como se estivesse falando com uma
criança:

— Eu só desistirei de você quando você me der uma


razão plausível. Encontre-me aqui amanhã. E
conversaremos direito.

Por instantes, ela ficou tentada a negar-lhe o pedido;


seu coração batia como louco, sentia um medo que lhe
contraía o estômago, amolecia-lhe as pernas, dava-lhe o
desejo de se apoiar no corpo de Gregory. Tinha emoções
que a assustavam. Aquele homem tinha o poder de mexer
com seus sentimentos mais profundos; no entanto,
sentia-se fraca diante da idéia de ter que enfrentar seu
pai. Estava preparada para isso?

Natasha não conseguiu negar-lhe uma explicação.


Passou a língua pelos lábios secos, e isso fez com que
Gregory fixasse os olhos negros em seus lábios, deixando-
a mais nervosa.

— Tudo bem, Amanhã á tarde estarei aqui.

Gregory a soltou, dando-lhe um grande alívio. Ela


tinha se esquecido da mala que havia caído, deu um passo
e tropeçou nela, Gregory na hora a amparou, ela se apoiou
no peito dele. Um arrepio passou-lhe pelo corpo, seu rosto
se ergueu, dando com o rosto de Gregory perto do seu.
Sentiu os dedos de Gregory passando pelo queixo para
depois pousarem de leve sobre o ombro. Por menos lógico
que fosse não queria que aquilo parasse. O toque suave a
paralisou. Seus olhos se encontraram e expressavam as
sensações que lhe envolviam o corpo. Sem pensar, ela
achegou-se mais a ele.
Gregory a abraçou, com gentileza, deixando-a trêmula,
à espera do que ia acontecer. Não precisou esperar muito.

Natasha sentiu os lábios suaves sobre os seus e fechou


os olhos saboreando as emoções que lhe despertavam.
Meu Deus, como desejava aquela boca morna e firme na
sua, roçando na dela, procurando ávida uma resposta.

Lentamente, aninhou seu corpo ao dele, sentindo-lhe


todos os músculos, o abraço firme e carinhoso. A
promessa de não se envolver com Gregory caiu no
esquecimento.

Queria estar perto dele, ser beijada por ele, ser tocada
por aquelas mãos, experimentar as mais variadas
sensações de prazer.

Então Natasha ouviu o toque da buzina de seu


motorista lá fora. Natasha saiu daquele transe e se
afastou dele. Sem olhá-lo pegou a mala e se dirigiu a
porta de entrada, virou a chave e saiu.

Natasha encontrou seu motorista em pé na calçada.


Ele quando a viu lhe pegou as mala e lhe abriu a porta, ela
entrou no carro e da janela avistou a figura de Gregory
fitando-a. Natasha baixou o rosto e ficou a olhar para as
mãos do colo, e com alívio, viu o motorista se afastar da
casa de Raquel.

Gregory viu a Mercedes preta se afastar, entendeu que


por Natasha ter um motorista, que o pai dela deveria ser
algum empresário de sucesso. Suspirou e colocou a mão
sobre os olhos fechados.

O que a levava a negar-lhe um envolvimento? O


abismo seria o fato de Natasha ser rica?
Tentou se acalmar, agarrando-se à tênue esperança de
que ele a veria amanhã e tudo seria explicado. Mas
poderia falar antes com Raquel e tirar dela informações
de Natasha.

Gregory subiu até o seu quarto e andava de um lado


para o outro. Jonas saiu, para atender um chamado do
hospital e Raquel não saía do quarto. Resolveu ir até lá e
bater na porta.

Segundos depois, Gregory dirigiu-se ao quarto de


Raquel e bateu na porta, deixando sua última pergunta
acesa na cabeça. Raquel conhecia bem Natasha, ela iria
ajudá-lo a entendê-la, decifrar o enigma daquela mulher,
que já tomava conta de seus pensamentos. A questão
ainda o perturbava quando ouviu a fechadura se abrir e
fitou Raquel.

— Você precisa de algo, Gregory?

— Quero conversar com você. Você poderia descer?

Raquel sabia que ele iria lhe perguntar de Natasha,


não poderia expor a amiga, ou contar-lhe algo que ela
mesma ocultou.

— Você quer falar sobre Natasha?

Gregory levantou as sobrancelhas surpreso. E mesmo


se sentindo um tolo por ter que tirar informações de
Natasha, coisa que ele não havia conseguido com sucesso,
ele respondeu.

— Sim.

Raquel balançou a cabeça e falou irredutível.

— Desculpe-me Greg, mas não poderei falar de Sacha


com você.

— Por quê? — Ele perguntou impaciente.


— Não seria justo com ela, abrir a vida dela com você e
lhe dizer coisas que ela não lhe contou.

Gregory a fitou frustrado.

— Tudo bem, eu entendo sua posição. É admirável de


sua parte.

Raquel deu um meio sorriso e fechou a porta.

Definitivamente, Raquel não gostava dele. Já tinha


sentido isso nela, desde o dia que chegou.

CAPÍTULO V

Natasha entrou na mansão, que estava silenciosa. Sua


mãe deveria estar na piscina. Subiu para o quarto e se
jogou na cama. Fechou os olhos, recordando-se do beijo
de Gregory. Suspirou. Meu Deus! Não poderia ir lá
amanhã, ia acabar se traindo. Não iria resistir estar ao
lado dele.

Mais tarde Natasha desceu as escadas e encontrou sua


mãe, saindo da varanda e entrando na sala. Natasha havia
trocado o vestido por um maio e por cima colocou uma
saída de banho.

— Já voltou? Pensei que você almoçaria lá.

— Eu resolvi voltar cedo.


— Fez bem, seu pai ligou. Disse que vai voltar somente
semana que vem. Perguntou de você. Eu disse que você
estava na piscina, nem lhe contei da festa para não deixá-
lo preocupado.

Natasha fechou os olhos ao ouvir as palavras de sua


mãe. Como lhe feriam a alma, de saber que seu pai se
preocupasse ao ponto dela não poder participar de uma
simples festa na casa de uma amiga, que ele mesmo tinha
aprovado.

— Não vou almoçar. Vou ficar na piscina.

Passou o resto da manhã sentada em uma


espreguiçadeira no terraço, no fundo da casa. Na hora do
almoço, sua a mãe a fez comer algo; ela sentou-se a mesa
em frente à piscina e sua mãe a acompanhou.

Não conseguiam ter uma refeição íntima. Os


empregados ficavam sempre o tempo todo as servindo.
Diferente da casa de Raquel.

Queria tanto se abrir com sua mãe, ouvir a história de


sua vida, de quando ela namorava o seu pai, mas a
conversa que geralmente tinha com ela, envolvia
assuntos banais ou sua ultima aquisição de vestido, jóia e
sapato. Era óbvio que ela adorava aquelas coisas. Natasha
não conseguia descobrir se ela apreciava mesmo o fato de
estar sempre bonita ao lado de seu pai ou apenas sentia o
amor pelas posses materiais e ou era a necessidade de
gastar, para sair do tédio.

Mais tarde Natasha subiu para o quarto, resolveu


deitar-se cedo, pegou um bom livro policial, que não
tivesse nada de romance. Pois o tempo todo precisava
vigiar sua mente e não pensar em Gregory.
Antes de abrir o livro, sua mente criou asas e a levou
a um dia antes da partida de seu pai.

Lembrava-se que ela fora se despedir dele. Seu pai


estava arrumando uma maleta de viagem, quando a viu
entrar na biblioteca.

Natasha indagou.

— Você já vai?

Arnold Bertolini a fitou sério.

— Vou. Se comporte. Não saia de casa quando eu


estiver fora. O mundo está muito violento.

— Papai, amanhã eu irei à festa de Raquel.

Arnold levantou os olhos, irritado.

— Você liga para ela desmarcando. Eu não viajarei


sossegado com você fora.

Natasha fechou os olhos e suspirou, tentando manter a


calma.

— Papai, o motorista me levará e me buscará. Eu


entrarei na casa dela e não ficarei perambulando por aí. A
festa tem um ambiente bom. São apenas rapazes e moças
que estão se formando e jovens médicos e médicas.

Arnold fechou a pasta com violência.

— Natasha, por que você dificulta as coisas?

— Eu dificulto? Talvez papai, por ter uma vida ociosa,


me dê vontade de sair um pouco de casa.

— Eu já falei sobre isso. Logo, logo eu verei algo para


você fazer no estaleiro. — Seu pai disse arrumando agora
o paletó.
— Você me fala isso há um ano.

— Se você se interessasse por Francisco, talvez você


não se sentisse assim. Eu confio nele. E não me
importaria de maneira nenhuma de você sair com ele.

— Eu não gosto dele papai. Quantas vezes eu


precisarei te dizer isso?

Arnold começou a massagear o coração.

— Você ainda não saiu com ele para dizer se gosta ou


não gosta dele.

— Eu não preciso sair com ele, para constatar que não


gosto dele. Ele é muito pegajoso.

— Pegajoso como? — Arnold indagou impaciente.

— Fica toda hora pegando minha mão, ele fica com


seus olhos o tempo todo sobre mim. Eu não gosto disso.

— Ele é assim, por que gosta de você.

Natasha riu...

Os pensamentos de Natasha foram interrompidos, pela


batida na porta. Então Lucinda entrou com a expressão
preocupada. Ela ainda estava elegantemente vestida, com
um vestido azul claro, e os cabelos negros, pintados
erguidos em um coque.

— Filha, você não está sem fome de novo?Você está


doente?

Lucinda se sentou na beirada da cama, e fitou


Natasha, observando-a.

— Não mamãe. Não se preocupe.


— Eu deveria ter ouvido seu pai, e não ter deixado
você ir a essa festa. Lembre-se que ele não sabe.

— Mamãe. O que tem haver o fato de eu não ter fome


com a festa?

Nessa hora o telefone tocou. Natasha atendeu. Então


ouviu a voz de seu pai.

— Natasha?Eu tentei falar com você hoje. Sua mãe


disse que você estava na piscina.

— É verdade papai.

— Fiquei pensando na conversa que tivemos. Você


realmente não tem saído muito. Como eu não estarei aí e
ficarei preocupado se você sair. Então eu tive a idéia de
pedir a Francisco para passar aí e te levar para sair um
pouco. Combinei com ele de na Sexta-Feira á tardezinha
ele pegar você.

— Papai, nós já conversamos sobre isso.

— Filha, ele sairá com você apenas como amigo. Eu


conversei com ele. Pode ficar despreocupada.

— Papai...

— Passe o telefone para a sua mãe.

Natasha passou para Lucinda e frustrada deitou-se na


cama olhando fixamente para o teto.

Natasha nem ouvia o que Lucinda falava. Sua mente


agora estava voltada para Gregory. Lágrimas embaçaram
seus olhos, ela irritada limpou as lágrimas. Sua mãe
desligou o telefone e percebeu as lágrimas de Natasha.

— O que foi agora Natasha? O que teu pai falou que te


abalou?
Natasha se sentou na cama. Fitou sua mãe e disse
séria.

— Ele telefonou para Francisco, e insinuou que eu


precisava sair, e ele virá aqui Sexta-Feira, para sairmos
juntos, sendo que eu não quero nada com ele. Mas papai
não desiste.

— Por isso você está chorando?

Natasha olhou a mãe impaciente

— Você acha pouco?Eu tenho vinte e um anos e ele me


trata como se eu tivesse dezesseis. Ele dita toda a minha
vida, não tenho autonomia para ir e vir. Você lembra a
briga que ele fez quando eu quis fazer faculdade? Você se
lembra de como ele prejudicou um rapaz que ia me dar
emprego, ele usou a influência dele e no dia seguinte o
rapaz estava no olho da rua.

— Como você pode acusar seu pai desse jeito?

— Mamãe, você é muito ingênua.

Lucinda ficou uma fera.

— Você é uma menina mimada.

— Eu mamãe?

— Sim. Você!

Lucinda então passou a andar de um lado para o outro


do quarto, confirmando o que ela já suspeitava.

— Por que você acha que seu pai quer tanto te ver
casada? Ele precisa de um genro para dirigir o estaleiro.
Teu pai não vai durar a vida inteira. E eu não pude lhe
dar um filho homem.
Natasha ficou a olhar a cena, sua mãe andando de um
lado para o outro, se culpando por não ter gerado um
homem.

O coração dela se apertou no peito, mesmo diante do


absurdo que era ver sua mãe se condenar por isso,
ignorando que as mulheres tinham a mesma capacidade
dos homens em dirigir os negócios, Natasha se levantou e
a abraçou e acabou cedendo.

— Pare mamãe. Tudo bem, eu saio com Francisco se


isso a deixa feliz, mas será só como um amigo.

Lucinda enxugou as lágrimas e falou emocionada.

— Obrigada filha, não agüento mais seu pai me


atormentando para te convencer a sair com esse rapaz.
Você vai tirar um peso de meus ombros.

Natasha triste viu sua mãe sair do quarto.

Novamente teve aquela sensação: Tinha vontade de


jogar tudo para o alto.

Um lado dela lutava pela família, pela união, o outro


lado dela lutava pela sua liberdade, sua autonomia.

Seus pensamentos se voltaram para Gregory. Uma


sensação de perda lhe apertava o peito, queria tanto vê-
lo, conhecê-lo melhor, se permitir amá-lo, mas tinha
tanto medo. Eram tantos medos, medo da vida, medo de
se machucar, medo de ferir seus pais e principalmente
medo de seu pai prejudicá-lo de alguma forma, caso ela
resolvesse assumi-lo.

Na manhã seguinte, Natasha acordou cedo e na cama


ficou a pensar que Gregory hoje a esperava depois do
almoço para ela lhe dar uma explicação.
Como esquecer-se do desejo que sentiu pela primeira vez na
vida quando Gregory a segurou de uma maneira tão íntima e
sugestiva?

Fechou os olhos por um momento, deixando turbilhões


de sensações povoarem seus pensamentos e seu corpo.
Por fim, constatando que não lhe faria nenhum bem
deixar a situação evoluir daquela maneira, sacudiu a
cabeça e procurou o pouco de razão que ainda lhe restava.

O certo era abrir mão dele, não podia se envolver...

Natasha passou o dia inquieta, depois do almoço, se


sentia angustiada. Foi até o jardim e passou a andar de
um lado para outro, quase pegou o seu carro e foi até a
casa de Raquel. Mas não duvidava nada que seu pai
tivesse dado alguma ordem aos seguranças para barrarem
a sua saída. Lembrou-se que numa viagem dele, ele já
fizera isso antes. No dia da festa, só conseguiu ir, pois sua
mãe a liberou com os seguranças. Pensou então em pedir
para a sua mãe fazer o chofer levá-la a casa de Raquel,
mas então seu coração se apertava indeciso...

Quando o relógio de seu pulso marcou seis horas da


noite, Gregory entendeu que ela não viria. Nervoso se
levantou, foi até o bar e tomou um gole de uísque.

Entendeu que precisava esquecê-la. Nunca acontecera


isso com ele. Por que se deixou envolver tanto?Estava
indo tão bem com a perspectiva de vida nova na cidade,
reformando seu apartamento. Sua mente o alertava o
tempo todo de algo que ele não sabia explicar, mas seu
coração e seu corpo a desejou. Lembrou-se dela,
conversando na sacada com o rapaz na festa. Ela era tão
feminina, reservada, seu rosto era muito expressivo, seu
perfume, seus cabelos negros eram lindos, o jeito que ela
sorria quando estava distraída.
Estava difícil apagar a imagem dela, por mais que se
esforçasse. Lembrou-se de como dançaram colados,
sonhara a noite inteira com aquilo. Desafiando a razão e a
força de vontade, ele desde o momento em que a viu, ele
a quis para ele

Fechou os olhos e se viu naquele momento dançando


com ela, os seus dedos deslizaram de leve ao longo da
pele macia, o perfume dela, e o corpo feminino que se
apoiou no seu, pois ele forçara a aproximação na dança,
sorriu ao se lembrar do beijo que ele lhe deu e de como
ele sentiu seu coração batendo, tão rápido como o dele.
Depois como seus olhos ficavam ligados como imãs.
Então se lembrou das palavras dela, que foram como uma
ducha de água fria. “O problema não é você, sou eu. Existe
um abismo entre nós”...

CAPÍTULO VI

Natasha observou o relógio que marcava seis e meia


da noite. Deitou-se na cama infeliz. Não havia ido ao
encontro. Tentava se convencer que fora melhor assim.
Precisava pensar assim, para não morrer de desgosto.

O que tinha em Gregory que mantinha sua mente tão


cativa nele?Angustiada sacudiu a cabeça como se isso
pudesse afastar os seus pensamentos nele.

Mas por mais que se esforçasse não conseguia.

Será que esse sentimento era amor? Ela amava


Gregory? Um dia fora o suficiente para amar alguém?
Sexta-Feira chegou, Natasha estava distraída na
biblioteca, quando sua mãe a chamou na sala.

— Natasha, você ainda não se trocou? Francisco vem


te pegar, filha.

— Eu vou assim mamãe.

Lucinda fitou-a horrorizada.

— Assim?

Lucinda observou a calça jeans, o tênis e a camisa


branca que ela usava. Seus cabelos estavam presos em um
rabo de cavalo.

— Sim mamãe.

Então ouviram o toque do interfone e a empregada veio


avisar que Francisco estava na entrada.

— Pede para os seguranças deixá-lo entrar.

Natasha saiu da biblioteca e foi para a sala.

Lucinda meneou a cabeça desanimada para Natasha e


aguardou o rapaz.

A campainha soou, a empregada abriu a porta.


Natasha ficou sem reação no sofá e o viu entrar.
Francisco a avistou e ergueu as sobrancelhas, pelo jeito
que a viu vestida, devia achar que ela não iria.

Francisco Ferraço era um homem de trinta e cinco


anos, filho de um banqueiro. Seu pai era amigo do pai de
Natasha. Ele era filho único, tinha cabelos castanhos
escuros, olho castanho era alto e forte.
Lucinda se aproximou dele e disse animada.

— Francisco, que bom que você veio. Natasha vem


cumprimenta Francisco.

Natasha se levantou como uma marionete foi até ele e


se erguendo, o cumprimentou com um beijo rápido no
rosto.

— Tudo bem, Natasha? Seu pai te avisou que eu viria?

— Avisou.

Ele então passou os olhos nas roupas dela e


perguntou.

— Você está pronta?

— Estou.

Francisco vestia um terno italiano impecável, camisa


branca, gravata vermelha e paletó. Natasha sabia que
estava destoando ao lado dele, mas não iria se trocar para
sair com ele.

Francisco então vendo a atitude de Natasha, mesmo


vendo-o tão bem vestido, e querer sair com ele daquele
jeito, ele disse determinado.

— Então vamos.

Natasha aproximou-se dele. Francisco a pegou pelo


braço e a conduziu a sua Ferrari vermelha, abrindo a
porta para ela. Ele deu a volta no carro, mas antes que
entrasse, tirou o paletó, tirou a gravata, abriu os botões
do punho e abriu a camisa branca parcialmente,
revelando os pelos castanhos. Natasha surpresa desviou
os olhos dele. Ele sentou-se ao volante. E se virou para
ela.
— A onde você quer que eu a leve?Eu pensei em te
levar a um restaurante, mas eu vi pelas suas roupas que
talvez você quisesse pegar um cinema, teatro, ou quem
sabe um parque?

Natasha envergonhada por sua atitude tão imatura,


resultado de sua revolta; falou em tom de desculpa, mas
abrindo o jogo com ele.

— Desculpe-me por não ter me arrumado melhor, mas


eu estou aqui com você, não por minha vontade, mas por
imposição de meu pai. Por isso meu desleixo. Foi uma
espécie de protesto, mas eu sei que você não tem culpa.

Francisco tirou os olhos dela e olhou para frente por


um momento, pensativo, então voltou a olhar para ela.

— Você quer que eu fale com seu pai que nós saímos e
você volta para sua casa, desobrigada de sair comigo?

Natasha arregalou os olhos surpresa, não esperava


essa atitude dele, Francisco sempre nas festas que
participavam juntos, de alguma forma, ele tentava tirá-la
para dançar, ás vezes pegava sua mão tentando levá-la
para um lugar tranqüilo para conversar com ela, mas
sempre ela rejeitava, dando desculpas, se desvencilhando.

— Por que Francisco, você faria isso por mim?

Os olhos castanhos dele fitaram-na de maneira


estudada e intensa.

— Por que eu cansei Natasha, cansei de tentar me


aproximar de você.
Os olhos de Natasha pousaram de imediato no rosto de
Francisco, mas esse não dava qualquer pista de seus
sentimentos. Ele a fitou à espera de uma resposta. Ela,
porém, permanecia quieta.

Por fim, ela respondeu.

— Não há por que não sairmos como amigo. Eu quero


sair com você.

— Ah, obrigada. —Disse com ironia, e depois ele riu.

Natasha não esperava que ele levasse na brincadeira e


ficou vermelha.

— Só que você não me respondeu aonde você deseja


ir?

— Podemos ir a uma lanchonete. Sempre vou a


restaurantes, nunca como hambúrgueres, batatas. Seria
interessante.

— Hum, muito bem então. Tem um lugar ótimo aqui


perto, fazem um ótimo lanche e tem música ao vivo.

Natasha sorriu animada.

— Seria maravilhoso.

Francisco virou a chave no contato e deu a partida no


motor, saíram da mansão.

Natasha reparou nele enquanto ele dirigia sem que ele


percebesse, observou os pelos negros que estavam
amostra no braço, o perfil dele era bonito, o nariz reto, as
pestanas longas.
Natasha então se voltou para a janela, daria tudo para
que estivesse agora ao lado de Gregory. O que ele estaria
fazendo agora? O imaginou saindo com alguma garota e
seu coração se apertou no peito, lágrimas ardiam em seus
olhos, mas ela conseguiu contê-las.

Momentos depois, Francisco estacionava em frente ao


restaurante, que tinha grandes portas de vidro, e janelas
amplas, estava cheio de gente. Garçons atarefados
andavam de um lado para o outro. Tudo isso Natasha
conseguia ver pela janela, sem sair do carro. Francisco
parecia não estar com pressa de entrar. Desligou o motor
e fitou Natasha.

— Tem coragem de enfrentar o ambiente?

— Por que não?

— É um ambiente que você não está acostumada.

— Mas e você, está?

Francisco riu, observando-a.

— Já vim muitas vezes aqui na época que eu fazia


faculdade, meus amigos freqüentavam aqui. Ele assusta,
pois é muito movimentado, mas o ambiente é familiar.

Natasha sorriu.

— Então vamos. Não vejo a hora de comer um pouco de


comida popular.

Sem duvida, agora os olhos castanhos dele fitavam-na


divertidos. Natasha sorriu, e pela primeira vez estava
gostando da companhia dele, ele parecia ser tranqüilo e
uma pessoa fácil de lidar.
Francisco abriu a porta do carro e saiu. Natasha não
esperou que ele desse a volta e abrisse a porta para ela.
Ela saiu do carro, atravessando a área do estacionamento
na direção da porta do restaurante.

— Quero te confessar uma coisa – Francisco disse,


enquanto andavam entre as mesas repletas.

— Confessar o quê?

— Estou feliz que não tenha recusado meu convite.

Natasha sorriu.

— Eu também estou feliz de estar saindo com você.

Natasha sentou-se na mesa de canto, perto da janela.


Então ela ergueu o rosto para o garçom que a atendia,
dando-lhe o cardápio.

Seus olhos verdes então se encontraram com os olhos


negros do garçom.

Meu Deus, Gregory!

Ele estava com um avental branco e dois cardápios nas


mãos.

Gregory também a olhava, impassível, ele não


demonstrava surpresa nenhuma em seus olhos, como se
ele já a tivesse visto antes de vir para a sua mesa, como
se tivesse sido premeditado.

Os olhos dele então se voltaram para o seu


acompanhante, seu rosto se fechou e ele voltou seu olhar
para ela. Natasha saiu daquele bloqueio mental,
provocado pelo susto e a surpresa, e com o coração
batendo forte e as pernas moles, disse a ele com voz
fraca.
— Gregory, que surpresa te ver aqui. Fico contente de
saber que você conseguiu um emprego e já está
trabalhando — Natasha então fitou Francisco que
observava tudo, com interesse. — Gregory, esse é um
amigo meu, Francisco Ferraço.

Gregory, porém, permanecia quieto. Por fim, para


quebrar o embaraço do silêncio, Natasha viu-se obrigada a
falar.

— Francisco, Gregory é primo de uma grande amiga


minha.

Francisco assentiu para ela. Gregory então a ignorou, e


disse para os dois, como se ela lhe fosse uma estranha,
estendendo o cardápio.

— Fiquem á vontade para a escolha, daqui á pouco eu


voltarei e anotarei o pedido.

Ele se virou e saiu com passadas largas. Natasha


trêmula o viu sair, pálida encostou-se na cadeira e fechou
os olhos. Sentiu a mão de Francisco cobrir a sua. Natasha
abriu os olhos e deu com os olhos indagadores de
Francisco.

— Ele parece mais do que o primo de sua amiga para


você. Por que ele te abalou tanto? Você gosta desse
rapaz?
Natasha ficou a olhá-lo por um momento e por fim
respondeu.

— Gosto muito. Mas meu pai não o aceitaria. Por favor,


faça o pedido para mim quando ele chegar. Eu vou usar o
toalete. O que você escolher para você pode escolher para
mim.

Francisco a fitou com pesar.

— Tudo bem, eu farei o pedido.

Natasha se levantou e passou por algumas mesas, e do


outro lado do restaurante achou o banheiro feminino.

Entrou nele, e se sentiu segura lá. Sentou-se numa


cadeira que estava num canto e colocou a cabeça entre os
joelhos, respirando fundo várias vezes.

Lágrimas brotavam de seus olhos, não gostou nada de


ser ignorada por Gregory. Precisava parar de chorar, não
podia se desabar em lágrimas. Lavou o rosto e encontrou
na um batom, passou de leve nos lábios e passou um pó
no rosto para disfarçar o vestígio de choro do rosto.

Respirou fundo e saiu do banheiro, então no corredor


surgiu Gregory. O coração de Natasha quase saiu pela
boca, ficou nervosa. O olhar dele desceu insolentemente
pelo corpo dela que estremeceu. Era como se um rastro
de fogo passasse pela pele aveludada de seu pescoço,
descendo pelos seios macios, cintura e pernas, ele
continuou com sua lenta inspeção até chegar aos pés,
Natasha ficou ali, parada, sentindo-se impotente. Ele se
aproximou como um gato bravo espreitando o rato. Então
ele ficou bem próximo.
Natasha podia sentir sua respiração.

— Sinto muito, Natasha, mas desta vez você não vai


fugir.

— Do que está falando?

— Eu te esperei, no dia que combinamos para


conversarmos e não entendi porque você não apareceu...
Então agora da janela eu a vi chegar numa Ferrari. Não
vemos isso por aqui, ninguém freqüenta essa lanchonete
dirigindo uma Ferrari. Isso me chamou a atenção, não só
de mim, mas de todos, que ficaram olhando também.
Então eu vejo quem? — Você descer do carro. Aquilo foi
um golpe certeiro, pois entendi o abismo que você se
referia. Que embora nos sentíssemos atraídos um pelo
outro que jamais você iria se ligar a uma pessoa como eu,
que tem dificuldade em escrever e ler.

— Gregory, por favor...

— Você sente atração por mim — ele afirmou. — Isso


não se esconde Natasha.

— Gregory, por favor... — ela falou em um murmúrio,


após um momento de hesitação.

— Por favor, o quê?

— O abismo que lhe falei não é isso que você está


pensando...

—Não importa o que seja, vai continuar sendo um


abismo — ele constatou, caminhando resoluto em direção
a Natasha, se aproximando mais.
Os olhos negros eram intensos e demonstravam
conflito interior.

— O que te faz não enfrentá-lo, jogando fora a


oportunidade de nos amarmos?

Gregory estava parado bem em frente a ela.

— Prove que estar longe de mim é melhor, negando


minha existência. E que é a opção acertada você resistir à
atração que emana de nossos corpos quando estamos
pertos um do outro. E que o que você sente comigo, não é
tão forte como pareceu ser. — Ele a enlaçou pela cintura
e aproximou os lábios na boca dela. — Tudo o que tem a
fazer é não corresponder.

Os lábios de Gregory tomaram a boca de Natasha,


antes que ela pudesse reagir. Houve um segundo de
resistência de Natasha, mesmo diante do beijo
apaixonado de Gregory. Ele moveu os lábios de maneira
segura e decidida sobre os de Natasha, ignorando a
resistência dela. Com um ritmo sensual procurava seduzi-
la de um jeito másculo.

Natasha tentava a todo custo resistir, continha-se


com dificuldade, evitando qualquer reação. Dizia a si
própria que precisava resistir, era pelo bem dele. No
entanto, ela se sentia fraca, a colônia dele invadia suas
narinas embriagando-a, minando suas forças, e isso a
impedia de tomar a atitude definitiva. Ele aproximou-se
ainda mais, até seus seios se apertarem contra o seu
peito. Com um gemido, Natasha se rendeu. Ele segurou-a
pelos ombros e apertou-a contra si, comprimindo seu
corpo num abraço apertado. Em um desespero de desejo,
estreitou-a mais nos braços, ela abriu os lábios até que ele
lhe envolvesse toda a boca, assumindo todo o controle
dela. A língua dele tocou a de Natasha e explorou a
maciez da boca morna.
Desceu as mãos pelos quadris dela, fazendo-a gemer.
Ela sentia a cabeça rodando e o corpo pronto para recebê-
lo. Nunca estivera tão maravilhosamente fora de controle!
O beijo tornara-se intenso e selvagem.

Por fim, relutante, Gregory se afastou dela. Arfando,


com a intensidade das emoções, encarando-a por um
momento sem dizer nada.

Então ele disse num tom de deboche.

— Agora, negue minha existência, negue tudo que


sentimos aqui, e volte para o seu namorado, e viva sua
vida fútil e sem graça.

Ela levou os dedos trêmulos aos lábios ainda inchados


do beijo. Tentou falar, mas não conseguiu. Viu o homem
que amava deixá-la. Julgando-a interesseira e
preconceituosa. Só quando esteve sozinha, Natasha se
desmoronou.

Como podia ter deixado que Gregory voltasse a beijá-la, e que a


tocasse daquela maneira?

Oh, Gregory! Pensou com os olhos cheios de lágrimas.

Se você soubesse o que estou passando por você...!

Natasha encostou se a parede e fechou os olhos. Sentiu


um toque no ombro e viu Francisco do lado dela. Ela o
abraçou e chorou. Francisco esperou ela se acalmar e a
fitou nos olhos.

— O que houve? Eu o vi passar por mim agora como


um furacão. Ele te ofendeu?
Natasha enxugou as lágrimas e negou com a cabeça.

— Ele apenas está magoado, pois neguei a ele um


envolvimento maior e ele não entende meus motivos.

— Vem, vamos até a mesa, coma o seu sanduíche, com


tudo que você tem direito e o ignore. Mostre-se forte. —
Ele então brincou com ela. — Embora nossos lanches
devem estar frios agora.

Natasha sorriu para Francisco e assentiu. Francisco a


agarrou pela cintura e a conduziu a mesa.

Natasha então saboreou o sanduíche, pedacinho por


pedacinho. Tinha medo de engasgar, tamanho o aperto
em seu estômago, o comia bebendo coca cola. Ignorou o
ambiente e se concentrou no homem a sua frente, que
agora lhe contava algo engraçado.

Quando terminaram a refeição, Francisco a ajudou se


levantar afastando a cadeira, a enlaçou pela cintura e a
conduziu até a Ferrari. Natasha lembrou-se do que
Gregory havia lhe dito: Eles chamaram a atenção quando
chegaram, por causa do carro.

Ela então, dentro do carro observou a lanchonete e


realmente reparou em muitas pessoas com o olhar neles.

Pouco tempo depois Francisco estacionou em frente à


mansão, Natasha tinha permanecido o percurso inteiro
calada, envolta em pensamentos tristes, com um
sentimento horrível de perda, como se alguém muito
querido tivesse morrido.

Francisco acendeu as luzes interna do carro e virou-se


para ela.

— Você está melhor?

— Não.
— Se você o ama, o que a impede de lutar por esse
amor?Eu fiz exatamente isso uma vez, gostei de uma
baba de um amigo meu, mas por ela ser de classe
diferente da minha, abafei meus sentimentos, me
arrependi amargamente. Soube que ela está bem casada e
que tem um filho, eu poderia ter sido o marido dela e o
filho dela ser meu filho. Hoje ela é uma empresária de
sucesso, o marido investiu nela comprando uma loja de
antiguidade. Um dia fui comprar uma peça para a minha
casa e levei um baque ao vê-la, percebi que nunca a
esqueci.

Natasha o fitou surpresa.

— Eu não me importo dele ser um simples empregado,


de ser pobre. Mas tenho medo de meu pai. Ele sabe como
abater seus adversários. Eu não tenho profissão, meu pai
me impediu de cursar uma universidade com a promessa
de me ensinar administrar o estaleiro, mas isso nunca
aconteceu e nunca irá acontecer. Ele é extremamente
dominador, chega a ser maquiavélico.

— Natasha, você deve expor isso para o rapaz. É ele que


deve decidir se quer lutar por você. Você está errada em
querer decidir isso por ele. Você não deu a ele o direito da
escolha.

Natasha se emocionou e colocou as mãos no rosto e


chorou. Francisco a puxou para si, afagando-lhe
ternamente as costas dela, com muito carinho. Quando
ela se acalmou ele a fitou.

— Obrigada Francisco. Eu contarei para ele os meus


medos e receios. E o deixarei escolher, se ele quer ou não
lutar por mim.
Francisco sorriu limpando as lágrimas dela. Natasha
falou-lhe.

— Eu tentei conversar com minha mãe, mas a pressão


de meu pai em cima dela é muito grande. Meu pai quer
que eu me case, e meu marido assuma o estaleiro. Ele
então tem pressionado mamãe para eu me casar com
alguém do meu nível. — Ela sorriu. —Você foi cotado
como um forte candidato.

— É uma pena Natasha, que você ame tanto esse rapaz.


Se ele não lutar por você, gostaria muito de me
candidatar à vaga de seu coração, mas ele precisa ficar
desocupado, quando isso acontecer, para que eu possa
entrar.

Natasha o abraçou com gratidão. Francisco a estreitou


nos braços e ergueu o rosto dela, beijando-lhe ternamente
os lábios.

— Obrigada por tudo. Arrependo-me por não ter aberto


meu coração para você antes. Julguei-te
precipitadamente, na verdade te julguei um playboy,
como tantos que eu conheço.

Francisco sorriu fraco. Natasha saiu do carro se


sentindo leve, com a resolução de dar um tempo e
esperar um pouco a poeira baixar, ligar para a Raquel e se
informar do horário de Gregory e procurá-lo.

Ou poderia ser no Domingo. Ele não deveria trabalhar


aos domingos? Seu pai ia chegar mesmo só semana que
vem.
Entrou na mansão se sentindo mais tranqüila. Sua mãe
a vendo foi até ela com expectativa nos olhos.

— E então filha? Como foi?

— Foi ótimo, ele é um homem maravilhoso.

Lucinda não se continha de felicidade.

— Seu pai e eu sabíamos que você iria gostar dele.

— Com certeza mamãe, ele se tornou para mim um


grande amigo.

O sorriso de Lucinda se foi.

— Como assim um grande amigo? Vocês não vão


namorar?

— Não mamãe, sair com ele, só me deixou claro em


uma coisa: Ele sempre será para mim um amigo.

Natasha beijou sua mãe e subiu a escada feliz, deixando


sua mãe frustrada.

Senti-se emocionalmente esgotada pelas emoções do


dia. Tomou um banho, colocou sua camisola e deitou-se
na cama. Deixou sua mente agora livremente, pensar em
Gregory, sem recriminações.

Eu o amo!Oh quanto eu o amo!

Lembrou-se dos cabelos negros grisalhos, dos olhos


negros intensos e ardentes, do cheiro da pele dele,
misturada a colônia que ele usava. Sua boca experiente,
que a enlouquecia, com seus beijos intensos. E a ternura
que havia presenciado nos olhos dele.

Ligaria amanhã para Raquel? Ou esperaria domingo?


No dia seguinte, Natasha estava no terraço, quando seu
pai telefonou.

— Natasha, saiu com Francisco ontem? Como é que


foi?

— Foi bom.

Houve um silêncio do outro lado da linha.

— Foi bom, como?

— Ele me tirou aquela má impressão que tive dele, e se


tornou um grande amigo.

— Amigo?

— Sim papai.

— Vocês marcaram de sair mais vezes.

Natasha fechou os olhos e contou até cinco, antes de


responder.

— Talvez nós saiamos, mas não marcamos nada ainda.

— Bem, já é alguma coisa. Até semana que vem. E se


comporte. Não saia de casa na minha ausência. Se for sair
chame Francisco.

— Adeus papai. Até breve.

Natasha pensativa ficou a olhar para o telefone.


Resolveu ligar para Raquel e perguntar de Gregory.

O telefone tocou seis vezes, ela ia quase desligar


quando ouviu a voz de Raquel.

— Raquel? É Natasha.

— Oi Natasha.
— Raquel, fale baixo. Não quero que Gregory saiba que
estou te ligando.

— Ele não está em casa. Ele está trabalhando agora.

— Você o tem visto?Tem conversado com ele?

— Natasha, o que você viu em meu primo hein? Ele é a


pessoa mais desinteressante que eu conheci na vida.

— Responda minha pergunta Raquel.

— Não, eu não o tenho visto. Ele saiu sete e meia da


manhã para trabalhar, faz um curso e só chega onze horas
da noite.

Natasha ficou triste de ver como a carga horária dele


era puxada.

— Ele perguntou por mim?

— No começo, logo que você foi embora. Mas eu não


abri nada para ele.

— Eu o amo, Raquel.

— Você o que?

— Não importa. Domingo eu irei aí. Quero falar com ele.


Tudo bem?

— Você me decepciona, Natasha.

— Posso ou não?

— Claro. Do jeito que ele tem trabalhado. Domingo deve


ser a folga dele. Quer que eu dê uma perguntada?

— Não. Eu irei de qualquer jeito. Qualquer coisa eu o


espero até ele chegar do trabalho.

— Tudo bem então.

— Obrigada e até Domingo.


Quando Natasha desligou, ficou apreensiva.

Meu Deus. Tinha que esperar três longos dias para falar com ele.

Apostava que Domingo seria a folga dele. Seria injusto


pegá-lo depois de um dia de trabalho. Mas se Domingo ele
trabalhasse, falaria com ele de qualquer jeito.

CAPÍTULO VII

Os três dias passaram arrastados. A ansiedade de ver


Gregory a deixaram uma pilha de nervos.

Natasha levantou-se cedo no Domingo. O dia como


sempre se arrastou, ficou apreensiva no quarto até dar o
horário de sair, mal comeu no horário do almoço.

Ao meio dia já estava pronta com um vestido atraente


e feminino. Tinha optado por um vestido branco com
estampas amarelas. Deixou os cabelos negros soltos,
tinha os lavado no dia anterior. Estavam ainda macios e
perfumados. Colocou uma sandália de couro cru e uma
bolsa do mesmo tom da sandália.

Sua mãe já havia dado permissão a ela de ir à casa de


Raquel, mesmo sabendo que seu pai não aprovaria. Nisso,
sua mãe a entendia, sabia que ela precisava de alguma
liberdade.

Quando deu umas duas da tarde, Natasha viu o


motorista estacionar em frente à casa de Raquel.
Natasha, mesmo impaciente, esperou ele abrir a porta.
Muitas vezes, ela tinha vontade de sair logo que o carro
estacionava, mas não o fazia, pois um dia ela o fizera na
frente de seu pai, e o chofer levou uma bronca de Arnold,
isso a deixou arrasada e ela nunca mais repetiu o gesto.

Natasha desceu nervosa. Suas pernas estavam moles,


seu coração parecia que ia sair do peito, diante da
perspectiva de falar com Gregory.

Natasha foi até a porta e tocou a campainha. O senhor


Jonas Forest abriu e lhe sorriu.

— Natasha... Raquel a espera?

— Eu na verdade, não vim ver Raquel, mas gostaria de


falar com Gregory.

Jonas ergueu a sobrancelhas surpreso.

— Vou chamá-lo. Entre.

Natasha entrou na sala e sentou-se no sofá. Viu o


senhor Jonas subir as escadas e nervosa, levantou-se, foi
até a janela e tentou se concentrar no jardim para se a
acalmar. Sabia que teria uma conversa difícil com ele.
Ouviu passos na escada e se virou, seus olhos verdes se
encontrariam com os negros dele. Ele estava abatido, com
olheiras profundas ao redor dos olhos, mais magro do que
se lembrava. Vestia um jeans surrado e uma camiseta
branca.

— Oi Gregory.

Gregory a fitou sério sem expressar qualquer reação.


Natasha se aproximou mais dele, sem tirar os olhos dos
dele.

— Podemos ir ao jardim? Naquele lugar que você me


mostrou aquele dia na festa?
Gregory a estudou por um momento e assentiu sem
nada dizer. Ele foi à frente e ela o seguiu.

O sol estava alto, o calor lá fora era intenso. Natasha o


viu sentar-se no banco, fitando o chão, ela sentou-se ao
seu lado.

— Gregory. — Ela o chamou num tom sofrido e isso fez


com que ele direcionasse seus olhos negros para ela.

— Eu vim para explicar-lhe os motivos que me levaram


negar-lhe nos conhecer melhor. Mas antes eu quero te
fazer uma pergunta.

Gregory a fitou intensamente e por fim respondeu.

— O que você ainda não entendeu que eu ainda precise


responder suas indagações?Eu fui muito claro com você.

Natasha mesmo diante do tom hostil dele, ela


perguntou-lhe.

— Até que ponto você lutaria por mim?Você


enfrentaria meu pai, um homem autoritário, que fará de
tudo para nos separar? Sabe lá o que ele é capaz de fazer,
para nos separar. Se eu não te aceitei, foi por temer por
você. Eu nunca enfrentei meu pai, mas eu sei o que ele é
capaz. — Natasha o fitou tristemente. — Meu pai sonha
para mim, um homem com uma boa condição financeira,
algum magnata que será seu sucessor nos negócios da
família.

Gregory a fitou pensativo e se reclinou no banco.

— Que negócios são esses?

— Ele é dono do terceiro maior estaleiro do país,


especializado em barcos á vela.
Gregory ficou pálido, ele a observou melhor, seus
cabelos negros um pouco abaixo dos ombros, seus olhos
verdes, a pele bem cuidada.

— E você, Natasha até que ponto você lutaria por


mim? Pois saiba que eu não aceitaria, caso nos
casássemos, um centavo de seu pai. Você teria que deixar
tudo para trás.

— Eu não dou a mínima para minha condição


financeira. Pelo contrário, eu adoraria ter nascido em um
lar comum. — Natasha disse emocionada, com os olhos
marejados de lágrimas, que ela não conseguiu esconder.
— Temo, pois meu pai sempre me poupou, não tenho
profissão, não me sinto preparada para a vida. Caso nos
casemos, o que eu faria?

Gregory se levantou e a puxou para seus braços,


Natasha chorou em seu peito. Ele beijou-lhe os cabelos e
indagou-lhe, com ela apertada a ele.

— Natasha. Você não respondeu minha pergunta, só


preciso saber isso de você?Você enfrentaria seu pai por
mim?

Natasha se afastou e enxugou ás lágrimas.

— Sim, eu enfrentaria.

Gregory lhe indagou emocionado, lágrimas brilhavam


em seus olhos.

— Agora, que veio para mim, significa que confia em


mim Natasha? — Ele perguntou, começando a fazer
carinhos nela.

— Claro que sim — ela murmurou, virando para ele.

— Oh, Natasha, amo você. Não importa o que aconteça,


nunca mais vamos nos separar. Eu enfrentaria tudo por
você.
Seus lábios se uniram em um beijo apaixonado. As
mãos dele em torno de sua cintura começou a acariciá-la.
O coração de Natasha batia furiosamente em seu peito.
Gregory sentia a resposta de desejo de Natasha, faltava
pouco para suas mãos invadirem seus seios, ela provocava
nele sensações que nunca uma mulher conseguiu, e o fato
dela corresponder seu desejo fazia-o lutar o tempo todo
para se controlar com ela. A resposta de seu corpo ao lado
dela era insaciável. Precisava tê-la, queria amá-la, queria
enlouquecê-la, fazê-la gemer em seus braços.

Gregory a afastou ofegante, a fitou emocionado em se


deparar com a intensidade do sentimento e as sensações
que ela lhe despertava.

— Eu te amo Gregory.

— Oh Natasha, é tão bom ouvir isso.

Gregory passando os dedos pelo seu rosto


continuou...

— Não tema o futuro. Vamos apenas nos conhecer


sem pressa, e se realmente evoluir para um casamento,
esteja certa que eu sei que posso cuidar de você. Confia
em mim. Tenho certeza que seu pai vai acabar me
aceitando. — Gregory disse aquelas palavras, mas no
fundo de seu coração temia, pois ela estava acostumada
com todo o conforto.

E ele? O que poderia oferecer a ela? Ele sempre seria um


proletário, mas egoisticamente a amava para abrir mão dela. Ela
fazia-o querer lutar para ser alguém. Queria lhe dar todo o
conforto.

Pensamentos confusos dilaceravam seu peito. Sempre fora


taxado como um derrotado por seu pai, isso ainda o perseguia.
Queria um dia ver nela um olhar de admiração. Queria que ela se
orgulhasse dele...
CAPÍTULO IX

Natasha ergueu o rosto e fitou seus olhos negros,


Gregory baixou o rosto e tomou seus lábios com paixão,
Natasha correspondeu o beijo apaixonadamente. Passou
os dedos nos cabelos negros de Gregory, extasiada com o
cheiro e o gosto dele. Depois de um longo tempo se
afastaram.

Quando eles se afastaram, Gregory a fitou com


ternura, Natasha o abraçou e apoiou a cabeça em seu
peito, ficou um bom tempo assim. Ouvindo as batida do
coração de Gregory, se sentindo mais tranqüila, mais
certa que com ele podia enfrentar o mundo.

Natasha e Gregory entraram na sala. Então seus


problemas começaram. Seu pai em pessoa entrava na
sala. Com um terno impecável preto, camisa branca, um
relógio de ouro e sapatos couro feito a mão. Arnold tinha
cabelos grisalhos sempre bem penteados para trás, era
esbelto e tinha cinqüenta e cinco anos.

Raquel estava atrás dele pálida, sem ação, com os


olhos ela lhe pedia desculpas. Seu pai então a fitou com o
rosto duro ao ver Natasha agarrada pela cintura por
Gregory.

Natasha por fim falou.

— Papai. Pensei que o senhor ia ficar a semana fora?

Arnold com o rosto duro como se tivesse sido lapidado


em pedra, nada respondeu e encarou Gregory que
continuava com as mãos na cintura de Natasha,
segurando-a possessivamente.
Os olhos de Arnold para ele eram hostis.

— Não me apresenta seu namorado?

Natasha começou a tremer. Gregory se adiantou.

Gregory estendeu a mão em um cumprimento — Sou


Gregory Thonson, namorado de sua filha e sou primo de
Raquel. — Gregory ficou com as mãos no ar, sem receber
de seu pai o cumprimento.

Jonas nessa hora entrou na sala e quando viu


Arnold, exclamou.

— Arnold, que surpresa agradável. Há muito tempo


você chegou?

— Cheguei há pouco tempo. Vim buscar Natasha. —


Disse Arnold fitando Natasha e Gregory.

Natasha empalideceu. As pernas dela quase não a


sustentavam, Gregory, percebeu que grande influencia
tinha o pai dela sobre ela, e a fez sentar-se no sofá, e a
fitando firme, disse-lhe baixo, de maneira que só ela
pudesse ouvir.

— Deixa-me o seu telefone, não crie caso com ele


agora. Eu prometo que te ligarei.

Natasha fitou-o agradecida, Arnold então falou


impaciente.

— Pegue suas coisas Natasha.

Natasha nem se incomodou de falar para o pai que


não tinha trazido nada fitou seu pai, que parecia que ia
voar no pescoço de Gregory, tal o olhar hostil que ele lhe
dava.
Natasha se levantou e de cabeça baixa subiu a escada
e abalada entrou no quarto de hóspedes. Jogou-se na
cama e chorou amargamente.

Nessa hora Raquel entrou, e a abraçou. Natasha


soluçou escondendo as mãos no rosto.

— Desculpe-me Natasha, mas você conhece seu pai,


ele foi entrando. Não deu tempo de avisar você.

Natasha enxugou as lágrimas, e disse resignada.

— Eu sei Raquel, foi melhor assim. Não vou desistir de


Gregory, vou enfrentar meu pai.

— Não acredito Natasha. Com certeza, ele não


aprovará Gregory. E seu pai não aprovando, já viu. Vai
saber o que ele lhe poderá fazer?

— Eu não me importo. Nem que ele me deserde.

— Você deixaria toda a sua fortuna para trás por causa


de um homem?

— Eu não agüento mais ser uma bonequinha de luxo.

— Você é muito diferente de mim, eu daria tudo por um


homem rico. Tudo mesmo.

— Raquel. O mundo do luxo, não é tão bom quanto você


imagina, quando se tem um pai arrogante, possessivo,
que impõe suas decisões. Sou uma marionete nas mãos
dele.

Natasha se levantou e disse a Raquel.

— Diga a Gregory que eu ligarei para ele. Se ele ligar, é


bem capaz de meu pai interceptar as ligações.

— Eu falo com ele. Mas acho que você está errada. Meu
primo é um bronco, um peão, não tem aonde cair morto.

Natasha ficou pálida. Fitava Raquel atônita.


— Meu Deus! Raquel! Eu não acredito que ouvi isso
de você. Seu primo tem uma doença. Ele é deficiente,
mas é um homem batalhador. Poderia ser um drogado,
um ladrão, um revoltado, mas mesmo diante das
dificuldades ele é um trabalhador. Não teve uma infância
fácil, não teve amor de um pai, e você vem-me falar dele
dessa forma. — Natasha fechou os olhos e os abriu de
novo, Raquel a fitava com uma expressão impassível.

Natasha desceu a escada e viu seu pai conversando


com Jonas no sofá; Ela o conhecia bem, seu pai estava
impaciente, aquela tranqüilidade era aparente.

Gregory estava em pé calado de costas para Natasha,


fitando a janela. Quando ele a ouviu, ele se voltou para
ela. Natasha ignorando seu pai. Foi até ele.

— Eu vou te ligar. Adeus.

Gregory pegou as mãos de Natasha e levou aos


lábios, beijou-as fechando os olhos. Nessa hora seu pai se
colocou atrás de Natasha.

— Vamos, Natasha. —Arnold disse quase cuspindo as


palavras.

Gregory soltou as mãos de Natasha, ela lhe dirigiu


um ultimo olhar, um olhar resignado e seguiu seu pai que
a pegou no braço, num gesto impaciente.

Natasha se despediu de Jonas que olhava tudo


constrangido, num canto da sala, pois seu pai não
escondia de ninguém que era contra o namoro dos dois.

O chofer abriu a porta e seu pai entrou primeiro,


Natasha sentou-se ao lado dele. Então seu pai explodiu.
Ele já levava a mão ao peito, ameaçando que se ficasse
nervoso poderia ter um enfarto como sempre fazia.

— Você está proibida de ver esse rapaz. Ele é um


Zé ninguém. Ele se formou em quê? Ele trabalha, por
acaso?

Natasha fechou os olhos e contou até dez.


Aparentando uma calma que não tinha enfrentou pela
primeira vez seu pai.

— Eu gosto dele papai. Eu nunca me interessei


tanto por uma pessoa, como eu me interessei por ele.

— Você o conheceu quando?Desde quando vocês


se encontram escondidos?

Natasha ignorou sua pergunta.

— Papai, desculpe-me, mas dessa vez eu vou te


enfrentar. Eu tenho direito de escolher meu namorado.

— Você é ingênua Natasha, ele está atrás de sua


herança. Será que você não percebe isso?

Natasha encarou Arnold que massageava o peito,


fazendo chantagem emocional. Mas isso não ia funcionar
com ela.

— Eu o amo papai.

— Meu Deus, meu coração não vai agüentar.

— Seu coração está ótimo papai.

Arnold fechou os olhos no carro e massageava o


peito, Natasha fitou-o preocupada.
— Papai, quando você vai entender que sua
menininha cresceu? Eu tenho vinte um ano, sou uma
mulher adulta.

— Eu quero o melhor para você.

— Não duvido que você queira papai. Mas nem


sempre o que o senhor acha que é o melhor, é o melhor
na minha concepção da vida.

Natasha o abraçou, sentiu seu perfume caro, o


tecido da camisa de seda. Tão diferente do perfume
barato de Gregory, mas que ela amava tanto.

— Papai, não fica assim. Deixa-me dessa vez fazer


minhas escolhas. Eu só vou conhecê-lo. Do jeito que o
senhor age, parece até que eu já irei me casar com ele!

Arnold impassível a afastou de si, segurando-a


pelos braços lhe respondeu duro.

— Não adianta me abraçar, tentando me persuadir.


Não vou mudar a maneira que penso, por causa de um pé
rapado, como ele. Vou falar com Francisco, ele é homem
para você, um rapaz bom, um engenheiro renomado.
Amanhã o convidarei para ir á nossa casa. Você passará a
sair com ele.

Natasha desvencilhou dos seus braços.

— Papai, ele sabe que ele é só um amigo. Eu deixei


claro para ele quando saímos.

— Ele gosta de você.

— Papai, eu amo Gregory e sei que ele me ama. O


que Gregory fez para o senhor, para que o senhor não
gostasse dele?

— Só o fato de ele existir já me incomoda. De saber


que ele te tocou, com aqueles lábios imundos.
— Papai que horror. — Natasha ficou pálida,
respirou fundo e então num tom autoritário disse firme.
— Papai. Eu sinto muito, mas eu dessa vez vou contrariá-
lo. Eu quero conhecer Gregory melhor, quero estar com
ele.

— É mesmo? — Havia uma ameaça velada na voz


dele. — Pois saiba que darei um jeito de mudar isso. —
acrescentou, vendo que ela empalidecia.

— O que você fará papai? — Natasha indagou com


voz fraca.

Nessa hora o carro passava pelos portões abertos


pelos seguranças da mansão.

— Em casa falaremos sobre isso.

Natasha virou o rosto para a janela, lágrimas desciam


por seus olhos.

Quando eles entraram em casa, Arnold deu um grito,


chamando Lucinda, que logo apareceu assustada.

— Lucinda. Você não sabe controlar sua própria


filha. Advinha. Ela estava de braço dado, com um rapaz
na casa de Raquel, um bronco, proletário. Eu quando vi os
dois, quase voei no pescoço daquele vagabundo.

Lucinda horrorizada fitou Natasha.

— Filha! Como você pôde fazer isso comigo?Eu


confiei em você!Quem é esse rapaz?

— Um homem maravilhoso mamãe. E eu não vou


abrir mão dele. Ninguém vai me afastar dele, eu o amo!

— Você o ama? Mas você nunca me falou dele?Quem


é ele?
— Claro que eu não ia falar. Vocês iam agir dessa
maneira que estão agindo agora! — Falou Natasha
alterada.

Arnold andava de um lado para outro impaciente,


massageando o peito.

Lucinda foi até ele e o abraçou.

— Arnold, fica calmo, você sabe que não pode se


emocionar.

Natasha riu.

— Vocês podem parar de encenação. Papai não tem


nada mamãe. O pai de Raquel me confirmou. O que ele
teve foi apenas um stress momentâneo e isso não
prejudicou o coração.

Arnold explodiu.

— Você está proibida de sair de casa e de usar o


telefone. Se sair, será comigo, com sua mãe ou com
Francisco.

Natasha fitava seu pai aos prantos, lágrimas escorriam


por seu rosto.

— Papai. Isso é um absurdo!

Natasha então sentiu um mal estar, sua visão a


princípio ficou borrada e ela tentou se segurar no sofá,
mas não conseguiu. Tudo escureceu e ela, caiu desmaiada
na sala.

Natasha acordou e olhou tudo, o quarto estava


iluminado com o abajur, ela se sentou confusa e lembrou-
se da discussão na sala. Ela se sentia meio dopada e, meio
aérea, estranha.

Aproximou-se dela uma senhora uniformizada de branco.


— Olá Natasha. Eu sou a enfermeira Ronda Smith, eu
estou aqui para cuidar de você. Você precisa de alguma
coisa.

— Por que eu estou me sentindo tão estranha?

— Depois que você desmaiou, seu pai chamou o Dr.


Jonas, ele disse que só foi um mal estar passageiro,
tranqüilizando seu pai. Mas como você anda muito
nervosa, você está sob efeito de calmante.

Natasha disse com voz pastosa.

— Preciso ir ao banheiro.

A enfermeira a pegou pelo braço e a ajudou. Depois a


levou para a cama. Natasha viu sua camisola no corpo.

— Tome, beba isso. É suco de uva. Fará-te bem. Quer


comer alguma coisa?

Natasha negou e perguntou com voz pastosa.

— Quanto tempo eu estou aqui, desde o desmaio?

— Vinte quatro horas. Você desmaiou no Domingo á


noite, hoje é segunda á noite.

Natasha fechou os olhos, os sentindo pesados e disse


antes de apagar de novo... Meu Deus!

Natasha acordou com a luz do quarto incidindo sobre


seu rosto. Na cadeira, sentado ao lado de sua cama,
estava seu pai. Raquel o fitou e com os olhos procurou a
enfermeira.
Seu pai entendendo seu gesto falou.

— Ela foi embora.

Como ela fitava-o calada, ele continuou.

— Francisco está aí embaixo. Veio te fazer uma visita.


Se arrume que eu peço para ele subir. Vou esperar você
tomar seu café.

— Não vou comer nada.

— Você precisa comer.

Natasha fechou os olhos, uma lágrima rolou por sua


face.

— Não adianta Natasha, você ficar assim. Quanto mais


você lutar contra seu destino, será pior para você mesma.
Eu nunca deixaria um homem de classe social diferente
que a sua, se unir á você. Seja quem for.

— Então tire minha herança, me deserde papai. Eu


não me importo. Prefiro ser livre e pobre.

Seu pai então furioso bateu com um soco no criado


mudo, fazendo o abajur e tudo vibrar, Natasha ficou
impassível, com o acesso de fúria dele.

Ele então falou possesso.

— Você é uma ingrata mesmo. Troque de roupa ou farei


Francisco subir assim mesmo. Você tem cinco minutos
até que ele suba ao seu quarto.

Quando ele saiu, Natasha resignada afastou as cobertas


e pegou uma calça jeans, uma camiseta preta e calçou
tênis. Foi ao banheiro, lavou o rosto, escovou os dentes e
penteou os cabelos. Foi até o quarto e seguiu até a
sacada, abriu a porta de vidro e sentou-se numa cadeira
ao lado de uma mesinha.
Ficou a olhar tudo, triste. A piscina brilhava
convidativa, pelo sol das dez horas. O vento balançava as
folhagens das árvores, as flores se destacavam no jardim,
com várias cores e o céu estava azul, sem uma nuvem. O
dia estava lindo, mas para Natasha, não tinha atrativo
nenhum.

— Natasha?

— Na sacada.

Francisco seguiu até a sacada e ficou parado fitando-a


sem ação.

Natasha passou os olhos rapidamente sobre ele.


Francisco usava calça jeans, uma camisa preta aberta no
peito, mostrando os pelos castanhos.

Ela constatou que ele deveria saber o que ela estava


enfrentando com seu pai, seu coração estava apertado,
angustiado.

Os olhos castanhos dele observaram-na tristes.

— Estou arrependido, pelo conselho que te dei. Nunca


pensei que seu pai fosse tão duro.

Natasha se levantou e o abraçou, ele a abraçou forte e


ela chorou em seu peito, convulsivamente.

— Shiiiii. — Ele dizia afagando seus cabelos. — Não


fique assim. Vamos dar um jeito. Tudo se ajeitará.

Natasha quando se acalmou se afastou, sentou-se fraca


na cadeira. Há muito tempo não comia. Francisco se
agachou e a fitou preocupado.

— Seu pai disse que você não comeu nada. Posso pedir
para te trazer um café leve, mas saudável.

— Pode.

Francisco sorriu ternamente.


— Então espere aqui, que vou lá embaixo pedir para te
servir o café.

— Obrigada. — Natasha disse triste, sem encará-lo.

Francisco ficou a olhá-la. Ela frágil daquele jeito, doía


em seu coração. Por fim saiu e desceu comunicando
Lucinda que Natasha ia tomar o café.

Poucos minutos depois, Francisco a observava tomar


café, quando ela se dirigiu a ele.

— Francisco. Papai disse que eu poderia sair com


você. Você me ajudaria com Gregory? — Natasha fitava
Francisco, reparou na barba por fazer de um dia e a
cabeleira castanha, por fim ela fitou os olhos castanhos
vivos dele, a espera de sua resposta.

Francisco ficou um tempo a olhá-la tentando


assimilar o que ela lhe falara. Seus olhos passaram pelos
seus cabelos negros brilhantes, pela pele alva, o narizinho
perfeito, as sardinhas e a boca sensual e por fim
pousaram nos olhos verdes ansioso de Natasha.

— Como você pretende que eu te ajude?

— Você saia comigo, deixando meu pai feliz e eu na


verdade me encontraria com Gregory?

Francisco ficou a olhá-la. Natasha sempre lhe


despertou a atenção. Sempre foi ás festas movido ao amor
que sentia por Natasha. Ansioso, por falar com ela, ou
pelo simples fato de vê-la. Ela sempre o rejeitou.

Ela rejeitou suas sutis investidas, seus convites, sua


atenção.
Fora um tremendo idiota em aconselhá-la lutar pelo amor desse
rapaz. Por que não investiu na relação, já que havia quebrado as
barreiras da resistência dela naquele dia?

Agora precisava decidir de novo. Se a ajudava se


encontrar com esse rapaz, ou tentaria conquistar-lhe o
coração. Um ponto ele tinha a favor dele, o pai dela
precisava dele para reerguer o estaleiro que estava para
falir.

— Eu estaria traindo a confiança de seu pai.

Natasha o fitou tristemente, mas com compreensão. Ela


se levantou da mesa dizendo.

— Desculpe-me Francisco, eu não deveria ter pedido


isso para você.

Francisco vendo-a tão triste foi até ela e a abraçou.


Natasha se sentiu confortada em seus braços, o perfume
dele era muito bom. Sentia-se nos braços do irmão mais
velho, levantou o rosto para ele, com os olhos brilhando
demonstrando gratidão.

O primeiro pensamento de Francisco foi apenas dar-


lhe um abraço como um amigo, mas quando ele viu
aquele rostinho tentador olhando para ele, seu cérebro se
desligou, e ele só conseguia pensar naquela boca rosada
sobre os lábios dele, e o cheiro da pele dela era de se tirar
o fôlego.

Francisco ainda estava com os olhos fixo nos lábios de


Natasha, então ele subiu seu olhar e seus olhos se
encontraram. Francisco a fitou intensamente, com os
olhos escuros de desejo. Dentro de si, ele sabia que era
errado, mas não resistiu e sabia que estava prestes a
beijá-la.

A mente de Natasha deu alerta de perigo e assustada


com o olhar dele, tentou se afastar rápido, mas ele a
segurou pela cintura e tomou seus lábios e a beijou num
beijo apaixonado. Natasha, por alguns segundos ficou sem
ação, mas tão logo o afastou com um empurrão.

Exclamou.

— Francisco, não!

— Desculpe. — Ele disse sofrido.

Natasha assustada o viu sair com passadas largas de


sua presença, passando pelo quarto e alcançando a porta.
Sua mãe nessa hora quase trombou com ele. Ele pediu
desculpas para Lucinda e sumiu de vista.

— Natasha o que você fez com o pobre rapaz?

— Você quer dizer o que eu não fiz...

Natasha mais tarde colocou um biquíni e ficou ao sol


na espreguiçadeira. Passou a mão nos lábios pensando no
beijo de Francisco... Lembrou-se do olhar que ele lhe deu.
Veio a imagem nítida em sua mente do desejo e a paixão
que ela viu em seus olhos. Precisava tomar cuidado com
Francisco, não queria feri-lo, ela gostava muito dele para
isso. Ele o tempo todo havia se mostrado amigo e
compreensivo...

Na hora do almoço, o pai chegou; mas não


conseguiram ter uma conversa civilizada. Ele se mostrava
irritadiço, e o tempo todo foi áspero com os empregados.
Natasha e Lucinda comeram caladas, evitando inclusive
de olhá-lo.
Natasha á tarde tirou um cochilo rápido, mas à noite,
sentiu-se nervosa outra vez. Não via a hora de dar o
horário para falar com Gregory. Na sala de TV tentou
assistir algo, mas depois de assistir a alguns programas,
sentiu-se entediada, o relógio ainda marcava nove e meia.

Foi para o quarto com os pensamentos em Gregory,


esperou até dar onze horas. Essa hora ele estava em casa.

A casa estava escura e silenciosa. Seu pai e sua mãe já


haviam deitado. Foi silenciosamente até a biblioteca e
pegou o telefone, ligou a luz da escrivaninha e ligou para
a casa de Raquel depois de dois toques, Gregory atendeu.

— Gregory.

— Natasha. Meu Deus. Meu amor, que saudades.

— Eu estou morrendo de saudades também.

— Quando vou poder te ver?

— Eu vou dar um jeito meu amor. Você tem folga


quando?

— Natasha, se você me disser que pode me vir amanhã,


eu peço folga no trabalho. Por isso quero saber. Quando
poderemos nos ver?

— Eu estou aprisionada na minha própria casa.

Houve um silêncio do outro lado da linha.

— Seu pai não vai me aceitar mesmo.

— Não importa. Ele sabe que te amo. Se eu fugir de


casa, você teria como me assumir?

— Não. Natasha ainda não. Meu apartamento está


acabando a reforma, ainda está com problema de
encanamento.
Natasha se encheu de angustia, que não disfarçou na
voz.

—Tudo bem. Eu te amo.

— Eu sei que é difícil, mas tenha paciência meu amor.


Também te amo.

Natasha desligou o telefone, apagou a luz e saiu da


biblioteca, nessa hora ela estava distraída, na verdade
decepcionada, envolta em pensamentos tristes e acabou
trombando com seu pai na sala. Arnold usava um roupão
e chinelos.

Ele a pegou pelos braços e a sacudiu.

— Você ligou para ele. Não foi?

— Liguei. Disse que o amo muito.

Ele a soltou com asco.

— Diabos! Se você ligar mais uma vez para ele, eu darei


uma lição nele. Você quer ver seu namorado um aleijado?

Natasha fitou-o horrorizada.

— Papai. Não!

— Então se esqueça dele.

Natasha o fitou longamente, com decepção nos olhos.


Subiu para o quarto correndo. Jogou-se na cama e chorou
amarguradamente.

Uma semana depois...

A semana se arrastou. Francisco, desde aquele dia que


a beijou, não aparecia mais para vê-la. Tirando-lhe a
esperança que ela poderia ver Gregory, queria tanto que
ele a levasse no restaurante que Gregory trabalhava.

Ela estava na sala com uma revista nas mãos quando


ouviu o toque do telefone, a empregada apareceu para
atender, mas antes dela, Natasha atendeu e feliz ouviu a
voz de Raquel.

Olhou apreensiva para os lados.

— Raquel?

— Natasha, que bom que consegui falar com você. Eu


estou ligando para avisá-la que Gregory se mudou. Ele
pediu para que eu lhe avisasse. Ele esta na Rua Lee St, 23
4 andar ap. 48. O bairro é o Horley.

Natasha anotou e colocou o papel no bolso do vestido.

— Obrigada. Raquel, eu preciso desligar.

Natasha desligou o telefone e seguiu rumo ao seu


quarto. Lá fez uma mala, nela colocou seus pertences,
camisola, roupa intima, vestidos, calças, e poucos
sapatos. Escondeu a mala no fundo do closet. Precisava
agora esperar a oportunidade para fugir.

Depois do jantar, Natasha resolveu falar com seu pai.


Arnold estava na biblioteca fumando um charuto.

— Papai. Você poderia pedir para Francisco passar para


me pegar para sair?

Seu pai a fitou surpreso, mas com desconfiança.

— Que interesse é esse agora?

— Quero sair um pouco de casa.

— Ele está viajando. Vai passar o mês fora.

Natasha o fitou tristemente. Ele então a fitou


incomodado.
— Você pode sair com sua mãe.

Natasha ficou mais animada.

— Obrigada papai.

— Vou falar para sua mãe sair com você amanhã então.
Onde você pretende ir?

— Eu posso escolher o lugar?

— Não. Não pode.

Natasha sorriu com desdém.

— Por que o Senhor pergunta então?

— Para te entender, Natasha. Eu não te entendo.

Natasha o fitou triste.

— Você nunca me entendeu papai.

Arnold a fitou por um tempo com dor nos olhos, mas


logo sua expressão ficou fria de novo. Natasha então saiu
de sua presença e foi para o seu quarto.

No dia seguinte sua mãe lhe informou que elas iriam ao


teatro e depois ao shopping. A manhã inteira se arrastou.
Á tarde Natasha já estava pronta, com um vestido
amarelo e os cabelos soltos. Precisava dar um jeito de
fugir. Pegou um dinheiro que tinha guardado, não era
muito, mas dava para ela pegar um taxi e ir até o
apartamento de Gregory. Não poderia levar sua mala. Mas
estava feita, se não fugisse hoje, uma hora ia poder fugir
e a levaria consigo.

— Vamos Natasha. Nossa. Como você está bonita!

Natasha rodopiou o vestido sorrindo.

— Vamos então.

Natasha e Lucinda sentaram-se no carro.


Enquanto o motorista pegava a rua. Natasha ficou a
pensar em Gregory, com um grande aperto no peito.

Será que conseguiria fugir hoje?

Ao chegarem ao teatro. Sentaram-se na primeira


fileira. O teatro não estava muito cheio. Natasha assistiu
o primeiro ato da peça sem interesse. Antes do segundo
ato, fitou sua mãe.

— Preciso ir ao banheiro.

— Vou com você.

Natasha fitou sua mãe frustrada e foram juntas. Natasha


observou sua mãe, ela estaria a acompanhando para não
deixá-la sozinha por ordem de seu pai?Quando voltaram
aos seus lugares, Natasha fechou os olhos, infeliz com a
imagem de Gregory na cabeça.

Tentaria no shopping, de alguma maneira, quando sua


mãe se distraísse, ela se desvencilharia dela.

Quando acabou o espetáculo, elas saíram juntas.


Entraram no carro e de lá seguiram ao Shopping.
Andavam lado a lado. Lucinda por fim resolveu entrar em
uma loja.

— Eu estou cansada, vou esperar aqui no banco.

Lucinda fitou-a incerta.

— Vai mamãe. O que você está esperando?

Lucinda por fim entrou, De lá ainda preocupada olhava


Natasha. Um aperto no coração dela se formou. Frustrada
não conseguiu fugir. Seu pai ia fazer um escândalo e ia
sobrar para a coitada. Ficou lá infeliz, avistou Lucinda
distraída, e então não suportou.

Precisava fazer isso!

Murmurou baixo.

— Desculpe-me mamãe.

Levantou do banco e saiu quase correndo, alcançando


um tempo depois a rua, encontrou um ponto de taxi,
onde um taxista estava parado, ela foi até ele e lhe deu o
endereço de Gregory. Sentou-se aliviada e viu o motorista
alcançar a rua. Lançou um olhar para o relógio, seis
horas.

Talvez não o encontrasse agora em casa. Ia ter que


esperar até à hora do turno dele finalizar. Não podia se
arriscar a ir para o trabalho dele. Depois de vinte
minutos, chegou ao apartamento em Horley.

Natasha deu quase todo o seu dinheiro para o motorista


e saiu do carro. Viu um homem abrir a porta da entrada
do prédio e correu antes que ela se fechasse.

Com o coração acelerado e as pernas moles subiu as


escadas até o 4º andar, encontrou o nº48. Nervosa tocou a
campainha. Ouviu movimento no apartamento feliz ouviu
a chave se virar e Gregory a sua frente.

Gregory quando a viu exclamou.

— Natasha.

Natasha se lançou em seus braços, recebendo dele um


beijo apaixonado. Gregory a apertou como se nunca mais
fosse soltá-la, lágrimas de alegria corriam pelos olhos de
Natasha. Gregory puxou para dentro, ainda colado a ela,
andando para trás. Quando se afastaram, ele empurrou a
porta com o pé e mal escutaram o barulho da porta se
batendo, pois estava envolvido um com o outro.

Gregory deslizou as mãos nas costas de Natasha,


totalmente concentrado nela, baixou o rosto e seus lábios
se moveram sobre os dela, sentindo-lhe a maciez da boca.
A mão de Gregory enterrou no cabelo dela, inclinando a
cabeça dela para traz e beijando-lhe o pescoço perfumado,
arrancando gemidos de Natasha.

Gregory, então arfando, se afastou, se continuasse


nesse ritmo, ele a levaria para cama. Ele tirou algumas
roupas do sofá e a fez sentar-se e sentou-se do seu lado.

Natasha nem reparava no lugar, seus olhos estavam


fixos nele. Reparou que ele ainda não havia recuperado o
peso, estava abatido. Vestia uma camiseta branca colada
ao corpo e um short preto, revelando as pernas
musculosas e cheias de pelos negros.

Natasha se achegou a ele e o abraçou, apoiando sua


cabeça no peito dele, o coração dele batia num ritmo
frenético como o seu.

Gregory então a afastou e a fitou sério.

— Natasha, como você conseguiu chegar até aqui? Você


convenceu seu pai?Ele te deixou vir me ver?
Natasha o fitou séria.

— Gregory você lembra quando eu te perguntei se


você lutaria por mim?

Gregory acenou que sim.

— Eu fugi de casa.

— Você fugiu?

— Fugi.

— Onde estão as malas?

Natasha o fitou apreensiva.

— Eu não consegui trazer minhas roupas.

Gregory preocupado e levantou o rosto de Natasha


para estudá-la.

— Olhe bem para o apartamento Natasha. Você tem


certeza que irá se unir a mim?

— Eu não preciso olhar nada, para saber que eu quero


me unir a você. Eu te amo.

— Natasha. — Ele disse num tom sofrido e a puxou


para os seus braços lhe beijando os cabelos. — Espero
fazer por merecer, o seu amor.

Natasha ergueu o rosto, oferecendo os lábios. Gregory


uniu os lábios dele nos dela e se uniram em um beijo
apaixonado.

A boca de Gregory sob a sua a levava as alturas, uma


onda de calor lhe subiu ao corpo; Gregory desceu os
lábios para o seu pescoço dizendo. “Eu preciso de você.
Meu Deus Natasha, como eu te amo”.
Gregory se segurava a todo custo, para não perder a
cabeça. Quando eles se afastaram, Gregory a pegou pela
mão.

— Vem. Eu te mostrarei o apartamento

Natasha se levantou e não precisou andar muito para


ver tudo. A sala tinha apenas um sofá velho, uma
poltrona, uma pequena estante com uma televisão
grande, e um aparelho de som. O quarto tinha uma cama
de casal grande e um guarda roupa pequeno, que não
caberia nem uma pequena parte de suas roupas. A
cozinha só cabia uma pessoa, tinha um fogão, uma
geladeira e na parede atrás em toda a sua pequena
extensão, tinha armários. O banheiro não tinha Box, o
chuveiro era simples, um lavabo com espelho e privada e
era só.

Natasha fitou Gregory que a olhava apreensivo, uma


ruga se formava em sua testa. Natasha se aproximou dele
e passou o indicador naquela ruguinha.

— Eu gostei. Não precisa ficar com essa ruguinha de


preocupação. Eu te amo, onde eu estiver com você, eu
ficarei feliz.

— Seus pensamentos podem mudar, quando entrar a


rotina.

— Não Gregory. Eu sei que serei feliz ao teu lado

Então Natasha sentou-se preocupada. Gregory a


observou, apreensivo indagou-lhe.

— Você se arrependeu, não foi?

— Estou preocupada com minha mãe. Aqui tem


telefone?

— Não.

— Tem algum telefone público aqui perto?


Gregory cansado massageou os ombros.

— Tem, aqui embaixo. No hall do prédio.

— Eu vou lá. Preciso lhe dizer que está tudo bem.

— Eu desço com você.

— Fica. Você parece cansado.

— Eu vou com você. — Gregory insistiu.

— Tudo bem. — Natasha o abraçou.

Natasha e Gregory desceram as escadas de mãos dadas,


quando alcançaram o hall, antes de chegarem ao telefone.
Natasha se assustou ao ver seu pai, com os seguranças
pessoais dele.

Natasha apertou as mãos de Gregory e tentou puxá-lo


para trás, mas foi tarde seu pai os avistou. Gregory
também o viu.

Gregory colocou Natasha atrás do corpo dele. Natasha


ficou paralisada. Cheia de angustia, medo e tristeza. Ela
ficou agarrada a Gregory, não queria ir, mas temia por
Gregory.

— Vamos! — gritou o pai de Natasha aos seguranças. —


Peguem minha filha.

Natasha gritou agoniada.

—Não deixe Gregory.

Um dos seguranças tentou enfrentar Gregory. O


homem era grande e forte, mas Gregory reagiu atirou-o
longe com um soco. Entretanto, aquele pequeno intervalo
deu ao outro segurança o tempo de que precisava para
agarrar Gregory. Gregory deu um giro e jogou o homem na
parede, mas o outro segurança que estava caído se
levantou e pegou Gregory por trás, enlaçando-o pelo
pescoço e o outro que estava prensado na parede por
Gregory, deu um pulo e atacou Gregory sob os gritos de
protesto de Natasha, que viu Gregory apanhar, no
estômago, caindo no chão de joelhos com dor. Os
seguranças de seu pai ainda o socavam.

O pai segurou Natasha.

Natasha agoniada gritou para o seu pai.

— Faça-os parar. Eu vou com você... — E chorava


convulsivamente.

Seu pai deu um grito e eles pararam. Natasha só teve


tempo de dar uma última olhada no rosto de Gregory
antes de seu pai a puxá-la. Seus olhos estavam cheios de
agonia e desespero. Chamou por ela e recebeu mais um
soco do segurança, que fez com que ele caísse no chão...

Seu pai a apertava pelo braço, Natasha foi arrastada


para o carro. Quando entraram, Natasha abraçou próprio
corpo e depois cobriu o rosto com as mãos em desespero,
e chorou silenciosamente. Seu pai bufava ao seu lado,
Natasha ouvia a respiração irregular dele. Natasha o
encarou.

— Como o senhor me encontrou?

— Eu investiguei toda a vida dele. Ou você acha que


ele sairia com minha filha e eu nem iria investigá-lo?

Ele olhou duro, e narrou com asco a vida de Gregory.

— Um pai com passado duvidoso, ele saiu cedo da


escola, pobre, e só tem aquele apartamento por que a mãe
morreu e deixou por herança, se não ele nem teria a onde
cair morto.

Natasha nem se deu o trabalho de explicar que


Gregory tinha dislexia.

— Espero que você tenha aprendido a lição. A lição de


não me desafiar. Você não sairá mais de casa. Só sairá de
casa, casada com Francisco, ele é homem para você.

Natasha incrédula ergueu o rosto.

— Papai. Por favor. Não.

— Sim, sim e sim.

Natasha se sentia morta por dentro, sem vida, pois


sua vida tinha ficado com Gregory.

Quando chegaram a casa. Natasha viu sua mãe,


desesperada.

— Graças a Deus!

Ela então falou alterada. — Natasha, por que você fez


isso comigo?

— Por que eu tenho vinte e um anos, e estou em


cárcere privado. Eu corri pela minha liberdade. Eu amo
Gregory. E jamais vou me casar com quem quer que seja.
Gregory é o homem de minha vida.

Natasha subiu correndo a escada e se jogou na cama do


quarto, chorava desesperada, ficou assim, um bom tempo
inconsolável, até de tanto chorar, com a exaustão pegou
no sono.
Natasha acordou no meio da noite e lembrou-se do
ocorrido, como uma sonâmbula ela foi até o banheiro e
encheu a banheira, tirou o vestido e nele aspirou o
perfume de Gregory.

Chorando entrou na banheira. A imagem dele


apanhando invadiu sua mente. Não conseguia esquecer a
expressão de desespero no rosto dele.

Ele deveria estar ferido. Não queria desistir dele. Ele


lhe era a própria vida. O amava tanto!

Saiu da banheira e se enxugou com uma toalha


felpuda. Lembrou-se do banheiro de Gregory, em
comparação ao luxo do seu.

Não queria nada do que tinha. Nada a fazia mais feliz


do que estar ao lado dele.

Natasha voltou para a cama, e depois de muito se virar


de um lado para outro dormiu envolta em pensamentos
confusos e tristes.

Na semana que se seguiu, Natasha caiu em depressão e


pouco comeu. Não saia mais de seu quarto, o tempo todo
apática. Ela só tinha vontade de morrer.

Com isso sua resistência física caiu, ela então pegou


uma gripe forte que não a deixava.

Começou então a ter febre alta que se uniu as dores


nas costas e ao mal estar no corpo que já sentia.

Seu pai desesperado chamou Dr. Jonas, e ele


diagnosticou-a com pneumonia e depressão profunda.
Informou ao seu pai que ela não poderia se tratar em casa
e que ela precisava ser internada no hospital.
Natasha mal ouvia o que o Dr. Jonas e o seu pai
diziam, pois já estava num estado de semi-inconsciência.

Natasha foi internada no hospital São Miguel. No


estado que ela se encontrava, ela não tinha consciência
disso, tudo parecia irreal para ela, sentia as pessoas
mexendo em seu corpo inerte, mas o vácuo era tão bom e
ela de maneira nenhuma conseguia abrir os olhos.

Logo que chegou foi ligada ao soro, e a um tubo de


oxigênio que lhe deu um grande alívio, pois respirava com
dificuldade e isso facilitou sua respiração.

Ao longe ouvia vozes e parecia ás vezes ouvir a voz de


Gregory, dizendo para ela ficar boa. Nessa hora seu
coração doía e a mente dela, como num sonho confuso,
levava-a lembrar-se dele e de seu olhar aflito.

Depois de três dias, Natasha começou a dar sinais de


melhora. Foi tirado o tubo de oxigênio e Natasha aos
poucos conseguia abrir os olhos. Num desses momentos
de consciência, ela vislumbrou sua mãe, seu pai,
Francisco, e chegou a ver o rosto de Gregory, mas ela
ainda não conseguia pensar direito e logo caia num sono
profundo.

Com cinco dias, Natasha ficou consciente. Pela


primeira vez conseguiu abrir direito os olhos e viu sua
mãe ao lado dela em uma cadeira. Ela estava de olhos
fechados, pálida e seu rosto parecia mais magro.

Com voz fraca a chamou, mas foi o suficiente para


Lucinda abrir os olhos e emocionada olhá-la com alívio e
ternura.

— Filha. Graças a Deus.

Lucinda se levantou e disse passando a mão em sua


cabeça e emocionada a beijou na testa.

— Não se canse. Eu vou chamar a enfermeira. Já volto.


Natasha olhou tudo ao seu redor. O quarto era
razoavelmente grande, pintado de branco uma televisão
suspensa e uma mesa, onde havia uma jarra de barro que
deveria ser de água.

A porta então se abriu e viu entrar Dr. Jonas seguido


por sua mãe.

Dr. Jonas trouxe um medidor de pressão, e com um


estetoscópio a examinava.

— Natasha. Como se sente?

— Com o corpo moído.

Dr. Jonas sorriu.

— Isso é natural, você ficou muito tempo deitada.

Nessa hora uma enfermeira entrou. Uma senhora


gordinha simpática, de cabelos grisalhos.

— Enfermeira. Ajude Natasha no banho, troque os


lençóis e erga a cama.

Ele então se virou para Natasha e pediu.

— Sente-se Natasha.

Ele a ajudou a se sentar e a fez inspirar e soltar o ar,


onde ele com o estetoscópio e ouviu suas costas. Ele
sorriu.

— Ótimo. Seu pulmão está limpinho. Agora é só cuidar


da alimentação.

— Dr. Jonas, o senhor sabe de Gregory? — Natasha


disse com os olhos cheios de lágrimas.

Jonas pegou sua mão. E sorriu confiante.

— Eu já liguei para ele. Daqui á pouco ele estará aqui.


Natasha se assustou.

— Mas e meu pai?

— Gregory tem sempre te visitado depois do trabalho.


Seu pai em nenhum momento o proibiu. Seu pai ficou
desesperado, com medo de perder você.

Natasha sorriu, e seus olhos pareciam cascatas


inundados de lágrimas.

Quando o Dr. Jonas saiu. Sua mãe se aproximou dela e


a abraçou.

— È verdade mamãe?

— Sim. Seu estado de saúde pareceu quebrar todas as


resistências de seu pai.

Nessa hora a enfermeira se aproximou de Natasha e


pediu a Lucinda.

— Agora senhora, eu cuidarei de Natasha. Por que a


senhora não desce e come alguma coisa?

Lucinda assentiu.

Natasha então foi amparada pela enfermeira que a


ajudou a tomar um banho. A água quente era revigorante.
Natasha lavou os cabelos, o tempo todo ajudada pela
enfermeira. Quando o banho terminou, a enfermeira a
ajudou a se enxugar e fez vestir uma camisola, por cima
colocou um roupão e a ajudou-a calçar os chinelos.

Natasha saía do banheiro se sentindo melhor então


ouviu nessa hora a porta se abrir e Gregory entrar por ela.
Natasha ficou estática. Mal pôde olhar para ele direito e
Gregory avançou sobre ela a abraçando e a beijando
sofregamente por todo o rosto. Ele a pegou no colo e a
depositou na cama. Natasha pode olhar melhor para ele,
ele vestia um jeans novo e uma camisa meio gasta preta.
Percebeu o quanto ele estava abatido.

— Natasha. Eu pensei que ia perdê-la.

Natasha emocionada o abraçou e feliz sentiu o coração


dele a milhão, como o seu. Nessa hora ouviram o
movimento da porta e se afastaram. Natasha então viu
seu pai.

Arnold estava ali parado sem ação, estava pálido, bem


mais magro e com olheiras profundas, e que, aliás,
parecia uma epidemia de apatia, pois sua mãe e Gregory
também estavam abatidos.

Gregory beijou-lhe a testa e disse.

— Fale com ele. Eu esperarei lá fora.

Natasha assentiu e o viu sair. Arnold se aproximou


dela e a abraçou, seu corpo convulsionava indicando que
ele chorava. Ele disse abafado nos ombros dela “Me
perdoe”. Natasha o apertou e chorou. Ficaram assim por
um longo tempo. Arnold tirou então um lenço e deu para
ela, enquanto ela enxugava as lágrimas ele puxou uma
cadeira e sentou-se ao lado dela.

De cabeça baixa lhe disse resignado.

— Eu não lutarei mais contra seu namoro com esse


rapaz.
Natasha disse emocionada.

— Papai, eu fico imensamente feliz.

Arnold então lhe falou duro.

— Isso não quer dizer que eu o aprove. Você


assumindo ele, saiba que você estará por sua conta. E se
você resolver se casar com ele; saiba que levará só suas
roupas. Você deixará tudo para trás. Sua mesada, seu
meio de vida, seu conforto, suas jóias.

Arnold a estudava ele então lhe indagou.

— Você se sujeitará a isso?

—Sim. Eu não me importo com nada disso. Eu quero é


estar com ele.

Ele então continuou.

— Quanto a tua herança, você assinará um contrato


concordando em abrir mão dela. Eu só anularei esse
contrato quando tiver a certeza que esse casamento não
foi um erro e que vocês se amam realmente. Mas antes
disso, não.

—Tudo bem papai.

Seu pai então declarou.

— Eu já conversei com Gregory Thonson, e lhe


expliquei minhas condições.

Arnold se levantou. Natasha abriu os braços, Arnold


ficou sem ação por alguns segundos, mas logo a abraçou.

Natasha beijou-lhe o pescoço dizendo. “Obrigada


papai”.
Arnold se afastou confuso e a fitava com os olhos
vidrados, como se não acreditasse em seus olhos e
ouvidos.

— Meu Deus. Você o ama mesmo, não?

Natasha com os olhos marejados de lágrimas


confirmou com um gesto de cabeça sem conseguir falar.
Seu pai a fitou por um momento estudando-a e beijou-lhe
a testa e com passos rápidos saiu do quarto.

Gregory então entrou. Natasha sorriu ainda envolta em


lágrimas. Gregory avançou rápido e a tomou nos braços.
Ficaram abraçados por um bom tempo.

Quando eles se afastaram Gregory a fitou receoso.

— Seu pai falou com você?

— Sim.

— Você tem certeza que quer abrir mão de tudo por


minha causa?

— Eu te amo.

Gregory fechou os olhos por um tempo e os abriu e


desejou como o céu, lhe passar toda confiança e
segurança, mesmo inseguro, ele lhe pediu.

— Você quer se casar comigo?

Natasha o abraçou dizendo.

— É o que eu mais quero no mundo.

Gregory, mesmo com a resposta confiante dela,


sentia-se mal. Sua sensação era de estar doente, sem
forças, não poderia oferecer a ela o mínimo de conforto, o
que ele ganhava, mal dava para ele se sustentar. Mas a
amava tanto e egoisticamente a queria para si. O pior,
disso tudo é que ele não poderia arrumar um segundo
emprego para melhorar sua condição de vida, por causa
do curso de piano que fazia e lhe tomava todo o tempo.

Estava a pensar nisso quando viu o homem que a


acompanhava o outro dia entrando no quarto. Ele estava
com um terno italiano preto e camisa branca, sem
gravata. Nas mãos carregava um enorme buque de flores
sortidas, de cores, tipos e tamanhos diferentes.

Os dois homens se olharam por um tempo. Francisco


ficou inseguro de entrar ao ver Natasha nos braços de
Gregory.

— Desculpe-me. Eu venho outra hora. — Disse


Francisco.

Gregory se afastou de Natasha.

Natasha desviou os olhos da figura imponente de


Francisco e fitou Gregory que nervoso passava as mãos
pelos cabelos.

Gregory então disse a ele.

— Não, fique com ela. — Se virando então para Natasha


a fitou com ternura nos olhos. — Venho mais tarde. — Ele
então lhe beijou os lábios e saiu.

Francisco se aproximou com as flores. Seus olhos


castanhos a observavam com ternura.

— São para você. Não sabia a sua preferência, por isso


comprei vários tipos e várias cores.

— Amo, todas. São lindas!

Francisco depositou o buque na mesa. E sentou-se na


cadeira ao lado dela.

Natasha fitou-o com gratidão.


— Obrigada por ter vindo.

— Quando seu pai me ligou, vim o mais rápido que


pude.

Natasha sorriu para ele, ajeitou os cabelos ainda


úmidos pelo banho.

— Meu pai não desiste, não é?

Francisco sorriu.

— Dessa vez eu pedi para ele me avisar. Pensamos que


íamos te perder.

Natasha fechou os olhos e os abriu novamente.

— Gregory me falou a mesma coisa.

— Graças a Deus, você está bem.

— Obrigada pela sua preocupação.

Francisco viu a mão branquinha dela depositada na


cama e a pegou num gesto de ternura e acariciou-lhe os
dedos.

— Desculpe-me pelo outro dia. O dia que eu te beijei.

Natasha enrubesceu.

— Eu já nem me lembrava mais disso.

Francisco vendo-lhe o rubor sorriu e disse gracejando.

— Pelo menos dei cor ao seu rosto. Agora você está


corada.

Natasha sorriu e ficou séria

— Gostaria de te agradecer. Tudo se resolveu com


Gregory, pois ouvi o seu conselho.
Francisco a fitou tristemente. Nessa hora uma
enfermeira lhe trouxe o almoço, sua mãe também entrou
no quarto.

Francisco então se levantou dizendo.

— Preciso ir. Fiquei feliz de te ver bem.

Lucinda o cumprimentou se falaram rápido e Francisco


deixou o quarto...

CAPÍTULO X

Gregory entrou no apartamento desanimado. Olhou


tudo ao redor, agora que tudo estava mais tranqüilo,
externamente, a intranqüilidade estava nele. Quando viu
aquele amigo de Natasha entrar no quarto dela, com seu
terno de grife, seu perfume caro. Foi como se um raio
acertasse sua cabeça, e ele viu o quão distante seus
mundos eram. Ele já estava inseguro com a situação.
Natasha ia deixar seu mundo por ele. E ele o que tinha a
oferecer a ela, além de seu amor? Não estava sendo
egoísta por mantê-la no mundo dele? Não seria certo abrir
mão do amor dela? Seriam felizes juntos? Ele trabalhava
muito e ganhava pouco. Seu apartamento não tinha
conforto nenhum. Faria ela o esperar o dia inteiro
naquele cubículo para ficarem juntos apenas á noite?
Geralmente ele chegava esgotado. O que ele ofereceria a
ela?Migalhas?Não tinha mais certeza se estava certo tê-la
como sua esposa. Quando viu aquele amigo dela
entrando, entendeu que no fundo o pai dela tinha razão, o
que ele tinha era muito pouco para lhe oferecer. Por amá-
la precisava abrir mão dela.

Gregory foi vê-la só no dia seguinte, era domingo.


Natasha preocupada o observou. Gregory estava
diferente não parecia mais o mesmo. O tempo todo ele
estava pensativo e apático, deixando Natasha apreensiva,
insegura, preocupada. Ela começou a suspeitar que havia
algo errado. Gregory passara grande parte do dia com ela
e, embora tudo parecesse normal aparentemente, existia
alguma coisa estranha no comportamento dele que
Natasha não conseguia definir. Era como se Gregory
estivesse se distanciando.

Fazia questão de não tocá-la e ainda não a beijara nem


uma vez, embora em várias oportunidades ela houvesse
percebido o olhar dele pousado em seus lábios.

Gregory estava parado agora em frente à janela do


quarto do hospital, com o olhar vago, como se tivesse há
milhas de distância. Ele estava vestido todo de preto,
parecia que tinha se vestido para um enterro.

Era essa a imagem que ele lhe passava, tal era a


infelicidade que ela via em seu rosto.

Por que ele estava assim, agora que seu pai havia permitido o
noivado?

Natasha mesmo com medo da resposta indagou-lhe.

— Gregory. O que houve?Você está diferente.

Ele se virou e a fitou por um tempo. Sentou-se na


cadeira ao lado de Natasha. Reparou na sua pela já
rosada, nos cabelos negros brilhantes.

Seus olhos negros fitaram os verdes dela que o fitavam


cheios de temores.

— Eu já não tenho certeza se devemos ficar juntos.


Natasha fitou-o confusa, com o coração angustiado.
Imediatamente saiu da cama e sentou-se no colo dele.

Gregory não conseguia fitá-la olhava para o lado num


ponto fixo no chão.

— Gregory. — Ela colocou as mãos no rosto dele,


virando-o para ela. Seus olhos se encontraram. — Por que
você me diz isso?Agora que nada mais nos impede de
estarmos juntos?

Gregory tocou com carinho o rosto de Natasha.

— Não dará certo.

Natasha fitou-o angustiada.

— Por que você diz isso? Gregory! Eu lutei tanto por


você, por nada?

— Seu mundo é muito diferente do meu.

— Eu não me importo.

— Sinto-me egoísta em querer te trazer para o meu


mundo. Agora entendo que o ao abismo não é só seu pai,
na verdade ele estava certo tempo todo.

Natasha o beijou sofregamente por todo rosto, Gregory


com um gemido sofrido, que lhe saiu das entranhas
tomou a boca dela e a beijou apaixonadamente.

Momentos depois quando eles se afastaram, ela viu


que aqueles traços duros haviam ido embora e agora ele a
fitava com desejo e amor nos olhos. Natasha mais
confiante disse no ouvido dele enquanto o abraçava. “Nós
seremos muito felizes”.

Ela se afastou e o fitou.

— Não sei. — Gregory falou emocionado.


— Seremos. Eu sei. Tenho certeza. Por favor, Gregory.
Não desista de mim, pois eu não desisti de você.

Gregory com os olhos cheios de lágrimas a abraçou.

Aquele momento difícil tinha passado, mas o dia ficou


estragado para Natasha. Ela não queria que ele notasse
que a insegurança dele mexeu com ela. Sempre teve seu
pai, dono da situação, e Gregory não lhe passara
confiança, mas ela arriscaria sua própria vida para ficar
com ele, o amava verdadeiramente e nada a faria desistir
dele.

Dias depois Natasha foi para casa, seu pai lhe dedicava
mais atenção, mas era nítido que ele estava contrariado.

Todos os dias o motorista a levava para ver Gregory,


ela o esperava no carro e quando o via estacionar seu
Dodge velho, ia ao encontro dele. Juntos subiam até o
apartamento, ela o esperava tomar banho e depois
ficavam no sofá namorando. Cada dia estava mais difícil
se controlar com Gregory, pois quando estavam juntos
pegavam fogo, a paixão que sentiam um pelo outro os
incendiava.

Em um Domingo ela foi cedo até o apartamento dele e


tocou a campainha, ouviu ao fundo música, onde se
distinguia bem um piano.

Gregory abriu a porta surpreso. Ele estava com uma


bermuda, descalços, sem camisa e com os cabelos
despenteados. Natasha passou os olhos pelos pêlos negros
dele e sentiu-se quente por dentro. O piano tocava
belamente na sala, dando um clima de romantismo.
Gregory a puxou para dentro do apartamento e beijou-lhe
os lábios sedutoramente, Natasha ficava sempre
enlouquecida, mas agora sentindo a pele nua dele em seu
corpo, fazia com que ela desejasse estar logo com ele e
pertencer a ele.
Gregory se afastou com a respiração entrecortada,
ambos ofegantes. Ele a fez sentar-se junto a ele no sofá e
tocando o rosto dela disse como se adivinhasse seus
pensamentos.

— Quero marcar logo a data do nosso casamento.

Ele se levantou e disse.

— Espere aqui.

Pouco tempo depois ele voltou vestido com uma


camisa e uma calça jeans, com os cabelos penteados e
uma caixinha na mão. Entregou a ela.

— Abra-a.

Gregory sentou-se junto a ela e esperou-lhe a reação.


Natasha abriu a caixa e viu um lindo anel, era de ouro e
tinha uma pequena pedra de esmeralda.

— Seu anel de noivado.

— È lindo.

Natasha emocionada lhe deu a mão e ele colocou no seu


dedo, e tomou os lábios dela com paixão, a boca de
Gregory sob a sua era uma tortura, fazia com que ela se
esquecesse tudo a sua volta.

Quando se afastaram, Gregory explicou.

— Esse anel era de minha mãe.

Natasha assentiu feliz e se aninhou em seus braços.


Juntos ficaram ouvindo o disco, que agora tocava uma
linda música de Strauss.

Quinze dias depois se casaram. Seu pai ainda tinha a


idéia que o casamento não ia durar, então convidou
poucas pessoas, mais familiares chegados. Da parte de
Gregory só tinha seu tio, o Dr, Jonas e Raquel. Francisco
compareceu no casamento acompanhado de uma linda
loira.

Gregory estava lindamente vestido com um terno que


Dr. Jonas deu para ele e Natasha quis um vestido branco
simples, sem cauda, um pouco abaixo dos joelhos rodado,
e bem ajustado na cintura e busto. Uma leve grinalda
estava presa em sua cabeça, onde descia um pequeno véu
sobre seu rosto. Natasha fez também uma maquiagem
leve.

O casamento ocorreu no jardim de sua casa, lá além


dela assinar o contrato de casamento, ela assinou o
contrato que seu pai preparou, onde ela abdicava de sua
herança, e só ia reaver caso Arnold quebrasse o contrato,
readmitindo-a novamente.

Seu pai fez uma pequena recepção para os convidados.


Gregory e Natasha ficaram, o tempo todo juntos,
recebendo os cumprimentos.

Sua mãe chorou muito na despedida e seu pai a


cumprimentou de um jeito seco lhe dando um beijo na
testa e ignorou Gregory. Francisco se despediu dos dois
também, junto a sua namorada. Raquel estava
deslumbrante em um vestido verde água e na despedida
lhe falou ao ouvido. “Só você para jogar tudo isso aqui
fora”.

Natasha e Gregory depois de trocarem suas roupas por


vestimentas mais confortáveis; foram até o carro onde o
motorista os aguardava. Eles estavam indo à casa de praia
de seus pais que ficava em Porthsmouth. Ele iria deixá-los
e buscá-los depois de uma semana, seu pai providenciara
tudo.
Lá eles contariam com, Rosita Peres, uma empregada
que morava nos fundos da casa com seu marido Frank
Peres, o zelador da casa.

Natasha no carro apoiou a cabeça no peito de Gregory.


Lá estava ele de novo, sombrio, pensativo. Ele fitava a
janela, com o semblante duro. Fora muito difícil
convencê-lo a terem essa lua de mel que seu pai lhe
proporcionara. Natasha não lhe tirava a razão, ela não
fazia questão, mas fora um presente de casamento de seu
pai. Natasha não quis negar-lhe isso.

Depois de um tempo eles chegaram a casa. A casa era


feita inteirinha de pedras, cercada por cercas vivas, uma
primavera vermelha presa a uma coluna se ligava a outra
primavera da cor rosa, dando a entrada da casa um
espetáculo de cores. Natasha sempre fora para lá quando
adolescente com seus pais, depois nunca mais. Era uma
época mais feliz, seu pai não era tão rico e se
contentavam com pouco. Quando ele aumentou sua
fortuna, nunca mais usaram a casa, pois passaram a
viajar pelo mundo a fora, e gastar dinheiro em hotéis de
luxo.

Natasha se desvencilhou dos braços de Gregory. Ele


estava dormindo com a cabeça encostada ao vidro.
Natasha sabia que ele estava muito cansado, seu ritmo de
trabalho, não estava sendo fácil. Ele ainda estudava a
noite e só chegava ás onze horas, ele fazia um curso de
especialização, mas quando Natasha se aprofundava em
saber ele sempre desconversava.

— Gregory.

Gregory abriu os olhos sonolentos e a fitou.

— Chegamos?

Natasha sorriu para ele.


— Chegamos.

Gregory avistou a casa, o motorista já lhe abria a


porta. Eles desceram e foram logo recebidos por Frank e
Rosita. Ambos já eram de meia idade. Rosita era uma
senhora de cabelos grisalho e esbelta, e agora usava um
avental branco. Frank era um senhor grisalho, enrugado,
bem bronzeado.

— Natasha. Como você se tornou uma bela mulher! —


Disse Rosita enquanto lhe dava um abraço efusivo.
Natasha sorriu e apresentou Gregory aos dois.

— Vocês formam um lindo casal.

Gregory tomou a esposa pela cintura com um sorriso e


beijou-lhe a testa. Frank ajudou o motorista com as
malas. Gregory e Natasha entraram na casa, que já estava
quase na penumbra, pois a tarde se ia dando lugar a
noite.

A casa era fresca, toda com piso escuro brilhante de


madeira. A sala era confortável com sofás brancos com
desenhos de palmeiras em verde, plantas enfeitavam o
ambiente, uma estante da mesma madeira do piso,onde
tinha uma grande TV, e um aparelho de som.

Natasha conduziu Gregory por um corredor e foi até o


antigo quarto que seu pai usava com sua mãe, quando
eles iam para lá. O quarto era espaçoso, em tom bege e
branco. Tinha armários grandes, dois criados mudos,
combinando. A cama era enorme, ornamentada com uma
colcha vermelha toda trabalhada.

Roger, o motorista, e Frank colocaram as malas aos


pés da cama.
Rosita entrou no quarto, seguida por eles e disse.

— Tem uma lasanha no forno e vinho na geladeira. Nós


deixaremos vocês á vontade. E para não atrapalhar a lua
de mel de vocês, eu virei na parte da manhã, farei o café e
deixarei a comida pronta.

Natasha agradeceu e seguiu Rosita esperando todos


saírem da casa e trancou a porta, foi até o quarto e viu
Gregory deitado na cama, com as pernas para fora. Ela foi
até ele e se ajoelhou na cama, o viu de olhos fechados,
beijou-lhe os lábios, arrancando um sorriso dele. Que a
virou na cama com uma grande rapidez e segurando-a
pelos braços passou a lhe mordiscar o pescoço, a boca, o
nariz, e os olhos. Com um gemido ele baixou os lábios
sobre os dela e impulsionou a língua dentro de sua boca,
ao mesmo tempo, que uma de suas mãos pegava sua coxa
e arrancava dela gemidos, ele rapidamente se livrou da
camiseta e de calça. Natasha o olhava com desejos nos
olhos, ele então a puxou para si e fazendo-a ficar em pé
para puxar o zíper de seu vestido que caiu aos pés dela,
deixando-o com a visão maravilhosa dela, só de calcinha e
sutiã, ambos de renda branca.

Gregory a fez deitar-se na cama e tirou-lhe as peças


intimas e tomou-lhe os seios um de cada vez, arrancando
gemidos dela, e isso lhe fazia aumentar seu prazer. Ele se
livrou da cueca e a viu lhe apertar os ombros com
apreensão nos olhos, quando ele fez menção de penetrar-
lhe.

— Eu sei. Tomarei cuidado.

Após o uso da proteção dada pela camisinha, ele então


com cuidado se encaixou nela, fazendo-a apertar-lhe os
ombros ao sentir dor. Gregory então passou a mexer num
ritmo lento com cuidado até sentir que ela havia
relaxado. Aos poucos ambos foram se movimentando em
sincronia, até que ele viu nos olhos dela a realização do
prazer, então ele se rendeu e chegou ao prazer tão
esperado.

Natasha feliz se aninhou no peito do marido e


ficaram abraçados. Gregory depois de um tempo
ressonava. Natasha saiu dos braços dele com cuidado foi
até o banheiro e tomou uma ducha, colocou o mesmo
vestido e calçou as sandálias e seguiu rumo a cozinha
para esquentar a lasanha. Ligou o forno, enquanto ela
esquentava, abriu a geladeira e com um saca-rolha abriu o
vinho.

Ficou a olhar para o fogão tomando o líquido gelado,


precisava aprender a fazer alguns pratos, mas a verdade
que ela só sabia esquentar a comida, nunca na vida tinha
lidado com o fogão. Para ela, ele parecia um mistério,
chegava a ser amedrontador, não tinha falado isso com
Gregory, tentaria lidar com ele, tinha vergonha de falar-
lhe sobre isso.

Quando a lasanha estava pronta ela levou o vinho


para a sala de jantar, arrumou a mesa com as porcelanas
chinesa, e com cuidado, usando uma luva térmica tirou a
lasanha e a levou a mesa.

Seguiu rumo ao quarto e escutou Gregory, no


banheiro. Sentou-se na cama e o esperou. Ele saiu lindo,
envolto em um roupão branco. Natasha foi até ele e
sorrindo o abraçou, oferecendo os lábios, que ele tomou
apaixonadamente.

Quando se afastaram, Natasha o convidou.

— Eu já esquentei a lasanha. Vamos jantar?

— Vamos. — Ele concordou, mas então lhe perguntou.


— Você se importa se eu não me trocar e comer assim?
— Não.

Natasha sentou-se a mesa e esperou Gregory servi-la.


Ele esperava ser servido por ela e lhe sorriu maroto
dizendo.

— É justo que eu te sirva, afinal. Você arrumou


sozinha essa linda mesa.

Natasha sorrindo lhe deu o prato e ele a serviu.

O jantar fora maravilhoso, depois de finalizarem,


Gregory a ajudou a levar tudo para a cozinha e guardou a
lasanha na geladeira.

Natasha protestou a jogou fora. Aquilo doeu em


Gregory.

— Natasha, eu aprendi a não jogar comida fora.

— Amanhã ela estará ruim.

Gregory a fitou por um momento contrariado, mas


por fim não disse nada. Ele se preparava para lavar a
louça quando ela o puxou.

— Deixe aí, amanhã Rosita lava.

Gregory ignorou o apelo dela e lavou tudo, deixando


no escorredor de pratos.

Natasha já havia ido para o quarto, quando Gregory


pensativo a seguiu. Uma questão lhe martelava na cabeça.
Eles não teriam uma empregada, ela teria que cuidar da
casa, da roupa e da comida. Ela daria conta?

Quando ele chegou ao quarto as questões que lhe


martelavam na cabeça logo foram deixadas com a visão
de Natasha esperando-o com uma linda camisola negra.
Ele sorriu e como um felino a caça da presa, foi até ela.
Tomando-a nos braços e a beijando apaixonadamente,
fazendo-a reclinar na cama, e começaram de novo uma
nova onda de prazer.

No dia seguinte Gregory acordou com a visão da


esposa ao seu lado. Ela já estava acordada e o observava.
Gregory a puxou para si e buscou sua boca e se beijaram
novamente, numa nova onda de paixão.

Quando eles seguiram até a sala viram a mesa já


posta com leite e café que ainda estava quente,
croissants, e pão fresquinho.

Gregory e Natasha sentaram-se a mesa.

— Desse jeito eu vou engordar.

— Você está muito magro. Uns quilos não te farão


mal. Você tem trabalhado muito.

— É o nosso sustento.

— Que curso é esse, que você tem feito?

— É uma nova área que estou entrando, mas não


gostaria de te falar isso, para não te gerar expectativas.

Natasha frustrada assentiu. Depois do café, eles


colocaram roupas de banho e foram á praia, que era cinco
minutos á pé. O sol brilhava maravilhoso no céu. Ambos
munidos de uma toalha e protetor solar, de mãos dadas,
seguiram a trilha que levava ao mar.

O mar brilhava convidativo sob o sol. Depois de um


tempo estirados no sol seguiram até a água e abraçados
ficaram se beijando. Passaram um dia maravilhoso. Mas
independente de toda paisagem, a alegria era de
pertencerem um ao outro.

No caminho de volta, Gregory estava novamente


envolto em pensamentos. Isso fazia com que ele fechasse
o cenho e seu rosto ficava sombrio. Natasha entendeu que
ele como o chefe da casa, deveria estar preocupado com o
trabalho e o dia-dia. Natasha ainda tentava entender que
espécie de curso era esse, que tanto mistério envolvia
esse curso que ele fazia...

A semana passou rápido, foram dias maravilhosos: de


sol, de alegria, de amor, de companheirismo, de entrega,
de esperança, de promessa, de planos...

Chegaram ao apartamento no Domingo a noitinha, o


apartamento parecia para Gregory, pior e mais horrível,
depois de passar dias maravilhosos em uma casa grande.
Ele fitou o rosto de Natasha, preocupado. Viu que ela, por
incrível que parecesse, não parecia se importar, ao
contrário, ela lhe sorria feliz.

Foram para o quarto e juntos tiraram as roupas das


malas e agora tentavam dividir o espaço no guarda-roupa,
mas era impossível, ou caberiam as roupas dele ou as
dela. Gregory a fitou nervoso.

— Preciso ajuntar dinheiro e comprar um guarda


roupa maior.

Natasha o abraçou e o beijou no nariz.

— Eu deixo as minhas roupas na mala.

Gregory concordou resignado.

— Tem uma gaveta sobrando. Use-a para por as que


amassam.

Natasha sorriu e concordou. Embora ela soubesse


que a maioria das roupas dela amassasse.

Natasha e Gregory dormiram abraçados.

No dia seguinte Natasha sentiu Gregory se levantar e


olhou o relógio e viu que ainda eram oito horas, fechou os
olhos e mais tarde sentiu cheiro de café, ela sentou-se na
cama assustada e constatou que Gregory tinha ido
trabalhar.

Levantou-se da cama, e abriu as cortinas.


Suspendeu o vidro da janela e ficou a olhar o bairro. De lá
se via telhados de casas, crianças brincando mais ao
longe de bola na rua, carros passando. Natasha se afastou
da janela e viu uma poltrona. Teve a idéia de colocar
todas as suas roupas nela, e deixar só as camisetas na
gaveta e as roupas intima na mala. Fez essa pequena
tarefa e arrumou a cama. Foi até a cozinha e pegou a
jarra da cafeteira, bebeu o café que Gregory havia feito.
Comeu uma torrada e lavou a xícara. Foi até o banheiro
escovou os dentes, e irritada percebeu que mesmo
durante o dia, o banheiro era escuro. Teve que acender a
luz para se olhar no espelho.

Vestiu uma calça jeans e uma camiseta branca,


procurou na casa algum desinfetante e achou debaixo da
pia da cozinha, levou para o banheiro e com nojo e uma
careta, limpou a privada. Foi até a pequena lavanderia e
viu um pequeno varalzinho. Depois de lavar as roupas
intimas dela e de Gregory colocou no varal. Resolveu
passar um pano na casa, pegou um rodo e molhou um
pano grande, começou pelo banheiro, enojada via a cor
escura que cada vez que passava saia. Foi até o tanque e
o lavou, fez isso em cada cômodo. Meio dia acabou, caiu
no sofá, cansada e suada. Resolveu tomar um banho,
tirou a roupas sujas e pegou um vestido no sofá, seguiu
até o banheiro e ligou o chuveiro. Regulou a água com
muito custo usando os registros, não estava acostumada
com isso, pois na sua casa havia um misturador que
sempre deixava a água no grau certo.

Entrou e quase morreu queimada, tendo que regular a


fria de novo, só então conseguiu tomar banho. Foi até a
geladeira. Tinha queijo, ovos, maçã e laranja. Nada de
carne, costeletas, baby bifes. Pegou um pedaço de pão e
colocou um pedaço de queijo e comeu. Com a laranja,
espremeu num espremedor manual, que deu pouco suco e
bebeu.

Voltou para o tanque e lavou com sabão suas roupas,


como não tinha força para torcê-las, acabou deixando
escorrendo água, molhando seu vestido. Não podiam
pagar a lavanderia, precisava se virar daquele jeito
mesmo.

Á tarde ficou em frente à televisão, nada a agradava.


Começou a ficar angustiada. Triste constatou que aquele
apartamento estava lhe dando claustrofobia. Resolveu dar
uma volta no bairro, tinha trazido dinheiro, foi até uma
banca de jornal e comprou um livro de receita. Onde o
título marcava “Receita do dia-dia.”

Voltou para o apartamento e foi até o quarto, cochilou


até ás seis. Levantou-se e na cozinha fez um café, que
saiu aguado. Triste sentou-se no sofá, se sentindo
solitária. Pegou o livro de receitas e começou a ler. A
maioria precisava de ingredientes que ela não tinha.

A noite se arrastou, até que ouviu a porta se abrir e


Gregory entrar. Ele chegava da rua com dois pacotes de
compras. Natasha angustiada pegou os pacotes das mãos
dele e os colocou no chão e abraçou-o, trêmula, se
sentindo confusa e feliz por vê-lo.

Gregory a afastou e a fitou angustiado também e logo


perguntou.

— O que foi?

Natasha com lágrimas nos olhos o abraçou de novo.

— Senti sua falta.

Gregory a afastou de novo e a fitou com ternura.


Passando a mão pelas lágrimas dela.
— Eu também senti.

Ele lhe beijou a boca com paixão por um longo tempo,


até que ambos se afastaram ofegantes.

— Por que você não guarda as coisas que eu trouxe,


enquanto eu tomo um banho?E depois você me conta seu
dia.

Natasha feliz concordou, pegou o pacote do chão e


levou até o balcão da pia.

Guardou a carne no congelador, as laranjas, o alface,


os tomates na parte debaixo da geladeira e o leite.

E no armário, ela guardou: o pão de forma, as


bolachas, o cereal, o açúcar e o café.

Ela então foi até o quarto e constrangida o viu de


cueca, colocando a calça do pijama. Seus cabelos estavam
mais negros, pois estavam molhados.

Gregory então se virou e a viu, ela estava parada na


soleira da porta a olhá-lo. Sentou-se na cama e com uma
batidinha de mão na cama a convidou a sentar-se
também. Natasha sentou-se ao lado do marido.

Gregory a inclinou na cama e beijando-a sofregamente


por todo o rosto dizia. “Eu te amo.” E repetia isso a cada
beijo.

Então o olhar dele expressou angustia e ele ainda


inclinado sobre ela disse-lhe.

— Agora me fale do seu dia. Foi só saudade mesmo,


que te levou a chorar?

Natasha sabia que não era só a saudade, mas ela estava


num processo de adaptação e estava sendo difícil. Tinha
medo de não suportar a rotina, era uma negação na
cozinha, mas para não lhe deixar preocupado, lhe mentiu.

— Sim. Eu senti sua falta. Fiquei uma semana


acordando e passando o dia inteiro com você todos os
dias. Hoje acordei e não te vi, e senti sua falta. O dia
demorou a passar.

Gregory beijou-lhe os lábios e Natasha indagou.

— Você está chegando do curso, agora?

— Estou.

— Por que ainda eu não posso saber que tipo de curso


você está fazendo?

Gregory se afastou nervoso.

— Eu já te disse que em breve, se tudo der certo, você


saberá. Por enquanto não. Não quero lhe gerar
expectativa e isso só me faria ficar mais nervoso.

Natasha viu a expressão dele cansada e não quis


insistir. O abraçou e o beijou. Gregory a fez deitar na
cama e afastou as cortinas, de modo que o luar entrasse
pela janela, apagou a luz.

A visão de Natasha ao luar mexia com suas entranhas,


ele se inclinou sobre ela e tomou a boca de Natasha num
beijo apaixonado.

Natasha foi envolvida naquele beijo que só ele sabia


dar, de tão sedutor que era. Gregory agora a beijava no
pescoço, fazendo-a inclinar a cabeça para trás,
arrancando gemidos de Natasha.

Logo estavam enlouquecidos um pelo outro. Ele se


despiu e a despiu. A imagem sedutora de Natasha nua,
brilhando ao luar o deixou louco de desejo, e se
entregaram a paixão. Uma das mãos Natasha deslizou pelo
peito dele, e suspirou extasiada quando sentiu sob seus
dedos o pêlo encaracolado que cobria seus músculos.
Enredou-os neles, e sentiu que o corpo do Gregory se
esticava mais ainda. Animada por aquela reação, começou
a acariciá-lo com mais audácia, e o notou estremecer. Ela
uniu seus lábios nos dele, mas por um momento, Gregory
separou seus lábios dos dela, para com um sussurro em
seu ouvido confessar que a amava.

Quando saciados, Natasha começou a lhe contar seu


dia, mas não concluiu, pois viu pela respiração de
Gregory, que ele já dormia um sono pesado. Natasha o
cobriu e se aninhou no peito dele e dormiu.

No dia seguinte, Natasha acordou novamente sozinha.


Tomou café tarde. Passou o dia na cama. Resolveu comer
algo consistente na cozinha, então se lembrou que havia
se esquecido de tirar a carne para descongelar.

Pegou uma frigideira e tentou fritar um ovo, mas se


atrapalhou ao quebrá-lo, perdeu dois no ralo da pia, então
resolveu quebrá-lo debaixo de um prato. Colocou óleo na
panela e quando quente, jogou o ovo, mas ele espirrou o
óleo quente na sua pele delicada e ela se assustou,
batendo a mão na frigideira, derramando óleo quente no
pé.

Cheia de dor, desligou o fogão e se sentou no chão,


aos prantos. Seu pé estava vermelho e doía terrivelmente.
Ela mancando, foi até o banheiro e abriu a água fria do
chuveiro e colocou o pé debaixo, uma grande bolha já se
formava.

Foi até a cama e chorou um bom tempo, se sentindo


uma negação na cozinha.
O que faria? E no final de semana, como faria comida
para Gregory?Então chorou mais.

Natasha, mesmo cheia de dor. Foi até a cozinha e


limpou todo o chão e o fogão. Com fome, pegou um
pacote de cereal e comeu com leite.

Pensou em passar pasta de dente no pé para aliviar,


mas a bolha estava enorme, e não dava. Foi até a sua
bolsa e pegou um comprimido para dor. Deitou-se na
cama, mas não conseguia dormir, pois ardia o ferimento.

Foi até a sala, e sentou-se de frente a televisão. À


tarde e a noite se arrastaram. Viu então Gregory abrir a
porta, um sorriu trêmulo surgiu em seus lábios, se
esforçava para não chorar. Natasha desligou a televisão.
Ele guardou uma pasta em cima da estante e foi até ela.
Natasha o abraçou e não se contendo, chorou.

Gregory a afastou de si, quando a viu chorar. Mil


coisas passaram na cabeça dele e a principal delas é que
ela havia se arrependido de casar com ele, esses
pensamentos dilaceraram seu coração.

Gregory com o rosto sombrio a fitou sério, sua


mandíbula se cerrou. Um músculo tremeu no queixo de
dele enquanto se esforçava por recuperar o controle,
olhou-a com questionamento

— Natasha. Você se arrependeu de casar comigo?

Natasha com lágrimas nos olhos disse.

— Eu não sei cozinhar.

Gregory estava tão envolvido em sua dor que, por um


momento não conseguiu assimilar o que ela havia lhe
dito, e quando a compreendeu, um grande alívio invadiu
seu coração. E isso transpareceu no seu rosto.
— O que você tem comido?Não vai me dizer que você,
todo esse tempo tem comido porcaria?

Natasha assentiu.

— Meu Deus! Por que você não me disse?

Gregory agora a fitava com ternura.

— Vem. Eu te ensino a cozinhar.

Natasha ainda com dor negou.

— Hoje não.

Gregory se levantou e disse duro.

— Vem. Hoje sim!

Natasha negou e triste explicou.

— Eu me queimei e estou com dor.

Gregory passou os olhos nela olhando seu corpo, cheio


de preocupação.

— Me mostre a onde está a queimadura? — Ele disse


com dor no peito e impaciente.

Natasha ergueu o pé. Gregory se agachou e soltou um


palavrão, quando viu o peito do pé dela vermelho e com
uma grande bolha.

— Como você fez isso?

Ele a olhava com preocupação. Natasha então explicou.


— Vem, vamos até o quarto e eu vou arrumar uma
agulha esterilizada e furar a bolha. Enquanto não furá-la,
não vai cicatrizar.

Natasha se levantou e mancando o seguiu até o quarto.

Gregory pegou uma agulha e foi até a cozinha, acendeu


o acendedor do fogão e esterilizou, passou álcool e seguiu
até o quarto. Natasha havia trocado a roupa pela
camisola. Ele pegou o pé dela e com cuidado fez um furo
na bolha e fazendo pressão foi soltando o líquido
acumulado até ela desinchar e encostar sob a pele.

Ele então fez lhe um curativo no pé com gazes.


Natasha cansada e sonolenta, já fechava os olhos. Gregory
suspirou, guardou a caixa de primeiro socorros e foi ao
banheiro e tomou um banho.

Sentia-se esgotado, as aulas de piano, o deixava tenso,


pois cobrava de si a perfeição, e exigia muito mais de si e
o fato dele não ter um piano só piorava as coisas, não
tinha como treinar em casa.

Se ele não agarrasse a oportunidade que estava tendo,


nunca mais teria outra chance de se desenvolver como
pianista. Na hora do almoço na lanchonete sempre ia para
a parte de trás, onde havia um piano velho, entre um
lanche e outro ele treinava lá. Faltava pouco tempo, para
ele apresentar ao Maestro Wagner Tizzo, se ele não
passasse nessa apresentação, tinha que dar adeus, aos
seus sonhos de ser um pianista famoso.

Gregory deitou-se na cama e Natasha se aninhou entre


os braços dele, feliz por senti-lo tão perto; adorava o
cheiro de sua pele, de seu cabelo, e tinha um desejo
incrível de tocá-lo, de senti-lo… Ele puxou-a para perto de
sua cabeça e beijou-a ardente e longamente.

O mundo não mais existia. Só eles, com a necessidade


absoluta de estarem junto...

De manhã Natasha acordou e surpresa viu Gregory ao


seu lado, feliz o beijou. Gregory abriu os olhos e sorriu
para ela.

— E seu pé?

— Depois que você estourou a bolha e fez o curativo


está melhor. Você está de folga hoje?

— Estou. Mas eu sairei á tarde, aproveitarei que não


vou trabalhar e vou ao curso.

Natasha torceu o nariz. Então o medo de ele estar se


encontrando com alguém apertou seu coração.

Insegura perguntou-lhe, estudando sua reação.

— Você está se encontrando com alguém?

Gregory a fitou furioso e com voz alterada falou-lhe.

— Nunca mais me pergunte isso, eu te amo, mais do


que minha própria vida. Por amá-la que eu tenho me
esforçado para ser alguém.

Natasha o fitou com ternura nos olhos.

— Você para mim já é alguém.

— Talvez — ele respondeu, puxando-a para mais perto.


— Mas, não vamos falar sobre isso — ele continuou muito
suave. — Nossos momentos juntos são muito preciosos e
quero você inteirinha para mim.

— Eu o amo, do jeito que você é.

— Eu sei. Por isso te amo — ele murmurou e aproximou


a cabeça dela, beijando-a com tal doçura que não havia
necessidade de palavras para exprimir seu amor.

Tiveram uma manhã inteira repleto de amor e carinho,


onde o tempo não existia. Viveram apenas para seu amor!

No almoço, Gregory a ensinou fritar um ovo, fizeram


saladas juntos e ele mostrou como se descascava batatas,
e fizeram com elas um purê, e lhe ensinou a fazer arroz.
Natasha e ele se apertavam na cozinha, pois era muito
pequena.

Almoçaram em um clima descontraído. Tiraram a mesa


e Natasha ficou na cozinha lavando os pratos enquanto
Gregory trocava-se.

Natasha foi até a sala e o viu... Lindo com uma camisa


azul marinho, e uma calça preta.

Natasha o fitou tristemente. Ele vendo-lhe a tristeza,


sentiu um grande aperto no coração e a envolveu nos
braços dizendo.

— Não fica assim. É preciso Natasha. À noitinha no


vemos.

Natasha enfiou a mão no interior de sua camisa. Sentia


o coração de Gregory que pulsava como um louco. Então
ele riu com suavidade, de um modo estranho. —pelo amor
de Deus, não... —rogou-lhe detendo sua mão, e olhando-a
com o rosto contraído.
—Isso é golpe baixo. Faz-me perder o sentido. — Ele
lhe disse ofegante— Seu aroma, o calor de seu corpo...

Ela ergueu a cabeça para que seus lábios se tocassem; e


novamente se sentiu invadida pelo amor, como cada vez
que se beijavam!

— Eu sei. Mas não consigo evitar — ela respondeu, num


sussurro.

O beijo que trocaram foi ainda mais ardente e cheio de


paixão.

— Natasha— Ele a afastou ofegante. — Preciso ir. Você


fez isso de propósito, tentando me segurar! — Exclamou
contrariado.

Natasha tristemente o viu sair decidido, para mais um


dia de seu tão misterioso curso.

Meu Deus! Que curso era esse?

Capítulo XI

Os dias se arrastaram para Natasha, que entraram


numa rotina. Mas ela já administrava bem o lar. Já se
virava melhor na cozinha, depois de queimar muito arroz,
hoje seu arroz ficava soltinho.

Mas um dia fora particularmente diferente. Gregory


nesse dia voltou com roupas diferentes que ele usava no
trabalho. Ele entrou na sala com um terno bem talhado, o
que ele havia usado no casamento, ela o fitou surpresa,
quando o viu chegar.

Natasha o fitou séria e estranhamente. Gregory sabia


que ela não entendia o porquê, ele estava vestido assim.

Ele aproximou-se dela e a fez levantar do sofá, ele


estava com um brilho estranho nos olhos, como se
estivesse feliz. Isso a intrigou mais.

— Ainda não me pergunte nada. Sábado, vai acabar sua


agonia, eu tenho uma surpresa para você.

— Surpresa.

— Mas eu não estarei aqui para te levar até ela. Nós


nos encontraremos lá. Pedi ao meu tio para ele fazer a
gentileza de levá-la.

— Gregory. Por que você me tira dessa agonia?

Gregory a abraçou. Natasha apoiou sua cabeça no peito


do marido.

— Confia em mim meu amor. Faltam só quatro dias


para sua agonia acabar.

— Eu confio.

Por um longo tempo eles ficaram se beijando na sala,


envolvidos na paixão que tinham um pelo outro.

Gregory então a afastou.

— Vou tomar um banho e podemos sair um pouco. O que


acha? Você não tem saído muito.

— A onde nós iremos?


— Vou colocar uma roupa mais descontraída e você
escolhe.

Gregory sumiu no quarto. Natasha pensou na casa de


Raquel.

Ao shopping não lhe animava ir, passou a vida indo lá.


Na sua mãe, desde que Natasha casara, nunca mais ligou
para ela. Queria mostrar a eles que havia crescido, e se
ficasse ligando, passaria a impressão errada. Eles
pensariam que ela sentia falta de seu lar, do conforto, que
estava arrependida...

Gregory enquanto sentia o jato forte de água forte


escorrendo pelo seu corpo, pensou no seu encontro com a
cantora lírica Sabrina Glen e o com o maestro Wagner
Tizo, tinha almoçado com ele para acertar os detalhes de
sua apresentação.

Sábado ele e Sabrina iam se apresentar no auditório


do Teatro Municipal, que era todo acústico e próprio para
espetáculos musicais, comportava oitocentas pessoas, e
segundo o maestro todos os ingressos já haviam sido
vendidos, ou seja, estaria cheio.

Entres os participantes estariam os grandes críticos da


música clássica e lírica, entre repórteres de grandes
jornais.

Não via à hora de fazer uma surpresa para Natasha, já


havia combinado tudo com seu tio Jonas. Ele iria pegá-la
no Sábado à noite e a levaria ao teatro.

Ele teria que chegar antes, ficaria o Sábado inteiro


fora, ensaiando junto com a cantora lírica Sabrina e o
maestro. Seria sua chance para provar seu talento. E se
tudo desse certo, se ele se apresentasse bem, se os
críticos gostassem, ele assinaria um contrato, no qual seu
tio estaria com ele, já que ele não conseguiria lê-lo.
Tudo começou quando seu professor de música o
apresentara ao Maestro, dizendo que ele tinha um talento
nato como pianista, que ele era um verdadeiro prodígio.
Gregory então tocara para ele a 5ª Sinfonia de Beethoven,
e para sua surpresa arrancou um suspiro de admiração do
Maestro. Seu teste havia sido um sucesso.

Lembrou-se então de quando entrou para fazer aulas


de piano, pensava em aprender técnicas novas, sem se
iludir muito que iria se sobressair tanto.

Em seu primeiro dia de aula, chegara humilde e


inseguro e logo explicou o seu problema ao seu professor.
Contou-lhe de sua dislexia e que de maneira nenhuma
conseguiria ler as notas musicais, mas que ele conseguia
reproduzir qualquer música só de ouvir.

Seu professor então demonstrando pouco interesse


pediu que ele tocasse para ele alguma coisa, para ele
saber qual era o seu nível no piano.

Gregory sorriu consigo ao se lembrar da expressão do


professor, quando ele terminou de tocar para ele.

Ele havia tocado Beethoven Sonata Nº31 Op110 Adagio


Ma Non Troppo de ouvido, quando ele terminou, seu
professor o fitava pálido e teve que sentar-se, pois se não
tinha caído.

Gregory o fitou na expectativa que ele lhe falasse


alguma coisa, mas seu professor só ficava a olhá-lo com
os olhos vidrados como se não o visse.

Gregory na hora nervoso perguntou-lhe.

— E então. Gostou?

Seu professor então exclamou.


— Meu Deus. Se eu gostei? Eu nunca vi nada igual, em
todos esses anos em minha vida. Não quero um centavo
seu. Faço questão de lhe dar as aulas de graça.

Nessa hora Gregory surpreso, quase caiu de costas,


agora era ele que tinha ficado pálido.

— Muito obrigada. — Respondeu simplesmente, pois


não lhe vinha outra coisa para ser dito.

Seu professor então investiu nele e insistiu para que


ele tentasse aprender as notas musicais, ensiná-lo-ia ler
as partituras. Gregory tinha colocado na cabeça que não
conseguiria, mas então se lembrou da razão do seu viver.

Lembrou-se de Natasha. Era por ela que ele estava ali, e


mesmo cheio de traumas que carregava e frustrações,
resolveu tentar, mesmo que levasse mais um desencanto
para o seu currículo de fracassos.

Passou então a tentar ler aqueles pontinhos nas linhas,


e percebeu que elas não embaralharam suas vistas, e isso
o animou, então como por um milagre, ele conseguiu
aprendê-las e lê-las. E feliz constatou que muito pelo
contrário, elas entraram em sua mente como se fosse a
sua própria língua.

Minutos depois, Gregory apareceu vestido com uma


calça marrom e uma camisa branca.

— Resolveu?

Natasha o fitou com admiração nos olhos, e sem muita


vontade em sair, lhe disse meio desanimada.

— Pensei em irmos à casa de seu tio.

— Eu tinha certeza que você ia pedir para ir lá.

Natasha sorriu e abraçou o marido. A paixão explodiu


dentro dele; suas mãos desceram pelas costas de Natasha
até chegar às nádegas, apertando-as; Gregory uniu ainda
mais o corpo dela ao seu. Natasha inclinou a cabeça para
trás, os lábios entreabertos num convite, e pôde ver a
expressão dele, um desejo enorme, ele colocou os lábios
sobre os dela, sugando-os.

— Meu Deus. Acho que a ida à casa de meu tio vai


ficar para depois.

— Faça amor comigo, Gregory.

Gregory a pegou no colo e a depositou na cama.


Tirou–lhe a camiseta, a calça jeans que ela usava, e seus
olhos brilharam de desejo ao ver a formosura daquele
corpo. Natasha o viu tirar a camisa e a calça, os sapatos e
por fim a cueca, nu se achegou a ela, e se amaram
loucamente...

Natasha depois de um tempo estava nos braços do


marido e falou pensativa.

— Gregory, eu gostaria de voltar a estudar. Fazer um


curso universitário.

Gregory com ela em seus braços beijou-lhe os cabelos.

— Concordo. Não quero te ver presa nesse


apartamento minúsculo, tem me doído muito quando saio
para trabalhar, e te deixo aqui a minha espera. Você só
mudou de prisão, de uma prisão de luxo para uma
totalmente desconfortável.

Natasha se sentou e o fitou nos olhos.

— Saiba meu amor que eu sou mais feliz. Não estou


reclamando, mas quero ser útil também.
Gregory se sentou na cama e beijou-lhe
delicadamente as bochechas, a boca e o nariz.

— Se Deus quiser, meu salário vai melhorar, e poderei


investir em você, só te peço um pouco de paciência
agora.

Natasha o abraçou feliz, se sentindo amada. E em


seus ombros, sussurrou.

— Eu terei.

No dia seguinte á tarde Natasha ouviu o toque da


campainha. Pelo olho mágico ficou surpresa em ver Henri
e Raquel. Natasha abriu a porta demonstrando surpresa e
sorriu para eles.

— Raquel, Henri. Entrem.

Henri sorriu para Natasha e Raquel lhe deu um beijo


rápido e entrou, quando os dois estavam acomodados no
sofá, Natasha ofereceu.

— Vocês querem um café? Bebidas eu não tenho.

Raquel ignorou sua pergunta e olhou ao redor.

— Como você consegue viver aqui?É incrível como


existem pessoas que gostam de sofrer.

— Raquel se você veio aqui para criticar meu modo de


vida, então vá embora. Eu sou muito feliz, pois estou ao
lado do homem que amo.

Raquel e Henri se olharam. Raquel então continuou.

— Ontem eu e Henri saímos juntos, fomos a um


restaurante, o Paladino, no West Market.

Natasha a fitou impaciente.

— E...
— Gregory estava lá de terno almoçando com uma bela
loira.

Natasha ficou pálida, seu coração se apertou em seu


peito. Ela procurou à poltrona e se sentou para não cair.

— Gregory anda muito misterioso, mas eu confio nele.


Pode ser um jantar de negócios.

Raquel riu.

— Natasha. Acorda!Gregory quase não sabe ler e


escrever.

Natasha fitou as mãos no colo, seus olhos se encheram


de lágrimas.

Henri então confirmou.

— É verdade Natasha, eu os vi. Eles pareciam bem


íntimos, estavam muito descontraídos.

Natasha fitou Henri e Raquel e balançou a cabeça.

— Eu confio em Gregory. Deve ter uma explicação para


isso. Vocês ficaram muito tempo lá?

— Não. Eu e Henri estávamos de saída. Logo saímos.

— Bom, se isso é tudo, eu gostaria que vocês fossem


embora, tenho um monte de coisas para fazer.

Raquel se levantou, seguida por Henri. Raquel então se


virando a alertou.

— Depois não diga que eu não te avisei.

— Como você é generosa Raquel! — Natasha ironizou.

Raquel a ignorou e comentou.


— Papai me falou que ele tem ingressos para irmos ao
Teatro Municipal, vai haver um espetáculo de música
clássica e Lírica.

— É. Que bom. Mamãe que adorava esses espetáculos.


Ela adora a música clássica. — Lembrou-se Natasha,
sentindo falta de sua mãe.

Raquel então se virou para Henri.

— Então vamos Henri.

— E adeus Natasha, desculpe-me por ser sincera nas


minhas palavras, mas não consigo evitar.

Quando Raquel e Henri saíram, Natasha ficou


pensativa.

Gregory lhe dissera que Sábado o Dr. Jonas iria levá-la


ao encontro da surpresa que ele lhe estava preparando.

Então pensou consigo.

Vai ver que Gregory vai me encontrar no Teatro. E a surpresa é


essa!

Mas tinha algo estranho. O curso de Gregory já era um mistério.


As saídas dele. Agora esse almoço com a loira.

Meu Deus! Gregory a estava enganando?

Lembrou-se de quando perguntou a ele se ele estava saindo


com alguém; e de como ele ficara furioso, dizendo que a amava.

Natasha fitou infeliz a janela do quarto e ficou a olhar


para a rua onde crianças jogavam bola, isso eram umas
seis horas da tarde. Então viu Gregory estacionar seu
Dogde amarelo. Ela apreensiva o viu sair e entrar no
prédio. Foi até a sala e esperou ele abrir a porta.
Gregory não dissimulava o que sentia. Era impossível
ela ver tanto amor nos olhos dele e ele a traísse. Ele teria
que ter duas caras, duas personalidades.

Gregory abriu a porta e Natasha o viu entrar. Ele


trancou a porta e quando a viu sorriu para ela. Natasha
correu para os seus braços, recebendo dele um abraço
apertado e seus lábios procuraram o seu
apaixonadamente. Os olhos de Natasha ficaram marejados
de lágrimas, que passaram a escorrer por seu rosto e
Gregory se afastou quando sentiu na boca o gosto delas,
percebendo que Natasha chorava.

Ele a fez se sentar no sofá e a encarou sério.

— O que foi?Por que choras?

Natasha o fitou enxugando as lágrimas. E disfarçou


sua ansiedade, preocupação, não queria abalar seu
casamento com suas dúvidas.

— Eu estou um pouco emotiva.

Gregory beijou cada olho dela e beijou-lhe os lábios.

— Dói em mim, vê-la trancada aqui. Mas em breve


vamos resolver isso. É isso, não é?

Natasha o abraçou aspirou a camisa dele, procurando


algum cheiro de mulher e não encontrou nada, só a
colônia barata que ele usava.

Mais calma se afastou e procurou seus lábios. Gregory


com um gemido a beijou por um tempo, mas então a
afastou.

— Eu vou ter que sair. Queria muito ficar, mas não


posso.
Natasha fitou-o séria, com dor no coração perguntou.

— Aonde você vai?

Gregory beijou-lhe por todo rosto dizendo. — Faz parte


da surpresa...

Natasha o viu tomar banho e trocar de roupas e sair de


novo. Natasha foi até a janela do quarto e o viu na calçada
a espera de alguém, então viu quando uma Mercedes
preta parou e Gregory entrou nela. Natasha não viu quem
dirigia, mas na certa era a mulher que Raquel e Henri
viram.

Natasha chorou amargamente na cama, abraçada ao


travesseiro de Gregory.

Por que ele não confiava nela? O que ele escondia?

À noitinha Gregory chegou e encontrou Natasha


dormindo. Foi até o banheiro exausto, seus ombros doíam
de tanto praticar. Sabrina se mostrou realmente uma
soprano talentosa, ela o acompanhava facilmente quando
ele tocava piano.

Gregory só de cueca, deitou-se ao lado de Natasha, que


levantou assustada. Ele sorriu e a puxou para si. Sentiu
um pouco sua resistência, e ela o empurrou para longe.
Ela deveria estar brava, por ele ter saído de novo. Gregory
paciente; inclinou-se sobre ela e beijou-lhe os lábios,
dizendo

—Não me rejeite Natasha, por favor... Sinto sua falta.


Eu te amo, mais do que minha própria vida.

Isso pareceu quebrar as resistências dela e Gregory a


beijou apaixonadamente, não sentindo mais sua
resistência e fizeram amor como dois loucos.
Sábado finalmente havia chegado. Natasha não viu
Gregory sair, ele deveria ter saído bem cedo, pois ainda
era oito horas da manhã e nem sinal dele no
apartamento, ela só sentia o cheiro da colônia dele e do
café que ele tinha feito.

Natasha se levantou e bebeu uma caneca de café.


Nervosa, resolveu arrumar o apartamento e fazer uma
faxina. Hoje nem ela se reconhecia mais, era uma dona de
casa domesticada.

Á tarde nervosa pensou em Gregory, segundo ele, seu


tio ia passar ás seis horas, era para ela usar seu melhor
vestido, isso fez com que ela se lembrasse da conversa
que teve com Raquel das entradas no Teatro Municipal.

Mas o que isso tinha haver com Gregory? Seu tio a levaria para
lá?Gregory a encontraria lá? Essa era a surpresa? Mas por que ele
mesmo não a levaria?

Natasha ás seis horas estava pronta, colocou seu


melhor vestido. Era um longo preto, onde pequenas
pedras incrustadas brilhavam no corpete, que lhe
moldava os seios e a cintura, era um modelo tomara que
caia.

Prendeu os cabelos em um coque e fez uma maquiagem


leve, pois tinha medo de carregar, já que a iluminação de
seu banheiro não era das melhores. Colocou sapato de
saltos alto e olhou seu pescoço nu. Com pesar lembrou-se
de suas jóias, que teve que deixar para trás, não tinha
nenhuma para ornamentar o pescoço.

Ouviu o toque da campainha e viu Dr. Jonas vestido


com um terno preto, camisa branca e gravata cinza, ele
ao vê-la sorriu para ela.

— Meu Deus! Você está linda!


Natasha nervosa sorriu de volta, se afastou da porta e
Dr. Jonas entrou. Natasha ansiosa perguntou.

— Aonde nós vamos?Gregory não me explicou.

— Vamos ao Teatro Municipal, lá estarão todos.

Natasha perguntou confusa.

— Todos? Quem?

— Eu arrumei convites para sua mãe, seu pai, Raquel


e Henri.

— Mas e Gregory?

Jonas Forrest sorriu misteriosamente.

— Também estará lá.

— Por que tanto mistério? Por que ele não me disse


logo que íamos ao teatro?E por que ele não está aqui para
me levar?

Dr. Jonas sorriu.

— Natasha. Vamos!Eu não te darei explicações, isso


faz parte da surpresa.

— Então vamos logo! — Natasha disse impaciente.

Dr. Jonas tirou uma caixa do bolso.

— Antes. Abra.

Natasha viu a caixa de veludo surpresa e abriu.

Era um lindo colar de esmeraldas.

— Quando eu falei para o seu pai que você ia, ele fez
questão que eu te mandasse.
Natasha emocionada ficou a olhá-lo e um nó na sua
garganta se formou de saudades de seu pai.

Emocionada se virou e o Dr. Jonas colocou seu colar.

— Vamos. — Disse ele.

O Teatro Municipal estava agitado pelo movimento


das pessoas que se dirigiam para o concerto.

A orquestra se ajeitava, os retardatários se


acomodavam às pressas, pois o espetáculo ia começar.

Natasha nervosa sentou-se na quarta fila, junto dela


estava o Dr Jonas, Raquel e Henri. Mas nem sinal de
Gregory. Natasha avistou sua mãe e seu pai no camarote,
em cima do palco do lado direito. Natasha então pegou o
binóculo e os observou e percebeu que com eles também
não estava Gregory.

As luzes se apagaram, o público se aquietou e o maestro


entrou no palco.

A melodia de For Elise de Beethoven inundou o teatro.


Natasha relaxou e fechou os olhos, e deixou a música
invadir sua mente, e acalmar seus nervos. Quando a
orquestra encerrou, todos bateram palmas com
entusiasmo. Natasha viu as luzes se acenderem
novamente e o maestro após se reclinar para receber os
aplausos ele se retirou.

Natasha então olhou dos lados e nada de Gregory,


olhou o programa que lhe fora entregue, onde mostrava a
próxima peça.

O Concerto para piano e orquestra Nº 1 em Si bemol


menor.

Maestro - Wagner Tizzo


Movimentos:

Queen of the Night

Instrumentação:

Solista

Piano: Gregory Thonson.

Soprano:

Sabrina Glen.

O nome de Gregory na folha parecia irreal, Natasha


olhou novamente e constatou que era ele mesmo.
Perturbada fitou Dr. Jonas que estava ao seu lado que
sorriu ao ver sua confusão. Nesse momento as luzes da
platéia se apagaram. Natasha sentiu um aperto no peito e
mal podia respirar de tanta emoção!

Uma salva de palmas foi arrancada do auditório quando


um refletor iluminou a entrada do maestro que era
seguido por Gregory Thonson, seu marido, o solista da
noite.

Gregory estava vestido formalmente, com uma casaca


preta, gravata branca, camisa de peito rendado. Quando o
maestro o apresentou ao público ele se inclinou num
cumprimento educado. A audiência explodiu em aplausos
e ele se inclinou novamente, com elegância. Em seguida
deu alguns passos para trás, e sentou-se atrás do piano.

Natasha colocou o binóculo e o viu fechar os olhos,


nessa hora ela fez uma prece, e ainda a sensação que
tinha é que sonhava.

O maestro levantou as mãos e houve um silêncio cheio


de expectativa, tanto na orquestra como na audiência, o
maestro fez um sinal para as cordas, os arcos foram
levantados e, num único som, deram início à melodia.

Logo depois, o som do piano de Gregory se juntou aos


violinos, ao dos violoncelos, e as flautas, adicionando um
toque suave e melodioso à música que começava.

Natasha permanecia tensa, incapaz de tirar os olhos de


Gregory, que tocava lindamente e maravilhosamente
bem.

Seus dedos corriam rápido pelo piano com uma


destreza sem igual, então o sinal do maestro fez todos
pararem para dar lugar ao piano, onde Gregory tocava
perfeitamente. Então um local do Palco foi iluminado e
entrou uma Mulher loira, vestida com um modelo longo
vermelho e se posicionou de frente ao piano. Depois de
umas notas melodiosas de Gregory ela em tom trágico
soltou a voz, ela era a soprano. A voz dela era clara e
límpida.

Gregory ao piano e ela cantando formavam um lindo


par, havia sincronia entre eles e isso deixava o espetáculo
mais bonito.

Natasha entendeu tudo. Todas as saídas de Gregory e a


loira era a pessoa que ele deveria se encontrar para
ensaiar. Mas por que naquele dia eles almoçaram juntos?
O ciúme apertou em seu peito.

Quando a música acabou a cantora agradeceu e com os


aplausos da platéia e deixou o palco.

Iniciou-se então uma nova melodia. Onde agora o


único instrumento era o piano e Gregory continuava
surpreendendo a platéia exigente. Seus ágeis dedos
corriam no piano. Era lindo de se ouvir e de se ver.
Gregory dava um show de talento, a melodia invadia a sua
alma.

Ele já tocava a terceira sinfonia com a mesma graça e


destreza. As notas eram precisas e ao mesmo tempo
suaves, outras vezes enérgicas, Gregory parecia que era
outra pessoa, como se tivesse desligado do seu mundo
exterior e naquele momento só vivesse a música...

O som, dos aplausos invadiu o auditório quando o


concerto chegou ao fim. Todos se levantaram, aplaudindo
com vigor. As luzes foram acesas e Natasha se levantou e
participou com palmas, emocionada.

No palco, Gregory se inclinava para agradecer os


aplausos; depois trocou um aperto de mãos com o
maestro, virou-se para a orquestra e agradeceu a
participação dela; Em todo tempo flashes de máquinas
fotográficas iluminava o palco, Gregory era um sucesso. A
mais nova celebridade. Ele em seguida agradeceu à
platéia de novo e se retirou do palco, seguido do maestro.
Mas o público não parava de aplaudir, nem se sentava.

Natasha emocionada abraçou o Dr. Jonas que também


chorava ao ver o sobrinho. Raquel todo tempo olhava
Natasha como se não acreditasse e Henri sorria para ela.
Natasha pegou o binóculo e viu seu pai e sua mãe, eles já
não estavam mais lá.

Então o Dr. Jonas falou-lhe.

— Vem, vamos falar com seu marido.

Natasha nervosa o seguiu na lateral do teatro e


entraram por uma porta esquerda, onde seguranças
fizeram a menção de barrá-los. Gregory que conversava já
com algumas pessoas os viu.

Ele então disse aos seguranças com autoridade na voz.

— Deixe-os entrar.

Gregory então sorriu para Natasha, demonstrando com


o olhar que ela era a pessoa mais importante do mundo
para ele. Natasha correu para os braços que ele lhe
estendia.

— Gregory... — Natasha falou emocionada.

Ele afastou Natasha um pouco para seus lábios se


unirem com os dela, demonstrando todo o seu amor.

Ela era tudo para ele, se ele havia conseguido, ele devia
a Natasha, por causa dela que ele foi atrás de seu sonho.

Natasha estava com os olhos marejados de lágrimas,


Gregory lhe beijou de leve a testa e a afastou para dar um
abraço em seu tio. Repórteres já invadiam o local para
entrevistar Gregory. Natasha e o Dr. Jonas resolveram se
afastar um pouco, e deixar Gregory á vontade, afinal era o
dia dele. Gregory pediu licença aos repórteres e pegou
Natasha possessivamente pela cintura.

Gregory respondeu a um dos repórteres que lhe


perguntou a quem ele devia tanto sucesso.

Gregory fitou Natasha nessa hora, ambos foram


fotografados.

Gregory falou com emoção na voz.

— Devo tudo á minha esposa. Que sempre acreditou


em mim, independente de qualquer coisa, ela sempre
esteve ao meu lado.
Gregory e Natasha ficaram abraçados o tempo todo. A
cantora lírica e o maestro estavam mais ao longe
cercados por Repórteres. Quando eles finalizaram as
perguntas, Gregory a conduziu pela cintura até o maestro
e a cantora, a bela loira.

— Natasha. Quero te apresentar o maestro Wagner


Tizzo e sua linda noiva Sabrina Glen.

Natasha ao ouvir que Sabrina era noiva de Wagner,


sorriu mais confiante e pegou a mão deles num aperto.

Wagner Tizzo fitou Natasha e com admiração na voz


disse.

— Senhora Thonson. Se prepare para acompanhar se


marido em muitas Turnês, seu marido tem um grande
talento. Hoje foi um inicio para a carreira de seu marido
decolar como um pianista famoso.

Natasha sorriu timidamente e fitou Gregory que a


fitavam estudando sua reação.

Momentos depois ela e Gregory ficaram um pouco


sozinhos, mas por pouco tempo, pois logo mais
jornalistas queriam entrevistá-lo.

Gregory então a fitou com ternura nos olhos.

— Vá para casa com meu tio, eu preciso ficar mais


um pouco. Mais tarde nos encontramos. Tenho muito a
falar com você.
Natasha assentiu e se ergueu, beijando-lhe os lábios.
Gregory a puxou para si e a apertou em seus braços.

Natasha então seguiu com o Dr. Jonas que a levou


até seu apartamento. Natasha lhe agradeceu e subiu a
escada, envolta em uma nuvem de felicidade.

Quando entrou, foi ao quarto e tirou as roupas, se


dirigiu ao banheiro e regulou com facilidade a água, se
lembrou do primeiro dia de como sofreu para regulá-la e
como quase se queimou.

Vestiu sua camisola e se deitou na cama. Ficou a


espera de Gregory.

Seus pensamentos a levaram aos seus pais, que


deviam estar surpresos como ela, ao ver que sua filha que
casou com um Zé ninguém, como o seu pai o chamara,
hoje seu marido dava um passo para ser um grande
pianista. Aqueles dedos mágicos que tocavam seu corpo e
a levavam ao prazer, agora mostravam outro talento...

Gregory entrou no apartamento silenciosamente.


Detestou ter ficado, mas ele precisava agir com
profissionalismo. Depois que Natasha saiu, muitos
repórteres de outros jornais entrevistaram-no.

Finalmente se tudo desse certo, se os críticos o


reconhecessem, eles poderiam sonhar em comprar uma
casa maior, e ele poderia dar conforto para a esposa.

Gregory avistou Natasha iluminada pelo luar na cama e


sorriu. Tirou a roupa e entrou no chuveiro. Só de cueca
foi até a esposa e observou-lhe o rostinho sereno que o
luar beijava.

Com o movimento da cama ela despertou e acendeu


o abajur, sorriu ao vê-lo. Gregory feliz de tê-la ao seu lado
em um momento tão importante de sua vida a abraçou.
Natasha se aninhou em seus braços e ficaram assim por
um longo tempo.

Natasha se afastou e disse-lhe emocionada.

— Foi uma bela surpresa hoje, te ver, tão familiarizado


como o piano. E que apresentação! Um dia você me falou
que tocava de ouvido, mas não pensei que seu talento era
tanto.

— Antes de conhecer você, eu já pensava em ter aulas


de piano. Mas por não conseguir ler as letras, desanimei.
Achei que com as partituras seriam a mesma coisa. E
seria mais uma frustração na vida, algo que eu mais uma
vez ia ter que carregar. Sempre me senti inferiorizado,
por causa da minha deficiência. Mas então, eu conheci
você. Você foi o raio de luz que penetrou minhas trevas,
você baniu minha escuridão. Cresceu em meu peito á
vontade de vencer. Logo que nos conhecemos, eu olhei
para dentro de mim mesmo e me perguntei: O que eu
sabia fazer de melhor?E eu entendi que era a facilidade
para tocar piano. E isso me fez procurar a ter algumas
aulas, via meus colegas de trabalho apresentando em
restaurantes e resolvi me profissionalizar sem grandes
sonhos. Eu sempre toquei o piano de ouvido, eu só queria
aprender ritmos diferentes e algumas técnicas novas. Em
meu primeiro dia de aula, cheguei inseguro e logo lhe
expliquei meu problema. Contei-lhe de minha dislexia e
que de maneira nenhuma conseguiria ler as notas
musicais, mas que eu conseguia reproduzir qualquer
música só de ouvir. Ele me pediu então para que lhe
tocasse alguma coisa eu toquei uma sonata de Beethoven
e ele adorou, disse-me que me daria aulas de graça. E
mais uma vez me surpreendi quando por um milagre as
notas foram muito claras aos meus olhos e o resultado
você viu hoje.
Natasha emocionada o beijou nos lábios e nos olhos
dele que estavam cheios de lágrimas. Ela passou o dedo
na boca dele.

— Meu pai deve ter ficado em choque.

Gregory a fitou sério.

— Depois que você saiu, ele me procurou.

Natasha arregalou os olhos.

— Ele me disse: “Rapaz, você hoje me surpreendeu,


nunca vi alguém tocar piano como você. Estou orgulhoso
de você, e sei reconhecer quando erro, peço desculpas por
não acreditar no amor de vocês, e também por achar que
você não merecia minha filha.”

Natasha abraçou-o chorando.

— Gregory. Eu acredito na sinceridade das palavras


dele. Mas meu pai sabe que você vai crescer, ele sabe
reconhecer o dinheiro quando vê. Ele viu em você um
grande potencial em ganhar dinheiro.

Gregory sorriu.

— Também pensei nisso. Mas é o jeito dele. O


importante meu amor, é que você não precisou me ver
ser alguém, para acreditar em mim. Você me amou,
pobre, cheio de defeitos. Você me valorizou e isso eu
nunca tive de ninguém. Você provou isso, lutando por
mim, quando eu mesmo não acreditava. Aquele dia que
você fugiu e foi até meu apartamento, eu percebi o
quanto você me amava.

Natasha o beijou, Gregory a fez deitar na cama e a


fitou com ternura nos olhos.

— Agora você vai poder estudar. Eu vou poder


investir em você.
Natasha se sentou na cama.

— E deixar você viajando sozinho? Não Gregory, eu


me casei com você para tê-lo ao meu lado. Eu vou te
acompanhar meu amor, onde você for eu estarei lá,
aplaudindo você.

O queixo dele começou a tremer e os olhos se


turvaram de emoção. Segurou-lhe a mão e levou-a aos
lábios para um beijo suave.

— Natasha. Meu Deus! Era tudo que eu queria ouvir de


você, mas tive medo de impor-lhe isso.

— Eu te amo Gregory. Independente do seu sucesso, eu


sempre me orgulhei de você. Para mim, você sempre foi
alguém...

Gregory e Natasha se uniram em um beijo, cheio de


promessas, um beijo apaixonado...

No dia seguinte Gregory foi comprar o jornal. Nervoso


subiu as escadas e entrou no apartamento. Natasha o
aguardava, eles leriam juntos os que os críticos musicais
acharam.

Gregory estava tão trêmulo que Natasha tirou o jornal


das mãos dele. Logo achou várias fotos dele: uma ao
piano, outra sozinho, quando dava entrevistas, com ela, e
ele abraçado a Sabrina e ao Maestro.
Natasha trêmula leu para ele.

Gregory Thonson, um novo achado para o tesouro


musical. Com seu incrível desempenho, deixou o
público extasiado ontem no Teatro Municipal, sob a
Regência do Maestro Wagner Tizzo.

Gregory Thonson também surpreendeu ao tocar com


a cantora lírica Sabrina Glen, fazendo um lindo show,
que deixou o público encantado pelo espetáculo.

Gregory Thonson é um novo nome que se agregará ao


dos maiores pianistas de todos os tempos.

Quando ela finalizou, Gregory estava pálido e disse:

— Meu Deus! Então eu consegui...

Natasha ficou emocionada com a modéstia dele. Ela


pegou sua cabeça com as mãos e o fez olhar para ela.

— Você ainda tinha dúvida?

Gregory assentiu emocionado.

— Gregory. Acredite em você! Eu quando peguei esse


jornal para ler, só constatei o que eu já sabia. E se por
acaso você não conseguisse. Quero que saiba que meu
amor por você não teria se abalado, jamais vou deixar de
te amar.

Gregory a abraçou e chorou em seus braços. Natasha o


abraçou feliz, pois sabia que um passado sofrido na vida
do marido tinha ficado para trás, e ele ia aprender a se
valorizar e entender que seu valor era por ele ser ele
mesmo...
Epílogo

Cinco meses depois...

No dia seguinte Natasha ouviu o som da campainha.


Como não esperava ninguém achou estranho. Gregory
ainda dormia, ele estava exausto, pois ontem passou o dia
ensaiando. Eles já haviam se mudado para um
apartamento mais espaçoso e comprado móveis novos e
agora suas roupas cabiam nos armários e a cozinha
podiam se movimentar juntos.

Natasha quando olhou o olho mágico ficou surpresa de


ver seu pai. Abriu porta e afastou o corpo. Arnold a fitou
com um meio sorriso e ficou sem ação na porta.

— Entre papai.

Arnold então entrou e sentou-se no sofá.

— Você bebe alguma coisa?

— Não filha. Eu vim falar com você.

Natasha sentou-se ao lado do pai e reparou que ele


estava mais magro e abatido. Seu coração se apertou e ela
o fitou com preocupação.

— Quero primeiro dizer que estou feliz com o sucesso


de seu marido.

Natasha sorriu.

— Obrigada papai, mas com sucesso ou não eu o


amaria do mesmo jeito.

Arnold pegou as mãos dela e apertou-lhe os dedos.

— Mas isso me deu coragem para lhe falar que estamos


falidos.
Natasha o olhou sem entender. Ele então explicou.

— O estaleiro faliu.

Natasha ergueu as sobrancelhas surpresa. Nessa hora


Gregory apareceu na sala. Ele estava vestido com uma
calça jeans e camiseta e descalços.

— Desculpe-me. Não sabia que você estava com seu


pai, volto outra hora.

Gregory ia se afastar quando Arnold o chamou.

— Por favor, fique. O que vou falar com Natasha tem


muito haver com você.

Gregory o fitou por um instante e sentou-se ao lado da


esposa.

— Natasha e Gregory. Eu quero contar a vocês, o que


me levou a lutar contra o namoro de vocês.

Natasha fitou Gregory que estava incomodado com a


conversa. Arnold continuou.

— O estaleiro na época estava a ponto de falir. Eu


precisava injetar dinheiro para reerguê-lo. Fui atrás de
bancos, financeiras, mas não tive sucesso. Não tinha
nada para dar de garantias a eles, pois nossas casas já
estavam hipotecadas. Então surgiu Francisco, que
mostrou um grande interesse em você. O pai dele é um
banqueiro amigo meu, que sabia da minha situação e nem
ele quis se arriscar a me emprestar dinheiro. Francisco
então, por amor á você, me disse que investiria no
estaleiro, caso fosse meu genro. Eu o levei ao meu
escritório e conversei com ele. E ele então me garantiu
que te amava e que falava sério. Eu então fiz de tudo para
te unir a ele, minha esperança era que você se
apaixonasse por ele e ele nos tiraria do vermelho. Minha
preocupação, o tempo todo era com você. Eu e sua mãe já
vivemos o que tínhamos o que viver. Agora o que vier é
lucro. Mas você, sempre foi minha princesinha. E caso
você não quisesse se casar com ele, não me importaria de
perder o Estaleiro, mas queria ver você bem casada, por
isso às festas e a minha insistência em você conhecer
alguém do seu nível.

Natasha abraçou o pai chorando.

— Oh papai. Por que o senhor não se abriu comigo?


Se tivesse falado comigo, ia entender que eu não me
importo com status, dinheiro e posição social. Tudo que
eu quero é viver bem ao lado do homem que amo.

Arnold fitou o chão tristemente.

— Eu só percebi isso, quando você assinou aquele


contrato falso de que abriria mão de tudo.

— Era falso?

Arnold assentiu.

Natasha então lhe perguntou.

— E agora? O senhor vai ter que vender a nossa casa.

— Eu sei. Eu vou morar na casa de praia com sua


mãe. Ainda tenho um bom dinheiro guardado.

Natasha sorriu feliz para ele.

— Eu e Gregory passamos dias maravilhosos lá.

Arnold fitou então Gregory.

— Fiquei imensamente feliz com seu sucesso. E


mais, por ver minha filha feliz. Hoje, eu felizmente estou
mais tranqüilo. Agora posso descansar.

Arnold se levantou e disse para os dois.


— Vão me visitar na casa de praia. Será um prazer
para mim e sua mãe.

Natasha se levantou e o abraçou. Gregory deu um


grande abraço no sogro, mostrando nele uma alma
generosa, e disse em tom de promessa.

— Eu levarei Natasha.

Arnold emocionado se afastou e saiu do


apartamento deles, com a alma leve, constatando mais
uma vez que Natasha fez a boa escolha em se casar com
Gregory Thonson.

Natasha fechou a porta e fitou Gregory.

— Nada justifica o que meu pai te fez. Ele nos fez


sofrer muito. Por isso eu te admiro meu marido, pois você
o perdoou.

Natasha abraçou Gregory e ergueu o rosto. Gregory a


olhou apaixonadamente.

Natasha continuou. — Por isso eu te amo.

Natasha pensativa ainda a olhá-lo disse tristemente.

— Foi um golpe baixo, Francisco propor isso ao meu


pai, no fundo ele sabia que meu pai ia insistir no namoro.
Mas sei também, que quando ele viu que eu te amava ele
abriu mão de mim, e me aconselhou a procurar você. Na
época tinha medo do que meu pai pudesse fazer contra
você. Mas ele me disse que você tinha direito a escolha. E
Foi o que fiz te dei uma escolha, e você escolheu lutar por
mim.

— Natasha, quem mais lutou foi você. Eu não fiz


nada. Você mostrou para mim que o amor não tem
barreiras, que o amor não tem limites...
— Todo dia, antes de sair para trabalhar, naquele
apartamento, eu agradecia a Deus por você estar ainda ao
meu lado, mesmo diante de tanta pobreza que nos
cercava. Parecia um milagre te ver todos os dias, como se
eu recebesse um presente dos céus. E a cada manhã e eu
me sentia abençoado.

— Oh Gregory. A abençoada sou eu em ser tua


esposa...

O corpo de Natasha colou-se ao dele, e as bocas se


entreabriram para o beijo apaixonado. Voltaram para
cama e amaram-se novamente, envolto em uma nuvem de
felicidade...

Fim

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