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1.

SISTEMAS DE DRENAGEM PLUVIAL

Introdução

Por definição Saneamento Básico é um serviço público que compreende os sistemas de


abastecimento d'água, de esgotos sanitários, de drenagem de águas pluviais e de coleta de
lixo. Estes são os serviços essenciais que, se regularmente bem executados, elevarão o nível
de saúde da população beneficiada, gerando maior expectativa de vida e
consequentemente, maior produtividade.

Os sistemas de drenagem são classificados de acordo com suas dimensões, em sistemas de


microdrenagem, também denominados de sistemas iniciais de drenagem, e de
macrodrenagem.

A microdrenagem inclui a coleta e afastamento das águas superficiais ou subterrâneas


através de pequenas e médias galerias, fazendo ainda parte do sistema todos os
componentes do projeto para que tal ocorra.

A macrodrenagem inclui, além da microdrenagem, as galerias de grande porte (D > 1,5m) e


os corpos receptores tais como canais e rios canalizados.

Terminologia Básica

Um sistema de drenagem de águas pluviais é composto de uma série de unidades e


dispositivos hidráulicos para os quais existe uma terminologia própria e cujos elementos
mais freqüentes são conceituados a seguir.

Greide - é uma linha do perfil correspondente ao eixo longitudinal da superfície livre da via
pública.

Guia - também conhecida como meio-fio, é a faixa longitudinal de separação do passeio com
o leito viário, constituindo-se geralmente de peças de granito argamassadas.

Sarjeta - é o canal longitudinal, em geral triangular, situado entre a guia e a pista de


rolamento, destinado a coletar e conduzir as águas de escoamento superficial até os pontos
de coleta (Figura 1.1).

Sarjetões - canal de seção triangular situado nos pontos baixos ou nos encontros dos leitos
viários das vias públicas, destinados a conectar sarjetas ou encaminhar efluentes destas para
os pontos de coleta (Figura 1.2).
Bocas coletoras - também denominadas de bocas de lobo, são estruturas hidráulicas para
captação das águas superficiais transportadas pelas sarjetas e sarjetões; em geral situam-se
sob o passeio ou sob a sarjeta (Figura 1.3).

Figura 1.1 - Modelo de sarjeta

Figura 1.2 - Sarjetão típico em paralelepípedos

Galerias - são condutos destinados ao transporte das águas captadas nas bocas coletoras até
os pontos de lançamento; tecnicamente denominada de galerias tendo em vista serem
construídas com diâmetro mínimo de 400mm.

Condutos de ligação - também denominados de tubulações de ligação, são destinados ao


transporte da água coletada nas bocas coletoras até às galerias pluviais (Figura 1.3).

Poços de visita - são câmaras visitáveis situadas em pontos previamente determinados,


destinadas a permitir a inspeção e limpeza dos condutos subterrâneos (Figura 1.4).

Trecho de galeria - é a parte da galeria situada entre dois poços de visita consecutivos.

Caixas de ligação - também denominadas de caixas mortas, são caixas de alvenaria


subterrâneas não visitáveis, com finalidade de reunir condutos de ligação ou estes à galeria
(Figura 1.5).

Bacias de drenagem - é a área contribuinte para a seção em estudo.


Tempo de concentração - é o menor tempo necessário para que toda a bacia de drenagem
possa contribuir para a secção em estudo, durante uma precipitação torrencial.

Tempo de recorrência - intervalo de tempo onde determinada chuva de projeto é igualada


ou suplantada estatisticamente; também conhecido como período de recorrência ou de
retorno.

Figura 1.3 - Boca coletora sob passeio

Figura 1.4 - Poço de visita típico

Chuva intensa - precipitação com período de retorno de 100 anos.

Chuva frequente - precipitação com período de retorno de até 10 anos.

Chuva torrencial - precipitação uniforme sobre toda a bacia.


Pluviômetro - instrumento que mede a totalidade da precipitação pela leitura do líquido
acumulado em um recipiente graduado - proveta.

Pluviógrafo - instrumento que registra em papel milimetrado especialmente preparado, a


evolução da quantidade de água que cai ao longo da precipitação, ou seja, mede a
intensidade de chuva.

Objetivos

Os sistemas de drenagem urbana são essencialmente sistemas preventivos de inundações,


principalmente nas áreas mais baixas das comunidades sujeitas a alagamentos ou marginais
de cursos naturais de água. É evidente que no campo da drenagem, os problemas agravam-
se em função da urbanização desordenada.

Quando um sistema de drenagem não é considerado desde o início da formação do


planejamento urbano, é bastante provável que esse sistema, ao ser projetado, revele-se, ao
mesmo tempo, de alto custo e deficiente. É conveniente, para a comunidade, que a área
urbana seja planejada de forma integrada. Se existirem planos regionais, estaduais ou
federais, é interessante a perfeita compatibilidade entre o plano de desenvolvimento
urbano e esses planos.

Todo plano urbanístico de expansão deve conter em seu bojo um plano de drenagem
urbana, visando delimitar as áreas mais baixas potencialmente inundáveis a fim de
diagnosticar a viabilidade ou não da ocupação destas áreas de ponto de vista de expansão
dos serviços públicos.
Um adequado sistema de drenagem, quer de águas superficiais ou subterrâneas, onde esta
drenagem for viável, proporcionará uma série de benefícios, tais como:

 Desenvolvimento do sistema viário;

 Redução de gastos com manutenção das vias públicas;

 Valorização das propriedades existentes na área beneficiada;

 Escoamento rápido das águas superficiais, facilitando o tráfego por ocasião das
precipitações;

 Eliminação da presença de águas estagnadas e lamaçais;

 Rebaixamento do lençol freático;

 Recuperação de áreas alagadas ou alagáveis;

 Segurança e conforto para a população habitante ou transeunte pela área de projeto.

Em termos genéricos, o sistema da microdrenagem faz-se necessário para criar condições


razoáveis de circulação de veículos e pedestres numa área urbana, por ocasião de ocorrência
de chuvas freqüentes, sendo conveniente verificar-se o comportamento do sistema para
chuvas mais intensas, considerando-se os possíveis danos às propriedades e os riscos de
perdas humanas por ocasião de temporais mais fortes.

Drenagem no Brasil

No Brasil, institucionalmente, a infra-estrutura de microdrenagem é reconhecida como da


competência dos governos municipais que devem ter total responsabilidade para definir as
ações no setor, ampliando-se esta competência em direção aos governos estaduais, na
medida em que crescem de relevância as questões de macrodrenagem, cuja referência
fundamental para o planejamento são as bacias hidrográficas. Isto é, deve ser de
competência da Administração Municipal - a Prefeitura, os serviços de infra-estrutura
urbana básica relativos à microdrenagem e serviços correlatos - incluindo-se terraplenagens,
guias, sarjetas, galerias de águas pluviais, pavimentações e obras de contenção de encostas,
para minimização de risco à ocupação urbana.

Quanto a sua extensão não se dispõe de dados confiáveis em relação à drenagem urbana.
Estima-se que a cobertura deste serviço - em especial a microdrenagem - atinja patamar
superior ao da coleta de esgotos sanitários.

Quanto à macrodrenagem, são conhecidas as situações críticas ocasionadas por cheias


urbanas, agravadas pelo crescimento desordenado das cidades, em especial, a ocupação de
várzeas e fundos de vales. De um modo geral nas cidades brasileiras, a infra-estrutura
pública em relação a drenagem, como em outros serviços básicos, apresenta-se como
insuficiente.

2. CHUVAS

2.1 Introdução

As águas de drenagem superficial são fundamentalmente originárias de precipitações


pluviométricas cujos possíveis transtornos que seriam provocados por estes escoamentos,
devem ser neutralizados pelos sistemas de drenagem pluviais ou esgotos pluviais.

As precipitações pluviométricas podem ocorrer tanto da forma mais comum conhecida


como chuva, como em formas mais moderadas como neblinas, garoas ou geadas, ou mais
violentas como acontece nos furacões, precipitações de granizo, nevascas, etc. No entanto
nas precipitações diferentes das chuvas comuns as providências coletivas ou públicas são de
natureza específica para cada caso.

2.2. Tipos de Chuva

São três os tipos de chuvas para a Hidrologia: chuvas convectivas, chuvas orográficas e
chuvas frontais.

As convectivas são precipitações formadas pela ascensão das massas de ar quente da


superfície, carregadas de vapor d'água. Ao subir o ar sofre resfriamento provocando a
condensação do vapor de água presente e, consequentemente, a precipitação. São
características deste tipo de precipitação a curta duração, alta intensidade, frequentes
descargas elétricas e abrangência de pequenas áreas.

As chuvas orográficas são normalmente provocadas pelo deslocamento de camadas de ar


úmido para cima devido a existência de elevação natural do terreno por longas extensões.
Caracterizam-se pela longa duração e baixa intensidade, abrangendo grandes áreas por
várias horas continuamente e sem descargas elétricas.

As chuvas frontais originam-se do deslocamento de frentes frias ou quentes contra frentes


contrárias termicamente, são mais fortes que as orográficas abrangendo, porém, como
aquelas, grandes áreas, precipitando-se intermitentemente com breves intervalos de
estiagem e com presença de violentas descargas elétricas.

2.3. Medição de Chuva

Dois aparelhos são comumente empregados nas medições das chuvas. São eles o
pluviômetro e o pluviógrafo. O pluviômetro é mais utilizado devido a simplicidade de suas
instalações e operação, sendo facilmente encontrados, principalmente nas sedes municipais.
No pluviômetro é lido a altura total de água precipitada, ou seja, a lâmina acumulada
durante a precipitação, sendo que seus registros são sempre fornecidos em milímetros por
dia ou em milímetros por chuva, com anotação da mesma dependendo da capacidade e do
capricho do operador (Figura 2.1).

O pluviógrafo é mais encontrado nas estações meteorológicas propriamente ditas e registra


a intensidade de precipitação, ou seja, a variação da altura de chuva com o tempo. Este
aparelho registra em uma fita de papel em modelo apropriado, simultaneamente, a
quantidade e a duração da precipitação. A sua operação mais complicada e dispendiosa e o
próprio custo de aquisição do aparelho, tornam seu uso restrito, embora seus resultados
sejam bem mais importantes hidrologicamente (Figura 2.2).

Figura 2.1 - Instalação de um pluviômetro


Figura 2.2(a) - Pluviógrafo: esquema de funcionamento

Para projetos de galerias pluviais devem ser conhecidos as variações da altura de chuva com
o tempo. Isto só é possível através de medições via pluviógrafos.

Um pluviógrafo é constituído de duas unidades, a saber: elemento receptor e elemento


registrador. O receptor é semelhante ao de um pluviômetro comum diferindo, apenas,
quanto a superfície receptora que é de 200cm2, ou seja, a metade da área do pluviômetro.
O elemento registrador consta de um cilindro oco, dentro do qual fica instalado um
equipamento de relojoaria que faz girar um pequeno carretel situado sob o fundo do
cilindro. Este cilindro gira uma volta completa em 24 horas, o que permite a mudança diária
do papel com os registros de precipitações ocorridos, bem como o arquivamento contínuo
para possíveis consultas futuras dos dados registrados. Entre os vários modelos conhecidos,
o mais empregado no Brasil é o de Hellmann-Fuess (Figura 2.3).
Figura 2.2(b) - Pluviógrafo: esquema de instalação

Figura 2.3 - Esquema do pluviógrafo de Hellmann-Fuess

Durante uma precipitação sobre o receptor a água escorre por um funil metálico 2, até o
cilindro de acumulação 3. Neste cilindro encontra-se instalado um flutuador 4 ligado por
uma haste vertical 6 a um suporte horizontal 9, que por sua vez possui em sua extremidade
uma pena 8 que imprime sobre o papel do cilindro de gravação 5 a altura acumulada de
água no cilindro de acumulação 3. Deste último, também parte um sifão 11 que servirá para
esgotamento da água quando esta atingir uma altura máxima, despejando o volume
sifonado em um vasilhame 10 localizado na parte inferior da instalação. Essa altura máxima
é função da capacidade de registro vertical no papel, ou seja, quando a pena atinge a
margem limite do papel, imediatamente ocorre o esgotamento, possibilitando que a pena
volte a margem inicial continuando o registro acumulado.

2.4. Intensidade de Chuva

É a quantidade de chuva por unidade tempo para um período de recorrência e duração


previstos. Sua determinação, em geral, é feita através de análise de curvas que relacionam
intensidade/duração/frequência, elaboradas a partir de dados pluviográficos anotados ao
longo de vários anos de observações que antecedem ao período de determinação de cada
chuva.

Para localidades onde ainda não foi definida ou estudada a relação citada, o procedimento
prático é adotar-se, com as devidas reservas, equações já determinadas para regiões
similares climatologicamente.

2.5. Equações de Chuva

2.5.1. Expressões Típicas

As equações de chuva, que são expressões empíricas das curvas


intensidade/duração/frequência, apresentam-se normalmente nas seguintes formas:

1) i = a / ( t + b ),

2) i = c / tm,

3) i = a .T n/ ( t + b )r,

onde
i - intensidade média em milímetros por minutos ou milímetros por hora;

t - tempo de duração da chuva em minutos;

T - tempo de recorrência em anos;

a, b, c, d, e, m, n e r - parâmetros definidos a partir das observações básicas para elaboração


da equação.

2.5.2. Exemplos Brasileiros

a) Cidade de São Paulo (Engos. A. G. Occhipintt e P. M. Santos)


- para duração de até 60 min

i = A/(t + 15)r para A = 27,96.T 0,112 e r = 0,86T -0,0114,

i - mm/min e t - min

- para durações superiores

i = 42,23.T 0,15 /t 0,82, i - mm/h e t - min;

b) Cidade do Rio de Janeiro (Engº Ulisses M. A. Alcântara)

i = 1239.T 0,15/(t+20) 0,74 , i - mm/h;

c) Curitiba (Prof. P. V. Parigot de Souza)

i = 99,154.T 0,217/(t+26) 1,15, i - mm/min;

d) João Pessoa (Engº J. A. Souza)

i = 369,409.T 0,15/(t+5) 0,568, i - mm/h (Figura II.4);

e) Sertão Oriental Nordestino (Projeto Sertanejo - 19)

i = 3609,11.T 0,12/(t + 30) 0,95, i - mm/h (Figura 2.5);

f) Porto Alegre (Engº C. Meneses e R. S. Noronha)

i = a/(t+b), i - mm/min e com os valores de "a" e "b" variando com o tempo de recorrência
pretendido:

T (anos) a b
5 23 2,4
10 29 3,9
15 48 8,6
20 95 16,5

g) DNOS - Chuvas intensas no Brasil (Engº Otto Pfafstetter - 1957)

P = Tx [ at + b.log(1 + ct)] onde x = [ a + ( b /Tg )]

P - altura pluviométrica máxima em milímetros

T - período de retorno em anos

t - duração da chuva em horas

b - valor em função da duração da chuva


a , b , g , a, b e c - valores constantes para cada posto de coleta de dados ( total de 98
postos) (Figura 2.6)

i = 369,409.T 0,15/(t+5) 0,568, i - mm/h

Figura 2.4 - Equação para a cidade de João Pessoa (Engº J. A. Souza)


Figura 2.5 - Equação de chuva para o Sertão Oriental Nordestino (Projeto Sertanejo - 1978)
Figura 2.6 - DNOS - Curva para a cidade de João Pessoa, Paraíba (Chuvas intensas no Brasil
- Engº Otto Pfafstetter - 1957)
3. CHUVAS

3.1. Generalidades

Denomina-se deflúvio superficial direto o volume de água que escoa da superfície de uma
determinada área devido a ocorrência de uma chuva torrencial sobre aquela área. A
determinação precisa deste volume de água acarretará, consequentemente, condições para
que sejam projetadas obras dimensionadas adequadamente, alcançando-se os objetivos
pretendidos com a implantação de qualquer sistema de drenagem indicado para a área. Para
determinação desse volume, vários métodos são conhecidos, os quais podem ser
classificados nos grupos abaixo:

a) Medições diretas;

b) Processos comparativos;

c) Métodos analíticos;

d) Fórmulas empíricas.

As medições diretas e processos comparativos restringem-se mais para determinações de


vazões em cursos de água perenes tais como córregos, pequenos canais, etc, ficando
praticamente sem utilização em projetos de micro-drenagem em geral. As fórmulas
empíricas são resultantes de equacionamento de um grande número de observações sendo,
por isso, bastante confiáveis, mas de utilização restrita a localidade de origem das
observações ou regiões similares.

Procedimentos mais frequentemente empregados, tanto para obras de micro-drenagem


como para de macro-drenagem, são os de natureza analítica, visto que trazem na sua
definição estudos matemáticos/empíricos que promovem maior credibilidade aos seus
resultados. Diante do exposto os métodos analíticos é que serão objeto de estudos a seguir.

3. 2. Métodos Analíticos

Como métodos analíticos são conhecidos os três seguintes: Método Racional, Método do
Hidrograma Unitário e a Análise Estatística.

Para obras de micro-drenagem e método mais empregado em todo o mundo ocidental é o


Método Racional, por ser o de mais fácil manipulação, mas, devido a sua natureza
simplificada da tradução do fenômeno, não é recomendável para o cálculo de contribuições
de bacias com áreas superiores a 1,0 km2.
Para bacias de drenagem com área superior a 1,0 km2 justifica-se uma análise mais acurada,
pois a simplificação dos cálculos poderá acarretar obras super ou subdimensionadas do
ponto de vista hidráulico. Recomenda-se que para obras de drenagem de áreas de
contribuição superiores a 100 hectares seja utilizado o Hidrograma Unitário Sintético, desde
que a elaboração do mesmo seja baseada em dados obtidos através de análises da área em
estudo.

A Análise Estatística é recomendada para cursos de águas de maior porte, onde a área de
contribuição seja superior a 20 km², servindo essencialmente para previsão dos volumes de
cheias. A limitação do método está na exigência de um grande número de observações bem
como na sua alteração presente ou futura das características da área contribuinte, pois os
dados obtidos anteriormente tornar-se-iam obsoletos.

Sendo assim conclui-se que o Método Racional deva ser objeto de estudo mais detalhado a
seguir, por ser este o indicado para projetos de micro-drenagem em geral.

3.3. Método Racional

3.3.1. Aplicação

Originário da literatura técnica norte-americana (Emil Kuichling - 1890) o Método Racional


traz resultados bastante aceitáveis para o estudo de pequenas bacias (áreas com até 100
hectares), de conformação comum, tendo em vista a sua simplicidade de operação bem
como da inexistência de um método de melhor confiabilidade para situações desta natureza.

Menores erros funcionais advirão da maior acuidade na determinação dos coeficientes de


escoamento superficial e dos demais parâmetros necessários para determinação das vazões
que influirão diretamente nas dimensões das obras do sistema a ser implantado.

3.3.2. Fórmula

O Método Racional relaciona axiomaticamente a precipitação com o deflúvio, considerando


as principais características da bacia, tais como área, permeabilidade, forma, declividade
média, etc, sendo a vazão de dimensionamento calculada pela seguinte expressão:

Q = 166,67. C. i. A,

onde:

Q - deflúvio superficial direto em litros por segundo;

C - coeficiente de escoamento superficial;

i - intensidade média de chuva para a precipitação ocorrida durante o tempo de


concentração da bacia em estudo, em milímetro por minuto;

A - área da bacia de contribuição em hectares.


O método presume como conceito básico, portanto, que a contribuição máxima ocorrerá
quando toda a bacia de montante estiver contribuindo para a secção em estudo, implicando
que o deflúvio seja decorrente de uma precipitação média de duração igual ao tempo de
concentração da bacia e que esta é uma parcela da citada precipitação.

3.3.3. Limitações

O método não leva em consideração que as condições de permeabilidade do terreno,


notadamente nos não pavimentados, variam durante a precipitação provocando,
frequentemente, subdimensionamento das galerias de montante em seus trechos iniciais.

Não considera também o retardamento natural do escoamento cujo fenômeno acarreta


alteração do pico de cheia, sendo esta a principal razão da limitação do método para bacias
maiores. No caso ter-se-iam obras superdimensionadas para escoamento das vazões finais
de bacias maiores.

Outra consideração que provoca restrições é o fato de considerar constante a intensidade de


chuva de projeto tanto no tempo como no espaço, ou seja, admite uma precipitação
uniforme em toda a área de contribuição, implicando, na prática, em subdimensionamento
dos trechos de jusante.

Admite também que o binômio chuva-deflúvio é função de dois fatores independentes,


como as condições climáticas para a chuva e as fisiográficas para cálculo do deflúvio, o que
foi desmentido em estudos posteriores aos de Kuichling, que comprovaram a influência
recíproca entre os dois fatores.

Do ponto de vista analítico, ainda se pode comentar que o método, embora tenha como
equação característica uma expressão racional, não pode ser considerado efetivamente
como tal, visto que no cálculo são empregados coeficientes eminentemente empíricos.

Concluindo tem-se que a experiência mostrou que o emprego do método deve-se limitar a
obras de drenagem onde o sistema de galerias não coleta em um só conduto vazões
provenientes de áreas superiores a 100 ha. Nestes termos, o método racional apresenta-se
como bastante razoável para o cálculo de sistemas de microdrenagem superficial, fato este
comprovado, ao longo dos anos, após sua criação.

3.3.4. Tempo de Concentração

Conceitua-se tempo de concentração como o espaço de tempo decorrido desde o início da


precipitação torrencial sobre a bacia até o instante em que toda esta bacia passa a contribuir
para o escoamento na secção de jusante da mesma. Em um sistema de galerias corresponde
a duas parcelas distintas, sendo a primeira denominada de "tempo de entrada", ou seja,
tempo necessário para que as contribuições superficiais atinjam a secção inicial de projeto,
enquanto que a segunda corresponde ao tempo gasto pelo escoamento através dos
condutos, a partir do instante em que toda a bacia passa a contribuir para a secção em
estudo. Esta parcela é denominada de "tempo de percurso".

O tempo de percurso, como o próprio conceito mostra, tem cálculo puramente hidráulico,
visto que o mesmo é função das velocidades nos trechos de montante, enquanto que o
tempo de entrada depende essencialmente da conformação superficial da bacia, variando
inversamente com a intensidade de chuva. Deve-se observar também que o escoamento
superficial torna-se mais veloz a medida que se aproxima dos pontos de coleta ou em
superfícies impermeabilizadas.

Frequentemente o tempo de entrada, embora de determinação difícil, tem valor entre 10 e


30 minutos. Na literatura especializada também são encontradas figuras e ábacos para
determinação desse tempo (Figura 3.1).

Figura 3.1 - Ábaco para determinação do tempo de concentração


3.3.5. Intensidade Média das Precipitações

No dimensionamento de sistemas de drenagem define-se intensidade de chuva como a


quantidade de água caída na unidade de tempo, para uma precipitação com determinado
período de retorno e com duração igual ao tempo de concentração.

No caso do dimensionamento de galerias a intensidade de chuva é determinada a partir da


equação de chuva adotada, onde a duração corresponde ao tempo de concentração e a
intensidade a obter-se será a média máxima.

3.3.6. Período de Retorno

Os sistemas de microdrenagem, em geral, são dimensionados para frequências de descargas


de 2, 5 ou 10 anos, de acordo com as características da ocupação da área que se quer
beneficiar. A seguir são apresentados alguns valores normalmente utilizados:

Ocupação da área Período de Retorno (em anos)


- residencial 2
- comercial 05 a 10
- terminais rodoviários 05 a 10
- aeroportos 02 a 05

3.3.7. Coeficiente de Deflúvio Superficial Direto

Este coeficiente exprime a relação entre o volume de escoamento livre superficial e o total
precipitado. É por definição a grandeza, no método racional, que requer maior acuidade na
sua determinação, tendo em vista o grande número de variáveis que influem no volume
escoado, tais como infiltração, armazenamento, evaporação, detenção, etc, tornando
necessariamente, uma adoção empírica do valor adequado. A Tabela 3.1 relaciona diversos
tipos de superfícies de escoamento com valores de coeficiente "C" respectivos, para
períodos de retorno de até 10 anos.

Na prática ocorre frequentemente ser a área contribuinte composta de várias "naturezas"


de superfície, resultando assim um coeficiente ponderado em função do percentual
correspondente a cada tipo de revestimento.

Quando o cálculo referir-se a chuvas com maior período de recorrência, o coeficiente


estimado deverá ser multiplicado por um fator chamado coeficiente de frequência, Cf ³ 1,0,
mas de modo que o produto C.Cf seja menor ou igual a unidade, isto é, C.Cf ³ 1,0. O
coeficiente Cf tem os seguintes valores:
Período de Retorno (anos) Coeficiente de Frequência - Cf
2 a 10 1
25 1,1
50 1,2
100 1,25

Assim a fórmula racional assume, para às unidades citadas em 3.3.2, a seguinte expressão

Q = 166,67. C.Cf . i. A.

Tabela 3.1 - Coeficiente de Deflúvio

a) de acordo com o revestimento da superfície

Natureza da Superfície Coeficiente "C"


- pavimentadas com concreto 0,80 a 0,95
- asfaltadas em bom estado 0,85 a 0,95
- asfaltadas e má conservadas 0,70 a 0,85
- pavimentadas com paralelepípedos rejuntados 0,75 a 0,85
- pavimentadas com paralelepípedos não rejuntados 0,50 a 0,70
- pavimentadas com pedras irregulares e sem rejuntamento 0,40 a 0,50
- macadamizadas 0,25 a 0,60
- encascalhadas 0,15 a 0,30
- passeios públicos (calçadas ) 0,75 a 0,85
- telhados 0,75 a 0,95
- terrenos livres e ajardinados
1) solos arenosos
I £ 2% 0,05 a 0,10
2% < I < 7% 0,10 a 0,15
I ³ 7% 0,15 a 0,20
2) solos pesados
I £ 2% 0,15 a 0,20
2% < I < 7% 0,20 a 0,25
I ³ 7% 0,25 a 0,30

b) de acordo com a ocupação da área

Natureza da Superfície Coeficiente "C"


- áreas centrais, densamente construídas, com ruas pavimentadas 0,70 a 0,90
- áreas adjacentes ao centro, com ruas pavimentadas 0,50 a 0,70
- áreas residenciais com casas isoladas 0,25 a 0,50
- áreas suburbanas pouco edificadas 0,10 a 0,20
3.4. Exemplos

1) Um determinado trecho de galeria deverá receber e escoar o deflúvio superficial oriundo


de uma área de 2,50 ha, banhada por uma chuva intensa e com um coeficiente de
escoamento superficial igual a 0,40. Se o tempo de concentração previsto para o início do
trecho é de 16,6 minutos, calcular a vazão de jusante do mesmo sabendo-se que a equação
de chuva máxima local é dada pela expressão i = 1840/(t + 167,4), com i-mm/min e t-min.

Solução:

Q = 166,67 . C . i . A = 166,67 x 0,40 x (1840/16,6+167,4) x 2,5 = 1 667 l/s

Assim, Q = 1,67 m3/s.

2) Encontrar um coeficiente de escoamento adequado para uma área de pequena


inclinação, bem urbanizada, onde 22% corresponde a ruas asfaltadas e bem conservadas, 8%
de passeios cimentados, 36% de pátios ajardinados e 34% de telhados cerâmicos. Que setor
da área urbana parece ser este?

Solução:
C = 0,22 x 0,95 + 0,08 x 0,80 + 0,36 x 0,10 + 0,34 x 0,90 = 0,615
Assim, C = 0,62, o que equivale a área adjacente ao centro.

4. SARJETAS

4.1. Definição

São canais, em geral de seção transversal triangular, situados nas laterais das ruas, entre o
leito viário e os passeios para pedestres, destinados a coletar as águas de escoamento
superficial e transportá-las até às bocas coletoras. Limitadas verticalmente pela guia do
passeio, têm seu leito em concreto ou no mesmo material de revestimento da pista de
rolamento (Fig.4.1). Em vias públicas sem pavimentação é frequente a utilização de
paralelepípedos na confecção do leito das sarjetas, sendo neste caso, conhecidas como
linhas d'água.
Figura 4.1- Sarjeta triangular

4.2. Capacidade Teórica

Para o cálculo de sarjetas, projetistas brasileiros comumente utilizam a teoria de Manning,


onde

V = R2/3. I1/2. n-1.


A partir desta consideração, o formulário que segue indica as equações para o cálculo da
capacidade teórica de cada sarjeta, em função de sua seção típica.

4.2.1. Sarjeta em Canal Triangular

Definindo como

yo- altura máxima de água na guia,

wo - largura máxima do espelho d'água,

z - (= yo /wo) inverso da declividade transversal,

I - inclinação longitudinal da sarjeta (do greide da rua),

n - coeficiente de rugosidade de Manning,

Q - (= V/A)equação da continuidade,

R - raio hidráulico,

então, pela Figura 4.2: dQ = v.dA,

Figura 4.2 - Elementos da dedução da capacidade de uma sarjeta em canal triangular


onde,

R = y.dx / dx = y,

dA = y.dx,

V = R 2/3. I1/2/n = y 2/3. I 1/2/n

e dx/dy = z ou dx z.dy,

logo,

dQ = (y2/3. I1/2/n). y.dx

ou

dQ = (z. y5/3. I1/2/n ). dy

Integrando a equação de dQ / dy para "y" variando de zero a yo, temos

de onde

resultando

com Qo em m³/s e yo em metros. Para Qo em l/s a equação toma a forma

Qo= 375.I 1 /2. (z/n). yo 8/3


onde Qoé a vazão máxima teórica transportada por uma sarjeta com declividade longitudinal
"I" e transversal "1/z".

4.2.2. Sarjeta Parcialmente Cheia (Figura 4.3)

A vazão transportada Q (< Qo) é calculada aplicando-se a fórmula anterior substituindo-se


"yo" por "y" ( y < yo ).
Figura 4.3 - Sarjeta parcialmente cheia

4.2.3. Porção de Sarjeta (Figura 4.4)

Situação frequente em ruas onde sobre a pista de rolamento, em geral paralelepípedos, é


lançado um outro tipo de revestimento, normalmente asfáltico. Neste caso calcula-se o valor
para sarjeta original e subtrai-se a parcela correspondente a ocupação da seção pelo novo
pavimento, resultando:

Q1 = Qo - Q', ou Q1 = 0,375.I 1/2.(z/n).(yo8/3 - y' 8/3)

se o extremo do novo pavimento interceptar o espelho da sarjeta original.

Figura 4.4 - Porção de sarjeta

4.2.4. Sarjetas com Seção Composta (Figura 4.5)

Calcula-se como se fossem duas sarjetas independentes e da soma desse cálculo subtrai-se a
vazão correspondente a que escoaria pela parte da seção que lhes é comum, ou seja,

Q = Qa+ Qb - Q aÇ b

Figura 4.5 - Sarjetas com seção composta


4.2.5. Nomograma de Izzard

É uma figura para o cálculo de sarjetas ou canais triangulares apresentada em 1946 na


Publicação Procedings Highway Research Board pelo Engº Izzard, do Bureau of Public Roads
Washington. EE.UU. (Figura 4.6).

Figura 4.6 - Nomograma de Izzard para o cálculo de sarjetas ou canais triangulares


4.3. Descarga Admissível

No dimensionamento das sarjetas deve-se considerar uma certa margem de segurança na


sua capacidade, tendo em vista problemas funcionais que tanto podem reduzir seu poder de
escoamento como provocar danos materiais com velocidades excessivas. Nas declividades
inferiores é frequente o fenômeno do assoreamento e obstruções parciais através de
sedimentação de areia e recolhimento de pequenas pedras reduzindo, assim, a capacidade
de escoamento. Nas declividades maiores a limitação da velocidade de escoamento torna-se
um fator necessário para a devida proteção aos pedestres e ao próprio pavimento.

Essa margem de segurança é conseguida pelo emprego do "fator de redução F", o qual pode
ser obtido pela leitura da Figura 4.7. Neste caso, quando se calcula a capacidade máxima de
projeto a expressão deduzida em 4.2.1 assuma o seguinte aspecto:

Qadm = F.Qo = F. [0,375.I 1/2. (z/n). yo8/3].

4.4. Valores dos Coeficientes "n" de Manning para Sarjetas

Os valores de "n" são estimados em função de material e do acabamento superficial das


sarjetas, como apresentado da Tabela 4.1.

Tabela 4.1. Coeficientes de Rugosidade de Manning

Superfície "n"
- sarjeta em concreto com bom acabamento 0,012
- revestimento de asfalto
a) textura lisa 0,013
b) textura áspera 0,016
- revestimento em argamassa de cimento
a) acabamento com espalhadeira 0,014
b) acabamento manual alisado 0,016
c) acabamento manual áspero 0,02
-revestimento com paralelepípedos argamassados 0,02
-sarjetas com pequenas declividades longitudinais (até 2% )
sujeitas a assoreamento "n" correspondente a superfície + 0,002 n
a 0,005

4.5. Informes Gerais para Projetos

Além da recomendação de que as entradas de veículos devam ficar para dentro da guia, uma
série de recomendações práticas devem ser observadas na definição dos perfis longitudinais
e transversais das pistas de rolamento, para escoamento superficial e a sua condução e
captação sejam facilitadas. A Tabela IV.2 expõe uma série de valores limites e usuais que
devem ser observados quando da elaboração de projetos de vias públicas.

Figura 4.7 - Fator de redução F

Tabela 4.2. Valores para Projetos de Ruas e Avenidas

Dados Característicos Usual Máximo Mínimo


- declividade longitudinal do pavimento (em %) - - 0,40
- declividade transversal do pavimento (em %) 2,00 2,50 1,00
- declividade transversal da sarjeta (em %) 5,00 10,00 2,00
- coeficiente de Manning 0,016 0,025 0,012
- altura da guia (em m) 0,15 0,20 0,10
- altura da água na guia (em m) - 0,13 -
- velocidade de escoamento na sarjeta (em m/s) - 3 0,75
- largura da sarjeta (em m)
a) sem estacionamento 0,60 - -
b) com estacionamento 0,90 - -
4.6. Exemplos

1) Determinar a vazão máxima teórica na extremidade de jusante de uma sarjeta situada em


uma área com as seguintes características: A = 2,0 ha, i = 700/t 2/3 c/ "i" em mm/h e "t" em
min, C = 0,40 e tc = 30 min. São dados da sarjeta: I = 0,01 m/m, z = 16 e n = 0,016.

Solução:
Sendo Q = C.i.A para "i" em l/s.ha, a equação de "i" para estas unidades aparecerá
multiplicada pelo fator 2,78 e assim

Qo = 0,40 x (700 x 2,78 / 362/3) x 2,0 = 143 l/s .

2) No exemplo anterior verificar a lâmina teórica de água junto a guia.

Solução:
yo= {143 / [ 375 x (16/0,016) x 0,011/2]}3/8 = 0,12m, que por ser menor que 13cm é
teoricamente aceitável !

3) No mesmo exemplo verificar a velocidade de escoamento.


Solução:
vo= Q/A , onde A = yo.wo/2 = yo.(z.yo)/2 onde vo= 0,143/(0,122.16/2) = 1,24 m/s.
Como vo é menor que 3,0 m/s, isto implica que quanto a velocidade não haverá
teoricamente problemas!

4) Calcular a capacidade máxima admissível da sarjeta do problema 6.1.


Solução:
Qadm = F.Qo= F. 0,375.I1/2. z/n. yo8/3

Sendo yo = 13cm, I = 0,01 m/m, z = 16 e n = 0,016 tem-se, pela Figura IV.7, F = 0,80, então

Qadm = 0,80 x [ 375 x (16/0,016) x 0,011/2 x 0,138/3] = 130 l/s.

5. BOCAS COLETORAS

5.1. Definição

É uma estrutura hidráulica destinada a interceptar as águas pluviais que escoam pela
sarjetas para, em seguida, encaminhá-las às canalizações subterrâneas. São também
frequentemente denominadas de bocas-de-lobo.
5.2. Classificação

Dependendo da estrutura, localização ou do funcionamento, as bocas coletoras recebem


várias qualificações agrupadas como segue:

a) quanto a estrutura da abertura ou entrada:

 Simples ou lateral (Figura 5.1);

 Gradeadas com barras longitudinais, transversais ou mistas;

 Combinada;

 Múltipla.

b) quanto a localização ao longo das sarjetas

 Intermediárias;

 De cruzamentos;

 De pontos baixos.

c) quanto ao funcionamento

 Livre;

 Afogada.

Definição: chama-se de depressão um rebaixamento feito na sarjeta junto a entrada da boca


coletora, com a finalidade de aumentar a capacidade de captação desta.

Comentários:

a) quanto à localização

 as intermediárias são aquelas que situam-se em pontos ao longo das sarjetas onde a
capacidade destas atingem o limite máximo admissível;

 as de cruzamento situam-se imediatamente a montante das seções das sarjetas, nas


esquinas dos quarteirões, nascendo da necessidade de evitar o prolongamento do
escoamento pelo leito dos cruzamentos;

 as bocas coletoras de pontos baixos caracterizam-se por receberem contribuições por


dois lados, visto que situam-se em pontos onde há a inversão côncava da declividade
de rua, ou seja, na confluência de duas sarjetas de um mesmo lado da rua.
b) quanto ao funcionamento

 Dependendo da altura da água na sarjeta e da abertura da boca coletora denomina-


se de livre a que funciona como vertedor e de afogada a que funciona como orifício,
sendo estas mais frequentes em pontos baixos e, na maioria, com grades.

Figura 5.1 - Boca coletora simples ou lateral

5. 3. Escolha do Tipo de Boca Coletora

A indicação do tipo de bola coletora á de essencial importância para a eficiência da


drenagem das águas de superfície. Para que esta opção seja correta, deve-se analisar
diversos fatores físicos e hidráulicos, tais como ponto de localização, vazão de projeto,
declividade transversal e longitudinal da sarjeta e da rua, interferência no tráfego e
possibilidades de obstruções. A seguir são citadas, para cada tipo de boca coletora, as
situações em que melhor cada uma se adapta.

a) Boca coletora lateral (Figura 5.1)

 Pontos intermediários em sarjetas com pequena declividade longitudinal (I £ 5%);

 Presença de materiais obstrutivos nas sarjetas;

 Vias de tráfego intenso e rápido;


 Montante dos cruzamentos.

b) Boca coletora com grelha (Figura 5.2)

 Sarjetas com limitação de depressão;

 Inexistência de materiais obstrutivos;

 Em pontos intermediários em ruas com alta declividade longitudinal (I ³ 10%).

c) Combinada (Figura 5.3)

 Pontos baixos de ruas;

 Pontos intermediários da sarjeta com declividade média entre 5 e 10%;

 Presença de detritos.

d) Múltipla (Figura 5.4)

 Pontos baixos;

 Sarjetas com grandes vazões.

Figura 5.2 - Boca coletora com grelha

Figura 5.3 - Boca coletora combinada

Figura 5.4 - Boca coletora lateral múltipla


5.4. Dimensionamento Hidráulico

Como providência inicial no dimensionamento das bocas coletoras deve-se observar que as
de ponto baixo devem ser dimensionadas com uma folga adicional, considerando a
possibilidade de obstruções em bocas coletoras situadas à montante, caso existam, nas
sarjetas contribuintes.

Ainda se sua localização for em pontos onde não houver cruzamento de ruas a unidade
deverá captar obrigatoriamente 100% das vazões afluentes.

5.4.1. Boca Coletora Simples Intermediária e de Cruzamento

São bocas coletoras situadas sob passeios e com cobertura na guia, em geral dotadas de
depressão como mostrado a Figura 5.1. De posse da vazão de projeto a ser captada e da
lâmina de água junto à guia, procura-se uma vazão, por metro linear, para uma depressão
adequada, de modo que o comprimento da abertura não seja inferior a 0,60 m e nem
superior a 1,50 m.

 Método Hsiung-Li

Para bocas coletoras padrões com dimensões em função da depressão "a", conforme
mostrado na Figura 5.5, onde

com K = 0,23 se z = 12 e K = 0,20 se z = 24 e 48. O valor de "C" é determinado pela expressão

sendo "M" definido como,

com tgq = w/[(w/tgqo ) + a] e ,

onde w é a largura do rebaixamento.

Determina-se o valor de "E" através da equação


e "y" pela Figura 5.7 em função de E e Qo

5.4.2. Boca Coletora Intermediária e de Cruzamento com Grades e sem Depressão

Estudos realizados pelo Prof. Wen-Hsiung-Li, na Universidade Johns Hopkins, Baltimore,


E.U.A., indicaram para o cálculo das dimensões de ralo grelhado a equação:

L = 0,326 (z . I 1/2/n)3/4.[ Qo1/2(wo-w)/z ]1/2

onde, com a utilização da Figura 5.7, tem-se

L - extensão total da grade, em m;

z - inverso da declividade transversal;

I - declividade longitudinal, em m/m;

n - coeficiente de rugosidade de Manning;

Qo - vazão de projeto, em m³/s;

wo - largura do espelho d'água na sarjeta, em m;

w - largura horizontal da grade, em m.

Calculada a extensão pode-se agora verificar que tipo de gradeamento pode ou deve ser
utilizado. Para isto empregam-se as seguintes equações:

a) Lo = 4.vo.(yo/g)1/2, para barras longitudinais e

b) Lo' = 2.Lo, para barras transversais,

onde,

Lo - comprimento necessário para captar toda a vazão inicialmente sobre a grade


longitudinal;

Lo' - idem para grade transversal;

vo - velocidade média de aproximação da água na sarjeta;


g - aceleração de gravidade.

Figura 5.5 - Boca lateral com depressão "a"

Figura 5.6 - "y" em função de E e Qo


Figura 5.7 - Boca Coletora Intermediária e de Cruzamento com Grades e sem Depressão

A determinação do tipo de grade é feita através da seguintes comparações:

a) caso Lo seja menor que L pode-se empregar barras longitudinais e

b) se Lo' menor que L calculado, barras transversais também poderão ser empregadas na
construção da grade.

5.4.3. Boca Coletora de Pontos Baixos

Estas bocas podem ser calculadas para funcionamento afogadas ou mesmo que não o sejam,
poderão vir a funcionar como tal, contribuindo para isto tormentas excessivas ou
entupimentos de bocas coletoras a montante por motivos imprevistos no projeto.

5.4.3.1. Bocas laterais


Sendo

h - altura da abertura na guia ( yo + depressão ), em metros,

y - altura máxima da água na saída da sarjeta, em metros,

L - comprimento da abertura, em metros e

Q - vazão de projeto, em m³/s,

tem-se que
a) para cargas correspondentes a "y £ h", o funcionamento é tido como de vertedor e
dimensiona-se através da expressão

b) para cargas onde "y ³ 2h" o comportamento da entrada é de orifício e a expressão de


cálculo é

c) para a razão 1,0 < y/h < 2,0 o funcionamento da boca é indefinido cabendo ao projetista
avaliar o comportamento como vertedor ou como orifício afogado.

5.4.3.2. Bocas com grades


Sendo

Q - vazão de projeto a ser captada, em m3/s,

P - perímetro da área com abertura, em metros,

A - área total das aberturas, em m2 (Figura V.9),

y - altura da água sobre a grade, em metros e

e - espaçamento entre barras consecutivas ( máximo de 2,5 cm )

tem-se que

a) para cargas de até 12 cm, grade como vertedor,

b)para cargas iguais ou superiores a 42 cm, grades funcionando como orifício,

onde, em ambos os casos deve-se tomar um coeficiente de segurança igual a 2,00, ou seja,
uma folga sobre a capacidade teórica de uma vez mais.

c) se 12 < y < 42 cm, a situação é dita de transição entre vertedor e orifício ficando o
projetista com a opção de escolher e justificar a hipótese de cálculo que o mesmo julgar
mais adequada.
Figura 5.8 - Perímetro e Área de uma B.C. com grades

5.4.3.3. Bocas combinadas


Normalmente indicadas para captação de vazões em pontos baixos, as equações seriam as
indicadas no 5.4.3.2 para as situações similares, sem aplicação dos coeficientes de
segurança.

5.5 Espaçamento entre Bocas Coletoras Consecutivas

As bocas coletoras intermediárias são frequentes em quarteirões com fachadas extensas, ou


seja, onde os cruzamentos de ruas consecutivos encontram-se bastante afastados um do
outro.

Um critério racional é verificar a capacidade da sarjeta para, analiticamente, determinar-se a


necessidade ou não de bocas coletoras intermediárias. Há autores, no entanto, que
preferem limitar o espaçamento entre dois pares consecutivos usando como critério a área
da rua e outros a distância entre eles. Recomendam, por exemplo, um par de bocas
coletoras a cada 500 m2 de rua e outros a cada 40 m de eixo.

De um modo geral a frequência de pares de bocas coletoras ocorre a cada 40 a 60 m de


extensão de rua ou a cada 300 a 800 m² de área das mesmas.

5.6. Coeficientes de Segurança

Como toda obra de engenharia a boca coletora não deve ser dimensionada para
funcionamento com sua capacidade de captação limite igual a vazão de chegada, isto é, a
vazão de definição de suas dimensões deve ser um pouco superior a vazão de projeto da
sarjeta que a abastecerá. Alguns fatores podem ser citados como arrazoados para este
procedimento, tais como:

 Obstruções causadas por detritos carreados pela água;

 Irregularidades nos pavimentos das ruas, na sarjeta e na entrada da própria boca;

 Hipóteses de cálculo irreais.


A ocorrência de pelo menos uma destas situações certamente provocará prejuízos ao bom
funcionamento do projeto quando solicitado em suas condições limites. Por força destes
argumentos costuma-se utilizar os coeficientes de reforço indicados na Tabela 5.1.

Tabela 5.I - Coeficientes de Segurança para Sarjetas

Tipo Localização Fator de Correção


simples 1,25
Ponto baixo com grelha 2,00
combinada 1,50
simples 1,25
grelha longitudinal 1,65
Ponto intermediário grelha transversal 2,00
combinada com longit. 1,50
combinada com transv. 1,80

5.7. Exemplos de Cálculo

5.7.1. Boca lateral intermediária

Calcular uma boca coletora intermediária com depressão a = 10,5 cm, sob as seguintes
condições:

 w = 8a = 84 cm

 z = ( tg q o ) = 12

 I = 2,5%

 n = 0,016

capaz de captar uma vazão teórica de 64 l/s

Solução:

a) Fator de segurança (Tabela V.1)

Lateral intermediária 1,25

b) Vazão de projeto

Qp = 64 x 1,25 = 80 l/s

c) Valor de K: para a ¹ 0 e z = 12 tem-se K = 0,23

d) vo e yo
yo= {80 / [375 x (112 / 0,016) x 0,0251/2]}3/8= 0,093 m

vo = 0,08 / [(0,932 / 2 ) x 12]= 1,54 m/s

e) Energia "E"

E = [1,542 (2 x 9,81)]+ 0,093 + 0,105 = 0,32 m

f) Valor de "y"

Pela Figura 5.7, com E = 0,32 e Qp = 80, lê-se y = 13 cm

g) F2 e tgqo

F2 = 2 x [(32/13) - 1] = 2,92

tgqo = {84 / [(84/12) + 10,5]}= 4,8

h) Parcela "C"

A expressão de M exige um valor para "L" e como este ainda não é conhecido admite-se L =
1,0 m (= 100 cm) como valor inicial para posteriormente ser feita uma verificação deste
valor. Assim, para L=1 tem-se:

M = {(100 x 2,92) / (10,5 x 4,8)}= 5,79, logo C = 0,45 / 1,125,79 = 0,23 m

i) Vazão por metro linear

Q / L = (0,23 + 0,23) x (9,81 x 0,133]}1/2 = 68 l/s

que é um resultado insatisfatório porque, como foi admitido L=1m haveria excesso de mais
de 10% da vazão de projeto a ultrapassar a boca coletora em dimensionamento, o que
implica em L>1,0m.

j) Admitindo L = 1,20 m, entãoC = 0,21 e Q/L = 65 l/sm, então a capacidade de captação da


BC é Q = 1,20 x 65 = 78 l/s, o que fornece um excesso de apenas 2 l/s (<10%Qp) (aceito!)

Observação: se a=0 então C=0 e y=yo e Q/L = 20 l/s, ou seja, L = 4,0m.

5.7.2. Boca com grades

Dimensionar uma grade para coletar uma vazão de projeto igual a 80 l/s, tomando-se como
largura máxima de gradeamento 0,60 m. São conhecidas ainda I = 0,04 m/m, n = 0,020 e z =
20.

Solução:

a) cálculo de L
- cálculo de yo

yo= {80 / [375 x (20 / 0,020) x 0,041/2]}3/8= 0,08 m

- cálculo de wo

wo= 20 x 0,08 = 1,6 m;

- cálculo de L

L = 0,326x(20x0,041/2/0,02)3/4x[0,081/2(1,60-0,60)/20]1/2 = 2,0 m

b) escolha da grade

- testando para barras longitudinais

vo = 0,08 / ( 0,082 x 20 /2 ) = 1,25, então Lo= 4x1,25x( 0,08/9,81)1/2 = 0,45m < L = 2,00m,
Então podem ser usadas barras longitudinais;

- testando para barras transversais

Lo' = 2Lo = 0,90 m < 2,00m, também indicando que barras transversais poderão ser utilizadas
para a grade da situação.

6. GALERIAS

6.1 Definições

Denomina-se de galerias de águas pluviais todos os condutos fechados destina dos ao


transporte das águas de escoamento superficial, originárias das precipitações pluviais
captadas pelas bocas coletoras. O termo galeria por si só já é designação de todo conduto
subterrâneo com diâmetro equivalente igual ou superior a 400 mm. Tecnicamente sistema
de galerias pluviais é um conjunto de bocas coletoras, condutos de ligação, galerias e seus
órgãos acessórios tais como poços de visita e caixas de ligação. É a parte subterrânea de um
sistema de micro-drenagem.

6.2. Período de Retorno

Nos sistemas de microdrenagem são adotados como chuvas de projeto, aquelas com
frequência de 2, 5 e 10 anos, de acordo com a ocupação da área a ser drenada. Para obras
de macrodrenagem o período de retorno é de 100 anos e é mais conhecido como tempo de
retorno de chuvas intensas.
Para projetos de galerias pluviais de microdrenagem os valores básicos de períodos de
retorno a adotar são os indicados na Tabela 6.1.

TABELA 6.1. Período de Retorno em Função da Ocupação da Área

Tipo de Ocupação Período de Retorno


1. Residencial 2 anos
2. Áreas comerciais 5 anos
3. Áreas com edifícios públicos 5 anos
4. Distritos industriais 10 anos
5. Áreas comerciais muito valorizadas 5 a 10 anos
6. Aeroportos 2 a 5 anos
7. Terminais de passageiros 5 a 10 anos

6.3. Princípios Técnicos para Eaboração de Projetos de Microdrenagem

6.3.1. Hipótese de Cálculo

Admite-se um escoamento em conduto livre e em regime permanente e uniforme. Isto quer


dizer admitir-se que de cada trecho de galeria não haverá variação de velocidades de
escoamento e de lâmina de água no tempo, enquanto este trecho funcionar com a vazão de
projeto.

Seu cálculo obedecerá, pois, as fórmulas clássicas

Q = A . V , clássica equação da continuidade e

que é conhecida como teorema de Bernouilli (Daniel Bernouilli, cientista suíço criador da
Física Matemática, 1700-1782) para fluidos reais, onde

P = pressão, Kgf/m²

g = peso específico, Kgf/m

V = velocidade do escoamento, m/s

g = aceleração da gravidade, m/s²

Z = altura sobre o plano de referência, m

hf= perda de energia entre as seções em estudo, devido a turbulência, atritos, etc,
denominada de perda de carga, m
a = fator de correção de energia cinética devido as variações de velocidade na seção, igual a
2,0 no fluxo laminar e 1,01 a 1,10 no hidráulico ou turbulento, embora nesta situação, na
prática, sempre se tome igual a 1,00.

A Figura 6.1. ilustra os elementos componentes da equação.

FIGURA 6.1 - Elementos da equação de energia em conduto forçado

Sendo "a" e "b" duas seções distintas de uma mesma calha, distanciadas de "L", onde "a"
situa-se a montante de "b" e, tendo em vista a condição de escoamento livre, pa = pb = patm e
va= vb. A perda de carga unitária "hf /L" pode ser considerada igual a própria declividade "l"
de projeto para cada trecho de galeria, a medida que se admita regime permanente e
uniforme na determinação das dimensões deste trecho. No Brasil, em geral emprega-se a
fórmula de Chèzy com coeficiente de Manning, ou seja,

V = C. (R.I)1/2onde C = R1/6. n-1


onde "n" é o coeficiente de Manning, função do acabamento das paredes.

6.3.2. Formas

As seções circulares são as mais empregadas por sua maior capacidade de escoamento e
pela facilidade de obtenção de tubos pré-moldados de concreto para confecção dos
condutos.

Na ausência de tubos pré-moldados ou par galerias com diâmetros equivalentes superiores a


1,50m, situações pouco frequentes em sistemas de microdrenagem, pode-se recorrer ao
emprego de seções quadradas ou retangulares, em geral, com paredes verticais em
alvenaria e lajes horizontais em concreto armado.
6.3.3. Dimensões

O diâmetro mínimo recomendado para galerias pluviais é de 400 mm. No entanto, é comum,
principalmente em projetos de baixo custo, o emprego do diâmetro de 300 mm em trechos
iniciais e em condutos de ligação.

As dimensões das galerias são sempre crescentes para jusante não sendo permitida a
redução da seção no trecho seguinte mesmo que, por um acréscimo da declividade natural
do terreno, o diâmetro até então indicado passe a funcionar superdimensionado.

Nos condutos circulares a capacidade máxima é calculada pela seção plena e nos
retangulares recomenda-se uma folga superior mínima de 0,10m.

6.3.4. Velocidades

Para que não haja sedimentação natural do material sólido em suspensão na água,
principalmente areia, no interior das canalizações, a velocidade de escoamento mínima é de
0,75 m/s para que as condições de autolimpeza sejam assim preservadas.

Por outro lado, grandes velocidades acarretariam danos às galerias, tanto pelo grande valor
de energia cinética como poder abrasivo do material sólido em suspensão. O valor limite de
velocidade máxima é função do material de revestimento das paredes internas dos
condutos. Em geral, velocidades de escoamento superiores a 4,0 m/s carecem de
informações técnicas adicionais, justificando sua adoção pelo projetista.

6.3.5. Declividade

A declividade de cada trecho é estabelecida a partir da inclinação média da do terreno ao


longo do trecho, do diâmetro equivalente e dos limites de velocidade. Na prática os valores
empregados variam normalmente de 0,3% a 4,0%, pois para declividades fora deste
intervalo é possível a ocorrência de velocidades incompatíveis com os limites
recomendados.

Terrenos com declividades superiores a 10% normalmente requerem do projetista soluções


específicas para a situação. Em terrenos planos são frequentes problemas de lançamento
final de efluentes.

Hidraulicamente tem-se que quanto maior a declividade das galerias maior será a velocidade
de escoamento e quanto maior as dimensões transversais dos condutos menor será a
declividade necessária.

6.3.6. Recobrimento da Canalização

Função da estrutura da canalização, adota-se como recobrimento mínimo 1,0 m e como


limite máximo 4,0 m. Valores fora do intervalo citado, normalmente requerem tubos ou
estruturas reforçadas e análises especiais que justifiquem a opção do projetista.
6.4. Elementos geométricos das secções

6.4.1. Seção Parcialmente Cheia: y / D < 1,0

Esta situação encontra-se esquematizada na Figura 6.2 onde "b" é a corda, "y" a altura
(lâmina líquida),"do" o diâmetro da seção e "â" o ângulo central "molhado". Logo,
geometricamente,

â = 2arccos[ ] em radianos ou y/do = [1-cos(â/2)]/2,

FIG. 6. 2 - Seção Parcialmente Cheia - y / do < 1,0

A (área molhada) = (â - sen â),

P (perímetro molhado) = â.do/2,

R (raio hidráulico) = [1 - ],

b (corda) = do . sen (â/2)

e, usando Manning, â = 6,063(nQ/I 1/2)0,6. do-1,6. â 0,4 + sen â .

VI.11.3. Relação Entre os Elementos

A/Ao = (â - sen â) e P/Po = â/2p


R/Ro =1-

V/Vo = [ 1 - ] 2/3

Q/Qo = (â - sen â).[1 - ]2/3.

Estas relações estão mostradas na Figura VI.3. Estas curvas poderão ser desenhadas a partir
das expressões

A/Ao = (1/p ) {arccos[ )] - [ ] [1-( )2]1/2} e

P/Po = (1/p ) arccos [ ].

6.4. Exemplos

1) Encontrar um diâmetro capaz de transportar uma vazão de esgotos de 500l/s, sob uma
declividade de 0,007m/m (n = 0,015)?

Solução:

P/ Q = 500 l/s e I = 0,007 m/m

a) pela Figura VI.4, onde se tem diâmetros e velocidades a seção plena em função da vazão e
da declividade do trecho, D = 700 mm;

b) analítica ( Q = A.V )

Q = 0,50 = (p .D2/4) x [0,015-1.(D/4)2/3.0,0071/2] = 0,2876.D8/3, logo D = 700 mm.

2) Qual a capacidade do trecho trabalhando cheio? (escoamento livre!)

Solução:

Para D = 0,70 m e I = 0,007 m/m

a) pela Figura 6.4, Q = 670 l/s;

b) pelas equações analíticas, Q = (p .0,72/4) x [0,015-1.(0,7/4)2/3.0,0071/2] = 672 l/s.


FIG. 6. 3 - Elementos hidráulicos de secções circulares
Figura 6.4 - Diâmetros e velocidades a seção plena em função da vazão e da declividade do
trecho
Figura 6.5 - Diâmetros e velocidades a seção plena em função da vazão e da declividade do
trecho

7. POÇOS DE VISITA

7.1. Definição

Poço de vista é uma câmara visitável através de uma abertura existente na sua parte
superior, ao nível do terreno, destinado a permitir a reunião de dois ou mais trechos
consecutivos e a execução dos trabalhos de manutenção nos trechos a ele ligados (Figura
7.1).

Figura 7.1 - Poço de visita convencional

VII.2. Disposição Construtiva

Um poço de visita convencional possui dois compartimentos distintos que são a chaminé e o
balão, construídos de tal forma a permitir fácil entrada e saída do operador e espaço
suficiente para este operador executar as manobras necessárias ao desempenho das
funções para as que a câmara foi projetada.

O balão ou câmara de trabalho é o compartimento principal da estrutura, de secção circular,


quadrada ou retangular, onde se realizam todas as manobras internas, manuais ou
mecânicas, por ocasião dos serviços de manutenção de cada trecho. Nele se encontram
construídas em seu piso, as calhas de concordância entre as secções de entrada dos trechos
a montante e de saída.

A chaminé, pescoço ou tubo de descida, consiste no conduto de ligação entre o balão e a


superfície, ou seja, o exterior. Convencionalmente inicia-se num furo excêntrico feito na laje
de cobertura do balão e termina na superfície do terreno, fechada por um tampão de ferro
fundido.

O movimento de entrada e saída dos operadores, é feito através de uma escada de ligas
metálicas inoxidáveis, tipo marinheiro afixada degrau em degrau, na parede do poço ou,
opcionalmente, através de escadas móveis para poços de pequenas profundidades.
As calhas do fundo do poço são dispostas de modo a guiar as correntes líquidas desde as
entradas no poço até o início do trecho de jusante do coletor principal que atravessa o poço,
e de tal maneira a assegurar um mínimo de turbilhonamento e retenção do material em
suspensão, devendo suas arestas superiores serem niveladas com a geratriz superior do
trecho de saída.

No caso de trechos de coletores chegarem ao PV acima do nível do fundo são necessários


cuidados especiais na sua confecção a fim de que haja operacionalidade do poço sem
constrangimento do operário encarregado de trabalhar no interior do balão. Para desníveis
abaixo de 0,50m não se fazem obrigatórias medidas de precaução, considerando-se a
quantidade mínima de respingos e a inexistência de erosão, provocados pela queda do
líquido sobre a calha coletora. Para desníveis a partir de 0,50m serão obrigatoriamente
instalados os chamados "poços de queda" (Figura 7.2).

Figura 7.2 - Poço de queda

7.3. Localização

Convencionalmente empregam-se poços de visita:

 Nas cabeceiras das redes;

 Nas mudanças de direção dos coletores (todo trecho tem que ser reto);

 Nas alterações de diâmetro;


 Nas alterações de posição e/ou direção de geratriz inferior da tubulação;

 Nos desníveis nas calhas;

 Nas mudanças de material;

 Nos encontros de coletores;

 e em posições intermediárias em coletores com grandes extensões em linha reta


onde a distância entre dois PV consecutivos não deverá exceder 100m.

Quanto as extensões retas as limitações decorrem do alcance dos equipamentos de


desobstrução. As demais recomendações visam a manutenção da continuidade das secções,
o que facilita a introdução de equipamentos no interior da tubulação, bem como elimina
zonas de remanso ou turbulência no interior das mesmas.

8. PROJETO HIDRÁULICO

8.1. Dados Básicos

Para que o projetista tenha condições de optar por uma concepção de rede de galerias e
efetuar o cálculo do sistema, faz-se necessário que inicialmente o mesmo tenha em mãos
uma série de levantamentos de dados inerentes a área em estudo. Este material
basicamente é constituído dos seguintes documentos:

 Planta da área a ser drenada na escala 1:500 ou 1:1000, com curvas de níveis
desenhadas de 0,5 em 0,5 ou de 1,0 em 1,0 m;

 Mapa geral da bacia em escalas de 1:5000 ou 1:10000;

 Planta da área com indicações dos arruamentos existentes e projetados em escalas


de 1:500 ou 1:1000;

 Secções transversais típicas e perfis longitudinais, bem como o ipo de pavimentação,


das ruas e avenidas;

 Informações geotécnicas da área e do lençol freático;

 Locação dos pontos de lançamento final;

 Cadastramento de outros sistemas existentes;

 Curvas de intensidade/duração/frequência para chuvas na região;


 Outras informações que o projetista julgar necessárias.

Informações adicionais sempre são pedidas após os projetistas visitarem o local da obra.

8.2. Elaboração de Projeto

A melhor alternativa de projeto é resultado de uma série de análises preliminares que


antecedem aos cálculos definitivos para dimensionamento da rede coletora a ser
implantada. Em um bom projeto nunca é facultado o memorial justificativo da concepção
adotada, pois ele é resultado da convicção de certeza do projetista de que a hipótese é mais
viável técnica e economicamente.

De posse dos dados básicos necessários citados anteriormente, deve-se elaborar diversos
esquemas alternativos e sobre eles questionar as vantagens e desvantagens de cada um,
definindo-se por aquele que se apresentar mais viável no aspecto funcional e de acordo com
os recursos disponíveis. De um modo geral, este trabalho compreende as seguintes etapas:

1ª - determinação dos limites da bacia;

2ª - verificação das curvas de precipitação;

3ª - identificação das possíveis pontos de lançamento final;

4ª - desenvolvimento de esquemas alternativos;

5ª - elaboração da previsão de custos do projeto;

6ª - revisão dos dados básicos;

7ª - opção por uma concepção de projeto;

8ª - desenvolvimento dos cálculos definitivos;

9ª - preenchimento das planilhas de cálculo;

10ª - desenho do projeto definitivo (planta e detalhes);

11ª - elaboração dos quantitativos para orçamento e os cronogramas;

12ª - descrição dos memoriais e especificações da projeto.

8.3. Sequência de Cálculos

A metodologia de um projeto de micro-drenagem pode variar de equipe de projetistas, mas,


de um modo geral, pode-se academicamente sugerir o procedimento exposto a seguir.
De posse da planta geral em escala conveniente (1:500 ou 1:1000), com curvas de nível
desenhadas de metro em metro, além dos arruamentos e informações sobre toda a
infraestrutura pública existente na área, inicia-se o estudo para a concepção definitiva de
projeto. A seguir procede-se o cálculo da rede de acordo com a sequência:

1º- identifica-se os diversos divisores naturais de água delimitando-se todas as bacias e sub-
bacias da área, em função dos pontos de lançamento final (sugestão : traço + dois pontos);

2º- indentifica-se o sentido de escoamento nas sarjetas (com pequenas setas);

3º- identifica-se as áreas de contribuição para cada trecho de sarjeta (traço + ponto);

4º- define-se as posições das primeiras bocas coletoras e as demais de jusante (pequenos
retângulos);

5º- lança-se um traçado de galerias (linha dupla descontínua) e loca-se os poços de visita
onde se fizerem necessários (pequenos círculos);

6º- estuda-se o posicionamento das tubulações de ligação (traço descontínuo) e as possíveis


caixas de ligação (pequenos quadrados);

7º- numeram-se os poços de visita no sentido crescente das vazões (algarismos arábicos);

8º- identificam-se as cotas do terreno em cada poço de visita;

9º- mede-se a extensão de cada trecho;

10º- denominam-se as áreas de contribuição para cada trecho (An);

11º- define-se o coeficiente (ou coeficientes) de escoamento superficial em função da


ocupação atual e futura da área, para cada área de contribuição.

Neste ponto tem-se na planta todos os dados necessários identificados e/ou determinados,
para o cálculo de cada trecho de galeria (diâmetro "D", declividade "I" e profundidade "h").

8.4. Planilha de Cálculos

Na planilha são registrados os resultados de cálculos empregados no dimensionamento da


rede de galerias. Sendo assim, de acordo com o apresentador do projeto, cada planilha de
cálculos pode identificar mais ou menos elementos, pois o julgamento da importância de
cada resultado é critério exclusivo do projetista.

Alguns elementos, no entanto, são indispensáveis a uma boa planilha, tais como designação,
extensão, declividade, dimensão da secção, vazão transportada, profundidade, velocidade
de projeto e cotas do terreno de cada trecho. Especialmente para projetos de esgotos
pluviais, são indispensáveis ainda na planilha, informações sobre áreas de contribuição,
coeficiente de escoamento superficial, tempo de detenção, intensidade de chuva e
frequência das precipitações.

Uma sugestão de planilha de cálculo para redes de microdrenagem é apresentada no


Quadro 8.1, não devendo, no entanto, ser tomada como modelo definitivo para
apresentação de resultados desta natureza.

8.5. Recomendações Usuais para Projetos

Cada projetista logicamente tem seu modelo de concepção para um trabalho dentro das
normas existentes e do seu ponto de vista. Isto torna-se mais notável quando se trata de
precauções próprias quanto a segurança e eficiência do projeto implantado. Dentre os
procedimentos práticos frequentemente usados em um cálculo de sistemas de galerias
pluviais podem ser citados:

a) em cada poço de visita nenhuma galeria de entrada poderá ter seu topo em cota inferior
ao topo da galeria de saída;

b) no interior de cada poço de visita admite-se uma queda mínima de 0,10 m na linha
piezométrica;

c) os poços de visita não deverão receber mais que quatro condutos de ligação;

d) as caixas de ligação não deverão receber mais que dois condutos de ligação;

e) no cálculo das capacidades dos condutos deve-se admitir um coeficiente de rugosidade


20% maior que o teórico aplicado para o revestimento empregado nas paredes internas das
galerias;

f) os condutos de ligação deverão ser executados com uma declividade mínima de 1%.

OBS.: Quando uma determinada caixa de ligação destinar-se a reunir tubos de ligação
provenientes das bocas coletoras para em seguida encaminhar a vazão reunida para o poço
de visita mais próximo, através de uma outra tubulação de ligação, esta caixa poderá
receber até três afluentes de bocas coletoras.

8.6. Exemplo de Cálculo de Galerias

Dimensionar um coletor pluvial para um trecho da AVENIDA 1º. DE MAIO, cujo traçado
encontra-se esquematizado na Figura 8.2, situada em uma área essencialmente comercial. A
equação de chuva para a localidade está representada na Figura 8.1.
Figura 8.1 – Equação de Chuva da Localidade

Solução:

a) determinações auxiliares

1) primeira boca coletora - independente da lâmina máxima de água na sarjeta ser atingida,
há de existir bocas coletoras a montante do quarteirão da escola; partindo desta
consideração prática, verifica-se a lâmina na sarjeta mais desfavorável, pois pode se tornar
necessário a localização de unidades coletoras antes do cruzamento de montante citado;
sendo assim se tem para a sarjeta em estudo:

 Área de contribuição: A = 0,466 ha

 Coeficiente de escoamento:C = 0,80

 Extensão: L = 170 m

 Declividade média:I = 1,4 %

 Período de retorno: T = 5 anos (área comercial)

 z = 20 e n = 0,016 (adotados!)
 Tempo de concentração para L = 170 m, I = 1,4% e C = 0,80, pela Figura III.1,
encontra-se tc = 12 minutos

 Intensidade i de precipitação com tc = 12 min e T = 5 anos, pela Figura IX.1 lê-se i =


1,74 mm/min

 Altura máxima de projeto na guia: ymáx

vazão teórica: Qo= 166,67 x 0,80 x 1,74 x 0,466 = 108,74 l/s

vazão de projeto (pela Figura IV.6, para I = 1,4% encontra-se F = 0,80 logo Qadm = Qo/F =
108,74 / 0,80 = 136 l/s

Assim ymáx = [136 / ( 375 x 20 x 0,0141/2 / 0,016 )]3/8 donde 0,105 m < 13 cm !

Confirmado, então, PRIMEIRO CONJUNTO DE BC no cruzamento à montante do quarteirão


da ESCOLA! como mostrado na Figura 8.3.

b) cálculo dos trechos

1) trecho 1-2

 área de contribuição: A1-2 = A1+ A2 + A3= 1,177 ha;

 vazão de dimensionamento do trecho: para I = 1,4 %, L = 170 e C = 0,80, então tc = 12


min e como T = 5 anos implica i = 1,74 mm/min (Figura 8.1) onde Q1-2 = 166,67 x 0,80
x 1,74 x 1,177 = 259,15 l/s;

 diâmetro: para I1-2 = 0,0187 m/m, n = 0,015 e Q1-2 = 259,15 l/s e D1-2 = 500 mm
(Figura 8.4)

 velocidade e vazão a seção plena: calculando-se pela expressão de Manning


encontram-se vo,1-2 = 2,28 m/s e Qo,1-2 = 0,448 m³/s;

 velocidade de projeto: Utilizando-se da Figura VI.3, das seções hidráulicas, encontra-


se vp= 2,35 m/s;

 tempo de percurso: tp,1-2 = 90m / (2,35 m/s x 60 min) = 0,64 min.

2) trecho 2-3

 acréscimo de área A2-3 = 1,018 ha;

 tempo de concentração tc,2-3 = (12,00 + 0,64) min;

 precipitação: i2-3 = 1,70 mm/min;

 acréscimo de vazão: Q2-3 = 166,67 x 0,80 x 1,70 x 1,018 = 230,75 l/s;


 vazão de projeto: Qp,2-3 = 230,75 + 259,15 = 489,90 l/s;

 diâmetro: D2-3= 600 mm;

 secção plena: Q O,2-3 = 0,540m³/s e v O,2-3 = 1,91 m/s;

 tempo de percurso: t p,2-3 = 80 /(2,16 x 60) = 0,62 min.

Figura 8.2 – Arruamento a Drenar


Figura 8.3 – Galeria da Av. 1º de Maio
Exercício para entregar:

Calcular a capacidade máxima admissível na seção de jusante para a sarjeta cuja seção típica
é apresentada na figura a seguir. São dados ainda: z = 20, I = 0,02m/m, yo = 13 cm, y' = 5 cm.

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