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Superação.
3.1 Introdução
Ser professor no século XXI é tema e tarefa de enorme complexidade.
Reconhecer esse fato nos conduz a cuidar da temática de forma a não cair em
explicações simples, mas entender que tal complexidade decorre de múltiplas e
interdependentes variáveis. E, questão docente complexa, é necessário avançar com
cuidados. É o que pretendemos fazer neste texto, a partir de alguns pontos, que
aceitamos e que são recorrentes na literatura sobre a docência.
5. Esses pontos nos remetem (e nisso também a literatura atual é recorrente) a uma
reflexão sobre o caráter profissional da atividade docente. Conceitos como
profissionalização, profissionalidade, profissionalismo, constituição de identidade
profissional são amplamente discutidos. Essa reflexão remete a outro conceito – o
conceito de coletivo. O caráter altamente complexo da profissão professor leva a
aceitarmos que a responsabilidade pelo acerto/desacerto no desempenho não é
individual, mas passa também pelo coletivo – coletivo que envolve a instituição
como um todo e cada um de seus participantes. Referimo-nos aqui à proposta de
avançar do conceito de aula como unidade de desempenho do professor para nos
referirmos à instituição na qual está alocado o professor como sua unidade de
desempenho.
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6. Para sintetizar este quadro preliminar que desenhamos como pano de fundo para a
discussão dos tópicos que se seguem, um último comentário. Ramo (2010), em um
provocativo livro que engloba narrativa de eventos de diferentes partes do mundo,
entrelaçando fatos com teorias, para levar a pensar sobre o funcionamento global e a
influência cultural nas formas de ver o mundo que nos rodeia, dá a seu livro um
sugestivo título: The age of unthinkable. É nesta “era do impensável” que estamos
vivendo; e por aceitarmos que a educação é ainda uma das mais potentes formas
para o avanço a uma sociedade mais justa e igualitária, entendemos que, mesmo
numa era cheia de contradições, interrogações, acertos e desacertos, cabe ao
professor valorizar a docência universitária como atividade intelectual, crítica,
reflexiva e transformadora.
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Vamos nos deter no conceito de profissionalidade docente, porque este se refere
especificamente à atuação do professor enquanto agente do processo educativo, ao
espaço privativo de seu trabalho.
Tardif (2000), a partir de pesquisas realizadas sobre o trabalho docente, chegou
às seguintes conclusões quanto aos saberes profissionais dos professores:
• Os saberes profissionais dos professores são temporais. E o são em três
aspectos: 1) boa parte do que os professores sabem sobre o ensino e como
ensinar, e sobre o papel que devem desempenhar, são decorrentes de sua
história de vida, particularmente de sua história de vida escolar; 2) os
primeiros anos de vida profissional são decisivos no estabelecimento de
rotinas e fortalecimento do sentimento de competência; 3) os saberes
profissionais se desenvolvem no âmbito da carreira, na qual se dá a
socialização – a aprendizagem do viver na escola.
• Os saberes profissionais dos professores são plurais e heterogêneos. E o são
em três aspectos: 1) os saberes provêm de diferentes fontes: da cultura
pessoal, dos conhecimentos acadêmicos, do saber ligado à experiência do
trabalho, do contato com outros professores; 2) os saberes são ecléticos e
sincréticos, isto é, um professor raramente tem uma concepção unitária de
sua prática; 3) os professores, em sua atuação para atingir diferentes
objetivos, lançam mão de tipos diversos de competências.
• Os saberes profissionais dos professores são personalizados e situados.
Personalizados porque são constitutivos da pessoa do professor. Situados,
porque utilizados em função de situações de trabalho específicas.
Shulman (1986), preocupado com o resgate do status do professor como
profissional, propõe um modelo referente aos saberes docentes. Investiga 21 alunos –
professores de diferentes áreas (matemática, inglês, ciências sociais, biologia),
procurando apreender o que eles sabiam sobre os conhecimentos que ensinavam, onde e
quando os adquiriram, e como e porque esses conhecimentos se transformaram durante
sua formação e ainda, como deveriam ser utilizados com alunos concretos na sala de
aula.
Concluiu que todo professor tem uma base de conhecimento que decorre da
intersecção do conteúdo específico de sua matéria, com o conteúdo pedagógico e de sua
capacidade para transformar seu conhecimento específico da matéria em formas de
atuação que sejam eficazes, porque adaptadas à heterogeneidade dos repertórios e
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habilidades dos alunos. O professor tem, então, diferentes tipos de conhecimento nos
quais se apoia para tomar decisões sobre seu curso.
O modelo de Shulman inclui: conhecimento do conteúdo, conhecimento
pedagógico do conteúdo e conhecimento pedagógico.
• Conhecimento do conteúdo (Content Knowledge) – Conhecimento
específico da matéria.
• Conhecimento pedagógico do conteúdo (Content Knowledge in Teaching),
que engloba: a-conhecimento sobre a matéria (subject matter content
knowledge); b-conhecimento didático da matéria (pedagogical content
knowledge); c-conhecimento curricular da matéria (curricular knowledge).
• Conhecimento pedagógico (Pedagogical Knowledge) – conhecimento de
teoria e princípios de ensino e aprendizagem, conhecimento de princípios e
técnicas de manejo de classe, características dos alunos, incluindo também
conhecimento de princípios e técnicas que estão ligados à sua área de
conhecimento específica. Trata-se de um conhecimento pedagógico geral.
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que os alunos costumam apresentar em um tópico particular, quais as concepções
errôneas que normalmente trazem, quais as estratégias para ajudar os alunos a vencer as
dificuldades e desenvolver conceitos científicos. Além disso, conhecimento sobre como
e porque tal tópico, bem como sua disciplina, estão incluídas no currículo.
Profissionalismo, profissionalidade e saberes profissionais desaguam no
conceito de constituição da identidade profissional.
Assim, para pensar o ser humano hoje, duas questões básicas se impõem:
como cada pessoa lida com a pertença e com as atribuições nas condições
sociais descritas? Cada indivíduo pode assumir ou não uma atribuição,
identificando-se com o que lhe foi atribuído ou rejeitando-o. (PLACCO,
2010, p.142)
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algumas vezes) e dos agentes educacionais da escola (coordenadores de cursos, por
exemplo, que, via de regra, se põem como intérpretes do sistema e/ou da instituição
escolar). Já o processo de pertença implica numa adesão ou rejeição às atribuições que
lhe são imputadas, adesão ou rejeição que representam o sentido que o professor confere
a tais atribuições, reconhecendo-as como valiosas e necessárias, ou não, porque atendem
à sua formação, à sua concepção de escola, do curso, do aluno e do ser professor.
Essa constante tensão atribuição-pertença, pressões da instituição e de alunos,
exigências de mercado e outras afetam o professor, levando-o a expressar suas emoções
e sentimentos de diferentes formas.
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[...] mestres que me fizeram vibrar ao perceber que meu conhecimento podia
se ampliar e que eu podia penetrar em outros mundos; que me deram chaves
para a entrada nesses novos universos. Esses mestres, apesar das muitas
diferenças em seu modo de encarar a vida e em seus métodos de ensino,
tinham algumas características que os aproximavam. A principal: eles me
levaram a sério, como criança, como jovem, como adulta. Viveram nossa
relação professor-aluno com gravidade e profundidade. E como fizeram isso?
Confiando em minha capacidade de aprender, de explorar e compreender a
mim mesma. Enfim, foram pessoas que me viram como uma pessoa separada
das demais, que me ouviram, que se comunicaram plenamente comigo.
Esse é o atendimento à diversidade que faz diferença para o aluno, que interfere
na constituição de sua identidade e, em contrapartida, na identidade do professor.
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devem ser bons comunicadores, definidos pela sua capacidade de “escuta”, isto é,
segundo Schön (1992), pela sua capacidade de serem “surpreendidos pelo que o aluno
faz”, e por tentarem compreender porque foram surpreendidos. Segundo Canário, a
lucidez é requisito essencial para a docência, na medida em que, acreditamos, é ponto
de partida para a compreensão de si e de seu próprio trabalho docente.
Finalmente, para Canário (1998), o professor é um construtor de sentido. Ao
reconhecer a centralidade do sujeito – seja o sujeito professor, seja o sujeito aluno -, no
processo de aprendizagem, entendendo-se este como um processo de hominização, de
produção de si, o professor auxilia o aluno na seleção, na organização e interpretação
das informações, de forma a construir sua visão de mundo e, assim, compreender os
outros e a sociedade, a partir da sua própria história pessoal.
Essa reconfiguração do papel do professor vem atender à nova função do Ensino
Superior: se, desde os tempos do Império, quando se criou, no Brasil, o Ensino
Superior, a função primordial dessa modalidade era produzir conhecimento e transmiti-
los a um grupo social privilegiado e restrito, hoje, o professor passa a conviver com
outra função – a de produzir e transmitir conhecimentos para camadas menos
privilegiadas, que reivindicam seu direito ao Ensino Superior. Nessa transição,
aparecem questões como: para que ensinar, a quem queremos ensinar, o que ensinar, e,
finalmente, como ensinar este novo contingente, nesses novos tempos?
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a) O que tornava os professores alegres, esperançosos, animados:
• Relacionamentos professor-aluno nos quais os alunos respondem ao
ensino porque este atende às suas necessidades; o professor percebe
que ele ensina e que o aluno aprende e vice-versa;
• Relacionamentos flexíveis; professor e aluno negociam acordos e o
professor ajusta suas propostas sempre que necessário às
necessidades dos alunos;
• Gosto pelo ensinar, vibração pela atividade docente.
b) O que tornava os professores ansiosos, irritados, desanimados, inseguros:
• Pouco tempo para se dedicar ao preparo das aulas; pouca confiança
em sua competência para dar conta da tarefa;
• Não participação dos alunos nas atividades propostas;
• Indisciplina;
• Relacionamentos pouco satisfatórios do ponto de vista afetivo;
• Falta de espaço para troca de experiências com colegas.
Ou seja, os resultados da pesquisa indicaram que o professor do Ensino Superior
apresentava sentimentos de tonalidades agradáveis (alegria, animação, vibração,
esperança) quando o aluno: demonstrava vontade de aprender e interesse pelo curso,
participando e questionando; revelava envolvimento com o curso; apresentava respeito
com os colegas e professores, sem conversas paralelas ou uso de celulares; apresentava
valores éticos e senso crítico.
Porém, sentia-se desestimulado quando, na situação concreta de sala de aula seu
aluno: não participava; não se envolvia com o curso; demonstrava desinteresse,
indiferença, apatia; não lia os textos; via a aula como uma obrigação chata; demonstrava
descaso, distância, desrespeito, ausência de comunicação e contato; demonstrava visão
estreita de mundo e interesse apenas por questões técnicas; reivindicava compreensão
dos professores para seus atrasos, faltas, pouca ou nenhuma leitura, sem dar nada de si.
O desestímulo decorria também da falta de tempo para preparar melhor suas aulas; falta
de condições para chegar ao começo das aulas sem agitação ou atropelo; falta de espaço
para trocar experiências com seus pares; falta de condições para ter maior e melhor
contato com os alunos. Essas situações com tonalidades desagradáveis produziam:
ansiedade, irritação, tristeza, raiva, frustração, insegurança, desânimo, solidão.
Os sentimentos de tonalidades agradáveis são as expressões de necessidades
de: ter o trabalho reconhecido, ser respeitado e ter limites estabelecidos na
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relação professor-aluno e professor-instituição; ter um trabalho que garanta
formação de bons profissionais, que inclui formação de atitudes e valores;
sentir-se progredindo em suas habilidades de professor; ser compreendido
pelo outro (aluno) não só no conteúdo, mas em sua forma de ser; trabalhar
em ambientes promotores de relações interpessoais harmoniosas e
produtivas. (ALMEIDA e MAHONEY, 2011, p.161).
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Professor e aluno estão em constante embate de subjetividades: o
professor entra com suas expectativas, desejos, anseios, frustrações; o
aluno com iguais expectativas, desejos, anseios e frustrações, decorrentes
da trajetória de vida de cada um;
Para o professor ser surpreendido pelo que o aluno faz, precisa estar
atento não só ao grupo-classe, mas a cada aluno em particular;
As novas exigências da sociedade global que se instaurou na
modernidade exigem do professor uma reconfiguração do seu papel;
deve ser um analista simbólico, um construtor do sentido, um
profissional da relação e um artesão;
A especificidade do trabalho do professor é o ensino, e essa
especificidade implica saberes que lhe são próprios: profissionais,
pedagógicos, disciplinares, curriculares e experienciais;
Nos processos formativos, as dimensões são postas em movimento, num
processo constante de atualização;
Quando os processos formativos fazem sentido para o formador e o
formando, relações pedagógicas e pessoais tornam-se significativas e
repercutem em aprendizagem efetiva;
Um processo formativo deve / pode mobilizar formador e formandos
para questionar suas crenças e valores.
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