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CORONAVÍRUS (HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.

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Na Europa, reabertura de escolas não elevou contágio


por coronavírus, diz agência de saúde
Órgão faz a ressalva de que medidas de higiene e distanciamento precisam estar
implantadas por toda a sociedade

7.ago.2020 às 17h40

Ana Estela de Sousa Pinto (https://www1.folha.uol.com.br/autores/ana-estela-de-sousa-pinto.shtml)

BRUXELAS Quando as escolas reabriram na República Tcheca, em maio, Elis


Silveira esperou um pouco antes de mandar Pedro e Isadora para as turmas
de quarto e sétimo ano. A presença era opcional, e ela se preocupava com o
risco de que o menino pudesse contagiar a avó, com quem faz as lições de
casa.

“Depois vimos que estava tudo tranquilo”, diz ela. As turmas eram de no
máximo 15 alunos e, para os mais velhos, só duas vezes por semana, em
esquema de revezamento —e todos de máscara.

Também na Alemanha o ensino primário adotou turmas alternadas, uma a


cada semana, e Michael, 11, voltou logo no primeiro dia, afirma Giovanna
Bader. Já sua filha Valentina, 4, ia todos os dias, porque estava em fase de pré-
alfabetização.

“Demos graças a Deus. Para os pais foi muito difícil acompanhar o ensino em
casa, porque as escolas alemãs não tinham dinâmica nenhuma para o estudo
online”, diz ela.
Alemanha e República Tcheca estiveram entre os primeiros países europeus
a reabrirem o ensino primário depois de quarentenas, segundo a agência
europeia de controle de doenças transmissíveis (ECDC), que publicou nesta
quinta (6) um relatório sobre o impacto da volta às aulas
(https://www.ecdc.europa.eu/sites/default/files/documents/COVID-19-schools-transmission-August%202020.pdf) .

Não há parâmetros para comparar a situação brasileira com a europeia,


porque a doença atingiu os territórios em momentos diferentes, com outro
grau de conhecimento sobre sua dinâmica, prevenção e tratamento. Além
disso, a Europa adotou restrições duras, derrubou rapidamente o número de
novos casos e implantou um sistema eficiente de testes e rastreamento, com
raras exceções.

Nesse cenário, o que o ECDC conclui depois de acompanhar de perto 31


países em três níveis (ensino fundamental, primário e secundário) é que:

1) em geral, reabrir escolas não teve impacto significativo sobre a


transmissão comunitária;
2) fechar escolas não é, isoladamente, uma medida eficaz para conter a
transmissão de coronavírus;
3) abrir ou não é uma decisão que depende muito da capacidade de
implantar outras medidas de controle do contágio.

A agência afirma que, sem informações conclusivas sobre o papel das


crianças na transmissão do coronavírus, muitos países tomaram a decisões
com base no que se sabia sobre o impacto do fechamento preventivo de
escolas na transmissão de Influenza.

Eles começaram a fechar as escolas em março e, no final de abril, 80% dos


governos haviam parado as creches e pré-escolas, 90%, o ensino primário (de
5 a 11 anos) e 100% o ensino secundário (de 12 a 18 anos). Quatro países
(Estônia, Finlândia, Islândia e Suécia) nunca encerraram pré-escolas, e dois
mantiveram abertas também as primárias (Islândia e Suécia).

As reaberturas parciais começaram na segunda quinzena de maio na maioria


dos Estados europeus. Na Dinamarca, também um dos primeiros a retomar
aulas com um detalhado plano de etapas e controles, o novo semestre
começa nesta segunda (10), já em modo normal
(https://www.uvm.dk/aktuelt/nyheder/uvm/2020/jun/200619-nye-retningslinjer-for-dagtilbud-skoler-og-institutioner-er-

paa-plads), segundo Liv Arnth Jorgensen, do Ministério da Educação.

Medidas especiais de higiene e distanciamento físico entre estudantes de


turmas diferentes, porém, serão mantidos.

A agência observa que menos de 5% dos casos de Covid-19 nos 31 países


ocorreram com menores de 18 anos e, nos países que fizeram estudos de
anticorpos, o contato de crianças e jovens com o coronavírus se revelou
ligeiramente menor que entre adultos.

Estudos em escolas mostraram que era incomum a transmissão de


coronavírus entre alunos, e a frequência às aulas não era a principal causa
dos casos registrados após a reabertura dos colégios, principalmente entre
as crianças menores.

Uma pesquisa conjunta feita por dois países que adotaram ações diferentes
(a Suécia, que manteve o ensino primário funcionando, e a Finlândia, que
fechou de 18 de março a 13 de maio), concluiu que a interrupção das aulas
não teve efeito mensurável no número de casos de Covid-19 entre as crianças
(https://www.folkhalsomyndigheten.se/contentassets/c1b78bffbfde4a7899eb0d8ffdb57b09/covid-19-school-aged-

children.pdf).

Segundo os pesquisadores, além de não serem um grupo de risco para a


doença, as crianças “parecem desempenhar um papel menos importante do
ponto de vista da transmissão”.

No Reino Unido, onde as escolas foram fechadas em 20 de março e ainda não


reabriram, há discussão intensa sobre a necessidade de abri-las. A Sociedade
de Pediatria britânica afirma que a reabertura é “prioridade número um da
sociedade”.

Segundo eles, a falta de aulas agrava a desigualdade de oportunidades entre


alunos mais ricos e mais pobres —esses, assim como no Brasil, têm menos
acesso a computadores e internet e menos apoio em casa para acompanhar
aulas online.
A dificuldade em manter o nível do ensino a distância também foi notada em
estudo patrocinado pelo governo alemão, corroborando a impressão de
Giovanna sobre a dificuldade de seus filhos.

"Uma infraestrutura técnica e organizacional confiável que pudesse lidar


com o fechamento total de instituições de ensino ainda não existe na
Alemanha. Crianças e jovens, suas famílias e especialistas em educação são,
portanto, particularmente afetados pela crise atual", diz o estudo publicado
nesta quinta pela Academia Nacional de Ciências Leopoldina
(https://www.leopoldina.org/publikationen/detailansicht/publication/coronavirus-pandemie-fuer-ein-krisenresistentes-

bildungssystem-2020/) .

Além do impacto negativo no aprendizado, a falta de aulas tem


consequências sérias para a saúde mental e para o desenvolvimento dos
alunos, afirmam pediatras e também um dos conselheiros do governo
britânico, Graham Medley, do Grupo Consultivo Científico para Emergências.
“É uma questão de prioridade: achamos que os pubs são mais importantes
que as escolas?", questionou ele em um programa de TV. No Reino Unido, os
bares reabriram no começo de julho (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/08/reino-unido-ja-
discute-se-e-preciso-fechar-pubs-para-reabrir-escolas.shtml).

O debate voltou à tona depois que um estudo recém-publicado previu uma


nova onda ainda mais alta (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/08/reino-unido-ja-discute-se-e-
de Covid-19 na Grã-Bretanha se as escolas
preciso-fechar-pubs-para-reabrir-escolas.shtml)

reabrirem sem um programa eficiente de testes e rastreamento de contatos.

Na Itália, um dos países mais severamente afetados pela pandemia, o


governo optou por retomar as aulas apenas em setembro.

Em meio a preocupações com um repique do contágio no continente, a


agência de saúde italiana afirmou que está decidindo com os ministérios da
Saúde e da Educação os cuidados para a reabertura.

Segundo Pier David Malloni, do Instituto Superior de Saúde, haverá


vigilância específica para acompanhar as transmissões depois que os alunos
voltarem aos bancos escolares.
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ENDEREÇO DA PÁGINA

https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/08/na-europa-reabertura-de-
escolas-nao-elevou-contagio-por-coronavirus-diz-agencia-de-saude.shtml

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