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Ricardo Salztrager

Do desamparo à fantasia efetiva*

A proposta do artigo é lançar alguns subsídios que auxiliem na circunscrição das


funções desempenhadas pelas figuras do desamparo e da fantasia no processo de
constituição subjetiva. Nesta perspectiva, a questão do advento do sujeito será
pensada como uma operação eminentemente fantasmática, empreendida para fazer
frente à condição de desamparo psíquico.
> Palavras-chave: Constituição subjetiva, fantasia, desamparo, singularidade, psicanálise

The purpose of this article is to provide a discussion of the functions carried out by
the concepts of helplessness and fantasy in the process of the constitution of the
subject. From this perspective, the advent of the subject is considered an eminently
phantasmagoric operation developed in order to face the condition of psychic
helplessness.
> Key words: Subjective constitution, fantasy, helplessness, singularity, psychoanalysis
artigos > p. 76-87

A categoria de sujeito é entendida pela psi- da na representação que se tinha, até en-
canálise de uma maneira bastante específi- tão, do homem. Este corte foi marcado pelo
ca, se comparada à compreensão de outras deslocamento fundamental da consciência
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ciências, tal como a filosofia. Com efeito, o para o inconsciente, conforme a exposição
pensamento freudiano caminhou rumo à do livro A interpretação de sonhos (Freud,
ano XIX, n. 185, março/2006

desconstrução da concepção cartesiana de 1900) de que as mais complexas operações


sujeito, instituindo uma modificação profun- de pensamento seriam possíveis sem a me-

*> O presente artigo foi fruto da pesquisa realizada na dissertação de Mestrado intitulada “Os paradoxos
da fantasia” e defendida em setembro de 2002, bem como do Projeto de Tese de Doutorado intitulado
“Os destinos da fantasia na contemporaneidade”, a ser defendido em fevereiro de 2006. Ambas as pes-
quisas foram orientadas pela Dra. Regina Herzog. O endereço do Programa de Pós-Graduação em Teoria
Psicanalítica é Av. Pasteur, 250/fundos – Campus Praia Vermelha. 22290-240 Rio de Janeiro, RJ.

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diação necessária da consciência. Trata-se, resse para a análise do ensaio “O futuro de
segundo Freud (1917), do estabelecimento da uma ilusão” (Freud, 1927), que situa a condi-
“terceira ferida narcísica na história da hu- ção de desamparo como o verdadeiro motor
manidade”: o sujeito é eminentemente cli- da atividade fantasmática. Em seguida, nos
vado, sendo abolida a ilusão de completude debruçaremos sobre um estudo acerca dos
egóica na medida em que o eu se encontra modelos da vivência de satisfação e de “Sua
totalmente subordinado aos processos psí- majestade, o bebê”. Esta discussão, por sua
quicos inconscientes e ao imperativo das vez, conduzirá a um exame da dimensão
tendências pulsionais. propriamente interpretante da atividade
Além de fornecer os mais variados subsí- fantasmática que, por possibilitar o trabalho
dios para uma análise topográfica, dinâmica de elaboração psíquica de alguns resíduos
e econômica do funcionamento psíquico, a traumáticos da experiência subjetiva, adqui-
metapsicologia freudiana também coloca à re um papel crucial na dinâmica do proces-
disposição alguns elementos que permitem so de subjetivação.
a compreensão do processo de constituição
subjetiva. Lacan, ao longo de seus escritos e O sujeito ante o fantasma e o
seminários, aborda este tópico com profun- desamparo
didade, postulando que o sujeito advém a O vínculo que une a atividade fantasmáti-
partir do Outro, dimensão referida à ordem ca à condição de desamparo psíquico é me-
simbólica, frente à qual o sujeito se encon- lhor evidenciado em “O futuro de uma
tra submetido (1956). Em termos freudianos, ilusão”, texto no qual Freud (1927) se volta
é lícito depreender tais considerações em para uma análise acerca do papel da religião
ensaios como “Projeto para uma psicologia no mundo civilizado e dos fatores que impe-
científica” (Freud, 1895) e “Sobre o narcisis- lem o sujeito a uma aceitação incrédula dos
mo: uma introdução” (Freud, 1914), mais es- preceitos perpetrados pela figura divina. De
pecificamente quando são analisados os acordo com esta nova retomada da questão,
artigos

modelos da “vivência de satisfação” e o de o sentimento religioso é mantido e preser-


“Sua majestade, o bebê”. Nestes dois mode- vado pela condição fundamental de desam-
los, destaca-se o confronto do sujeito com a paro, que embora possua um protótipo
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alteridade necessária à sua constituição, infantil, freqüentemente acomete o ser hu-


sendo o processo de subjetivação pensado mano ao longo de sua existência.
como uma operação psíquica eminentemen- A discussão se inicia com a enumeração do
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te fantasmática, efetivada para fazer fren- montante de sacrifícios que os sujeitos são
te ao estado de desamparo. obrigados a fazer em prol do bem-estar da
Sob este pano de fundo, a proposta do pre- civilização. Ora, a civilização traria consigo
sente artigo é investigar as funções das fi- uma série de regulamentos que regem a
guras do desamparo e da fantasia no vida em comunidade, impondo aos sujeitos
mecanismo de constituição subjetiva. Num a renúncia às suas satisfações pulsionais
primeiro momento, voltaremos nosso inte- imediatas, sejam elas sexuais ou agressivas.
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Deste modo, a cultura é apresentada como distantes. Contudo, se nos elementos se enfu-
o conjunto de relações simbolicamente es- recem paixões da mesma forma que em nossas
truturadas entre os seres humanos – e por almas, se a própria morte não for algo espon-
tâneo, mas o ato violento de uma Vontade ma-
eles confeccionadas –, permitindo-lhes a su-
ligna, se tudo na natureza forem Seres à nos-
peração das condições da vida animal. Se, sa volta, do mesmo tipo que conhecemos em
porventura, estas leis fossem suspensas, os nossa própria sociedade, então poderemos res-
impulsos hostis à civilização não encontra- pirar aliviados, sentir-nos em casa no sobrena-
riam obstáculos para as suas realizações, e tural e lidar com nossa insensata angústia atra-
a vida em comunidade estaria seriamente vés de meios psíquicos. Talvez ainda nos
ameaçada. achemos indefesos, mas não mais desampara-
Ainda sob o pano de fundo do antagonismo damente paralisados; pelo menos, podemos
entre natureza e civilização, é assinalado reagir. (Ibid., p. 25)
que esta última abrange todo o saber adqui- É justamente nesta passagem que podemos
rido pelo homem, ao longo dos tempos, pos- entrever o elo entre a atividade fantasmá-
sibilitando o conhecimento objetivo das leis tica e a condição de desamparo. Com efeito,
da natureza e o usufruto dos bens por ela a condição de terror à qual os seres huma-
fornecidos. Nesta medida, o conhecimento nos são entregues quando confrontados com
científico teria por função a manipulação da o poder superior da natureza, é caracteriza-
natureza e a predição de possíveis desastres da por Freud (ibid.) como um estado de de-
que ponham em risco o bem-estar da huma- samparo propriamente dito; e, frente a ele,
nidade. Entretanto, apesar de circunscrita nada mais resta aos sujeitos senão produzir
esta função de coibição, também é exposto algumas teorizações fantasmáticas a respei-
que a ciência possui uma série de limitações to do extrato incognoscível do universo. Por
em seu campo de atuação, levando-nos a meio destas, o sujeito obtém algum consolo
constatar que a pretendida coerção das leis e proteção. Em outros termos, mediante o
naturais é algo impossível de ser efetivado. processo de humanização imaginária da
morte e da natureza, o sujeito encontra as
artigos

Assim, sempre que o homem julga ter desen-


volvido um domínio pleno sobre a natureza, devidas condições para pensar sobre estes
os perigos desta retornam, seja sob a forma inacessíveis, e assumir uma posição ativa
frente a tal estado de coisas (Pereira, 1999).
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de terremotos, inundações, doenças e, até


Desta maneira, as fantasias em questão
mesmo, da morte (Freud, 1927). Desta forma,
consistem em tentativas do sujeito de ela-
cabe questionar: ante à impossibilidade de
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borar alguns dados da experiência que, até


dominar as forças da natureza, de modo a
então, se manifestavam como irrepresentá-
compreender as leis que regem seus fenô-
veis. Por conseguinte, Freud (1927) ressalta
menos, de quais outros artifícios dispõe o
que até mesmo o mecanismo psíquico que
sujeito para salvaguardar-se de seus peri- culminou na formulação do conceito abstra-
gos? Freud intervém com a seguinte resposta: to de Deus, por parte dos seres humanos,
Das forças e destinos impessoais ninguém merece ser vislumbrado como uma constru-
pode aproximar-se, permanecem eternamente ção fantasmática deste tipo: a figura divina
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interviria como aquela que, constituída à os devidos meios para tentar significar aqui-
maneira de um ser humano, governa os fe- lo que é da ordem do enigmático.
nômenos naturais, exorcizando seus terro- A circunscrição desta função desempenha-
res e protegendo-nos das suas crueldades. da pela atividade fantasmática na dinâmica
Neste sentido, as idéias referentes à bene- psíquica é, por sua vez, crucial para o enten-
volência de uma entidade superior – encar- dimento do processo de estruturação subjetiva.
regada da justiça, dos regulamentos sociais
e da assistência ao sofrimento que aflige o O processo de subjetivação
ser humano – também são circunscritas en- O pensamento lacaniano deu relevo à for-
quanto criações fantasísticas da humanida- mulação de que o sujeito se constitui a par-
de, erigidas, justamente, para fazer frente tir da ordem simbólica, sendo este domínio
ao estado de desamparo inerente às subje- remetido ao campo da linguagem, dentro do
tividades. Em si, o processo instigador des- qual o sujeito será aos poucos inserido, sub-
tes fantasmas acerca das divindades encon- metendo-se a determinados padrões éticos
tra seu protótipo na condição em que uma e culturais (Lacan, 1956). Tratar-se-ia, no
criança desamparada se volta para as figu- universo simbólico, de um mundo de lingua-
ras parentais em busca de proteção, sendo gem atravessado por formações discursivas
o mecanismo psíquico de glorificação da fi- que precedem o nascimento do sujeito e an-
gura divina algo semelhante ao que, outro- tecipam o seu porvir, moldando-o conforme
ra, resultara na idealização dos pais por par- alguns valores e leis. No processo de subje-
te da criança. tivação, o conjunto destes discursos concer-
A partir da releitura do ensaio em questão, nentes à ordem simbólica é transmitido à
podemos depreender que a noção de desam- criança pelas figuras parentais.
paro psíquico é tomada em sua radicalidade, Com efeito, muito antes do nascimento de
recebendo o estatuto metapsicológico de uma criança, um lugar já lhe é designado no
condição necessária ao advento da ativida- universo lingüístico dos pais, na medida em
de psíquica. Em contrapartida, a atividade que estes depositam em seus filhos determi-
artigos

fantasmática é circunscrita como o artifício nadas aspirações, anseios ou valores, abrin-


por meio do qual os sujeitos dispõem para do o devido espaço para o empreendimento
tentar dar conta deste estado fundamental de uma série de processos identificatórios.
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de desamparo. Ou seja, ela se presentifica Tais formações desejantes, que permeiam os


enquanto um verdadeiro testemunho da ati- discursos dos adultos, funcionam como ver-
vidade psíquica (Enriquez, 1990) adquirindo, dadeiros subsídios por meio dos quais se em-
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na dinâmica de funcionamento do aparato, preende o trabalho de estruturação


uma função bastante evidente: é pela pro- subjetiva; daí a proposição lacaniana de que
dução fantasmática que o sujeito encontra o sujeito advém pelo desejo do Outro1 (La-

1> Convém destacar que tal formulação lacaniana é bastante complexa. Tendo em vista os limites do pre-
sente artigo, não cabe aqui uma exposição minuciosa desta proposição, bem como de suas articulações
com alguns conceitos cruciais, tais como o de metáfora paterna (Lacan, 1957-58) e o de objeto a (Lacan, 1964).

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can, 1964). De acordo com tal concepção, a te vinculada à instância denominada de “eu
subjetividade seria fruto dos discursos pa- ideal”. De fato, é assinalado que a criança
rentais que, perpassados por uma série de se evidencia, nas fantasias parentais, como
construções fantasmáticas, vêm representar um refúgio favorável para que eles revivam
o sujeito, marcando-o profundamente e for- suas tendências narcisistas há muito aban-
necendo-lhe determinadas características donadas, sendo os atributos e regalias con-
singulares. feridas à criança verdadeiros privilégios dos
Cabe ressaltar que esta argumentação não é quais os próprios pais se privaram ao longo
de modo algum estranha ao pensamento de suas vidas. Nesta medida, Freud (1914)
freudiano, sendo possível encontrar, ao lon- ressalta as dificuldades que o sujeito encon-
go de sua obra, uma série de indicações que tra para renunciar a um prazer outrora des-
conduzem a tal conclusão. Talvez a mais co- frutado: quando, com o advento do processo
nhecida destas exposições é apresentada no de recalque, ele se vê na obrigação de abrir
ensaio “Sobre o narcisismo: uma introdu- mão da satisfação de suas aspirações narcí-
ção”, no qual Freud (1914) se volta para a sicas, entra em cena um mecanismo psíqui-
análise de algumas observações e inferên- co eminentemente fantasmático que visa a
cias acerca da atitude emocional dos pais recuperação destas tendências recalcadas.
para com seus filhos. Sua investigação culmi- Deste modo, a perfeição narcisista dos pais
na na postulação de que o comportamento estaria intimamente preservada na esfera
bastante amistoso das figuras parentais fantasmática e deslocada em direção à ins-
conduz à constituição de uma imagem idea- tauração do “ideal do eu”.
lizada da criança, situando-a enquanto “Sua São, portanto, os ideais parentais que forne-
majestade, o bebê”. Fica marcado com isso cem os alicerces necessários para o adven-
que, mediante uma atitude geralmente ter- to do sujeito e, sob este prisma, não cabe
na, os pais se encontrariam absortos na considerarmos o processo de subjetivação
compulsão de atribuir às crianças toda a como o efeito de um discurso meramente
artigos

gama de perfeições e, ao mesmo tempo, ocul- entusiasta e que despreza quaisquer formas
tar suas deficiências e fraquezas. Ademais, de consciência crítica. Pelo contrário, deve-
eles também reivindicariam para seus filhos mos reconhecer que o universo fantasístico
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o direito a determinados privilégios, facili- dos pais encontra-se também subordinado à


tando todos os caminhos para que a crian- dimensão simbólica, abrangendo, em seu
ça não encontre o menor obstáculo para a domínio, os mais variados aspectos que re-
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realização de seus anseios. metem às exigências da lei e da linguagem.


O conjunto destas imagens idealizadas seria Nesta perspectiva, a fantasia merece ser
sobreposto ao corpo até então fragmentado vislumbrada no sentido estrito de uma for-
do infante, tornando possível a unificação mação de compromisso: ela se configura
das pulsões auto-eróticas no plano egóico. como a resultante de um conflito entre, de
Daí, o mecanismo de fundação do narcisis- um lado, um desejo recalcado que almeja
mo primário, formação psíquica estritamen- ascender à consciência e, de outro, um im-
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pulso contrário que tenta suprimi-lo (Freud, psíquicos secundários que, atrelados às ope-
1919). rações de pensamento, buscam o estabele-
Podemos igualmente reconhecer um esboço cimento de associações entre as
metapsicológico do processo de constituição representações já inscritas no aparato. De
subjetiva no modelo da vivência de satisfa- fato, a partir da primeira intervenção mater-
ção apresentado no “Projeto para uma psi- na, que culminou no empreendimento da
cologia científica”. Freud (1895) inicia sua ação específica, outras vivências de satisfa-
teorização mencionando o exemplo de um ção serão efetivadas e cada uma delas dei-
recém-nascido que, desamparado, tenta su- xará marcas indeléveis no psiquismo do
primir uma estimulação desprazerosa por in- bebê. Dá-se, portanto, uma complexificação
termédio de respostas motoras, como o choro do aparato, mediante a constituição de uma
e o agito dos membros. No entanto, é assi- série infindável de caminhos facilitados, es-
nalado que tais respostas não produzem o quematizados enquanto trilhamentos neuro-
alívio desejado, sobretudo por ainda persis- nais. Estes, na medida em que vão se
tir o estímulo desagradável. Neste caso, a tornando mais numerosos, fornecem o solo
eliminação do desprazer só será obtida me- propício para o advento de imbricadas redes
diante a realização de uma ação específica, de representações psíquicas, a serem cons-
ou seja, o outro que lhe fornece o alimento. tantemente reinvestidas pelos processos de
Com o alívio da tensão, se estabelece uma pensamento a cada recorrência do estado de
primeira facilitação entre os neurônios que desamparo (Freud, 1895).
correspondem à lembrança do seio e os que Com efeito, está implícito no texto de Freud
foram informados da descarga pela ação es- (ibid.) o dinamismo concernente ao proces-
pecífica. Por conseguinte, o reaparecimen- so de assunção da linguagem por parte da
to do estado de desejo provoca o surgimento criança, pela sua constante interação com as
de um impulso que reinveste a lembrança do figuras parentais. Segundo este ponto de vis-
seio, em virtude do caminho facilitado no ta, os pais introduziriam a criança no uni-
artigos

sistema neuronal. Neste segundo momento, verso simbólico por intermédio das
a satisfação também não é alcançada, pois sucessivas atribuições de sentido para o es-
a situação tem como resultado uma alucina- tado de desamparo no qual o bebê se encon-
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ção do seio. tra submerso. Em outros termos, ao


A frustração ocasionada pela via alucinató- responder ao choro do bebê com o forneci-
ria promove o advento da organização egói- mento de algum alimento, por exemplo, a
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ca, cuja função é inibir o caminho regressivo, mãe, retroativamente, nomeia de fome o
caso o objeto desejado não se encontre no desconforto do filho, ficando descartada a
mundo externo. Assim, por intermédio de existência de um significado primitivo e ocul-
uma ação eficaz do eu, entra em cena um to por detrás do choro e gestos da criança;
conjunto de processos psíquicos mais efica- pelo contrário, o sentido é erigido pela no-
zes, que possibilitam uma descarga mais se- meação e interpretação, por parte dos pais,
gura da excitação. Trata-se dos processos do desprazer experimentado pelo bebê. Em
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suma, estas interpretações propostas pelas nhezas e efeitos de surpresa, que ainda não
figuras parentais possuem, no processo de foram devidamente circunscritos. De fato, a
subjetivação, a mesma função das fantasias inclusão da criança no universo simbólico só
emprestadas à criança, acima mencionadas se dá ao custo de uma alienação exacerba-
na análise do modelo “Sua majestade, o da, posto que as mensagens advindas do
bebê”: elas também fornecem os pontos de mundo adulto determinam de maneira cru-
apoio necessários para o advento de uma cial os desejos do infante, antes mesmo que
subjetividade na medida em que se configu- ele possua os devidos meios para
ram como elementos por meio dos quais compreendê-las. Sob esta ótica, a constitui-
será empreendido um mecanismo de identi- ção subjetiva merece ser vislumbrada, em
ficação. última instância, como um processo funda-
Entretanto, cabe ressaltar que este proces- mentalmente traumático.
so é bem mais complexo e não deve ser cir- Num contexto específico, Ferenczi (1933)
cunscrito apenas em referência ao contexto expôs as principais premissas do embate da
da dimensão alienante do desejo da crian- criança com o universo simbólico: uma con-
ça frente às fantasias das figuras parentais. fusão de línguas é gerada quando, por exem-
Ou seja, as fantasias depositadas na crian- plo, um infante, provido de uma linguagem
ça não são de cunho totalmente determinis- eminentemente terna, seduz um adulto
ta, como se correspondessem a padrões que, por sua vez, reage à brincadeira com
rígidos com os quais ela se identifica, de uma linguagem de paixão. Sendo, neste
modo que toda a produção fantasística pos- caso, a diferença entre as línguas bastante
terior do sujeito fosse condenada a configu- evidente, a culpa sentida pelo adulto, após
rar-se como uma mera atualização das o ato de violência, se manifestaria como
fantasias parentais. Pelo contrário, para o algo incompreensível para a criança. Em ou-
pensamento psicanalítico, o sujeito que se tros termos, o domínio da paixão remeteria
constitui a partir destes modelos é, em últi- a uma linguagem bastante complexa, da qual
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ma instância, um sujeito singular, dotado de o infante não possui o menor entendimen-


fantasmatizações e formações desejantes to, e, ante este inacessível, a criança reage
que lhes são próprias. Debrucemo-nos sob com um efeito de surpresa, sendo tomada
este aspecto. por um afeto de profunda estranheza. A cir-
cunscrição metapsicológica deste estranha-
A metáfora fantasmática mento ocasionado pela confusão de línguas
ano XIX, n. 185, março/2006

O dinamismo do confronto da criança com pode nos ser bastante útil na medida em
as fantasias paternas é marcado por inúme- que ilustra, de maneira exemplar, os emba-
ros volteios, tais como traumatismos, estra- tes da criança com o mundo adulto.2

2> Segundo a visão de Ferenczi (1933), o fator traumático não estaria remetido à cena de sedução, mas a
seu desmentido. No entanto, de acordo com Pinheiro (1995), a abordagem ferencziana admite a possibi-
lidade de um trauma ser estruturante ou desestruturante, a depender da capacidade do sujeito de

>82
Cabe também assinalar que não apenas a umas às outras na forma de uma trama de
criança ignora a significação das mensagens significações, dizendo respeito a marcas psí-
transmitidas pelos adultos, mas estes, em quicas de imagens sensoriais diversas, liga-
parte, também desconhecem o sentido da- das a sensações corporais localizadas e a
quilo que enunciam. Ou seja, quaisquer des- experiências perceptivas (Perron-Borelli,
tas mensagens circunscritas, por exemplo, 1997). Tratar-se-ia, em outros termos, de
nas relações de cuidados parentais são sem- uma inscrição psíquica de natureza seme-
pre perpassadas pela atuação de desejos in- lhante ao do registro mnêmico designado
conscientes e, portanto, desconhecidos para por Freud (1896), na “Carta 52”, pelo termo
as próprias pessoas que assistem à criança. “signos de percepção”.
Se, porventura, o adulto se deparar com o Os signos de percepção configuram-se como
sentido sexual oculto por detrás de suas resíduos da atividade psíquica, estruturas
fantasmatizações ou projeções narcísicas dissociadas que se perpetuam no aparato,
depositadas nos filhos, ele também reagirá na forma de uma escritura elementar, per-
com o mesmo sentimento de estranheza ou manecendo nestas condições até a conse-
efeito de surpresa. cução de uma operação de tradução psíqui-
Nesta medida, uma pergunta se coloca: de ca (Braunstein, 1990). Este procedimento –
qual maneira estes significantes enigmáti- esquematizado na “Carta 52” (Freud, 1896)
cos, enunciados pelos pais no processo de pela retranscrição mnêmica que faz erigir os
constituição subjetiva, se inscrevem no registros da “inconsciência” e da “pré-cons-
aparelho psíquico da criança? Com base na ciência” – terá por função inserir estes cor-
discussão acima empreendida, não cabe pos estranhos numa rede significante com-
considerarmos que as fantasias transmitidas plexa. Assim, efetivada a operação de
pelos pais, no modelo de “Sua majestade, o tradução, os diversos signos de percepção
bebê” ou as interpretações fornecidas para são nomeados e reagrupados na forma de
o choro ou gestos musculares da criança se uma narrativa, de modo que eles possam cir-
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inscrevem no psiquismo do infante como cular por entre os meandros da trama de


representações já portadoras de um sentido. significações. O trabalho de elaboração psí-
Pelo contrário, pressupondo que a criança quica dos resíduos traumáticos resulta, por
não obtém a compreensão exata das men- sua vez, na construção de uma fantasia
sagens emitidas pelos adultos, restaria a (Perron-Borelli, 1997).
elas o destino de permanecerem enraizadas Nos termos do “Projeto para uma psicologia
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no psiquismo do infante como verdadeiros científica” (Freud, 1895), a constituição desta


corpos estranhos (Laplanche, 1988): inscri- rede fantasmática corresponderia à monta-
ções mnêmicas caóticas e não articuladas gem do circuito neuronal de facilitações,

integrá-lo ou não no aparelho psíquico. No caso da ausência do desmentido, o trauma seria considerado
como algo estruturante, posto que, conforme o desenvolvimento de nossa análise, ele promoverá uma
reorganização psíquica e o advento de um processo identificatório.

>83
permanentemente reinvestido pelas opera- fantasias que a criança vai se identificar.
ções de pensamento, sempre que o estado Os fantasmas de Hanold acerca da estátua
de desamparo retorna. Por este viés, a ca- da Gradiva, por exemplo, ilustram de manei-
deia fantasística consistiria na reunião de ra bastante elucidativa este procedimento
antigas facilitações, outrora inscritas no psi- de produção fantasmática a partir de um de-
quismo do bebê a partir dos mais variados terminado signo enigmático. O conto de
encontros com o mundo adulto, sendo o ad- Jensen (1903) se inicia com o arqueólogo
vento destas imbricadas tramas de facilita- surpreendido pela graciosidade de uma moça
ções, algo que se forma à medida que o su- representada numa escultura de gesso. Side-
jeito obtém êxito em significar as mensa- rado ante a beleza de seu andar, ele se põe
gens enigmáticas emitidas pelos adultos. a arquitetar as mais diversas fantasias a
Assim, destacamos que, por meio desta ope- respeito de como teria sido a vida da jovem.
ração de significantização, o sentido das Num primeiro momento, dá-lhe o nome de
mensagens em questão, num primeiro mo- Gradiva, que significa “a jovem que avança”;
mento atrelado às fantasias parentais é, em em seguida, acreditando ver traços helêni-
parte, corrompido e, em seu lugar, advém cos em sua fisionomia, concede-lhe a origem
uma nova significação, agora vinculada grega; por fim, mediante a dificuldade de si-
às fantasmatizações do próprio infante. tuar os traços da moça no cotidiano agitado
Desta maneira, para sua constituição, é ne- da capital, deduz que, apesar de sua origem
cessário ao sujeito se apoderar destes grega, ela deve ter morado na cidade de
corpos estranhos, pervertendo-os e Pompéia. Em suma, o conto se desenvolve
reinterpretando-os. com a enunciação dos fantasmas e sonhos
Temos, neste caso, a consecução de uma de Hanold, todos eles construídos a partir da
operação eminentemente metafórica posto situação de estranhamento e surpresa oca-
que, segundo as palavras de Lacan (1957- sionada pela percepção do andar da moça.
1958), o sujeito vai “tomar um elemento no Quando, no desfecho do conto, o arqueólo-
artigos

lugar onde ele se encontra e substitui-lo por go descobre que Gradiva era, na verdade,
outro” (p. 103). Com efeito, os processos me- sua amiga de infância Zoe Bertgang, o leitor
tafóricos são estritamente vinculados à pos- compreende que todos os devaneios em
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sibilidade do sujeito, por intermédio de suas questão remetiam ao acervo de impressões


fantasmatizações, mediatizar as formações recalcadas de Hanold. Assim, em sua inter-
desejantes das figuras parentais e empreen- pretação para o romance, Freud (1907) des-
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der um trabalho de simbolização das mensa- taca que Zoe é um nome helênico; daí, a
gens que lhes são perpetradas. Por meio fantasia de que Gradiva deveria ser grega. O
destas inúmeras e constantes operações próprio nome Gradiva, por sua vez, seria
metafóricas, um processo de subjetivação uma tradução do sobrenome Bertgang, que
vai sendo empreendido. Em suma, é com significa “alguém que brilha ao avançar”.
este novo sentido fornecido para os dese- Quanto à fantasia da jovem ter habitado em
jos parentais a partir de suas próprias Pompéia, uma analogia é circunscrita entre
>84
o soterramento da cidade e o recalcamento atividade fantasmática o papel de significan-
da amizade entre os dois personagens do tizar alguns elementos inapreensíveis e,
conto. Trata-se, de acordo com a análise portanto, traumatizantes com os quais o su-
freudiana, de assinalar que tais fantasmati- jeito se defronta: mediante o procedimento
zações seriam sobredeterminadas e expres- de integração destes signos numa narrativa
sariam, de modo disfarçado, os impulsos fantasística, um sentido para eles é atribuí-
desejantes inconscientes do arqueólogo. do, sendo possível ao sujeito elaborar o es-
Ao colocarmos o acento metapsicológico no tado de desamparo.
signo enigmático instigador destas produ- Esta mesma função da atividade fantasmá-
ções fantasísticas – no caso, o andar de tica pode ser igualmente vislumbrada em
Gradiva –, podemos também depreender outros ensaios da obra freudiana, tais como
que elas se configuram enquanto frutos do “Romances familiares” (Freud, 1909) e “So-
amplo trabalho de elaboração psíquica des- bre as teorias sexuais das crianças” (Freud,
te elemento estranho e peculiar que tanto 1908). No primeiro caso, a ênfase recai no
desconcertara o arqueólogo no instante da desmoronamento das idealizações, por par-
visão da estátua. De acordo com tal encami- te do sujeito, das figuras parentais. Desam-
nhamento, a atividade fantasística é privi- parado, ao sentir-se negligenciado e
legiada em sua finalidade de atribuição de desprovido dos amores dos pais, o sujeito se
algum sentido para determinados signos, põe a elaborar os mais variados devaneios
frente aos quais o sujeito reage com um afe- referentes à sua condição familiar. Tais fan-
to de estranheza ou efeito de surpresa. So- tasmas girariam em torno da temática da
bressai-se, assim, a dimensão eminente- adoção, sendo possível ao sujeito, por este
mente interpretante da figura da fantasia e, viés, fornecer algum sentido para a diminui-
por este viés, os devaneios em questão me- ção da estima de seus pais: como ele fora
recem ser examinados como tentativas do adotado quando criança, pertence na verda-
arquiteto de proporcionar algumas explica- de a outra família e, por isso, não é digno de
artigos

ções para as características enigmáticas pre- carinho algum (Freud, 1909).


sentes na escultura. Já no contexto das teorizações sexuais in-
Sob esta ótica, circunscrevendo a situação fantis, a condição de desamparo, à qual a
pulsional > revista de psicanálise >

de estranhamento de Hanold diante da es- criança é entregue, é associada às suspeitas


tátua como uma condição de desamparo de que a possível vinda de um irmão pode-
propriamente dita – posto que, nesta oca- rá trazer conseqüências irreversíveis para o
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sião, ele fora presa de um transbordamen- seu narcisismo. Trata-se, em outros termos,
to afetivo devido à impossibilidade de de um estado de desamparo associado à
simbolização dos signos emitidos pela obra quebra de ideais e ao pressentimento de
de arte –, proponho recuperar a proposição possíveis admoestações. Para fazer frente a
acima circunscrita, a que situava o desampa- tal estado, a atividade imaginativa da crian-
ro psíquico, como a força motriz das produ- ça é acionada, e ela se põe a empreender
ções fantasísticas. Nesta medida, caberia à algumas tentativas de solucionar os grandes
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enigmas concernentes à esfera da sexuali- singularidade. De fato, o procedimento em
dade, objetivando responder à questão da questão não deve ser, de modo algum, en-
origem dos bebês. Assim, abre-se o devido tendido por um viés totalmente determinis-
espaço para a entrada em cena de uma sé- ta, como se a única saída para a criança
rie de fantasmatizações referentes à uni- fosse alienar-se nas fantasias dos pais. Pelo
versalidade do pênis, à concepção sádica do contrário, as mensagens dos adultos, inscri-
coito e ao fato das crianças saírem do cor- tas no psiquismo do infante à maneira de
po da mãe através do orifício anal. De acor- corpos estranhos, funcionam como pontos
do com Freud (1908), estas produções de apoio para o sujeito construir uma iden-
fantasísticas, apesar de falsas e incompatí- tidade singular, através do sentido que ela
veis com a realidade, possibilitam à criança própria vai estabelecer para as fantasmati-
atingir alguns progressos em seus esforços zações das figuras parentais.
para o entendimento dos enigmas referen-
tes à origem do sujeito. Em suas palavras, Referências
embora estas teorias “cometam equívocos BRAUNSTEIN, Nestor. La jouissance: un concept
grosseiros, (...) se assemelham às tentativas lacanien. Paris: Point Hors Ligne, 1990.
dos adultos (...) para decifrar os problemas ENRIQUEZ, Eugène. Da horda ao Estado: psicaná-
do universo que são tão complexos para lise do vínculo social. Rio de Janeiro: Jorge
compreensão humana” (p. 195). Zahar, 1990.
Assim, de acordo com o encaminhamento FERENCZI, Sándor. (1933). Confusão de línguas en-
proposto no presente artigo, o procedimen- tre os adultos e a criança. In: Obras completas
to de estruturação subjetiva merece ser con- – Psicanálise IV. São Paulo: Martins Fontes,
figurado como uma operação eminentemen- 1992. p. 97-106.
te fantasística, realizada justamente para FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das
fazer frente à condição de desamparo. Este Obras Psicológicas Completas de Sigmund
último estaria vinculado ao traumatismo Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1995. 24 vols.
artigos

ocasionado pela impossibilidade da criança


_____ (1895). Projeto para uma psicologia
assimilar as mensagens emitidas pelos adul-
científica. In: Edição Standard Brasileira das
tos que a assistem. A atividade fantasmáti-
Obras Psicológicas Completas de Sigmund
pulsional > revista de psicanálise >

ca, por sua vez, teria por função servir de


Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1995. v. I.
mola mestra para o trabalho de elaboração
psíquica destes resíduos enigmáticos, orien- _____ (1896). Carta 52. In: Edição Standard
ano XIX, n. 185, março/2006

tando o processo de articulação e metaboli- Brasileira das Obras Psicológicas Completas de


zação do traumatismo e promovendo o ad- Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1995. v. I.
vento de um novo sentido para aquilo que _____ (1900). A interpretação dos sonhos.
vem do outro. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psico-
Deste modo, mediante o processo de nomea- lógicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Ja-
ção destes resíduos traumáticos pela crian- neiro: Imago, 1995. v. IV e V.
ça, estabelece-se o advento de uma _____ (1907). Delírios e sonhos na “Gradiva”

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de Jensen. In: Edição Standard Brasileira das ção Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro:
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1995. v. IX. Imago, 1995. v. XXI.
_____ (1908). Sobre as teorias sexuais das JENSEN, Wilhelm (1903). Gradiva: uma fantasia
crianças. In: Edição Standard Brasileira das pompeiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987.
Obras Psicológicas Completas de Sigmund LACAN, Jacques (1956). Situação da psicanálise e
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1995. v. IX. formação do psicanalista em 1956. In: Escritos.
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_____ (1914). Sobre o narcisismo: uma intro-
_____ (1964). O Seminário. Livro 11. Os qua-
dução. In: Edição Standard Brasileira das Obras
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artigos
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ano XIX, n. 185, março/2006

Artigo recebido em setembro de 2004


Aprovado para publicação em outubro de 2005
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