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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

CENTRO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

DHEFERSON SANTOS DE SANTANA

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA: ANÁLISE ECONÔMICA NO


PERÍODO DE 1930 A 1956

Boa Vista – RR
2016
DHEFERSON SANTOS DE SANTANA

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA: ANÁLISE ECONÔMICA NO


PERÍODO DE 1930 A 1956

Monografia apresentada como pré-requisito


para conclusão do Curso de Ciências
Econômicas do Departamento de Economia
da Universidade Federal de Roraima.

Orientadora: Prof.ª. Drª Ingrid Cardoso Caldas

Boa Vista – RR
2016
DHEFERSON SANTOS DE SANTANA

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA: ANÁLISE ECONÔMICA NO


PERÍODO DE 1930 A 1956

Monografia apresentada como pré-requisito para


conclusão do Curso de Ciências Econômicas do
Departamento de Economia da Universidade
Federal de Roraima sob a orientação da professora
Ingrid Cardoso Caldas.

_____________________________________________________________
Prof.ª Drª. Ingrid Cardoso Caldas
Orientadora / Curso de Ciências Econômicas - UFRR

_____________________________________________________________
Prof. Msc. Aaron Jonathan Edwards
Docente / Curso de Ciências Econômicas - UFRR

_____________________________________________________________
Prof. Dr. Romanul de Souza Bispo
Docente / Curso de Ciências Econômicas – UFRR

Boa Vista, RR ____ de ____________________de 2016.


DEDICATÓRIA
A minha mãe, Amarilda
Pinto dos Santos que sempre
acreditou nessa conquista, desde
o momento em que prestei o
vestibular. A minha namorada por
ter me apoiado nesta conquista.
AGRADECIMENTOS

À Deus, por ter me dado essa oportunidade e por ter estado junto nas noites
quando estava estudando, não me deixando desistir deste sonho. A minha família
por ter me ajudado ao longo dos meus estudos e que sempre apoiou nas minhas
escolhas.
À minha mãe Amarilda dos Santos e ao meu pai Altemar Santana por ter me
dado apoio e por ter acreditado nesse sonho. A minha irmã Géssica Santana que
todos os dias me buscava na universidade.
À Professora Dr. Ingrid Cardoso Caldas pela orientação dada e que sempre
me passou tranquilidade, além de ter estimulado minha independência e
autodeterminação em todo esse processo e aos conhecimentos passados durante o
período em que trabalhamos juntos.
À minha namorada e amiga de curso Geslane Silva que sempre me ajudou
nas minhas conquistas, que me deu força e foi meu braço direito na construção
desde trabalho que sempre ficava me incentivando a melhorar e das noites que
perdeu para me ajudar ao longo do curso.
À minha amiga Luciete Silva pelas orientações e aos amigos do curso,
Francisco Halison, Jorge Luiz, Nêmora Santos, Willian Souza, Antônio Brasil,
Weliton Lima, Paulo Henrique e José Nélio, juntos compartilhamos alegrias e
sufocos. Todos que sempre estiveram por perto fazendo parte dessa conquista.
Posso todas as coisas
naquele que me fortalece (Fp. 4:13)
RESUMO

Esta Monografia tem como objeto de estudo a revolução industrial, o qual tem como
objetivo analisar a revolução industrial brasileira no período de 1930 até 1956,
descrevendo a historicidade da economia brasileira e destacando os maiores
acontecimentos neste período. Para alcance deste, se fez necessário dividir o
arcabouço teórico em três capítulos: o primeiro consiste em relatar a economia
brasileira antes da revolução industrial; o segundo vem contextualizar a revolução
industrial, buscando apresentar o que foi a revolução industrial, os seus benefícios,
malefícios e ainda busca fazer menção da economia pós revolução industrial; o
terceiro capítulo propõe fazer uma análise dos dados econômicos durante a
revolução industrial. A metodologia utilizada na presente pesquisa deu-se com
abordagem qualitativa, classificada como pura, no que se refere aos objetivos foi
descritiva, quanto aos procedimentos foram bibliográficas e documental, sendo
elaboradas de materiais publicados e por documentos que não receberam
tratamento analítico. Após construção do desenvolvimento da pesquisa realizou-se
as considerações finais sobre o que emergiu durante o trabalho de pesquisa.

PALAVRAS-CHAVE: Economia, Revolução Industrial, Crise e Inflação.


ABSTRACT

This Monograph has as study object the industrial revolution, which aims to analyze
the Brazilian industrial revolution in the period from 1930 until 1956, describing the
historicity of the Brazilian economy and highlighting the major events in this period.
To reach this, it was necessary to divide the theoretical framework into three
chapters: the first is to report the Brazilian economy before the industrial revolution;
the second is to contextualize the industrial revolution, seeking to present what was
the industrial revolution, its benefits, harms and also seeks to make mention of the
post industrial revolution economy; the third chapter proposes to analyze the
economic data during the industrial revolution. The methodology used in this study
was given a qualitative approach, classified as pure, as regards the objectives was
descriptive, as the procedures were bibliographical and documentary being prepared
in published materials and documents that have not received analytical treatment.
After construction of the research development was held the final thoughts on what
emerged during the research.

KEYWORDS: Economy, Industrial Revolution, Crisis and Inflation.


LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ......................................................................................................26
Figura 02 ......................................................................................................27
LISTA DE TABELAS

Tabela 01 .....................................................................................................34
Tabela 02 .....................................................................................................40
Tabela 03 .....................................................................................................41
Tabela 04 .....................................................................................................43
Tabela 05 .....................................................................................................43
Tabela 06 .....................................................................................................47
LISTA DE ABREVIAÇÕES

BNDE – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico


CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
CSN – Companhia Siderúrgica Nacional
ONUBR – Organização das Nações Unidas no Brasil
PIB – Produto Interno Bruto
PSI – Processo de Substituição de Importações
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................. 12
1. ECONOMIA BRASILEIRA ANTES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .............. 14
2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .............................. 22
2.1. BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA ........... 31
2.2. ECONOMIA PÓS REVOLUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA ..................................... 33
3. ANÁLISE DOS DADOS ECONÔMICOS DURANTE A REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL (1930-1956) ............................................................................... 39
3.1. BALANÇA COMERCIAL ............................................................................................. 39
3.2. ENDIVIDAMENTO EXTERNO .................................................................................... 42
3.3. INFLAÇÃO.................................................................................................................. 46
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 52
12

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa visa aprofundar-se na temática da Revolução Industrial


brasileira, a qual teve início na segunda metade do século XIX. A Revolução
Industrial brasileira passou por períodos de extensão e de retração até os dias
atuais. A partir de 1930 este fenômeno se torna mais intenso, ocasionando fortes
transformações na estrutura socioeconômica brasileira, nas condições necessárias e
suficientes para o estabelecimento das relações capitalistas de produção e formação
de um centro econômico capitalista no país.
Considerando que a economia brasileira sofreu grandes transformações
desde o período colonial e que atualmente o quadro econômico brasileiro é o reflexo
dos acontecimentos do passado, começou a brotar o interesse pela temática.
Porém, o principal fator que desencadeou o interesse por esta pesquisa, foi a
disciplina “Economia Brasileira” oferecida no quarto semestre do curso, o que
instigou ainda mais a busca pelo conhecimento aprofundado sobre o assunto.
Então no decorrer do curso, a medida em que aumentava o arcabouço
teórico adquirido na academia de ensino, começaram a surgir indagações acerca da
revolução industrial, de tal modo, que a pergunta que norteou este trabalho
monográfico foi: Quais as consequências da Revolução Industrial no Brasil?
Quanto ao percurso metodológico, foi feito uma abordagem qualitativa, tendo
em vista que esta é indicada para auxiliar a identificar às características do objeto
estudado, no caso a revolução industrial. E, para atender aos objetivos foi utilizada a
pesquisa descritiva que procura conhecer com maior profundidade a temática
proposta.
A pesquisa é classificada em pura, pois toda a pesquisa, todo conhecimento
foi obtido através de teorias. Em relação aos procedimentos técnicos foi utilizada
pesquisa bibliográfica, documental, ou seja, a pesquisa foi elaborada a partir de
materiais publicados como livros, artigos científicos entre outros e também, de
documentos que não receberam tratamento analítico.
Assim sendo, esta pesquisa se desenvolve com o objetivo de analisar a
revolução industrial brasileira no período de 1930 até 1956, e para o alcance deste,
apresentam-se três capítulos, o primeiro consiste em relatar a economia brasileira
antes da revolução industrial, pois para maior compreensão da historicidade da
13

economia do país, buscou-se explanar o contexto geral antes do fenômeno


estudado.
O segundo capítulo versa sobre a contextualização da revolução industrial,
apresentando o que foi esta revolução na visão de vários autores como Mendonça
(2011), Miranda (2012), Cara e França (2009), Cavalcante e Silva (2011), entre
outros. Apresentando sua contextualização, faz-se necessário aludir o que a
revolução trouxe para o país, dando origem a dois subitens, sendo: “os benefícios e
malefícios da revolução industrial” e, “economia após revolução”.
E por fim, o terceiro capítulo propõe fazer uma análise dos dados
econômicos durante a revolução industrial, visto que este acontecimento impactou
significativamente a economia brasileira do país.
E finalmente, retratam-se as considerações finais acerca do que emergiu
durante o trabalho de pesquisa.
14

1. ECONOMIA BRASILEIRA ANTES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Neste primeiro capítulo será apresentada a economia antes da Revolução


Industrial, onde o Brasil passou por diversas fases importantes para o seu
desenvolvimento. E ainda, será realizada uma linha histórica acerca dessa temática,
tomando como partida a República Velha, no período de 1889 até o início do
desenvolvimento industrial.
Vale ressaltar que o processo de Revolução Industrial teve início em meados
do século XVIII, na Inglaterra, espalhando-se pela Europa neste mesmo período. O
Brasil nesta época era colônia de Portugal e sofria os efeitos do Pacto Colonial
imposto pela coroa portuguesa.
Para explicar o exposto, ressalta-se que este Pacto Colonial pode ser
definido como um conjunto de regras, leis e normas que as metrópoles impunham às
suas colônias durante o período colonial. Essas leis tinham como objetivo principal
fazer com que as colônias só comprassem e vendessem produtos à sua metrópole
(ALESSANDRE, 2006).
Destaca-se que durante o século XVIII, a Revolução Industrial consistiu num
fenômeno inteiramente inglês. Neste sentido Figueira (2005, 194) afirma que:
A Revolução Industrial foi o resultado de um longo processo que teve início
na Baixa Idade Média, com o aparecimento das corporações de ofício e o
renascimento das cidades e do comércio na Europa Ocidental. A partir
desse momento, ganharam importância cada vez maior as noções de lucro
e de produtividade, fundamentais para o desenvolvimento de uma
mentalidade voltada para o enriquecimento e para acumulação: a
mentalidade empresarial capitalista.

Ou seja, a Revolução Industrial não foi um acontecimento súbito, ao


contrário, foi um processo extenso e gradual. A história econômica do Brasil antes
da revolução industrial era voltada para Portugal, pois o Brasil não tinha indústrias e
toda economia existente nesta época era voltada exclusivamente para Portugal,
dessa forma, as vendas e compras eram permitidas somente para a Metrópole
(FIGUEIRA, 2005).
Proclamada em 15 de novembro de 1889, a República nascia no Brasil
como um resultado de um movimento de cúpula, como uma espécie de revolução
pelo alto, controlada desde o primeiro momento pelos militares e pelas elites
agrárias.
15

O novo regime não se preocupou em promover mudanças na estrutura


econômica do País, como afirma Divalte (2011, p. 297):
A grande propriedade rural monocultora e voltada para a exportação foi
mantida como base de economia e não foi feita nenhuma tentativa de
reforma agrária. Ao mesmo tempo, conservou-se a estrutura política
sustentada no mandonismo dos coronéis do interior e das oligarquias
agrárias.

Deste modo, cabe ressaltar que em 1850, foi regulamentada a Lei nº 601 de
18 de setembro de 1850, conhecida como Lei das Terras, a qual inviabilizou os
sistemas de posses ou doações, transformando as terras em propriedades privadas
e dificultou a compra por pessoas pobres. Neste seguimento, Miralha (2006, p. 153)
relata que:
A Lei de Terras de 1850 foi uma solução encontrada pela elite brasileira
para manter inalterada a estrutura agrária, impedindo o acesso livre a terra
por parte da população pobre que era maioria, e conseguir trabalhadores
livres para as lavouras de café, pois o Estado brasileiro já estava planejando
a imigração de europeus, para substituir o trabalho escravo que estava
preste a ser abolido. Dessa maneira, se os imigrantes chegassem no Brasil
e o acesso à terra fosse livre, como no regime de sesmarias (livre para os
“puros”), eles obviamente iam preferir ter sua própria terra ao invés de
trabalhar nas lavouras de café.

Proclamada a República, os líderes do movimento, criaram um governo


provisório, sob a chefia do marechal Deodoro da Fonseca, o qual formou seus
ministérios com civis e militares de destaque no movimento republicano, passando a
ser representante das principais elites econômicas e políticas do País.
Divalte (2011, p.298) descreve que “o país passava a ser uma República
Federativa com o nome de Estados Unidos do Brasil e as províncias eram
transformadas em estados”. Para elaborar uma Constituição de caráter Republicano,
o governo convocou eleições para uma Assembleia Nacional Constituinte.
De acordo com Fausto (2002, p. 298):
No comando da política econômica, a principal preocupação de Rui Barbosa
era promover a industrialização do País, o que só seria possível se
houvesse recursos para investir na produção, mas como faltava dinheiro, a
saída era o Governo criar linhas de créditos e aumentar o volume de papel-
moeda em circulação. Dessa forma, em janeiro de 1890, Rui Barbosa deu
início a uma política financeira que permitia a alguns bancos emitir dinheiro
quase sem controle estatal.

Então essa política possibilitou maior volume de negócios em todo o pais.


Como explana Furtado (2011, p. 892):
Apenas no ano de 1890, fundaram-se 313 novas empresas e a maioria
delas tinham como metas a vendas de ações para obter lucros a curto prazo
e fáceis no mercado financeiro. Nos anos de 1890 a 1891, o aumento da
16

quantidade de dinheiro em circulação provocou inflação e febre especulativa


na bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

A essa fase de especulação desenfreada que caracterizou o biênio de 1890-


1891, deu-se o nome de encilhamento, que segundo o autor Gremaud (2003, p. 01):
O início da década de 1890 foi marcado pela crise do encilhamento. A rigor
o encilhamento se refere apenas ao processo especulativo que ocorreu na
Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, porém também se incluem na chamada
crise do encilhamento outros problemas econômicos que ocorreram no
período, especialmente a brusca desvalorização cambial de 1891.

De acordo com Luz (1975, p. 105):


Proclamada a República, todas as amarras foram rompidas. As emissões
sucediam-se vertiginosamente e às sociedades anônimas foi outorgada
plena liberdade”, pelo Decreto Nº 164, de 17 de janeiro de 1890. Os
resultados não se fizeram esperar, multiplicaram-se as empresas de toda a
sorte e uma espécie de loucura financeira apoderou-se do País,
particularmente da praça do Rio de Janeiro.

Com essa loucura financeira, com as inflações provocadas pelo aumento da


quantidade de moeda circulação não demorou para que uma série de crises
econômicas abalassem o país. Logo no começo do ano de 1891, além da inflação,
ocorreu acentuada queda nos preços das ações, causando prejuízos e falências e
Divalte (2011, p.298) descreve que “a política de emissão de dinheiro e a expansão
do crédito, que caracterizaram o encilhamento, duraram dois anos”.
Depois de sua convocação, a Assembleia Constituinte só deu início a seus
trabalhos em 1890 e passados 03 (três) meses depois, a Constituição estava pronta.
O texto constitucional constituía uma república federativa presidencialista, delegando
maior autonomia aos estados. Fausto (2011, p.892) relata que “em 24 de fevereiro
de 1891, a Constituição republicana entrou em vigor e no dia seguinte, a Assembleia
elegeu o marechal Deodoro da Fonseca para presidente da república”.
Dessa forma, desde a formação do governo que se estabeleceu após a
queda da monarquia, uma nova Constituição começou a ser elaborada para o Brasil.
Era preciso descaracterizar o país de como era no regime anterior e, em alguns
casos, apagar o passado que não era mais bem visto.
Como mencionado, os principais elaboradores da nova Constituição
brasileira estava Rui Barbosa e também Prudente de Morais (1894-1898), os quais
foram muito influenciados pela Constituição dos Estados Unidos. Dela seguiram
princípios como a descentralização dos poderes, a implantação do modelo
federalista e a concessão de autonomia aos estados e municípios.
17

No início da República, não existiam partidos políticos nacionais, o que


haviam eram agremiações regionais, independentes uma das outras e também não
haviam partidos de oposição e Carone (1970, p. 21) relata que “as lutas políticas
entre os diferentes setores das elites estaduais se davam no próprio partido
republicano local”.
Salienta-se que antes da Primeira Guerra Mundial, o processo de
crescimento dos países periféricos se desenvolvia de dentro para fora, onde se
produzia matéria-prima com o objetivo principal de exportar para os países
desenvolvidos. Porém, após esse período, ocorre uma mudança nesse processo e
Bielschowsky (2000. p. 17) fala que:
As transformações na economia mundial — maior protecionismo no centro,
menor elasticidade-renda da demanda por produtos primários, menor
coeficiente de importação no novo centro cíclico, os Estados
Unidos, e assim por diante — teriam sido responsáveis por um processo
espontâneo de industrialização.

Assim, as discussões cepalinas deram início a uma ideologia nacionalista


que seria demonstrada como dominante em todo o mundo. Nesse contexto, “[...] a
indústria passou a ser a atividade econômica mais dinâmica, atraindo o maior
volume de capitais e de mão-de-obra. A economia global do país crescia porque a
indústria estava em expansão” (BRUM, 2002, p. 214).
Já durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) os investimentos na
indústria de transformação foram drasticamente reduzidos, como explica Suzigan
(1985, p. 370):
As dificuldades para importar máquinas e equipamentos e o forte aumento
dos preços de importação durante a guerra certamente explicaram a queda
dos investimentos, da mesma forma que as dificuldades para importar
matéria-prima e outros insumos explicam a redução do ritmo de crescimento
da produção industrial naqueles anos.

No imediato pós-guerra (1919-1929), iniciou-se uma nova fase de expansão


do investimento na indústria de transformação, que durou por toda década de 1920,
embora com duas pequenas recessões em 1922-1923 e 1926-1927 (SUZIGAN,
1985).
Segundo o autor ora mencionado, a expansão dos investimentos na
indústria durante a década de 1920 teve como causas os eventos da economia
internacional e a mudança na política econômica brasileira, que apresentou as
seguintes características:
18

Novas políticas monetárias e fiscais expansionistas (1922-1923) juntamente


com um novo programa de valorização do café; Nova política deflacionária
(1924-1926); e um esquema de estabilização monetária e cambial (1927-
1929) (SUZIGAN, 1985, p. 372).

Assim, a década de 1920 foi marcada pela alta nas taxas de crescimento do
Produto Interno Bruto - PIB (1919-1920, 1922-1923 e 1927-1928) e por períodos de
baixo crescimento ou crescimento negativo (1921, 1924-1926 e 1929).
Segundo Suzigan (2000), de modo geral, durante a década de 1920
aumentaram os investimentos em praticamente todos os setores industriais,
verificando-se uma maior diversificação da indústria de transformação.
O processo de industrialização de uma nação representa um avanço
singular no que diz respeito ao desenvolvimento econômico e social de seu povo. De
acordo com Vesentini (2008, p. 52):
Trata-se de um complexo processo onde há o desenvolvimento da atividade
fabril, baseada na relação de trabalho assalariada, que passa a atuar como
leme da economia, e apura as relações capitalistas, entre burguesia e o
proletariado, constituindo assim o capitalismo pleno, ou industrial. No Brasil,
este processo ocorre a partir do final do século XIX, visto que antes desta
data, o que ocorriam eram pequenos focos de indústrias e manufaturas.
Isso porque a escravidão, grande força da economia da época, não
contribuía para um desenvolvimento mais estruturado da indústria, pois
mantinha consigo grandes investimentos (compra de escravos), além do
fato de que os próprios escravos não eram habilmente capacitados para
atuar em indústrias, e nem era de interesse dos grandes barões instruí-los
para tal feito.

E ainda, outras condições desfavoráveis eram encontradas, fazendo com


que o processo de industrialização no Brasil se retardasse ainda mais. O trabalho
assalariado possuía, no entanto, suas vantagens frente ao trabalho escravo. Os
assalariados poderiam constituir um mercado interno, se tornando potenciais
compradores para os produtos industrializados, visto que possuíam liberdade para
utilizar seus vencimentos.
E segundo Vesentini (2008, p. 54), “a industrialização Brasileira foi singular,
pois pelo motivo de ter sido tardia, não cursou todos os passos da industrialização
que ocorreu na Inglaterra por exemplo. A passagem de um estado de atividade
agrícola para fabril se deu de forma rápida, utilizando-se das modernas máquinas à
eletricidade ou à combustão, importadas da Europa”.
Já Furtado (1976 p.117), destaca claramente uma série de fatores, que
levam a transição de uma economia primário exportadora para uma economia
industrial, quais sejam:
19

*Natureza da atividade exportadora, da qual depende a quantidade relativa


de mão-de-obra a ser absorvida no setor de produtividade elevada e em
expansão;*Tipo de infraestrutura exigido pela atividade exportadora: *A
agricultura de clima temperado criando uma grande rede de transportes; *A
agricultura de clima tropical, concentrada em áreas limitadas e muitas vezes
em regiões montanhosas, satisfazendo-se com uma infraestrutura mais
modesta;*A produção mineira requerendo uma infraestrutura especializada,
na maioria dos casos criadores de escassas economias externas para o
conjunto da economia nacional;*Propriedade dos investimentos realizados
na economia de exportação: a propriedade estrangeira reduzindo a parte de
fluxo de renda do setor em expansão que permanece no país; *Recaindo
nas economias mineiras de exportação a maior incidência da propriedade
estrangeira, os aspectos negativos destas se viram agravados; *Taxa de
salário que prevalece no setor exportador na fase inicial, a qual depende
principalmente das dimensões relativas do excedente de mão-de-obra;
*Dimensão absoluta do setor exportador, a qual reflete na maioria dos casos
a dimensão geográfica e demográfica do país.

Portanto, afirma-se que até a República Velha (1889-1930), a economia


brasileira dependia quase exclusivamente do bom desempenho das exportações,
que na época se restringiam a algumas poucas commodities agrícolas, notadamente
o café plantado na região Sudeste, o que caracterizava a economia brasileira como
agroexportadora.
A grande performance da economia brasileira de então, dependia das
condições do mercado internacional de café, sendo a variável-chave, na República
Velha, o preço internacional do café. “Apesar do Brasil ser o principal produtor de
café, outros países também influíam na oferta, e boa parte do mercado era
controlado por grandes companhias atacadistas que especulavam com estoques”
(GREMAUD;VASCONCELLOS; TONETO JR, 1999, p. 229).
No entanto, segundo Luz (1975, 107), a revolução seria uma simples
substituição de pessoal político, quando muito imposta por princípios absolutos
estéreis, pela filosofia abstrata, sem a utilidade prática de uma renovação econômica
e social para melhorar as condições de vida e um progresso de um povo, sem
fornecer-lhes os elementos de autonomia estável, independente da força armada.
Assim sendo, a indústria brasileira formou-se devido a diversos fatores, tais
como a abolição do trabalho escravo, a expansão do café e a expansão dos núcleos
urbanos. Baer (1988, p. 6) expõe que “o Brasil embora sob regime republicano, de
1889 a 1930, foi governado por uma oligarquia fechada, que representava
principalmente os interesses rurais de dois estados: São Paulo e Minas Gerais”.
As fases da industrialização são marcadas por momentos de
desenvolvimento que foram interrompidos por períodos de crise (como a crise dos
anos 20, a dos anos 30 entre outras), mas estas interrupções levaram a um
20

processo de reforço industrial, pois, passadas as crises, aumentavam os


investimentos na indústria e isto impulsionava o seu desenvolvimento.
No final da década de 1920, a economia brasileira foi afetada pela Grande
Depressão. O produto e a renda real da economia do país declinaram entre 1930-
1931. Nesse período, os investimentos na indústria de transformação, medidos pela
importação de máquinas e equipamentos, caíram drasticamente. Com as exceções
das indústrias de cimento e têxtil (fios de raiom), todas as outras indústrias tiveram
cortes substanciais nos investimentos.
A crise econômica desencadeada a partir de 1929, quando da quebra da
Bolsa de Valores de Nova Iorque, reflete a crise mais geral do capitalismo liberal e
da democracia liberal. A quebra da bolsa trouxe medo, desemprego e falência e por
causa disso alguns se suicidaram e o número de mendigos aumentou. Essa quebra
afetou o mundo inteiro, pois a economia norte-americana era a alavanca do
capitalismo mundial.
Segundo Baer (2009, p. 54):
A crise fez com que os EUA importassem menos de outros países, como
consequência os outros países que exportavam para os EUA, agora
estavam com as mercadorias encalhadas e, automaticamente, entravam na
crise. Em 1930, a crise se agravou. Em 1933, Roosevelt foi eleito presidente
dos EUA e elaborou um plano chamado New Deal.

Com a Grande Depressão, os preços do café despencaram no mercado


internacional. Quanto às consequências, segundo Baer (2009, p. 54), “a depressão
da década de 1930 causou um impacto fortemente negativo sobre as exportações
brasileiras, cujo valor sofreu uma queda de US$ 445,9 milhões em 1929 para US$
180,6 milhões em 1932”.
A forte queda da demanda mundial por café causada pela depressão
também coincidiu com a grande produção desse produto, resultado do plantio
realizado na década de 1920. Para proteger o setor e, dessa maneira, a economia,
do impacto total da queda dos mercados e preços mundiais do café, Baer (2009,
p.56), afirma que:
O programa de apoio à atividade foi transferido dos Estados (principalmente
de São Paulo) para o governo federal. O Conselho Nacional do Café foi
fundado em maio de 1931 e comprou todo o café, destruindo grandes
quantidades que não podiam ser consumidos ou armazenados. A proteção
do governo ao setor cafeeiro também incluiu medidas para ajudar os
endividados produtores rurais, especialmente no estado de São Paulo,
através do seu pagamento criando, assim, moeda nova e permitindo ao
devedor postergar seus pagamentos. Esse programa, conhecido como
reajuste econômico reduziu as dívidas dos fazendeiros em 50%.
21

Além da transferência do programa de apoio à atividade dos Estados para o


governo federal e a compra do café pelo Conselho Nacional do Café, existe outro
fator que diminuiu parcialmente os choques da Depressão diante da agricultura,
como explana Baer (2009, p. 56), “outro fator que agiu como amortecedor foi o
rápido crescimento da produção de algodão, principalmente no Estado de São
Paulo”.
No entanto, segundo Suzigan (1985, p. 369), “os efeitos da Grande
Depressão sobre os investimentos da indústria de transformação foram menos
intensos que os efeitos da recessão da Primeira Guerra Mundial, tanto que, em
1933, a recuperação já estava se iniciando”.
Em suma, entre 1870 e 1930 o Brasil assistiu ao seu primeiro surto
industrial, sendo influenciado diretamente pela maior participação do país na divisão
mundial do trabalho, especializando-se na produção de produtos primários de
exportação, sobretudo o café; pela grande disponibilidade financeira internacional,
ou seja, maior facilidade de crédito; pelos significativos e crescentes investimentos
britânicos no país, principalmente na forma de empréstimos, mas também na
construção de ferrovias, portos, agências exportadoras e importadoras, seguradoras
e empresas prestadoras de serviço púbico; políticas expansionistas do governo
central, sendo que a importância destas é relevante a partir do primeiro decênio do
século XX.
Contudo, a república velha que também foi conhecido como República das
Oligarquias, salienta-se que este período foi marcado por governos ligados ao setor
agrário (oligarquias de São Paulo e Minas Gerais), que se mantinham no poder de
forma alternada: a “política do café com leite”.
O surgimento do nome "café-com-leite" batizando tal acordo seria uma
referência à economia de São Paulo e Minas Gerais, grandes produtores,
respectivamente, de café e leite. A quebra dessa troca de governo provocou a
Revolução de 1930 e marcou o fim da República Velha.
Portanto, conclui-se aludindo à importância de abordar a economia que
antecede a Revolução Industrial, tendo em vista que esta temática reflete direta ou
indiretamente na economia contemporânea e tendo como preceito que descrever
sobre a sua historicidade, promovem conhecimentos acerca do tema. Assim, no
próximo capítulo será contextualizado a Revolução Industrial, buscando conceitos e
entendimentos de vários autores, enriquecendo o arcabouço teórico deste Trabalho.
22

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Neste capítulo, será abordada a contextualização da Revolução Industrial no


Brasil, apresentando os conceitos e relatos de alguns autores sobre este período da
história, um acontecimento que marcou e influenciou diretamente a economia
brasileira, tanto de outrora como a economia da contemporaneidade.
De acordo com Cara e França (2009, p. 01):
O fenômeno industrial brasileiro teve início na segunda metade do século
XIX e passou por períodos de extensão e de retração até os dias atuais.
Porém, é a partir da Revolução de 1930 que este fenômeno se torna mais
intenso, ocasionando fortes transformações na estrutura socioeconômica
brasileira, nas condições necessárias e suficientes para o estabelecimento
das relações capitalistas de produção e formação de um centro econômico
capitalista no país.

A Revolução Industrial foi um grande marco na história econômica do Brasil.


O processo de Revolução Industrial teve início em meados do século XVIII,
espalhando-se pela Europa neste mesmo período. Esta revolução foi um conjunto
de mudanças que aconteceram na Europa nos séculos XVIII e XIX. A principal
particularidade dessa revolução foi a substituição do trabalho artesanal pelo
assalariado e com o uso das máquinas.
Os autores Cavalcante e Silva (2011, p. 01) ressaltam que:

É pertinente enfatizar que a Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra no


século XVIII foi o grande precursor do capitalismo, ou seja, a passagem do
capitalismo comercial para o capitalismo industrial. É fascinante, como a
revolução industrial mudou a vida das pessoas daquela época e como até
hoje seus reflexos continuam transformando o nosso dia a dia com a
revolução tecnológica

Ou seja, a Industrialização é o processo de modernização pelo qual passam


os meios de produção de uma sociedade. É acompanhada pela ampliação
tecnológica e desenvolvimento da economia. E muito mais, a industrialização é um
processo antigo na humanidade.
Segundo Miranda (2012, p.11):
O processo de industrialização na Europa não era nenhuma novidade em
meados do século XVIII, contudo, a indústria e a produção eram limitadas
por questões tecnológicas, posto que as forças motrizes dos meios de
produção eram essencialmente humanas ou animais. No momento em que
o intelecto humano consegue conceber máquinas não necessitem de força
humana ou animal, as máquinas a vapor, a história estava sendo escrita e
uma nova revolução “explodia”, a chamada Revolução Industrial.
23

Portanto, este processo ocorreu de forma gradativamente e foi um progresso


que passou por várias fases tecnológicas. Técnicas mais aprimoradas de agricultura,
artesanato e manufatura deram suas contribuições para o desenvolvimento pleno da
indústria, ou seja, foi um processo que ao longo do tempo, foi aprimorando e
inovando cada vez mais.
Ressalta-se que o avanço das forças produtivas, materializadas no Brasil
pelo processo de industrialização, a formação profissional da indústria sofreu
mudanças. O gradual processo de industrialização que intensificou na década de
1930 exigiu um enorme esforço de adaptação dos trabalhadores.
Dando uma dimensão da mudança ocorrida naquele período Singer (1985,
p. 57-58) comenta que:
Em 1920, o operariado, manufatureiro ou industrial de 293.673 pessoas
praticamente se perde numa população economicamente ativa de
9.566.840 pessoas, das quais 66,7% trabalhavam no campo. (...) Entre
1920 e 1940, prosseguiu processo de industrialização e, portanto, de
formação da classe operária, sem alterar de forma decisiva a estrutura
social do País. Em 1940, a classe operária era composta por 2.046.945
trabalhadores, dos quais 960.663 (38,2%)na indústria de transformação e
os restantes em serviços: governo, serviços sociais, transporte e
comunicações.

Conforme o exposto, neste período houve uma mudança significativa no


processo de industrialização. De acordo com Vesentini apud May (2009, p. 33):
O processo de industrialização de uma nação representa um avanço
singular no que diz respeito ao desenvolvimento econômico e social de seu
povo. Trata-se de um complexo processo onde há o desenvolvimento da
atividade fabril, baseada na relação de trabalho assalariada, que passa a
atuar como leme da economia, e apura as relações capitalistas, entre
burguesia e o proletariado, constituindo assim o capitalismo pleno, ou
industrial. No Brasil, este processo ocorre a partir do final do século XIX,
visto que antes desta data, o que ocorriam eram pequenos focos de
indústrias e manufaturas.

A industrialização Brasileira foi singular, pois pelo motivo de ter sido tardia,
não cursou todos os passos da industrialização que ocorreu na Inglaterra por
exemplo. A passagem de um estado de atividade agrícola para fabril se deu de
forma rápida, utilizando-se das modernas máquinas à eletricidade ou à combustão,
importadas da Europa.
Para Mamigonian apud Cara e França (2011, p. 03):
Só é possível compreender o processo de industrialização brasileira a partir
da organização da sociedade. De um lado o latifúndio constituía a classe
dominante da época com grande poder aquisitivo de bens importados, e do
outro o trabalhador (escravo) com baixo ou nenhum poder de compra e de
produtividade. Praticamente inexistia uma classe média do tipo europeu.
Somente os comerciantes de importação e exportação apresentavam
24

condições para tomada de decisões econômicas inovadoras. Todavia o


crescimento dessa classe não era visto com bons olhos, pois a sociedade
brasileira da época era baseada na desigualdade.

Já para Cavalcante e Silva (2011, p. 03) descrevem que:


A Revolução Industrial concentrou os trabalhadores em fábricas. O aspecto
mais importante, que trouxe radical transformação no caráter do trabalho, foi
esta separação: de um lado, capital e meios de produção de outro, o
trabalho. Os operários passaram os assalariados dos capitalistas. Uma das
primeiras manifestações da Revolução foi o desenvolvimento urbano

Karl Polanyi1chama o processo iniciado pela industrialização de “O Moinho


Satânico”, pois é nesse período que ocorre uma desarticulação da sociedade,
transformando a economia em economia de mercado e estabelecendo o capitalismo
como sistema.
O modo de produzir gerado pela Revolução Industrial começou a se
desenvolver, de forma significativa, no Brasil somente no final do século XIX e
começo do século XX. Foram os ricos cafeicultores de São Paulo, com capital de
sobra originário das exportações de café, que começaram a investir no setor
industrial. Mendonça (2011, p. 16) complementa enfatizando que:
A segunda metade do século XIX marcou o início do processo de
industrialização, com a implantação de diversas fábricas. A lavoura de café
era uma realidade consistente, exigindo do governo diversas obras
estruturais, como a instalação de rede de telégrafos, ferrovias e navegação.
Proliferaram fábricas nacionais de tecidos, chapéus, sapatos, vidros,
couros, sabão e cerveja para o consumo interno. O fim da escravatura, em
1888, e a proclamação da República, em 1889, consolidaram esse
processo.

Nesta fase, as principais atividades industriais era a de produção de tecidos


e de processamento de alimentos. Estas indústrias eram de pequeno e médio porte,
tocadas pela burguesia industrial que estava em plena ascensão. Concentravam-se,
principalmente, nos centros urbanos dos estados da região Sudeste, sendo que a
cidade de São Paulo era o grande polo industrial.
Portanto, a Revolução Industrial teve grande relevância para a sociedade
atual e principalmente para o surgimento da revolução tecnológica vivida até os dias
atuais. E Cavalcante e Silva (2011, p. 05) afirmam que:
É certo que além de toda tecnologia, produção em massa, entre outros
avanços trouxeram grandes problemas e o mundo conheceu o capitalismo e
a busca pelo lucro. Em face aos problemas surgiram movimentos
revolucionários, para tentar melhorar as condições de vida dos
trabalhadores, movimentos estes inspirados na Revolução Francesa e nos

1 Karl Polanyi - A grande transformação: as origens de nossa época/ Karl Polanyi; tradução

de Fanny Wrabel. - 2. ed.- Ria de Janeiro: Compus, 2000.


25

ideais iluministas. É certo que Revolução industrial marcou toda uma


história e seus reflexos são vividos até os dias atuais com grande
Revolução tecnológica que parece não ter fim, e até o seu lado negativo, foi
positivo, pois para os trabalhadores foi uma forma de lutar pelos seus ideais
e despertar da exploração aos quais eram submetidos. O mundo conheceu
a industrialização a produção em massa, as pessoas tinham o conforto de
usar produtos que anteriormente lhes eram restritos, entretanto, os seus
reflexos negativos também são reconhecidos até hoje, além do capitalismo
desenfreado, também doenças relacionadas ao cotidiano de stress e
agitação, desemprego devido a substituição do homem pelas máquinas.

Enfim é de suma importância conhecer a Revolução Industrial em todo seu


desdobramento para que se possa entender o avanço tecnológico e todos os
problemas de uma sociedade industrializada.
Salienta-se que foi com o final da República das Oligarquias que a indústria
apresentou um grande avanço no Brasil. O governo de Getúlio Vargas, que teve
início em 1930, incentivou o desenvolvimento do setor industrial nacional no país.
Portanto, foi a partir da década de 1930 que o Brasil começou a mudar seu modelo
econômico de agrário-exportador para industrial.
Já no começo da década de 1940, ainda no governo Vargas, houve um forte
incentivo industrial patrocinado pelo Estado com a criação de empresas estatais. E
Freitas (2016) afirma que:
Estas indústrias atuavam nos setores pesados, pois necessitavam de
grandes investimentos. Como exemplos, pode-se mencionar as seguintes
empresas estatais que surgiram neste contexto: Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN) – criada na cidade de Volta Redonda (RJ) em 1940, atuava
na área de siderurgia; A Companhia Vale do Rio Doce – criada em 1942,
atuava na área de mineração; Fábrica Nacional de Motores – criada em
1943, atuava na área de mecânica pesada; Fábrica Nacional de Álcalis –
fundada em 1943, atuava no setor químico.

Neste sentido Pearson (2009, p.202) apresenta “alguns exemplos de ações


diretas do Estado, durante a gestão Vargas, em prol da formação da indústria de
base no país”, veja a figura 01:
26

Figura 01: Alguns exemplos de ações diretas no Estado, durante a gestão de


Vargas, em prol da formação da indústria de base no país.

1943 – São criadas a


Companhia Nacional de
Álcalis, para a produção
de barrilha e soda
cáustica, e a Fábrica
1941 – É instalada, em Volta
Nacional de Motores
Redonda (RJ), a
(FNM), que mais tarde
Companhia Siderúrgica
produziria os populares
Nacional (CSN), financiada
caminhões “fenemê”.
por um empréstimo do
Ambas se instalam no
Eximbank no valor de US$
Estado do Rio
20 milhões.

1942 – A partir da 1944 – Entra em operação, com


antiga Itabira Iron Ore capital privado amplamente
Company, é criada a financiado pelo Banco do Brasil,
Companhia Vale do a Companhia Aços Especiais
Rio Doce (CVRD), Itabira (Acesita), em Minas
para a exploração de Gerais. Em 1954, com o não
minério de ferro em pagamento do empréstimo, o
Minas Gerais. Banco assumiria o controle
acionário da empresa.

Fonte: SOUZA, Jobson Monteiro de. Economia Brasileira. – São Paulo : Pearson Education
do Brasil, 2009.

No início do segundo mandato de Vargas já havia dentro do país uma


conscientização de que a economia brasileira deveria mudar e segundo Haffner
(2002, p.24-25):
A diferença básica entre aquele momento e os anos anteriores era o fato da
industrialização ter deixado de ser um expediente ocasional para
transformar-se em uma política definida, no sentido de modificar
drasticamente a estrutura existente. A razão fundamental desta mudança foi
a tomada de consciência de que, no futuro, o Brasil não poderia alcançar
elevado ritmo de crescimento se continuasse a se apoiar basicamente na
exportação de seus principais produtos primários. Era necessário
desenvolver-se e criar um parque industrial dentro do país, não somente
para exportar, mas também para obter uma maior autonomia internacional e
para acompanhar a tendência mundial do pós-guerra.

É de extrema importância, a relação criada por Getúlio entre o Estado e o


desenvolvimento brasileiro. Foi o governo de Vargas que teve a ampla visão de que
o mundo era outro depois da guerra e que era necessário mudar a visão frente a real
27

situação, ou seja, quem não mudasse a forma de encará-lo não poderia acompanhar
o rumo dos acontecimentos mundiais do pós-guerra.
Conforme o exposto no capítulo anterior, é imprescindível destacar que a
política econômica da República Velha dedicou-se a proteger os interesses do setor
cafeeiro, e, na tentativa de conter a queda nos preços do café, foram realizados
empréstimos internos e externos para comprar os excedentes da produção e esta
atitude trouxe consequências e Souza (2009, p.196-197) diz que “as consequências
amargas para o País eram o aumento do endividamento externo e a expansão da
base monetária, com a consequente inflação”.

Figura 02: Razão dívida externa/exportações

Fonte: SOUZA, Jobson Monteiro de. Economia Brasileira. – São Paulo : Pearson Education do Brasil,
2009.
Nos piores momentos de descontrole, entre 1923 e1924, o país chegou a
experimentar taxas de inflação. Conforme a figura 02, em 1930 o Brasil devia aos
credores 04 (quatro) vezes mais do que exportavam em um ano. Neste sentido
Souza (2009, p. 197) relata que:
A pedido do governo brasileiro, o Bank of England enviou ao país um alto
funcionário, sir Otto Niemeyer, para estudar uma negociação. Escaldados
com as moratórias de 1898 e 1914, os ingleses em conceder um novo
fundigloan (empréstimo de consolidação), alegando que “o homem que
afunda três vezes em geral se afoga”. Mas, a medida que os reflexos da
quebra da bolsa nova-iorquina chegavam também a Europa, os credores se
convenceram de que não havia alternativa para o país latino-americano.
Assim, em 1931, o Brasil entrou em sua terceira moratória.
28

Ressalta-se que a chamada industrialização por substituição de importações


é entendida essencialmente como uma resposta ao estrangulamento externo, que
este pode ser considerado como um método que obriga o país a começar a produzir
internamente os bens que anteriormente eram importados. E Gremaud (2008, p.
127) delineia que:
O estrangulamento externo nos anos 30 não se situava, portanto na balança
comercial em si, mas em sua composição com as demais contas do balanço
de pagamentos: como fluxos de capital externo (constituídos principalmente
por empréstimos) praticamente foram suspensos após crise, o saldo
comercial deveria financiar as demais contas do balanço de pagamento, em
especial o serviço da dívida externa.

Em 1934, por meio do chamado Esquema Aranha2,o país retoma o serviço


da dívida, refinanciando em quatro anos e antes que o prazo decorra, Getúlio
Vargas usa o golpe de 1937, que instalou o Estado Novo, como pretexto para
suspender totalmente os pagamentos da dívida externa.
Para complementar o exposto, Gremaud (2008, p. 128) diz que:
Em 1934, chegou-se a um acordo pelo qual o pagamento das parcelas
referentes a juros e amortizações se faria em proporção ao saldo da
balança comercial brasileira. Mas, em 1937, mesmo este esquema mostrou-
se inviável, pois o saldo da balança comercial tornou-se inexpressivo neste
ano. Os pagamentos referentes às dívidas foram suspensos.

Ou seja, na década de 30, as relações econômicas internacionais do Brasil


não eram favoráveis para o país por alguns fatores como, declínio do comércio
exterior, suspensão dos fluxos de capitais estrangeiros para o Brasil e
consequentemente sérios problemas para a gestão da dívida externa.
E em 1940 o país acumula reservas internacionais o suficiente para retomar
os pagamentos. Em 1943, um acordo permanente com os credores estendeu o
pagamento das dívidas pré-1931 até o início dos anos 1980, porém com parcelas
bem reduzidas a partir de meados da década de 1950.
De acordo com Gremaud (2008, p. 133):
Em busca de novos recursos externos, Vargas contava com financiamentos
do governo norte-americano, que havia patrocinado os estudos da
Comissão Mista Brasil – Estados Unidos. Assim, em 1953, o Brasil recebeu
empréstimos do Eximbank (300 milhões de dólares) e de bancos em
Londres (158 milhões de dólares), para fazer frente a atrasados comerciais
e do FMI (28 milhões de dólares) para estabilizar o Balanço de
Pagamentos.

2Oswaldo Aranha criou o Esquema Aranha destinado a evitar o aumento da dívida externa e
que possibilitou uma redução real da dívida. Durante os quatro anos do esquema, o país pagou 33,6
milhões de libras, quando deveria ter pago 90,7 milhões de libras, o que proporcionou um ganho real,
considerada a redução real dos pagamentos de juros e o adiamento dos pagamentos dos fundos de
amortização, de 57,1 milhões de libras (MESQUITA, 2008).
29

Contudo, sabe-se que nem empréstimos, nem a reforma cambial3 foram


suficientes para amenizar o problema do desequilíbrio externo, ao contrário, só
agravou a situação do país. Malan (1995) apud Gremaud (2008, p. 134) esclarece
que:
O endividamento externo foi corolário natural, dado que importações não
podem ser financiadas com cruzeiros: importações só podem ser
financiadas ou com exportações ou com endividamento. A dívida brasileira,
inferior a US$ 2 bilhões em fins de 1955, havia crescido para US$ 2,7
bilhões em fins de 1960, mais de duas vezes o valor das exportações
daquele ano.

Assim, Haffner (2002 p.25) relata que:


Com a finalidade de resolver os problemas econômicos e financeiros mais
urgentes do país, e em favor do desenvolvimento industrial acelerado, o
Estado foi levado a assumir tarefas novas e a desempenhar papéis
decisivos para a expansão econômica ocorrida posteriormente, ou seja, fora
adotado o planejamento econômico dentro do país. De fato estas ideias
estavam influenciadas pela teoria da CEPAL que causaram grande
repercussão na América Latina na época, após a publicação do Estúdio
Econômico de 1949 de Raúl Prebisch, grande economista latino-americano,
nascido na Argentina, que influenciou muito o pensamento sobre
desenvolvimento e políticas econômicas da região.

É importante ressaltar que esta teoria defendia a importância do


planejamento econômico nas economias dos países latino-americanos, que fora
introduzida no Brasil, por Celso Furtado, na Revista Econômica Brasileira e no
Grupo Misto da CEPAL com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
(BNDE).
E ainda segundo Haffner (2002 p.26):
As iniciativas de planejamento do governo Vargas eram, portanto, oriundas
de três grupos que se caracterizavam pela sua operacionalidade, tanto
financeira como administrativa: a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, a
Assessoria Econômica e o BNDE. Este grupo estratégico surgia num
momento em que o BIRD fazia sentir sua força tanto no âmbito financeiro
como na área das recomendações de planejamento, o que era traduzido em
exigências que iam além das questões econômicas e que afetavam os
assuntos internos dos países que estavam recebendo ajuda financeira.

Ante o exposto, neste período, que coincidia com o da criação da CEPAL, o


que existia, era este grupo de técnicos trabalhando em conjunto com órgãos do
governo, cujo ideal firmava-se na industrialização planejada, vista como a solução
histórica para o atraso e os problemas sociais brasileiros, que faziam com que ao

3
Reforma Cambial Com o propósito de simplificar o sistema de taxas múltiplas de câmbio – vigente
desde 1953 -, bem como de implantar um sistema de proteção especifica por produtos da mesma categoria-, o
sistema cambial brasileiro foi parcialmente reorganizado, por meio da reforma cambial de agosto de 1957 (pela
Lei nº 3.244 de 14/08/1957), chamada nova lei de tarifas. (TREVISAN, 2004, p. 103-104).
30

longo de todos esses anos o Brasil não conseguisse sair da condição de país de
economia retardatária.
Vale ressaltar que no artigo, Subdesenvolvimento e dependência: um debate
entre o pensamento da Cepal dos anos 50 e a Teoria da Dependência, Coelho relata
que a CEPAL:
[...] é detentora de um dos pensamentos mais originais já criados nos
trópicos e parte da ideia de que é necessária uma compreensão própria e
original para empreender o desenvolvimento periférico (países
subdesenvolvidos), que não é de mesmo tipo que o desenvolvimento
realizado pelos países do capitalismo central (países desenvolvidos).

Bielschowsky (2000, p. 17) destaca que “a principal inovação da CEPAL é a


metodológica” e ainda afirma que:
Combinando a análise histórica com o método estruturalista, a Cepal tenta
buscar soluções para subdesenvolvimento latino-americano. Sua
metodologia manteve alguns princípios básicos durante toda a segunda
metade do século XX. O que mudou foi o contexto histórico e os desafios
dele decorrentes. Por isso, o enfoque histórico-estruturalista cepalino tem
como grande trunfo a maleabilidade de sua interpretação não padecendo de
rígidos marcos que o petrificariam no passado, ao mesmo tempo em que
uma parte relevante dos estudos da Cepal são uma tentativa de crítica ao
seu próprio método. As ações em prol do desenvolvimento seriam tomadas
pela via estatal as quais teriam um planejamento em longo prazo. Além da
intervenção estatal, são fundamentais no pensamento cepalino a inserção
das economias periféricas na economia mundial e as limitações internas do
subdesenvolvimento.

Vale salientar que a Organização das Nações Unidas no Brasil – ONUBR


(2016) relata que:
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe é uma das cinco
comissões regionais da ONU, que tem como mandato o estudo e a
promoção de políticas para o desenvolvimento de sua região,
especialmente estimulando a cooperação entre os seus países e o resto do
mundo, funcionando como um centro de excelência de altos estudos.

Para reafirmar o exposto, os autores Filho e Correa (2011, p. 92) destacam


que a CEPAL vem com o objetivo de:
[...] contribuir para o desenvolvimento econômico da América Latina,
mediante a coordenação de ações econômicas destinadas a promover esse
desenvolvimento, além de reforçar as relações dos países da região entre si
e com os demais países do mundo. Essa missão inscreve-se no ideário
mais amplo que orientou a criação das Nações Unidas, responsável pela
consolidação do espaço supranacional em um espaço multilateral de
governança política e, sobretudo, econômica.

É importante ressalvar que desde 1948 a Comissão Econômica para a


América Latina e o Caribe vem contribuindo para o debate da economia e da
sociedade tanto latino-americana como caribenha, apresentando alertas, ideias e
31

propostas de políticas públicas. Além de identificar características estruturais que


nos distinguem de outras regiões ou de diferentes trajetórias de desenvolvimento, a
CEPAL sempre apontou para os desafios contra a desigualdade, para a luta contra a
pobreza, para o fomento à democracia, justiça e paz e para as opções de inserção
na economia mundial.
Para complementar a ONUBR (2016) destaca que:
As publicações estatísticas e a análise da CEPAL não somente provêem
informação sobre a região e/ou sobre um país determinado, mas também
permitem fazer comparações entre diferentes períodos e países. O Brasil,
pelo seu território, população e participação na economia da América
Latina, foi e permanece sendo uma das principais fontes e tema de análise
dos relatórios e estudos da CEPAL.

No ano de 1950, a CEPAL constituía-se como uma escola do pensamento e


os autores Filho e Correa (2011, p. 93) sobrepõem que:
A CEPAL foi, durante os anos 1950, e até os anos 1970, uma Escola do
Pensamento, isto é, foi responsável por uma interpretação do
desenvolvimento econômico da América Latina que confrontava alguns
aspectos fundamentais da visão dominante do desenvolvimento, norteadora
das ações de recuperação das economias no imediato pós-guerra,
sobretudo a partir da implementação do Plano Marshall em 1947.

E buscando aprofundar-se sobre essa temática, Bielschowsky (2000, p.18)


divide o pensamento da Cepal em cinco fases:
a) As origens e anos 1950: industrialização; b) Os anos 1960: “reformas
para desobstruir a industrialização”; c) Os anos 1970: a reorientação dos
“estilos” de desenvolvimento na direção da homogeneização social e na
direção da industrialização pró-exportadora. d) Os anos 1980: a superação
do endividamento externo via “ajuste com crescimento”; e) Os anos 1990: a
transformação produtiva com equidade.

Contudo, a Revolução Industrial foi um acontecimento que o causou grandes


impactos que vão muito além da utilização de máquinas, ou seja, a industrialização
representou novas formas de organização social pela lógica de lucro, fazendo com
que as relações sociais passem a fazer parte da economia, e não o contrário, e no
próximo tópico será abordado os impactos positivos e negativos dessa
Industrialização.

2.1. BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA

Depois da Revolução Industrial, ocorreu um aumento extraordinário da


produção e, Mendonça (2011, p. 16) explica ao enfatizar que:
32

Isso aconteceu da seguinte forma: o que era feito artesanalmente,


notavelmente os bens de consumo, começou a chegar à economia a partir
da maquino fatura, o que levou bens industrializados à população, em
escala muito maior.

Neste mesmo sentido, Castells (2000, p. 56) enfatiza que “a invenção da


máquina a vapor foi o fator central na revolução industrial”. E por isso, os populares
deslocaram-se aos centros urbanos em busca de trabalho nas fábricas, fazendo com
que milhares de trabalhadores, praticamente vivessem dentro das fábricas, que
naquela época apresentavam jornadas de trabalho que variavam entre 14 e 16
horas por dia. Esses operários vendiam sua força de trabalho em troca da
remuneração. (OLIVEIRA, 2013).
Para contemplar o exposto, Paul Kennedy apud Costa (2002, p. 195) dá
exemplos do aumento de produtividade que se seguiu aos momentos iniciais da
substituição do trabalho humano pelas ferramentas mecânicas, relatando que “os
primeiros teares movidos a vapor já podiam produzir 20 vezes mais do que um
trabalhador manual.
O historiador Eric Hobsbawn (1969, p. 80) descreve as alterações geradas
pelos novos modos de produção. E segundo ele a Revolução Industrial:
[...] transformou a vida dos homens além do que se podia perceber. Ou,
sendo ainda mais preciso, em seus estágios iniciais, destruiu o antigo modo
de vida, deixando-os livres para descobrirem ou fazerem, para eles
próprios, outros caminhos, se pudessem e soubessem como.

Com isso, a economia começou a crescer de forma rápida, a forma de vida


em sociedade e o cotidiano da população foram mudados completamente, pois com
a Revolução Industrial, os artesãos e, em geral, as pessoas que viviam no campo,
passaram a viver nas cidades e se tornaram ferramentas fundamentais para a
industrialização. Além disso, “as urbes simbolizavam progresso e tornaram-se
enormes e de grande importância àquela época”. (MELLO, 1991, p. 49).
Quanto aos efeitos econômicos e sociais positivos da Revolução Industrial,
Furtado (1995) descreve que:
Embora tardia, os efeitos da Revolução Industrial no Brasil foram positivas
em muitos aspectos, exemplo disso foi a diminuição da dependência da
importação de produtos manufaturados, o aumento da produção com
diminuição de custos, barateando o preço final dos produtos, geração de
empregos na indústria, organização dos trabalhadores da indústria em
sindicatos, que passaram a lutar por melhores condições de trabalho,
direitos e salários mais justos, teve também avanços nas áreas de
transportes, iluminação urbana e infraestrutura, ou seja, a Revolução
Industrial trouxe consigo inúmeros efeitos positivos para a economia do
País.
33

No entanto, a Revolução Industrial apresentou outros pontos negativos,


como o aumento da poluição do ar e dos rios (muitas industriais passaram a jogar
produtos químicos e lixo em rios e córregos), crescimento desordenado dos centros
urbanos com o êxodo rural e aumentos da vinda de imigrantes para as grandes
cidades usam de mão-de-obra infantil (na primeira etapa da industrialização).Assim,
a Revolução Industrial transformou a sociedade e a forma de trabalho, produzindo
mais riqueza e lucro (OLIVEIRA, 2013).
O impacto da industrialização gera um grande aumento na divisão do
trabalho, grandes progressos em produtividade industrial, assim como o crescimento
da classe média e dos padrões de consumo, portanto, a Revolução Industrial teve
vários aspectos positivos e negativos. No próximo tópico serão abordadas questões
alusivas a economia do País após a Revolução Industrial.

2.2. ECONOMIA PÓS REVOLUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA

Como pode ser observado, no tópico anterior, foi apresentado o que foi a
Revolução Industrial e quais as consequências que este acontecimento trouxe para
a economia brasileira. Embora já tenha sido abordado anteriormente, mas, para o
alcance do proposto, faz-se necessário aludir ainda algumas consequências da
Revolução Industrial que podem ser considerados cruciais para a economia
brasileira pós revolução.
Uma das consequências da Revolução Industrial foi o endividamento
externo. Após o colapso que se alastrou no setor cafeeiro, empréstimos internos e
externos foram feitos para comprar os excedentes da produção, buscando evitar a
queda dos preços e assim, proteger os interesses desse setor.
Gremaud (1997, p. 126) destaca que tudo começou com a crise de 29 e a
Grande Depressão e descreve que:
Seu impacto mais imediato deu-se sobre o valor das exportações de café,
reduzindo drasticamente a receita de divisas. Houve, igualmente, redução
das importações nos anos que se seguem a crise. Convém notar que o
volume das exportações manteve-se praticamente constante, ao passo que
o das importações reduziu-se drasticamente.

Ou seja, embora as importações tenham sido reduzidas em volume, em


comparação com as exportações, o saldo da balança comercial (em valor) se
34

mantiveram. Porém, ao longo da década de 30, os valores das exportações e de


importações apresentam movimentos distintos, conforme tabela abaixo:

Tabela 01: Exportação, Importação e Saldo Comercial: 1930 a 1939


Anos Exportação Importação Balança Serviços Transações Capitais Superávit (+)
Comercial Correntes Déficit (-)
1930 319,4 225,5 93,9 -172,9 -79,0 54,4 -116,1
1931 244,0 116,5 127,5 -123,4 4,1 -9,5 15,8
1932 179,4 92,8 86,6 -62,7 23,9 -25,9 35,7
1933 216,8 148,2 68,6 -54,6 14,0 -20,9 -11,5
1934 292,8 184,8 108,0 -77,7 30,3 -12,6 -12,0
1935 296,5 196,5 73,0 -105,8 -32,8 0,5 22,9
1936 320,6 196,4 124,2 -114,2 10,0 0,5 51,2
1937 346,8 279,2 67,6 -130,9 -63,3 0 0
1938 294,3 246,5 47,8 -43,8 4,4 0 74,1
1939 299,9 218,0 81,9 -53,5 28,4 -0,3 -0,8
Fonte: IBGE (1987), tabela11.5, p. 535.

Portanto, foi a partir dos anos 1930 que houve o declínio alcantilado das
exportações e esse declínio se estendeu até o fim da década, mantendo-se em
níveis entre 30 a 40% do valor registrado em 1928. Sobre o exposto Gremaud
(1997, p. 127) comenta que em 1928:
[...] as exportações brasileiras ascenderam a 97 milhões de libras esterlinas,
ao passo que a média para o período 1931-1939 foi de apenas 38 milhões
de libras esterlinas. O impacto desta redução sobre uma economia que se
articulava em torno das atividades exportadoras tinha de ser profundo. Esse
impacto não se manifestou de início, como vimos, sobre o saldo da balança
comercial: as importações também se reduziram brutalmente, permitindo a
manutenção de saldo comercial, ainda que de dimensões cada vez
menores.

Portanto, para elucidar, o Brasil tinha uma enorme dívida externa que
precisava ser financiada com as vendas do café, ou seja, o país era fortemente
dependente das exportações de café e o bom desempenho estava condicionado ao
comportamento do mercado internacional. No ano 1929, além da forte queda nos
preços internacionais, a crise provocou uma diminuição na renda e no consumo no
mundo todo, prejudicando ainda mais as vendas de café.
Assim, todos estes fatos fizeram com que o governo interviesse comprando
e estocando café e desvalorizando o câmbio. Essa intervenção não tinha apenas o
35

interesse de proteger o setor cafeeiro como também, procurou sustentar o nível de


emprego, de renda e demanda.
Segundo Abreu (1999) apud Souza (2009, p. 198), a história da dívida
externa brasileira pode ser resumida em dois grandes ciclos de endividamento,
ambos seguidos de moratórias, renegociações temporárias e acordos permanentes,
que são:
O primeiro iniciou-se em 1824, pelos empréstimos que se seguiram à
independência e à indenização paga a Portugal e terminou na moratória de
1931. Durante os 35 anos seguintes, o Brasil permaneceu afastado do
mercado financeiro privado internacional, recebendo “créditos externos
apenas diretos” do Eximbank [agência norte-americana], além de
“investimentos externos diretos”. Somente em meados da década de 1960
inicia-se o segundo ciclo de endividamento externo, que culminará na crise
da dívida durante a década de 1980.

É importante frisar que na década de 1930 que o crescimento industrial


ganhou impulso e passou por certa diversificação dando início ao chamado
Processo de Substituição de Importações – PSI, ou seja, devido ao estrangulamento
externo, gerado pela crise internacional de corrente da quebra da Bolsa de Nova
York, houve a necessidade de produzir internamente o que antes era importado,
defendendo-se dessa forma o nível de atividade econômica. A industrialização feita
a partir deste processo de substituição de importações é uma industrialização
voltada para dentro, isto é, que visa atender o mercado interno.
Sobre o Processo de Substituição de importações, Fonseca (2009, p. 02)
descreve que:
Convém salientar, portanto, que entende-se por substituição de importações
simplesmente o fato de o país começar a produzir internamente o que antes
importava, o que ocorrera no Brasil com certa expressão na República
Velha. O que usualmente denomina-se PSI, todavia, supõe mais que isto:
que a liderança do crescimento econômico repouse no setor industrial, que
este seja responsável pela dinâmica da economia, ou seja, que
crescentemente seja responsável pela determinação dos níveis de renda e
de emprego. Assim, se na República Velha o setor industrial crescia
induzido pelo crescimento e pela diversificação do setor exportador, a partir
de meados da década de 1930 a economia retomou o crescimento do
produto a despeito da crise do setor exportador, sob a liderança dos setores
voltados ao mercado interno.

Como observado, o estrangulamento externo tornava-se, portanto, o


principal fator desencadeador da substituição de importações, e, este processo foi a
única alternativa visualizada para solucionar questões alusivas à economia
brasileira, de tal modo que, na época, o PSI fora considerado responsável pela
determinação dos níveis de renda e de emprego.
36

No entanto, Fonseca (2009, p. 22) destaca as crises e desequilíbrios do PSI


e enfatiza que:
À medida que o PSI avançava, assim, era de esperar que ficasse cada vez
mais difícil substituir novas importações, pois crescia o volume de capital, a
qualificação da mão-de-obra e o nível tecnológico necessários aos novos
investimentos.

Assim sendo, à medida que o Processo de Substituição de Importações se


desenvolvia, vários problemas e contradições começavam a nascer, dificultando e,
em alguns países, até inviabilizando sua continuidade e expansão e Fonseca (2009,
p. 22-24) aponta outros problemas além deste, veja:
No início do PSI, o crescimento da economia trazia consigo a ampliação do
emprego e, com isso, do mercado consumidor. De fato, pode-se pressupor
que a demanda não era problema para a indústria nascente nas primeiras
fases do PSI, já que justamente seu crescimento se prendia em vir atender
à demanda doméstica preexistente, uma vez que, com o estrangulamento
externo, não poderia ser mantido o fluxo de importações. Entretanto, ao
avançar o processo, com a exigência de maior volume de capital e
tecnologias mais sofisticadas, poupadoras de mão-de-obra, o emprego não
crescia a taxas capazes de garantir um mercado de massas. b) À medida
que o processo ia avançando, cresciam as necessidades de financiamento
e de poupança — argumentava-se que a falta desta era parcialmente
amenizada pela concentração de renda —, já que cada vez era necessário
maior volume de capital. O fato de a tecnologia ser importada gerava
pressão sobre o balanço de pagamentos, aguçando o estrangulamento
externo. Mesmo com o relativo fechamento do mercado interno, os
produtores locais eram induzidos a utilizar as novas tecnologias capital-
intensivas, seja porque diminuíam custos seja porque a compra de bens de
capital do exterior geralmente eram subsidiadas, sem contar que os
investidores estrangeiros, ao investirem, já traziam consigo as novas
técnicas; c) O avanço do PSI fazia tornar mais nítida a contradição do
modelo de exigir, para sua reprodução, cada vez mais capital e mão-de-
obra qualificada, justamente o que é escasso na América Latina, e liberar
recursos naturais e mão-de-obra de baixa qualificação, justamente o que
era abundante. d) Esses problemas aprofundavam-se ainda mais com a
baixa produtividade da agricultura, em contraste com a elevação da
produtividade média das atividades urbanas e industriais

Conforme citado, na proporção que o PSI se desenvolvia, apresentava-se


também algumas contradições e problemas, ou seja, o PSI cresceu, porém, o
emprego não crescia a taxas suficientes para garantir o mercado de massas. O PSI
avançou, mas isso fez com que crescessem a necessidade de financiamento e
poupanças. O avanço do PSI passou a exigir cada vez mais capital e mão-de-obra
qualificada o que não escasso, e assim, provocando desemprego, já que liberavam
a mão-de-obra de baixa qualificação.
E ainda, o dualismo campo/cidade aprofundava-se e o êxodo rural, seja pela
atração pela cidade seja pela expulsão do homem do campo, mas tudo contribuía
37

para aumentar ainda mais o desemprego. E assim, havia população, mas não
mercado (população com poder aquisitivo para adquirir os produtos industriais).
Assim sendo, o Processo de Substituição de Importações, alcançou não só
pontos positivos para a economia brasileira, já que o seu desenvolvimento e
expansão apresentaram consequências que afetaram a dinâmica econômica do
país.
Outra consequência foi a inflação. Apesar das intenções governamentais,
nos primeiros anos do Estado Novo a economia desacelerou seu ritmo de
crescimento, principalmente entre 1939 e 1942, quando cresceu apenas 0,4% e a
indústria 1,6%. As dificuldades de importação, decorrentes da guerra, são apontadas
geralmente como causa. E Fonseca (2009, p. 26) relata que:
Apesar das intenções governamentais, nos primeiros anos do Estado Novo
a economia desacelerou seu ritmo de crescimento, principalmente entre
1939 e 1942, quando cresceu apenas 0,4% e a indústria 1,6%. As
dificuldades de importação, decorrentes da guerra, são apontadas
geralmente como causa.

Enquanto permanecia a dificuldade de importar e o governo estabelecia


racionamento para o trigo e a gasolina, as exportações cresciam para os países
aliados e o preço do café se recuperava. Assim, obtém-se saldo positivo nas
transações correntes, passando-se a adotar políticas mais liberais, como a
possibilidade de os exportadores poderem vender até 70% das divisas no mercado,
30% deviam ser vendidas ao Banco do Brasil à taxa oficial de câmbio.
Nos primeiros anos de Estado Novo, a política monetária mais apertada foi
substituída por outra mais fraca; a inflação, então, começou a se acelerar, ficando
entre 15% e 20% ao ano.
Fonseca (2009, 40) destaca que:
No Brasil, a paridade cambial4 mantém-se fixa em Cr$ 18,50 por dólar,
enquanto a inflação brasileira fora o dobro da norte-americana durante a
guerra. Esta valorização do cruzeiro, associada à demanda de importações
e ao forte crescimento econômico dos últimos anos do Estado Novo, explica
a elevação das importações, que logo se manifestou no balanço de
pagamentos e na perda de reservas, principalmente de moedas
conversíveis.

Vale salientar que a política cambial adotada representava, na prática, a


tentativa do governo de administrar a crise cambial ferindo ao mínimo os interesses

4
Instrução nº 70 da SUMOC, baseada em três objetivos: a) manter formalmente o acordo de Bretton
Woods (Paridade Cambial); b) manter o peço externo do café, que ainda estava obtendo altas cotações no
mercado internacional; c) combater a inflação (TREVISAN, 2004, p.84).
38

desenvolvimentistas. Na prática, a taxa efetiva de câmbio era estabelecida pela


concorrência entre os importadores, por meio de leilões, nos quais a cada faixa ou
categoria o governo estabelecia previamente um montante de divisas a ser
destinado. Dessa forma, o governo na compra de divisas dos exportadores pagava a
taxa oficial acrescida de uma sobretaxa ou bonificação; e, na venda aos
importadores, recebia, além da taxa oficial, o ágio5 decorrente do leilão de câmbio.
E assim, a situação econômica do país, entretanto, continuava a se agravar.
Fonseca (2009, p. 33) diz que:
O índice de preços ao consumidor do Rio de Janeiro mais que dobrava de
1950 a 1954 — 9,4% em 1950, 12,1% em 1951, 17,3% em 1952, 14,3% em
1953 e 22,6% em 1954. Em 1953, a taxa de crescimento continuava alta —
4,7%, mas abaixo dos 7,3% de 1952, principalmente devido à taxa de 0,2%
obtida na produção agrícola.

Gradualmente o governo abandonava seu lema inicial, sanear para depois


crescer para reafirmar seu viés desenvolvimentista. Sem alcançar os resultados
almejados pela política de estabilização, o governo optava pela continuidade do
crescimento, radicalizando seu discurso desenvolvimentista e nacionalista, mas sem
dispensar a tentativa de negociação com o governo norte-americano.
Ante o exposto, verificou-se que a economia do país sofreu diversificadas
fases do período de 1930 a 1956, dessa forma, no capítulo a seguir será realizado
uma análise dos dados econômicos durante a revolução industrial.

5
Ágio – Termo de origem italiana usado antigamente em Veneza para designar a diferença entre
moedas depreciadas e o metal do qual eram constituídas. De forma genérica, ágio significa um prêmio
resultante da troca de um valor (moedas, ações, títulos etc.) por outro. No comércio internacional de moedas é
a diferença entre o valor nominal e o real da moeda negociada (SANDRONI, 1999, p. 17).
39

3. ANÁLISE DOS DADOS ECONÔMICOS DURANTE A REVOLUÇÃO


INDUSTRIAL (1930-1956)

O apanhado histórico da evolução da industrialização brasileira apresentado


nesta pesquisa, mostra a real transformação das ditas ameaças em oportunidades,
pois, desde o Brasil Colônia, sempre que houve um período de crescimento, foi
baseado em dificuldades encontradas.
Neste capítulo será realizada uma análise dos dados econômicos do Brasil,
apresentando os principais pontos como balança comercial, endividamento externo
e inflação, fazendo uma linha histórica durante a revolução industrial no período de
1930 a 1956.

3.1 BALANÇA COMERCIAL

Segundo Sandroni (1999, p. 40) a balança comercial é:


Relação entre as exportações e as importações de um país. Quando o valor
das exportações excede o das importações, o país apresenta um superávit
e torna-se credor do estrangeiro; quando, ao contrário, as importações
superam as exportações, o país está em dívida com o estrangeiro e
apresenta um déficit em sua balança comercial. Uma série de fatores influi
sobre a ocorrência de um déficit ou de um superávit na balança comercial.
Entre os mais importantes, podemos citar: 1) a evolução dos preços das
importações e das exportações de um país; 2) a evolução dos volumes
importados e exportados. Um desequilíbrio entre os preços de exportação e
de importação poderá provocar um déficit na balança comercial, o mesmo
acontecendo com alterações nos volumes das importações e exportações.

A balança comercial é também chamada balança visível e faz parte do


balanço de pagamentos. Um país pode ter um superávit na balança comercial e um
déficit no balanço de pagamentos; é o que ocorre geralmente com os países
subdesenvolvidos.
Para a realização da análise de dados proposta, faz-se necessários destacar
que em 1929, a economia do país sofreu com a crise cafeeira e o impacto desta
crise sobre a economia brasileira foi ressaltado por vários autores e obteve
diferentes interpretações, que algumas delas, já foram expostas anteriormente.
É válido ressaltar que, ainda em 1929, surgiram novas forças políticas com a
participação de estudantes, militares e intelectuais, abrindo espaço para a ideia de
40

industrialização nacional como forma de libertação da dependência agrário-


exportadora, e Wickert (2008, p.7) relata que:
[...] o governo populista de Getúlio Vargas faz uma política de conciliação
com os trabalhadores, para obter seu apoio, enquanto investe nas indústrias
de base para fornecer matéria – prima e energia de baixo custo para o setor
industrial privado nascente. Mas estas medidas não observaram algumas
limitações existentes, como o baixo nível de consumo interno em vista dos
salários praticados, fazendo com que o desenvolvimento esperado, não
tivesse perspectivas favoráveis no longo prazo. Assim, os empréstimos
externos captados para promover o desenvolvimento industrial e para
aumentar a infraestrutura das cidades que inchavam, continuaram
aumentando.

Assim, em 1929 o Programa de Valorização do Café foi suspenso


mantendo-se apenas algumas ações, as quais não tinham expressão suficiente para
evitar a crise, ou seja, eram incapazes de impedir a queda do preço internacional do
café. Para explanar o exposto, Gremaud (2008, p. 120), relata que “a queda do
preço internacional do café, precipitada pelos eventos internacionais de 1929,
indicava também a superprodução a que o setor fora levado pelo Programa de
Valorização do Café”, e como resultado, o preço do café em 1933 reduziu-se a cerca
de um terço do que era em 1928, como mostra a Tabela 02.

Tabela 02 – Café: preço de importação nos Estados Unidos, 1925-1964


(valor em centavos de US$ por libra-peso).
Ano Preço Ano Preço Ano Preço Ano Preço
1925 22,3 1935 7,6 1945 12,7 1955 52,2
1926 21,6 1936 7,7 1946 17,2 1956 51,2
1927 18,5 1937 8,9 1947 24,0 1957 49,5
1928 21,3 1938 6,9 1948 25,1 1958 43,9
1929 20,4 1939 6,9 1949 27,2 1959 35,7
1930 13,1 1940 6,2 1950 44,7 1960 34,3
1931 10,1 1941 7,9 1951 50,5 1961 32,4
1932 9,1 1942 12,0 1952 51,3 1962 30,4
1933 7,9 1943 12,4 1953 52,7 1963 30,3
1934 8,8 1944 12,5 1954 65,7 1964 39,6
Fonte: 1925-1956: Delfim Netto (1973), p. 56. 1957-1964: Bacha e Greenhill (1992).

O impacto da crise de 1929 e a Grande Depressão, deu-se sobre o valor das


exportações de café, reduzindo significativamente a receita de divisas e ainda, uma
redução das importações nos anos que se seguem a crise, conforme tabela 03:
41

Tabela 03: Exportações (FOB), Importações (FOB) e Balança Comercial:


1930-1956 (US$ milhões)
SETOR EXTERNO
Importações
Ano Exportações (FOB) (FOB) Saldo Comercial
1930 319,4 225,5 93,9
1931 244,0 116,5 127,5
1932 179,4 92,8 86,6
1933 216,8 148,2 68,6
1934 292,8 184,8 108,0
1935 269,5 196,5 73,0
1936 320,6 196,4 124,2
1937 346,8 279,2 67,6
1938 294,3 246,5 47,8
1939 299,9 218,0 81,9
1940 252,1 200,7 51,4
1941 367,7 222,5 145,2
1942 409,8 177,4 232,4
1943 472,6 226,9 245,7
1944 580,3 310,4 269,9
1945 655,1 322,5 332,6
1946 985,0 594,0 391,0
1947 1.157,0 1.027,0 130,0
1948 1.183,0 905,0 278,0
1949 1.100,0 947,0 153,0
1950 1.359,0 934,0 425,0
1951 1.771,0 1.703,0 68,0
1952 1.416,0 1.702,0 -286,0
1953 1.540,0 1.116,0 424,0
1954 1.558,0 1.410,0 148,0
1955 1.419,0 1.099,0 320,0
1956 1.483,0 1.046,0 437,0
Fonte: Notas Metodológicas6

Como visto na tabela 03, de 1930 a 1940, o saldo da balança comercial


oscilou, tendo um crescimento significativo de 1941 a 1946. Já em 1947 e 1949
houve uma queda, recuperando-se no ano seguinte.

6
Exportações, Importações e Balança Comercial: 1901-2000 (US$ milhões) Os dados até
1939 foram originalmente reportados em libras-ouro e em moeda nacional. De 1930 a 1946, os
valores são do IBGE (1990), e a partir de 1947, os dados são do Banco Central do Brasil. No caso
das importações, os valores CIF (cost, insurance and freight) foram transformados para valores FOB
(free on board), utilizando as informações publicadas em IBGE (1961). Os valores das importações
também sofreram ajustes relativos ao superfaturamento de importações provenientes da Alemanha
sob o regime de marcos de compensação no período 1934-1938. Os valores aqui reproduzem os
publicados em Abreu (1990) até 1929, os do IBGE (1990), de 1930 a 1946, e os do Banco Central do
Brasil, a partir de 1947.
42

Em 1952, as importações excederam à importação, deixando a balança


comercial negativa.

3.2. ENDIVIDAMENTO EXTERNO

Para dar início a esse tópico, será abordado o que é a dívida externa. Sendo
assim, Sandroni (1999, p. 180) diz que a dívida externa é:
Somatório dos débitos de um país, garantidos por seu governo, resultantes
de empréstimos e financiamentos contraídos com residentes no exterior. Os
débitos podem ter origem no próprio governo, em empresas estatais e em
empresas privadas. Neste último caso, isso ocorre com aval do governo
para o fornecimento das divisas que servirão às amortizações e ao
pagamento dos juros. Os residentes no exterior que forneçam os
empréstimos e financiamentos podem ser governos, entidades financeiras
internacionais, como o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial,
bancos e empresas privadas. Os empréstimos são geralmente realizados
em moeda estrangeira, desvinculados de programas e projetos de
investimento específicos, ao contrário dos financiamentos, que na maior
proporção de seu montante requerem a aprovação de um projeto
(construção de estradas, hidrelétricas etc.) para serem liberados. A dívida
externa registra apenas aqueles empréstimos e financiamentos cujo prazo
de vencimento é superior a um ano; os recursos cujo prazo de vencimento é
inferior a um ano — os capitais de curto prazo — não são registrados no
montante da dívida externa. A dívida externa pode ser considerada dívida
externa bruta quando dela não são subtraídas as reservas, e dívida externa
líquida quando resultante da dívida externa bruta menos as reservas.

Sabe-se que a dívida externa tem origem no período colonial, no qual, desde
os séculos XVI e XVII, alguns governadores da Colônia faziam empréstimos. Os
empréstimos desse período confundiam-se com empréstimos pessoais dos
governantes, além disso, no período colonial tudo era desconhecido: o tamanho da
dívida, a finalidade do empréstimo, as condições em que esse era feito e etc. (NETO
1980).
A história da dívida externa apresenta que as crises de balanço de
pagamento a partir da década de 1890 foram determinantes nesse período da
história da dívida externa brasileira, marcado por uma sucessão de empréstimos de
consolidação, em 1898, 1914 e 1931 (ABREU, 1999).
Em análise da evolução da dívida externa brasileira, destaca-se os eventos:
empréstimos de consolidação e acordo permanente. Observe as tabelas a seguir:
43

Tabela 04: Saldos em circulação de empréstimos públicos externos


brasileiros
Libras Francos Dólares Florins Total em Libras
1913 129,1 902** 0 0 166,0
1920 135,2 900** 0 0 172,1
1930 163,0 1850*** 371,2 0 254,4
1940 152,6 748,8** 334,7 6,5 241,0
1950 51,9 1708**** 154 6,4 114,4
1955 28,4 411***** 99,2 3,6 64,7
Fontes: ver Abreu (1985), Abreu (1994), Brasil (1945) e Anuário Estatístico do Brasil 1952 e 1956.
* Saldos em 31.12.
** Re-estimativa provisória. Empréstimos em francos em 1920 considerados constantes desde 1913.
*** Reavaliação para levar em conta a conversão francesa de 1928 e a sentença e Haia contra o
Brasil. Ver Abreu (1994).
**** 1951.
***** 1956.

Na tabela seguinte, será apresentado a dívida externa do Brasil das décadas


de 30 e 40:

Tabela 05: Dívida Externa*


Dívida Exportações Razão Serviço da Razão Receita****
Ano externa FOB em dívida- Dívida Serviço -
em contos de exportações externa em exportações
contos de réis contos de
réis** réis***

1930 11753476 2907354 4,04 857432 0,2949 3276171


1940 16288024 4960538 3,28 205401 0,0414 4664813
Fonte: dados básicos de Brasil em números 1960. – Ver Abreu (2001).
*Até 1930, valor nominal dos títulos resgatados. Depois de 1930 valor de mercado.
**Fim do ano calendário.
***Ano calendário.
****Federal até 1900. União, estados e municípios a partir de 1910. A razão serviço da dívida -
receita da União em 1910 era de 28,56%. A dívida externa até 1880 era exclusivamente federal.

As Tabelas 4 e 5 servem de referência a essa análise, ilustrando,


respectivamente, os saldos do endividamento externo do setor público brasileiro,
incluindo estados e municípios, onde os empréstimos estaduais e municipais, em
1930, correspondiam cerca de 30% o endividamento externo total (ABREU, 1999).
E apresenta ainda o impacto das seguidas crises de balanço de pagamentos em
alguns dos principais indicadores de solvência externa, destacando a rápida
elevação dessa relação antes da virada do século, chegando a seu pico em 1930
(404%).
44

Em 1931, ocorre a primeira suspensão dos pagamentos da dívida. Segundo


Wickert (2008, p. 7) “no mesmo ano, quatorze países da América Latina se reuniram
e negociaram suas dívidas junto aos credores internacionais”.
Anos depois, mais precisamente em 1937, houve outra paralisação dos
pagamentos, dez dias após o golpe que instaurava o Estado Novo, em decorrência
de uma crise cambial. Quanto a este golpe, Abreu (2001, p. 20) destaca que:
Depois do golpe de novembro de 1937, o governo brasileiro anunciou a
suspensão do serviço de todos os empréstimos externos por três anos.
Vargas argumentou que o Brasil havia sido forçado a suspender
pagamentos por ser impossível, ao mesmo tempo, pagar o serviço e as
importações essenciais ao reequipamento do sistema ferroviário e das
forças armadas. A alternativa de um novo funding era considerada
inaceitável, em vista de implicar aumento da dívida nominal, já considerada
incompatível com a “capacidade de pagamento” do país.

Ou seja, Getúlio Vargas usou o Golpe de 1937 como pretexto para


suspender totalmente os pagamentos da dívida externa e Wickert (2008, p. 07)
ressalta que “o resultado obtido foi uma redução de US$ 1,3 bilhões em 1930 para
US$ 698 milhões em 1945 e US$ 597 milhões em 1948”.
Já Leopoldi (1999, p. 121) destaca que:
Com o golpe do Estado Novo, em novembro de 1937, o Brasil anunciou
simultaneamente uma moratória da dívida externa e uma brusca mudança
na política cafeeira. O novo regime decidiu aliviar o ônus que a sustentação
do café acarretava para o governo e também atender aos reclamos dos
cafeicultores, reorientando a política cafeeira para a liberdade de mercado.
Para aumentar as exportações de café, liberou-se a taxa de câmbio e
reduziu-se o imposto de exportação do produto, abandonando-se a política
de sustentação de preços do café. A resposta do mercado internacional foi
imediata: as exportações cresceram, enquanto o preço do produto caía.
Mas o advento da II Guerra trouxe um refluxo para o comércio internacional
do café. Os países produtores reuniram-se para participar de um Acordo
Internacional do Café, visando a regular a oferta do produto no mercado
externo

Então como se pode observar, as relações econômicas internacionais do


Brasil não eram favoráveis, pois sofria sérios problemas quanto as dívidas externas,
e esta situação foi provocada por alguns fatores como o declínio do comércio
exterior e a suspensão dos fluxos de capitais estrangeiros para o Brasil.
Para complementar, Abreu (2001, p. 03) descreve que:
Na década de 1930 o serviço da dívida externa foi retomado em 1934,
através do chamado esquema Aranha, com vigência prevista para 4 anos.
Antes que se completasse este prazo, o golpe de 1937 serviu de pretexto
para o único episódio de Default completo por parte do governo central
brasileiro antes de 1987.
45

É válido ressaltar que na historicidade da economia do país, o ano de 1937


foi marcado positivamente, como Leopoldi (1999, p. 127) afirma:
Em 1937 o quadro financeiro do país já se modificara: surgiram bancos
brasileiros de maior porte e novas agências foram abertas no interior do
país, fora do eixo Rio-São Paulo. Naquele ano, entre bancos e casas
bancárias, existiam no país cerca de 200 estabelecimentos.

Prosseguindo com a linha histórica, um novo acordo temporário passou a


viger em 1940 e neste ano, o país possui reservas internacionais suficientes para
retomar os pagamentos da dívida. Em 1943, um acordo permanente com os
credores estendeu o pagamento das dívidas até a década de 80 como afirma Abreu
(2001, p. 01):

O Brasil, após variados regimes transitórios e suspensão temporária de


pagamentos do serviço da dívida pública externa, nas décadas de 1930 e
1940, negociou um acordo permanente com os seus credores em 1943. Os
pagamentos aí previstos se estenderam até o início dos anos oitenta, mas
tornaram-se bem reduzidos a partir de meados da década de 1950.

É importante ressaltar que Sousa Costa, em 1940, fez uma proposta aos
representantes dos credores. Essa proposta consistia em realizar o pagamento
temporariamente 50% do previsto no esquema Aranha. E no início do ano de 1943,
Sousa Costa percebeu que as exportações do Brasil possivelmente teriam
problemas para se ajustar à competição em um mercado mundial normalizado
depois da guerra, e ainda, que haveria fortes pressões sobre as reservas cambiais
existentes para a importação de bens de capital essenciais. Assim, resolveu acelerar
as negociações relativas à dívida externa.
Neste sentido, Abreu (2001, p. 22) diz que:
Após longas negociações, chegou-se a um acordo permanente que
ofereceria aos detentores de títulos duas opções. Deixava de haver
classificação de empréstimos por categorias, o que era uma forma de
disfarçar o dano causado aos empréstimos em libras. A opção A
envolveria pagamentos anuais de £7,7 milhões (dos quais £5,2 milhões) se
todos os detentores de títulos a escolhessem. A opção B, também se
escolhida por todos, envolveria pagamentos anuais de £8,4 milhões (dos
quais £4,9 milhões) sobre os novos títulos federais de 3,75%, bem como
pagamentos imediatos de £22,9 milhões pelo resgate de títulos com valor
de face de £79 milhões ao preço médio de 29%. Os antigos empréstimos da
categoria 8 seriam resgatados a 12% do valor do principal em circulação, e
o grosso dos atrasados de juros - os da moratória de 1937-40 - seriam
liquidados a 25% das taxas do acordo de 1940 (ou seja, na "melhor" das
hipóteses a 12,5% da taxa de juros contratual). As condições do acordo
implicaram em redução de 50% do valor da dívida em circulação da ordem
de £ 220 milhões.
46

Portanto, foi somente em 1943 que houve um acordo permanente. Conforme


o exposto, este acordo ofereceu duas opções, “A” e “B”, aos detentores de títulos. O
acordo denotava um abandono do princípio de que empréstimos com melhores
garantias (os britânicos) deviam ter prioridade no caso de uma moratória parcial.
Assim, Abreu (2001, p. 22) fala que é “evidente que o acordo não era favorável aos
britânicos pela comparação entre os comunicados da Corporation of Foreign
Bondholders britânica e do Departamento de Estado à imprensa”.
Embora na tabela 04 não apresente informações referentes a dívida externa
na década de 50, os autores Silva, Carvalho e Medeiros (2009, p. 53) descrevem
que:
Apesar da expressiva redução da dívida com a consolidação de 1943, o
Brasil voltou a sofrer desequilíbrios em suas contas externas no início dos
anos 1950 provocados por déficits comerciais elevados após o relaxamento
de controles sobre importação durante a Guerra da Coréia. O crescimento
explosivo do déficit em conta corrente secou as reservas internacionais,
causando uma crise no balanço de pagamentos em. Como essas
importações eram, em grande parte, financiadas por créditos comerciais,
posteriormente rolados por empréstimos de curto e médio prazos, a dívida
total externa (pública e privada) dobrou entre 1946 e 1953, alcançando mais
de US$ 1 bilhão.

Em resumo, o Brasil, após variados regimes transitórios e suspensão


temporária de pagamentos do serviço da dívida pública externa, nas décadas de
1930 e 1940, negociou um acordo permanente com os seus credores em 1943. Os
pagamentos aí previstos se estenderam até o início dos anos oitenta, mas tornaram-
se bem reduzidos a partir de meados da década de 1950, ou seja, a economia
brasileira enfrentou muitas dificuldades e problemas econômicos e dentre eles pode-
se destacar os desequilíbrios externos e a instabilidade de preços, ou melhor,
descontrole inflacionário o qual tem marcado profundamente e negativamente a
economia do país.

3.3. INFLAÇÃO

Segundo Sandroni (1999, p. 301) a inflação é:


Aumento persistente dos preços em geral, de que resulta uma contínua
perda do poder aquisitivo da moeda. É um fenômeno monetário, e isso
coloca uma questão básica: se é a expansão da oferta de moeda que tem
efeito inflacionário ou se ela ocorre como resposta à maior demanda de
moeda provocada pela inflação. A inflação, normalmente, pode resultar de
fatores estruturais (inflação de custos), monetários (inflação de demanda)
ou de uma combinação de fatores.
47

Entretanto, independentemente da causa inicial do processo de elevação


dos preços, a inflação adquire autonomia suficiente para se auto alimentar por meio
de reações em cadeia (a elevação de um preço “puxando” a elevação de vários
outros). Desse modo, configura-se a chamada espiral inflacionária (SANDRONI,
1999).
Os estruturalistas explicam a inflação pelo fato de as demandas salariais
deixarem de ser uma questão exclusivamente econômica; elas adquirem caráter
sociopolítico, envolvendo sindicatos, empresas e o governo, o que contribui para
generalizar a prática da fixação dos preços em função dos aumentos de custos, em
detrimento do rigor impessoal dos mercados competitivos (ABREU, 2001).
Uma visão retrospectiva sobre a inflação revela que o Brasil possui um longo
ciclo de convivência com o fenômeno inflacionário. Munhoz (1997, p. 61) relata que
“logo após superado o período mais agudo da recessão mundial gerada pela crise
de 1929, o país conviveu com algo raro, que foi uma deflação persistente”, ou seja,
até 1933, foi responsável por um recuo próximo de 22,5% nos preços internos
medidos pelo Deflator Implícito do Produto, veja a tabela 06 a seguir:

Tabela 06: Inflação Brasileira – Variação Anual – 1930 a 1959


Anos 30 Anos 40 Anos 50
Ano % Ano % Ano %
30 -12,3 40 6,7 50 12,4
31 -10,9 41 10,2 51 12,3
32 1,6 42 16,2 52 12,7
33 -2,0 43 16,6 53 20,6
34 6,3 44 20,6 54 25,8
35 4,8 45 14,9 55 12,2
36 1,6 46 14,6 56 24,5
37 9,4 47 9,0 57 7,0
38 3,2 48 5,9 58 24,4
39 2,0 49 8,1 59 39,4
Fontes: Estatísticas históricas do Brasil. Séries Econômicas, Demográficas e Sociais. 1550 a 1988. 2.
ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1990, p. 118 e 177. “25 anos de economia brasileira – estatísticas básicas”.
Avulso da revista Conjuntura Econômica, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, v. 26, nov. 72, e
diversos números mais recentes.

É interessante observar que na tabela supra, só a partir de1934, a tendência


dos preços internos se reverte, e até 1939 registra-se um aumento acumulado pouco
superior a 23%.
48

Nesta primeira etapa do ciclo inflacionário que marcou o país ao longo de


mais de meio século do pós-guerra, verificou-se, portanto, uma recuperação plena
dos preços deprimidos pela crise mundial, constatando-se em 1939 o retorno aos
níveis observados em 1929.
Sobre o fenômeno inflacionário, Munhoz (1997, p. 62) afirma que:
A década seguinte, em cuja primeira metade ocorreu a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), presencia o que na época se poderia designar como
explosão inflacionária, tendo os preços crescido em 215,6% entre 1940 e
1949 (12,2% ao ano, em média), inaugurando-se assim a fase de taxas
médias de inflação anual representadas por dois dígitos.

Assim, conforme tabela 06, a explosão inflacionária ocorreu a partir de 1940,


onde houve um grande acréscimo. E ainda, o autor explica que o decênio terminado
em 1949 deve ser visto, todavia, em duas fases, cada qual com características
distintas e opostas quando argumenta que:
[...] a primeira, até 1944, com taxas de inflação elevadas e crescentes, sob
influência dos reflexos econômicos decorrentes das restrições próprias do
conflito mundial; a segunda, a partir de 1945, com taxas moderadas de
inflação, quando o governo manteve congelados os preços das moedas
estrangeiras, evitando assim maiores impactos internos por força dos
aumentos nos preços das importações no pós-guerra (MUNHOZ 1997, p.
62).

Portanto, na primeira fase, em 1944, devido às restrições do conflito que o


mundo vivenciava, as inflações estavam elevadas e mantinham o crescimento. Mas
em 1945, o quadro econômico mudou, pois, o governo congelou os preços da
moeda estrangeira, buscando amenizar os problemas gerados pela força dos
aumentos das importações, assim, houve uma moderação nas taxas de inflação.
E ainda, “nos anos 50, a tabela 06 mostra uma elevação substancial do
patamar inflacionário, com aumento acumulado próximo de 460%, mais que
dobrando a taxa de crescimento dos preços em relação à década anterior” (Munhoz
1997, p. 62).
Contudo, de acordo com a tabela 06, apesar da moderação ocorrida a partir
de 1945 a 1949, onde a taxa de inflação estava em 14,9 e 8,1, respectivamente, em
1950, o quadro passa a mudar, elevando-se para 12,4, e no decorrer dos anos, em
1937 a taxa de inflação caíram para 7,0, voltando a crescer ano seguinte.
Portanto, em síntese de tudo que foi explanado, conclui-se que a economia
brasileira já passou por diversas fases e todas foram marcadas por obstáculos, ou
melhor, todo avanço obtido, partiu de um problema. De fato, a revolução industrial
teve uma contribuição primordial para o avanço da economia brasileira, e esta
49

industrialização foi positiva em muitos aspectos como por exemplo, a diminuição da


dependência da importação de produtos manufaturados, o aumento da produção
com diminuição em custos, barateando assim o preço final dos produtos, houve
também geração de empregos na indústria, organização dos trabalhadores entre
outras.
Porém, a industrialização obteve também aspectos negativos como por
exemplo, o crescimento desordenado dos centros urbanos, a dívida externa já que
vários empréstimos foram realizados na tentativa de melhorar a situação econômica
do país, manter a produção ou evitar a queda dos preços do café, a exemplo deste
são os empréstimos externos feitos no governo de Vargas para comprar os
excedentes da produção do café. Esta atitude trouxe consequências amargas para o
Brasil como o aumento do endividamento externo e ainda, a expansão da base
monetária, com as consequentes taxas inflacionárias.
50

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa abordou literaturas diversificadas de autores que


contribuíram para o embasamento teórico tais como, Abreu (2001), Baer (1988),
Fonseca (2009), Gremaud (2003), Suzigan (1988), Versiani (1990) entre outros.
Após este percurso, foi possível alcançar com êxito os objetivos traçados, visto que
a literatura utilizada e o acesso as informações acerca da temática, proporcionaram
levantamento da contextualização da Revolução Industrial, apresentando a
historicidade da economia, tanto do período que antecede, como no período
posterior ao fenômeno.
Esta pesquisa permitiu identificar as consequências que a revolução
industrial trouxe para o Brasil, que foram tanto positivas como negativas. No
decorrer da pesquisa, averiguou-se que a industrialização foi positiva em muitos
aspectos bem como, melhoria na qualidade de vida, diminuição da dependência da
importação de produtos manufaturados, o aumento da produção com diminuição em
custos, barateando assim o preço final dos produtos, geração de empregos na
indústria, mas por outro lado, o crescimento desordenado dos centros urbanos, a
dívida externa e as taxas inflacionárias foram alguns pontos em consequências da
industrialização.
Além da explanação da economia brasileira antes da revolução industrial e
da sua contextualização, constatou-se a necessidade de abordar os muitos efeitos
gerados por este fenômeno. Ressalta-se que para maior compreensão da temática,
foi necessário expor nesta pesquisa, como a economia do país encontrava-se antes
da revolução assim, do mesmo modo, buscou-se elucidar a economia depois desta
revolução.
No decorrer da pesquisa, após apresentar os marcos importantes, deu-se
início a análise de dados econômicos do período de 1930 a 1956, o qual trouxe
apreciação para a referida pesquisa e proporcionando um conhecimento
aprofundado sobre o tema.
Sendo assim, esta pesquisa de cunho bibliográfico, permitiu conhecer a
historicidade da economia brasileira, conhecimento crucial para acadêmicos e
futuros economistas, buscando assim, a gênese ou os marcos que contribuíram para
que a economia do país chegasse até aqui, dessa forma, esta pesquisa torna-se
51

relevante para o campo acadêmico, podendo ser utilizado como referência para
futuras pesquisas.
E por fim, após concluir as pesquisas, sugere como nova linha de estudo,
“Endividamento externo no Brasil e Inflação: Origens e consequências”.
52

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