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Análise da escavação de um túnel da Linha 5 do Metro de São

Paulo em solo residual de gnaisse.


Gustavo Aguiar
Consórcio AG-CCCC Metrô-SP Linha 5, São Paulo, Brasil, gustavo.aguiar@camargocorrea.com

Marcos Massao Futai


Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, futai@usp.br

Danton Soares Jr.


Companhia do Metropolitano de São Paulo, São Paulo, Brasil, dantonsoares@metrosp.com.br

RESUMO: Neste trabalho é analisada a escavação de um túnel com seção de 139 m² da obra da
Extensão da Linha- 5 Lilás da Companhia do Metropolitano de São Paulo (CMSP), escavado em
solo residual de gnaisse, confrontando dados de instrumentação com resultados de análise
bidimensional utilizando modelos de elementos finitos. É reproduzida a sequência completa da
construção do túnel, simulando o comportamento mecânico do solo através de um modelo
constitutivo elástico perfeitamente plástico (Mohr Coulomb). Por fim, são avaliados alguns detalhes
construtivos que podem interferir nos resultados obtidos, tais como tratamento do maciço,
sequência construtiva e rebaixamento do lençol freático.

PALAVRAS-CHAVE: túneis, modelagem numérica, solo residual

1 INTRODUÇÃO PVSE Roque Petrella, o túnel de ligação e o


túnel de via da Linha 5.
A cidade de São Paulo vem enfrentando
crescentes problemas de mobilidade urbana nos
últimos anos e uma das principais alternativas
para combater este passivo é o investimento em
obras metroviárias. A extensão da Linha 5 -
Lilás do Metro de São Paulo corresponde ao
maior investimento em transporte público
atualmente em progresso na cidade. Esta
extensão irá conectar a zona Sul ao centro da
cidade, ligando a Estação Largo 13 com as
estações Santa Cruz da Linha 1 e Chácara
Klabin da Linha 2. Neste trabalho será analisada
a execução do Túnel de Ligação Roque Petrella,
localizado entre as futuras estações Brooklin e
Campo Belo, na esquina entre a Avenida Santo
Amaro com a Rua Roque Petrella, no bairro do
Brooklin. Este túnel conectará o Poço de
Ventilação e Saída de Emergência (PVSE)
Roque Petrella com o túnel de via da Linha 5. Figura 1: Corte indicativo do PVSE Roque Petrella, o
O objetivo desta analise é simular túnel de ligação e o túnel de via.
numericamente a execução deste túnel e
comparar os resultados obtidos com as leituras
da instrumentação local. A Figura 1 mostra o
2 CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS Method (NATM), utilizando cambotas
E SEQUÊNCIA EXECUTIVA treliçadas e uma camada de 30 cm de concreto
projetado como contenção. Na Figura 3 é
O túnel possui uma extensão total de 37 m, com apresentada a sequência executiva para o
aproximadamente 14 m de altura e 12,5 m de primeiro rebaixo, onde é possível visualizar
largura, totalizando uma seção de escavação de também o tratamento de maciço proposto, que
139 m². A geometria deste túnel é justificada consiste em enfilagens tubulares de aço
pela necessidade de se executar a partir dele o injetadas com calda de cimento espaçadas a
túnel de via, que possui 12 m de altura e largura cada 30 cm na calota túnel e malha com
de 18 m. A Figura 2 apresenta um corte pregagens de frente com barras de fibra de vidro
transversal do túnel com suas principais tanto na calota quanto no primeiro rebaixo. Este
medidas. tratamento é repetido a cada 6,4 m de avanço da
escavação. A drenagem do maciço foi realizada
utilizando conjuntos de drenos horizontais
profundos a vácuo (DHP), com 15 m de
extensão.

Figura 2: Corte transversal do túnel de ligação.

A escavação deste túnel foi parcializada em


3 etapas: inicialmente é executada a calota, com
62 m², em lances de avanço consecutivos de 80
cm, mantendo-se o núcleo central e fazendo o
fechamento da seção a 6,4 m da frente com um Figura 3: Sequência executiva do 1º rebaixo – corte
arco invertido provisório (AIP), composto por longitudinal.
concreto projetado reforçado com tela metálica;
após a execução da calota em toda extensão do
túnel, é executado o primeiro rebaixo, com 4,5 3 ASPECTOS GEOLÓGICOS E
m de altura e seção de 54 m², mantendo a GEOTÉCNICOS
mesma sequência executiva empregada na
execução da calota; e finalmente após a Na Figura 4 é apresentado um perfil geológico
conclusão do primeiro rebaixo é executado no característico no sentido longitudinal do túnel, o
segundo rebaixo, o arco invertido definitivo qual foi desenvolvido a partir do cruzamento de
(AID) em concreto projetado reforçado por uma informações de inspeções tátil-visuais
cambota metálica, com uma seção de 23 m². realizadas durante o mapeamento da frente de
O túnel de ligação em estudo foi executado pela escavação e de sondagens a percussão tipo SPT.
metodologia do New Austrian Tunneling
alta compacidade, a partir de onde não foi
possível avançar com a prospecção por
sondagem a percussão. Esta camada é
caracterizada pela presença de alguns
fragmentos de rocha e maior teor de areia.
Abaixo do saprolito se identificou a presença de
rocha gnáissica pouco alterada (5R), com
foliação e estruturação bem definidas.
Desta forma, a escavação do túnel ocorre
predominantemente em saprolito, com um
trecho inicial em rocha classe IV a V na região
do AID e em algumas seções no trecho final do
túnel há a ocorrência de solo residual jovem na
porção superior da calota. Observa-se que o
túnel possui uma cobertura de
aproximadamente 20,0 m e que o nível do
lençol freático (NA) encontra-se abaixo da
camada de aterro superficial, a 1,5 m de
profundidade.

3.1 Parâmetros Geotécnicos

Figura 4: Perfil geológico. Uma característica marcante dos solos residuais


é sua hetereogeneidade. Seu comportamento
Na geologia na região do túnel nota-se a pode ser governado pelas características
presença de uma camada superficial de aterro de remanescentes da rocha mater, como a
1,0 m de espessura, sobreposta a uma camada mineralogia, o tamanho e o formato das
de sedimentos terciários da Formação São Paulo partículas e sua microestrutura.
caracterizada por uma argila arenosa de Os parâmetros geotécnicos de resistência e
consistência média (identificada como 3Ag2) e deformabilidade adotados para esta análise são
uma camada de areia argilosa medianamente apresentados na Tabela 1.
compacta a compacta (identificada como 3Ar2).
Observa-se que estes solos ocorrem até Tabela 1 – Parâmetros geotécnicos adotados.
profundidades da ordem de 7,0 m, a partir de  c  K0 E 
Camada
onde se verifica a presença do embasamento kN/m³ kPa ° - MPa -
cristalino. Aterro 16 10 20 0,66 10 0,3
É possível notar a presença de camadas de 3Ag2 19 40 22 0,63 30 0,3
solo residual maduro (5SR1) e jovem (5SR2) 3Ar2 19 10 32 0,47 45 0,3
até aproximadamente 17,0 m de profundidade, 5SR2 19 35 28 1,00 200 0,3
os quais consistem em siltes areno-argilosos 5SP 20 10 30 1,00 250 0,3
micáceos de elevada compacidade. A camada 5R 25 500 45 1,00 2000 0,2
de 5SR1 se apresenta mais homogênea e possui
maior teor de argila, enquanto que a camada de Os parâmetros para a camada de aterro e para
5SR2 é menos plástica e é possível notar os solos terciários (3Ag2 e 3Ar2) foram
conservação da estruturação da rocha matriz, estimados a partir dos resultados (SPT) das
como foliação e descontinuidades. Subjacente sondagens a percussão e com base nos dados
ao solo residual jovem verifica-se a existência publicados nas Normas Técnicas
de uma camada de solo saprolítico (5SP) com Complementares NC03 – Volume II do Metro,
cerca de 10,0 m de espessura, caracterizado pela que por sua vez teve como base um número
significativo de ensaios realizados pela cidade e Pinto (1998) em solos residuais de gnaisse
de São Paulo durante a execução das outras indicam elevados valores de K0, variando de
linhas do metrô. O coeficiente de empuxo em 1,0 a 3,8. Os ensaios indicaram também uma
repouso foi obtido através da correlação tendência do valor de K0 reduzir com a
empírica K0 = 1-sen Para validação adicional profundidade. Para esta análise adotou-se o
destes parâmetros foi utilizada a publicação valor unitário tanto para o solo residual maduro
“Solos da cidade de São Paulo, 1992” (Negro quanto para o saprolito.
Jr. et al.).
Com relação ao solo residual, os parâmetros
adotados foram baseados na compilação de 4 MODELAGEM NUMÉRICA
dados da região metropolitana de São Paulo
realizada por Futai et. al. (2013). Segundo os A escavação do túnel foi simulada em uma
autores, é observada uma grande variabilidade análise bidimensional através de um modelo de
dos parâmetros de resistência nos solos elementos finitos, utilizando o programa
residuais, com os valores de coesão e ângulo de Phase2, desenvolvido pela Rocscience. Realiza-
atrito variando dentro de faixas amplas. se uma simulação numérica de meio contínuo
Adotou-se para esta análise o valor médio dividindo a execução do túnel em diversas
apresentado para solos residuais de gnaisse – etapas sequenciais para avaliar a alteração do
coesão de 35 kPa e ângulo de atrito de 28º. estado de tensões no maciço. As camadas de
Estes valores estão condizentes com os solo são modeladas utilizando-se o modelo
resultados de alguns ensaios realizados em solo constitutivo Mohr-Coulomb (elástico linear
residual de gnaisse nas regiões do Morumbi e perfeitamente plástico).
Butantã, citados na mesma referência, que Os elementos estruturais de concreto são
apresentam caracterização semelhante ao solo simulados como vigas, com modelo constitutivo
escavado no túnel em estudo – predominância elástico-linear sem patamar plástico. Para o
de silte com porções de areia, não plástico. módulo de elasticidade do concreto foi adotado
O saprolito, por sua vez, é um material de o valor de 10 MPa, simulando o concreto
difícil representação geomecânica, uma vez que projetado jovem. A análise é desacoplada,
possui blocos de rocha sã envoltos por solo, sendo desprezado o efeito do fluxo d’água
apresentando comportamento intermediário de através do maciço, admitido como drenado. O
meio contínuo e descontínuo. Nesta análise não objetivo desta análise é a obtenção de uma
foi considerada a estruturação do solo e o estimativa de recalques no maciço devido à
saprolito foi modelado como um meio contínuo execução do túnel em duas seções
homogêneo. Dado que esta camada é instrumentadas com geologia distintas.
caracterizada por um maior teor de areia em A primeira seção analisada (Seção A) está a
relação à camada de solo residual jovem, os 10 m do emboque do túnel e é caracterizada
parâmetros de resistência adotados foram pela escavação praticamente completa em
ajustados para esta condição, reduzindo o valor saprolito, com exceção da parte inferior do
da coesão e aumentando o ângulo de atrito. túnel, em rocha pouco alterada. Na Seção B, a
A relação tensão deformação no solo é 23 m do emboque do túnel, já se nota solo
representada por meio de módulos de residual jovem na região superior da calota do
deformação. Nesta análise foi adotada túnel e não há mais a presença de rocha na
inicialmente a correlação proposta por Negro et. porção inferior da escavação. Para a Seção B foi
al. (1992) de E = 4 a 5 SPT, baseada em retro- considerada uma sobrecarga na superfície de 20
análises de escavação de túneis. Para efeito de kPa, pois o túnel nesta seção está localizado
comparação, será realizada uma retro-análise do abaixo da Avenida Santo Amaro, onde há
túnel em estudo para obtenção do módulo de tráfego intenso de veículos pesados. Já na Seção
deformação para a camada de saprolito. A, esta sobrecarga não foi considerada, pois esta
A respeito do coeficiente de empuxo em seção está locada dentro do canteiro, onde não
repouso (K0), ensaios realizados por Abramento há tráfego de veículos. As Figuras 5 e 6
apresentam as duas seções analisadas e a malha
de elementos finitos utilizada na simulação.
Os deslocamentos nas bordas dos modelos
foram restringidos e a dimensão da malha foi
determinada de modo a minimizar a influencia
das bordas na análise. As fases consideradas na
simulação numérica foram as seguintes:
- Fase 1: inicialização do modelo numérico em
condições geostáticas e aplicação de uma carga
distribuída na superfície de 20 kPa (na Seção
B);
Figura 6: Seção B. Malha de elementos finitos
- Fase 2: rebaixamento do lençol freático. empregada.
- Fase 3: aplicação de um alívio de tensões na
calota equivalente à 50% da tensão in situ. É importante destacar que nesta análise está
- Fase 4: escavação da calota e execução do contemplada a situação provisória de obra, com
revestimento primário para suporte; a contenção composta somente pelo
- Fase 5: aplicação de um alívio de tensões no revestimento primário. Posteriormente será
primeiro rebaixo equivalente à 50% da tensão in instalado o sistema de impermeabilização e o
situ. revestimento definitivo, em concreto moldado,
- Fase 6: escavação do primeiro rebaixo e este dimensionado para resistir a empuxos
execução do revestimento primário para hidrostáticos.
suporte;
- Fase 7: aplicação de um alívio de tensões no
segundo rebaixo equivalente à 50% da tensão in 5 INSTRUMENTAÇÃO
situ.
- Fase 8: escavação do segundo rebaixo e Para controlar o processo construtivo e a
execução do revestimento primário para suporte segurança das estruturas e serviços existentes na
da escavação; vizinhança das obras, foram definidas três
A aplicação do alívio das tensões na etapa seções principais de instrumentação ao longo da
anterior à escavação tem o intuito de simular o extensão do túnel. A planta da localização
efeito do arqueamento de tensões no solo destas seções é apresentada na Figura 7 e a
ocasionado pela escavação. disposição em perfil dos dispositivos instalados
numa dessas seções encontra-se esquematizada
na Figura 8.

Figura 5: Seção A. Malha de elementos finitos


empregada.

Figura 7: Planta com as seções de instrumentação.


tassômetros. Nota-se também que durante a
escavação do segundo rebaixo o maciço esteve
praticamente estável, com uma pequena
deformação residual devido à escavação do
túnel. Pôde-se observar este comportamento do
maciço também na análise numérica, que não
apresentou incremento no recalque durante a
execução do 2° rebaixo.

Figura 8: Seção típica de instrumentação.

A instrumentação contempla essencialmente


5 marcos superficiais para medir os
deslocamentos verticais através de nivelamentos Figura 9: Recalques superficiais e profundos ao longo do
topográficos, 3 tassômetros ancorados a 2 m do tempo – Seção A.
teto do túnel que permitem medir os
deslocamentos de pontos situados no interior do
maciço e 5 marcos reflexivos instalados no
concreto projetado no interior da seção de
escavação para medições de convergências
internas. Foram instalados adicionalmente dois
conjuntos de indicadores de nível d’água (INA),
um próximo ao emboque e outro no final do
túnel.
Nas Figuras 9 e 10 são apresentados os
gráficos dos recalques superficiais e profundos
medidos no eixo túnel ao longo do tempo, para
Figura 10: Recalques superficiais e profundos ao longo
as seções A e B, respectivamente. Na seção B a do tempo – Seção B.
instalação da instrumentação ocorreu quando a
escavação da calota do túnel já havia sido Pode-se destacar a diferença nos incrementos
iniciada. Quando os marcos superficiais e de recalques nas Seções A e B. Na Seção B o
tassômetros desta seção foram instalados, a aumento de recalque foi mais acentuado durante
escavação da calota estava a aproximadamente a escavação da calota, o que pode ser atribuído
10 m de distância desta seção, fato que pode ter à diferença da geologia das seções, com o teto
influenciado a medição dos recalques iniciais, do túnel na Seção B em solo residual enquanto
que são usualmente de pequena magnitude. que na Seção A a escavação se deu quase por
Pode-se perceber que a maior magnitude dos completo em saprolito. Esta diferença é
recalques ocorrem durante a escavação da calota analisada também na modelagem numérica.
e que a máxima inclinação da curva de recalque Além disso, na Seção A a magnitude dos
ocorre logo antes da passagem da escavação recalques medidos nos marcos superficiais foi
pela seção da instrumentação, onde foram semelhante à medida nos tassômetros, enquanto
observados incrementos de até 2,5 mm ao dia que na Seção B, principalmente durante a
nos marcos superficiais e 4,0 mm/dia nos escavação da calota, percebe-se um
descolamento entre a curva de recalque
superficial com relação à curva de recalques
profundos. Este fato será discutido no item
seguinte.
Nos gráficos nota-se também que mesmo
após o término da escavação as leituras indicam
um progresso remanescente nas deformações do
maciço, mesmo sem alteração do lençol
freático, ou seja, sob estado de tensões
constante. Cecílio et. al. (2012) havia notado
efeito semelhante durante as escavações para
construção do trecho oeste da Linha 4 Amarela
do Metrô de São Paulo. Esta deformação lenta Figura 12: Deslocamentos e plastificação do maciço na
pode ser interpretada como uma possível análise numérica – Seção B.
desestruturação do solo ocasionada pelo alívio
de tensões decorrente da escavação. Nas Figuras 13 e 14 são comparados os
resultados obtidos na análise numérica com as
leituras finais da instrumentação em campo.
6 ANÁLISE DOS RESULTADOS

O resultado da análise numérica quanto aos


deslocamentos totais na etapa final de
escavação nas seções A e B são apresentados
nas Figuras 11 e 12. Estão destacados também
os pontos onde houve plastificação do maciço, a
partir de onde é possível notar uma ligeira
diferença no arqueamento das tensões. Percebe-
se que na Seção B os nós na malha onde
ocorreu plastificação estão em uma largura
maior do que na Seção A. Esta característica
pode ser interpretada como influência da Figura 13: Comparação dos recalques – Seção A.
posição do contato entre as camadas de solo
residual com saprolito. Onde o contato ocorreu
dentro da seção de escavação do túnel (Seção
B) o arqueamento das tensões foi mais aberto.

Figura 14: Comparação dos recalques – Seção B.

Observa-se que os valores obtidos na análise


numérica para a Seção A foram muito próximos
Figura 11: Deslocamentos e plastificação do maciço na aos recalques superficiais verificados em campo
análise numérica – Seção A.
no eixo do túnel, enquanto que os resultados
para os recalques a 2 m acima do teto do túnel
apresentaram uma diferença superior no modelo Dados da bibliografia (Cecílio, 2009)
numérico da ordem de 35%. Já na análise da mostram que em retro-análises de escavações de
Seção B, tanto os recalques superficiais quanto túneis os valores obtidos para os módulos de
os recalques profundos obtidos foram inferiores deformação são geralmente altos, devido a uma
aos medidos em campo. Esta diferença está na parte do maciço ficar sujeita a carregamento
ordem de 15% nos dois casos. seguido de descarregamento que o avanço das
É possível notar também que na análise da escavações ocasionam. Geralmente os módulos
Seção A, o formato da curva da bacia de obtidos em retro-análises de provas de carga de
recalques superficiais e profundo obtida na fundações são menores.
análise numérica é semelhante à curva obtida Cabe ressaltar mais uma vez que foi feita
pelas leituras da instrumentação, enquanto que uma simplificação no modelo numérico,
na análise da Seção B observa-se que a considerando as camadas de solo como meios
angulação das curvas é diferente, homogêneos e isotrópicos. Entretanto, tanto a
principalmente quando comparadas com as heterogeneidade quanto a anisotropia dos solos
medidas dos tassômetros. residuais quanto a resistência e deformabilidade
são pontos muito importantes, em especial
6.1 Retroanálise do módulo de deformação quando constatados condicionantes geológicos
estruturais. Nestes casos, a perda de
Com base nas curvas de recalque obtidas pela estruturação pode ocasionar uma alteração
instrumentação na Seção B, realizou-se uma brusca no comportamento do solo e a superfície
análise numérica adicional, alterando o valor do de ruptura pode ser condicionada por um plano
módulo de deformação nas camadas de solo de menor resistência, como, por exemplo, em
residual e saprolito até que o resultado do solos micáceos.
cálculo numérico fosse semelhante ao medido
em campo. 6.2 Influência de fatores executivos
O resultado da retro-análise está apresentado
na Figura 15, foram obtidos valores de 160 e É importante destacar a influência de alguns
200 MPa, respectivamente para o solo residual fatores relacionados à execução da obra que
jovem e o saprolito. Estes valores ligeiramente podem impactar nos recalques medidos pela
inferiores quando comparados com os instrumentação e que não são considerados no
parâmetros iniciais adotados pela correlação modelo numérico.
E=4xSPT, a qual, vale lembrar, foi baseada em Em alguns trechos da escavação da calota
retro-análises de escavação de túneis na maiores ocorreram desplacamentos de teto localizados,
dos casos em solo sedimentar. Estes valores formando capelas que atingiram até 80 cm de
obtidos pela retro-análise se situam altura. Estas ocorrências foram mais
aproximadamente entre 3 a 4 SPT. intensificadas na região em que se encontrava o
solo residual jovem (5SR2) no teto do túnel.
Tais desplacamentos ocorrem devido ao
desconfinamento do maciço na escavação e ao
excessivo tempo em aberto, sem aplicação da
contenção em concreto projetado. Estas
ocorrências aumentam a perda de solo na seção,
o que reflete diretamente nos recalques medidos
pela instrumentação. Entretanto, é difícil
mensurar no gráfico de recalques a parcela
decorrente da perda de solo, já que esta
condição não se reflete em uma leitura
instantânea da instrumentação, pois o processo
Figura 15: Comparação dos recalques – Retro-análise da de acomodação do maciço pode durar dias
Seção B. depois de ocorrido o desplacamento. De
maneira a reduzir a possibilidade de gerais desta obra e analisada sua sequência
desplacamentos, foi adequada a inclinação do construtiva.
tratamento com enfilagens de aço injetadas, Os resultados decorrentes da aplicação do
passando de 15% para 10%, diminuindo assim a método dos elementos finitos foram
altura da porção do solo acima do teto do túnel apresentados e comparados com os fornecidos
passível de desplacamento. pela instrumentação para duas seções com
Notaram-se também em algumas ocasiões características geológicas distintas. Foi
incrementos significativos de recalque durante a empregado o modelo de Mohr-Coulomb para
perfuração para instalação das enfilagens de aço simular o comportamento do maciço e
injetadas no teto do túnel, provavelmente verificou-se existir uma concordância bastante
devido à perturbação localizada causada pela razoável entre os deslocamentos medidos e os
perfuratriz e posterior acomodação do maciço, calculados.
podendo ocorrer até carreamento de material e a Foram levantados também alguns aspectos
formação de vazios no solo residual jovem com relativos à execução do túnel que podem
características mais arenosas. Nestas situações é influenciar nas medidas da instrumentação e
possível detectar com maior precisão a que não são contemplados na modelagem por
magnitude do acréscimo de recalque, é possível elementos finitos.
notar “degraus” nos gráficos de recalque
durante a execução do tratamento, REFERÊNCIAS
principalmente nos tassômetros da Seção B.
Foram medidos incrementos diários de recalque Cecílio Jr., M. O. (2009). Estudo do comportamento de
nos tassômetros de até 4 mm nestas ocasiões. um túnel em solo residual de gnaisse por meio de
ensaios triaxiais com controle de trajetórias de
Além disso, cabe ressaltar a influência tensões. Dissertação de mestrado – Escola
rebaixamento do lençol freático nos recalques Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo.
calculados. No modelo numérico, ao rebaixar o Cecílio Jr. et. al. (2012). Compressão secundária de um
lençol freático antes do início da escavação do solo residual de gnaisse. XVI COBRAMSEG,
túnel os recalques calculados são desprezíveis, Búzios.
enquanto que em campo verificou-se que a Companhia do Metropolitano de São Paulo (1982) - NC-
003 - Normas técnicas complementares.
operação do sistema de drenagem provisória por Companhia do Metropolitano de São Paulo (2012) MC-
DHPs 15 dias antes do início da escavação do 5.10.02.74/6G3-001 – Túnel de ligação ao VSE
túnel ocasionou um recalque superficial da Roque Petrella – Memória de Cálculo.
ordem de 1,5 mm antes do início da escavação. Futai et al (2013). Resistência ao cisalhamento e
Porém esta medida varia de acordo com a deformabilidade de solos residuais da região
metropolitana de São Paulo, in: Twin Cities: solos
geologia a frente da escavação, em solos mais
das regiões metropolitanas de São Paulo e Curitiba.
permeáveis o recalque tende a ser maior, como, Negro Jr., A. et al. (1992). Solos da cidade de São Paulo,
por exemplo, no trecho final da escavação túnel, São Paulo. ABMS/ABEF.
onde os DHPs estavam instalados em solo Silva, M. A. A. P. (2008). Simulações Numéricas para
residual jovem arenoso. Nesta análise não foi Escavações Subterrâneas. Dissertação de mestrado –
possível mensurar com precisão estes recalques Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos
Campos.
prévios, pois na maioria dos casos a
instrumentação foi instalada alguns dias após o
início de operação dos DHP’s.

7 CONCLUSÃO

O objeto deste estudo foi o túnel de ligação ao


PVSE Roque Petrella da Linha 5 do Metro de
São Paulo, escavado em solo residual de
gnaisse. Foram apresentadas características

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