Você está na página 1de 8

COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Resultados de Simulações Numéricas de um Túnel sob Diferentes


Modelos Constitutivos
Marco Aurélio Abreu Peixoto da Silva
Metrô-SP, São Paulo, Brasil, mapsilva@metrosp.com.br

Flavio Massayuki Kuwajima


Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, flavio.kuwajima@uol.com.br

RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo apresentar resultados de simulações numéricas
bidimensionais por elementos finitos do Túnel Paraíso do Metrô de São Paulo, escavado em argilas
porosas do espigão da Avenida Paulista. São empregados os modelos constitutivos de Cam-Clay
Modificado e Mohr-Coulomb para representar as camdas porosas. O efeito tridimensional do
arqueamento de tensões é simulado através do artifício numérico de alívio de miolo, ou núcleo. São
analisados resultados de deformações entre os dois modelos constitutivos e dados da
instrumentação local.

PALAVRAS-CHAVE: Simulação Numérica, Método dos Elementos Finitos, Cam-Clay Modificdo,


Túnel.

1 INTRODUÇÃO 2 DESCRIÇÃO DO TÚNEL

No presente trabalho é realizado uma simulação O Túnel Paraíso está situado nas intermediações
numérica da escavação do Túnel Paraíso da da Estação Paraíso, entre o Poço Paraíso e o
Linha 2 – Verde do Metrô de São Paulo, Poço IOB. O túnel foi escavado pelo método do
empregando-se os modelos constitutivos de NATM e apresenta aproximadamente 103
Mohr-Coulomb (MC) e Cam-Clay Modificado metros de extensão. Sua altura máxima é de
(CCM) para representar o maciço geológico. O 8,40 metros, e sua largura máxima de 11,40
efeito tridimensional do arqueamento de tensões metros, totalizando uma seção de escavação de
é simulado segundo a técnica de alívio de 76,4 m2. O suporte da escavação consiste numa
núcleo proposta por Ohnish et al. (1982). camada de concreto projetado de 20cm de
Esse túnel já foi objeto de análise por Silva espessura, sendo posteriormente revestida com
(2008), Sousa (1998 e 2008), França (2006), outra camada de 15cm de concreto projetado. A
Parreira (1991) e Azevedo et al. (2002). Até Figura 1 apresenta os dados geométricos do
2008, os estudos desse túnel concentraram-se túnel simulado.
nos modelos de Lade e “Hardening Soil” para
representar o maciço geológico local. Silva
(2008) apresenta os primeiros resultados com o
2
0,

modelo de CCM,
5
R5

0 ,1

27°
O objetivo é analisar conceitualmente as
,9 7

diferenças obtidas nos resultados das


simulações com os modelos MC e CCM.
8,41

R3 ,27
5 6°

5 2°
As simulações foram realizadas com o
software Tochnog, com licença pública do tipo 4 7
°

2,
45

R
GNU (“General Public License”), e que
9
R 8 ,8

apresenta uma extensa biblioteca de elementos


e modelos constitutivos, além de permitir a
simulação seqüencial de eventos construtivos. 11,5

Figura 1 – Seção de Escavação do Túnel Paraíso

1
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

A cobertura de solo varia entre 6 a 9 metros, o 3 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E


que enquadra o túnel na categoria de túneis GEOTÉCNICA
rasos. No presente estudo, a cobertura de solo
sobre o túnel totaliza 7,60 metros, e coincide 3.1 Caracterização Geológica e Resultados de
com uma seção de instrumentação existente no Ensaios e Investigações de Campo e
local à época da obra. Laboratório
A escavação do túnel obedeceu aos princípios
do NATM e foi seqüenciada em três fases. A obra está inserida no contexto geológico da
Inicialmente, a calota era escavada em dois Bacia Sedimentar de São Paulo, na cota
lances consecutivos de 80cm, sendo mantido o aproximada de 814m acima do nível do mar. A
núcleo central. Em seguida, dois perfis geologia local é formada predominantemente
metálicos do tipo I5” eram posicionados contra por sedimentos argilosos de origem terciária,
o solo, e uma camada de 20cm de concreto era que apresentam uma uniformidade geológica e
projetada sobre esses. A segunda fase consistia geotécnica ao longo dessa cota. Esses
na escavação do núcleo central após a sedimentos ocorrem ao longo de todo o espigão
consolidação do suporte. Essas fases eram da Avenida Paulista e também no trecho da
repetidas até um avanço máximo de 6,40 metros obra. As camadas mais superficiais desses
da frente de escavação. Finalmente a bancada sedimentos sofreram intenso processo de
inferior era escavada em passos de 1,60 metros, laterização, o que lhes conferiu uma estrutura
seguida da instalação de uma tela metálica e porosa e uma coloração característica, de cor
aplicação de 20cm de concreto projetado. A vermelha acastanhada. São as chamadas argilas
Figura 2 apresenta, de forma simplificada, a porosas vermelhas da cidade de São Paulo, e
seqüência executiva do túnel. suas propriedades e características geotécnicas
podem ser observadas em Massad et al. (1992)
e Vargas (2002).
Na ocasião da obra, o lençol freático situava-
se aproximadamente a 12,0m de profundidade,
coincidindo com o início de uma camada de
argila siltosa variegada, de consistência rija a
dura, e de menor porosidade em relação às
camadas mais superficiais. Abaixo dessa, ocorre
uma camada de areia argilosa compacta, de
pouca relevância para o presente estudo. A
Figura 3 apresenta a seção geológica local
utilizada nessa análise.

Aterro

Argila porosa siltosa


Média a Mole

Argila porosa siltosa


Média a Rija

Argila siltosa
Variegada, Rija a Dura

Areia argilosa variegada


Compacta a muito Compacta
Figura 2 – Sequencia executiva empregada para a
escavação do túnel Figura 3 - Seção Geológica (adaptado de Silva, 2008)

2
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

A Tabela 1 apresentada alguns índices físicos 3.2 Parâmetros para as simulações com Cam-
para os solos locais obtidos de ensaios de Clay Modificado
laboratório de amostras coletadas do Poço
Experimental Gazeta, localizado na Avenida O modelo de Cam-Clay Modificado (CCM) é
Paulista. Atenta-se para os dados de índices de um modelo constitutivo do tipo elasto-plástico
vazios e tensões de pré-adensamento, que pertencente ao ramo da Teoria da Plasticidade
evidenciam a diferenciação estrutural desses denominada de Teoria do Estado Crítico. Pela
solos. Teoria do Estado Crítico, quando uma amostra
de solo é submetida a um ensaio triaxial de
Tabela 1 – Índices físicos dos solos na região do Túnel compressão hidrostática, existe um momento
Paraíso (adaptado de Silva, 2008) em que grandes deformações cisalhantes
Prof. Areia Silte Argila ρ ρs
ocorrem sem haver alteração do volume ou do
(m) (%) (%) (%) (g/cm3) (g/cm3)
3,5 5 16 79 1,47 2,72 estado de tensões da amostra.
6,5 5 28 67 1,50 2,68 A Equação 1 apresenta a lei que governa o a
9,5 3 3 94 1,76 2,63 superfície de escoamento no modelo de CCM:
12,5 10 1 89 1,81 2,65
Prof. W LL IP p’o
eo q p
(m) (%) (%) (%) (KPa) M 1 (1)
3,5 41,5 78,8 29,3 127,5 1,62 p p
6,5 41,0 73,8 25,7 196,0 1,52
9,5 36,5 89,5 42,1 760,0 1,04 A componente de atrito, M, pode ser
12,5 37,1 90,8 43,4 814,0 1,02 determinada a partir do ângulo de atrito
assumido para o modelo de MC, conforme a
Com relação aos parâmetros de resistência Equação 2.
(coesão e ângulo de atrito) e deformabilidade
desses materiais, empregou-se dados obtidos de 6 sin φ
ensaios triaxiais realizados em amostras M (2)
3 sin φ
indeformadas retiradas do Poço Gazeta. Na
Tabela 2 são apresentados os dados que foram
Nas simulações com o modelo CCM, é
utilizados nas análises com o modelo
necessário estabelecer a relação entre a variação
constitutivo de MC.
de volume do material (expressa através da
Tabela 2 – Caracterísitcas de resistência e
variação do índice de vazios) e o estado de
deformabilidade empregados (adaptado de Silva, 2008) tensões no ponto (expressa através de sua
Prof. Classificação N spt Eo ϕ’ c’ tensão octaédrica efetiva, p’), conforme
(m) (NBR-6484/2001) (MPa) (º) (kPa) apresentado na Figura 4:
Argila porosa
3,5 2,0 10,0 20,0º 10,0
mole
Argila porosa
6,5 4,5 22,5 23,3º 35,4
media
Argila siltosa
9,5 8,2 41,0 27,2º 39,8
média
Argila siltosa
12,5 17,0 85,0 25,0º 66,2
rija a dura

Foi adotado o valor de 0,3 para o coeficiente


de Poisson para todas as camadas geológicas.
Os parâmetros geotécnicos da camada de
aterro foram extraídos do Relatório Técnico do
Metrô de São Paulo para a Linha 4 – Amarela,
RT-4.10.00.00/4C3-002-A (1994).
Figura 4 – Relação entre a variação de volume e a tensão
octaédrica efetiva).

3
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Para cada camada geológica, o coeficiente Coeficiente de Poison, ν, e o módulo cisalhante,


angular do trecho de compressão normal da G, obtidos a partir dos valores de Eo e ν
curva de adensamento isotrópica, λ, foi obtido adotados para o modelo de MC.
da relação que este guarda com o índice de
compressão do material, Cc, conforme
apresentado na Equação 3. 4. RESULTADOS NUMÉRICOS

Cc As simulações numéricas foram seqüenciais e


λ (3)
ln10 realizadas em três etapas. A simulação do efeito
tridimensional do arqueamento das tensões foi
Já o coeficiente angular do trecho de realizada em duas etapas pelo método de alívio
recompressão/ descompressão, κ, foi assumido de núcleo, segundo proposta de Ohnish et al.
no presente estudo como a média entre 1/5 e 1/3 (1982).
do valor de λ. Para tanto, foram empregadas quatro camadas
Para a obtenção desses parâmetros para a de elementos sobrepostas na região da
simulação com o modelo de CCM, o índice de escavação do túnel, duas em cada camada
compressão, Cc, foi determinado a partir da geológica escavada. A soma da rigidez das
relação desse com o índice de vazios do solo, respectivas camadas restitui a rigidez da
apresentada por Massad et al (1992) para os camada geológica representada. A relação entre
solos da cidade de São Paulo. Em Silva (2008) os módulos de elasticidade de cada camada foi
é apresentada a justificativa para a escolha obtida para o atraso de frente correspondente a
desses parâmetros. 0,8 do diâmetro equivalente do túnel. Pela
Os parâmetros obtidos para a simulação pelo proposta de Ohnish et al. (1982), esse atraso
modelo de CCM são então apresentados na corresponde a uma relação entre os módulos de
Tabela 3. elasticidade de cada camada de 75% e 25% do
módulo de elasticidade inicial da camada
Tabela 3 – Parâmetros empregados nas simulações com o geológica representada.
modelo de CCM (adaptado de Silva, 2008) Na primeira etapa da simulação, o estado de
Prof. G
M λ κ tensões inicial do maciço é estabelecido. Na
(m) (MPa)
3,5 3,6 0,7721 0,0866 0,0231 segunda etapa, a camada de elementos de maior
6,5 8,1 0,9112 0,2423 0,0646 rigidez é removida da malha para simular o
9,5 14,6 1,0785 0,3000 0,0800 “amolecimento” na região da escavação. Na
12,5 29,4 0,9838 0,9838 0,0419 terceira etapa da simulação, a segunda camada
de elementos é removida concomitante à
Para a simulação numérica com o modelo inserção de elementos de viga para simular o
CCM, fez-se ainda necessário especificar o suporte da escavação, em concreto projetado e
índice de vazios e a tensão de pré-adensamento cujas propriedades geométricas são definidas a
para cada camada geológica representada na partir dos dados apresentados na Figura 1. Para
malha de elementos finitos. Os índices de o módulo de elasticidade do suporte foi
vazios e as tensões de pré-adensamento assumido um valor médio de 10GPa, conforme
apresentados na Tabela 1 foram então ajustados proposta de Kuwajima (1991).
para cada nó da malha conforme a tensão A Figura 5 apresenta a malha de elementos
vertical atuante nesse nó. A Equação 4 finitos utilizada nas simulações. A dimensão da
apresenta a equação adotada para o ajuste malha sob a região do túnel foi fixada em meio
inicial do índice de vazios: diâmetro equivalente, conforme critério
estabelecido por Hartmann (1970, apud
∆e Kuwajima, 1991), para minimizar o efeito de
Cc (4)
∆logσ soerguimento da malha decorrente da remoção
de elementos durante as análises.
Os parâmetros de deformabilidade declarados
nas simulações com o modelo de CCM foram o

4
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

verticais resultantes das simulações com esses


dois modelos.

Figura 5 – Malha de Elementos Finitos empregada na


simulação (adaptado de Silva, 2008)

Somente os resultados da etapa final da Figura 8 – Deslocamentos verticais obtidos da simulação


simulação numérica são apresentados, e com o modelo de MC
somente aqueles que servirão de base para as
análises das diferenças de comportamento entre
os modelos utilizados.
As deformações plásticas mobilizadas após a
última etapa da simulação da escavação do
túnel são apresentadas nas Figuras 6 e 7.

Figura 9 – Deslocamentos verticais obtidos da simulação


com o modelo de CCM.

Nota-se que a bacia de recalques superficiais


obtida com a simulação com o modelo de MC
apresenta uma extensão horizontal maior do que
Figura 6 – Deformações Plásticas cisalhantes para o os recalques obtidos pelo modelo de CCM.
modelo de MC (adaptado de Silva, 2008) Quanto aos recalques subsuperficiais, pelo
modelo de MC, as deformações verticais nas
camadas inferiores ao longo do eixo do túnel
são sempre maiores do que as registradas nas
camadas mais superficiais (recalques
subsuperficiais crescentes com a profundidade).
Já pelo modelo de CCM, os maiores recalques
ocorrem na camada de argila porosa mole.
À exceção da camada de aterro, simulada
como um material normalmente adensado,
Figura 7 – Deformações Plásticas cisalhantes para o todas as camadas simuladas são
modelo de CCM (adaptado de Silva, 2008) sobreadensadas. O fato da camada de argila
porosa mole ser menos sobreadensada e com
Nas Figuras 6 e 7, observa-se que a maior índice de vazios explica os maiores
deformações plásticas desenvolvidas na calota recalques aí registrados.
do túnel abrangem uma maior extensão da Essa diferença de comportamento entre os
malha com a simulação com o modelo de CCM, modelos está associada ao fato do modelo de
atingindo, inclusive, pontos da malha próximos MC não considerar os efeitos de alteração de
ao bordo superior. No modelo de MC, as volume do material quando de sua plastificação,
deformações plásticas ficam restritas ao fato que ocorre com o modelo de CCM.
contorno da escavação somente. Outro ponto importante de se frisar é que,
As Figuras 8 e 9 apresentam as deformações enquanto as deformações plásticas no modelo

5
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

de MC podem indicar mecanismos cinemáticos Esta seção consta de sete marcos superficiais,
de ruptura, as deformações plásticas no modelo um inclinômetro instalado a seis metros do eixo
de CCM indicam apenas uma alteração da do túnel, além de duas linhas de tassômetros
superfície de escoamento, não significando, múltiplos instalados a 1,2m e 6,m do eixo do
necessariamente, um mecanismo de ruptura. túnel.
Cabe lembrar ainda que, no modelo elasto- Para a análise dos resultados numéricos com a
plástico perfeito de MC, a superfície de instrumentação de campo, foi necessário
escoamento permanece fixa no espaço das considerar a camada de pavimento existente no
tensões, independente do nível de deformação local nas simulações como uma estronca
plástica ocorrido. Ou seja, não há superficial de inércia equivalente a 40cm de
endurecimento do material. Já no modelo de espessura e módulo de elasticidade de 1GPa,
CCM, a superfície de escoamento se altera como sugerido por Parreira (1991) e França
conforme o nível de deformações plásticas. Ou (2006). A sua inclusão deve-se ao fato da
seja, há endurecimento ou amolecimento do camada de pavimento restringir a mobilidade
material e a sua resistência ao escoamento horizontal não somente da camada de aterro
aumenta ou diminui com a deformação plástica. como também do inclinômetro instalado no
Apenas um estudo sobre as deformações campo.
volumétricas permitirá dizer se a resistência do Nas Figuras 11 e 12, são apresentados os
material aumentou com a deformação plástica. recalques sub-verticais obtidos das simulações
numéricas e os registrados pelos tassômetros da
instrumentação local.
5 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS
NUMÉRICOS COM A INSTRUMENTAÇÃO Recalques subsuperficiais a 1,20m do eixo do túnel (mm)
0
LOCAL -140 -120 -100 -80 -60 -40 -20 0
-1

A Figura 10 apresenta a seção de -2

instrumentação situada à Rua Paraíso, entre as -3

Ruas Maestro Cardim e Abílio Soares.


-4

-5

-6
Resultados Morh-Coulomb

Resultados Cam-Clay Modificado -7


Profundidade
Instrumentação (m)

Figura 11 – Recalques em um eixo vertical deslocado de


1,20m do eixo da escavação (adaptado de Silva, 2008)

Recalques subsuperficiais a 6,00m do eixo do túnel (mm)


0
-80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10

-5

-10

-15

-20

-25
Resultados Morh-Coulomb

Resultados Cam-Clay Modificado -30


Profundidade
Instrumentação (m)

Figura 12 – Recalques em um eixo vertical deslocado de


6,0m do eixo da escavação(adaptado de Silva, 2008)
Figura 10 – Seção de instrumentação analisada (adaptada
de França, 2006) De imediato é possível notar que o modelo de

6
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

CCM forneceu resultados mais condizentes com que o modelo MC é o que menos apresenta
o comportamento do maciço do que o modelo sensibilidade para reproduzir os resultados da
de MC. Percebe-se da Figura 11, que a instrumentação de campo em simulações
similação com o modelo de CCM reproduziu numéricas.
uma pequena tendência de recalques O modelo de CCM apresenta sensibilidade
decrescentes até a profundidade de 4,0m, base suficiente para reproduzir as tendências de
da camada de argila porosa mole. Pelo modelo deformações horizontais registradas pelo
de MC, estes recalques foram crescentes com a inclinômetro. Adicionalmente, os resultados
profundidade. obtidos para deformações verticais foram muito
Analisando a Figura 12, também é possível próximos aos observados em campo,
notar que o modelo CCM mostrou tendências principalmente os registrados a distâncias
de recalques verticais fora do eixo da escavação superiores a 10m. Pelo modelo de CCM, foi
mais similares aos dados registrados pela possível reproduzir a bacia de recalques de
instrumentação, principalmente nas camadas forma mais concentrada na região central da
pouco sobreadensadas das argilas porosas escavação.
moles. Os elevados resultados numéricos para
As Figuras 13 e 14 apresentam os recalques deslocamentos horizontais junto ao contato da
superficiais e as deformações horizontais camada de aterro com a camada de argila
obtidos da instrumentação por marcos porosa mole podem ser atribuídos aos
superficiais e o inclinômetro instalado a 6,0m parâmetros do modelo de CCM, estimados para
do eixo do túnel, e os correspondentes a camada de aterro.
resultados numéricos A consideração de algum sobreadensamento
para essa camada e uma melhor estimativa para
Distância ao centro do túnel
0 o seu índice de vazios podem resultar em
-50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50
melhores resultados nas análises numéricas.
-0,02

-0,04

-0,06
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
-0,08
Da análise dos resultados é possível inferir que
-0,1 o modelo de CCM é capaz de fornecer boas
Instrumentação
Resultados Mohr-Coulomb Recalques
previsões de deslocamentos verticais e
-0,12
Resultados Cam-Clay Superficiais (m)
horizontais decorrentes de escavações
Figura 13 – Recalques superficiais: Dados de subterrâneas. Os resultados obtidos nesse
instrumentação e resultados numéricos
trabalho dão margem a novas avaliações com
vistas ao refino dos parâmetros geotécnicos do
Movimentos Horizontais a 6,00m do eixo do túnel (mm)
0
modelo e, por conseqüência, a obtenção de
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 resultados mais condizentes com a
-5 instrumentação.
Compete ainda lembrar que o modelo de
-10 CCM foi desenvolvido para solos normalmente
adensados ou pouco sobreadensados.
-15
Considerando o fato dos solos terciários da
bacia sedimentar de São Paulo serem
-20
sobreadensados, os resultados mostram também
-25
Resultados Morh-Coulomb
ser possível, a princípio, a aplicação do modelo
Resultados Cam-Clay Modificado
Profundidade
(m) Instrumentação
para esses solos. Obviamente, novos estudos
devem ser conduzidos nesse sentido para
Figura 14 – Deslocamentos horizontais: Dados de
instrumentação (inclinômetro) e resultados numéricos confirmar a sua aplicabilidade.
As correlações de Massad et al. (1992),
Da análise das deformações, é possível inferir empregadas, são um bom ponto de partida para

7
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

estimar os parâmetros do modelo de CCM. No presente trabalho no presente evento.


entanto, ensaios específicos podem resultar em
parâmetros mais realistas, lembrando que todos
os parâmetros necessários podem ser facilmente REFERÊNCIAS
obtidos de ensaios triaxiais de compressão
isotrópica e de adensamento. Azevedo, R. F.; Parreira, A. B.; Zornberg, J. G. (2002).
Analisando os dois modelos empregados, o Numerical analysis of a tunnel in residual soils,
Journal of Geotechnical and Geoenvironmental
modelo de CCM, que considera a dilatância do Engineering, ASCE, Vol. 128, n.3. p. 227-236.
material após sua plastificação, reproduziu uma França, P. T. (2006) Estudo do comportamento de túneis:
bacia de recalques superficial mais concentrada, análise numérica tridimensional com modelos elasto-
como mostrado na instrumenteação. O modelo plásticos, Dissertação de Mestrado, Departamento de
elasto-plástico perfeito de MC, no entanto, não Estruturas e Fundações, Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, 185 p.
foi capaz de reproduzir o mesmo Kuwajima, F. M. (1991) Behavior of shotcrete in shallow
comportamento. tunnels, PhD Thesis, University of Alberta, Canada,
O estudo corrobora para a teoria de que o 509f.
índice de vazios do solo e sua história de Massad, F; Pinto, C. S. E Nader, J. J. (1992) Resistência e
carregamento sejam informações extremamente deformabilidade dos solos da Bacia de São Paulo,
Solos da cidade de São Paulo, ABMS; ABEF (Org.),
relevantes para entendimento ou previsão do São Paulo, São Paulo, Brasil, Vol. 1, p. 141-179.
comportamento dos solos. Tais informações não Ohnish, Y. ET AL. (1982) Analysis of advancing tunnel
são consideradas pelos modelos de MC. by 2-dimensional FEM. In: International Conference
Portanto, fica a recomendação para que as on Numerical Methods in Geomechanics, Edmonton,
investigações geotécnicas sejam conduzidas de Proceedings... Rotterdam: A. A. Bakelma, Vol. 4, p.
571-578.
modo a obter parâmetros como o índice de Parreira, A. B. (1991) Análise de túneis rasos em solo: o
vazios do material e a tensão de pré- túnel mineiro Paraíso da linha paulista do
adensamento, por exemplo. metropolitano da cidade de São Paulo, Tese de
Consequentemente, em se tratando de túneis doutorado, Área de Engenharia Geotécnica –
rasos, é preciso ter em mente que o critério de Pontificia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
296f.
deformação plástica volumétrica apresenta Silva, M. A. A. P. da (2008) Simulações Numéricas para
grande influência sobre o comportamento do Escavações Subterrâneas, Tese de Mestrado, Curso
maciço geológico frente à escavação. de Engenharia de Infraestrutura Aeroportuária, Área
Não obstante, cabe ressaltar que materiais de Infraestrutura Aeroportuária, Instituto Tecnológico
normalmente adensados tendem à se contrair de Aeronáutica, 133 p.
Sousa, J. N. A. (1998) Túneis em Maciços Terrosos.
quando deformados, enquanto que materiais Comportamento e Modelação Numérica, Tese de
sobreadensados tendem a dilatar-se durante as Doutorado, Curso de Engenharia de Geotécnica,
deformações. Mostra-se, pois, as razões pelas Universidade de Coimbra, 623 p.
quais as escavações em argilas normalmente Sousa, J. N. A. (1982) Análise Numérica de Túneis em
adensadas e com alto índice de vazios tendem a Solos. In: Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos, Búzios, Rio de Janeiro.
gerar recalques maiores do que escavações em
argilas sobreadensadas.
Finalmente, as simulações mostraram ser
viável a aplicação da proposta de Ohnish et al.
(1982) para simular o efeito tridimensional do
arqueamento de tensões em análises numéricas
do tipo elasto-plásticas.

AGRADECIMENTOS

Os autores aproveitam o momento para


agradecer ao Metrô de São Paulo pela
oportunidade de desenvolver e apresentar o

Você também pode gostar