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RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo apresentar resultados de simulações numéricas
bidimensionais por elementos finitos do Túnel Paraíso do Metrô de São Paulo, escavado em argilas
porosas do espigão da Avenida Paulista. São empregados os modelos constitutivos de Cam-Clay
Modificado e Mohr-Coulomb para representar as camdas porosas. O efeito tridimensional do
arqueamento de tensões é simulado através do artifício numérico de alívio de miolo, ou núcleo. São
analisados resultados de deformações entre os dois modelos constitutivos e dados da
instrumentação local.
No presente trabalho é realizado uma simulação O Túnel Paraíso está situado nas intermediações
numérica da escavação do Túnel Paraíso da da Estação Paraíso, entre o Poço Paraíso e o
Linha 2 – Verde do Metrô de São Paulo, Poço IOB. O túnel foi escavado pelo método do
empregando-se os modelos constitutivos de NATM e apresenta aproximadamente 103
Mohr-Coulomb (MC) e Cam-Clay Modificado metros de extensão. Sua altura máxima é de
(CCM) para representar o maciço geológico. O 8,40 metros, e sua largura máxima de 11,40
efeito tridimensional do arqueamento de tensões metros, totalizando uma seção de escavação de
é simulado segundo a técnica de alívio de 76,4 m2. O suporte da escavação consiste numa
núcleo proposta por Ohnish et al. (1982). camada de concreto projetado de 20cm de
Esse túnel já foi objeto de análise por Silva espessura, sendo posteriormente revestida com
(2008), Sousa (1998 e 2008), França (2006), outra camada de 15cm de concreto projetado. A
Parreira (1991) e Azevedo et al. (2002). Até Figura 1 apresenta os dados geométricos do
2008, os estudos desse túnel concentraram-se túnel simulado.
nos modelos de Lade e “Hardening Soil” para
representar o maciço geológico local. Silva
(2008) apresenta os primeiros resultados com o
2
0,
modelo de CCM,
5
R5
0 ,1
27°
O objetivo é analisar conceitualmente as
,9 7
R3 ,27
5 6°
5 2°
As simulações foram realizadas com o
software Tochnog, com licença pública do tipo 4 7
°
2,
45
R
GNU (“General Public License”), e que
9
R 8 ,8
1
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
Aterro
Argila siltosa
Variegada, Rija a Dura
2
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A Tabela 1 apresentada alguns índices físicos 3.2 Parâmetros para as simulações com Cam-
para os solos locais obtidos de ensaios de Clay Modificado
laboratório de amostras coletadas do Poço
Experimental Gazeta, localizado na Avenida O modelo de Cam-Clay Modificado (CCM) é
Paulista. Atenta-se para os dados de índices de um modelo constitutivo do tipo elasto-plástico
vazios e tensões de pré-adensamento, que pertencente ao ramo da Teoria da Plasticidade
evidenciam a diferenciação estrutural desses denominada de Teoria do Estado Crítico. Pela
solos. Teoria do Estado Crítico, quando uma amostra
de solo é submetida a um ensaio triaxial de
Tabela 1 – Índices físicos dos solos na região do Túnel compressão hidrostática, existe um momento
Paraíso (adaptado de Silva, 2008) em que grandes deformações cisalhantes
Prof. Areia Silte Argila ρ ρs
ocorrem sem haver alteração do volume ou do
(m) (%) (%) (%) (g/cm3) (g/cm3)
3,5 5 16 79 1,47 2,72 estado de tensões da amostra.
6,5 5 28 67 1,50 2,68 A Equação 1 apresenta a lei que governa o a
9,5 3 3 94 1,76 2,63 superfície de escoamento no modelo de CCM:
12,5 10 1 89 1,81 2,65
Prof. W LL IP p’o
eo q p
(m) (%) (%) (%) (KPa) M 1 (1)
3,5 41,5 78,8 29,3 127,5 1,62 p p
6,5 41,0 73,8 25,7 196,0 1,52
9,5 36,5 89,5 42,1 760,0 1,04 A componente de atrito, M, pode ser
12,5 37,1 90,8 43,4 814,0 1,02 determinada a partir do ângulo de atrito
assumido para o modelo de MC, conforme a
Com relação aos parâmetros de resistência Equação 2.
(coesão e ângulo de atrito) e deformabilidade
desses materiais, empregou-se dados obtidos de 6 sin φ
ensaios triaxiais realizados em amostras M (2)
3 sin φ
indeformadas retiradas do Poço Gazeta. Na
Tabela 2 são apresentados os dados que foram
Nas simulações com o modelo CCM, é
utilizados nas análises com o modelo
necessário estabelecer a relação entre a variação
constitutivo de MC.
de volume do material (expressa através da
Tabela 2 – Caracterísitcas de resistência e
variação do índice de vazios) e o estado de
deformabilidade empregados (adaptado de Silva, 2008) tensões no ponto (expressa através de sua
Prof. Classificação N spt Eo ϕ’ c’ tensão octaédrica efetiva, p’), conforme
(m) (NBR-6484/2001) (MPa) (º) (kPa) apresentado na Figura 4:
Argila porosa
3,5 2,0 10,0 20,0º 10,0
mole
Argila porosa
6,5 4,5 22,5 23,3º 35,4
media
Argila siltosa
9,5 8,2 41,0 27,2º 39,8
média
Argila siltosa
12,5 17,0 85,0 25,0º 66,2
rija a dura
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de MC podem indicar mecanismos cinemáticos Esta seção consta de sete marcos superficiais,
de ruptura, as deformações plásticas no modelo um inclinômetro instalado a seis metros do eixo
de CCM indicam apenas uma alteração da do túnel, além de duas linhas de tassômetros
superfície de escoamento, não significando, múltiplos instalados a 1,2m e 6,m do eixo do
necessariamente, um mecanismo de ruptura. túnel.
Cabe lembrar ainda que, no modelo elasto- Para a análise dos resultados numéricos com a
plástico perfeito de MC, a superfície de instrumentação de campo, foi necessário
escoamento permanece fixa no espaço das considerar a camada de pavimento existente no
tensões, independente do nível de deformação local nas simulações como uma estronca
plástica ocorrido. Ou seja, não há superficial de inércia equivalente a 40cm de
endurecimento do material. Já no modelo de espessura e módulo de elasticidade de 1GPa,
CCM, a superfície de escoamento se altera como sugerido por Parreira (1991) e França
conforme o nível de deformações plásticas. Ou (2006). A sua inclusão deve-se ao fato da
seja, há endurecimento ou amolecimento do camada de pavimento restringir a mobilidade
material e a sua resistência ao escoamento horizontal não somente da camada de aterro
aumenta ou diminui com a deformação plástica. como também do inclinômetro instalado no
Apenas um estudo sobre as deformações campo.
volumétricas permitirá dizer se a resistência do Nas Figuras 11 e 12, são apresentados os
material aumentou com a deformação plástica. recalques sub-verticais obtidos das simulações
numéricas e os registrados pelos tassômetros da
instrumentação local.
5 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS
NUMÉRICOS COM A INSTRUMENTAÇÃO Recalques subsuperficiais a 1,20m do eixo do túnel (mm)
0
LOCAL -140 -120 -100 -80 -60 -40 -20 0
-1
-5
-6
Resultados Morh-Coulomb
-5
-10
-15
-20
-25
Resultados Morh-Coulomb
6
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CCM forneceu resultados mais condizentes com que o modelo MC é o que menos apresenta
o comportamento do maciço do que o modelo sensibilidade para reproduzir os resultados da
de MC. Percebe-se da Figura 11, que a instrumentação de campo em simulações
similação com o modelo de CCM reproduziu numéricas.
uma pequena tendência de recalques O modelo de CCM apresenta sensibilidade
decrescentes até a profundidade de 4,0m, base suficiente para reproduzir as tendências de
da camada de argila porosa mole. Pelo modelo deformações horizontais registradas pelo
de MC, estes recalques foram crescentes com a inclinômetro. Adicionalmente, os resultados
profundidade. obtidos para deformações verticais foram muito
Analisando a Figura 12, também é possível próximos aos observados em campo,
notar que o modelo CCM mostrou tendências principalmente os registrados a distâncias
de recalques verticais fora do eixo da escavação superiores a 10m. Pelo modelo de CCM, foi
mais similares aos dados registrados pela possível reproduzir a bacia de recalques de
instrumentação, principalmente nas camadas forma mais concentrada na região central da
pouco sobreadensadas das argilas porosas escavação.
moles. Os elevados resultados numéricos para
As Figuras 13 e 14 apresentam os recalques deslocamentos horizontais junto ao contato da
superficiais e as deformações horizontais camada de aterro com a camada de argila
obtidos da instrumentação por marcos porosa mole podem ser atribuídos aos
superficiais e o inclinômetro instalado a 6,0m parâmetros do modelo de CCM, estimados para
do eixo do túnel, e os correspondentes a camada de aterro.
resultados numéricos A consideração de algum sobreadensamento
para essa camada e uma melhor estimativa para
Distância ao centro do túnel
0 o seu índice de vazios podem resultar em
-50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50
melhores resultados nas análises numéricas.
-0,02
-0,04
-0,06
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
-0,08
Da análise dos resultados é possível inferir que
-0,1 o modelo de CCM é capaz de fornecer boas
Instrumentação
Resultados Mohr-Coulomb Recalques
previsões de deslocamentos verticais e
-0,12
Resultados Cam-Clay Superficiais (m)
horizontais decorrentes de escavações
Figura 13 – Recalques superficiais: Dados de subterrâneas. Os resultados obtidos nesse
instrumentação e resultados numéricos
trabalho dão margem a novas avaliações com
vistas ao refino dos parâmetros geotécnicos do
Movimentos Horizontais a 6,00m do eixo do túnel (mm)
0
modelo e, por conseqüência, a obtenção de
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 resultados mais condizentes com a
-5 instrumentação.
Compete ainda lembrar que o modelo de
-10 CCM foi desenvolvido para solos normalmente
adensados ou pouco sobreadensados.
-15
Considerando o fato dos solos terciários da
bacia sedimentar de São Paulo serem
-20
sobreadensados, os resultados mostram também
-25
Resultados Morh-Coulomb
ser possível, a princípio, a aplicação do modelo
Resultados Cam-Clay Modificado
Profundidade
(m) Instrumentação
para esses solos. Obviamente, novos estudos
devem ser conduzidos nesse sentido para
Figura 14 – Deslocamentos horizontais: Dados de
instrumentação (inclinômetro) e resultados numéricos confirmar a sua aplicabilidade.
As correlações de Massad et al. (1992),
Da análise das deformações, é possível inferir empregadas, são um bom ponto de partida para
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AGRADECIMENTOS