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RECLAMAÇÃO 24.

229 SÃO PAULO

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


RECLTE.(S) : TELEFÔNICA BRASIL S/A
ADV.(A/S) : ALEXANDRE DE FARIA OLIVEIRA E OUTRO(A/S)
RECLDO.(A/S) : JUIZ PRESIDENTE DO COLÉGIO RECURSAL CÍVEL,
CRIMINAL E DA FAZENDA DE SÃO JOSÉ DO RIO
PRETO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
INTDO.(A/S) : EUNICE BARBOSA DOS SANTOS
ADV.(A/S) : FRANKLIN PRADO SOCORRO FERNANDES

RECLAMAÇÃO. ADMISSIBILIDADE DE
RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
OBSERVÂNCIA DA SISTEMÁTICA DA
REPERCUSSÃO GERAL. CABIMENTO DO
AGRAVO PREVISTO PREVISTO NO ART.
1.042 DO CPC/2015. USURPAÇÃO DE
COMPETÊNCIA NÃO CONFIGURADA.

Vistos etc.
1. Trata-se de reclamação, com pedido de liminar, proposta por
Telefônica Brasil S/A contra decisão proferida pela Presidência do Colégio
Recursal Cível, Criminal e da Fazenda de São José do Rio Preto/SP, no
Processo nº 0002357-20.2014.8.26.0306, à alegação de usurpação da
competência desta Suprema Corte.
2. A reclamante alega que, manejado o agravo previsto no art. 1.042
do CPC/2015 contra decisão de inadmissibilidade de recurso
extraordinário, o órgão reclamado negou-lhe trânsito, ao entendimento
de que incabível o recurso. Indica afronta à Súmula 727/STF.
3. Requer concessão de medida liminar. Colaciona documentos.
É o relatório.
Decido.
1. A autoridade reclamada julgou prejudicado o recurso
extraordinário interposto pela reclamante, considerada a manifestação
desta Suprema Corte quanto à ausência de repercussão geral da matéria

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nele debatida. Confira-se:

“Vistos.
A suposta ofensa ao texto constitucional, acaso existente,
apresentar-se-ia por via reflexa, eis que a sua constatação
reclamaria, para que se configurasse, a formulação de juízo
prévio de legalidade fundado na vulneração e infringência de
dispositivos de ordem meramente legal. Não se tratando de
conflito direto e frontal com o texto da Constituição, torna-se
inviável o trânsito do recurso extraordinário.
Ainda, conforme decidido pelo E. Supremo Tribunal
Federal, no ARE 853.833, representativo do TEMA 800, de
relatoria do Ministro Teori Zavascki e que trata da "viabilidade
de recurso extraordinário contra acórdão proferido por Juizado
Especial Cível da Lei 9.099/1995 em matéria de
responsabilidade pelo adimplemento de obrigação assumida
em contrato de direito privado", verbis: "1. Como é da própria
essência e natureza dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais
previstos na Lei 9.099/95, as causas de sua competência
decorrem de controvérsias fundadas em relações de direito
privado, revestidas de simplicidade fática e jurídica, ensejando
pronta solução na instância ordinária. Apenas
excepcionalmente essas causas são resolvidas mediante
aplicação direta de preceitos normativos constitucionais. E
mesmo quando isso ocorre, são incomuns e improváveis as
situações em que a questão constitucional debatida contenha o
requisito da repercussão geral de que tratam o art. 102, § 3º, da
Constituição, os arts. 543-A e 543-B do Código de Processo Civil
e o art. 322 e seguinte do Regimento Interno do STF. 2. Por isso
mesmo, os recursos extraordinários interpostos em causas
processadas perante os Juizados Especiais Cíveis da Lei
9.099/95 somente podem ser admitidos quando (a) for
demonstrado o prequestionamento de matéria constitucional
envolvida diretamente na demanda e (b) o requisito da
repercussão geral estiver justificado com indicação detalhada
das circunstâncias concretas e dos dados objetivos que

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evidenciem, no caso examinado, a relevância econômica,


política, social ou jurídica. 3. À falta dessa adequada
justificação, aplicam-se ao recurso extraordinário interposto nas
causas de Juizados Especiais Estaduais Cíveis da Lei 9.099/95 os
efeitos da ausência de repercussão geral, nos termos do art. 543-
A do CPC.
Assim, nos termos acima expostos, julgo prejudicado o
Recurso Extraordinário. ”

2. No julgamento da Questão de Ordem no AI 760.358, bem como


nas Reclamações 7.569 e 7.547, este Pretório Excelso firmou a orientação
de que incabível o agravo de instrumento previsto no art. 544 do CPC/73
contra decisão que, considerada a negativa de repercussão geral firmada
no âmbito desta Suprema Corte, indefere o processamento do apelo
extremo. Contra decisão desse teor reputa-se admissível apenas agravo
regimental no âmbito do próprio Tribunal a quo. Confira-se:

“Questão de Ordem. Repercussão Geral.


Inadmissibilidade de agravo de instrumento ou reclamação da
decisão que aplica entendimento desta Corte aos processos
múltiplos. Competência do Tribunal de origem. Conversão do
agravo de instrumento em agravo regimental. 1. Não é cabível
agravo de instrumento da decisão do tribunal de origem que,
em cumprimento do disposto no § 3º do art. 543-B, do CPC,
aplica decisão de mérito do STF em questão de repercussão
geral. 2. Ao decretar o prejuízo de recurso ou exercer o juízo de
retratação no processo em que interposto o recurso
extraordinário, o tribunal de origem não está exercendo
competência do STF, mas atribuição própria, de forma que a
remessa dos autos individualmente ao STF apenas se justificará,
nos termos da lei, na hipótese em que houver expressa negativa
de retratação. 3. A maior ou menor aplicabilidade aos processos
múltiplos do quanto assentado pela Suprema Corte ao julgar o
mérito das matérias com repercussão geral dependerá da
abrangência da questão constitucional decidida. 4. Agravo de
instrumento que se converte em agravo regimental, a ser

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decidido pelo tribunal de origem” (AI 760358 QO/SE, Rel. Min.


Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJe 19.2.2010)

“RECLAMAÇÃO. SUPOSTA APLICAÇÃO INDEVIDA


PELA PRESIDÊNCIA DO TRIBUNAL DE ORIGEM DO
INSTITUTO DA REPERCUSSÃO GERAL. DECISÃO
PROFERIDA PELO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL NO JULGAMENTO DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO 576.336-RG/RO. ALEGAÇÃO DE
USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL E DE AFRONTA À SÚMULA STF 727.
INOCORRÊNCIA. 1. Se não houve juízo de admissibilidade do
recurso extraordinário, não é cabível a interposição do agravo
de instrumento previsto no art. 544 do Código de Processo
Civil, razão pela qual não há que falar em afronta à Súmula STF
727. 2. O Plenário desta Corte decidiu, no julgamento da Ação
Cautelar 2.177-MC-QO/PE, que a jurisdição do Supremo
Tribunal Federal somente se inicia com a manutenção, pelo
Tribunal de origem, de decisão contrária ao entendimento
firmado no julgamento da repercussão geral, nos termos do § 4º
do art. 543-B do Código de Processo Civil. 3. Fora dessa
específica hipótese não há previsão legal de cabimento de
recurso ou de outro remédio processual para o Supremo
Tribunal Federal. 4. Inteligência dos arts. 543-B do Código de
Processo Civil e 328-A do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal. 5. Possibilidade de a parte que considerar
equivocada a aplicação da repercussão geral interpor agravo
interno perante o Tribunal de origem. 6. Oportunidade de
correção, no próprio âmbito do Tribunal de origem, seja em
juízo de retratação, seja por decisão colegiada, do eventual
equívoco. 7. Não-conhecimento da presente reclamação e
cassação da liminar anteriormente deferida. 8. Determinação de
envio dos autos ao Tribunal de origem para seu processamento
como agravo interno. 9. Autorização concedida à Secretaria
desta Suprema Corte para proceder à baixa imediata desta
Reclamação” (Rcl 7569/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, Tribunal

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Pleno, DJe 11.12.2009).

3. Destaco que o CPC/2015 passou a prever, expressamente, em seu


art. 1.030, § 2º, o cabimento do agravo interno na hipótese em que negado
seguimento a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à
qual o Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido a existência de
repercussão geral, verbis:

Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do


tribunal, o recorrido será intimado para apresentar
contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os
autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do
tribunal recorrido, que deverá:
I – negar seguimento:
a) a recurso extraordinário que discuta questão
constitucional à qual o Supremo Tribunal Federal não
tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a
recurso extraordinário interposto contra acórdão que
esteja em conformidade com entendimento do Supremo
Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral;

§ 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e


III caberá agravo interno, nos termos do art. 1.021.

4. Já o art. 1.042 do CPC/2015 excetuou, das hipóteses de cabimento


do agravo dirigido a esta Suprema Corte, aquele interposto contra
decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido que
inadmite o apelo extremo, quando fundada, a inadmissão, na aplicação
de entendimento firmado em regime de repercussão geral. Confira-se:

Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou


do vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso
extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada na
aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão
geral ou em julgamento de recursos repetitivos. (Redação dada

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pela Lei nº 13.256, de 2016)

5. Ante o exposto, ausente usurpação da competência desta Suprema


Corte, forte no art. 21, § 1º, do RISTF, nego seguimento à presente
reclamação, restando prejudicado o pedido liminar.
Publique-se.
Brasília, 15 de agosto de 2016.

Ministra Rosa Weber


Relatora

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