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O LIVRO DO DEUS VIVO

Há mais de vinte anos apareceu a primeira edição do "LIVRO DO


DEUS VIVO", já há muito tempo esgotado.

A presente edição traz para os leitores da língua francesa um


texto cuidadosamente revisado, uma nova apresentação e mais um
capítulo, inexistente na edição de 1929, inclusive algumas passagens
que foram anexas a este proêmio.

"O LIVRO DO DEUS VIVO" como, aliás, todos os escritos do BÔ


YIN RA não é obra literária, nenhum tratado filosófico, nem
compêndio religioso. É um testemunho impressionante, desenvolvido
em obras posteriores, de uma doutrina da Realidade intrínseca,
objetiva e integral em sua essência e um dinamismo categórico, cuja
origem remonta à aurora dos tempos e que visa reconduzir os
Homens, através da vida insípida de cada dia, à Luz Primordial de que
outrora se apartaram.

Entre os numerosos trabalhos já publicados sobre a obra do BÔ


YIN RA, há um* cuja introdução contém, a nosso ver, indicações que
todo leitor deve ter em mente se quiser que a obra do Mestre exerça
sobre sua evolução espiritual toda a influência fe- cunda de que é
capaz. A seguir, reproduzimos alguns trechos:

“Se quiser obter da leitura deste livro todo o proveito que


encerra, ter-se-á que lê-lo sem idéias preconcebidas; importa aplicar-se
a essa leitura um dos preceitos mais rigorosos de Francisco de Assis,
quando recomendava aos Irmãos da sua Ordem, que lessem o Antigo e
o Novo Testamento sem preocupação da "beleza", porque esses escritos
transcendem toda beleza e toda a fealdade..."

“ Ler BO Y I N RA com prevenção literária a nada conduz. .."


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" Quando um verdadeiro Sábio, um verdadeiro Mestre se


expressa, não é como habitualmente se lê poesia: belo conjunto de
formas isoladas, criando sentimentos profundos, de harmoniosamente
entrelaçadas idéias e imagens, com alternâncias de sons e flutuações de
palavras; mas o que se produz é de muito maior importância e mais
decisivo; pois a relação e interpenetração de palavras provocam a
ressonância interior, cuja forma espiritualmente vibrátil ultrapassa
todo o conteúdo de obras literárias comuns. E essa forma de cadência
peculiar, estando em relação íntima com as palavras que a compõem,
cada uma delas deve ser sentida no intimo da pessoa".

" Dizem que a verdadeira poesia, antes de tudo, deve fascinar à


maneira de um encanto. Ora, não se pode infelizmente deixar de
constatar quão raros são os casos, onde a literatura tem conseguido
este clímax de fascinação. Assim e antes de mais nada, deve- se exigir
de toda Enunciação, quando tem caráter de Vidência e é ligada ao
Centro Esotérico dos Mundos e deles oriunda, que apareça em todo
seu potencial de força de encantamento e, principalmente, que seja
impregnada da magia fonética da palavra. O poeta, pois, mesmo
quando tem intuição daquilo, o Vidente o sabe pela experiência. Julgo,
assim, necessário concitar o leitor a que preste maior cuidado a sentir
as palavras antes de lhes sondar o significado. Então poderá assimilar
as forças, por assim fizer, litúrgicas das palavras do Bô Yin Ra. E essas
forças isoladas criarão, gradativamente, no leitor a sensação insuspeita
do conjunto: como ao escutar correr as águas cuja torrente impetuosa
ressoa em jaculatórias jâmbicas. .."

“Os escritos de Bô Yin Ra devem ser classificados dentro da


categoria das exceções em que habitualmente se classificam os livros
ditos sagrados. Estão no mesmo nível que, por exemplo, o Taoteking, a
Bhagavat-Gita, o Upanichade, a Dammapada, o Livro dos Mortos, os
Pentateucos, os Evangelhos, o Corão etc. Contudo, eles têm uma
vantagem sobre aqueles, por não terem ainda sofrido nenhuma
alteração histórica em transposições, omissões, adjunções e traduções,
conservando assim sua forma genuína, sem exercer uma influência
dissolvente. Pois esses escritos, impossíveis dizeres de outra forma são
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a única expressão autêntica que se tem o deleite de chamar Revelação,


hoje humanamente possível... "

"Sem embargo existe grande quantidade de livros chamados


“proféticos" que, reivindicando este caráter, procuram, a maioria deles,
parecer científicos, aberta ou sub-repticiamente. Sem querer tomar
qualquer posição a respeito de semelhante literatura, contudo, é
evidente que, s6 a tendência de pertencer à ciência, suficiente- mente
indica a via em que circulam estes escritos. Não é minha intenção
atacar a ciência que, aliás, se sente bastante incômoda, com toda razão,
dessa vizinhança pretensiosa, imprópria à sua reserva; contudo, a
qualidade excepcional do que é oriundo da Revelação, ai é
desconhecido “a priori". Não há um documento ~ Verdadeira
Sabedoria Divina, que não seja definitivamente afastado de tudo que
for apenas tentativa de conhecimento, investigação, especulação ou
filosofia..."

“... A "Doutrina" que Bô Yin Ra nos traz, como antes dele


trouxeram Lao Tseu ou Jesus, é tão profunda e tão visceralmente
inefável, que para cada criatura vem revelando algo inédito, de
diferentes modos sentida. E se a língua dos homens está aqui utilizada,
como o foi em todos os tempos por Grandes Iniciadores, não pode
senão limitar, contornar, deixando, todavia, pressentir que se trata de
algo vital e que deve ser pessoalmente experimentado. É como rebordo
que circunda uma cratera, um abismo, um vácuo, mas dentro dela está
a essência, a força do vulcão, o imaterial. .."

"Nestes escritos achar-se-á o que importa ser achado. Não se


encontrará o que eternamente convém não saber...”

Completando essas citações, de nossa parte não podemos fazer


melhor do que transmitir as palavras do Mestre:

"O tu, que anseias e neste livro queres encontrar, Luz e sabedoria,
saibas, que ninguém as atingiu pela leitura e raciocínio! "
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"O ensinamento que te trago é Vida, Caminho e Verdade, mas


não o pode guardar em ti se não deixares que se tornem entro de ti
Vida, Caminho e Verdade ! ”

'BREVIARIO" de Bô Yin Ra, compilado por Rudolf Schott.


Compilação de aforismos essenciais extraídos das obras do Mestre,
formando um conjunto de conceitos fundamentais: Espírito, Alma,
Corpo, Eu, Eu e Tu, a Obra e o Mundo, o Alvo. Edições Richard
Himmel, Leipzig, 1928.

INTRODUÇÃO
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Não leia este livro quem for piedoso e crente!

Não o leia quem nunca duvidou de Deus!

Este livro foi escrito para aqueles que, em duros combates


íntimos, procuram conquistar seu Deus e não O encontram...

Foi escrito para todos que se debatem nos espinhos da dúvida...

A estes, sim, servirá de auxílio.

Indicar-lhes-á o caminho.

É a Sabedoria da aurora dos Tempos que proclamo.

Sabedoria que, às vezes, foi percebida por alguns, mas sempre


guardada secreta.

Em tempos idos, em raros intervalos, foi permitido falar a


respeito, à surdina e por símbolos velados.

Chegou a hora de falar mais clara e abertamente, porque os não


autorizados espalharam, e ainda espalham, pelo mundo, imagens
desfiguradas desta Sabedoria.

O "Íntimo Oriente" decidiu, a partir de agora, abrir aos Homens


do Ocidente o cofre secreto, há tanto tempo zelosamente guardado de
olhares profanos.

Aquele que agora o está abrindo recebeu o poder de fazê-lo. Por


isso, de início, mostrar-se-á apenas de longe aquilo que será
compreendido por quem lhe for digno.

Dir-vos-ei o que é possível dizer a respeito dos segredos do


Templo.
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Mas, se quiserdes sondar as profundezas, devereis estar


dispostos a senti-los no mais íntimo de vós mesmos.

Pois os segredos não são revelados a não ser àqueles que


envidam todos seus esforços e deles se apossam em luta sem tréguas.

Pela simples leitura" das minhas palavras pouco tereis lucrado...

O que aqui aparece como palavra, haverá de encontrar coração


acolhedor, coração que dela saberá impregnar-se e a guardará; de outra
forma não passará de palavra vã.

Ninguém poderá estabelecer critério exato sobre o valor positivo


ou negativo do que lê, sem passar por uma prova prévia, que dele se
exige imperiosamente, se é que quer penetrar no Templo.

Somente os de dentro poderão julgar com acerto. Mostrar-vos-ei


o exterior daquilo que, um dia, se revelará no íntimo de quem tiver
passado a prova.

Mas, para que isso se revele, requer-se grande vontade, constante


e ininterrupta, e, quem souber constrangê-la, verá que minhas palavras
se confirmarão.

Achará o caminho que o levará a seu Deus Vivo.

Em si mesmo encontrará o Reino do Espírito e Suas Altas


Potências.

Seu Deus nele nascerá".

Não tem interesse em fornecer provas".

Se minhas palavras são anunciadoras da Verdade, cabe a vós


averiguá-lo!
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É em vós mesmos que reside o juiz silencioso, e só ele pode


sancionar o que minha palavra suscita em vós...

Minhas palavras não às podeis compreender, pois não


palmilhastes o caminho que eu, outrora, penosamente, percorri!

Aliás, aqui não há provas de valor universal".

Cada um deve encontrar em si e para si a prova concludente!

Ademais, não é uma “ciência" que vos dou, nem uma “fé" que
vos prego.

Apenas exponho o que é possível mostrar a respeito da Sabedoria


do “Íntimo Oriente" e do grande Segredo do Templo da Eternidade.

Oxalá minhas palavras consigam despertar-vos, finalmente,

pois ainda não sabeis quem sois!

Abençoados e fortes sejam todos os que de boa vontade sabem


querer decididamente!

A MORADA DO DEUS ENTRE OS HOMENS


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Da alvorada dos tempos veio do Sol Levante um discreto


enunciado aludir aos Homens do Ocidente, em devotas imagens
conforme a fé cristã, a respeito da prodigiosa Comunidade espiritual
dos Iniciados em ação; mas os Homens do Ocidente não souberam
como interpretar.

Um véu de lenda urdiu-se em torno do “Santo Graal" e sua


augusta "Cavalaria". . .

O saber, cheio de esperança, soçobrou em mitos nebulosos


passou para o plano secundário da fábula e da poesia devota.

Entretanto, em nossos dias sucedeu que os mistagogos


venturosos espalhassem, em seus relatos, fantasticamente
embelezados, terem os Iniciados aos Mistérios vividos em alguma
parte longínquos do Oriente, ocultos dos olhares profanos. Mas, em
verdade, esses boatos demonstravam também, apesar dos seus
propagadores, que, embora ouvissem falar a respeito desses Seres
ocultos, nunca viram nenhum deles; sem isso poder-se-ia supor que
qualquer faquir exibindo suas bruxarias ou algum santo homem,
casualmente encontrado, fosse mesmo os membros desse cenáculo
espiritual. . .

Contudo, por subsistir, no subconsciente de muitas almas, o


último vestígio da intuição do vínculo espiritual de possível ligação
com o Santuário impregnado do Espírito divino e situado em algum
recanto da Terra, embora invisível, logo surgiram crentes benévolos
que esperavam restabelecer esse vínculo.

Pobres deles! Procuraram por caminhos falsos e, ainda hoje,


continuam a errar pelos mesmos caminhos, procurando sempre em
vão.

Com os fragmentos de saber, apanhados ao longo do caminho,


fizeram a mais estranha e quimérica compilação, que denominaram "a
ciência do Espírito"; mal sabiam que se tornavam vítimas da própria
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ilusão, imaginando que o verdadeiro saber pudesse ser adquirido à


guisa de ciência intelectiva.

Levam uma vida afim à dos ascetas, pretendendo "espiritualizar-


se"; chafurdam nos pântanos tenebrosos e pestíferos de um misticismo
doentio oriundo da atmosfera febril das selvas tropicais do Oriente;
morbidamente procuram em volta um traço dos preceitos antigos ou
modernos que lhes permita se apossarem de "forças ocultas".

Como se enganam, ao pensarem achegar-se dessa maneira aos


Céus que, em troca de todos os seus afãs, só podem apiedar-se e sorrir
com indulgência.

Nenhum consegue galgar as escarpas rochosas que levam aos


cumes ensolarados da "Grande Montanha" e, todos eles, ao
caminharem pelas largas estradas poeirentas, se apressam em
peregrinações profanas de longa data, no fundo dos vales sufocantes. .
.

Alguns julgavam já estar no caminho aos Dirigentes sobejamente


iluminados do Reino da alma e, ei-los batendo as matas, na esperança
de aí descobrir "um santo". . .

Outros, não acreditam que as doutrinas religiosas dos povos do


Oriente sejam idênticas à sabedoria desses Condutores silenciosos e
ocultos.

Com razão eles observam:

"Ora, em nossa terra, em tempos idos, também houve Profetas e


Sábios; também temos nossos livros sacros que nos vieram de remota
antiguidade! “

"0 Divino é em toda parte igual!"

"Por que devemos, nós, filhos do Ocidente, buscar nossa salvação


no lon-
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ginquo Oriente!"

E eles têm razão. Pois, se se tratasse somente de algo que as


almas devotas pudessem em qualquer lugar aprender a sentir, se
houvesse apenas questão de doutrinas antigas que ainda contribuem
para determinar concepções religiosas no Oriente, então, todo
pesquisador acharia seu consolo em si mesmo e em sábios
ensinamentos que lhe haviam legado os Videntes e Arautos de sua
raça.

Mas, há pouca relação entre a ação dos Guias silenciosos da alma


e as doutrinas dos povos orientais, e os Auxiliares espirituais ocultos
levam-nos muito além desses céus que, em todas as épocas, têm sido
forjados por alguns, como expressão de suas aspirações religiosas

Os Guardiães da herança primitiva da Humanidade são os


protetores mais poderosos de toda espiritual idade no Homem, para
quem, além de serem amigos sinceros e compreensivos, são os
conselheiros mais esclarecidos.

Desde os primórdios eles enviam "Irmãos" para todos os recantos


do mundo, a fim de estabelecer focos espirituais de irradiação onde
quer que julguem necessários.

Através de todos os tempos, do seio de todos os povos, escolhem


eles “Filhos" e "Irmãos" espirituais, conforme a lei do Espírito lhes
manda eleger.

Ora, para todos esses eleitos foi estabelecida uma morada na Ásia
Central, morada que se lhes tornou pátria espiritual, da qual ninguém,
se quisesse aí penetrar sem ser convidado, poderia descobrir o acesso.

Alguns deles, que, desde a aurora dos tempos, lá vivem


congregados, nunca aparecem no mundo exterior agitado.
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Para esse fim enviam os "Filhos" e "Irmãos" espirituais, que a lei


do Espírito designa como "atuantes".

Eles mesmos permanecem simplesmente fiéis guardiões do


tesouro espiritual que, outrora, antes da queda no mundo da matéria, o
Homem terrestre possuia.

Eles criam a energia por meio da qual os Atuantes agem em prol


da Humanidade terrestre.

É insensato e o cúmulo da tolice enquadrar esses Dirigentes


espirituais aos

“ Budistas" ou “brâ manes", "Lamas", "Panditas" ou "faquires"!?!

Mas também não se deve supor que se trata de alguma espécie de


"cientistas" de qualquer pretensa "ciência" oculta, com os quais
teríamos de nos defrontar!

Tudo que se pudesse imaginar a respeito e lhes atribuir um


desses nomes seria um erro funesto!

Os Irradiantes da luz Inicial * são, antes de tudo, "criadores",

Os "Primogênitos" ou "Pais" nunca tiveram "sede de saber" e, por


isso, não adquiriram conhecimento. . .

Quanto aos "Filhos" e "Irmãos" em Espírito, há muito


desaprenderam ter qualquer "vontade" de saber. ..

Nenhum deles cogita converter o mundo às doutrinas da filosofia


oriental.

Para eles é indiferente se "crês" na Bíblia ou no Corão, se tens "fé"


nos Vedas ou nas doutrinas de Buda.
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Mas, no seio de todas essas crenças, desde milênios, encontram


Homens dos quais lhes tem sido possível aproximar-se como
Auxiliares e Guias espirituais, mesmo quando os protegidos e guiados,
às vezes, não sintam a transformação consciente, a qual seria
indispensável, dos acontecimentos neles sucedidos. . .

Não é intuito dos Irradiantes da Luz Primordial apresentar


doutrinas religiosas, mas, sim, construir "pontes", a fim de ligar o
Homem desta Terra, prisioneiro do corpo da Besta, ao Reino
substancial do Espírito.

São alheios a todas as doutrinas que tendem a estimular o


Homem ao êxtase, que depois de ter perdido todo o controle dos
sentidos, poderá então ufanar-se de haver adquirido o poder de
rebaixar o Divino até ele!?

Deveras sabem que pelo pensamento jamais se terá o


conhecimento daquilo que é a condição primordial de todo
pensamento e o que vive além do pensamento.

Sorriem apenas quando ouvem falar a respeito dos que se


consideram deuses disfarçados.

Todavia, estarão sempre, em forma invisível, ao lado de cada um


que, no imo do coração, anseia por receber seu Deus.

São verdadeiros Grandes Sacerdotes, que oferecem o cálice da


Graça a todo peregrino que, nas profundezas fervescentes do seu ser,
aspira a que Deus nele esteja.

Agora talvez comeces a perceber que se trata de outra coisa, e


não do que falam esses estranhos e pretensos sábios da "ciência oculta",
de cujas doutrinas, de um misticismo duvidoso, recolhidas de todos os
povos, prepararam um excitante saboroso, batizando de "sabedoria
divina".
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Por semelhante "sabedoria divina" dos pobres iludidos e


desvirtuados voluntariamente, por todos os "exercícios", meditações e
jejuns, por toda a pureza dos atos e pensamentos, por todo o
conhecimento das coisas que não é preciso saber não te aproximarás,
nem que seja pela finura de um cabelo, desse alvo do qual o
sentimento íntimo te dá a intuição de ser o alvo supremo de todas as
tuas aspirações!

Pode ser que enlouqueças; talvez te consideres um "santo" e os


outros também, mas, dessa forma, nunca chegarás a teu Deus!

Se queres encontrar, apenas, o que sempre e sem a ajuda


espiritual podes achar no teu íntimo, neste caso não é preciso que
dirijas teus olhares ao "Supremo Oriente"!

Estes que de lá te conduzem, mesmo que vivam contigo, no teu


país, sob teu próprio teto, têm outra coisa para te dar!

Criarão algo em ti que tu não podes criar. . .

Algo que se arraigará em ti e do qual serás o alimento. . .

Algo que não tens ainda e nunca poderás tirar de ti próprio. . .

E nem os Irradiantes da Luz Inicial tampouco de si mesmos o


extraem.

Apenas restituem o que outrora era tua propriedade, antes da


impulsão para o mundo da matéria em que foste compelido a perdê-lo.

Os "Primogênitos" dos "Irmãos" nunca o perderam, porque nunca


participaram da queda profunda do Homem à Besta humana da Terra.

Eles não conhecem a morte e, desde milênios, continuam vivendo


na Terra sob uma forma indestrutível, oriunda das forças da substância
mais pura do Espírito.
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Jamais, como tu e eu, foram unidos a um corpo semelhante ao do


animal.

Contudo, entre os Homens outrora decaídos que deviam, no


tempo assinalado, unir-se à besta, na Terra, os "Primogênitos"
formaram, no plano espiritual, os "Irmãos" que, ao nascerem no mundo
da matéria, agissem no que não pode ser feito senão quando se vive em
corpo animal. . .

De modo que, ainda em nossos dias, eles "preparam" os "Ir mãos"


para os tempos vindouros.

Ora, desde os primórdios, as primeiras bestas humanas


tornaram-se veículos do Homem-Espírito. O lugar de ação dos
"Primogênitos" é lá onde se erguem as mais altas montanhas da Terra.
Esse lugar, contudo, é inacessível a quem não seja espiritualmente
conduzido por eles até eles.

Esta é a verdade sobre a "Morada do Deus entre os Homens" na


Terra.

De lá, o Reino do Espírito penetra, pela força da substância mais


pura, o mundo da matéria em contínuo movimento de transformação.

É de lá que partem as radiações da substância espiritual, erigidas


a todas as criaturas viventes na Terra.

Ora, vejo, contudo, tamanha massa de homens baldadamente à


procura do

Espírito, buscando-o por vias ilusórias e falsas.

Não posso senão exortar a todos a darem _uma reviravolta


enquanto é tempo, porque a Luz atuante do "Intimo Oriente"
dificilmente os fecundará, se seus olhares ainda estiverem
deslumbrados por luzeiros diversos de todos os tempos tochas e
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archotes os quais o Homem, caído na animalidade, criou para iluminar


seu caminho.

Em verdade, só quem, não obstante o fulgor cintilante da Terra


souber fixar seu olhar no "Oriente", encontrará nas alturas augustas a
Viva Luz!

E quando a tiver achado, vê-la-á brilhar pelo caminho até ter


atingido seu alvo, até ter conquistado seu alvo supremo!

."PROTOFOTOFORES", quer dizer, Portadores da "PROTOLUZ"


ou "AROUI LUZ" no sentido da Luz Arquetípica, eterna-inicial,
perpetuamente Original e Primordial - a "LUZ PERPETUA" da liturgia
católica.

A LOJA BRANCA

Por ser um hábito geral chamar de “Loja Branca" o Cenáculo de


Auxiliares espirituais, vamos também manter esse nome, se bem que,
embora eles não façam objeção, assim não se dominam.
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Seu total isolamento do mundo exterior talvez justificasse a idéia


de “Loja", vulgarizada pela maçonaria livre, cujo caráter parecia
corresponder às normas dessa Comunidade puramente espiritual.

Trata-se da mais singular união existente neste planeta e, não se


acha entre os Homens nenhuma forma similar de comparação, qual
seja sua natureza, oferecendo, mesmo em sentido figurado, a
possibilidade de qualquer associação.

No mundo exterior, os membros dessa União não se aproximam


corporalmente, a não ser em casos extremamente raros e da maior
importância, e quase nunca se correspondem verbalmente.

No entanto, seu contato espiritual é constante, ininterrupta é sua


troca de idéias e absoluta sua comunhão de almas.

Esta União não possui leis exteriores.

Cada um dos membros é igual aos outros; não obstante: cada um


conhece o lugar que lhe cabe, determinado pela natureza espiritual,
próprio a cada individualidade.

Todos, entretanto, se subordinam voluntariamente a um “Chefe


Supremo" em Espírito.

Esse “Chefe" não é eleito nem nomeado; contudo, jamais um


membro da União poderia ter dúvidas quanto a esse “Chefe" e quem
seja.

A "admissão" a esta Comunidade não é obtida nem de pleno


direito nem adquirida por astúcia ou constrangimento.
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As leis espirituais ocultas e certas disposições específicas que, na


natureza humana produzem essas mesmas leis determinam a aptidão
de todo Homem para eventual "admissão" e, uma vez admitido
nenhum poder humano poderá levantar obstáculos a essa "admissão” .

Os admitidos, no entanto, não são ligados por nenhum voto,


nenhum compromisso. . .

Eles mesmos são Norma e lei!

Nenhum sinal particular, nenhuma singularidade no seu modo


de viver, deixa transparecer, entre as pessoas comuns, os membros
dessa Comunidade espiritual.

Contudo, bem que sejam entre si estranhos, se reconhecem, e isso


sem a ajuda dos "sinais", das "palavras de passe" ou "toques", caso lhes
seja necessário se conhecerem também na vida exterior.

Em razão da sua natureza mesma, esta União, como tal, deve


permanecer oculta, embora não impeça que muita gente e às vezes
povos inteiros, estejam sob sua influência espiritual.

Nenhum caminho que leva às altas metas supramateriais foi


palmilhado sem que um dos membros dessa União ou a União em seu
conjunto tenha assumido direção invisível.

Na maioria dos casos, aqueles que estão espiritualmente guiados


não sabem, nem sequer supõem, da influência invisível, à qual devem
tudo o que possuem de melhor.

Todavia, quando surge algum indício de certo despertar, a


ascendência dessa ajuda espiritual então se torna assaz perceptível,
mas, por falta de conhecimento ou por superstições, ela é quase sempre
atribuída às forças sobrenaturais.
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A imaginação poética de todos os povos e em todos os tempos,


deve, sem dúvida, a tal erro de interpretação, grande número desses
casos.

A superstição sempre foi amiga dos poetas, pois a Verdade


desnuda, sendo por demais ríspida e simples, dá margem à fantasia
poética, deixando-se drapear em suntuoso ouropel.

A interpretação errônea da intuição que se tem tido a respeito


de auxílio espiritual, vindo do Cenáculo silencioso dos "Irmãos
Primogênitos" à Terra, também tem contribuído grandemente para o
enriquecimento de lendas religiosas.

Entretanto, de tempos em tempos, os isolados tiveram a


consciência da existência e da ação dessa Comunidade que, embora
invisível, está ligada aos Homens terrenos. Contudo, outros vieram em
seguida e sob toda a espécie de suspeitas soterraram os traços já
descobertos. Tanto assim, que só um murmúrio da lenda ainda ficou
aqui ou acolá, para testemunhar o maior conhecimento que, nos
tempos idos, se teve, com absoluta certeza, e a respeito do qual alguns
Homens devem ter recebido revelações muito significativas. . ,

Foi então que, em nossos dias, as almas, com tendências uns


tanto exaltados, tiveram conhecimento da existência dessa Irmandade;
mas a simplicidade da sua essência e da sua ação espi- rituais, parecia
insuficiente ao poder da imaginação policroma des- ses entusiastas. De
modo que julgaram necessário embelezar seus relatos com acessórios
mais fantásticos e apresentar os Irmãos “Primogênitos" (porque
espiritualmente mais velhos) da Humani- dade com o nimbo de
semideuses ou, pelo menos, como grandes magos “conhecedores de
longa data" de tudo que a ciência moderna ainda está por descobrir,
inclusive, serem eles dotados tão liberalmente de tantos poderes
“maravilhosos", que os narradores exóticos jamais poderiam imaginar.

É evidente que esse erro foi cometido com boas intenções.


Queria-se sacrificar os meios pelo fim, procurando altear o mais que se
pudesse, acima de tudo o que é humano, seres inaccessíveis cuja
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existência se adivinhava, e a base dessa intenção justificada, parecia ser


fortalecida pelas façanhas de faquires mais vulgares, em cujos truques
se procurava ver a prova de que seus executantes pertenciam de fato à
“Loja Branca". . .

Compreende-se, pois, que os Irradiantes da Arquiluz, que desse


modo foram categorizados, -os verdadeiros Sacerdotes do Templo da
Eternidade na Terra declinam de todos esses atavios fantásticos e de
mau gosto, com inexorável firmeza.

Eles sabem que são Homens iguais aos outros, exceto na “idade
espiritual" mais avançada, que os torna aptos a cumprirem sua função
na construção gradual da Hierarquia espiritual e a canalizar em
benefício dos seus Irmãos terrestres energias espirituais, das quais são
condutores, e não criadores!

A realidade, porém, apresenta aspecto tão diferente em


venerabilidade e grandiosidade, que jamais a fantasia mais sedenta de
matizes poderia inventar. . .

A ação discreta dos membros da União se expande sobre todos os


planos da evolução espiritual da Humanidade.

Por suas mãos passam os fios que, não raro, terminam em


expressão do mais alto poder humano de criação, em mais alta
manifestação de potência humana. . .

Deveras eles removem montanhas sem mexer uma falange do


dedo, pois seu Querer, ao guiar o mais puro dos conhecimentos
espirituais, estando totalmente purificado de todo desejo pessoal,
dirige mais de uma vontade que emprega e aciona outros cérebros e
outras mãos!

E, em verdade, não é pelas artimanhas de faquires que agem os

" Irmãos Primogênitos" da Humanidade!


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Eles trabalham de maneira toda espiritual e seu empenho


consiste em canalizar e concluir o incomensurável plano da evolução
terrena, que a eterna lei cósmica assinalou à Humanidade; e seu
trabalho não conhece nenhum interesse particular, como também
nenhuma preferência individual, mesmo que os motivos mais
idealísticos possam parecer justificáveis.

Quem esperar "milagres" grosseiros, aí não os encontrará!


Todavia, os efeitos positivos, oriundos da ação dos "Irmãos
Primogênitos", podem ser às vezes realmente "milagrosos"; mas quanto
mais se faz jus a esse atributo, tanto mais se ocultam dos olhares
profanos.

Ora, sob a esfera da influência dessa ação espiritual está cada ser
humano que, realmente, de todo coração aspira à mais alta evolução
espiritual, e é suscetível, em sua existência terrena, de alcança-la.

Mais pura é a sua vontade, mais ela é livre de desejos egoístas


mais o Espírito nele poderá atuar e mais fortemente sentirá essa
influência. . .

São muitos que a sentem sem desconfiarem de onde ela lhes vem.
..
23

EXPERIÊNCIA SUPERSENSORIAL

Todo Homem, em determinado estado de sensibilidade


particularmente desenvolvida, e quando não forem demasiados os
empecilhos do mundo exterior, pode ter a vivência supersensorial.

As naturezas mais singelas são mais propícias a essas


experiências, bem como as dos artistas quando são realmente dotados
de dons genuínos, verdadeiros criadores ”favorecidos pela natureza”.

A “concepção" interior de uma idéia, de uma imagem deveras


artística que surja espontaneamente, já é uma espécie de “experiência
supersensorial".

Existe, aliás, diferença astronômica entre todas as variedades de


“inspiração" artística, onde, por um lado, as emoções ultra-sensoriais
superiores de natureza ocasional, podem ser sentidas por todos os
Homens. E certas naturezas, particularmente dotadas, sentem-na com
intensidade muito maior. Por outro lado, há um gênero de experiência
supersensorial, vivida por alguns para os quais o tesouro hereditário
do Homem-Espírito tem muito mais valor do que o objetivo de
satisfazer sua curiosidade ou de sair a sede de conhecimento. Bem
sabem eles que esse tesouro lhes foi confiado no intuito de indicarem,
dos altos cumes, o caminho a seus irmãos “caçulas".

Bem entendido não se trata desses os comumente chamados


“místicos", e de maneira alguma a eles me refiro agora.

“Misticismo" e a “Arte Régia" dos verdadeiros Iniciados, que só


no Reino do Espírito substancial são glorificados, são duas coisas bem
diferentes!
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Tal místico, tal artista. . .

Tanto a um como a outro a "inspiração" vem de uma esfera que I


he é desconhecida e em que, conscientemente, com todos seus sentidos
lúcidos, nunca será capaz de penetrar.

"Isso" o prende, o domina, e ele se torna o porta-voz dessa força


que desconhece; ou então sente apenas uma influência, estando em
"muda contemplação".

Mas, para quem foi "consagrado" no Reino do Espírito


substancial, para um verdadeiro ''Iniciado à Arte Régia", para um
“Filho" ou ''Irmão" dos ''Irradiantes da Protoluz", o caso é bem
diferente!

Ele está consciente de si mesmo, vive sempre e constantemente


em três Mundos que se fundem no Mundo da Realidade: o Mundo da
matéria física, o Mundo das forças anímicas supra- materiais, mas
substanciais, e o Mundo do Espírito substancial puro e absoluto.

Jamais, com letras maiúsculas, ele está em êxtase, nem em


nenhum estado dito transe, e é alheio a toda prática misteriosa; pois, se
não fosse assim, não poderia pertencer ao Círculo dos seus "Irmãos" e
seus veneráveis "Pais" em Espírito.

Enquanto ele acumula suas experiências nas regiões


suprasensoriais, permanece consciente do seu ser em três Mundos, e
sua consciência no Mundo sensório, que, todos podem verificar, não
fica em nenhum momento, nem por pouco que seja obliterada.

Pelo contrário, seu conhecimento das coisas "exteriores" fica


amplo, elevando-se à Sabedoria luminosa em que seu olhar se
impregna dentro de ultra-sensível. . .

Enquanto no plano supra-sensível ele "fala" com seus "Irmãos"


espirituais e estes "conversam" com ele, simultaneamente vê e sente o
25

mais ínfimo incidente no Mundo da matéria circundante, com a mesma


lucidez com a qual percebe as coisas com os sentidos do Espírito.

De modo que não é a "restrição" que se produz, mas sim, uma


expansão quase ilimitada da consciência. . .

A maior parte do que se "fala no Mundo do Espírito substancial


que ainda contém inúmeros "Mundos", nunca pode ser transmitida
pelas palavras de um idioma humano. Entretanto, é uma "linguagem"
clara em sua forma e ritmo, cheia do sentido da Verdade, de tal
ensinamento que, embora seja possível encontrar vocábulos
apropriados num idioma terrestre, não se transmitirá com essas
palavras a faculdade espiritual de introspecção que, dentro do Espírito
Substancial, permite conhecer tudo por todos os lados ao mesmo
tempo.

Por conseguinte, o que é “traduzível" em palavras da linguagem


humana está determinado pela individualidade particular de um
Irmão Atuante, conforme a época em que age e a civilização que o
rodeia na Terra.

Todavia, tudo o que ele puder comunicar, sempre e em qualquer


circunstância, corresponderá à Verdade mais límpida. É a transmissão
inalterada da Realidade absoluta, tal qual, em todos os tempos, os
“Iniciados à Arte Régia" presenciaram, despida de todas as múltiplas
possibilidades de ilusão e das fontes de incalculáveis erros, inerentes a
toda investigação no Mundo físico da matéria.

Para “especulações" e sutilezas filosóficas da mente condicionada


à Terra, não há lugar nos Mundos do Universo substancial do Espírito!

Cumpre, pois, não procurar -como em tentativas terrestres de


conhecimento baseado no intelecto –“inferir" uma “verdade" da outra!

Todas as Verdades no Mundo substancial puro são evidentes,


como Realidades, ao olhar de um observador atento!
26

As “contradições", apenas aparentes, que sempre se procurava


encontrar, por incapacidade de verificação, em afirmações dos
verdadeiros “ Iniciados" de todos os tempos, explcam-se pela maneira
de contemplação supra-sensorial, cuja experiência permite ver todas as
coisas sob todos os aspectos simultaneamente.

Mas, quando um deles quer se tornar de algum modo inteligível


para seus semelhantes que não vêem da mesma maneira, então se
limita a mostrar-lhes, apenas, ora um lado, ora outro dos diversos
aspectos da Verdade. Tanto mais que se trata, amiúde, de algo que,
para dar uma idéia à “caixa de duas pernas", quase nada contém de
terrestre em matéria de comparação que possa corresponder ao
espiritual substancial.

A cor local do modo retórico, em que um Irmão dos ‘Irradiantes


da Luz Eterna" traz seu testemunho, depende, sempre, da sua
apreciação pessoal, e é determinada, quer por devoção para com seus
velhos iniciadores, quer por sua própria inclinação, ou pelo cuidado de
transmitir esses testemunho em forma de palavra.

Embora seja em nosso planeta o coração da Asia que abriga,


desde milênios até os nossos dias, (o recanto terrestre onde se ergue o
Templo das forças substanciais do

Espírito, não é indicado a nenhum dos Irmãos a considerarem


essa morada espiritual sua verdadeira Pátria terrestre, nem de se
servirem em seus ensinamentos dos conceitos religiosos ou filosóficos
do Oriente.

Mas, se acontece ao Membro desse Cenáculo, seja ele


Homem do Ocidente, usar, às vezes, o modo retórico de povos do Sol
Levante, isso se deve à sua livre escolha -sua preferência pela poesia
oriental ou afeição por certas locuções verbais que expressam idéias do
Espírito com maior eficiência do que os métodos discursivos do
Ocidente; inclusive o desejo de conservar o colorido original da
vivência inesquecível que teve. .
27

O mais evoluído dos Irmãos Atuantes é um Homem


profundamente feliz da sua humanidade. Ele não é, em absoluto, livre
das inclinações humanas, não é um asceta, morto a tudo que é
mundano, embora muitos fanáticos da negação de tudo que está ligado
à Terra, não possam compreender que seja assim, porque não mais
conseguem livrar-se da sedução que os prende às doutrinas, oriundas
dos Infernos. . .

Que Homem sensível e terno não demonstraria pendor para


:alar, de preferência, das coisas que lhe são preciosas, da mesma forma
com que, outrora, os benévolos iniciadores lhe falaram pela primeira
vez?!

As mesmas coisas, todavia, poderiam ter sido expostas, sem


dificuldade, em locuções retóricas inteiramente diferentes sem que a
Verdade fosse de algum modo minorada. .

Perigosa é somente a "transposição" feita por não qualificados.

Não é tão cômodo, como supõe a maioria, ajustar, por exemplo,


um turbante hindu ao aforismo cristão de um verdadeiro, iniciado, ou
moldar um pensamento ocidental ao que foi pensado à maneira dos
chineses!

Contudo, torna-se às vezes indispensável coadunar as noções


lindas de horizontes contemplativos de povos os mais dessemelhantes,
para que esta Verdade espiritual, estranha ao pensamento ocidental,
não obstante seja compreensível aos ocidentais.

Oxalá que algum peregrino se deixasse levar por esse ecletismo


de meios de explanação e acreditasse que um Adepto estivesse de
algum modo intencionado a propagar essas doutrinas religiosas ou
filosóficas, cujas certas concepções, depois de haverem sido
averiguadas e provadas utilizáveis, foram adotadas para favorecer o
conhecimento da Realidade imperecedora!
28

É notório que as congregações eclesiásticas na Terra, quando


iniciam seus noviciatos às doutrinas de finalidades alheias à vida
temporal, têm por hábito fazer renunciar aos aspirantes ao seu no me
temporal e conferir-lhes "novos" nomes, diferentes.

A proveniência desse costume e o fato dele ter vindo dos


primórdios, obviamente necessitam o apoio das citações que se vão
seguir. . .

Aliás, não é sem razão que surge oportunidade para lembrar as


palavras do Gênese:

"O teu nome não será mais Abrão, mas Abraão que terás de te
chamar". ..

"E mais:

"Não te chamarás mais Jacó, porém Israel será o teu nome...

O "nome" de uma entidade espiritual individualizada, não tem


nenhuma relação com a decorrente das circunstâncias exteriores,
segundo o hábito e o idioma dos povos batizam os Homens terrestres.

Salvo poucas exceções que em todas as épocas existiram, o


Homem, embora seja uma individualidade espiritual, não conhece
ainda seu "nome".

Só quando estiver consciente da sua espiritualidade substancial,


conhecerá também "seu nome".

Assim, "o nome" de um verdadeiro Iniciado em Espírito, que


outrora era freqüentemente mantido em segredo por receio de ser
"profanado", se tiver sido pronunciado por todos, na verdade, não é
denominação arbitrária, tal como seu pretenso nome de "identidade",
que deve sua origem a uma residência ancestral, uma profissão ou à
característica dos longínquos antepassados, ou em via de regra, ao bel-
prazer dos seus pais!
29

Este nome é conferido pelos "Primogênitos" dos Irmãos aos


"Filhos" e "Irmãos" admitidos; o nome usado pelos "Irmãos na Terra"
revela, na "linguagem das letras", certas energias cuja essência
espiritual corresponde exatamente ao nome desse Irmão.

E o fato de sua força "de alcance" permanecer em certas "letras", o


Irmão Atuante poderia, do mesmo modo, ter seu "nome" formado por
outras letras, conquanto fossem contidas essas "Ietras” que formam seu
"número cósmico", seu "nome" substan- cialmente espiritual,
primordialmente existente na eternidade do Espírito. ..

Assim, um véu permanece em volta do "nome", muito embora já


seja santificado, em si, o "nome" do eterno valor espiritual que
ninguém é capaz de "proferir", mesmo se conhecesse as "letras" de
essencial transposição, a não ser aquele que é esse “nome”...

Por seu "nome" um Irmão é "palavra" no "Protopalavra"*, sendo


ele a expressão mesma da Palavra Inicial, em forma indivisível,
consciente da sua substancialidade espiritual.

Compreende-se, pois, que o emprego dos "métodos científicos de


investigação" no intuito de "pesquisas espirituais" é totalmente
desconhecido do Cenáculo, tanto dos "Irmãos na Terra" como dos
“Pais em Espírito" que nunca se sujeitaram à queda e não se apartaram
da Luz Perpétua.

A sabedoria do verdadeiro Iniciado em Espírito não consiste no


acúmulo e permanente acréscimo do “saber" pelo entendimento
comum na Terra, mas, estando ele de posse de certas forças sagradas, a
todo momento pode conhecer em realidade dentro de si, o objeto do
seu conhecimento.

O saber acumulado e adquirido à maneira terrestre, não é


absolutamente essencial para ele, que aliás é incompatível, a não ser
em casos mui raros, com a Sabedoria espiritual.
30

Quanto mais tenha acumulado esse saber, tanto mais se torna


difícil, para ele, vencer as dificuldades causais que devem preceder
toda "iniciação", quando digna desse nome.

Nunca se deve indagar do “porquê", caso se queira seguir, com


bom êxito, essa "disciplina", onde nenhuma erudição mundana será
capaz de abrir a Porta que acaba por abrir-se àquele que é merecedor.

O verdadeiro “Iniciado", aliás, jamais professa um “sistema", seja


filosófico ou doutrinário.

A Realidade das coisas do Mundo espiritual está aberta ante sua


visão e, quando ele ensina, expõe só essa Realidade dentro da qual não
há, e nem pode haver, qualquer sistema cerebral ou religioso.

Os tais “sistemas", desde que excedem do reino espiritual, io


sempre criações secundárias de outros cérebros, que se apropriaram do
conhecimento de quem os tem adquirido em concentração e pela
autometamorfose.

Que se tome muito cuidado em considerar como espiritualmente


“iniciados", os ditos “pesquisadores de mundos superiores", que, sob
apresentação “científica", fazem ostentação dos resultados de suas
buscas"!

Todos os “investigadores” dessa categoria, que pesquisam o


“oculto", na realidade são escravos, iludidos por sua própria
plasticidade de imaginação. É o caso de uma dessas forças altamente
funestas e perigosas no Homem, que, quando violentamente excitada à
ação, mostra à sua vítima tudo que ela já tenha formado por seus
pensamentos, desejos e receios, e que, amiúde, mui provável
inconscientemente os tenha apresentado à guisa de modelo.

É assim que nasceram todas essas monstruosas “peregrinações às


regiões etéreas" e imaginações de “mundos superiores", que deram aos
“pesquisadores do Espírito" e aos “instrutores do oculto", a fama de
“videntes" misteriosos, mantida religiosamente entre seus seguidores.
31

Resta ainda determinar, caso por caso, o que em suas “revelações"


procura ser intencionalmente acessório ou apenas complementario, o
que, de modo geral, é fácil reconhecer.

Essas imagens de “fantasia plasmadora", sendo facilmente


transmissíveis por contágio psíquico aos aspirantes e discípulos desses
"profetas" e fundadores de seitas, acabam fazendo-os crer que são eles
mesmos que se convenceram espiritualmente da verdade de revelações
dos seus “grandes instrutores", ao passo que, na realidade, o que
existe, é um desses “mestres" que, servindo-se de suas “disciplinas
ocultas", tenha transmitido suas próprias lucubrações no subconsciente
dos seus discípulos pelo processo que não difere do de um hábil
hipnotizador, que faz ver e senti r ao paciente de experiência, tudo que
lhe parecer na ocasião interessante mostrar-lhe.

A redenção ulterior desses logrados torna-se quase impossível.

Há muitos que, em semelhante caso, são de boa fé mistificadores


e, ainda outros tantos, mistificados, sem esperança de salvação.

Se, nesse capítulo, onde se trata de possibilidade da experiência


supersensorial, falo clara e abertamente de todas essas coisas, é
mormente no intuito de oferecer, a cada investigador sincero, critérios
de julgamento seguro.

Falo das coisas que não precisam de nenhum véu; entretanto,


devo falar também dessas que importa serem postas às claras, no
interesse das almas que aspiram à Verdade em sua Realidade
inconcussa.

Oxalá minhas palavras não sejam ditas em vão!

Tomara pudessem elas fazer compreender que jamais um dos


Homens, que vive plenamente consciente na substância do Espírito
puro, profanaria a Sabedoria da Luz que expõe a seus contemporâneos,
por tentativas de argumentação “científica"
32

O que ensina um “Iniciado" em Espírito, está destinado à prova


pela ação e abnegação!

A mensagem que ele traz a seus irmãos “caçulas", às almas da


geração que vivem com ele e viverão depois dele na Terra - sejam
homens ou mulheres -não deve ser analisada cerebralmente, mas
sentida na alma, a fim de que os inúmeros peregrinos possam
encontrar seu caminho ao Espírito. Seu caminho à Realidade!

“*Ou . .”Arquipalavra" -o "VERBO" que estava no princípio com


Deus.

O CAMINHO

Todas as grandes coisas exigem coragem e fé.

Antes que fosses pregado “nà cruz", não poderias “ressuscitar" .

Antes que cresses, não te poderia guiar a nuvem luminosa


através do mar “árido”.
33

Mister será superar muitas coisas, se quiser palmilhar teu


caminho. . .

O oceano em fúria ameaçará tragar-te e o deserto recusar-te-á o


alimento, entretanto, nem o receio nem a dúvida conseguirão reter-te,
desde que tomaste a decisão de entrar no caminho que leva a ti mesmo
e a teu Deus.

Não verás quão difícil é o caminho senão quando nele estiveres!

Mas não te assustes!

Não estás só nesse caminho. . .

Todos os que antes o percorreram te acompanham.

Eles também atravessaram os mesmos perigos!

Não há um só para quem o caminho tenha sido, seja no que for,


menos difícil que para ti!

Ora, eles entraram na “terra prometida". . .

Chegando ao fim da meta dos seus esforços, eles te mandam dos


“cumes sagrados" auxílio e força.

Na luminosidade sublime do seu Deus, irradiam como sóis e, tais


como Deuses, na unidade de todos os sóis num único Sol, iluminam
todos os sóis e todos os Mundos, até estes que, espiritualmente
formados, vivem na Terra, e esses, enfim, que ainda estão revestidos de
seus despojos de Homem terrestre; uma só corrente da Luz substancial
do Espírito, ao atravessar todas as extensões, unifica todos em que
penetra, na mais sublime das comunhões.

No degrau que te é mais próximo, os mais baixos na “escada


celestes”, ficam os Auxiliares que poderiam estender-te a mão
protetora, caso quisesses seu auxílio.
34

Ninguém está abandonado por eles, quem no horror da noite


chafurda entre os pântanos lamacentos, procurando acesso ao
silencioso Templo sacrossanto, onde Deus de Luz a Luz "gera-se" no
mais íntimo da criatura.

Mas, não é do exterior que eles te mandarão seu auxílio;


comungarão contigo no âmago de ti mesmo, quando estiveres
decididamente empenhado no caminho, o mesmo caminho que já
havia percorrido cada um deles no passado, antes de chegar a seu
Deus e estes que agora procuram ajudar-te, também o palmilharam,
embora seus espíritos já estivessem preparados durante milênios para
a mais alta percepção da Sabedoria espiritual.

Quem não for um daqueles, não será capaz de vir em teu auxílio,
mesmo que fizesse milagres após milagres. . .

Muitos serão os falsos instrutores com os quais cruzarás no teu


caminho, "instrutores" que teriam grande necessidade de serem
instruídos, e outros tantos, oradores prodigiosos, ostentando seu
"saber" aos teus ouvidos extasiados.

Também encontrarás mais de um "santo", canonizado por si


próprio, que, devorado pelo orgulho, crê haver cumprido uma ação de
brilho, extraviando outros para sua "santidade", para sua "dignidade"
cheia de empáfia.

Ficarás atordoado pelos mais estranhos "hierofantes", que


procuram deslumbrar a quem atraem pela cintilação complexa e
inquietante dos sinais que, em sua aberração confusa bordam com
lantejoulas nos seus "mantos encantados". . .

Se uma só vez te descuidares, com muita facilidade cairás em


suas redes múltiplas e dissimuladas; e é mui raro que alguém que se
deixe prender possa escapar indene às armadilhas desses
passarinheiros. . .
35

Somente a vigilância constante pode preservar-te desse perigo!

Desconfia de todos aqueles que procuram insinuar que sua


pretensa "sabedoria divina" possa ser ensinada e adquirida do mesmo
modo que o saber sobre as coisas da Terra!

Sê prudente com todos que, com o auxílio de "forças milagrosas",


querem turbar teu entendimento.

Há muitas coisas que, mesmo em nossos dias, aparentemente


"esclarecidos", parecem verdadeiros "prodígios" e, com efeito, o
Homem possui em si, profundamente ocultas, forças realmente
milagrosas. Jamais, porém, o Espírito da Eternidade se tornara assaz
discutível a seu próprio ver, para procurar se "demonstrar" por
"milagres". . .

Se realmente as forças prodigiosas se revelam no Homem, isso


indica apenas que essas forças existem, mas isso nunca pode ser uma
"prova" de que esse Homem "sabe respirar conscientemente" em
Espírito, nem que ele esteja à altura de trazer testemunho da Verdade
que se apóia à Realidade absoluta!

A prova de semelhante testemunho não pode ser feita senão por


"milagre" da sabedoria que se produz dentro da alma, e nada deve
valer a teus olhos como Verdade se não encontrares a confirmação no
mais íntimo do teu ser, e não antes; de haveres cumprido a condição
que dê o direito de obter esta confirmação.

Desconfia também da tolice que imagina possível pela


singularidade de alimento ou pelas práticas de faquir, chegar a
assimilar "mais alta espiritualidade", por vias digestivas e respiratórias.

Os Irradiantes da Luz, cuja luminosidade penetra Mundos,


jamais te aconselharão a adotar semelhante proceder.
36

Assim como nunca te pedirão singularizar-te entre teus


semelhantes ou para te entregares a cerimônias e rituais, tanto
misteriosos quanto obnubilantes.

Nunca te conferirão "graus secretos" nem títulos "honoríficos"


estranhos, que só podem alimentar tua vaidade e gerar em ti
presunções ridículas. . .

Só tem valor para eles, e determina teu grau, o que tens realizado
em ti e para ti se tornou a Realidade.

Outrossim, nunca os verás com atitudes teatrais “em cima de


estrados, nem nas praças públicas arengando a multidão”.

Pelo contrário, auxiliar-te-ão com palavras que poderás pesar e


considerar em silêncio, no teu íntimo, sem estares ludibriado por
insidiosos artifícios oratórios. . .

Ajudar-te-ão em teu trabalho interior, sem nunca se procurarem


mostrar.

Não é necessário que os conheças, caso venhas a encontra-los.


Não é preciso que os encontres em sua forma corporal.

Eles te acharão e saberão ajudar-te, mesmo que duvides da sua


existência'

Pois agem, deveras, por outros meios e não dos tolos vaidosos,
que se engenham em burlar rebanhos de seus seguidores, com ares
cheios de mistério e palavras afetadas e tão vazias, quanto
grandíloquas.

Também, jamais te pedirão nem esperarão de ti uma recompensa


qualquer pelas suas instruções; mais depressa dividiriam contigo seu
último centavo do que aceitariam a metade em troca do auxílio...
37

O que eles têm de espiritual a dar é a propriedade do Espírito, e


ninguém que realmente tem capacidade para isto, aceitaria valores
terrestres em troca.

Só pelo "trabalho" cuja condição básica é o sustento do corpo,


tem-se direito a exigir retribuição monetária.

Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, acautele-se


diante dos charlatões e usurpadores'

Ser-lhe-á fácil reconhecê-los.

É muito mais difícil encontrar os Irradiantes da Luz Inicial!

Quase nunca os verás em seu aspecto terrestre e não os


reconhecerás facilmente entre outros Homens, pois nada de insólito os
denuncia, comprazendo-se no silêncio e apreciando o anonimato. . .

E se fossem constrangidos à vida pública, não poderiam ser


distinguidos de outros Homens honrados que cumprem seu dever
para com o Mundo!

Feliz aquele que neles coloca sua confiança!

Agora, vamos, Ó peregrino, retirar-nos ao silêncio, e mostrar-te-


ei o início do "caminho". . .

Recolhe-te em ti mesmo e dá-me toda atenção, já que estás


preparado para compreender, com a mente alerta, aquilo que te hei de
dizer!

Antes de qualquer coisa, ó peregrino, terás de esquecer muitas


coisas!

Deram-te falsas imagens de Deus e por vãs doutrinas sufocaram


em ti o germe em que, nas profundas águas sagradas de tua alma, ia-se
38

desabrochar um dia a "flor de Lótus", da qual "gerar-se-ia" a Luz,


iluminando-te por toda a eternidade. . .

Do “Espírito que se move na superfície das águas" e satura


espaços infinitos, não te podes aproximar de outra forma a não ser em
ti mesmo!

Senão quando em ti tomar a forma da Luz, como teu Deus, do


seio da Luz poderás compreender a serenidade do seu império.

Aqueles que pretendem sondar-lhe imensidões, não sabem o


quanto se equivocam.

Na sua presunção imaginam aproximar Este que nem os espaços


infinitos dos Mundos bastam para conter, sem desconfiarem sequer
que Dele fizeram um fantoche pelo qual agora estão dominados!

Queremos, contudo, de novo mergulhar em ti a semente da "Flor


de Lótus" eterna. . .

Talvez, doravante possa de tuas forças tirar seu alimento. E


quando a floração estiver no seu auge, o Espírito, gerando-se por Sua
própria substância, vivendo Sua própria Vida, penetrar-te-á para
"nascer" sob o aspecto de teu Deus, sob o aspecto do teu Deus vivente
em ti !

Até esse momento, nada saberás a respeito de “ Deus"!

Não dês crédito àqueles que te falam do Deus dos seus sonhos,
de um Deus que pode ser encontrado no transe do êxtase!

O que dessa forma se percebe, é tão somente a "miragem" do teu


mundo interior!

Ainda não avalias o manancial de riquezas que tua alma recata


em si!
39

Nela estão Contidas "energias" e "poderes", perante os quais, se


eu te pudesse visivelmente mostrar, prosternar-te-ias em adoração,
como o profeta diante da sarça ardente.

Tua alma é a imensidão de cujas profundezas ninguém ainda


sondou o imo; ninguém penetrou os prodígios, ocultos no oceano das
forças da alma! .

Imaginando tua alma como envoltório luminoso, crês estar nela a


sós, exclusivamente tu. . .

Ora, tua alma é como o oceano em que as miríades de gotas de


água estão impregnadas de forças latentes, ou como nuvens de
entidades vivas, formadas de moléculas vibrantes, saturadas de
energias; a ti cabe tornar-te amo e senhor de todas essas entidades.

Enquanto elas não te reconhecem como teu domador impávido,


atordoar-te-ão pela força, que, espantosa, se revelará a ti, obrigando-te
a tornar-te seu escravo.

Terão de te servir quando as domares, mas se te prosternares


ante elas em sentimento de falsa humildade, levar-te-ão a seu bel-
prazer por onde lhes aprouver, pregando-te peças as mais fantásticas.

Elas necessitam da vontade inflexível de quem saiba subjugá-las,


unificando todas elas. . .

Enquanto não as tenhas unificado numa só vontade, não acharás


em "tua alma a serenidade, indispensável para a eclosão da "flor de
Lótus" sagrada.

Do contrário, nunca terás noção do que seja esse silencioso e


tranqüilo Reino do Espírito, que só as forças de tua alma, unificadas
numa única vontade, conseguem revelar e poderás sentir e, às vezes
ver e ouvir, porque, tanto em ti, como em todas as coisas, é por essas
mesmas forças que Ele vive e se manifesta. . .
40

Não saberás, enquanto não tiveres recebido um sinal infalível de


quem, pelo Espírito, te guia, nem antes que tenhas percebido dentro de
ti a presença dos Supremos Condutores espirituais que são os
Irradiantes da Luz perpétua. . .

Por conseguinte, esforça-te, ó peregrino, antes de tudo, em


afirmar em ti a nítida e sólida vontade de chegar a ti mesmo!

Deves, no teu íntimo, afirmar-te, se quiser sentir a afirmação do


Espírito!

Só quando tiveres te encontrado a ti mesmo, acharás teu Deus em


ti!

Em profundo silêncio, com alegria serena e tranqüila abandono,


procura firmar-te em ti mesmo, voltando às costas a todas as imagens
interiores, que tua mente superexcitada e ainda não centralizada,
gostaria que visses!

É mister que, com prazer e toda confiança, te recolhas


inteiramente em ti!

Pois, enquanto não te enroscares e entrincheirares por todos os


lados, como o mar que traça seus limites, tal como a nuvem que se
engolfa em si mesma será em vão o esforço de possuíres tua alma. As
energias da alma só se entregam a quem realmente é digno de
veneração. . .

Não alimentes a ilusão de que poderás alcançar esse resultado


sem o esforço constante, ou esse esforço dirigido apenas para ficar
calmo externamente!

Conquanto Homem terrestre, porque aqui vieste ter, se quiseres


aprender a temperar tua Vontade, deverás entregar-te à ação
diariamente, a fim de capacitar as forças de tua alma a que possam lhe
obedecer, assim como a natureza age constantemente, sem cessar, para
criar novas formas!
41

Nenhuma coisa do mundo exterior é tão insignificante que não


seja capaz de te instruir.

De quaisquer circunstâncias podes tirar proveito, e nenhuma


atividade é tão desprezível que dela não consigas aprender alguma
coisa!

Mas, antes de tudo, deves procurar conter teus pensamentos e


capacitá-los a se convergirem num ponto só.

Nem a solidão do deserto, nem a vida entre as feras da selva, são


mais favoráveis a esse intento, do que a agitação de uma cidade
superpovoada em que és constrangido ao exercício de uma profissão.

Quando aprenderes, mesmo na maior algazarra, a ficar contigo


mesmo; quando com toda certeza puderes mandar teus pensamentos e
em tua vontade; quando teus desejos irem e virem assim como tu lhes
ordenares a ir e vir, então poderás empreender a primeira tentativa de
unificar as forças de tua alma em ti.

E, mesmo assim, ainda acharás resistências múltiplas, de caráter


diverso. . .

Por muito tempo, ainda, será preciso usar obstinadamente e sem


resultado, a tua vontade, mesmo consolidada, antes de conseguir que
as forças de tua alma se submetam ao seu jugo e acabe por não mais
lhe resistir.

Cada uma dessas forças anímicas gostaria de possuir tua vontade


exclusivamente para si. Entretanto, nenhuma delas quer se entregar
benevolamente à tua vontade. . .

Isso te será compreensível quando te convenceres do fato de que


cada uma dessas forças anímicas, embora as consideres todas como tua
"propriedade", intimamente entrelaçadas em teu ser, é uma vontade
anímica independente, dotada de sua própria vontade e de impulso
42

para realizar exclusivamente sua própria manifestação, mesmo em


detrimento de todas as outras forças anímicas.

Não deves perder a coragem durante os, talvez, duros


embates que travarás, freqüentemente vãos, para conquistar a tua
vontade a supremacia, sobre inúmeras vontades, que em tua alma só
querem pertencer-se a si mesmas.

Que jamais careças de confiança em ti mesmo!

E que nunca percas a alegria nem tua plácida entrega!

Todo teu esforço não é senão prova constante de tua paciência e


de força, que tua vontade já as conquistou. . .

Sabe, que só assim, mais dia menos dia, acabarás vencendo!

E alvorada despontará radiante, quando transbordando da


alegria, sentires o jubilo supremo de triunfador!

Então, nos pegos sagrados do Templo, o gérmen da "flor de


Lótus” se abrirá,

Imperceptível para o olhar humano; contudo, teu Guia interno


chamado por

"Anciãos" o "anjo" guardião discerni-lo-á na superfície imóvel e


misteriosa das águas...

Pleno de santa alegria, ele acudirá por seus irmãos e, a partir


desse dia, uma

legião de

Guardiões escolhidos velará as águas sagradas.

É um prodígido que se realizou!


43

O maior prodígio que um Homem terrestre operou; porque é


mais fácil levar um elefante em fúria por uma fina corda de cânhamo
através do mercado no dia da feira, do que unificar as múltiplas
vontades das forças anímicas que compõem a "alma" de todo Homem,
sob a única vontade desse mesmo Homem!

Agora, todavia, e mister que a luz branda da aurora envolva


delicadamente o botão em seus raios suaves, a fim de que logre, intato,
o pleno desenvolvimento de sua floração prodigiosa.

As grandes árvores seculares cercam o misterioso lago do


Templo e protegem o frágil botão dos ardentes raios do sol, que, na
hora, iriam queimá-lo e destruir essa criação apenas desabrochada. . .

As altas muralhas cercando o Templo resguardam-no do vento


queimoso do deserto.

E agora, ó peregrino, mais uma tarefa se abre diante de ti!

Este trabalho, também, exige uma calma exterior sem


precedência e o mais profundo recolhimento.

Poderás empenhar-te nessa tarefa depois, ou antes, do teu labor


cotidiano, nas horas tranqüilas do despertar ou no silêncio da noite.

Virá o momento de começar a questionar lenta e suavemente e,


em seguida, a escutar no teu íntimo.

Para isso qualquer tranqüilidade será pouca.

O que em ti está oculto, em breve há de se revelar, e não o


poderás receber na confusão dos choques de pensamentos.

Isso está no teu imo, todavia, não poderás ainda ouvir sua voz,
sendo ela como o chilrear longínquo de um pássaro. . .
44

Toma cuidado para não a espavorir. . .

Presta atenção ao menor som!

Se não souberes guardar silêncio, ser-te-á impossível ouvir essa


voz.

Do início tão baixinho responde às perguntas, que o mais leve


sopro basta para abafá-la. !

Porém, dia virá em que aprenderás a ouvi-Ia e distingui-la' de


todas as outras vozes interiores.

E, quando a ouvires, não será como se ela viesse de fora.

Nem por vocábulos comuns ela te falará, nem em qualquer


linguagem terrestre.

No, entretanto, o que a voz te dirá, será muito mais claro e


compreensível do que tudo o que desde tua infância ouviste falar!

De ora em diante, seguirás esta voz. . .

Todo o progresso no caminho dependerá unicamente da tua


fidelidade.

Pouco a pouco, reconhecerás que tua vontade não serve apenas


conforme teu entender terrestre; e, sem que te aperceba, ela seguirá
mesmo as instruções superiores do Espírito, obedecendo à vontade
desta voz. . .

Mais e mais fundo mergulharás nas profundezas de tua alma.

Quanto mais tiveres conhecimento, tanto mais terás intuição do


que ainda é velado.
45

Com todo carinho e gratidão, mantém vivo, por menores que


sejam, as impressões que sentires no imo da alma, pois, maior será tua
gratidão, ao receberes pouco, e mais depressa a alma trar-te-á a
plenitude de vivência.

Acabarás vislumbrando o reino das maravilhas interiores, das


quais nenhuma descrição será capaz de dar-te uma idéia sequer...

Coisas "impossíveis", que hoje, com muita razão as consideras


assim, entrarão na tua vida.

Contudo, ficarás ainda mais deslumbrado, quando constatares


que tudo está em teu poder, e que não mais terás de esperar, na
incerteza, pela manifestação a que aspirar, porque a cada momento ela
se fará notar, realizando-se pela sua própria força. . .

Se for constatado que tens seguido fielmente as instruções


internas, então no lago sagrado do Templo a " flor de Lotus" se abrirá
mais e mais.

E não tardará o dia, ou pelo menos, não estará bem longe, em que
a flor, já totalmente desabrochada, brilhará nas águas, irradiando tal
fulgor que, de certo, não poderia emanar do sol da Terra. . .

Eis que o despontar glorioso da aurora veio, ó peregrino, e teu


Deus, agora, se manifesta em ti revelando-se em teu “EU”

Ele “nasce" em ti e tu “Nele" "nasces". . .

O que está se operando espiritualmente é um mistério, mesmo


para quem sabe contemplar em Espírito.

Contudo, não serás ainda capaz de passar Sem os conselhos de


teu Guia interior, mas, a partir deste dia, estarás com ele unido de
maneira diferente.
46

E, talvez, te seja dado, caso tenhas aptidões especiais, vislumbrar,


face a face, a imagem do teu Instrutor, magicamente formada, já na
ocasião em que a semente da "flor de Lotus" germinará em ti.

Não é ele mesmo, quem te aparecerá.

São certas forças “mágicas" de tua alma, que ele modela pela sua
vontade à sua imagem e semelhança.

Sejas agradecido se teu Instrutor puder, dessa maneira, mostrar-


se a ti e por intermédio desta imagem ensinar-te de forma tão clara,
que não terás a mínima dúvida de entender.

Porém, não te aflijas se nessa vida não te for dado vislumbrar sua
Imagem.

Raríssima vez lhe é possível manisfestar-se na forma, mas sem


embargo fá-lo-á sempre que julgar benéfico para tua redenção e, não,
para que te sintas induzido à tentativa de fazer uso insólito das forças
“mágicas" de tua alma, no intuito de invocar outras “imagens". . .

Melhor será que nunca vejas a imagem do teu Instrutor, se o uso


que ele fizer de tuas forças anímicas forem a causa delas se tornarem
vínculos aos poderes da ilusão!

Se não te for dado perceber exteriormente, no teu íntimo sentirás


sua presença muito mais forte e de maneira tangível. . .

Todavia, a partir do momento em que teu Deus "nasça"em ti e tu


Nele "nasças", teu Conselheiro espiritual, em união com a voz de teu
Deus e contigo, revelar-se-á na mais elevada vida do Espírito. . .

Durante o tempo em que estiver contigo, julgarás estar


totalmente identificado com ele.

Cessará de te conduzir ensinando, contudo, abrir-se-á e poderás


colher do tesouro da sua vida interior, tudo o que ainda te falte.
47

Mas, acima de tudo, brilhará o sol da alegria divina, tão radiante,


que todas as lutas pela iluminação que, angustiado, sofrias antes de
estares no caminho à Luz, olharás como inverossímeis os "tormentos
infernais" pelos quais passaste.

Diante de ti vês a eternidade, cujas maiores profundezas deixam


pressentir coisas mais profundas ainda e sabes que, em união com teu
Deus, seguirás eternamente através das suas mais ignotas maravilhas.

Quando no mundo da matéria estiveres na dor ou na alegria, isso


já não fará diferença, como dantes, quando eras Homem da Terra,
apenas. Mas sim, teu Espírito, uno com teu Deus, achar-se-á tão
engrandecido, além de tudo o que é humano, que tua alma se tornará o
“ Reino" da Eternidade, um Céu dentro dos Céus!

Isto, ó peregrino, é um traço do "caminho". Caminho que te


comprometerás a seguir se é que anseias a chegar a teu Deus!

Esse "caminho" está dentro de ti em teu próprio "Eu". E é a única


via que te levará ao alvo supremo ao "despertar" no Mundo do
Espírito!

Se tu não fores, cá na Terra, suficientemente "despertado" para


esse Mundo, “do outro lado", após findar teus dias terrestres, terás por
muito tempo ainda de "continuar dormindo", antes que te seja possível
"despertar", arrancando-te dos sonhos que por ti mesmo plasmastes, e
que poderiam guardar-te sob seu encanto através dos eons.

Agora, escuta mais um conselho:

A partir do dia em que te decides a percorrer o "caminho",


podarás um sólido cajado para te apoiar enquanto caminhas. . .

Acharás a "madeira que convém" se vieres a descobrir, pela tua


sensibilidade, a "energia da Palavra", tal qual se encontra em qualquer
idioma na Terra.
48

Escolhe palavras que falem a teu coração, palavras pelas quais


sentires estar "impressionado", "elevado", "penetrado". . .

Reserva-te em cada dia um momento, se for possível sempre à


mesma hora, em que possas, ensimesmado, unir-te ao Espírito dessas
palavras; e quando meditares, que não sejas perturbado por coisa
alguma deste mundo.

Nessa hora de quietude, concentra-te, o tempo que for, nas


palavras que te "impressionaram", exercitando teu pensamento sobre
elas à guisa de flautista que treina incansavelmente sobre o mesmo
tom, até que as notas se tornem as mais puras.

Encontrarão neste livro muitas palavras que te poderão servir


para o "exercício" da tua mente.

De também outras, algures.

Mas, não é necessário que te prendas só às minhas palavras. Os


“Livros Sacros" da Humanidade estão repletos de aforismos que são
capazes de "emocionar-te" e "elevar-te" até eles.

Em verdade, os poetas e Sábios contribuíram bastante com


muitas dessas sentenças!

Contudo, pode haver um perigo: essas palavras também


exprimem falsas doutrinas, que a falta de compreensão e a fantasia
geral engendraram, como de costume, sob a efígie da Verdade.

Por isso, aconselho, de início, sejam escolhidas, de preferência,


palavras entre os meus escritos, caso queiras confiar-te à minha
instrução.

Para começar, procura, como já te disse, sondar pelo


"pensamento" o fundo dessas palavras.
49

Em seguida, tenta, concentrado sobre elas, achar a maneira de


pensar “sem palavras".

Não dês uma trégua sequer, antes de saberes, pela “percepção”


direta, se de fato penetrares profundamente no sentido dessas
palavras.

Grava-as na mente, separadas uma das outras, as que


anteriormente terás copiado com teu próprio punho, em boa letra.

Sente as palavras, de tua escolha, como se fossem tuas próprias


palavras!

Experimenta criar um estado de alma e de espírito de quem as


escreveu pela primeira vez.

Procura despertar teu ouvido interior, tentando, no mais íntimo


do teu ser, "ouvir" o som das palavras!

Quando em todas essas formas de percepção notares certo êxito,


poderás prosseguir no teu caminho, mas nunca antes! Mesmo se o
tempo for longo para se obter este resultado.

Precata-te de querer “às pressas" progredir prematuramente! Sei


que presumes possível, com certo esforço, chegar “em algumas horas"
a todos esses resultados. . .

Talvez estejas já convencido, enquanto recebas minhas instruções


iniciáticas, de não precisares absolutamente desse exercício de
percepção interna. . .

Muitos que, outrora, quiseram percorrer o caminho, sucumbiram


desde o primeiro passo, porque assim pensaram a respeito.

Aqui se exige bem mais do que à primeira vista te possa parecer!


50

Forçosamente, pois, muitas coisas bem diferentes são expressas,


amiúde, por palavras idênticas.

Não se trata do que os poetas chamam ”sensibilidade da língua",


o que aqui se exige de ti; se bem que o Homem, que sabe sentir o som e
a cadência de um idioma e percebe o valor das palavras, já está no
meio do caminho, por ter compreendido de que tarefa se trata.

Mas quando realmente tiveres atingido o que importa discernir,


então, uma nova expansão de sensibilidade e uma lucidez de
consciência a respeito de tua existência serão tais, que te conferirão a
certeza de estares a salvo de todo perigo de automistificação.

Continua mais um pouco para diante, ó tu que segues o maior e


mais sublime de todos os alvos humanos!

Agora, teu esforço será entregue ao sentires com teu corpo


inteiro, as palavras vibrarem em ti.

Em todo teu ser essas palavras hão de se tornar viventes.

Não somente em tua alma deve penetrar o "espírito" dessas


palavras, mas em teu corpo todo e em cada uma das suas fibras,
começarás agora a senti-las!

Em todo teu eu, com teu corpo e tua alma, essas palavras terão
que se fundir num único ser!

Teu corpo tornar-se-á corpo das palavras, como se fora delas


existisse vivo!

As forças de tua alma, já homogenizadas firmemente em tua


vontade, juntar-se-ão às palavras que escolheste e sentirás como se
fosses a consciência mesma dessas palavras!

Terás então conquistado muito no teu caminho!


51

Pela primeira vez sentirás o que é a “Vida" que te anima e em


todo ser vivente.

Será como se fosses transladado para uma nova Terra, mundo


novo, de cuja existência nunca tivesses suspeitado. ..

No teu intimo reconhecerás que tudo o que os Homens chamam


na Terra de "estado de vigília", na realidade é um pesado profundo
sono, apenas um sonho confuso.

Transformar-te-ás em novo Homem e adquirirás tal consciência


de ti mesmo que jamais poderia ser comparada com a tua consciência
atual.

Como à luz soberana do sol resplandecente do nadir aniquila-se


uma tocha acesa, assim será dissolvida e aniquilada na nova
consciência, o que ainda hoje chamas de tua "consciência".

Saberás, então, porque o Sábio fala de "Vida" como da 'Luz" dos


Homens e compreenderás o magno sentido dessas palavras, por
diferentemente que sejam interpretadas:

"No princípio é a Palavra, e a Palavra está com Deus,

Não te rebaixes ao nível do animal e sabe dominar, sempre, teus


apetites com toda firmeza, para que eles jamais possam te subjugar
contra tua vontade; mas, também, não murcha blasfemando o Mistério,
cuja pureza não poderás compreender, enquanto não fores
espiritualmente despertado!

Não foi sem razão que os sacerdotes de cultos antigos, após


haverem sondado as profundezas das causas, proclamaram a
santidade dos símbolos de procriação, pois, de fato, outras coisas
honraram nesses símbolos do que simples imagens da Natureza
eternamente prolífera. ..
52

A obstinação, no entanto, é recomendada, no caso da


impetuosidade excessiva dos teus instintos poder tornar-se causa de
detrimento para ti ou para outrem.

Contudo, é imperioso absteres-te de todos os vícios, pois eles


seriam capazes de travar teu caminho, para depois abafar em teus mais
nobres esforços dirigidos ao Espírito.

Evita tudo que possa prejudicar-te ou prejudicar os outros!

Evita também todo pensamento sem amor!

Ama-te a ti mesmo! Pois, se não souberes amar-te, em verdade,


pouco de bom farás ao teu próximo quando o"amares" como a ti
mesmo.

Segue teu caminho, teu próprio caminho, e deixa cada um


percorrer o seu, mesmo que suas metas estejam muito aquém das tuas!

Não sabes quando a hora dele soará e não tens nenhum direito
de perturbá-lo em seu sono, antes da hora chegada. . .

Quanto a “despertá-lo", não lograrás fazê-lo, pois ninguém


acorda desse sono antes da sua hora soar.

Mas, quando os ponteiros marcaram a hora, ele mesmo virá


pedir-te para ensiná-lo.

E somente então se permitirá que o faças!

Pois só então os Irradiantes da Luz Inicial estarão ao teu lado,


apoiando e tornando tua ajuda eficaz.

Não és chamado do seio do Espírito para encaminhar almas para


o Reino do Espírito; e aqueles que são para isso designados, jamais
obrigarão ninguém a se confiar à sua diretriz!
53

Vai, pois, com toda serenidade e percorre teu caminho para ti


mesmo!

Ele te levará ao reino da tua alma, de onde teu Conselheiro


espiritual te conduzirá ao mais elevado alvo dentro de ti mesmo. . .

O caminho para ti mesmo é o caminho para Deus!

Nunca atingirás Deus se não O achar, tal qual é em ti mesmo!

Agora, dar-te-ei mais algumas indicações que te permitirão


conhecer a ação do Reino do Espírito na Terra; outrossim, falar-te-ei de
outras coisas veladas, isso se quiseres, com toda sinceridade, saber a
respeito das verdades de ordem espiritual.

Colocar-te-ei algumas grinaldas nas portas de tua morada.

Grinaldas trançadas com flores que achei nas minhas vias, nos
cumes mais elevados e, ao chegar ao último passo, no meu jardim
florido.

Não destrança minhas grinaldas e deixa cada flor no lugar onde a


enfiei!

Sem isso, não terás o discernimento claro sobre a única e grande


Realidade que todas as palavras deste livro estão te afirmando. . .

E não poderás penetrar o arcano que, diante de ti, discretamente,


se desvenda agora:

O segredo da Vida divina no Homem e o Mistério magno do


Deus Vivo na Terra e Deus é a Palavra". . .

"Nela tudo vive, e Sua Vida é a Luz dos Homens".


54

"E a Luz brilha nas trevas, e as trevas não a podem apagar”.

Bem sabia o que dizia, aquele que transmitiu essas palavras, e tu,
quando chegares a essa altura do teu caminho, também sabê-lo-ás. . .

Pois, em verdade, o "Reino dos Céus vê-se constrangido a ceder


diante aqueles que sabem usar de coação"!

Mas, enquanto não tiveres dominado tua impaciêr1cia e


perseverado no treino de tuas forças anímicas, não poderás esperar
êxito algum.

Não creias, sobretudo, que uma feroz vontade de


constrangimento ou um esforço violento possam aproximar-te do teu
alvo.

Não é dessa maneira que deves interpretar minhas palavras!

Serenidade e plácida alegria devem estar inseparáveis do teu ser


e a atenção toda focalizada para o interior de ti mesmo, a fim de que
possas adquirir essa percepção imponderável, da qual já te falei
anteriormente.

Mais do que tens, precisarás de muita força para "dominar- te" e


não soltares as "rédeas" que freqüentemente usarás, freiando-as, a cada
passo, para poder realizar fora, muitos atos heróicos. . .

No, entretanto, se tens passado com grau satisfatório por tudo do


que já te falei e, posteriormente, quiseres fazer o que ainda se exige,
então posso te garantir que um dia também estarás entre aqueles que
dentro de si vivem, conscientes, o Mistério do “Reino dos Céus".

Ora, começa então a escalada abrupta do teu caminho!

Oxalá, uma incansável resistência te acompanhe até o fim! O


augusto amparo ser-te-á cada vez mais próximo. . .
55

Não voltes a considerar a vida plena de dores e alegrias, de


fracassos e méritos que deixaste atrás de ti!

Sabe, também, que é indiferente, para o cumprimento do teu


dever, que tenhas conquistado toda a ciência da Terra ou que sejas o
último dos ignorantes.

Não procures ser diferente, em coisa alguma, do resto de teus


semelhantes e não acredites que um modo insólito de viver, estranho
aos costumes de seu tempo e do lugar, possa ser-te proveitoso, seja no
que for.

Bem como a maneira de te alimentar, que não pode ser nociva ou


benigna para a escalada do caminho, contanto que seja de natureza a
manter teu corpo sadio e vigoroso.

Se queres te abster de comer carne, podes abster-te e se desejares


renunciar às bebidas alcoólicas, que renuncies também; mas não te
iludas pensando poder, dessa forma, tornar-te Homem mais “puro" ou
"superior"!

Da mesma forma, com respeito ao amor dos sentidos, entre


homem e mulher.

Não te rebaixes ao nível do animal e sabe dominar, sempre,


teus apetites com toda firmeza, para que eles jamais possam te
subjugar contra tua vontade; mas, também, não murcha blasfemando o
Mistério, cuja pureza não poderás compreender, enquanto não fores
espiritualmente despertado!

Não foi sem razão que os sacerdotes de cultos antigos, após


haverem sondado as profundezas das causas, proclamaram a
santidade dos símbolos de procriação, pois, de fato, outras coisas
56

honraram nesses símbolos do que simples imagens da Natureza


eternamente prolífera. . .

A obstinação, no entanto, é recomendada, no caso da


impetuosidade excessiva dos teus instintos poder tornar-se causa de
detrimento para ti ou para outrem.

Contudo, é imperioso absteres-te de todos os vícios, pois eles


seriam capazes de travar teu caminho, para depois abafar em teus mais
nobres esforços dirigidos ao Espírito.

Evita tudo que possa prejudicar-te ou prejudicar os outros!

Evita também todo pensamento sem amor!

Ama-te a ti mesmo! Pois, se não souberes amar-te, em verdade,


pouco de bom farás ao teu próximo quando o"amares" como a ti
mesmo.

Segue teu caminho, teu próprio caminho, e deixa cada um


percorrer o seu, mesmo que suas metas estejam muito aquém das tuas!

Não sabes quando a hora dele soará e não tens nenhum direito
de perturbá-lo em seu sono, antes da hora chegada. . .

Quanto a “despertá-lo", não lograrás fazê-lo, pois ninguém


acorda desse sono antes da sua hora soar.

Mas, quando os ponteiros marcaram a hora, ele mesmo virá


pedir-te para ensiná-lo.

E somente então se permitirá que o faças!

Pois só então os Irradiantes da Luz Inicial estarão ao teu lado,


apoiando e tornando tua ajuda eficaz.
57

Não és chamado do seio do Espírito para encaminhar almas para


o Reino do Espírito; e aqueles que são para isso designados, jamais
obrigarão ninguém a se confiar à sua diretriz!

Vai, pois, com toda serenidade e percorre teu caminho para ti


mesmo!

Ele te levará ao reino da tua alma, de onde teu Conselheiro


espiritual te conduzirá ao mais elevado alvo dentro de ti mesmo. . .

O caminho para ti mesmo é o caminho para Deus!

Nunca atingirás Deus se não O achar, tal qual é em ti mesmo!

Agora, dar-te-ei mais algumas indicações que te permitirão


conhecer a ação do Reino do Espírito na Terra; outrossim, falar-te-ei de
outras coisas veladas, isso se quiseres, com toda sinceridade, saber a
respeito das verdades de ordem espiritual.

Colocar-te-ei algumas grinaldas nas portas de tua morada.

Grinaldas trançadas com flores que achei nas minhas vias, nos
cumes mais elevados e, ao chegar ao último passo, no meu jardim
florido.

Não destrança minhas grinaldas e deixa cada flor no lugar onde a


enfiei!

Sem isso, não terás o discernimento claro sobre a única e grande


Realidade que todas as palavras deste livro estão te afirmando. . .

E não poderás penetrar o arcano que, diante de ti, discretamente,


se desvenda agora:
58

O segredo da Vida divina no Homem e o Mistério magno do


Deus Vivo na Terra.

A I N SOPH

“Ain Soph”, isto é, O que é por si mesmo o Espírito que abarca


tudo em si.

Entretanto, são as forças do Universo as “causas" dos múltiplos


“efeitos”, e é isso que vos tem induzido ao erro de procurar uma causa
primária.

Ora, jamais houve “causa primário” no sentido que vós o


entendeis!

“Deus" se cria, eternamente, no seio do caos, dos elementos do


Ser!

Nada ai é “causa" e nada é “efeito"!


59

Só a Vontade livre e consciente do Espírito, que se forma por si


mesma, “Deus" se volta para ela!

Projetadas do seio do Arqui-Ser* os elementos do Ser agem


caoticamente e se manifestam como Energias as mais potentes e mais
criadoras da Natureza primordial.

Lá, é instintiva e impulsivamente que agem esses elementos, sem


consciência própria dentro da sua ação.

Lá, eles já estão separados uns dos outros, e cada um desses


elementos visa afirmar-se a si próprio.

No entanto, essa vontade de afirmação de cada elemento, no


momento da separação, determina a formação de um pólo e de um
antepolo que, partindo de uma atração mútua através do tempo
terrestre, incomensuravelmente extenso, acaba preparando sua re-
união. . .

Na alma do Homem terrestre, desde então, a unificação de todos


os elementos do Ser Arquétipo torna-se urna Realidade, quando a
vontade do Homem colabora para este fim por seus próprios esforços.

Aquilo que no teu coração se agira e se arroja à formação,


arrebatando e estimulando-te constantemente com essa tendência
imperiosa de atingir seja o que for, é que reconhece a finalidade das
forças do Ser Inicial; forças que, uma vez individualizadas, procuram
de novo unir-se em ti.

Contudo, entre esses elementos, que, em alta formação necessária


à tua consciência, revestem aspecto de tuas forças anímicas, existem
ainda numerosíssimas vontades a assaltar-te. . .

Ainda não és tu que estás dentro da vontade soberana que sabe


unificar todas as outras vontades em si. . .
60

Tudo o que em ti diz "Eu" para o exterior e o que interiormente


sentes como teu "Eu", é uma dessas vontades numerosas, que devem
ser unificadas na luminosidade da centelha divina que é a consciência
de ti mesmo. . .

É só no estado consciente de ser, que a consciência divina pode-


se manifestar de novo em elementos do Ser Original!

Da terrificante agitação da Natureza primordial -tanto no visível


como no invisível, até a unificação no consciente do Homem terrestre
(e as "Terras" são numerosíssimas), o itinerário dos elementos do Ser
Inicial leva-os para o alto, para um novo estado de ser, divinamente
consciente.

Mas, o que tu possas perceber através de teus sentidos físicos e, o


que chamas de "forças da natureza", são, na realidade, um produto, um
reflexo, um mero testemunho da influência recíproca dos elementos do
Arqui-Ser, e de maneira alguma, algo idêntico a esses elementos.

O que tomas por "realidade" do Universo visível e invisível, e é


tão somente "real" enquanto representa a ação do Ser Original,
manifestada em diversos graus de formação dos seus elementos.

O Ur1iverso só "existe", onde "estão" os elementos do Ser


Primordial e, sem embargo, não existe "por si mesmo!”

Ainda falaste de um "Deus", "Fator" de todas as coisas, que, para


se honrar, "criou do nada" um Mundo infinito e para honrar-se
"mantém" esse Mundo.

Ora, tal representação de Deus, e semelhante explicação da


existência do Mundo, eram perdoável nos tempos primitivos, quando
não se conhecia nada de tudo isso que, hoje, chegaram a testar os
elementos do Ser Original, quanto às suas final idades; fato que devia
induzir vosso pensamento a se liberar, enfim, dessas concepções
obsoletas.
61

Querer ainda hoje a elas se prender é tanto tolice quanta


profanação!

"Deus" é tão somente o Fator de si mesmo, e tudo que "é" e tudo


que realmente "É", é ser do seu Ser!

"Deus" não é o criador senão de Si próprio e não, como


imaginaste, o fabricante de Homens e de coisas!

As energias plasmadoras de todos os Mundos e todos os sóis são


formas do Espírito, que sendo os elementos do Arqui-Ser - vivem no
tempo e no espaço e se cristalizam em formas tempo-espaço,
manifestando-se apenas a título temporário e sempre condicionadas
pelo espaço. . .

Ora, os elementos originais do Ser são constantemente projetados


do seio do Ser Inicial e sem cessar retornam a Ele.

Assim foi desde a eternidade e assim será para toda a Eternidade!

Sempre alternando os efeitos, os elementos do Arqui-Ser se


afirmam: ora produzindo os fenômenos, ora destruindo-os.

Eles mesmos, entretanto, seja qual for a variedade do seu modo


de ação, "são" de eternidade em eternidade e ninguém os “aciona”...

Jamais houve "início", e jamais haverá fim dessa Vida perpétua!

Todo o imenso Universo, impregnado de formas, com tudo que


contém de visível e todo o invisível que não se percebe, é apenas um
jogo de ondas do eterno "oceano" espiritual, de cujo seio se levanta, por
sua própria força, a nuvem da divindade!

“ Deus" é a condição do Universo, e o Universo é a condição de


"Deus"!
62

O "movimento perpétuo", que sábios e loucos têm esperado


descobrir, já existe, portanto, não pode ser outra vez "descoberto”...

Aqueles que perseguiam esta “des-coberta", apenas de leve


supunham -se bem que numa concepção de pigmeus, a existência do
Ser, "Todo" incomensurável, Ser que "É" por si mesmo, sem "começo" e
sem "fim", a eterna "vida" em curso cíclico do Ser!

*Ser I nicial-Arquetfpico, eternamente Original, perpetuamente


Primordial.

EM BUSCA DE DEUS

Ainda procuras um Deus em longínquas imensidões. . .

Ora, eu te digo:
63

Antes que teu Deus tenha "nascido" em ti e tu Nele tenhas


nascido", não O acharás em parte alguma!

Enquanto Deus não se "gerar" em ti, é em vão que, nos espaços


infinitos, ressoem teus apelos dilacerantes a Ele.

Disseram-te que o Homem é um "deus" disfarçado, e é suficiente


que ele se reconheça, para se achar "Deus" por toda a Eternidade.

Os que sustentavam tais propósitos, estavam bem mais longe de


Deus do que eles mesmos supunham!

Tu não és "Deus", embora só em ti, nesta Terra, Deus possa


manifestar-se. E só então estarás unido a teu Deus, como num cântico a
palavra é unida ao sentido!

Então, nada mais poderá separar-te de teu Deus!

Para a Eternidade Ele permanecerá "vivo" em ti!

Por isso, não mais O procurarás nos espaços infinitos, nem no


mundo inacessível, além de todos os astros!

Quanto mais O procuras, tanto mais provas que teu Deus não se
“formou” em ti !

Só quando O "conceberes" em ti, cessarás de procurá-lo.

Nada é mais necessário do que a "busca de Deus" !


64

A maior das tuas tarefas é encontrar em ti o caminho, pelo qual


Deus poderá vir ao

Teu encontro! ,...

Procura, então, preparar tudo em ti, para que teu Deus possa
unir-se contigo!

Vê !A Vontade do Espírito eterno que tudo abarca e "vive"


em ti, te "quer" para um

dia poder, como teu Deus, "gerar-se" a si próprio em ti!

Que o "Advento", Tempo da Preparação, esteja, de agora em


diante, em tua alma, pois tu és "Belém" na qual nascerá teu Rei que te
poderá libertar, e só Ele, poderá libertar-te!
65

DA AÇÃO E DA OBRA

O que deves é ser ativo e trabalhar no caminho, até onde a força e


aptidão permitirem que ajas e trabalhes dentro de ti.

Quando estiveres unido ao teu Deus, toda a tua vida será, então,
uma única obra e ação; tu mesmo serás ação e obra!

"Deus" é um fogo vivo!

Nele, tudo que apodrece e estagna na inação, é destruído. A


Vontade do Espírito não pode "gerar-se" em ti, para aí se tornar o teu
Deus, se não és agora tão ativo como se já estivesses unido a Ele. . .

Teu Deus será um Deus de força e audácia, e jamais um Demônio


de desejos impotentes e dilacerantes angústias.

Oxalá, teu amor sempre esteja em ação tão fecunda, como o


Espírito que, em incessante obra, eternamente se fecunda a si mesmo!

Mas como podes esperar unir-te a teu Deus, se teu amor d'Ele

se afasta?!

Só chegarás a comungar com teu Deus, quando estiveres preste a


realizar a União d'Ele contigo, porque o Deus Vivo não é um Deus de
sonhadores ou de visionários!

Somente em almas já despertas é que lhe é possível "gerar-se".


Sua Luz é por demais radiosa para que as almas crepusculares possam
suportá-la.

Une, então, as forças de tua alma e prepara-te para uma ação


suprema!
66

Cumpre tudo o que tens de fazer aqui, na Terra, e age tanto


quanto humanamente te é possível!

Deste modo, livre de receios, um dia encontrará teu Deus - e é em


ti que encontrarás teu Deus Vivo.

Tu não estarias vivendo se a "Vida", que é "ação" do Espírito , não


estivesse agindo em ti. . .

Tua vida é tão-somente "eterna", porque toda "ação" do eterno


Espírito, tanto quanto Ele, é eterna.

Tu és, entretanto, temporário, estando em manifestação temporal


neste mundo terrestre, e teu dever terrestre é lapidar o temporal no
temporal que te rodeia, assim como tu és eternamente lapidado no
eterno pelo eterno!

Só pelo trabalho incessante em ti mesmo, poderás considerar-te


experimentado, e segundo as exigências da alta direção que te guia,
será dentro da ação que hás de ser preparado, se quiseres" que teu
Deus "nasça" em ti.
67

DA SANTIDADE E DO PECADO

Aqueles que deveras conhecem os derradeiros fins, têm


demonstrado, em todas as épocas, um certo desdém pela vaidade e a
falsa humildade dos “santos-homens"; não obstante saberem fazer
distinção entre as gabolas de virtudes e as almas realmente grandes
que algumas vezes, são qualificadas de “santos". . .

Procuram eles Homens altivos, Homens que saibam viver com


cabeça erguida,e não miseráveis, mendigando às portas dos esplendor
divino, nem almas dolentes por penitências!

Querem eles ver Homens que saibam moldar sua vida à guisa de
obra-de-arte, e não os que sucumbam sob seu peso, como as bestas de
carga sob seu fardo.

A quem as culpas e os pecados são capazes de afastar do


caminho, indigno será de cingir a coroa de louros!

Quem quer combater até alcançar a grande Vitória, não deve


importar-se com a poeira que todos os dias macula sua roupa. . .

Aquele que andam sempre pensando em tirar as manchas do seu


paletó, não demorará muito a perder de vista seu alvo supremo. . .

Naturalmente, não aconselho ninguém a chafurdar na lama, mas,


se quiseres alcançar tua meta, terás de te libertar das preocupações com
a poeira e pequeninas impurezas às quais, cada dia, ao longo da
estrada, tuas roupas estarão sujeitas.

Teu pé escorregará sempre no mesmo lugar, tua atitude será


sempre indecisa, se deixares te afligir com as faltas que, aliás, jamais te
será possível completamente evitar.
68

Quanto ao “santo-homem", assemelha-se a quem, ao torcer os


tendões, jaz impotente no caminho, sonhando, de olhos abertos, que
voa.

Ah! Antes preferiria te ver afundando até o pescoço em culpa e


pecado do que alguma vez enfrentar o perigo de ver-te ornado tal
"santo-homem"!

O melhor da tua força fica perdido ao quereres imitar um “santo-


homem" e, sobretudo, ao procurar manter-te "livre de todo o pecado”.

Ficarás incapacitado de empregar tuas forças, se tuas


preocupações constantes se limitam a evitar todo erro, pois, na ocasião
em que realmente decidires entregar-te à ação, sem querer cairás tanto
no erro como no pecado.

Todavia, como o pó do mármore que cobre o atelier do escultor


não pode de modo algum diminuir o valor da sua obra de arte, assim
teu "Eu", que te esforças para esculpir na "pedra bruta", não será
depreciado pelo fato de o pó e o cascalho se acumularem em volta, até
que, por fim, sua forma aparece, nítida em toda sua pureza, sob a ação
do teu cinzel.

Esquece o “pó" e o "cascalho" do atelier e só pensa na "obra"


de alta beleza e durabilidade que hás de fazer da tua existência!

E, quando no teu caminho tropeçares sem querer e caíres muito


baixo levanta-te depressa e esquece que alguma vez caíste!

E, caso tua vontade de induza a cair, não deve haver outra


preocupação a não ser essa de levantar-te imediatamente!

É inútil o teu "remorso" depois da queda, ao passo que um


levantar enérgico ajudará a adquirir proteção, ensinando-te a evitar,
obstáculos, para que a queda não mais se repita. . .
69

Em verdade, quem está seguro de trazer em si força para se


levantar após a queda, progride melhor do que quem sempre,
angustiado, vive se esforçando para evitar cuidadosamente todo passo
em falso !

Nada pode no teu caminho prejudicar-te, a não ser o receio de


repressão das forças por uma falta cometida e, por sua vez, esta
repressão só nasce do teu temor.

Segue avante, com amor e livre de qualquer receio -mas que teu
amor não consuma as forças de resistência, tão necessárias à tua
ascensão.

Sê bom sempre para com tudo que vive, mas para um tigre a
bondade é uma arma bem apontada, pois não deves fazer sofrer a
quem por necessidade tens que destruir!

Tua bondade e teu amor devem ser livres, pois, do contrário,


tornar-se-ão vícios!

Livre é só aquele que se faz livre!

Nenhum "deus" exterior, de além das estrelas, tal como tua


imaginação o pintou poderá libertar-te!

Por isso: ajuda-te a ti mesmo e serás também amparado por te


Deus -teu Deus que, em ti, "se formará" um dia!

Por ti forjaste teus fantasmas e por ti mesmo terás de destruí-los!

Muitas coisas ainda te parecem "culpas" e "pecados", mas que, de


fato não merecem esse estigma infamante; entretanto, há outras que as
consideras superficialmente e nas quais mesmo instaladas tua
"virtude'" quando são elas precisamente, as tentações que te arrastam
para a perda. . .
70

Nunca deves buscar a "tentação", mas também de maneira


alguma imitar o "santo-homem", que enfeitiçou seu olhar a tal ponto
que só vê "tentações" em seu redor.

De cabeça erguida, vai seguindo o caminho e sabe que não podes


ser melhor protegido que quando és capaz de confiar em ti mesmo!

Então, nenhuma "culpa", nem um "pecado" poderão impedir tua


marcha; até que amparado pelas forças do Alto, atingirás um dia o alvo
que está dentro de ti!

Contudo, advirto e aconselho-te:

Antes procurar o erro e o pecado do que aspirar à "santidade"!

O MUNDO OCULTO

Até esta página, mencionei só dois aspectos do invisível: a alma,


que se expande em forças anímicas e o Mundo do Espírito do qual tens
a origem e, se queres chegar a Deus e alcançar a paz que o mundo não
te poderá dar, haverás de reencontrar.
71

Todavia, resta-me ainda falar de um outro “invisível" o mundo


invisível de matéria fluídica que te cerca e envolve todas as coisas em
suas diversas formas de manifestação, tanto visíveis como invisíveis.

Esse “invisível" é uma parte raramente conhecida do nosso


mundo físico, embora seja incomparavelmente mais extensa. ..

Através desse “invisível", no início, terá de passar, como uma


“ponte", teu Guia espiritual, quando quiser vir a ti, já que, sem
preparo, és ainda incapaz de percebê-lo na unidade de tuas forças
anímicas. Guia que, posteriormente, reconhecerás estando em Deus.

É só no início, que, dessa forma, ele consegue atingir teu 'foro


íntimo, através do "exterior invisível!”

Em todos os tempos, houve Homem que possuíram a faculdade


de enxergar esse “exterior invisível".

Contudo, para alcançar o alvo supremo, esta faculdade não foi,


nem é, de nenhuma utilidade para os Homens. . .

Embora ela lhes permita “ver" mais do que os outros vêem, assim
como ao olhar através de um telescópio vês os "anéis" e as "luas" de
astros muito distantes, enquanto que um Homem, a olho nu, percebe
apenas um ponto luminoso. ..

Esta "visão" é uma faculdade do organismo físico, que, no


Homem de hoje, se apresenta pouco suscetível a ser "desenvolvida ao
ponto" de poder ser usada.

Nos Homens do passado, esse organismo era de constituição


bem mais definida; e para os Homens do futuro, novamente ele voltará
ao que era, desenvolvendo-se à medida que eles souberem se proteger
contra o perigo, para que este órgão não mais lhes seja nefasto.
72

A evolução desse órgão, desnecessário à vida comum, termina à


maneira do movimento das ondas, com intensidade variada, ora maior,
ora menor, para cada conjunto de espécie.

De sorte que a faculdade de perceber o domínio invisível do


mundo material físico, uma vez por outra se apaga até o último
vestígio, para em outras épocas reaparecer por toda parte.

Trata-se dos órgãos rudimentares da besta humana dos tempos


primitivos; órgãos que não podem ser úteis senão àqueles que são
animicamente preparados para fazer uso ilícito das faculdades em
questão.

Os indivíduos em que esse organismo de percepção, no invisível


exterior, é totalmente desenvolvido, são, por conseguinte, sempre
dotados de forças anímicas "mais experimentadas"; forças estas, que já
foram ativas em muitos Homens terrestres do passado.

Quem tiver esta “faculdade de ver", acompanhada de aspiração


ao mais alto conhecimento em vez de se tornar vítima do embuste
mesmo nesse domínio do mundo invisível encontrará conselheiros
benévolos e auxiliares complacentes, que do Reino essencial do
Espírito, facilitar-lhe-ão o entendimento das coisas que percebe.

E, quando estiver totalmente "desperto", é mui provável que


receba dos seres mais "despertos" que ele, o poder de mandar em
certas forças desse mundo invisível, a fim de que colaborem no plano
da evolução da Humanidade terrestre, para a qual os Irradiantes da
Luz Eterna trabalham desde milênios.

Na maioria dos casos, são muito poucos entre os ”conhecedores


do invisível", que dessa forma podem ser “utilizados".

Seria, entretanto, sobremaneira recomendável que todos os


homens, fosse qual fosse a maneira de sentir, que possuírem, mais ou
menos desenvolvido esse órgão de experimentação no invisível físico,
73

prestassem a maior atenção quando dele se servirem, para não fazer


uso indevido do mesmo. ..

Talvez com cuidados apropriados, mais de um germe possa ser


levado a germinar e se tornar proveitoso.

Precisa-se de muitos "vinhateiros na vinha" e a Humanidade de


hoje teria tudo a lucrar desses que nela novamente se manifestassem,
em caráter de instrutores e auxi- liares esclarecidos, que estivessem à
altura de caminhar com igual segurança, também no invisível do
mundo físico. . .

Não são as experiências que se obtêm mediante grande


quantidade de médiuns e sonâmbulos, que nos poderão trazer algum
esclarecimento, mas tão somente a vivência pessoal de quem de fato
possui tais faculdades orgânicas!

Contudo, não se deve negar o esforço empregado nas pesquisas


científicas e a honra que lhes cabe; mas o fato é que a experimentação
dita "metafísica", já como seu nome indica, é um conceito errôneo,
partindo de uma premissa falsa, nada mais faz do que atrair energias
parasitárias do mundo invisível da matéria.

Essas "forças parasitárias" do campo invisível do mundo físico,


embora sejam entidades cuja aparência se assemelha às energias das
quais a alma tira sua substância, exigem muita cautela para que se não
as confunda, seja no que for, com as forças aní- micas!

Isso equivaleria a querer igualar as caretas que os macacos fazem


através das grades de uma gaiola, com a arte engenhosamente
representada por grandes mímicos do palco. . .

As entidades do plano invisível do mundo físico com as quais


nos defrontamos, tanto em experiências ditas "metafísicas" como em
qualquer lugar solene, onde se supõe lidar com as almas dos defuntos,
não sendo desprovidas de uma espécie de consciência, sabem,
freqüentemente, mais coisas do que os próprios indagadores.
74

Contudo, essas entidades, sendo sós de maneira obscura e vagas


conscientes delas próprias, humanamente falando, de modo algum
podem ser censuradas quando se fazem passar momentaneamente por
aquilo que se presume ver nelas ou crer nas mesmas encontrar.

Estas entidades, antes de qualquer coisa, persistem em


comprovar sua existência e, para sustentá-la, são capazes de tudo o que
está em seu poder. E vão, além disso, procurando simular potência lá,
onde seu poder está definitivamente esgotado. . .

Elas não são tolhidas por nenhum "senso de dever", nem nenhum
"escrúpulo de consciência"!

Teu aviltamento lhes proporciona o mesmo prazer que tua


honradez, contanto que elas, pela influência que exercem, encontre em
ti sua existência confirmada.

Pobre do Homem a quem essas entidades já “possuem"! Elas lhe


sugam, quais vampiros, o âmago da vida mais substancial, pois têm
que se “nutrir" das forças do Homem para subsistirem e ficarem ao seu
serviço.

Caso ele não consiga se livrar dos seus tentáculos, fica a tal ponto
escravo dos sombrios instintos dessas entidades, que sua alma acaba
por se "apagar", porque suas próprias forças gradativamente o
abandonam; fato que provoca, quando seu corpo se recolher para o
último sono, a dissolução do que foi sua consciência, em aniquilamento
total. E é a única “Morte" verdadeira, porque eterna, do que o Homem
é realmente ameaçado.

Bem raros são os Homens que sabem, deveras, quão satura- da


de mentiras é a natureza desses seres, para os quais é difícil dar um
nome por não haver no mundo visível nenhum elemento de
comparação.
75

São as entidades invisíveis de cujas forças o faquir se utiliza para


executar seus “milagres" e, em razão da ignorância a respeito delas,
também se desconhece que, quando por vezes surge um verdadeiro
faquir, é diante dele que essas cativas dos infernos se maravilham. ..

Essas entidades "podem" fazer muitas coisas que jamais serão


possíveis aos Homens na Terra, enquanto agirem por suas próprias
forças.

Elas “vêem" teus pensamentos melhor do que tu os conheces e


podem tornar reais teus mais secretos sonhos e desejos. ..

Além do mais, podem temporariamente criar formas e objetos


tão palpáveis como são todas as coisas conhecidas por ti em matéria
palpável; porque essas entidades são as tecelãs invisíveis da formação
física, que laçam fios invisíveis em toda a manifestação visível. . .

Elas também têm o poder de se disfarçar nas formas humanas


que pertenceram a Homens que há muito tempo não mais vivem na
Terra; visto que, uma vez criada a forma, continua ela na esfera desses
seres, como se fosse de algum modo, a título de exemplo, se bem que a
comparação seja precária, uma matriz de que se pode tirar a todo o
momento um novo molde.

Na realidade, tal matriz é uma forma invisível e tão tênue como


sopro; um sistema de lamelas que dão a reprodução matematicamente
exata do conjunto de formas interiores, e exteriores, que outrora
constituíram um corpo humano.

Essa forma, habitualmente condensada nela mesma num mínimo


espaço, está de certo modo, “cheia" de energias físicas que,
normalmente, em condições apropriadas, serve para sustentar o corpo
de um “médium".

O “médium", durante a manifestação, fica nesse estado de


inconsciência que se designa por nome de “transe".
76

O pseudocorpo, durante o tempo em que se manifesta que


mesmo em casos mais favoráveis é extremamente curto se utiliza do
campo energético da alma animal do médium inconsciente, e essa alma
animal fica, na ocasião, induzida à maneira de hipnose, sob o domínio
dessas entidades que assim modelam o suposto corpo.

Ora, um semelhante fantasma pode falar e expressar-se da


mesma maneira que sua efígie original defunta, não havendo nisso
nada mais surpreendente que o poder de expressão que o Homem
normalmente encarnado tem, sendo que durante a manifestação, tanto
o corpo aparente como todos os órgãos que outrora nele atuaram, são
fisicamente reproduzidos sob o molde da forma corporal com tal
perfeição, que mesmo as deformações eventuais ou defeitos de
pronúncia, estão aí reproduzidos.

Creio supérfluo acrescentar que essa forma, abandonada no


plano físico invisível, tem tanto em comum com o Homem que a
utilizava outrora, como a pele de uma serpente tem com o réptil,
depois da muda.

Não é, pois sem razão que insisti sobre esses fenômenos, cujo
simples enunciado já é para mim repugnante.

Mas, procuro colocar-te numa situação que te permita averiguar


por ti mesmo os fenômenos que poderiam impressionar-te.

Não deves permitir ser logrado, ainda que algo de surpreendente


se produza na tua presença!

Nestas manifestações, não é fraude da qual possas ser vítima, o


que deve ser considerado “perigoso". ..

Mas tão-somente, o que é verdadeiro neste campo, (é que) oculta


um real perigo!

É por razões ponderadas e indubitáveis que te acautelo!


77

Caso quisesse averiguar seus métodos, essas entidades, tanto em


ti como em qualquer um, farejariam uma presa. . .

Acontece, infelizmente! É com demasiada freqüência, que elas


acham uma vítima fácil naqueles que, em vez de seguirem o caminho
em aclive à unificação das forças da alma e para seu Deus, procuram
adquirir "poderes ocultos", sem terem ainda esse grau de
discernimento que é indispensável para que um dos Irmãos integrados
em Espírito e que adquiriu tais poderes mediante longos anos da mais
severa preparação, possa ensiná-los a dominar, tanto essas entidades
como suas energias trêfegas.

E mesmo assim, cada um está ainda em perigo permanente,


quando sem necessidade, as excita e as aproveita. Jamais um desses
que, outrora, para provar sua força, aprendeu como subjugar esse
reino do Mundo físico invisível, demorou-se mais do que o exigido
pela dura obrigação de um "dever" a cumprir.

O TEMPLO SECRETO
78

Quem se empenhar ou estive empenhado em seguir o caminho


ascensional que indico neste livro, não demorará a sentir estar em
íntima ligação com todos os que seguem o mesmo caminho, ainda que
milhares de quilômetros os separem uns dos outros.

Esta "ligação" se opera de maneira dupla: em primeiro lugar, pela


atração recíproca de irradiações que, através dos centros da volição
determinada, se formam inconsciente e espontaneamente de
"turbilhões", irradiando em certas regiões superiores do mundo físico
invisível, onde elas põem em conexão tudo o que é da mesma natureza
vibrátil.

Em seguida, pela influência direta da ação de forças anímicas,


que só necessitam essa paridade de direção das impulsões volitivas,
pelas quais estão animadas, para serem imediatamente ligadas, de
maneira praticamente independente do espaço e do tempo.

Contudo, também é muito humano querer, no campo dos


sentidos físicos, sentir-se mutuamente próximos e perceptíveis, quando
se está aparentado por laços de um alvo comum...

Senão a maioria, muitos sentem sua coragem e sua fé


robustecidas, quando, ao longo do "caminho" podem, uma vez por
outra, ter contato com seus companheiros da caminhada...

O caminho da Vida espiritual se torna mais fácil de ser


percorrido, quando dois seres, estando comprometidos no mesmo
ideal, são também associados na vida exterior e caminham lado a lado.

Por conseguinte, cada um que neste assunto recebeu direitos e


poder de ensinar, deverá repetir a palavra do Mestre sublime de
Nazaré:

"Lá onde dois ou três estiverem reunidos em meu "nome", eu


estarei no meio deles".
79

Mas nunca deve ser excedido esse limite, cada vez que se reúnem
para transmitir em palavras de linguagem comum, as experiências de
suas almas.

É com conhecimento de causa que esse número restrito é exigido!

Todo agrupamento mais numeroso leva à ação salutar, somente,


quando se trata da troca de impressões verbais das experiências da
alma e quando fica constituído pela múltipla "comunhão" de "binários"
e "ternários" e, quando cada uma dessas "células" de dois ou três
associados estiver edificada na base da franca afinidade pessoal de
seus componentes; então, neste caso, sem que seja preciso um
"juramento" especial, sua indestrutibilidade é garantida desde a
formação.

Mas, quem caminha em busca da Verdade, jamais deve se


agrupar em “sociedades"; pois nenhuma delas pode vingar sem que
seja susceptível de impingir uma crença obrigatória, e nada impede
tanto o desenvolvimento da alma como um constrangimento exterior
qualquer.

Toda "sociedade" é a formação de um séqüito fúnebre de sua


própria fé defunta!

Enquanto viva e atuante, a fé crê e pode ainda, por um tempo


limitado, suportar mesmo o mal corrosivo que é uma "comunidade de
fiéis". Mas, logo que murcha qual flor devastada por alforra, cai sobre
si mesma, e esses que pela "comunidade" crêem avivá-la, cavam, por
eles próprios, a sepultura dela.

Pelo contrário, será de grande ajuda para muitos peregrinos


reunirem-se, por vezes, em "células" de duas ou três pessoas,
isoladamente ou em conjunto com outras "células" de tendências
análogas, para falar das coisas que lhes foram dadas sentir e con-
templar no caminho rumo à Luz. .
80

Mesmo nas profundezas mais inacessíveis do Espírito, não há


nenhuma razão válida para "coibir" a comunicação entre várias
"células" de dois ou três membros que ficarem em ligação externa,
conquanto, bem entendido, semelhante ligação não degenere em
"fundação de sociedade" com todo o seu cortejo de crenças obrigatórias
e artigos de fé que a acompanham.

Pois, neste caso, a união exterior desmembraria a união interior!

Querendo, todavia, podes percorrer o caminho a sós contigo


mesmo, ou ao lado de um ou dois companheiros, já que na escala da
ficas sabendo que o Templo oculto te une a todos que, como tu,
seguem o mesmo caminho.

Os Irradiantes da Arquiluz são os verdadeiros “Sacerdotes" desse


Templo e todo o peregrino que sinceramente procura seguir o
“caminho" dentro de si, está colocado sob a sua direção infalível,
mesmo que no seu foro íntimo não possua iluminação própria e ainda
não possa reconhecer a mão que o guia. ..

Não se requer aqui, de ti, nenhuma fé em uma ajuda da qual não


pudesses ter prova.

Pedimos apenas isto: a fé em ti mesmo, pois ela é imprescindível


no teu caminho.

Quando tiveres conquistado esta fé, que amiúde terás de


reconquistar, então, não demorarás a sentir a verdade das minhas
palavras. '

Os descobridores de novos continentes acreditavam no íntimo do


coração, que além das imensidões dos oceanos havia terras e, em
verdade, as acharam, porque tiveram fé naquilo que buscavam.

Igualmente tu, precisas crer, no mais íntimo de ti mesmo, que


trazes em ti forças, capazes de situar-te num estado em que,
deslumbrado, sentirás os sagrados arcanos do Templo latente na Terra.
81

E indispensável crer em tuas próprias forças, porque tua fé


desliga em ti essas mesmas forças, como também pode reduzi-las à
escravidão. . .

O que antecipadamente não crês seres capaz de fazer, será de


difícil realização mais tarde!

Além do mais, ficarás inacessível a todo auxilio que te possa vir


do Templo invisível, até o dia em que lograres a fé inquebrantável de
trazer dentro de ti as forças necessárias para obter esse auxílio.

KARMA

Em ambos os reinos do mundo físico, tanto no visível quanto no


invisível, toda ação traz suas conseqüências, visíveis como invisíveis.

Por “ação" deves entender, aqui, todo impulso de tua vontade,


todo pensamento e toda palavra. ..
82

Ficarás acorrentado às conseqüências de teus atos, até que tenhas


unificado tuas forças anímicas e te tiveres unido ao teu Deus.

Somente então poderás destruir as cadeias de conseqüências de


tuas ações, caso queiras destruí-las.

Em tempos tão remotos que transcendem a imaginação humana,


foste unido a teu Deus como “Ser" puramente espiritual, em estado
espiritual de formação, entrelaçado à Vida Total da Substância
essencial que é “Espírito".

Também todos os demais reinos, do lado invisível do mundo


físico, domínio incomensurável do Universo, eram acessíveis à tua
vontade em ação e tu eras então seu senhor. . .

Um campo de ação se abriu para ti, que, do estado espiritual


absoluto, te impelia para uma formação sempre mais densa.

Chegaste assim ao limite, onde o invisível físico se condensa na


matéria sólida, visível. .

Viste em ação as potências aterradoras do caos eterno, força em


refluxo ao “Nada” absoluto, rígido, petrificou e sucumbiu à hostil
idade inveterada dessas forças para tudo o que “É”. . .

Jamais, entretanto, terias sucumbido se dantes, na vertigem


insensata do teu próprio poder, não fosses decaído do teu Deus.

Assim ficaste abandonado a ti mesmo e perdeste teu mais alto


poder.

E te tornaste, então, vítima do furor das forças inferiores que,


sempre "hostis" e confinadas à ação do retrocesso ao "Nada" absoluto,
procuram aniquilar, involuindo para o “Nada", tudo o que das esferas
do Ser Eterno e puro se infiltre até elas: tudo o que “sucumba" no seu
tenebroso campo de ação.
83

Mesmo as forças que dantes dominavas e através das quais te


seria fácil submeter às potências, doravante “hostis", de maneira a
transforma-las nos fiéis servidores da tua vontade, haviam se tornado
demasiadamente grandes, demasiado esmagadoras para ti. . .

Foste assim subjugado pelo terror das tuas próprias forças e que
outrora dominaste. O pavor a elas faz-te aspirar a uma outra, uma
nova forma de existência no plano de matéria densa, plano deste
Universo, perceptível aos sentidos e que dissimula essas po- tências
terríficas ao olhar de quem não sabe transpor as barreiras circundantes.

Tua vontade, decaída do alto Archote do Fogo Vivo, quis, então,


te arrastar para o Mundo da matéria física. . .

Estavas em tua “casa" no “Mundo das Causas", mas o medo fez-


te expulsar para o “Mundo dos efeitos".

Esta é a verdade velada no mito do “Paraíso" e da 'IQueda" dos


“Seres" em conseqüências do “pecado original"!

Antes dessa queda, já criaste teu “karma", assim designam no


Oriente a árvore genealógica de causas do destino de cada ser -pelo
grau de “afastamento" do teu Deus -pelo grau da vertigem insensata
que te queria induzir a ver em ti um “Deus".

“ Eritis sicut D iis ". ..*

O tempo determinado para nasceres na Terra, bem como a


filiação genealógica onde isso deveria acontecer e as voltas do teu
destino terrestre, tu mesmo os determinaste. Quando, de soberano que
eras, pela força do teu Deus, no Mundo do Espírito, decaíste, para
tornar-te escravo dos poderes inferiores, onde a toda ação se impõe e
deve impor as conseqüências, pelo fato de ele ser, apenas, um reflexo
da ação, estás privado de poder fazer cessar, voluntariamente, no seu
domínio, a cadeia do movimento perpétuo de cau- sas e efeitos.
84

Outrossim, o fato de nasceres neste planeta é o efeito da tua


primeira ação no dom ínio das conseqüências inelutáveis. Pois, em
verdade, existem no insondável espaço sideral, incalculável planetas
habitados por “Homens” e seres que exteriormente se assemelham aos
animais da Terra, e bem poderias ter tomado o teu invólucro animal
em outro qualquer desses corpos celestes”.

Todos os seres, que vivem nos planetas habitados de outros


sistemas solares, são entes, outrora decaídos do Esplendor, da mesma
maneira que tu. . .

Entre teus longínquos companheiros de viagem, encarnados na


matéria, há muitos mais felizes que tu, e outros profundamente mais
infelizes. . .

Não tens, absolutamente, nenhuma razão para imaginá-los com


aspecto de monstros, pois a forma do corpo da besta humana não é
uma manifestação arbitrária que se produza unicamente no nosso
pequeno satélite do sol, mas é determinada por leis pre- cisas que
regem o conjunto do imenso Universo da matéria física, e que, no
fundo, são de origem espiritual. . .

Não se deve supor que a “queda" do Espírito, do Mundo


Substancial do Espírito Puro à zona da influência do “Nada" absoluto,
se tenha produzido somente na nebulosa aurora dos tempos. Pelo
contrário, essa “queda" se produz sem cessar, desde a Eternidade e por
toda a Eternidade, assim como o Cosmos de matéria densa, não
obstante a contínua alteração da sua evolução, subsiste e subsistirá
eternamente em seu conjunto, proporcional ao Reino Eterno do
Espírito, como “reação extrema" desse último. . .

Contudo, há sempre um reduzido número de seres que nunca


são arrastados à “queda" e de maneira nenhuma “perdem" seu Deus".

Já os mencionei anteriormente, sob a denominação de


“Primogênitos" ou “Anciãos", dos “Irradiantes da Luz Inicial" e
precisas saber, o que, aliás, tua intuição já poderia ter dito a respeito,
85

que: os esforços desses “não decaídos", bem como os dos”Filhos” e


“Irmãos" por eles formados, a fim de redimir os Homens, decaídos do
ciclo luminoso do Mundo Espiritual e que se debatem nas malhas de
animal idade, não se reduzem tão-só à nossa Humanidade terrestre. ..

Em todos os planetas habitados do imenso Universo existem


esses Auxiliares que permanecem na Vida consciente do Espírito
Substancial e, que, para cada um desses Mundos, preparam, com a
mesma finalidade, entre os decaídos temporários, seus “Filhos"

e "Irmãos" espirituais, por intermédio dos quais, nesta Terra,


também procuram, agora, te atingir para tirar-te da angústia.

Teu alvo, é óbvio, não é tornares-te um desses "Filhos" ou


"Irmãos", pois agora seria tarde demais para isso. Esta aptidão se revela
logo após o inicio da queda e somente por livre impulso da vontade
individual. Vontade esta que necessita de uma "educação" que leva
milênios e de uma "renúncia", um sacrifício, de igual lapso de tempo, à
encarnação do corpo físico humano. . .

O que se pede e espera de ti, é apenas isto: que possas, durante


teus dias terrestres, chegar ao conhecimento da esfera, donde te
apartaste e para onde deves retornar.

O "caminho" desse regresso aqui estamos para te indicar.


Queremos reconduzir-te ao teu Deus, com o qual deverás te unir
novamente.

Por mais baixo que tenhas caído, as forças, no seio das quais a
Divindade se forma por si mesma, sem cessar, desde o estado em que
sua ação é ainda caótica, até o seu modo de manifestação mais elevado,
atuam em ti também, em mui alta forma de ação. . .

Uma "chispa", pelo menos, de uma consciência espiritual, ainda


que distinta da tua consciência cerebral, permanece latente em ti; e é
ela que, do alto, dirige essas forças; é ela que é a tua "consciência". ..
86

Jamais poderás perder essa "centelha", por mais baixo que venhas
a cair nesta vida terrena!

Mesmo que tua alma esteja "morta" para esta centelha, ela
permanecerá latente em ti, até que exales teu último suspiro. . .

E só ela conhece teu "karma". . .

Podes melhorar ou piorar teu "karma", mas extinguir não o


poderás, antes de teres unificado as múltiplas vontades que, ainda à
hora presente, agem caótica e contraditoriamente em ti.

Quando todas essas vontades estiverem harmonizadas, na


deslumbrante claridade do consciente espiritual que é o teu
verdadeiro, substancial e eterno "Espírito humano" em ti, então teu
Deus se "conceberá" dentro de ti, e tu então estarás liberto do teu
"karma", quer dizer, livre das cadeias de conseqüências do teu ato
original, tendo te tornado Homem da Eternidade.

Feliz de ti se, cá na Terra, consegues esta realização!

Pois, se não a obtiveres, então, mesmo depois de deixares teu


despojo carnal, não terás a paz dentro de ti, senão quando tiveres
achado a paz em teu Deus, consciente de tuas forças anímicas
unificadas e convictas de ter ficado uno com a vontade delas.

Ora, "lá". é bem possível que isso dure muito, porque, então, não
poderás melhorar teu "karma", como também não terás consciência de
ti mesmo em eterna Luz, enquanto a última conseqüência do teu ato
original não se tiver esgotado.

A sabedoria hindu exorta os Homens a não se criarem novo


“karma" e, em verdade, tal advertência é fruto do verdadeiro
conhecimento!

Saibas, porém, que não se quer apenas te prevenir contra um


“Karma” funesto !
87

Jamais alcançarás tua redenção no Reino do Espírito Substancial,


sem que se tenha exaurido o último impulso da essência terrestre,
provocado um dia por tí.

Por isso, procura com todas as tuas forças, enquanto estiveres


aqui na matéria, unir-te com teu Deus, para dessa forma cortares, pelo
Seu Poder, as cadeias do teu "karma", a fim de que elas não mais te
possam guardar no cativeiro, através dos eons.

*Palavras da serpente tentadora à Eva: Sereis como Deuses.


..(nota da tradutora)

GUERRA E PAZ

Quem tiver observado a terrificante potência e a inconcebível


singeleza da implacável vontade de impulsão das forças genéticas do
mundo manifestado de matéria densa, não se deixará render pela
88

ilusão de que o Universo, sensoriamente perceptível, encerra tão-só a


Harmonia do Espírito".

Repara o icnêumon, inseto himenóptero que deposita seus ovos


no seio da lagarta estripada viva, para que suas larvas venham a vlda,
e estarás a salvo, para sempre, dessa crença ilusória.

O mundo dos sentidos físicos é a resultante da Força Inicial* do


Espírito no Mundo espiritual.

Contudo, para se manifestar espiritualmente como Mundo


espiritual, deve essa Força Primeva, eterna e una, refletir-se nela
mesma em próprios aspectos, infinitamente variáveis e, uma vez
plasmada em cada um desses aspectos como elemento do Arqui- ser,
nele se afirmar de tal maneira que, cada um desses elementos se
esforce para realizar unicamente a si mesmo, considerando todos os
outros elementos do Ser como formas vazias, visto que nada conhece a
não ser a si mesmo, em si mesmo, como elemento da Força Inicial.*

Em cada aspecto da Arquiforça espiritual, todo "elemento


do Ser Inicial" se torna, assim, causa, para que toda forma manifestada
no campo da matéria física, oriunda da sua ação, receba também
impulso de viver só para si e de utilizar toda outra forma ma- lifestada
só em benefício da sua própria existência.

Em cada elemento do Ser Inicial, a Força Primária é integral, seja


nas formas mais inferiores ou nas mais altas formas manifestadas.

De modo análogo, toda energia física, toda forma materialmente


manifestada, tende a se afirmar isoladamente, como se só a sua
existência e nenhuma outra mais, fosse viável.

A mais ínfima célula, só afirma a si mesma; ainda que,


provisoriamente, seja constrangida a servir, em comum, com miríades
de suas congêneres, a uma forma da vontade mais elevada que, por
seu turno, só dá valor à existência da célula quando dela precisa,
sujeitando-a a servir-lhe para sua própria afirmação.
89

O Universo manifestado é o antípoda extremo do Espírito


Substancial.

A “Vida” do Espírito determina, em si mesma, a formação


espiritual infinita dos elementos do Ser Inicial, cuja resultante, por sua
vez, produz em última instância, a manifestação de algum modo
“coagulada" da forma física, isto é, a força espiritual infinitamente
“dilatada" que, num estado de tolhimento e de impotência relativa, fica
presa às vontades da forma, rigidamente determinadas.

Todavia, desse estado de absoluta dilatação e desse rígido


desterro de extrema tensão, essas forças espirituais elevam-se de novo,
através de poderosa atração que sobre elas exerce a região mais alta do
Ser Espírito, surgindo em formas novas, menos densas e menos rígidas
até que, através de inúmeras metamorfoses, subtraiam mais e mais à
tensão que as dilatou, sendo, finalmente, arrebatadas ao seu estado
original e integradas no epicentro da Vida do Espírito. . .

Entretanto, o que percebemos por nossos sentidos físicos, não


representa os elementos do Ser Primordial em seus diversos graus de
formação, mas tão somente os resultados da ação das forças que criam
esses elementos. . .

Interiormente, porém, os elementos do Arqui-Ser tornam-se


perceptíveis para nós, como nossas próprias “forças anímicas", em
grau muito elevado da formação. ..

Eis o ciclo eterno, perenemente renovado, da “Vida” do Espírito


Substancial que extrai seu “Ser" da sua própria essência!

"Nutrindo-se" da sua própria substância, Ele se submerge Nele


mesmo, a fim de emergir de novo e em seguida reabsorver-se em Sua
Entidade Suprema, liberto de toda a rigidez de tensão da forma.

É unicamente mercê desta “ Vida Eterna” que, dentro do


Espírito, “Deus” pode formar-se no “Homem” espiritual.
90

Se não houvesse o micróbio, que talvez amanhã comece a ninar


teu corpo, este já não existiria, nem tua alma, nem a centelha do
Espírito que revive em ti!

Mas então também não haveria a Vontade do Espírito que,


outrora, em teu Esp írito tinha a formado teu Deus e, que, agora,'" de
novo procura “engendrar-se" em ti, como teu Deus!!

No entanto, seja qual for a fúria com que as forças do Universo se


lançam umas contra as outras em luta sem tréguas, no seu impulso
irresistível para se afirmarem, a natureza não conhece o “ódio”

É insensato querer comparar o ódio dos Homens com o instinto


dos animais que tendem a destruir outros animais, porque eles, como
cada forma que se quer afirmar e em cuja manifestação vivem os
elementos do Ser Primordial, querem, exclusivamente afirmar-se a si
mesmos.

O “ódio", pelo contrário, é a expressão da impotência humana!

E é só na humana maneira de sentir, que podem ser encontradas


certas formas de expressão de tendências agressivas, próprias das
bestas-feras, e que se caracterizam pelo ódio; não sendo por isso, muito
difícil de reconhecer o quanto se engana, aquele, que supõe encontrar
nos animais o mesmo sentimento de ódio que se encontra no Homem.

Mesmo no reino invisível do Mundo físico foi o Homem quem


introduziu o ódio, pois, até mesmo os mais atrevidos entre os outros
seus inimigos do invisível físico, são incapazes desse sentimento;
sendo que sua atitude hostil para com o Homem provém de razões
essencialmente diferentes. . .

Os mais horripilantes espíritos malignos do invisível físico,


foram, em outros tempos, Homens terrestres que, pela sua maneira de
viver na Terra, se “justiçaram" por si próprios.
91

Quanto mais alto se elevaram em sabedoria, anteriormente, tanto


mais baixo caíram, e muito aquém dos mais abjetos e miseráveis
Homens na Terra.

E os "eons" deverão passar antes que eles, finalmente, possam


dissolver-se no aniquilamento total; antes, porém, procurarão arrastar
para sua decadência, tudo o que está ao alcance do seu ódio. . .

Mas mesmo esses autojustiçados, profundamente arraigados no


seu ódio implacável para com tudo que vive, são incitados a esse
sentimento em razão da sua própria impotência.

O poder, inversamente, é o mais nobre triunfador sobre o ódio. . .

O Homem poderoso, consciente do seu poder, ama este poder


que acaba por transformá-lo em um Homem amante.

Ora, o amor não tolera o ódio!

Quanto mais a Humanidade despertar para a consciência do seu


poder espiritual, em seus grupos celulares chamados "povos" e
"nações", tanto mais o ódio tenderá a desaparecer; pois, quem é
consciente do seu poder não inveja nenhum outro poderoso nem o
poder deste; já que a inveja, freqüentemente, é uma evocadora do ódio
infernal. .

Todas as guerras são engendradas pelo ódio; aquele que não sabe
odiar é incapaz de ser guerreiro.

E vós gritais ainda: "guerra a guerra"! Ora, eu vos aconselho: será


mais certo clamardes:

"Desprezado seja, doravante, o ódio!"

Só quando o ódio for objeto do vosso desprezo, virá o tempo em


que sabereis também menosprezar a guerra!
92

E só quando achardes indigno de estima a quem quiser resolver


pelo massacre dos Homens, as divergências, cuja solução deveria partir
da exposição de argumentos dos dois adversários em conflito, perante
a probidade dos juízes, somente então, tereis o direito de vos
glorificardes da vossa "dignidade humana"!

Obviamente, sempre haverá conflitos de opinião entre os


Homens, pois, aí também, há uma vontade que se opõe a outra
vontade, e toda vontade é exclusiva em sua afirmação de si mesma.

No Espírito humano, contudo, toda vontade é capaz de


reconhecer-se em outras vontades, e cabe ao Homem procurar
conscientemente o ajuste que salvaguarde a paz, disciplinando sua
vontade que, então, não mais será exclusiva, mas sim, respeitará
também outras vontades.

Enquanto cada ser humano não apagar o ódio em si, essa via de
disciplina da vontade jamais será exeqüível para o Gênero Humano, a
não ser em curtos períodos.

As conseqüências serão, sempre, novas guerras, enquanto o


último vestígio de ódio não tiver desaparecido dos corações humanos.

Todos os outros motivos para a guerra são superáveis com a boa


vontade só as ondas do ódio arrastam a melhor das vontades em suas
correntes para os abismos. . .

Os contrastes e competições entre argumentos opostos servem


para desenvolver energias e para ativar o fluxo da vida; mas, sem
embargo, não devem levar à guerra, assim como não deve matar, a
pancadas seu adversário vencido, o vencedor de um jogo.

Mas, todo Homem na Terra, que procurar destruir em si mesmo


o ódio, travará a única guerra “justa",a guerra que tornará impossível
as guerras de morticínio!
93

Contudo, rnesmo a supressão definitiva das guerras de


carnificina pelo Espírito humano, não faria com que as forças
contrárias, sempre ativas em toda a Natureza, unissem suas tendências
à única e mesma finalidade; isso porque, semelhante unificação seria o
aniquilamento de todo o Universo exterior. . .

O reino da "paz eterna" que tantos nobres espíritos, no decorrer


dos tempos, tão ardentemente desejaram, não caberá em partilha aos
Homens terrestres que somos, a não ser depois desta vida terrena,
quando nos reencontramos na Luz que unifica tudo o que dantes era a
Ela unido.

*Ou "Arquiforça" espiritual, isto é, a Força Arcaica, Força


Primeva, Força por Excelência, eternamente Primordial,
perpetuamente Original, donde promanam todas as energias dos três
Mundos Universo.

A UNIDADE DAS RELIGIÕES


94

No núcleo de todas as doutrinas religiosas do Mundo existe: a


última Verdade embora esse núcleo esteja, muitas vezes, encoberto por
invólucros os mais estranhos. . .

É em vão e sem interesse discutir em qual delas a Verdade está


em sua maior pureza.

Quem souber cuidadosamente afastar os véus, acabará por


encontrar em todas as verdadeiras "religiões" a grande doutrina do
eterno Homem-Espírito que, em outros tempos, foi uno com seu Deus
e decaiu, porque em seu "Eu" Dele se afastou.

Um "caminho" lhe será indicado que o reconduzirá a seu próprio


"Eu" e, finalmente, nele reencontrará seu Deus.

Todavia, por ser esta doutrina demasiadamente espiritual e


simples para ser compreendida pelo Homem, mergulhado que está na
complexidade do culto sensorial, ele, então, urdiu em volta dessas
profundas e últimas Verdade, a única doutrina de salvação, os mais
estranhos entrechos, tanto que nessa pura teia de artifícios, cheia de
presunções empavonadas, acabou por não mais saber distinguir a
Doutrina da Verdade.

Mas, por ter ainda conservado uma vaga lembrança daquilo que,
sob a casca de frutos ro (dos dessa trama de fábulas, outrora lhe era
perceptível, ele se agarra com obstinação ao que chama de “sua fé”, às
formas artificiosas com as quais, em outros tempos, ele encobriu a
Verdade e pelas quais deixou que ela ficasse totalmente poluída).

Em muitas doutrinas elevadas das antigas religiões encontra-se,


com freqüência, a noção simbólica de muitas maneiras repetida, sobre
os poucos Homens-Espirito que não foram arrastados à queda e que,
de alguma forma, atuam nesta Terra, auxiliando seus irmãos que
vivem nas trevas, a fim de redimi-los, libertando-os das cadeias da
animalidade terrestre. . .
95

As velhas lendas de caráter religioso trazem-nos relatos sobre


esses Auxiliares espirituais que se manifestavam, de quando em
quando, mesmo no plano visível e de como escolhiam entre seus
irmãos humanos os "justos", para serem mandatários, os quais, por seu
turno, deviam propagar a “Luz" no seu ambiente terreno àqueles que
as trevas sufocavam. . .

Freqüentemente, nota-se nesses escritos a referência a um


Santuário nos Altos Cumes, a um Monte da Salvação e a Montanhas
Sagradas donde vem esse Auxílio. . .

Essas palavras e muitas outras altamente significativas, acha-se,


de fato, nos livros sacros de todas as antigas religiões; mas hoje,
infelizmente, não mais se atina com o significado daqui-lo que elas
querem dizer. Amiúde se imagina tratar-se de imagens alegóricas, ou
melhor, de símbolos, e do que é claramente inteligível, forja-se, por
autoridade própria, interpretações descabíveis.

Não obstante, a sabedoria de todas as antigas religiões originou-


se dos ensinamentos dados ao Homem por alguns dos Grandes Seres
que permaneceram Esp írito em eterna “Luz”...

Estes últimos elegeram os "Filhos e os "Irmãos" entre os Homens


da Terra, que, outrora, se esforçaram em condensar a única verdade,
nas suas mais diversas formas, trazendo a “Luz"a cada espécie
particular da Humanidade, nas versões apropriadas a cada época...

E é sua força auxiliadora que trouxe todos esses enunciados. ..

Esta é a única "fonte original" de que brotam todas as antigas,


todas as verdadeiras religiões da Humanidade terrestre!

Mas, onde estão os instrutores dessas religiões, que mesmo em


nossos dias sabem o que dizem, quando se expressam em palavras de
textos antigos?!
96

Em nossos dias, como em tempos recuadíssimos, os Grandes


Auxiliares espirituais, nossos Irmãos, não decaídos, vivem ainda na
Terra em estado espiritual, na substância eterna do Espírito e, como
antigamente, também hoje, iniciam às Causas Primárias e na última
Verdade preexistente todos aqueles que! Logo depois da "queda do
seio da Luz", estiverem dispostos a se lhes tornar um dia "Filhos" e os
"Irmãos" no Mundo visível da matéria. ..

A queda do Homem foi por demais profunda para que ele possa,
sem um degrau intermediário, ser acessível aos Augustos, auxiliadores
Espirituais, que nunca sucumbiram à queda!

É por isso que preparam os Espíritos humanos, susceptíveis, para


que, depois de nascerem na Terra, encarnados num corpo 1aterial, lhes
sirvam desse “degrau intermediário". . .

Nesses últimos e através deles agem esses Auxiliares Superiores,


a fim de que jamais a Humanidade desta Terra se veja privada do seu
auxilio.

Jamais houve época em que esses Irmãos auxiliadores atuantes,


encarnados, não tivessem existido.

Em todos os povos se manifestaram.

Quem tem ouvidos para ouvir, entenderá muitas coisas que, em


cada época, a “carne e o sangue" não puderam revelar.

Quem quiser chegar à Verdade, deverão prestar atenção essas


coisas!

Trar-lhe-ão a compreensão de muitos enigmas e afastarão os


múltiplos véus que ainda ocultam ao seu entendimento a última
Sabedoria.
97

Não se precisa, aliás, de muita sagacidade para distinguir os


falsos profetas, aqueles que muito peroram, mas pouco tem para dizer,
daqueles silenciosos instrutores,

Irmãos dos Irradiantes da Arquiluz.

Em verdade, lá, onde sobre as ruínas de antigo Templo se edifica


uma nova seita, que até poderá ser chamada pomposamente de
“religião", jamais devereis esperar: por trás de seus ritos, estejam
ocultos os Irradiantes da Luz Inicial!

Devereis, isto sim, acreditar na ação dos Príncipes do Abismo!

No plano invisível desse Mundo físico; mesmo que preguem o


“amor" e façam soar ao longe, sentenças untuosas e grandíloquas...

O que têm para vos dar os Artesãos da Luz, não é, decerto, uma
nova “religião", mormente nesta época, onde não mais conseguis vos
desembaraçar de “religiões" nem do quer que assim o chameis! “‘“,

Ê, contudo, a mesma Verdade que dormita nas profundezas das


verdadeiras rel igiões antigas.

Basta desbastar seu núcleo para verdes em imagens novas,


claramente compreensíveis e apropriadas ao vosso tempo e ao porvir,
o que, há muito, não soubestes mais explicar como sendo “religião" e
para que possais ainda venerar o que ocultam todas as verdadeiras
religiões.

Quanto à Verdade "nua", esta, nem aos Irradiantes da Arquiluz é


dado vo-lo apresentar.

Deveis descobrir por vós mesmos, em profundo silêncio. Dentro


de vós. . .
98

Somente em vós, a suprema maravilha se torna Realidade!

Só em vosso "Eu" podereis reencontrar, um dia, o que perdestes


antes de vossos dias

Terrestres!

Não sois apenas animais dotados de inteligência superior, como


vos considerais segundo vossa natureza e vossa história.

Em vós se oculta algo muito mais profundo e bem mais


grandioso.

Acostumei a restringir-vos ao pequeno vocábulo “eu”, Ora, ainda


não sabeis o que é esse "Eu" em vós; pois o "Eu" infinito e pode ser
sentido em incalculáveis graus da consciência de ser. . .

E cada um desses “graus” tem acima de si mais um grau superior


da Vida dentro da Eternidade. . .

Cada um desses “graus" tem abaixo de si um número


incalculável de graus inferiores, talhados nas profundezas insondáveis.
..

Ora, viveis ainda como animais que não possuam o “Eu”, a


despeito de vossa vida ser repleta de “ciência” e de “arte” e vossa
existência sobejamente saturada de gozos!

Quando tiverdes conhecimento de vós mesmos, então é com um


arrepio de horror que vos lembrareis dos dias agora vividos
alegremente, frívolos de coração, como se só eles significassem e
comportassem a totalidade do Ser. . .
99

A VONTADE RUMO À LUZ

Sei que para muitos leitores, essas linhas evocarão um Mundo


que lhes causará impressão por demais estranha e capaz de perturba-
las na concepção já formada a respeito do Universo, concepção à qual
sua “crença” se apega obstinadamente; de modo que eles poderão
rejeitar com certa hostilidade o que, "não sem alguma intenção",
procura agora atingi-los.

Mas, é totalmente impossível que esta hostilidade impeça a


Realidade de permanecer tal como ela é, o que ela sempre foi e haverá
de ser.

Convém não se equivocar a respeito!

Quem aqui fala, não é um visionário narrando seus sonhos


estáticos.

Nem se expressa aqui um poeta descrevendo suas visões. O que


nessas páginas se oferece, é uma orientação segura a respeito da
Realidade e cada palavra está baseada no sentido mais profundo da
mesma!.

Para aqueles que ainda não a puderam conhecer, apresenta-se


uma oportunidade, e o "caminho" lhes fica assim indicado para
100

adquirirem o Conhecimento que transcende e comporta em si todos os


outros "conhecimentos". .

Entretanto, cada um dos leitores fará bem se, desde o início, tiver
em mente o fato de que os Estados Primários de Transformação
Espiritual, que este livro esclarece sob ângulos múltiplos e variados,
são Realidades muito mais "efetivas" que tudo que no uso comum da
linguagem humana se considera "real" e exercem sua ação constante,
mesmo que o Homem nada saiba a respeito e mesmo que não queira
reconhecer esta ação. . .

Certamente, o fato de ouvir falar dessas coisas, provocará reações


em mais de um leitor. Todavia, se cada um procurasse, dentro de si,
conhecer a “Realidade” , que serviria apenas seus próprios interesses,
visto que não mais duvidaria de que sua “concepção” do mundo é
ilusória, ainda que, fiando-se na aparência exterior, estime esta
concepção muito “real” e, mesmo que as especulações mentais lhe
parecem já estarem iluminadas pela luz interior.

“A imobilidade é um recuo”, diz um ditado, mas, dentro da


Verdade, a imobilidade é muito pior do que recuo, pois, a marcha,
mesmo a ré, conduz a valores novos, que jamais atingirão, seja quem
for, que, por indolência, descuido ou teimosia, continue não
renunciando a seu “ponto de vista" em prol da busca.

Ora, quem receia o recuo, tem também todas as razões de não se


fiar em progresso, senão com certa circunspeção. . .

Não há, cá embaixo, na Terra, progresso ilimitado!

Toda evolução humana está de algum modo submisso às leis e


movimento das ondas! '

Os Homens hodiernos perderam a maior parte do saber e não do


poder que seus long ínquos antepassados acreditavam "inalienáveis", e
aquilo que esses ancestrais não sabiam ou não podiam conhecer senão
101

de leve, em nossos dias chegou-se a possuir um saber e um poder


bastante vastos.

A Natureza não tolera nenhuma estagnação!

“Sê frio ou quente ! Mas por seres apenas tíbio cuspir-te-ei da


minha boca"!

É assim que a “Lei" eterna tem se expressado através dos tempos,


e ainda hoje não mudou suas palavras. ..

Quem espiritualmente permanece nas trevas, é porque não tem


Vontade de Luz!

Ele “bem gostaria" de andar na Luz da qual outros lhe falam,


todavia ele ainda não' a quer!

Do momento em que realmente a quiser, sem demora assumirá o


compromisso de seguir o “caminho", rumo à Luz!

Se a Luz do Espírito for para ti um “valor" a obter, no qual


queira, custe o que custar, empregar todos os teus esforços, então,
certamente, um dia chegarás à Luz!

Mas, enquanto uma venda espessa cobre tua visão espiritual,


óbvio, ser-te-á impossível “ver"!

Só tua Vontade, e não teu "desejo", pode arrancar essa venda


grossa!

Se trouxeres em ti a Vontade de Luz, sem dúvida alguma


conseguirás Luz, quer te aproximes dela como Homem prudente e frio,
quer com todo o ardor do entusiasmo.

Mas, um semiquerer não te levará a nada!


102

Não há em imensidões infinitas, e além de todos os astros,


nenhum Deus exterior que possas atingir, nem que ele possa ouvir tuas
súplicas impotentes. . .

Se é que queres que teu Deus, acessível unicamente no teu


intimo, te envie Auxílio augusto, conforme a ordem preestabelecida
que rege Seu Ser, procura ajudar-te a ti mesmo!

Em teu " Eu" está a totalidade do "Ser", e tua aparência externa,


só tu mesmo, inconscientemente, a criar, tirando-a das forças do " Eu".

Outrora, antes dos teus dias terrestres, te apartaste, por vontade


própria, do teu Deus, cessando de reconhecê-lo em teu "Eu", porque,
antes de tudo, a ti mesmo buscavas lá, onde somente teu Deus podia
estar. . .

Assim "Deus" tornou-se para ti um "outro" e tu lhe ficaste


'desconhecido" !

Agora, na tua imaginação, divides o "Eu" em dois e supões que,


tanto um "Eu" superior como o inferior se oculta em ti, ignorando a
extensão do teu "Eu" único indiviso e indivisível.

Em verdade, não há nenhuma "superioridade" nem


"inferioridade", mas todo o Infinito está latente em teu "Eu" único que
abrange, tanto as profundezas mais insondáveis quanto as alturas mais
inacessíveis do Mundo do Espírito perene. . .

Escolherás tu mesmo, e só podes "escolher" pela ação, o que


queres que teu " Eu" -te revele a ti. . .

Então, no teu próprio Infinito, no epicentro do Ser totalizado por


teu “EU” O teu Deus nascera outra vez !
103

E mesmo nessa ocasião, no começo, ainda te sentirás um “outro",


até que, afinal, reconheças que Ele te possui inteiro, na Integridade
indivisa do teu "Ser".

AS ALTAS ENERGIAS DO CONHECIMENTO

Acreditastes em vosso “progresso" e nem percebestes que na


maioria das vezes estais girando em volta.

Sem tréguas vos esforçastes para tudo dividir, tudo decompor,


tudo analisar. E é inegável que por tais processos deveis ter acumulado
conhecimentos múltiplos e conclu ístes que este feito há de vos levar à
solução de todos os enigmas da Natureza sensória.

Porém, todo produto de uma decomposição, por seu turno, se


decompõe ao infinito; tudo que se divide, ainda pode ser infinitamente
subdividido, e sempre descobrireis que, o que julgastes ser já o último
elemento de uma análise, na realidade, é apenas mais uma síntese.
104

E eis que o limite de vossas investigações fica demarcado pela


contingência terrena da vossa impotência em transcender vossas
decomposições, vossas subdivisões, vossas análises.

E o resultado dessas pesquisas está condicionado pela pressão de


suspensão das mesmas.

Não ignoro, obviamente, o que a Humanidade deve a semelhante


sistema de investigações e estou muito longe de querer de algum modo
depreciar vossos métodos intelectuais de pesquisas.

Somente, vejo o anverso da medalha e constato que vos deixastes


deslumbrar pelos resultados destas investigações, o que vos faz afastar,
mais e mais, de um outro sistema de pesquisa, deverás, mais
importante. . .

Por vossos métodos tendes feito descobertas maravilhosas


inventado coisas admiráveis.

Mas isso não deveria seduzir-vos a ponto de acreditar poder, de


maneira análoga, atingir algum dia, o conhecimento em domínios que,
sendo imperceptíveis a qualquer instrumento, eternamente se rirão de
toda essa fragmentação mecânica.

Quando, em vossas pesquisas, chegardes enfim a determinar as


ínfimas partículas de uma criatura vivente, ficareis convencidos de
terdes encontrado a solução que vos possibilitará chegar a óbvias
conclusões sobre os dados mecânicos e de considerar, em vosso
entender, ter encontrado, descoberto ou inventado, definitivamente, as
coisas fundamentais para vossa existência terrena.

Entretanto, a essência original da criatura, assim solucionada,


ficou para vós tão desconhecida como dantes.

Reconheço todo o valor de vossos trabalhos científicos e os


resultados que os podem fazer madurar. Somente, com isso, não vos
aproximareis nem um passo da “Coisa em si” mesmo se conhecerdes
105

todas as coisas do mundo visível em suas mais ínfimas partículas,


inclusive a ordem maravilhosa delas, e, mesmo se nada ignorardes da
propriedade e da ação dessas partículas, cujas energias aprendestes a
dirigir de maneira a se comportarem segundo a vossa vontade. . .

Não é sob a lente de microscópio que se pode achar a “Coisa em


si", e jamais um telescópio vos revelará o que um corpo celeste
longínquo “possui em si integrado".

O instinto da busca vos é congênito e pede ser atendido.

Contudo, confiastes o cuidado da busca à “besta", vosso afim, o


deixou levianamente, em penumbra crepuscular, atrofiar em vós as
energias superiores da alma, que neste caso, poderiam vos servir, se
pensásseis em desenvolve-las. . .

Eis que a “besta afim" elabora seus métodos intelectuais e


constrói instrumentos de precisão para estender ao infinito seu
intelecto e suas investigações, cujo resultado, obviamente, só pode
levar a novos enigmas, diante dos quais tem que parar, deso- rientada.
..

Houve, entretanto, em tempos passados, Homens para os quais


vossos métodos de investigação teriam sido tolices, visto que, por
unificação em si mesmos das mais altas forças da alma, sem o apoio de
vossos instrumentos, resolveram os últimos, os mais pro- fundos
enigmas.

Atingiram eles o âmago de todas as causas fundamentais,


enquanto vós só sabeis estendê-las na superfície. . .

Sabeis discutir sobre todos os fenômenos, como são e como


aparecem, o porquê da sua ação, ora se produz, ora se desvia e de
muitas outras coisas de maior ou menor relevância tendes noção.
Jamais, entretanto, conseguistes lhes chegar as bases fundamentais,
pois essas que chamais “causas” , sempre são ainda “efeitos” de causas
106

primárias, e é por trás dela que se ocultam os verdadeiros


fundamentos que ninguém entre vós conhece por experiência...

Ora, as forças da alma, quando aprenderdes a domina-las em


vosso foro íntimo assim que elas querem ser dominadas, esclarecer-
vos-ão também sobre as causas fundamentais, porque elas são da
mesma natureza que essas últimas, embora sua ação se manifeste de
modo diferente. . .

Evidentemente, esse gênero de "causas" só pode ser


demonstrável àqueles que já sabem empregar as energias enquanto
que vossas demonstrações são, decerto, mais fáceis de obter, se bem
que, também se tornam compreensíveis para quem já assimilou as
premissas nas quais se baseiam as provas, próprias aos vossos
métodos.

Nenhuma energia se desenvolve a não ser pela ação.

Assim sendo, se não empregardes desde já as forças da alma em


pequenas coisas, elas jamais se fortalecerão a ponto de vos revelar suas
mais altas maravilhas.

Trata-se aqui de aprofundar-se em muitas coisas às quais em


verdade, valeria a pena que o Homem consagrasse a vida inteira,
mesmo que essa vida durasse cem anos. . .

Antes de tudo, é vos imprescindível o tornar-vos simples como


as coisas fundamentais o são, a fim de que o mais simples possa
revelar-se a vós.

ISois demasiadamente complicados em vosso pensar para.


Compreenderdes o Real no seu sentido mais profundo, sem primeiro,
desaprender.

Oxalá a experiência terrena, acessível todos, possa servir-vos de


lição, a saber:
107

Muitas coisas vos pareciam, não faz muito tempo, "superstições


confusas" até que, pela própria investigação, vos convencestes e que
essas superstições tiveram seu fundamento num conhecimento, que,
anteriormente, vos era fechado e que os cérebros mais simples
souberam encontrar o acesso.

Tereis, por certo, muitos exemplos e assim eu posso abster-me


de cita-los.

Outrossim, há ainda muitas coisas que, mesmo em nossos dias,


se ocultam por trás das lendas e dos mitos, das crenças populares e das
“supertições” declaradas do povo, e que futuramente serão
considerados fatos, oriundos de um conhecimento maduro.

Se essas coisas ainda não são reconhecidas por aqueles que


cientificamente procuram por outras vias, isso se deve à complexidade
incrível da nossa mentalidade "profissional" moderna, que não mais
quer se satisfazer com simples expostos, porque não é mais capaz de
aceitá-los, já que seria obrigada a esquecer a parte muito considerável
das disciplinas que lhe foram impostas desde os bancos escolares do
"curso primário".

Eis por que tantas coisas permanecem como que "lacradas" às


investigações exteriores, e é só a duras penas que se adquiriu algumas
noções.

Às forças da alma, todavia, conquanto que sejam bastante


desenvolvidas, nada de tudo isso poderá ficar oculto.

Cabe a vós decidir se vossos descedentes, somente em um


longínquo porvir, irão inclinar-se constrangidos diante dos fatos, que
podereis conhecer agora, ou se lhes havereis de querer legar um saber
que não precisarão primeiramente retificar. . .

O tal conhecimento, hoje submerso na lenda e superstições,


também foi originado de Homens que sabiam empregar as forças da
alma. Mas a obscuridade interior dos que sucessivamente chegaram,
108

não mais permitiu, aos últimos, entender o que lhes tinha sido deixado
por seus antecessores. De sorte que a Verdade primitiva rapidamente
foi invadida por joio daninho de fantasmagorias confusas e, somente a
duras penas, ainda se consegue isolar sua pu reza original dessas
confusões justapostas.

Desta feita, para quem busca confiante e perseverantemente no


imo da alma, jorrarão as mesmas fontes nas quais se saciavam outrora
os Sábios de longínquo passado; assim nele possuirá, em toda a sua
limpidez, aquilo que, sob o emaranhado de superstições, não é mais
reconhecível, conhecendo-o pelo seu próprio saber.

Mas, sem a busca perseverante em vosso foro íntimo, conduzida


com o mesmo ânimo e o mesmo afã com os quais, hoje, vos entregais às
investigações exteriores -jamais podereis ter revelações do poder das
forças que em vós se ocultam.

Sois amos e senhores das mais altas "energiais prodigiosas" e, no


entanto, como escravos pelejais no mundo, para qualquer proveito
mesquinho!

As altas energias do Conhecimento, às quais me esforço por


chamar a atenção, estão em cada ser humano. Entretanto, dormem um
sono profundo, até que seu possuidor as desperte e as una pela sua
vontade numa só e única Vontade. . .

A maioria dos seres humanos se dispõe a seu último sono, sem


nunca haver suspeitado do tesouro que sua alma lhe ofereceu. . .

Feliz aquele que sabe, ainda em tempo, despertar em sua alma as


altas energias do Conhecimento!

Achará, pois, já na Terra, sua verdadeira Vida e no seu estado


mortal conhecerá a imortalidade.

Ora, este é o alvo final de todo o ensinamento espiritual; pois,


para que serviria falar do Reino do Espírito que permanece
109

eternamente alcançável, se este fosse tão distante das aptidões vitais do


Homem, que jamais o vislumbrasse durante sua vida na

Terra?!

Só aquilo que no plano terrestre se nos torna em vivência,


profundamente sentida, poderá guiar-nos quando vier o dia de
abandonar este plano e determinará nossa Vida nova.

DA MORTE

Aqui estamos no limiar obscuro que terão de passar os Homens


ao se separarem permanentemente da Terra.

Muitas promessas e muitas ameaças têm sido feitas a respeito do


que nos espera além desse umbral.

Não sei a que doutrina pertences.

Mas, abstração feita, todas elas, pressionadas pela experiência


diária, estão de pleno acordo quanto a um ponto: jamais poderás voltar
neste corpo de hoje, uma vez o tenhas deixado.
110

Alguns te afirmam que, futuramente, retornarás em corpo novo,


e forjam "regras" estupefacientes, segundo as quais dizem poder
determinar a época do teu futuro regresso à Terra num outro corpo
humano.

Outros se deixam aniquilar pela morte do corpo, para todo o


sempre, e, fiando-se unicamente nas aparências, sustentam que depois
da morte nada fica do Homem senão rígido cadáver, sem nada saber,
que lhes possa fazer admitir, que esse Homem, de uma ou de outra
maneira, esteja ainda em vida.

Ambos os conceitos são por igual errôneos!

Tu mesmo és pouco provável que retornes; mas ninguém sabe


quantas forças da alma conseguirás manter unificadas, quando vier o
momento de deixares esta existência na Terra.

Aquelas que não tiveres integrado em vida, terão de abandonar,


assim como o teu corpo; e, como as forças corpóreas quando livres da
sua forma temporal passam logo para outras formas de existência,
assim também as forças anímicas, deixadas aqui, have- rão de procurar
outro campo para suas atividades, num outro Homem na Terra.

Em ti hoje, há muitas forças anímicas em ação que, outrora, antes


dos teus dias terrestres, agiam em outros homens.

É daí que surgiu a noção de classificar os Homens terrestres em


"almas mais novas" e, em "almas mais velhas", conforme o tempo em
que suas forças anímicas tenham estado ativas em outros seres
humanos que antes deles viveram na Terra. . .

Entre os Homens contemporâneos que têm a mesma idade, a


contar do dia em que nasceram, há muitos, cujas forças anímicas são
111

bem mais "jovens" do que aquelas que são próprias aos homens
maduros e, pelo contrário, há outros, cujo número não é menor, que
possuem aos forças anímicas muito mais "velhas". . .

Cada um desses casos, isoladamente, é fácil de reconhecer na


vida diária, porque a maneira de ser do Homem em questão difere
consideravelmente da maioria dos seus contemporâneos. Há casos em
que ele parece como que "deslocado" dentro da sua época, e casos,
onde exterioriza inclinações próprias ao tempo apenas passado, ou às
vezes tendências características às de civilização muito anterior à
daquela. Isto, aliás, nada impede que, em ambas as categorias de
Homens, independentemente da época em que viveram, soubessem
adaptar-se e agir conforme ela exige, inclusive, não raro, servissem de
mediadores, transmitindo à sua geração grandes valores do passado.

Durante tua vida no corpo terrestre a quantidade de energias


que, temporariamente constituem tua “alma", é sempre variável.

Ora menor, ora maior número delas, está agindo em ti. . .

A morte, também, não pode te separar de um ser humano com o


qual tenhas sentido tua “alma afim", sem que dele recebas "heranças"
de algumas dessas forças anímicas. São extremamente "raros, entre os
Homens, aqueles que “levam" a sua vida “postmortem” todas as
energias que, em sua alma tiverem atuado, conseguindo assimilar
todas elas, unificando-as com seu Deus... A maioria dos que "morrem"
para a Terra, deixa atrás dela uma “herança" considerável.

Para uma visão espiritual, tua "alma" é uma "nuvem" luminosa e


vibrante, composta de incalculável "pontos" de emanação
resplandecente: são as tuas forças anímicas; e, durante tua vida na
Terra, esta nuvem luminosa está em continua transfor-

mação.. .
112

Todavia, não é a grande abundância das forças da tua alma que


formam sua "riqueza", mas tão-somente a união em teu "Eu”, em tua
eterna Vontade oriunda do Espírito, das forças anímicas atuantes em ti.

Só as energias que tiveres integrado em tua alma, serão tuas para


sempre, quando soar a hora de te despedires da Terra. . .

Caso não te unires com teu Deus, aqui, na Terra, então, depois da
morte do teu corpo, também não serás unido com Ele!

Viverás, então, como "Eu" no Espírito que tudo permeia, sob uma
forma espiritualmente substancial, e de acordo com o que adquiriste
em Espírito durante tua vida no corpo terrestre, esta forma tomará
"corpo" e, nela possuirás o poder mais ou menos forte de continuar a te
realizar. . .

Sob o augusto amparo serás guiado progressivamente no


"caminho", até que teu Deus tome forma em ti. . .

Porém o tempo que levará esta união parecer-te-á "eternidade",


pois nesse estado espiritual do ser desencarnado, existe também algo
similar à sensação que temos aqui do tempo e do espaço. . .

Mas, já não terás, então, o poder de transformar à tua vontade o


que ainda restou do tesouro de tuas forças anímicas, mediante as quais
e nas quais a possibilidade de realização espiritual é exeqüível, única e
exclusivamente pela vivência, no corpo carnal.

Haverás de te contentar por toda a eternidade, com as energias


anímicas que soubeste unificar em ti durante tua vida na matéria. . .

E, no entanto, jamais nenhum "Eu" humano, por paupérrimo que


seja em forças anímicas ao entrar na Vida do Espírito, a fim de
continuar o "caminho" de regresso para Deus, sentirá a menor
"saudade" de retorno à vida corporal, sejam quais foram os bens
materiais que tiver deixado na Terra. . .
113

Contudo, esse retorno existe, mas em outra forma e só em três


casos especiais:

Primeiro: deve-se submeter ao retorno aqueles que tiverem


cometido alguma ação criminosa na ocasião em que viveram na Terra. .
.

Segundo: esses que impedi ram seu corpo de viver e sentir


durante o tempo que lhes foi determinado, esperando deste modo
poder substrair-se, pela morte, aos sofrimentos e quaisquer angústias
que lhes pareciam insuportáveis. . .

E por fim, aqueles cuja vida foi curta demais para poderem
assimilar à sua vontade quaisquer forças anímicas; de sorte que
ficariam incapacitados de se sentir vitalmente em Espírito, se a
possibilidade não lhes fosse oferecida pela segunda vez, tal como só a
vida terrestre pode oferecer para que se adquira as forças anímicas.

Pela mesma razão, isto também fica determinado para as duas


primeiras categorias, ou seja, por toda parte onde se trate de um “Eu"
que em vida na Terra, embora bastante longa, não foi capaz de
assimilar nenhuma força da alma porque a bestialidade do seu veículo
abafou toda a vontade de faze-la, ou de um “Eu" que abdicou das
forças já assimiladas e sucumbiu ao constrangimento mental de
aniquilar seu veículo, quer dizer, o organismo que o representava e era
provisoriamente seu. . .

A todos aqueles a quem transmito esse ensinamento, de ora em


diante, será suficiente saber que só por sua própria culpa sofrerão pela
segunda vez as misérias da vida no corpo terrestre, condicionados a
todas as contingências materiais físicas. ..
114

Como já dissemos, os Espíritos humanos, prematuramente


privados de seus organismos físicos de automanifestação têm
possibilidades de obtê-los mais uma vez, e se pela ação das leis físicas
isso não fosse suficiente, até várias vezes; o que, dado o caso é
igualmente válido para ambas as categorias. Ora, esse fato deve ser
aceito com coração pleno de gratidão por todos que doravante,
começam a compreender o que a vida terrestre significa para o Espírito
humano, outrora “decaído", o retorno à Terra; pois, este fato é o efeito
decorrente do infinito Amor que abra tudo o que procede do Espírito,
não obstante suas quedas mais profundas. ..

Oxalá cada um que lesse essas palavras, delas se impregnasse e


as guardasse para poder reconhecer, cada vez mais e mais, que sua
existência terrena lhe confere o poder incrível de determinar, por si
mesmo, seu destino ulterior!

A maneira como empregar esse poder é indicada neste livro, que


se esforça para o demonstrar.

Todavia, ninguém deve lamentar os que morrem para a Terra,


aqueles que “passam" sem terem tido possibilidade de chegar, durante
sua vida terrena bastante longa, ao estado em que seu Deus neles
“nascesse", sem terem podido unir-se ao seu Deus com as forças
anímicas integradas em seu “Eu"!

Pois, em verdade, estes também estão englobados no eterno


Amor!

Eles encontram em todos aqueles que, em algum tempo


conseguirem unir-se a seu Deus, os mais fiéis Auxiliares, porque todas
as forças anímicas se "tocam" no Reino do Espírito Substancial, e essas
forças que os Unidos-em-Deus uniram na Terra, "transmitem" aqueles
que ainda não "engendraram" seu Deus dentro do "Eu".
115

Aliás, esse auxílio é dirigido simultaneamente pelos "Não


decaídos" que, no Reino do Espírito, reconduzem à Luz os Espíritos
humanos outrora decaídos, assim como o fazem aqui na Terra, sempre
que encontrem a vontade do "retorno". . .

Procura, ainda em vida, atingir teu alvo supremo, mas não te


aflijas por aqueles que não o atingiram ainda!

Podes também lhes oferecer teu auxílio; se o fizer pleno de vivo


amor!

Todos eles algum dia estarão unidos contigo em seu Deus. . .

Integrado em teu Deus, também serás um dia conscientemente


unido a todos os que souberes abarcar em teu Amor!

DO ESPÍRITO

Viveis em um Mundo em que o “espiritual" é produto do


intelecto.
116

O que este Mundo designa por “espírito" é a dialética de


raciocínio, ou melhor, a virtuosidade da mente, cujos pensamentos são
rapidamente concebidos em formar conceitos sobre coisas abstratas e
inconcebíveis com lógica surpreendente.

Ora, para o “ Espírito" que é Realidade Substancial e cuja Luz


permeia os Mundos tudo que os Homens de hoje chamam “espírito”,
nada mais é do que mero instrumento de percepção das coisas deste
mundo, aqui na Terra. ..

O mundo em que viveis, nada conhece a não ser o “instrumento"


e crê possuir a “obra".

É assim que o “espírito do mundo" tornou-se o “impostor da


vossa alma"!

Difícil será opor resistência a esse “espírito" que vos domina e


vos leva para onde lhe apraz levar!

O Espírito, consciente de si mesmo, vivendo em sua própria Luz,


nada tem de flutuante, nada de impalpável, nada daquilo que só
dentro de uma crença devota pode ser sentido ou aceito.

Ele não é somente tão “real" como uma árvore, uma pedra ou
uma montanha como um relâmpago cortando negrumes, mas é só nele
que nossa consciência da II Realidade" pode achar seu equivalente
perfeito; equivalente este, totalmente impossível de ser encontrado em
qualquer parte da Terra. . .

Ora, já que nenhuma coisa da realidade relativa se modifica pela


idéia que dela faz o cérebro humano, como podeis Pensar que a
Realidade absoluta possa de algum modo ser afetada por vossa ilusão!

Como as Imagens que tomastes, em nada modificam, em sua


essência, a mais ínfima coisa terrestre, assim também o Espírito da
Eternidade não é absolutamente atingido por aquilo que vos convém
117

chamar de "espírito" e continuardes chamando, até que em vós


percebeis sua substancial essência. ..

Talvez que hoje, neste momento, creiais compreender minhas


palavras, mas amanhã, sem dúvida, sereis de novo atordoados pelo
"espírito" deste mundo.

Quereis hoje dele vos libertar, para encontrar o real Espírito;


receio, todavia, que amanhã mesmo estejais ainda deslumbrados pelo
"espírito" do intelecto.

Hoje, não duvido de que achais já pressenti r alguma coisa da


essência substancial do Espírito; amanhã, contudo, a pusilanimidade e
a dúvida derrocar-vos-ão novamente e, renunciareis ao esforço da
busca daquilo que vos parece, neste instante, quase "discernível".

Em todos os tempos tendes agido da mesma maneira, quando


alguém vos vem falar sobre o Espírito alguém qualificado para falar a
respeito do Espírito cuja Luz ilumina o Infinito, porque Nele viveu e
pela própria experiência, d'Ele pode trazer testemunho.

Quem sabe, talvez, haja entre vós, alguns poucos que, a despeito
de tudo, estejam dispostos a empregar plenos esforços para chegar um
dia a discernir a Realidade de que falo, em sua simplicidade grandiosa
e sublime.

A estes eu me dirijo, pois só para eles minhas palavras serão


proveitosas.

A vós que estais decididos a não mais dar ao "espírito" do


intelecto a não ser aquilo que lhe pertence, para que ele não mais vos
possa enganar a respeito do Conhecimento da essência do Espírito
eterno, a vós me dirijo e repito mais uma vez para que bem o graveis:

O Espírito não é uma coisa imaginária!

O Espírito não é a força do pensamento!


118

O Espírito é Luz Vivente e Substancial que É por sua própria


essência!

O Espírito permeia todas as Imensidões e tudo vive da sua Vida,


contudo, o Homem terreno não O pode achar em parte alguma a não
ser: em si mesmo.

Ele é e Vive, consciente de si, tanto em vós como em todo


Universo infinito, penetrando-o de Vida’.

Ele não é unicamente em vossos cérebros ou em vossos


“corações”!

Muito embora o corpo de Homem seja de natureza animal essa


besta dissimula em si um misterioso organismo espiritual. ..

Sois o "Templo" do Espírito, Espírito que em cada um de vossos


membros, como em cada um de vossos órgãos internos, tem seu
tabernáculo sagrado num altar invisível. . .

Enquanto não sentirdes a vós mesmos, em todo o vosso corpo,


desde a ponta dos pés até o alto da cabeça, não podereis sentir o
Espírito, nem sereis, capazes de vos Integrar em vosso Deus.

Essa sensação de vós mesmos através do corpo inteiro, que em si


é o santuário do

Espírito há de ser vossa tarefa capital; o que, aliás, já está


implícito em tudo que até

agora tive oportunidade de dizer, mesmo quando dito de


maneira diferente.
119

Aqui é conveniente que eu fale de maneira uma tanto reservada.

Haveis de tornar-vos conscientes, não apenas pela ação do


cérebro ou apenas pelo "coração".

O Consciente vive em vós, desde o mais intrínseco até o mais


extrínseco do vosso corpo e, até, em cada uma das células davossa
carne, embora não esteja ainda identificado com a consciência de vos
mesmos. . .

Todavia, se quiserdes de fato perseverar nos vossos esforços


podereis então, pouco a pouco, encontrar em cada parte do vosso;
corpo, o consciente que lhe é próprio e, ao unificar assim o vosso eu
consciente, podereis cont1ecer algo sobre vós mesmos que naquilo que
sabeis pela cabeça e, dentro dela, pelo cérebro.

Tomai cuidados, entretanto, para não estimular ou superexcitar


os nervos, pois essa maneira de "consciência" do vosso corpo, há muito
já a conheceis e bem demais!

Aquele, para quem o progresso no caminho não traz serenidade e


lucidez maiores, não está na via segura'

Se quiserdes atingir o alvo, deveis procurar com calma absolutas


do corpo e da alma, dos nervos e dos pensamentos, sentir-vos em cada
átomo do vosso corpo, a fim de assimilar a Arquiforça* anímica que
vos é dada neste átomo e com ele. . .

Não é preciso, para esse fim, entregar-se a "exercícios" esquisitos


e nenhum esforço violento é necessário, nem mesmo útil!
120

A tranqüila sensação de vós mesmos através do corpo inteiro, a


vos entregardes em paz a essa sensação, tão freqüentemente quanto
vossa vontade e vosso tempo o permitam, trar-vos-á, após algumas
semanas ou meses, os primeiros frutos.

Mas não esqueçais de que é unicamente a vós mesmos que deveis


sentir em cada membro, e de maneira alguma, a esse membro em si!

Quando puderdes assim, de dentro e de fora, e de cima abaixo


"auto-sentirvos", então, maravilhados e reconhecidos, plenos de gozo
inefável, sabereis o que é esta vida terrena que, até chegar esse dia, vos
vem parecendo ainda tão "imperfeita". . .

Vosso corpo inteiro passará então por uma renovação


insuspeitada.

Aquele, a quem faltam membros do corpo, saiba, que todo


membro existe em sua substância espiritual, mesmo que nunca tenha
existido fisicamente, subsiste contudo em sua forma espiritual, ainda
que separado do corpo.

No "corpo" espiritual não existem mutilações!

Em seu "corpo espiritual", cada Espírito humano é um ponto de


convergência de toda a beleza com a qual ele é capaz de glorificar sua
I'alma" e na qual esse "corpo" espiritual "se manifesta"; e aqueles que
sabem "ver" em Espírito, vêem nele somente aquilo que, mediante as
forças da alma, já adquiriu forma; não percebendo nenhum defeito
físico que se manifesta no corpo denso, sendo este o mero produto da
influência da matéria.

Quando tiverdes chegado a esse ponto e sentido a vós mesmos,


na totalidade do vosso corpo, como um todo indivisível, então sabereis
deveras venerar o corpo, como o exterior do “templo" que em si recata
o Mistério sagrado da Vida do Espírito tão inacessível ao olhar e ao
ouvido, que só o Espírito do Homem, no caminho de regresso à
121

Luz da qual outrora se exilou, pode perceber e sentir. ..

Todavia, antes de tudo, tereis de vos certificar se a vossa alma já


atingiu esse estado de maturidade que permita ao Irmão
espiritualmente mais "velho", que a está observando, servir-lhe de Guia
e de Instrutor.

Sem seu auxílio, seria muito difícil algum de vós chegar, ~i


jurante a vida na Terra, a ser consciente do Espírito Universal, mesmo
que o "corpo do Espírito" já esteja sendo conscientemente sentido em
vosso corpo carnal.

Nenhum esforço ficará perdido, mas o prêmio da Vitória' lão vos


será entregue senão quando chegardes ao termo do caminho, cuja
direção só podereis encontrar sob a influência de uma:: conduta
espiritual interior. '::

Muitas coisas, entretanto, ser-vos-ão acessíveis só pelo fato de


terdes perseverado.

Quando em vós sentirdes, através de todo o corpo carnal,


estardes em "corpo espiritual", começareis naturalmente --sem que haja
necessidade de qua1quer impulso da volição a "respirar" o Espírito,
tanto em vós como em todo o Universo. Ora, para muitos, esse estado
era de tal felicidade, que os satisfazia por muito tempo; reconhecendo
eles não estarem, no momento, suficientemente preparados para
vivência vital mais elevada. . .

Aceitai, todavia, sem receio, tudo o que vier e dai voto de


confiança à lei do Esp írito que não conhece nenhum arbítrio age
sempre para o melhor de vossos interesses!
122

O caminho ao "Intimo Oriente" vos está aberto às escâncaras, e só


da vossa lúcida vontade depende o determinar quando se vos há de
nele encaminhar. . .

As regiões do "Intimo Oriente" possuem muitas moradas ef" a


todo peregrino sincero será dado a sua -jamais a que pertence?~ a
outrem. ..

As leis da eterna evolução que vigoram aí, não são menos


rigorosas que as vigentes no mundo exterior.

E nenhum Irradiante da Arquiluz tem o direito de transgredir


essas leis! :

Ele conhece-lhes, apenas, a natureza e a eficiência e sua ação se


limita a uma única finalidade: a de reconduzir os Homens que vivem
atualmente na Terra, bem como as gerações vindouras a seu alvo
supremo à Felicidade.

Para isto, serve a sua Anunciação!

E por isto, vem-lhes em auxílio a lei do Espírito à qual ele serve


com todas as suas forças de devoção. . .

Ele atua no imo do Espírito Arqui-Sendo* e age pelo poder do


Espírito. ..

Ora, do seio do eterno Espírito substancial, “Deus” distilado-se


do Espírito se forma em todo ser humano que, com fervor se esforça
para ir ao encontro do seu Deus, aguardando, esperando
pacientemente o Dia em que estiver tão preparado, que Ele nele possa
"nascer".

Deus é Espírito, sendo, contudo o máximo das automanifestações


do Espírito!
123

Formando-se a Si mesmo, o Espírito, em Sua mais elevada forma


de Ser,

revela-se - como "Deus"!

*Causa das Causas, Ser Inicial Eterno, que ~ desde a Origem e


por toda a Eternidade, sendo sem cessar na plenitude do Ser.

*Quer dizer, a Força Anímica Inicial, eternamente Original e


Primordial.

O CAMINHO DA REALIZAÇÃO

Escolhe, ó peregrino, desde teus primeiros passos, o caminho da


verdadeira Luz. Pois será muito fácil te perderes nos desvios e tomares
o rumo sinistro da luzente e tentadora serpente, quando chegares ao
sopé da Grande Montanha que, em último caso, também é alcançável
por vias indiretas, ao invés de sê-lo pelo caminho traçado pelos Irmãos
da Luz Primordial, através do deserto. Contudo, nada te impedirá de
escolher esta via, se souberes, desde o início, afastar da tua grande e
pura Vontade todos os "de- sejos" inferiores.
124

Pois, como poderás "escolher" o nobre caminho da Sabedoria que


leva aos vértices resplandecentes, se, no final do atalho que atravessa o
"deserto", ao se erguerem os picos escarpados que procurarás escalar
para atingir tua meta final, estiveres ainda carregado de desejos?!

Sabe que para a visão da tua alma, a Luz da Verdade virá então
como um clarão longínquo através da bruma, e que o atalho
conducente à Luz parecer-te-á "interminável "!

Enquanto que, ao lado dele, a "senda de engano" leva a claridade


brilhante, cintilante e bem perto de ti. . .

Mas, essa "claridade" é a fosforescência traiçoeira da "serpente",


cujo corpo brilhante de fogos multicolores enrosca o globo terrestre. . .

Pobre de ti se caíres em seu poder!

Ela saberá te fascinar pelas contorções enfeitiçadoras e


ininterruptas da cabeça de escamas fosforescentes e, quando, curioso,
ficares bem ao seu alcance, ela te prenderá e não demorará a te
devorar.

Podes tu, meu amigo, perceber o que a Verdade velada por


símbolos quer te fazer compreender?

Feliz tu és se souberes realmente "interpretar" os símbolos!

Dir-te-ão coisas profundas!

Coisas que, em sua maior parte, se não fossem os símbolos,


deveria ficar indizíveis!

Coisas que jamais se mostrariam em sua nudez!


125

Contudo, tentarei aqui atingir também, aqueles para os quais os


símbolos estão ainda "velados".

Escuta, pois, outras palavras, mas sabe que dizem a mesma


verdade!

Quando, ó peregrino, sentires pela primeira vez o ímpeto de


levantar os véus por trás dos quais pressintas ocultar-se a Verdade, um
"Guia" terás sempre ao teu lado, vindo do Mundo da Luz que deverá
tornar-se tua "Pátria eterna".

Sentirás a proximidade desse Guia sem saber exatamente o que


provoca em ti essa sensação.

Involuntariamente seguirás esse Guia.

Entrarás, então, no "atalho" que atravessa o "deserto".

O "deserto", todavia, está repleto de grãos de areia criados


pelo pseudoconhecimento dialético dos cérebros humanos.

Milênios têm trabalhado nessa criação!

Através do centro do "deserto", os Excelsos Mestres, competentes


construtores de estradas, levantaram um sólido dique pelo qual se
percorre com passo seguro. . .

Ao redor, estendem-se os montes de areia movediça do saber


intelectual analítico, em reboliço constante, sem cessar modificando
sua linha de ondulação terreno inseguro e perigoso para os pés
daquele que por ele se aventurar. . .

Mas, no dique que os Irradiantes construíram para a alma, a


passagem é talhada na rocha. ..

Nela te sentes seguro. . .


126

E corajosamente avanças. .

Por muito tempo terás de caminhar pacientemente, antes de


chegar àquele ponto muito importante, onde o dique de rocha maciça,
que atravessa as areias do deserto, alcança a "Grande Montanha",
deixando de existir. ..

E lá, deves te decidir, pois, diante de ti se estendem dois


caminhos que, de inicio, não saberás ao certo distinguir.

Ora quererás escolher um, ora outro.

Um, não obstante conduz aos altos cimos; o outro, aos


abismos insondáveis e às fendas traiçoeiras da montanha. . .

A escolha de direção depende unicamente de ti !

Mas certamente saberás logo diferenciar o caminho que leva aos


cumes, daquele que leva aos abismos, principalmente, se dantes teus
pés já estava acostumado a pisar firme na "rocha", pois o caminho dos
infernos é escorregadiço e inseguro. . .

Estando já no atalho rochoso do dique, as coisas invisíveis


procurarão provar-te sua existência.

Mesmo assim, ainda não saberás perceber por quem são


guiadas essas energias, cuja

ação reconheces.

Supões ainda, tratar-se de uma só e mesma vontade que anima


todas as forças invis íveis.

Sabe, no entanto, que os reinos inferiores do invisível possuem


guias também inferiores.
127

Sabe, também, que o mar e a terra não são categoricamente",


separadas quanto o são, as energias inferiores, indistinguíveis para os
sentidos sensórios, que, formando e destruindo, trabalham no 'Mundo
da matéria" e as Altas Potências do Espírito na suprema Luz !

Os dirigentes dos reinos inferiores são os mais temíveis Inimigos


da tua alma.

Isto não é, absolutamente, porque sua vontade os incita a


Prejudicar tua alma, como a vontade cheia de ódio dos condenados ao
aniquilamento e que outrora foram Homens terrenos possuindo o mais
alto conhecimento e tendo sucumbido à queda nas trevas, mas sim, por
causa das forças de atração às quais dificilmente poderás resistir se não
fores isolado por Altas Potências espirituais.

Se, todavia, te aventurares por domínio que estão sob a influência


dos dirigentes inferiores, então, poder-se-á saber quem tu és.

No caso da tua busca ser dirigida exclusivamente para o alto,


para a limpidez eterna do Espírito, então o Guia, sendo um dirigente
das mais altas Potências do Espírito, isolar-te-á, tomando-te sob sua
proteção.

E sob esta proteção saberás escolher, sem vacilar, o atalho que te


levará ao mais puro Conhecimento da Luz.

Então, atingirás a Vida em irradiação perpétua nos cimos


soberbos do Espírito.

Mas se é para ti apenas questão de ciências ocultas, se


unicamente procuras explorar o "oculto" com o objetivo de te apossares
de novas energias para satisfação egoísta de teus desejos, então, sem
que te apercebas, escorregarás das mãos do teu Guia. . .
128

Abandonado às tuas fracas forças, tornar-te-ás presa das energias


de atração, que exercerão sobre ti sua influência de domínio dos
dirigentes inferiores, atraindo-te para os abismos sombrios no eterno
parir da matéria.

Talvez adquiras energias "ocultas", mormente se praticares


abstinência sexual rigorosa e te alimentares exclusivamente de
vegetais; contudo, pobre de ti e, infelizes todos aqueles que caírem em
tuas mãos, se adquirires tais energias'

Porque os mesmos dirigentes inferiores são "Construtores da


base" e destruidores de tudo que tende a se elevar, livre, acima dos
fundamentos que eles consolidam.

Não te iludas, pensando que eles possam te ensinar os segredos


do gênesis, como esperaram totalmente, muitos "aprendizes de
feiticeiros'"

"

Eles vão, sobretudo, apoderar-se avidamente da tua vontade,


porque as Potestades do Cosmos invisível necessitam de agentes
humanos quando querem agir sobre os centros de volição encarnados,
e tu lhes servirás de destruidor, mesmo quando estiveres na ilusão de
edificar.

Os dirigentes superiores, como os inferiores, pela sua influência,


só podem atingir a alma dos Homens, conquanto as unidades de
volição humanamente encarnadas, lhes sirvam de "pontes" para este
fim. . .

Talvez agora pressintas o que quer dizer a doutrina do "Filho de


Deus" que devia tornar-se "Homem" para "redimir" seus irmãos
humanos?'

A maneira de agir das Potências espirituais, seja essa ação


provocada e determinada, em sua natureza, pelos mais altos ou pelos
129

mais inferiores dos dirigentes, não conhece nenhuma restrição de


tempo, nem nenhum obstáculo de espaço. . .

Em nossos dias, as Potências, que outrora foram incitadas e


determinadas para agir, tanto por meio dos dirigentes superiores como
através dos inferiores, estão ainda em ação no mundo anímico do
Homem da Terra; embora centenas e milênios de anos terrestres se
tenham passado antes que essas Potências houvessem encontrado o
caminho nos corações através de um Agente humano.

Onde quer que este último viva ou tenha vivido, o poder


espiritual que age por seu intermédio, alcança todos aqueles que,
estando já predispostos, possuam vibrações similares, mesmo que
vivam na outra extremidade do globo terrestre ou ainda estejam por
nascer numa geração futura. . .

Mas, enquanto a característica da alta direção espiritual é


indubitável, visto que as Potências do Espírito, acionadas por essa
direção, agem resguardando cuidadosamente a liberdade individual
do Homem, e além do mais, realizam o Homem que lhes serve de
“ponte", fazendo dele Amo e Senhor das forças que através dele atuam;
existe também a possibilidade de reconhecer os dirigentes inferiores,
pois estes, pelo contrário, sempre procuram escravizar todo aquele que
consegue chegar à ação por eles provocada; apoderando-se dele e o
influenciando, mesmo quando nele sustentam a ilusão de ser o
“senhor" das forças acionadas. . .

O fim deste que serve de “ponte" aos dirigentes inferiores é a


“dissolução" em noite tormentosa!

Em compensação, aqueles que são as “pontes" para os


Condutores Augustos do Espirito, formam uma eterna e real
Comunidade da Luz em Espírito, pois, em todos eles, uma “estrela" foi
130

acesa, a qual, formada da mais pura força anímica do Espírito, ilumina


por toda a eternidade as almas dos Homens na Terra. . .

Muito vã doutrina cerebral pretende levar-te a crer que o


Homem, depois de muitas existências terrenas, chega a uma evolução
cada vez maior. E esta doutrina expõe também, que as “pontes" são
construídas por elas mesmas para que os grandes Instrutores
espirituais possam por “elas" atravessar e chegar aos Homens na Terra;
e que essas “pontes" nada mais são do que Homens que já viveram
inúmeras vidas terrestres e que por .seus próprios méritos alcançaram
o termo supremo da evolução, o qual todo ser humano deverá um dia
atingir.

Não creias em tais absurdos!

Pois, arriscar-te-ias, facilmente, a ser vítima da quimera; e de um


“futuro Mestre", que já tivesses imaginado tornar-te, não sobraria
senão um pobre escravo, iludido por sua própria vaidade!

Nem a todo Homem da Terra é imposto o fardo que só deve ser


levado por alguns que, outrora, logo após a “queda" da irradiação
sublime, cheio de compaixão para com seus companheiros de
desgraça, ofereceram-se como colaboradores dos Dirigentes do Espírito
para simultaneamente serem "pontes" e "ponteneiros", ao serviço do
eterno Amor. ..

Só aquele que já foi mestre ponteneiro nos Reinos espirituais


e isso bem antes da sua encarnação em corpo humano pode resistir,
aqui na Terra, à prova da "Maestria". . .

E este, como Homem da Terra, saberá somente que é "ponte"


e "mestre ponteneiro", no dia em que lhe for dado aproximar-se da
Comunidade Irradiante dos seus Irmãos espirituais, como alguém que
também passou, no plano terrestre, pela "prova da

maestria" e a venceu.
131

Então, este "Filho" dos excelsos "Pais" em Espírito, será


admitido como "irmão" espiritual, por ter-se tornado um dos
Irradiantes da Luz Inicial.

Mas todo Homem da Terra, seja qual for, poderá tornar-se


"irradiante" da Luz espiritual em Liberdade eterna, mesmo que receba
a Luz como um planeta gravitando em torno do sol.

No Reino da Luz ninguém "inveja" o raio da ação de outrem,


o qual lhe tenha sido confiado pelo único, pelo eterno "Mestre" de
todos os "Mestres". . .

Todo ser humano que ingresse neste Reino, é um Realizado,


Liberto em si mesmo e sabe que a Realização não lhe seria possível, a
não ser na forma própria para ele.

E só o efeito do teu desconhecimento da natureza, humana,


far-te-á aspirar, eventualmente, a uma forma de realização espiritual,
cuja condição não se manifeste no âmago da tua individualidade. . .

De que te serviria o esforço para alcançar um gênero de


realização que já esteja reservado a outrem?!

Mesmo que tivesses achado a mais alta forma de realização à


qual possa aspirar um ser humano, se não fosse seguramente a tua,
seriam baldados os teus esforços em querer realizar-te...

Só realizando aquilo, que apenas a ti foi dado e realizando-te a


ti mesmo, alcançarás um dia essa Luz perpétua cujo fulgor deverás
eternamente irradiar!
132

DA ETERNA VIDA

Falar-vos-ei agora, da “Luz" vivente; da eterna “Vida"


imorredoura, que flui através de todo ser humano.

Quero mostrar-vos a Luz que vive dentro de vós e ilumina


vossos corações'

Vós, todos que desejais compreender o sentido da Vida, já


estivestes tempo demais nos caminhos que só levam ao desengano.

Ora, podereis acabar por "achar", se confiardes na palavra de


quem a encontrou.

Sois Reis que não conhecem seu próprio Reino'

Dentro de vós está este Reino, e vossos olhares em vão se


esforçam ao procurá-lo somente e sempre fora'

Perguntais, sem obterdes resposta e, no entanto, perguntais


sempre de novo: "Onde está a Terra que nos foi prometida"?'

“Acabamos nós, quando chegar o fim da nossa existência, ou


sobrevirá nosso ser?"
133

Vede: todos os que antes fizeram a mesma pergunta, estão em


vós, em vosso “reino interno" e, poderiam vos responder se a algazarra
do mundo não vos tivesse tornado surdos.

Vossa própria alma é o “Reino dos Espíritos", os que eternamente


viverão convosco e em vós,

Em vós mesmos abarcais o Infinito. . .

Dentro de vós vive o que é, o que foi e o que será. . .

Vosso Ser é "Onipresente", no entanto, estais ainda acorrentados


à existência, e no presente em vão esperais por aquilo que nunca virá.

Credes ainda que o Reino da Paz é tão distante como os astros,


enquanto ele vive dentro de vós e vós nele viveis. . .

Todo aquele que conquistar este Reino, tornar-se-á Rei absoluto


por toda a etern idade'

Assim como achais aí contida toda a essência Humana em sua


eterna Vida espiritual, também sereis encontrados por todos que neles
conquistaram esse Reino.

É o Reino único dos Espíritos, no entanto, a cada um dos


inúmeros seres que dentro deles o "conquistaram", pertencer-lhes- à
em sua totalidade. Cada qual é "Rei" incontestável desse Reino e seu
reino é a "Eternidade" -como se fosse o único "Rei" en- tre os inúmeros
Reis do "Reino" que possui cada ser em plenitude da sua alma. . .

Não podereis conquistar o Reino dos Espíritos fora de vós


mesmos!

Só em vós Ele se torna acessível para vós!

E se quiserdes procurá-lo fora, ficareis desiludidos, pois tudo o


que se pode achar fora do "Mundo da Eternidade", isto é, do "Eu"
134

intrínseco, é uma experiência temporária, uma "imagem" efêmera,


como essa da vida terrena limitada que é pela morte. . .

Lá, onde a alma está consigo mesma, unida com seu "Eu" e
dirigida por Ele, poderá ser encontrado o "Reino" que eternamente
permanecerá vosso.

Lá, deveras, não há mais decepções!

Lá, em verdade, se possui a "Eternidade"!

Só o vosso "Eu" é possuidor ilimitado desse "Reino"... Infinito é o


número dos "Reis" desse Reino, e cada um para quem Ele se tornou
"Reinado", está unido, no seu íntimo, a todos aqueles que por direito
sagrado cingem sua coroa. É o único Reino em que todos reinam. . .

Isto não é que um vivo junto ao outro, mas, um com o outro, um


no outro, vivem todos aqueles, que lá vivem, imortais!

Assim como na Terra dizeis de alguém que "vive" sua vida,


quando, bem ou mal, ele goza ativamente, assim também lá, "viver" é
sempre ação e a "vida" não é a mera denominação de um estado de ser.

Lá, a "vida" é "Luz", de cujo seio o Ser espiritual brilha, da qual


"vive"!

Vós próprios sois "urdidos" no Mundo eterno dos Espíritos, e a


"Vida" flui através de vós sem que o saibais!

Antes de qualquer coisa, ainda vos sentis em vosso "eu" como


que refletidos no espelho de vossos "reflexos cerebrais", como se fôsseis
um ser individual independente.

Ora, nada existe na Terra, nada no Universo inteiro, nada em


Espírito, que possa ter sua I'Vida", e ser capaz de l'vivê-la" só para si!

Tudo o que "vive" está sempre uníssono com toda a Vida!


135

Cada “ser individual" é definitiva e incontestavelmente todo o


Ser!

Mesmo que não esteja dotado de conhecimento necessário para


sabê-lo!

Um ser individual só poderá alcançar sua "redenção”, ao se sentir


vitalmente no Ser Total, liberto de toda outra "individualidade"! .

Não haverá redenção possível, enquanto no vosso "Eu", neste


"Eu" que há de ser eternamente conquistado, não ficardes cônscios de
que unicamente no “Eu Total" ele se dá a vós e se integra convosco por
toda a eternidade!

No vosso "Eu" eterno, está a "Vida Total" e somente dentro desta


"Vida é que podereis achar os verdadeiros Eternos" - os eternamente
Vivos!

De há muito poderíeis tê-los achado, se, em vossa obstinação e


extravio, não tivésseis procurado sempre e somente lá, onde nunca,
jamais poderão ser encontrados!

É inútil o procurares penetrar nos domínios invisíveis deste


mundo da matéria!

Porque é mais fácil a um desses que vivem no eterno vós


"aparecer em carne e osso", em qualquer lugar, do que vir ao vosso
encontro no invisível físico. . .

Havereis de saber vos imergir no que é eterno em vós, se


quiserdes unir-vos conscientemente a todos os que já vivem na
eternidade da Vida imorredoura!
136

É NO ORIENTE QUE RESIDE A LUZ

Muito poucos "ocidentais" pressentem a verdade quando ouvem


falar dos "Homens Sábios do Oriente", a respeito dos quais, segundo a
tradição antiga, foi conservada em cenáculos fechados, e é mantida por
alguns nobres pesquisadores da Verdade. E entre aqueles que agora
têm uma vaga impressão do que se trata, só a minoria não se deixa
entregar às imaginações insensatas, desde que passe a visualizar sua
"intuição".

No Oriente, no coração da Ásia, a lâmina do pensamento foi


afiada ao extremo. Também lá já estiveram, há milênios, os Grandes
Seres que encontraram o claro caminho da Verdade, além de todo
pensamento, Verdade que nada mais é, senão absoluta Realidade; e
nada tendo em comum com as imagens do pensamento que
habitualmente, nos comprazemos em chamar de "Verdade" e que
acreditamos possuir.

Sob a excelsa orientação, os primeiros "Irmãos na Terra" acharam


o caminho e atingiram a meta. . .
137

Desde então, com o auxílio dos seus sucessores, ensinam eles do


Espírito ao Esp írito, aos peregrinos que julgam "maturos".

Entrincheiraram sua Comunidade com "baluartes sagrados do


silêncio" e só acha acesso a ela, quem é por eles reconhecido, e Espírito,
como estando "maduro" para tornar-se Conhecedor em Espírito.

Sabem que seu dom é proveitoso somente àqueles cujos esforços,


no caminho, estão chegando ao seu fim.

Mas, para todos os seres humanos, eles enviam do seu meio, os


Auxiliares Instrutores, e os enviaram, sempre, através de todas as
épocas. . .

No Ocidente, como no Oriente, sempre houve “Irmãos Atuantes".

Nenhum sinal exterior distingue os Membros dessa Alta


Comunidade.

Só eles reconhecem, e mais ninguém, aqueles que lhe pertencem.

Sua essência espiritual está profundamente velada aos olhares


profanos.

Nenhum dos aqui referidos tentaria jamais se cercar dos fiéis ou


fundar uma Comunidade.

Nunca nenhum deles “fundou" ou “instituiu" tais sociedades.

O que em caráter de “Irmandades" tem surgido no Mundo,


considerando-se a si próprios autoridade dos “Irmãos na Terra"e até
dos excelsos “Pais" em luz, não foi senão obra de almas
insuficientemente amadurecidas que, pelo prematuro desabrochar dos
sentidos internos, tornaram-se aptos à percepção de alguma coisa do
Oriente intrínseco, como que estar escutando atrás das portas, sem que,
todavia, suas forças fossem suficientes para interpretar corretamente o
que assim surpreendiam.
138

É bem raro, um dos “irmãos" evidenciar-se e proclamar


abertamente seu caráter diante dos seus semelhantes na agitação do
mundo exterior; e para todo aquele constrangido a agir assim, este
passo torna-se um amargo sacrifício.

Onde tais sacrifícios não são absolutamente necessários, deve-se


evitá-los.

Daí, a discrição com a qual se envolve cada membro desse


Cenáculo, enquanto seu dever não lhe impuser a obrigação de dar a
conhecer, às vezes disfarçadamente, outras vezes em afirmações claras,
bem inteligíveis, seu caráter que, aliás também não é tão fácil professar.

A Alta Comunidade dos Irradiantes, sobre a qual, antiqüíssima


tradição de veneráveis peregrinos da Verdade fala a respeito,
chamando-a de “Sábios do Oriente", é coordenada apenas pela lei do
Espírito.

Seus membros não conhecem votos de ascetismo, nem


juramentos de “ordenação".

A evolução das forças espirituais não depende de fatores como


esses.

Contudo, o que exige a lei à qual essas forças obedecem, é bem


mais árduo do que o ascetismo mais rigoroso ou a mais rígida via de
penitência.

Se se quiser saber o que é realmente um "Iniciado" dessa


Comunidade, tem que se renunciar a muitas sugestões mentais a
respeito e que, muito embora decorram de premissas exatas, só tocam
o Homem nas zonas inferiores.

Cada um deles, entretanto, reconhecer-vos-á sem se deixar


atingir por vossas "suposições errôneas".
139

Não será, aliás, mediante vosso ouvido exterior que ouvireis seu
"ensinamento", caso estejais com ele em “relações pessoais"!

Os enunciados que, ocasionalmente, um Integrado no Espírito


transmita em idioma do seu país, não constituem seu "ensinamento".

São meras "sugestões" que vos permitem encontrá-lo de novo ou


a qualquer outro da sua categoria, no íntimo de vós mesmos.

Também suas palavras não devem ser "explicadas" ou analisadas


pelo raciocínio, mas sentidas profundamente.

Quando, todavia, estiverdes à altura de serdes seus "discípulos",


então, em vosso próprio coração ele vos "falará"!

Jamais, entretanto, procurará anuviar vossos sentidos pelos


encantos fastidiosos do êxtase, mas tudo fará para suscitar em vós, ao
lado dos sentidos corporais, novos sentidos, os espirituais.

De início, ouvireis seu "ensinamento" sem saber se, quem assim


está "falando" em vós, é o Amigo e Condutor da vossa alma ou se sois
vós mesmos.

Contudo, uma certa maneira de sentir, pura e nova, provocada


por seu "ensinamento", não demorará a fazer-vos compreender que, o
que "fala" em vós, é a voz "sagrada", criando de chofre uma lucidez
interior sem o apoio das palavras verbais.

Esta percepção, não raro, totalmente inesperada e surpreendente,


de uma clareza das coisas do Espírito, tão límpida, cujo brilho
ultrapassa tudo o que o raciocínio lógico habitualmente voz traz como
claro, é um sinal infalível de que o verdadeiro ensi- namento já se
procede em vós. . .

O “ensinamento" espiritual não é, de maneira alguma, a "vontade


de convencer", mas sim, o esclarecimento imediato do que dantes
estava mergulhado em trevas.
140

Assim, "fala" em vós um "Irmão" terrestre que já não precisa


mandar as ondas sonoras do ar ao vosso ouvido carnal, a vos querer
atingir "ensinando"; pois que encontrou abertos e receptivos corações
que nele confiam. . .

Talvez, de início, ainda não vos seja possível "entender" tudo o


que, dessa forma, recebeis; porquanto, mesmo percebendo algo
claramente, nem sempre se está à altura de discriminar, mentalmente,
o que dessa maneira se assimilou.

Aquietai-vos, se for este o caso, e não destruais o que está claro


pelo raciocínio analítico!

Procurai, antes de qualquer coisa, distinguir a "VOZ" que "fala"


em vós das vozes enganadoras de vossa fantasia excitada.

Sede calmos e serenos, como se se tratasse de observar em vós,


coisas que tendes longo hábito de fazer!

A voz do ''Instrutor", a princípio, é tão tênue como o mais sutil


pensamento, uma sensação apenas perceptível.

Mas o Guia em Espírito não pronuncia uma só "palavra" na sua


"linguagem" espiritual, sem que surja um "sentimento" que é difícil
descrever, mas que pode ser logo reconhecido, mesmo por quem o
tenha sentido só uma única vez. . .

Nenhum "pensamento" próprio seja ele de natureza mais


elevada, poderá jamais criar este "sentimento" que o Espírito cria e no
qual e pelo qual o Instrutor espiritual atua.

À proporção que aumentar a segurança com a qual sabereis


distinguir a “voz" de todas as vozes que não sejam da mesma tônica,
ela vos "falará" cada vez mais nitidamente.
141

Até chegar a "hora suprema" em que todas as vossas dúvidas, da


menor até a última, vos deixarão definitivamente.

Contudo, não sedes impacientes se não puderdes, às pressas,


chegar à primeira etapa!

Não sabeis se estais suficientes “amadurecidos" para receber o


"Ensinamento" com o devido proveito, e, aqui, só o Instrutor arca com
a responsabilidade daquilo que dá.

A alguns a certeza virá mais cedo que a outros, mas ela virá
certamente se, com toda a calma e com toda a confiança, vos
entregardes ao ''Instrutor espiritual”!

Mas não esqueçais de que a verdadeira "Sabedoria" é o


"Conhecimento da Realidade" e que os verdadeiros Mestres da
Sabedoria, quando ensinam, baseiam-se na Realidade. Realidade que
não é o que há de mais complicado no Ser, antes, o que há nele de mais
simples. . .

Há energias mentais que procuram, constantemente, enganar,


porque elas mesmas só vivem de mentiras. . .

O Instrutor espiritual está longe dessas regiões!

Jamais vos trará testemunho que não seja o das coisas do


Espírito, da Alma e da Eternidade. . .

Por ele sabereis quem sois e o que, em Realidade, representa o


Homem "em si", no Cosmos!

Se depositardes confiança naquele que vos "ensina" em vosso


íntimo, tornar-vos-eis tão seguros como seguro ele é!

Sua própria segurança o transmitir-vos-á, o seguro.


142

Mas não façais perguntas ao vosso íntimo antes de soar a grande


hora da certeza.

E se não obstante o fizerdes, sucumbireis às energias mentais


enganadoras, das quais acabo de vos falar.

Outrossim, não ireis imaginar coisa alguma quanto à natureza e


ao aspecto físico sob os quais vosso Instrutor espiritual vive, cá, na
Terra. E se conhecerdes um homem de quem sabeis estar integrado em
Espírito, tomareis cuidado para não achar que este, por ser conhecido
de vós, deva necessariamente ser vosso instrutor espiritual!

Não tendes necessidade de saber quem, do seio dos Irradiantes


da Arquiluz, vos ensina espiritualmente e, esses que sabem, não vo-lo
dirão certamente. . .

Dominai vossa fantasia, para não serdes levados, bem despertos,


à orla dos sonhos alucinantes e transviadores!

A vida exterior do Instrutor espiritual é uma coisa dele, pessoal; e


ele não quer que se confunda o Espírito no seio do qual age, com a sua
manifestação corporal, condicionada à Terra.

Não quer que seus "discípulos" prestem à sua "personalidade",


tributos e honras que não cabem senão à energia espiritual da qual ele
se satura para cumprir seu dever.

Ele apenas "ensina" a "Sabedoria" que chamam "Verdade" e que


se revela ao "discípulo" como Realidade. . .

"Ensina" ele em Espírito pelo poder do Espírito.

E cada um daqueles que têm as qualidades para "ensinar" desta


forma, está ciente do que para ele é por demais penoso, ou seja, que
basta uma só imperfeição do exposto daquilo que é eternamente real,
para caracterizar a obra do Homem da Terra e que todo Irradiante da
Luz Inicial apressar-se-ia em "queimar"as honras que poderiam,
143

eventualmente, ser prestadas à sua "personalidade” no altar eterno ao


qual serve, em virtude da sua ordenação espiritual.

FÉ, TALISMÃ E IMAGENS DE DEUS

Tão simples como a Causa Última são os derradeiros segredos da


Natureza.

Não separes arbitrariamente, pelo raciocínio, aquilo que germina


na mesma raiz e verás, por todos os lados, as mesmas leis. . .

Ensinaram-te, entretanto, a edificar um segundo mundo, mundo


sem base nem razão e esta edificação do ilusório, surgida do nada, teus
mestres denominaram: "a fé".

Não é dessa espécie de "fé" que se trata, quando te falo da Fé!

Nem tampouco aquela "fé" necessária para a salvação da tua


alma!
144

Queremos abrir tua sensibilidade à força eterna que vive em ti e


que, sem cessar, em atividade vivificante e constantemente criadora,
capta as forças de tua vontade para condensá-las numa determinada
ação.

A Fé é a força de criação em Espírito!

A Fé cria as formas, através das quais a ação da tua vontade se


manifesta!

A Fé é modo de ação da Vontade!

Não podes, deveras, querer sem crer, pois uma vontade sem
forma é energia que escoa e, como tal, se desperdiça sem produzir
efeito.

Mas, no momento em que dás à tua Vontade uma forma precisa,


através da tua Fé, ela se torna tão poderosa que é mesmo capaz de
transformar o conjunto, aparentemente inalterável, de elos do porvir, a
ponto de os modelares, como em cera mole, segundo a forma da tua
Fé. . .

Tua alma enlanguesce enquanto não sabes crer, e, em sua


angústia, te arrasta à superstição!

A "Vida" da tua alma é Vontade e toda vontade quer conquistar


uma forma precisa, a fim de manifestar-se em ação.

Se uma vez tiveres sentido o que é deveras "a Fé", saberás então
realmente crer. ..

Tua Fé é o molde em que toma forma o teu destino, como um


mineral em fusão!

Tua Fé necessita de liberdade absoluta!


145

Só tu mesmo és a Norma da Tua Fé!

À tua imagem, a Fé forma teu Deus; assim como outrora, ela


criou teus deuses. . .

Sem a forma é o divino na insondabilidade do Seu Ser. . .

Só quando formado, Ele se torna sondável para ti.

A ti e em ti se revela sob tua forma I

Por conseguinte, não podes, de maneira alguma, mostrar teu


Deus a teu irmão, pois em toda a eternidade, ele jamais virá a
contemplar teu Deus. . .

Poderá ver a mesma Divindade, porém, formada à imagem


dele...

Não te iludas, pensando poder atrair um irmão para teu Deus,


pois, caso ele se deixe levar, irá adorar uma "imagem", alheando -se do
seu próprio Deus.

Infinitos são os aspectos sob os quais se revela o Grande Uno, e ai


daqueles infelizes que intentarem contestar-lhe uma sequer das Suas
infinitas Formas!

No mesmo instante em que reveles impudicamente a outrem, a


imagem íntima do teu Deus, tu O perderás!

Não creias que entre os milhares de fiéis, agrupados em torno de


um Nome da Divindade à qual cantam altos louvores, haja sequer dois
verdadeiros devotos que Nele crêem de maneira idêntica.

A Fé, entretanto, pode servir-se de cada um dos nomes dados a


Deus ou ao Demônio. . .
146

A energia plasmadora da Fé, que determina a tua vontade, é a


única fonte de toda a ação "mágica".

Magia "branca" e magia "negra'" são baseadas da mesma energia!

Assim como a força da natureza, que se revela num


relâmpago, torna-se útil ao Homem, contanto que ele saiba capta-la
numa Forma e ela se deixe prender e conservar em metais ou em
recipientes, assim também a força da Vontade, que achou sua forma
pela Fé, se deixa reter em criações da matéria. . .

Em todos os cultos e todos os povos, encontrarás a crença


em coisas "bentas", às quais se atribui poder sobrenatural.

Escarneces dessa crença e a chamas "superstição".

Se com isso tens em mente apenas apoucar as fábulas que,


como a hera parasita, se entremeia as coisas sublimes, então, tens toda
a razão; mas, toma muito cuidado para não desprezares a Verdade que
ai também se acha oculta!

Cada coisa que, com a tua vontade, nitidamente formas e


"carregas" pela fé, torna-se um "talismã". O efeito de semelhante
"talismã" deves ter experimentado muitas vezes, mesmo ignorando a
causa dele e mesmo que nem de leve pudesses imaginar que por todos
os lados te cercaste de "talismã". . .

O objeto é, obviamente, um acumulador e guardião da energia


que, embora livre em si, nele está retida.

Esta energia não lhe é própria!

Tua Fé formou tua energia e dirigiu-a, sem que o soubesses,


para esse "receptor" que a guarda até ela se "descarregar".

Tua Fé renovada "acumula" de novo o "talismã" de tua força,


mesmo que não o considere como tal. . .
147

Cada objeto que usares para que isto ou aquilo seja bem
sucedido, ainda que esse objeto não seja absolutamente indispensável à
tua ação, não o impede de ser, de fato, um "talismã". Mesmo julgando-
te "esclarecido" e zombando da "superstição", ouves falar de seres que
usam tais objetos, plenamente conscientes do que fazem e convictos da
sua eficácia constante e incontestável.

Mas tu és mal avisado, enquanto que eles "sabem"!

As imagens dos deuses não são outra coisa!

Tanto o fetiche na choça de um selvagem, quanto a magnífica


escultura do culto a Atenas. . .

Tanto a imagem do "Santo" na catedral, quanto a estátua


"milagrosa" na humilde capela de vetusto mosteiro.

Todos eles são "portadores" da força volitiva, condensada, de


milhares de fiéis que, pela "Fé”, plasmaram sua vontade e souberam,
com ela, impregnar a obra esculpida ou pintada. Mesmo alguns pobres
vestígios materiais que pertenceram, real ou supos- tamente, a um
"Santo Homem", também são com ela impregnados.

E é pela Fé dos que oram diante dessas imagens, que as energias


ai acumuladas se "desprendem".

De fato, ninguém pode libertar essas energias se nelas não crer,


pois só a Fé cria a alta tensão das correntes volitivas capaz de impelir
essas energias, quando acumuladas e nitidamente formadas pela Fé, a
fluírem a tua vontade e, com esta, unidas, atuarem conforme a tua
vontade.

Contudo, não temos a menor intenção de te induzir a fazer uso


dos "talismãs" de todos os cultos.
148

Tampouco queremos sugestionar-te a experimentar em ti mesmo


a alta eficiência das imagens divinas ou "milagrosas", se bem que as
devas poupar aos teus risos, se quiseres realmente conhecer a lei em
virtude da qual elas se dignificam.

Apenas esta "lei" deves conhecer e o que ela de possibilidade te


oferece, deves saber tornar útil à tua vida diária.

Tua força da volição não é sempre a mesma; todavia, se em teus


períodos de vigor criaste "guardiões" de tuas energias, então, quando
vierem momentos de fraqueza, verás verdadeiros “prodígios"
realizarem-se em ti. ..

E cada objeto que gostas de manusear ou que se encontra


diariamente à tua vista, pode-se tornar um transmissor e vivificador
das tuas forças volitivas, nas horas de menor enlevo, sendo-te possível
libertar, por esses "guardiões" por ti criados, as forças de que

nessas ocasiões necessitares. . .

De preferência as coisas de grande beleza são as mais


apropriadas para serem tais "acumuladores".

O que já deve sua existência à alta energia de formação, melhor


poderá conservar esta força plasmadora.

Rodeia-te dos tais objetos que, diariamente, às horas de enlevo,


possas acumular de energias, saturando-os da mesma qualidade de
força volitiva, que te será tão necessária nas horas de fraqueza!

Traze contidos esses objetos, seja para onde fores!

Crê que lhes possas transmitir tuas melhores energias, e eles te


devolverão tão logo as precisares!

Com efeito, tal crença não é "presunção"!


149

Ainda não desconfias quão “real" são tuas forças volitivas e nem
avalias o poder que terias em mãos se soubesses pela Fé, "plasmar" tua
Vontade!

Entrementes, não destruas tua Fé com vãs especulações,


procurando inquirir: qual a explicação psicológica para esse
fenômeno?!

Se alguém vier te falar a respeito de "auto-sugestão", não te


deixes atordoar por semelhantes argumentos.

Com tais palavras, coisa alguma pode ser "explicada"!

Apenas faz surgir um novo vocábulo que, decerto, não define


esta ação por altas energias determinada.

A Natureza segue seu curso sem prestar atenção se tu podes ou


não "explicar" a sua ação.

A maneira pela qual nós vemos essas coisas, aqui está indicada
em consideração dos fatos acima mencionados.

Se o que dissemos é verdade ou não, podes saber somente,


fazendo disso experiência.
150

A MAGIA DA PALAVRA

Saibas, ó peregrino, que para cada época são necessárias


diferentes forças “mágicas" e não te surpreenda, se não constatares,
através dos tempos, os mesmos prodigiosos resultados energéticos!

Aqueles, cuja tarefa consiste em “distribuir" as energias, dirigem


a “corrente" pelos canais que fertilizam a Terra, lá, onde ela estiver
mais árida. . .

Em nossos dias, pois, não deve esperar ver outra ação "mágica”,
senão a "Magia" da Palavra.

A Palavra, no seu sentido “mágico", é o supremo das forças


mágicas ...

Virão tempos que só pelo poder da Palavra realizar-se-ão coisas


que parecerão "milagres". . .

Sim, verdadeiros "prodígios” serão manifestados pela Palavra!

"Prodígios” bem mais estupendos do que aqueles que nos


tempos passados eram considerados milagres!

Dias virão, em que pela Palavra se farão as obras em cuja criação


trabalham, hoje, milhares de mãos e máquinas possantes. . .

Os Homens, contudo, ainda estão muito longe desse porvir.


Ainda não se sabe "proferir" a Palavra!

Entretanto, mesmo em nossa época sombria, a Palavra já se agita;


pois, o percurso humano está chegando no limiar de uma dessas
“clareiras" que, mesmo na noite mais negra, fazem renascer a
esperança no coração...
151

Olha em redor de ti, até onde alcançar o teu olhar, e verás se


manifestando em seus sintomas precursores, e mesmo em suas
caricaturas, a magia energética da Palavra!

E, desta feita, os Homens começam a perceber que a


Palavra tem outro sentido além do da simples transmissão de idéias de
cérebro a cérebro.

Se fores sábio, saberás fazer caso dessas indicações.

Presta atenção à Palavra!

A procurar somente o seu sentidos ensinaram ensinaram-


te a menosprezar a Palavra.

E assim te acostumaram a querer antes de tudo


“compreender" o significado, perdendo tu o dom mais precioso: teu
único “sentido" espiritual, “oculto", a faculdade de sentir as coisas. ..

Se quiseres readquirir esse sentido “oculto", então te


prepara, não somente para compreender as palavras segundo seu
“significado", mas, para desenvolver a sensação que o som e a
formação das palavras provocam em ti!

Vê, é a Lei, e não uma autoridade arbitrária, que permite às


palavras se tornar a força mágica, captando a suprema energia
“mágica" na forma da Palavra, e nos próprios elementos delas.

De sorte que, existem palavras, em todos os idiomas do


mundo, que poderiam abalar montanhas, se a força nelas contida fosse
libertada. . .

Existem palavras diante das quais teu "entender" é


impotente e, no entanto, não poderás proferi-Ias sem que te formem
"magicamente" a alma, mesmo que não saibas "pronunciá-las" de modo
conveniente para libertar todas as energias nelas contidas. . .
152

Poder-se-ia dizer coisas maravilhosas sobre as palavras, mas


te seria impossível acreditar-me.

Não poderás crer senão pela experiência!

Reflete bem, meu amigo; tudo no Cosmos tem seu Ritmo e seu
Número!

No Ritmo e no Número, está baseada toda a “Magia"!

Quem encontra esses dois elementos, possui realmente a chave


do cofre. ...

Não é para estes que escrevo.

Aliás, nenhuma probabilidade existe de que essas palavras


venham a cair sob o olhar de um deles.

Mui poucos são os que têm encontrado a “chave" e, esses poucos,


só lêem um único e eterno livro cujas “palavras” são: Viver, e cujos
versos: Transmutar.

Aliás, jamais poderei te ”'explicar" o Ritmo e o Número do


Universo.

Procuro, apenas, chamar a tua atenção para que


compreendas valor da Palavra e possas Nela achar o que, entrementes,
em vão te esforçarias por encontrar sob outra forma.

Sê bastante atento à Palavra e, não demorarás a discernir


verdadeiro do falso com respeito às coisas do Espírito! Toda a
Sabedoria espiritual dirige-se para ti, no ritmo da eternidade.
153

Todos os derradeiros fins trazem números cósmicos no


seu pico, quando se manifestam revestidos de Palavras.

Aqueles que pretendem que o “sentido" de um livro


“sagrado", livro escrito por alguém que “sabe", pode revelar-lhes de
antemão o seu âmago, o mais recôndito e inefável da sua essência,
enganam-se profundamente. ..

Pode o “sentido" esclarecer-te algumas profundezas do


terno fundamento, os últimos fins, entretanto, e seus mais íntimos
segredos devem ser sentidos na natureza, forma e valor das palavras!

Não creias, pois, que houvesse jamais algum iniciado no Ritmo e


no Número" ao qual fosse indiferente o emprego da , palavra e
misturasse Palavra com palavras!

Os poetas procuram visar a beleza; os Videntes dão à Palavra


terna ressonância!

O “Vidente" é reconhecível, mesmo sendo poeta e no Poeta o


“Vidente" não ficará oculto quando se dissimula sob palavras poéticas.

Se quiseres aprender como sentir as palavras, então, cada uma do


teu idioma poderá servir-te de instrutor. . .

Mas não procures sondar o “significado", se desejas seguir esta


via !

O “sentido" não ficará muito tempo oculto, pois, ele quer a ti


revelar-se.

Ouve em ti as palavras pelas quais gostarias de instruir-te !

Em breve as ouvirás como se alguém as tivesse proferido;


154

esse é o primeiro sinal de estares na via segura, para, em seguida,


começares a perceber em ti o próprio falar das palavras. Pois em
verdade, a Palavra tem o poder de se proferir por si mesma. . .

Também a Palavra da Eternidade se “proclama" por si própria,


quando a souberes “ouvir"!

Por mais sutis que sejam as faculdades de "compreensão" do teu


intelecto, não tens o direito de confundi-las, jamais, com o discurso
sagrado da Palavra!

Deixando a Palavra da Eternidade tornar-se viva em ti, ela se te


revelará em sua última Sabedoria. ..

Contudo, não penses que te entregas a um jogo frívolo com o


qual se brinca o primeiro dia, e depois, cansado, se abandona!

Se quiseres que o ensinamento te seja realmente proveitoso, terás


de treinar diariamente, sem tréguas, até o dia em que sentires, em
estremecimento profundo, a Palavra vibrar em ti. ..

Somente, então, saberás por experiência o que pode dizer a


Palavra!

Muitas portas se abrirão, nas quais, agora, bates em vão. E


"compreenderás" então, mais de um livro que ainda hoje está cheio de
enigmas embaçados.

Não te digo a respeito mais do que é. ..

Mãos à obra! Vai, com toda convicção, atingir teu alvo! Os


Tempos estão propícios para este trabalho.

Poderás muito obter, se em vez de pedir quiseres arriscar um


pouco!

Mas não esqueças: isso não é uma brincadeira a que te entregues!


155

Só a perseverança constante poderá te conduzir à Vitória!

O APELO DO HIMAVAT

Um sopro de saudade, uma aspiração pungente, perpassa através


do Mundo, e toda alma que não estiver totalmente embrutecida, que
for ainda capaz de germinar, sente-se profundamente comovida.

Nas torrentes borbultlantes do sangue humano, submergiu essa


descrença lassa que, em outros tempos, se presumia ser sinal de "bom
gosto".

Agora, de novo é "permitido" crer em coisas que não podem ser


provadas por experimentos da ciência e não mais se zomba de quem
compreende que o invisível nos envolve e influencia, embora ainda
não se tenha resolvido o seu enigma. ..

De novo o "prodígio" quer tornar-se realidade e o reino da Fé


alarga as fronteiras.

Os Homens que, petrificados de alma, eram inacessíveis a toda


emoção espiritual, tornam-se, sob os golpes da clava retumbante dos
156

demônios em fúria, verdadeiros "Viventes" e a massa dos indolentes


que ainda dorme um sono profundo, já começa a se agitar.

Cada dia que desponta, aproxima o despertar da sua alma. . .

Os despertos, todavia, irão exigir resposta daqueles que, por


tempos a fio, os mantiveram num sono profundo e voltarão as costas,
com desprezo, para aqueles 'condutores" que, sendo incapazes de
responder às perguntas, persistem piamente em traçar limites para as
mesmas.

A Humanidade já está preparada para se reconhecer, enfim,


parte integrante da Terra.

Ela não mais quer sonhar com deuses sentados em nuvens


e próximo está o raiar do dia em que, pela vez primeira, sentirá o
verdadeiro significado das palavras outrora dirigidas pelo Homem
Deus:

“O Reino dos Céus tem se vos aproximado”. . .

Aqueles que se dizem “servos” do Ungido, compraziam-se,


outrora, em levantar muralhas para proteger aqueles que, segundo as
palavras do Augusto Mestre, trazem neles próprios o Reino dos Céus. .
.

Os seres que nunca atingiram o aqui tão claramente expresso


“Reino", dentro de si, deram a si mesmos o direito, por assim dizer,
“mágico" --o qual devia sancionar sua mania de grandeza perante sua
própria consciência -de dominar as almas de seus semelhantes.

Barricaram-lhes as portas do Céu, tanto quanto eles mesmos


estavam entrincheirados, dedicando-se a desvirtuar tudo o que visasse
a Realidade, de tal modo, que só símbolos e fórmulas sobraram,
permitindo apenas sonhar com o Reino dos Céus; porque, decerto, bem
sabiam que, para achar esse “Rei no", não era preciso o seu auxílio.
157

Quão tolos são todos aqueles que esperam, algum dia, ver os
muros que aprisionam as almas, caírem, cedendo finalmente ao seu
ataque!

É por demais forte a massa da humana avidez de poderio que


cimenta os tijolos dessa muralha!

Inclusive é tão numerosa a quantidade daqueles que, em to- dos


os tempos, querem sentir a muralha em torno de si, para que esta,
algum dia, lhes possa ser removida.

Por demais acostumados à escravidão, perder-se-iam, se libertos!

Poder-se-ão, através dos milênios, modificar as fórmulas e os


símbolos que foram postos diante da muralha, a fim de que ela não
apareça àqueles que empareda como o muro de um cárcere; contudo, a
muralha permanecerá firme, enquanto o Homem, em sua cupidez de
poderio, contar com a pusilanimidade do seu semelhante. E contra esse
baluarte, fortificado por ameaças e promessas, estraçalhar-se-á cada
qual que, antes do tempo, quiser interna ou externamente fazer uma
brecha. . .

Há, todavia, uma possibilidade de escapar a esse cerco


implacável, sem derrubar a muralha. . .

Aqueles que estão chegando ao despertar, crescerão asas que lhes


permitirão elevar-se bem alto, acima do cerco de constrangimento do
poderio que, com tanta volúpia, os teria mantido na sonolência e
sonho.

Vemos aproximar-se o tempo do Despertar!

A nós cabe guiar o vôo dos que se lançam à Liberdade, até que
atinjam os picos nevados, os ensolarados e radiosos cimos do
“Himavat" da “Grande Montanha".
158

Será, sem embargo, preciso muito auxílio, porque grandioso


Despertar irá realizar-se.

E não queremos que um só dos que se lançam, se perca em seu


vôo e, atordoado e esgotado, acabe por se abater no deserto. ..

Nós, todavia, só podemos guiar o enxame central do grande vôo


dos Libertos, e todos os que nos desejam ajudar devem procurar os
desviados para que não se deixem cegar pelo fausto dos fins ilusórios e
não percam para sempre a direção do vôo.

A todos aqueles que desejam nos dar auxílio, com toda


abnegação, é lançado este apelo'

Quem de todo coração comprometer-se a encaminhar os


extraviados à via segura, terá possibilidade e direito de ser para nós
um auxiliar.

Mas que seja um auxílio sábio e amoroso, pois ninguém nos


poderá servir, se com seu auxl1io importunar o desviado.

Coadjuvar de maneira correta é: ficar à frente do desgarrado, sem


que haja necessidade de doutrinar, encontrando ele por sua própria
iniciativa, a boa direção.

Vossa cooperação poderá ser pouco “visível” mas, se cada um de


vós, levar uma só alma ao alvo, pagará dívida contraída antes dos
tempos...

Todavia, que permaneçam afastados de nós, todos aqueles que se


dispõem a colaborar com ênfase, imaginando poderem, com isso, se
elevar acima de outros em dignidade e valor!

Que fiquem longe de nós, todos esses enfadonhos empertigados!

Quem desejar ser de algum auxílio, deve se libertar de toda


empáfia!
159

Levará seu amparo lá, onde ele for necessário, sem se vangloriar.
..

Não queremos saber seu nome, nem ouvir falar do seu auxílio!

Só no Reino do Espírito será esta ação auxiliadora apreciada e


somente no domínio espiritual, o auxiliador deve ser “conhecido !

EUCARISTIA
Uma vez, como mil vezes,

O Grande Uno se dá

eterno Doador

no entanto, sempre está

em posse de Si mesmo.

É indivisível

O Eterno Uno Supremo!


160

Quando Ele quer Se dar,

dá-se de todo.

E em todas às vezes

que assim Se tem dado,

nunca tem esgotado

de dar a Si mesmo

e sempre prossegue

Seu, no total;

pois,não é uma só vez

que O Grande Uno,

eterno Doador,

possui a Si mesmo.

Infinitamente Um

possui a si mesmo

em formas infinitas.

Assim como Ele é Uno

no total de Seu Ser.


161

em formas sem fim ,

mas sempre e só Um .

assim somos nós,

os “Irradiantes”

em Sua “Luz” ,

unidos todos

pluramente n’Um só.

O grande Doador,

Origem da Luz,

Tu mesmo és "Luz"!

Não conheces "pecado"

exceto este um:

o de reter

Teu Querer

de querer sempre Se dar.


162

Tu não queres senão

mãos abertas;

corações abertos

prestes a receber;

mãos

que, alegremente,

aceitam;

corações

que, benevolamente,

recebem

as dádivas Tuas.

Tu dás a um

e dás a outro

riquezas, sem fim,

para que tanto um

como outro, não

se vejam privados

do Teu rico dom.


163

Quem Te conhece

O Grande Doador

desconhece a inveja.

Mais do que ele possa levar tens Tu a dar,

e nunca se esgota

Tua eterna riqueza.

O eterno insatisfeito das dádivas Tuas,

é o Teu mais amado;

a ele Te entregas

inteiro a Ti mesmo.

Tu bem podes dar,

a todos doar,

e nunca

mais pobre serás

a quem pede

as dádivas Tuas.

O Eterno!
164

Grande Doador!

EPILOGO

Há nove anos atrás, apareceu pela primeira vez, nas livrarias,


uma edição do "LIVRO DO DEUS VIVO".* Durante todo esse tempo,
não cessou de fazer no mundo inteiro muitos amigos, que se tornaram
discípulos reconhecidos desses preceitos.

Presentemente, após cuidadosa revisão do texto, sua reedição


está aqui concluída*

O conteúdo da primeira versão não foi mudado.

Entretanto, sob uma forma nova muita coisas foram


apresentadas, pois, gradativamente se fazia notar que uma ou outra
palavra do texto primitivo permitia interpretação ambígua.

Além do mais, verificou-se que certas passagens eram


sumariamente esboçadas, de sorte que se tornava também oportuno
desenvolvê-las. E por fim, cada palavra foi submetida a um novo
165

exame para afastar qualquer possibilidade de interpretações equ


ívocas* * *.

A harmonia interior do conjunto exigia, independentemente da


modificação de orações, pôr em relevo o essencial, mais fácil de se
gravar na mente do leitor. E o fato de '/falar" a este último no plano
espiritual -como aliás são todos os meus escritos obrigou-me a recorrer
às astúcias tipográficas de natureza a despertar nele a ressonância do
discurso.

Agradeço a todos aqueles que me indicaram o que ainda era


necessário ser esclarecido -pois, sentir a frase sabendo o que ela quer
dizer, por experiência pessoal -é uma coisa, e outra é quando a
mensagem deve ser refletida na imaginação de uma alma

ainda Inexperiente.

Aqueles que pensam ter de empregar sua sagacidade para


descobrir eventuais contradições nos meus escritos, farão melhor dizer
por si mesmos, que é pouco provável que o que lhes parece ser um
achado tão importante, tenha podido me escapar

mais do que a eles.

Não obstante, seria melhor, em seu próprio benefício,


discernirem o que lhes parece uma "contradição” e considerarem o fato
de eu ter tido boas razões para deixar manter as passagens cujas frases
se prestam facilmente a contradição, até que se tornam

discerníveis, o que importa discernir.

Tenho, entretanto, a retificar terminantemente o que ouvi falar


na opinião geral, de que a nova versão seja superior à primeira.

Este novo texto, contudo, forma por assim dizer, uma basílica
cuja obra agora ficou terminada em todos os seus pormenores, em
166

confronto com o que era uma obra tosca à qual faltavam vitrais e sobre
os altares, as estátuas.

Assim, revestido e completo em sua nova forma, "0 LIVRO


DO DEUS VIVO" trará, sem dúvida, um novo enriquecimento para
todos os que, de há muito tempo, já o conheciam na sua primeira
edição.

Alguns milhares de leitores que aqui encontraram força e


estímulo, atestam, com gratidão, ser este livro realmente necessário em
nosso mundo hodierno.

Bênção, Luz e Certeza -receberão aqueles que o souberem ler


sem julgamento preconcebido e que o quiserem assimilar.

Fim de outubro de 1927

* Edição alemãde 1920.

** Edição alemã de 1929.

* * * Pelo qual o transcritor fez a revisão da edição francesa de


1929 para chegar ao texto da presente edição.

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