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VOH
A BUSCA DE SOPHIA [TEMA 546]

CENTRE
ORDEM CENTRÊNICA
Grande Loja Centrênica

LOTE 6 2010.2 [R]

GRANDE ÁREA: ESTUDOS MÍSTICOS E PARACIENTÍFICOS.


ÁREA: ESOTERISMO.
CURSO: FILOFOFIA HERMÉTICA.
RAMIFICAÇÃO: VENERÁVEL ORDEM HERMÉTICA – VOH

NÍVEL DO GRAU: GRAU PRELIMINAR [PRIMEIRA CÂMARA].


DURAÇÃO DO GRAU: QUINZE MESES.
NÍVEL DO CÍRCULO: EXTERNO.
TÍTULO: “INTRODUÇÃO AOS PRINCÍPIOS HERMÉTICOS E A NATUREZA
GERAL DO UNIVERSO”.
MÓDULOS: INTRODUÇÃO AO HERMETISMO, ANÁLISE HERMÉTICA I,
COSMOGONIA HERMÉTICA I, TÓPICOS EM CABALA.

NOTA: AS MONOGRAFIAS DA VENERÁVEL ORDEM HERMÉTICA SÃO ENVIADAS


MENSALMENTE VIA INTERNET AO MEMBRO E SÃO PERIODICAMENTE REVISTAS
E AMPLIADAS POR SEUS INSTRUTORES.

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A BUSCA DE SOPHIA [TEMA 546]

LOTE 6

[TEMAS DAS MONOGRAFIAS]

- TEMA 546 [“A BUSCA DE SOPHIA”].


- TEMA 547 [“O REGRESSO DE SOPHIA”].
- TEMA 555 [“O MITO VALENTINIANO DE SOPHIA”].
- TEMA 556 [“O MITO DE SOPHIA (I)”].
- TEMA 557 [“O MITO DE SOPHIA (II)”].
- TEMA 558 [“SOPHIA E OS TRÊS MUNDOS”].
- TEMA 559 [“SOPHIA E O MITO BÍBLICO DE ADÃO E EVA”].

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A BUSCA DE SOPHIA [TEMA 546]

VENERÁVEL ORDEM HERMÉTICA


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PRIMEIRA CÂMARA
LOTE 6
DDDDDDDDDDDDDDD DDDDDD D
TEMA 546
A BUSCA DE SOPHIA
ANÁLISE HERMÉTICA I

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A BUSCA DE SOPHIA [TEMA 546]

A BUSCA DE SOPHIA
“O SÁBIO BUSCA O QUE DESEJA EM SI
PRÓPRIO, O IGNORANTE BUSCA-O NOS
OUTROS”.
CONFÚCIO.

VENERÁVEL ORDEM HERMÉTICA


VOH

2010
TEMA 546
[PRIMEIRA CÂMARA]

Iniciamos esta monografia a partir de um conto singelo, mas que encerra grande sabedoria:

Diziam haver a treva e a Luz. Num certo momento, a Luz quis conhecer a treva, buscou-a, mas
jamais a encontrou. Quando lhe diziam que a treva estava em tal lugar, a Luz procurava-a, mas
não a encontrava jamais. Sabendo disso, a treva tomou a iniciativa de procurar a Luz. Mas, num
certo momento, a treva simplesmente deixou de existir sem que ao menos houvesse tido o direito
de perceber a Luz.

Na Tríade Superior [Kether, Chokmah e Binah]1, o nível mais alto, ou seja, Kether, refere-se à
LUZ, que compõe um triângulo com o Conhecimento e a Sabedoria2. Os textos gnósticos e cabalísticos
não são unânimes quanto à localização desses dois Sephiroth3 no esquema da Árvore da Vida4. Assim,
podemos encontrar ora Sabedoria colocada no pilar da direita, ora no pilar da esquerda [fig. 1, p. 6]:

1
Neste caso particular, esta Tríade diz respeito às três primeiras emanações do UM [Kether, o ponto adimensional-atemporal
que indica o primeiro nível de manifestação do Universo], segundo o esquema cósmico da Árvore da Vida [Cabala].
2
Esclarecemos que, a rigor, existe importante diferença entre “conhecimento” e “Sabedoria” [ou “Conhecimento
Transcendental”]. No primeiro caso, isto é, o conhecimento, trata-se do conjunto dinâmico e progressivo relativo ao
aprendizado de inúmeros aspectos do Universo, mediante o juízo analítico e racional. No segundo caso, ou seja, a Sabedoria,
refere-se à internalização do modo mais adequado de agir em qualquer circunstância, em consonância com a intuição oriunda
da Consciência Cósmica.
3
Segundo a Cabala, os “Sephiroth” [plural de Sephirah] são emanações energéticas por onde flui a energia primordial da
creação e que representam variados níveis cosmoperceptivos.
4
A Árvore da Vida é, por assim dizer, a “planta arquitetônica cósmica” que representa todas as estruturações do Universo.
Será estudada em outras monografias, mais precisamente naquelas que versam diretamente sobre a Cabala.

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A BUSCA DE SOPHIA [TEMA 546]

Figura 1

O termo “Nous” apóia-se sobre um conceito metafísico grego sobre o qual não há uma
uniformidade acerca de sua definição precisa. Por exemplo, sabemos que Platão [428? a.C.-347? a.C.] o
definia como Mente Superior. Anaxágoras [500 a.C.-428 a.C.], por sua vez, usava este termo para
designar a Divindade Suprema, a Mente ou Consciência Divina no homem. Na realidade, Nous é uma
palavra incorporada à língua grega a partir do termo egípcio “Nout”. Este termo egípcio representa o
UNO-SÓ-UNO. Os gnósticos, por sua vez, adotaram o termo para indicar o primeiro Eon5, enquanto
que, para os ocultistas, é o Terceiro Logos6. Podemos dizer que, pelo ângulo estudado nesta monografia,
o termo “Nous” corresponde ao conceito cabalístico de “Kether”. Tratando-se da Mente Superior, em
Nous tudo está contido. Portanto, todo o Conhecimento e toda a Sabedoria nele também estão.
A fim de que esta monografia possa ser adequadamente compreendida, vamos mostrar uma
relevante nuança diferencial entre as concepções semânticas específicas dos verbos “saber” e
“conhecer”. A rigor, existe uma diferença fundamental entre eles. O saber é o ter ciência de algo,
desvinculado de uma percepção objetiva direta. Por exemplo, uma pessoa pode saber que existe Roma,
mas, mesmo assim, ainda não a conhece. Por isso, o saber é uma condição subjetiva. Enquanto isto, o
conhecer é uma condição objetiva. No exemplo que citamos, para conhecer Roma, é preciso que a
pessoa esteja ou tenha estado lá. Ou seja, para conhecer Roma, faz-se necessário ir naquele local,
enquanto que, para saber, aquele deslocamento geográfico não é necessário. Quem conhece sabe, mas
nem todo que sabe conhece. Em Nous, estão o Saber e o Conhecimento, de forma potencial. Com a
primeira emanação de Nous, destacou-se a Sabedoria. Como sabemos, Nous continha em si as duas
potencialidades, da quais emanou Sophia e, desta, a compreensão. Sophia quis conhecer a LUZ.
Primeiramente, Sophia precisou compreender para poder chegar ao conhecimento, mas isso envolvia

5
O termo “Eon” indica, neste caso, determinado ser, autociente ou não, encarregado de estruturar e ordenar o Universo ou de
vivenciá-lo sob outras formas.
6
Segundo Helena P. Blavatsky, “[...] o Terceiro Logos é a Ideação Cósmica; Mahat ou Inteligência, a Alma Universal do
Mundo; o Númeno Cósmico da Matéria, a base das Operações inteligentes da Natureza...” [BLAVATSKY, H. P. A Doutrina
Secreta [volume I: “Cosmogênese”]. São Paulo: Pensamento, 2000, p. 83.

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uma séria implicação, como veremos depois. Antes de atingir o conhecimento, Sophia necessitou
compreender. Mas compreender o quê? Compreender que não é possível perceber diretamente o
Absoluto.

1 – A Árvore da Vida

Figura 2

Segundo a tradição gnóstica, Sophia quis ver a LUZ, a Sabedoria, pretendeu ver a plenitude,
também denominada Pleroma7, de onde emanara o Universo. Em outras palavras, Sophia quis conhecer
a sua origem primeira, a Fonte Primordial de tudo quanto há no Universo. Embora Sophia tivesse
sabedoria, mesmo assim, já não estava nem ao menos ao nível de Kether [a Primeira Luz], menos ainda
no nível da Sabedoria e do Conhecimento plenos. Sophia não suportou ver o Absoluto, de modo que lhe
restou ver apenas o Seu reflexo objetivo através da creação [Mundo Imanente]. Para conhecer a Luz,
Sophia precisou realizar a ilusória objetivação. Necessitou desdobrar-se, embora isto significasse um
decaimento, o expandir de si, fazendo emanar a compreensão. Mas a compreensão era incompleta, não
refletia a totalidade do Conhecimento inerente a Daat8. Segundo essa doutrina gnóstica, o Creador
potencial do Mundo Imanente foi Nous9, que, por sua vez, é uma projeção do Poder Superior dentro do
Universo. Contudo, o desejo de crear [de manifestar espíritos individualizados e autocientes] se fez
sentir ao nível de Sophia e se tornou efetivo a partir da compreensão [querer compreender o Poder
7
Na monografia seguinte, explanaremos sobre o Primeiro Sermão aos Mortos, trazido ao conhecimento do mundo moderno
através de K. Jung [assunto estudado ao longo da Segunda Câmara Hermética].
8
“Daat” é uma condição que se reflete em cada Árvore, mas que não faz parte dela diretamente.
9
Ressaltamos que Nous está dentro da creação, portanto, não corresponde ao Poder Superior Imanifesto.

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Superior]. Quando Sophia quis chegar a Daat [Conhecimento Transcendental], necessitou provocar o
desdobramento, necessitou fazer emanar de si tudo quanto há e haverá, necessitou refletir Daat. Mas, na
descida10, Sophia não encontrou Daat diretamente, pois este Sephirah se reflete na Árvore da Vida, mas
não faz parte diretamente dela. Na descida, Sophia não atingiu o nível de Daat. Não conseguiu encontrar
esse Sephirah, visto que, como já o dissemos, não se encontra na Árvore, apenas se reflete nela. Sendo
assim, desceu progressivamente até chegar a Malkuth [que é o plano da matéria densa], chegando
mesmo a descer ao nível de outras árvores abaixo daquela. Atingiu o mundo das trevas quase total e quis
voltar11 para o seu lugar de origem. Diz ainda o Mito de Sophia:

Sophia implorou à LUZ que a perdoasse, suplicando-lhe pela volta ao mundo que era seu. Este
gesto de arrependimento foi ouvido e recompensado pela intervenção de Christos, que
restabeleceu a ordem, dando uma forma de tudo poder voltar à origem, de atenuar os arcontes da
fatalidade.

Neste momento, vamos elucidar um ponto que, nos ensinamentos gnósticos, tem gerado algumas
dificuldades de entendimento para alguns busca-dores. O esquema cabalístico da Árvore da Vida coloca
a Sabedoria como Chokmah e, segundo aquele mito gnóstico, foi a partir de Sophia [conhecimento] que
teve início a queda. A gnose também afirma que o resgate de Sophia tem sido efetivado por Christos,
que foi engendrado por Nous [a primeira manifestação das “Potências” do Poder Superior], o primeiro
dos Eons12, princípio de todas as coisas creadas e revelador da Divindade. Um “Eon”, denominado
Christos, foi encarregado de espalhar os germens da vida Divina que ele continha dentro de si. Neste
caso, tanto Sophia quanto Christos devem ser um só, ambos são o mesmo em Chokmah. Na verdade,
num certo nível é assim mesmo, visto que Binah saiu de Chokmah e toda a creação [incluindo a dos
espíritos individuados] emanou da Trindade através de Binah, conforme pode ser visto pelo esquema da
Árvore da Vida, o qual é a representação da creação através do Relâmpago Creador.
Quando a Sabedoria quis vez a LUZ plena, não conseguiu. Então, foi engendrada a creação, que
caiu e deixou de ser perfeição13, a partir da compreensão14. De certa forma, a descida teve início em

10
Ou seja, na progressiva queda vibratória.
11
Ver o conto presente no Tema 544 [“A Gnosis].
12
Ou seja, determinados níveis cosmoperceptivos que estruturam o Universo.
13
Entendamos “perfeição” como o nível máximo de cosmolucidez presente no Mundo Imanente.
14
No que tange à compreensão, já podemos falar do início perceptivo-ilusório da manifestação do intelecto mental como
espírito individuado. Nesse sentido, este nível já abarca todas as observações e interpretações variadas acerca de uma mesma

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A BUSCA DE SOPHIA [TEMA 546]

Nous. Este, juntamente com Sabedoria e Compreensão, forma uma Trindade e, como tal, é UM.
Podemos melhor entender isto através do mistério do número UM, que nos revela UM, DOIS e TRÊS.
Quando compõem a Trindade Superior, são apenas UM, em que Nous, Sabedoria e Compreensão
situam-se, em conjunto, ao nível de perfeição, mas não ao nível de Absoluto. A Trindade Superior,
sendo UM, é perfeita e que dela tanto pode surgir o desejo de ter a compreensão do Absoluto quanto o
desejo fazer voltar à origem. O Poder Superior só pode ser conhecido através dos Seus atributos15,
através de Suas faces projetadas na creação, mas não diretamente. Com efeito, somente através do
Mundo Imanente, onde se manifestam os atributos do Poder Superior, é que se pode conhecê-Lo. Sophia
quis conhecê-Lo diretamente, mas isto não era [não é] possível. Não era possível, porque só é passível
de ser conhecido diretamente aquilo que se detecta e só se detecta aquilo que vibra. O que não vibra
apenas pode ser percebido através das reações que promovem nas coisas que vibram. As faces do Poder
Superior não vibram, mas fazem as coisas criadas vibrar. Vamos exemplificar para uma melhor
compreensão. O amor é uma face do Poder Superior e é fácil se entender que o amor não vibra e que ele
só pode ser percebido através das pessoas, que vibram. Assim também é o que ocorre com referência à
paz, ao querer e muitos outros atributos do Poder.

Realidade. Ou seja, é a partir da compreensão que o ser se dá conta de si e do outro, mediante uma aparente separatividade da
origem única. Em outras palavras, a “compreensão” está diretamente relacionada com a ilusão da existência das coisas.
15
A rigor, não são “atributos”, mas “condições” não-vibratórias que se refletem na Imanência.

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A BUSCA DE SOPHIA [TEMA 546]

2 – A manifestação do Universo através do Relâmpago Creador

Figura 3 Figura 4

Do exposto, vemos que, se não houvesse manifestações objetivas para manifestarem as Faces do
Poder Superior, Este jamais seria conhecido. Se não existisse a creação, as Faces do Poder
permaneceriam imanifestáveis, pois, por não terem natureza vibratória, seriam imanifestáveis
diretamente. Tudo aquilo que reflete de alguma forma o Poder Superior só se manifesta através das
coisas que pertencem à Imanência. Não se manifestam porque são partes integrantes do Imanifestável,
ou seja, da natureza do próprio NADA. Todo aquele que quiser conhecer o Poder Superior precisa
procurar fazê-lo através dos Seus atributos explícitos na creação. De outra forma, não se pode conhecer
o Poder Superior. Exatamente por isso foi que Sophia, não conseguindo vê-Lo, necessitou crear e
descer.

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