Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Depois das 20 Anotações introdutórias, o texto dos EE traz o "Título“(EE 21). Logo
na 1a anotação, Santo Inácio fazia-nos ver o fim dos exercícios: buscar e encontrar a
vontade divina, orientando toda a nossa vida para ela. Condição para este fim é tirar
de si todas as afeições desordenadas, isto é, “vencer-se a si mesmo”.Traduzimos a
parte final de um artigo do Pe. Claude Viard, publicado na revista francesa Christus,
nº 124 (1984, hors série), pp. 28-32. Na primeira parte, o autor tratava do "inimigo"
(como Inácio chama ao demônio) e da sua "tática" (a "mentira" e a "ilusão").
Vencer o "inimigo"
Notemos: pedir o contrário não significa decidir de antemão praticar o mais difícil de
forma voluntarista. Por isso, Inácio acrescenta: "a menos que a divina Majestade,
ordenando seus desejos, mude sua primeira afeição". Engajar-se, "com todas as
forças" no combate a ser travado na oração, na súplica para que eu seja recebido
sob a bandeira do Cristo pobre, humilhado e humilde (cf. EE 147; 156, 159), é abrir-
se a Deus, na espera de sentir "o que Deus nosso Senhor lhe puser na vontade"
(155); é abrir campo a seu próprio desejo, para além das imagens, das quais é
prisioneiro. Tal é a vitória sobre si mesmo, recebida de Deus.
Nisso, o orientador pode produzir uma certa violência sobre o exercitante, fazendo o
papel de quem frustra e não compreende. É o risco a correr, o preço a pagar. Mas
ele não o fará com conhecimento de causa, se ele próprio não se fizer violência,
para permanecer no seu lugar, para superar suas resistências, sua angustia e seu
medo, ou seu desejo de triunfar, de ser bem aceito.
Conclusão
A dimensão conflitual marca a experiência dos Exercícios. Indica que estes não são
um caminho predeterminado, nem um programa de temas de oração a ser realizado
em determinado tempo, são um processo, original para cada exercitante, que se
desenvolve com patamares a alcançar, provas a superar, conflitos a resolver. Nesse
processo experimentam-se efeitos de violência, identificáveis pelo discernimento.
Mas este só é possível se há alguma coisa a "ler", isto é, se o processo de crise se
desencadeou.
NOTAS:
1
Quando o exercitante entra no processo dos Exercícios leva já em si um conflito
fundamental. Põe-se a caminho para ver claro em si mesmo, para saber o que deve
fazer. Ele chega com toda sua história, tecida de conflitos resolvidos ou não, com
suas zonas claras e outras obscuras, triunfos e decepções, talvez ferido pela
existência. Quem é ele em verdade? Quem quer ser? Há aí um conflito, latente, que
opõe seu desejo profundo e a imagem de si que ele mesmo forjou ou que os outros
fizeram dele. Quer "encontrar a vontade divina na disposição de sua vida" (EE 1,4),
mas algo se opõe nele, como em todo ser humano: o sonho de construir-se a si
mesmo ou de ser diferente do que ele é.