Este trabalho é fruto de muito esforço e dedicação e não teria concluído sem o
apoio de pessoas de extrema importância em minha vida pessoal e
profissional.
À minha mãe Aparecida e ao meu pai Geraldo porque sem eles esse sonho
não seria possível.
Agradeço aos amigos Filipe (Lamin) e Letícia com quem dividi momentos de
tensão e muitos momentos de alegria durante o mestrado. Obrigado pela
amizade de quem compartilha o mesmo sonho que vocês.
PARTE I............................................................................................................ 24
REFERÊNCIAS............................................................................................... 157
INTRODUÇÃO
1
A perspectiva que adotamos o conceito formação econômico–social trata das condições de
produção não as restringindo às relações econômicas, e segundo Platkóvski e Titarenko (1958)
“é um dos conceitos fundamentais da ciência marxista-leninista da sociedade. Uma formação
econômico-social é um modo de produção historicamente definido que encarna a unidade entre
as forças produtivas e as relações de produção em conjunto com as concepções políticas,
jurídicas, religiosas, artísticas e filosóficas e as instituições da sociedade que correspondem a
essas relações”.
15
o espaço geográfico é compreendido como parte fundamental
em uma Formação Econômico - Social de dois processos
articulados que lhe são vitais, o da produção social e o do
controle de suas instituições e relações de classes, o espaço é
uma entidade rica em tratamento cientifico (MOREIRA, 1982,
p.4).
16
Em alguns momentos do trabalho não apresentamos uma linearidade
temporal em relação aos acontecimentos do passado (econômicos, sociais,
políticos), pois para Moreira (2009) o espaço geográfico é:
17
Os autores reiteram que “não podemos estudar, qualquer porção do
espaço urbano separado do seu significado, das suas atividades, das suas
funções e, da sua evolução histórica, pois será impossível de compreender sua
concretização” (BARROS e FERREIRA, 2009, p.11).
O espaço geográfico possui um caráter histórico e, por isso, é capaz de
contar a história e as características da ação humana sobre sua (re)
organização, funcionamento e produção.
Em relação ao recorte espacial, destacamos que Santos (1977) ao
propor a categoria formação socioespacial para a análise geográfica não
definiu um recorte espacial específico da sua incidência. Desse modo
destacamos a importância do município de São João del-Rei em uma escala
local e regional, para ressaltar sua relevância microrregional e mesorregional.
A problemática da pesquisa consiste em uma análise Geográfica
Histórica, para o melhor entendimento das formas atuais do espaço urbano
acerca da temática. Através da periodização do território de São João del-Rei
pela materialidade das técnicas em diferentes subperíodos econômicos
pretendeu-se identificar os agentes sociais que comandam a expansão urbana
da cidade e os processos de fragmentação, de segregação e de periferização
socioespacial, além da sua inserção na reorganização produtiva do capital e da
divisão social e territorial do trabalho.
A dissertação oferece contribuições para a compreensão da formação
socioespacial de São João del-Rei e sua inserção na (re) organização
produtiva do capital e da divisão social e territorial do trabalho, e seus objetivos
específicos se referem aos problemas sugeridos pelo tema no decorrer do seu
estudo de caso como:
Compreender os processos de produção capitalista do espaço de
urbanização e analisar os impactos sociais relacionados a esses
processos;
Explicar a expansão e a reestruturação urbana de São João del-Rei
através da materialidade das técnicas em diferentes períodos históricos
ligados a subperíodos econômicos;
18
Investigar qual o papel de São João del-Rei na rede regional; Explicar
sua inclusão no contexto das cidades médias, e a influência dos modais de
transportes na sua formação socioespacial;
Desenvolver uma interpretação do processo de regionalização da
Microrregião de São João del-Rei através das interações espaciais entre a
sede e os municípios da microrregião e da mesorregião do Campo das
Vertentes.
O trabalho de investigação tem como método a formação socioespacial
e está fundamentada na abordagem quali-quantitativa do tipo descritiva
interpretativa.
Segundo Santos (1982) qualquer estudo fundamentado na categoria de
formação socioespacial deve iniciar tratando a gênese desta formação e
definindo o processo histórico responsável por sua forma atual, ou seja, a
materialidade concreta expressa no espaço.
Essa perspectiva promove a aproximação entre a história e a geografia,
ao mesmo tempo em que favorece a consideração da dimensão histórica na
geografia e da dimensão geográfica ao longo da história.
Desse modo, apresentamos em seu desenvolvimento uma abordagem
geográfica histórica, que, como parte da Geografia Humana instrui nossa
perspectiva de estudo para explicar as geografias passadas, pois seu objetivo
é estudar o presente que existiu em algum momento do que hoje é passado
(SILVA, 2016).
Assim na análise do espaço pretérito seguimos certas regras
metodológicas
2
De acordo com Abreu (2000) a partir de uma crítica à posição dos geógrafos clássicos, que
definiram a geografia como a "ciência do presente", ele defende que é possível, sim, fazer
geografias do passado, bastando para isso que saibam os trabalhar bem as categorias de
análise geográfica (território e lugar) que são atemporais e, portanto, universais.
19
trafegam impunemente no túnel do tempo, só as categorias de
análise podem fazê-lo. A segunda regra, por sua vez, indica
que só se pode entender o ‘presente de então’ se pudermos
contextualizá-lo. Embora informado pelo presente, o passado
não é o presente. Daí, para compreendê-lo, há que se investir
muito em pesquisa indireta, via leitura do que já foi produzido
sobre o tempo que se decidiu estudar, e também em pesquisa
direta, realizada nas mais diversas ‘instituições de memória’
(...) Finalmente, há também que levar em conta que as
geografias do passado trabalham, não com o passado
propriamente dito, mas com os fragmentos que ele deixou. Por
isso, é preciso sempre desconfiar dos vestígios que
encontramos, pois os documentos não são neutros, isto é,
incorporam estruturas de poder (...). Por outro lado, há também
que tentar dar conta do que não deixou vestígios, mas que
sabemos que ocorreu ou que deve ter ocorrido (ABREU, 2000,
p. 18).
20
2005; LELOUP, 1970; SANTOS, 1993, 2008; SANTOS e SILVEIRA, 2003),
Cidades Médias (AMORIM FILHO 1984, 2007; AMORIM FILHO e ABREU,
1999; AMORIM FILHO e SERRA, 2001; SANTOS, 1978, 1993; SOARES, 1998,
2007; SPOSITO, 2007, 2009), Região e Regionalização (CUNHA, 2002; DINIZ
e BATELLA, 2005; GODOY, 1996; PAULA, 2006; SARAIVA, 2008; BEZZI,
2004)
Para a obtenção e tabulação dos dados estatísticos (censitário,
geográficos, históricos e socioeconômicos) realizou-se pesquisa direta no
Banco de Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, da Fundação
João Pinheiro – FJP, da Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ e
da Prefeitura Municipal de São João del-Rei. As fontes cartográficas (material
cartográfico), iconográficas (fotografias) e arquitetônicas (projetos urbanos e
arquitetônicos de São João del-Rei) pesquisamos, principalmente, na Biblioteca
Municipal Baptista Caetano d’Almeida, no Laboratório de Conservação e
Pesquisa Documental da UFSJ (LABDOC-UFSJ), no Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) - São João del-Rei, no Acervo de Obras
e Administração da Prefeitura Municipal e em acervos particulares.
A dissertação está estruturada em duas partes, que apresentam uma
continuidade de informações e análises sobre a formação socioespacial de São
João del-Rei e sua importância regional. A primeira seção está dividida em três
capítulos, onde abordamos a gênese de sua formação socioespacial, a
influência dos modais viários e a inserção das técnicas na produção do seu
espaço urbano e regional, e por fim a inserção de São João del-Rei no contexto
das cidades médias.
Na segunda parte do trabalho – em decorrência das transformações
urbanas ocorridas em São João del-Rei pelo seu processo de formação
socioespacial e a constituição da rede urbana mineira decorrente da articulação
entre os modais viários e a emergências das cidades médias – abordamos
importância de São João del-Rei como sede microrregional através da
articulação entre a Geografia e a História para compreender os processos
históricos de regionalização da microrregião.
21
No primeiro capítulo apresentamos o processo histórico da formação
socioespacial da cidade de São João del-Rei, o aporte teórico tem como
embasamento: Santos (1977, 2008), Carlos (2009, 2011), e Sposito (2011),
que contribuem para o entendimento das dinâmicas urbanas acerca do
conceito socioespacial; Graça Filho (2002), Maldos (2000), Saint-Hilaire (1974)
e Vasconcelos (2011) para compreensão dos processos históricos de formação
do município. Desse modo, explicamos o contínuo processo de urbanização
são-joanense, através da periodização histórica da sua expansão.
No segundo capítulo analisamos como a implantação dos modais viários
– em nossa pesquisa destacamos o ferroviário – e a evolução das técnicas, a
partir do último quarto do século XIX, contribuíram para a constituição de um
sistema integrado de transportes.
Esses sistemas de engenharia atenderam as demandas internas e
externas da economia agroexportadora são-joanense, promovendo a (re)
organização espacial da cidade, através da circulação de pessoas e
mercadorias, porém a partir da década de 1950 quando o modal rodoviário
suplanta o ferroviário, São João del-Rei perde gradativamente sua importância
regional.
No terceiro capítulo, após uma breve discussão sobre a conceituação
das cidades médias destacamos, principalmente, sua influência histórica na
rede urbana da mesorregião do Campo das Vertentes e na sua microrregião,
da qual São João del-Rei é sede, realçando sua importância como eixo
articulador de fluxos e fixos, exercendo uma influência econômica, política,
estrutural e social na escala meso e microrregional.
Na segunda seção do trabalho, em decorrência da sua formação
socioespacial e das transformações que ocorreram no espaço urbano de São
João del-Rei, tratamos do processo de regionalização de sua microrregião e
sua importância nas transformações espaciais em escala regional, onde as
relações de mercado intra-regionais fomentam uma rede de relações espaciais
decorrentes de circuitos espaciais produtivos e círculos de cooperação
sobrepostos na região que se entrelaçam e se dinamizam pelo/no território em
escala regional e local.
22
Para esse fim, analisamos o processo histórico de regionalização do
Estado de Minas Gerais, que na sua formação socioespacial estabeleceu redes
de relações espaciais decorrentes do desenvolvimento socioeconômico
desigual do estado, que se complementava através da implantação de
infraestrutura viária para dinamizar o território mineiro em escala regional,
refletindo a importância de São João del-Rei na sua região de influência.
Nas Considerações Finais avaliamos as atividades desenvolvidas
apontando os principais pontos pesquisados, as respostas encontradas e as
principais indagações feitas no decorrer da pesquisa.
23
PARTE I
24
Nesse contexto, explicamos como sucedeu a expansão urbana de São
João del-Rei através dos seguintes processos: a periodização do território pela
sucessão dos meios geográficos, de subperíodos econômicos e da
materialidade das técnicas; a expansão da mancha territorial urbana que
envolve a fragmentação, a segregação e a periferização socioespacial; sua
inserção na reorganização produtiva do capital e seu papel da divisão social e
territorial do trabalho.
25
Mapa 1 - Localização do município de São João del-Rei.
Fonte: Base Cartográfica IBGE 2007. Elaboração Cartográfica: Tiago Gonçalves dos Santos e
Bruno Henrique dos Santos (2017).
26
agrícola, voltado, inicialmente, para o abastecimento interno e, posteriormente,
para o regional, que rapidamente consolidou-se como o mais importante
entreposto comercial de Minas Gerais durante o século XIX. Nesse contexto
histórico, como ressaltam Guimarães Filho e Leal (2008), os produtos agrícolas
são-joanenses “valiam mais que o próprio ouro”.
Pereira (2009, p.30) reitera que São João del-Rei “diferente de outras
cidades que entraram em estagnação com a decadência aurífera, desenvolveu-
se e diversificou sua base econômica, tornando-se a mais rica cidade mineira
na primeira metade do séc. XIX”.
No final do século XIX, a construção da Estrada de Ferro Oeste de
Minas – EFOM (1878-1881), e a chegada dos imigrantes italianos, a partir de
(1886), que inicialmente dedicaram-se às atividades agrícolas, aceleraram o
“progresso” industrial do município. Em meados do século XX a chegada dos
sírios no município impulsionou o desenvolvimento do comércio.
São João del-Rei no decorrer do século XX perdeu, gradativamente, sua
importância política e econômica no estado devido o surgimento de novos
centros como a capital Belo Horizonte e Juiz de Fora, mas manteve sua
relevância e influência no contexto regional.
Atualmente, com a consolidação da Universidade Federal de São João
del-Rei – UFSJ, o município tem sua economia voltada principalmente para
prestação de serviços relacionados ao comércio e turismo.
Nesse contexto, a abordagem da formação socioespacial do município
fundamentada na técnica e na geografia-histórica, visa compreender os
principais aspectos relacionados à complexificação do espaço urbano são-
joanense nos seus trezentos anos de história. Segundo Harvey, a “compressão
espacial-temporal” está associada às:
27
Santos e Silveira (2003), apresentam a formação socioespacial atual
com base na realidade da globalização, partindo do pressuposto que toda
“ação pressupõe uma técnica”. Os autores afirmam que o “meio geográfico não
pode ser desvinculado da noção de técnica”.
A formação socioespacial corresponde a diferentes períodos técnicos
que, por sua vez correspondem a diferentes períodos da expansão urbana que,
consideramos como etapas históricas da produção capitalista do espaço. As
diferentes funções urbanas, os processos de valorização fundiária e a
ampliação das dimensões segregacionistas são resultantes das relações
contraditórias que acompanham a (re) organização e (re) funcionalização do
espaço urbano de São João del-Rei. Para Santos (2008, p. 54) é “por
intermédio das técnicas que o homem, no trabalho, realiza essa união entre
espaço e tempo”.
Essa periodização geográfico-histórica está representada na figura 1, e
dividida em cinco faixas temporais distintas e dotadas de incrementos técnicos
que integram o espaço e o tempo.
28
Figura 1 - Organograma da Periodização Geográfica – Histórica para São João del-Rei.
Fonte: Elaborado pelo autor.
29
portador de um sentido, partilhado pelo espaço e pela
sociedade, representativo da forma como a historia realiza as
promessas da técnica (SANTOS, 2008, p. 171).
30
da Passagem 3 (mapa 2) se dá a partir de 1702, com a descoberta de veios de
ouro na região, fato esse que contribuiu para a atração e fixação de
mineradores liderados por Tomé Portes del-Rei.
Mapa 2 - Localização do Porto Real da Passagem (Caminho Velho: Rota entre São Paulo
e Minas Gerais).
Fonte: Barreiros (1976, p. 24).
3
Nos primeiros anos de exploração aurífera, a Região do Rio das Mortes tornou-se, pela sua
localização, passagem forçada para aqueles que, transpondo a Serra da Mantiqueira e
atravessando o Rio Grande, se dirigiam de Taubaté (em São Paulo) ou do Porto de Parati (na
costa fluminense) para as lavras do Ouro Preto ou do rio das Velhas. Esse percurso, o único
utilizado durante muito tempo pelos exploradores, foi o fator inicial do estabelecimento dos
primeiros povoados na área, anos antes que se revelasse a ocorrência, também, ali, de ricos
depósitos auríferos. No lugar denominado Porto Real (logradouro conhecido ainda hoje pelo
mesmo nome), onde Tome Portes del-Rei exercia o direito de cobrança da passagem do Rio
das Mortes, surgiria o núcleo primitivo de povoamento, compreendido entre as atuais cidades
de Tiradentes e São João del-Rei, e que se tornaria a principal estalagem do chamado
Caminho Velho. (FJP 40)
31
descobertas minas de ouro, principalmente após a Guerra dos
Emboabas (1707-1709).
A Coroa Portuguesa transferiu para as colônias a sua organização
político-territorial baseada nos “concelhos” 4, denominados oficialmente como
cidades, vilas, arraiais, etc. sem diferenças significativas entre essas
designações.
Desse modo, com o surgimento da nova Capitania, simultaneamente
eram fundadas várias vilas e arraiais, com destaque para Vila Rica (atual Ouro
Preto), Vila de São João del-Rey (atual São João del-Rei) e Vila de Nossa
Senhora de Sabará (atual Sabará), que posteriormente foram elevadas à
categoria de Comarcas (mapa 3).
4
Os concelhos eram administrados por câmaras e foram, mais tarde, chamados também de
municípios.
32
São João del-Rei se forma através da aglutinação de dois pequenos
núcleos de mineração, que surgiram simultaneamente em torno do vale do
Córrego do Lenheiro, sendo o Senhor dos Montes e o Alto das Mercês na
margem esquerda do córrego e o Morro da Forca na margem direita (mapa 4).
Nesse contexto, o processo de ocupação de São João del-Rei
intensifica-se com a exploração aurífera e, consequentemente é criado o
Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar ou do Rio das Mortes 5.
Mapa 4 - Localização dos primeiros núcleos de urbanização de São João del-Rei Séc.
XVIII.
As áreas destacadas representam os locais onde se instalaram os primeiros
assentamentos que deram inicio a urbanização da cidade.
Fonte: Elaborado por Tiago Gonçalves dos Santos e Bruno Henrique dos Santos (2017).
5
Os arraiais eram povoações de menor graduação que as vilas, localizando-se nos distritos. A
elevação de uma vila à categoria de cidade conferia-lhe apenas qualificação honorífica.
33
Segundo a descrição oferecida por Maldos (2000) o arraial era dividido
por um rio, com caminhos diferentes para as entradas e as saídas da
localidade e com encostas, em seu entorno. São João del-Rei desde o início de
sua ocupação territorial foi condicionada por características topográficas,
hídricas e acessos sempre próximos dos caminhos secundários, do Córrego do
Lenheiro e dos pontos de água para abastecimento. Nas últimas décadas do
século XVIII, a ocupação cresceu em direção aos subúrbios e caminhos de
entrada e saída da futura cidade de São João del-Rei.
Essa ocupação de outrora reflete a visivelmente a atual desigualdade
territorial são-joanense, que segundo Maldos porque:
34
forma e conteúdo social; áreas de lazer; e, entre outras,
aquelas de reserva para futura expansão. (...) Este conjunto de
usos da terra é a organização espacial da cidade ou
simplesmente o espaço urbano fragmentado, que por sua vez
além de fragmentado é articulado, reflexo e condicionante
social, um conjunto de símbolos e campo de lutas. É assim a
própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais
aparente, materializada nas formas espaciais (2004, p.7-9).
35
seus investimentos urbanos. Finalmente, a população através
da sua ação cotidiana e vernacular vão produzindo a cidade e,
os movimentos sociais, com suas rupturas (que vão desde os
quilombos, rebeliões, revoltas até as implantações irregulares)
que causarão as transformações na mesma (VASCONCELOS,
2011, p. 91).
6
Dom Brás Balthazar da Silveira era o Governador e Capitão Geral da Capitania de São Paulo
e Minas, e em 15/04/1714 através de um bando ordenava: “todas as pessoas que assistem no
arraial novo se mudem para a parte que destinou para a fundação da vila, dentro de um ano,
com cominação de que as que não obedecerem serão castigadas ao arbítrio de S. Exa.”. Em:
Dicionário histórico – geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte, SATERB, 1971. p.458-61.
Citação: p.460
7
As instituições civis eram representadas por câmara, judicatura e intendência real do ouro,
durante o período colonial (GAIO Sobrinho, 1996, p. 8).
8
Quando o Arraial Novo foi elevado à categoria de vila e recebeu a nova denominação de São
João del-Rei, a 08 de dezembro de 1713, foi-lhe delimitado um ponto referencial, que passaria
a funcionar como núcleo mais importante e de maior concentração urbana.
36
(...) o ribeiro das Congonhas junto do qual há hum sítio
chamado caza branca servirá de divisão entre as comarcas de
Villa Rica e de S. João de ElRey, devendo tocar a villa Rica
tudo que se comprehendeathéella vindo do ditto ribeiro para as
minas Geraes, e do mesmo pertencerá a comarca de S. João
de ElRey tudo o que vayathé a Villa do mesmo nome (...)
(CARVALHO, TheophiloFeu de. Comarcas e termos: creações,
suppreções, restaurações, encorporações e desmenbramentos
de comarcas e termos, em Minas Gerais (1709-1915). Bello
Horizonte: Imprensa Official, 1922).
37
1.3. A Comarca do Rio das Mortes e a Vila de São João del-Rei.
9
As Comarcas eram grandes circunscrições, que abrigavam as cidades, vilas, concelhos,
termos, etc., que correspondiam à jurisdição dos ouvidores, responsáveis pela tutela da gestão
financeira dos camaristas e da justiça administrada pelos juízes ordinários. Até 1832
administração judiciária nas províncias estava estruturada em comarcas, termos e distritos de
paz, mas o Código do Processo Criminal reiterou essa divisão: Em primeiro nível, as províncias
estavam divididas em comarcas. A abrangência da comarca estava sob a competência de um
juiz de direito, cuja sede era denominada de cabeça de comarca. Em segundo nível, a divisão
das comarcas em termos de vilas e de cidades. Em cada termo deveria haver um conselho de
jurados, um juiz municipal, um promotor público, um escrivão das execuções e oficiais de
justiça. Por fim, a divisão dos termos em distritos de paz, delimitados pelas câmaras
municipais. Nos distritos deveria ser instituído um juiz de paz, um escrivão, inspetores de
quarteirão e oficiais de justiça. BRASIL. Lei de 29 de novembro de 1832. Colleção das leis do
Imperio do Brazil de 1832. Actos do Poder Legislativo. Rio de Janeiro: Typographia Nacional,
1874, p. 187. Disponível em: http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa acessado em
22/06/2016.
10
Sobre o topônimo Minas Gerais Moraes (2005) observa: “que se forjou no processo inicial de
colonização de seu território, já em fins do século XVII, “as minas”, nome que designava as
áreas dos descobertos, tomava sentido de lugar pelo que se pode depreender de expressões
de uso comum presentes em vários documentos coevos, sobretudo provisões e cartas de
sesmarias, indicando, contudo, não mais que pontos isolados num vasto sertão. “Assistente
nas minas”, “caminho para as minas” eram expressões comuns, incorporando também
referências aos primeiros habitantes de seu território: as “minas dos Cataguás”. Considerando
que as primeiras áreas de mineração se concentravam ao longo da Serra do Espinhaço, o
complemento “gerais” surgiu para expressar o sentido geográfico de continuidade daqueles
núcleos urbanos nascidos junto às lavras existentes no complexo da serra do Espinhaço.
38
Mapa 5 - Comarcas de Minas Gerais em 1821.
Fonte: Arquivos Históricos. Mapa: Comarcas 1821. disponível em:
http://www.documenta.ufsj.edu.br/modules/news1/images/MAPA_1-.jpg. Acessado em
13/06/2016.
Os limites da Comarca do Rio das Mortes não eram muito claros durante
o século XVIII e se estendia pelo centro-sul, a sudoeste da capitania,
compreendendo os termos de Jacuí, Baependi, Campanha da Princesa,
Barbacena, Queluz, Nossa Senhora de Oliveira, São José do Rio das Mortes e
São Bento do Tamanduá (mapa 6).
39
Mapa 6 - Vilas e Arraias de Minas Gerais no Século XVIII.
Fonte: Fonseca (2012, p. 84)
11
Nas colônias, a denominação termo de vila foi utilizada em detrimento da de município, visto
que não se convinha empregar essa última em terras não emancipadas. No caso do Brasil no
período imperial, ambas as denominações foram utilizadas indistintamente. Termo de vila
correspondia a uma circunscrição em âmbito do poder civil. A administração da justiça (crime,
cível, administração de bens dos órfãos) e a fiscalidade foram estruturadas nas circunscrições
judiciárias e administrativas: comarcas, termos de vilas e distritos de paz. O território de
jurisdição da comarca era divido em termos, que, por sua vez, era divido em distritos – menor
demarcação territorial (Na esfera da administração eclesiástica, os termos eram compostos por
uma ou mais freguesias (paróquias) – circunscrição com igreja paroquial, presidida por um
pároco e vinculada a um bispado). Havia também o julgado, que era outro tipo de circunscrição
judiciária com autonomia judiciária parcial e sem autonomia administrativa, subordinada a uma
câmara. A vila era a sede do termo e povoação principal. A designação vila era utilizada
também como sinônimo de termo, abrangendo duas conotações. Ou seja, referindo-se à
povoação principal e também ao seu termo, o território de jurisdição dos oficiais camarários
Sobre essas designações, cf. BLUTEAU, Raphael. Vocabulário português e latino. Coimbra:
Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1711; MORAES E SILVA, Antonio. Diccionario da
língua portugueza. t.2, Lisboa: Typographia Lacérdina, 1813. BRASIL. Instituto Geográfico
Cartográfico. Definição de áreas. Disponível em: http://www.seade.gov.br/produtos/500anos.
40
século XIX intensificou-se com a escolha da vila como cabeça da Comarca do
Rio das Mortes.
Na condição de cabeça de Comarca dos Rios das Mortes, a vila de São
João del-Rei, rapidamente sofre um processo de integração entre os seus dois
núcleos urbanos localizados no vale do Córrego do Lenheiro: o Senhor dos
Montes e o Alto das Mercês na margem esquerda do córrego e o Morro da
Forca na margem direita. Essa integração dos núcleos possibilitou a
interligação da estrutura de poder da vila.
Na margem esquerda do córrego de onde provinha a produção aurífera
estavam localizados o Senado da Câmara e a Cadeia, que precisavam
comunicar diretamente com a Casa da Intendência, localizada na margem
direita do córrego, para que o ouro fosse despachado para a Coroa
Portuguesa. A interligação era necessária para facilitar o deslocamento dos
funcionários da Coroa (guardas, inspetores, contratadores, juízes, ouvidores
etc.), comerciante se moradores locais.
Deste modo, o crescimento econômico da vila implicou no aumento da
demanda por infraestrutura para atender as necessidades da produção
aurífera. Essa pendência é suprida pela ascensão de uma aristocracia
burocrática local, representada pelo Senado da Câmara, que estava
encarregada pela Coroa de realizar as obras de melhoramento urbano da vila,
para dinamizar o fluxo de mercadorias e pessoas.
Por conseguinte, é construída a Ponte Nova da Intendência (atual Ponte
da Cadeia, figura 2) e em seguida a Ponte do Rosário sobre o Córrego do
Lenheiro interligando os dois lados da vila (mapa 7).
41
Figura 2 - Ponte Nova da Intendência em 1798, atualmente conhecida como Ponte da
Cadeia.
Fonte: Acervo Antonio Giarola.
42
Mapa 7 - Planta urbana de São João del-Rei no século XVIII
Fonte: Guimarães (1996, p. 40-41)
43
Desse modo, as técnicas se revelam na formação socioespacial são-
joanense, através da ocupação do solo e pelos investimentos em
infraestruturas (estradas, pontes, canais, chafarizes).
Sendo assim,
44
foram construídas a Casa da Intendência, a Santa Casa de Misericórdia e o
Pelourinho.
Essa diferenciação de ocupação permitiu, em um primeiro momento, a
criação de ruas que serpenteavam morro acima ou que se quebravam numa
tortuosidade, sendo posteriormente substituídas por passagens mais largas,
onde as vias tinham seus eixos principais orientados para os prédios públicos,
o que melhorava a distribuição dos fluxos de moradores e viajantes, reflexo dos
interesses sociais, políticos e econômicos da época.
Deste modo, o adensamento das técnicas homogeneizava os fluxos de
deslocamentos de pessoas e informações, mas não homogeneizava o espaço
urbano.
Assim, a vila organizava–se espacialmente de acordo com suas
necessidades, como analisa Carlos (2009):
45
O apogeu da mineração proporcionou o nascimento de uma sociedade
urbana, marcada pela divisão social do trabalho, composta por comerciantes,
profissionais liberais, funcionários da Coroa, homens livres e uma grande
massa de escravos, que trouxeram mudanças estruturais não só para Minas
Gerais, mas também para o Brasil, como a transferência da Capital para o Rio
de Janeiro, em 1763.
Desse modo, a exploração do ouro em Minas Gerais promoveu, em uma
12
escala regional, a conformação de uma “rede urbana colonial” , que
inicialmente, crescia ao redor das áreas mineradoras e expandia-se através
das inter-relações mercantis entre povoações, arraiais, vilas e Coroa,
12
Segundo Roberto Lobato Corrêa a rede urbana se configura como “um reflexo, na realidade
dos efeitos acumulados de diferentes agentes sociais, sobretudo as grandes corporações
multifuncionais e multilocalizadas que, efetivamente, introduzem, tanto na cidade como no
campo atividades que geram diferenciações entre os centros urbanos” (2005, p.27).
46
administração pública, que manteve a colônia num isolamento
completo; e não tendo organizado aqui nenhum sistema
eficiente de educação, por mais rudimentar que fosse, tornou
inacessível aos colonos qualquer conhecimento técnico relativo
às suas atividades (PRADO JUNIOR, 1976, p. 41).
13
FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
2005. 32ª Ed.
47
significativos. No entanto, tem se firmado a ideia que a economia mineira, a
partir da segunda metade do século XVIII, entrou em um processo de
modificação de sua principal atividade (mineração) e não em decadência:
14
A obra literária “Cidades Mortas” de Monteiro Lobato é um conjunto de contos que
questionam as cidadezinhas estagnadas do Vale do Paraíba. Publicado em 1919, a obra
retrata a vida das pessoas e seus relacionamentos nas pequenas cidades do Vale do Paraíba,
no que chamou de “ambiente marasmático”. As palavras e Lobato descrevem o ambiente vivido
pelo autor no seu cotidiano: uma dinâmica econômica que migra de uma região para outra e a
desertificação que provoca no processo. Essa condição resulta nos traços característicos das
cidades as quais recebem a designação emblemática de “mortas” por perderem o vigor da vida
urbana. (ELIZEU e VICTAL, 2011, p. 2)
48
Assim, contrariando o cenário de estagnação econômica que afligiu a
região mineradora, a Comarca do Rio das Mortes manteve durante todo o
século XIX um significativo crescimento populacional (tabela 1) e uma
vitalidade econômica devido às atividades agrícolas voltadas inicialmente para
o abastecimento da comarca.
Tabela 1 – População das Comarcas de Minas Gerais durante os séc. XVIII e XIX.
COMARCA POPULAÇÃO
1776 [1] % 1776 [2] % 1808 % c.1820 % 1835 %
Vila
78.618 24,59 78.618 23,00 72.286 16,69 71.796 13,02 84.376 12,14
Rica
Sabará 99.576 31,14 99.576 29,13 135.920 31,39 142.840 25,91 189.785 27,32
Serro
58.794 18,39 80.894 23,66 69.974 16,16 99.919 18,12 106.112 15,27
Frio
Rio das
82.781 25,89 82.781 24,21 154.869 35,76 236.819 42,95 314.495 45,27
Mortes
Total 319.769 100,0 341.869 100,0 433.049 100,0 551.374 100,0 694.768 100,0
49
desenvolvimento urbano e econômico, além de incrementar a divisão social do
trabalho na cidade.
Como afirma Graça Filho:
50
São João del-Rei beneficiou-se da sua localização geográfica
privilegiada e estratégica no entroncamento dos principais centros
consumidores e das principais vias de escoamento
51
comerciais e agropastoris, aumentou a demanda do uso do solo para criação
de um conjunto de infraestruturas necessárias para a melhoria das condições
de vida da população, ainda que direcionadas prioritariamente para a elite
local.
A implantação da infraestrutura necessária acarreta na expansão da
área urbana e o adensamento das áreas já urbanizadas da cidade, que já
possuía cerca de 1.600 casas, distribuídas em 24 ruas e 10 praças. No entanto
São João del-Rei necessitava de serviços sociais como saúde, educação,
saneamento básico, sistema viário de comunicação e transporte, para atender
a população.
Desse modo, no fim do século XIX e meados do século XX são
construídas escolas, agência bancária, hospital, teatros, biblioteca pública,
criado jornais, além da instalação do transporte ferroviário, dos serviços de
telegrafo, de iluminação publica, de abastecimento domestico d’água, de rede
de esgoto, e do Comando Superior da Guarda Nacional.
A implantação desse conjunto de infraestrutura permitiu maior fluidez
material (mercadorias e pessoas) e imaterial (informações, conhecimento e
capitais) o que redefiniu a reestruturação socioespacial de São João del-Rei.
No final do século XIX, o capital acumulado pelos comerciantes e a
criação da Companhia Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) em 1881,
cujo destino era o Rio de Janeiro, possibilitaram a industrialização da cidade
com a fundação da Companhia Industrial Sanjoanense, no setor têxtil, e da Cia.
Agrícola Industrial Oeste de Minas no ano de 1891, que tinha como “interesse
promover nos municípios de São João del-Rei, Tiradentes, Lavras, Bom
Sucesso e Oliveira, a cultura da uva, mandioca, anileira, fabricar vinho, álcool,
vinagre, cera e cerâmica” (Graça Filho, 2002, p. 47).
52
cidade não possuía planejamento urbano, conservando os primitivos caminhos
que deram origem à antiga vila de São João del-Rei.
As construções no centro da cidade eram aglomeradas, as ruas não
possuíam calçadas, além de serem mal conservadas, eram próximas aos
edifícios públicos, porém no centro concentravam-se os principais armazéns de
abastecimento e dos serviços burocráticos essenciais para a circulação da
economia.
Na medida em que São João del-Rei ampliava sua malha urbana, era
difícil definir o que seria urbano e rural, haja vista sua expansão em direção ao
campo, principalmente rumo ao Arraial do Matozinhos e a Várzea do Marçal. O
desenvolvimento da malha urbana era desigual e fragmentado com restrições
de possibilidades de uso e ocupação do espaço para a maioria da população
são-joanense, devido à forte influência das elites locais na complexificação do
espaço urbano da cidade.
São João del-Rei vivenciava um constante processo de urbanização
desde o século XVIII (mapa 8) e com o incremento das técnicas, houve
expansão da sua malha urbana para além das margens do Córrego do
Lenheiro, que se encontravam densamente urbanizadas e interligadas pelas
pontes do Rosário e da Cadeia.
Com o advento da ferrovia acelerou-se a mecanização do espaço
urbano de São João del-Rei. Essa expansão ocorreu através dos trilhos que
aproximam progressivamente o centro da cidade ao Arraial do Matosinhos e
aos núcleos de imigração na Colônia do Marçal.
53
Mapa 8 - Expansão da malha urbana de São João del-Rei.
Fonte: Fundação João Pinheiro (1982). Elaborado por Tiago Gonçalves dos Santos e Bruno
Henrique dos Santos (2017).
54
histórica, que influenciou diretamente na formação socioespacial de São João
del-Rei, pois com a ferrovia,
55
construcções, não se ncontram predios desoccupados; os
alugueis das casas têm subido de preço, há emprego e serviço
para quntos procuraram trabbalho e não obstante o alto preço
de todos os generos, tem desapparecido em grande parte a
mendicidade, que nos sabbados infestava as ruas da cidade.15
15
A Pátria Mineira. Ed. 139, 11/02/1892 - Periódico localizado no Escritório Técnico do Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – São João del-Rei, MG.
56
Mapa 9 - Configuração atual dos bairros do Matosinhos e das Fábricas.
Fonte: Elaborado por Tiago Gonçalves dos Santos e Bruno Henrique dos Santos (2017)
57
Figura 3 - Estrada de ferro cortando a Avenida Leite de Castro no Bairro das Fábricas na
primeira metade do séc. XX.
Fonte: Acervo Antonio Giarola.
58
Figura 4 - Estrada de ferro cortando a Avenida Leite de Castro no Bairro das Fábricas na
segunda metade do séc. XX/ Atual Avenida Leite de Castro.
Fonte: Acervo Antonio Giarola.
59
1.6. A Complexificação do Espaço Urbano São-Joanense Mediante a
Atividade Industrial do século XX.
60
próximas, como Matosinhos e o Bairro Fábricas (Figura 5), onde foram
construídas residências para abrigar a mão de obra.
61
No bairro de Matosinhos, temos a BR-265, que leva às cidades de São
Paulo e Rio de Janeiro; e a BR-383, na Colônia do Marçal, que liga o município
a Belo Horizonte. Hoje em dia esses bairros são apontados com potencialidade
para o desenvolvimento de centralidades no futuro, já que as áreas centrais
mais antigas da cidade estão saturadas.
A implantação da infraestrutura de transportes, no final do século XIX, foi
fundamental para o desenvolvimento da atividade industrial do município, pois
promoveu importante reorganização do espaço urbano são-joanense; com
destaque, inicialmente, para a implantação da ferrovia e posteriormente da
rodovia, que dinamizaram o fluxo de pessoas e mercadorias.
Entendemos, conforme Sposito (2011 p. 133) que o transporte é
“condição técnica” que tornam os tecidos urbanos mais descontínuos,
esgarçados, no entanto, as causas das alterações da morfologia urbana estão
na produção capitalista do espaço urbano. Estes espaços descontínuos
salienta Sposito:
62
Mapa 10 - São João del-Rei na Mesorregião do Campo das Vertentes
Fonte: Base Cartográfica IBGE 2007. Elaboração Cartográfica: Tiago Gonçalves dos Santos e
Bruno Henrique dos Santos (2017)
Assim, não é mais possível ver a cidade atual como uma unidade, como
visto na periodização que realizamos através pela sucessão dos meios
geográficos, de subperíodos econômicos e da materialidade das técnicas.
Sposito (op.cit., p. 135), “assinala que a cidade tem que ser avaliada como um
espaço aberto, do ponto de vista concreto e abstrato”.
63
2. OS MODAIS DE TRANSPORTE E AS TRANSFORMAÇÕES
SOCIOESPACIAIS EM SÃO JOÃO DEL-REI.
16
A temporalidade se destaca – quando consideramos – principalmente, a evolução da técnica,
promovendo transformações espaciais que reconfiguram espaços com antigas estruturas
dando-lhes novas funções (SANTOS, 2008).
64
João del-Rei, expressando novos sinais de complexidade na divisão territorial
do trabalho, que influenciariam diretamente na formação socioespacial de São
João del-Rei.
65
Assim, as antigas cidades, de caráter fechado e autônomo, deram lugar
a uma cidade que se comunicava intensamente com o mundo exterior.
Na visão geográfica de Silveira (1999, p. 22), “a modernidade é o
resultado de um processo pelo qual um território incorpora dados centrais do
período vigente que importam em transformações nos objetos, nas ações,
enfim, no modo de produção”. Portanto, o território a cada período técnico
caracteriza um arranjo espacial, cuja dinâmica funciona de modo a criar as
ligações necessárias entre os espaços, conforme as necessidades, sob o
capital, de integrar o território ao mercado.
66
máquinas, já que estas, unidas ao solo, dão uma nova dimensão à respectiva
geografia” (SANTOS, 2008, p. 234).
Desse modo, o meio técnico é indissociável das grandes concentrações
humanas e das infraestruturas de circulação construídas pelas sociedades, que
consequentemente aceleram o processo de urbanização ocasionado pela
industrialização capitalista responsável pela evolução das técnicas:
17
Cada nova técnica não apenas conduz a uma nova percepção do tempo. Ela também obriga
a um novo uso do tempo, a uma obediência cada vez mais estrita ao relógio, a um rigor de
comportamento adaptado ao novo ritmo. (Natureza do Espaço: SANTOS, 2008, p. 186)
67
os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que
modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que
recriam condições ambientais e as condições sociais, e
redefinem cada lugar. Os fluxos são um resultado direto ou
indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos,
modificando a sua significação e o seu valor, ao mesmo tempo
em que, também, se modificam (2008, p. 61-62).
68
época a construção da Ferrovia Oeste de Minas representa progresso e
ingresso na modernidade:
18
O Arauto de Minas, 18 de novembro de 1877 – Periódico localizado no Escritório Técnico do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – São João del-Rei, MG
19
Tribuna do Povo, 18 de setembro de 1881 – Periódico localizado no Escritório Técnico do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – São João del-Rei, MG
69
que contava também com serviço de transporte público realizado por um
ônibus que circulava por toda a cidade.
A introdução do automóvel e a implantação de um serviço público de
transporte em São João del-Rei influenciaram diretamente o traçado de suas
ruas e avenidas que tiveram que se adaptar nova realidade, uma vez que, as
ruas herdadas do século XIX ainda possuíam uma estrutura e um traçado que
não permitiram, inicialmente, a plena circulação dos automóveis.
A implantação da infraestrutura de transportes no final do século XIX foi
fundamental para o desenvolvimento da atividade industrial do município
promovendo importante reorganização do espaço urbano. Com destaque,
inicialmente, para a implantação da ferrovia e, posteriormente, da rodovia que
dinamizaram o fluxo de pessoas e mercadorias.
70
mercantil e urbanização constituíram fatores importantes para a sua própria
reprodução.
Portanto, o sistema de transportes brasileiro começou a se estruturar a
partir das ferrovias com base na economia agrário-exportadora e em regiões
produtoras e consumidoras, parcialmente ligadas entre si. Entretanto, a
mecanização de parte da produção e da circulação, vista como pressupostos
potenciais para uma imediata integração nacional, não conseguiram romper
20
com os “arquipélagos regionais” . Configurou-se uma integração limitada, do
espaço e do mercado, no qual apenas participava uma parcela do território
nacional.
De acordo com Santos,
20
“Uma topologia marcada por desconexões decorre, sobretudo, de uma vida circunscrita às
regiões, embora orientada para satisfazer a necessidades de matérias-primas além dos mares”
(SANTOS; SILVEIRA, 2003, p. 38).
71
incompatível. Desse modo, o transporte rodoviário torna-se o modal
responsável para articular o mercado interno brasileiro.
Conforme Lopes e Godoy,
21
O termo industrialização não pode ser tomado, aqui, em seu sentido estrito, isto é, como
criação de atividades industriais nos lugares, mas em sua mais ampla significação, como
processo social complexo, que tanto inclui a formação de um mercado nacional, quanto os
esforços de equipamento do território para torná-lo integrado, como a expansão do consumo
em formas diversas, o que impulsiona a vida de relações (leia-se terceirização) e ativa o próprio
72
importações por produtos nacionais. O incremento de um modelo de
desenvolvimento industrial articulado priorizou a produção interna de
automóveis, navios e maquinários ligados à indústria pesada que dependente
de capitais elevados e de tecnologia avançada, o que levou o governo a adotar
novas políticas para o setor de transportes.
Com a instalação da indústria automobilística e a implantação do novo
padrão estatal de desenvolvimento urbano-industrial, os modais de transportes
deveriam estimular a integração territorial nacional e intermodal. As estradas de
rodagem complementariam a malha férrea, no entanto, essa prática contribuiu
para acirrar a competição principalmente entre rodovias e ferrovias, em vez de
estimular a integração intermodal. Consequentemente, as ferrovias foram
gradativamente substituídas pela construção de rodovias.
Os investimentos no modal ferroviário eram basicamente de
reequipamento e estavam quase que exclusivamente a cargo do setor público,
devido sua estatização quase completa ao longo da década de 1950, sendo
que esses fatores acarretaram restrições de financiamento maior. Ao contrário,
o modal rodoviário permitia uma articulação de interesses entre o setor privado
e o público.
processo de urbanização. Essa nova base econômica ultrapassa o nível regional, para situar-
se na escala do País; (SANTOS, 1993.p.27)
73
Essas políticas se efetivaram com o governo Juscelino Kubitschek
(1955-1960) com a atração das indústrias automobilísticas estrangeiras, e
22
criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) , em 1956.
Estas ações fortaleceram outra tendência do setor de transportes: a do
desmonte das ferrovias. A política rodoviário-automobilística foi acompanhada
de uma progressiva desativação de ramais e de estradas de ferro.
Durante o governo de Juscelino Kubitschek – JK (1956-1961), o Plano
de Metas iniciou o processo de modernização do transporte ferroviário e de
erradicação dos ramais ferroviários antieconômicos e priorizou os
investimentos na infraestrutura rodoviária em nome do desenvolvimentismo.
As políticas de modernização dos transportes idealizada por JK foram
consolidadas durante a ditadura civil-militar (1964-1984), em que as chamadas
ferrovias estratégicas foram construídas para transporte de grãos e de
minérios. Em contraponto se extinguiram mais de 10 mil quilômetros de trilhos,
principalmente no interior do Brasil, de ramais considerados antieconômicos,
pois sua principal finalidade era transportar passageiros23.
Além disso, o Plano de Metas teve papel preponderante na
institucionalização do novo padrão de transportes brasileiro:
22
O Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) criado em 1956 tinha como atribuição
de elaborar e executar os planos automobilísticos nacionais de caminhões, tratores e carros.
Seu principal objetivo era atrair os investidores estrangeiros e coordenar a divisão de tarefas
entre o empresariado local ligado ao setor de autopeças e o setor multinacional das
montadoras.
23
O Decreto Presidencial n° 58.341, de 03 de maio de 1966, assinado pelo então presidente
Castelo Branco dispunha da supressão de trechos ferroviários antieconômicos. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-58341-3-maio-1966-398851-
publicacaooriginal-1-pe.html - Acessado em 21/01/2017.
74
Estado com a indústria automobilística alcança o plano fiscal,
posto que a incidência de impostos, em particular, sobre as
montadoras, não é desprezível” (NATAL,1991, p. 131-132).
75
No contexto da formação socioespacial era imprescindível a implantação
de um sistema viário que interligasse as sub-regiões mineiras privilegiando sua
especialização produtiva com uma indústria de bens intermediários em torno da
nova capital Belo Horizonte, para alavancar o desenvolvimento econômico e a
integração estadual, já que o estado era um grande celeiro responsável pelo
abastecimento de gêneros primários para São Paulo e Rio de Janeiro.
Em virtude do processo de industrialização e de urbanização que
ocorreu em São Paulo e no Rio de Janeiro, após a Segunda Guerra Mundial,
em decorrência da aceleração da substituição de importações, houve um
aumento na demanda por alimentos, o que permitiu que as principais sub-
regiões de Minas Gerais elevassem suas exportações para esses mercados.
Nesse contexto, as principais regiões mineiras, Triângulo Mineiro, Sul de
Minas e Zona da Mata, apresentavam mais ligações externas do que com Belo
Horizonte que começava a consolidar-se como novo centro geográfico, político
e econômico do estado. Essas regiões por sua vez, passariam sofrer influência
do eixo Rio Janeiro/São Paulo desde a década de 1960 (quadro 2).
76
Quadro 2 – Esquema da rede urbana e regiões de influência em Minas Gerais na década
de 1960.
Metrópoles Grandes Centros Regionais Centros regionais Centros Intermediários
77
circulação de pessoas, que se firmaram como principais centros de influência
na rede urbana mineira a partir da década de 1960 conforme os quadros 3 e 4,
referentes a classificação de Leloup (1970).
4. Centros Regionais
Divinópolis, Barbacena e Itajubá.
Industriais
Diamantina, Araxá, São Sebastião do Paraíso, Passos,
5. Centros Intermediários de Guaxupé, Alfenas, Pouso Alegre, Formiga, Lavras,
Serviços Oliveira, São Lourenço, Ubá, Muriaé, Carangola,
Manhuaçu e Caratinga
6. Centros Intermediários Curvelo, Sete Lagoas, Coronel Fabriciano, Conselheiro
Industriais Lafaiete, São João del-Rei e Leopoldina.
Nanuque, Itabira, João Monlevade, Caeté, Nova Lima,
7. Pequenas Cidades Pará de Minas, Betim, Itabirito, Ouro Preto, Santos
Industriais Dumont, São João Nepomuceno, Além Paraíba,
Cataguases e Itaúna
8. As demais cidades são
Centros Locais
Fonte: Leloup, 1970.
78
de cargas leves e médias, ficando a estrada de ferro praticamente limitada ao
transporte de cargas pesadas, como o minério de ferro localizado na região
central do estado.
Além disso, o fato de Minas Gerais ter-se constituído como o principal
centro de abastecimento dos maiores mercados consumidores nacionais como
São Paulo e Rio de Janeiro, e a intervenção Estatal que criou setores
institucionais modernos como a Companhia Energética de Minas Gerais -
CEMIG e o Departamento Estadual de Rodagem – DER/MG24 proporcionaram
o desenvolvimento industrial do estado a partir do final da década de 1960.
24
O lançamento do Plano de Recuperação Econômica (1947) e do Binômio Energia e
Transporte (1951) deram grande impulso à primeira fase do rodoviarismo mineiro. O Binômio
Energia e Transporte propuseram a construção de 2.000 km de novas estradas e a
pavimentação de 500 km. Durante o governo de JK, em Minas Gerais, coube, ao DERMG,
parcela considerável dos investimentos previstos em rodovias. Foi durante esse período que o
Departamento foi desvinculado da Secretaria de Viação e Obras Públicas, passando a
subordina-se diretamente à chefia de governo. Ao contrário da meta inicial, foram construídos
3.725 km de estradas entre 1951 e 1955, mas a meta de 500 km de pavimentação ficou a
quem do esperado. Em um segundo momento, no período de 1956 e 1963, o Governo
Estadual da continuidade ao exitoso Binômio Energia e Transporte e, com relação ao Governo
Federal, o Plano de Metas transformando o território mineiro em um importante centro
articulador da malha federal, fazendo com que as principais rodovias cortassem o território em
algum ponto. Desse modo, no final de 1963, Minas Gerais passa a ser o estado com a maior
extensão de vias federais (LOPES, 2015).
79
km de estradas federais, dos quais 3.449 km pavimentados, a
maior extensão pavimentada do Brasil. Três estradas
respondiam pela quase totalidade dessa extensão: Rio-Bahia, a
Rio-Belo Horizonte-Brasília e a Rodovia Fernão Dias (São
Paulo-Belo Horizonte). Ou seja, Minas estava ligada, por
estradas de ótima qualidade, aos dois principais polos regionais
do Brasil e a Brasília. Internamente, a extensão total da rede
rodoviária do estado passou de 31.980 km, em 1936, para
131.243 km em 1965. “A rede estadual [mineira] alcançou
14.159 km, dos quais 1.915 km pavimentados [em 1965]”
(HENRIQUES, 2009; p. 43)
25
A respeito da construção de Brasília, são interessantes as observações de Tavares (2000):
No final dos anos 60, assiste-se à mudança da capital federal para Brasília, no Planalto Central.
Para compensar as perdas que adviriam da mudança da capital, a União manteve no Rio de
Janeiro as sedes das grandes empresas estatais, universidades e instituições de pesquisa,
assim como órgãos como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico. A prática de
sustentação da economia fluminense, diga-se de passagem, não era nova. Desde a década de
1940, o Governo procurou localizar ali empreendimentos de grande porte, com o intuito de
equilibrar a distribuição de recursos no espaço econômico mais desenvolvido do país, isto é, o
triângulo São Paulo-Rio de Janeiro-Belo Horizonte (TAVARES, 2000, p. 94).
80
comercial do estado, criando novos centros urbanos a oeste e ao sul de Minas
Gerais, o que levou São João del-Rei a uma posição secundaria na rede
urbana mineira.
81
Lavras e Barroso; a perda de sua posição privilegiada frente aos principais
fluxos comerciais e as restrições ao seu desenvolvimento industrial. Essas
novas dinâmicas limitaram a atuação econômica do município em uma escala
microrregional a partir da década de 1960 (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO,
1982, p.58).
Porém com a pavimentação da BR-265, principalmente no trecho
Lavras/São João del-Rei, que permitiu a conexão da BR-381 com a BR-040
possibilitou a articulação entre a Zona da Mata com o Sul e o Oeste de Minas,
São João del-Rei assumiu um importante papel como centro microrregional.
Pois através da BR-265, o município se conectou com centros de importância
regional, da Zona da Mata e do Sul de Minas, tais Varginha e Lavras na BR-
381; Juiz de Fora e Barbacena na BR-040.
Esses centros desempenham um importante papel na rede urbana
minera e são influenciados pelo eixo Rio de Janeiro – São Paulo. E se por um
lado São João del-Rei teve sua importância econômica reduzida no estado
devido à implantação do modal rodoviário e das Rodovias BR-381 e BR-040;
por outro lado o município assumiu uma posição de destaque de caráter
microrregional por sua condição de eixo rodoviário dos sistemas intra e inter-
regional, através da BR-265.
São João del-Rei encontra-se inserido no centro de um grande triângulo
formado pelas BR-381 a oeste, BR-040 a leste, e BR-116 ao sul, e fica sob a
influência dos três grandes centros de polarização nacional. Já que, este
triângulo tem como vértices Belo Horizonte ao norte, São Paulo a oeste e Rio
de Janeiro a leste, maiores regiões metropolitanas do Brasil (mapa 11).
82
Mapa 11- Localização de São João del-Rei.
FONTE: IBGE e DNIT; Adaptação: Fundação João Pinheiro (1981); Elaborado por Elaborado
por Tiago Gonçalves dos Santos e Bruno Henrique dos Santos (2017).
83
Além disso, do ponto de vista macro da circulação urbana, São João del-
Rei também apresenta, além da BR-265, mais duas importantes rodovias de
acesso que a margeiam, a BR-494 e a BR-383, que permite que o município se
articule com os municípios que compõe a Mesorregião do Campo das
Vertentes.
A articulação dessas três rodovias favoreceu o processo de
transformação no espaço microrregional de São João del-Rei, promoveu a
intensificação das redes de relações espaciais decorrentes das cadeias
produtivas que se entrelaçam e se dinamizam no território, sobretudo na escala
microrregional.
O modal rodoviário assume um papel importante na formação
socioespacial de São João del-Rei após a década de 1960 ao promover varias
transformações na expansão urbana da cidade. Com a pavimentação da BR-
265 há um aumento nos fluxos intermunicipais e interestaduais, que
influenciando a dinâmica econômica da cidade que,
26
A Ferrovia se destinaria basicamente ao transporte de minério de ferro precedente do
Quadrilátero Ferrífero em Minas, servindo ainda como via de abasteci mento de matéria-prima
para as usinas de Volta Redonda (Cia Siderúrgica Nacional) e Companhia Siderúrgica Paulista
COSIPA. Esta ferrovia contribuiria para o descongestionamento da linha Rio-Belo Horizonte.
Embora o seu objetivo principal fosse o transporte de minério, suas projetadas condições
84
que a principio, contribuíram de maneira significativa para a intensificação das
suas atividades econômicas, movimentando os setores de comércio local e
prestação de serviços, pois
técnicas seriam notáveis; dispondo de eletrificação numa extensão total de 834 km com bitola
larga (l,60m) rampa máxima de 1% e raios de curva de 900 metros, condições que
possibilitariam velocidade de 120 km horários caso fosse utilizada para o transporte de
passageiros. Esta ferrovia deveria cortar a Microrregião no sentido norte-sul e seu projeto prevê
a existência de um trecho ligando Belo Horizonte a Itutinga, de onde partiria um ramal para
Volta Redonda no Estado do Rio de Janeiro. (FJP, 1982, p.220)
85
Os acessos às principais rodovias BR-383 e BR-265 são feitos pelo
centro da cidade. O projeto da implantação do novo anel rodoviário ligando as
duas rodovias partindo da Colônia do Marçal e passando por Santa Cruz de
Minas até a BR-265 prevê uma infraestrutura cujos impactos ambientais,
sociais e econômicos já são objeto de grandes polêmicas. Desse modo, a
mobilidade urbana, tem se configurado com um dos principiais problema da (re)
organização do espaço urbano de São João del-Rei, restringindo a efetivação
do direito da população à cidade em seus mais variados aspectos.
86
3. SÃO JOÃO DEL-REI NO CONTEXTO DAS CIDADES MÉDIAS E SUA
INSERÇÃO NA REDE URBANA MINEIRA.
87
As cidades médias são fruto do processo de reestruturação da rede
urbana brasileira que se iniciou no Brasil a partir da década de 1970. As
relações hierárquicas antes instituídas apenas pelo comando de cidades
maiores sobre as menores tornam-se mais fluidas com as novas divisões
regionais e internacionais do trabalho com consequências distintas em cada
lugar e, exigindo respostas diferenciadas no que diz respeito às rearticulações
que se processaram na escala interurbana.
Uma das características que marcaram esse fenômeno urbano no Brasil
refere-se ao “aumento do número de cidades locais e sua força, assim como
dos centros regionais, ao passo que as metrópoles regionais tendem a crescer
relativamente mais que as próprias metrópoles do sudeste” (SANTOS, 1993,
p.134), na medida em que “estaria havendo um fenômeno de
desmetropolização, definida como a repartição, com outros grandes núcleos,
de novos contingentes de população urbana” (SANTOS 1993, p. 91).
Para Silveira e Santos as cidades médias,
88
Além disso, através da adoção de políticas públicas de ordenamento
territorial, o governo federal incentivou a criação de novos polos de
desenvolvimento em regiões periféricas, com a finalidade de frear a migração
rumo às metrópoles e incentivar o desenvolvimento de cidades de porte médio.
As cidades médias assumiram grande importância dentro do processo
de reestruturação urbana brasileira como polarizadoras e organizadoras de
bens e serviços que antes se encontravam restritos às grandes metrópoles ou
vinculados aos capitais estaduais.
Nesse contexto se insere São João del-Rei, localizada a 180 km de Belo
Horizonte e ligada através da BR-265 a duas importantes rodovias brasileiras
(BR-040/ MG-RJ e a BR-381/ MG/SP) e polariza municípios do seu entorno
imediato, o que atrai populações dos municípios vizinhos e externos a sua área
de influência em busca de serviços e produtos
89
Alguns centros de pesquisas levam em consideração o critério
demográfico como definidor para classificar uma cidade média, porém esse
critério varia de país para país.
90
municípios concentrando grande parcela da população de um lado, e do outro
centenas de pequenos municípios abrigando um contingente bem pequeno de
habitantes.
O critério populacional é impróprio para classificar as cidades mineiras
como médias. Atualmente Minas Gerais possui 853 municípios sendo que,
821possuem população inferior a 100.000 habitantes e apenas 28 têm
população superior a 100.000 habitantes. Segundo o IBGE, as cidades médias
seriam aquelas destacadas na tabela 2.
91
Portanto, o critério demográfico adotado pelo IBGE não é relevante no
caso de São João del-Rei, uma vez que, uma cidade média não deve ser
caracterizada somente pelo seu tamanho populacional, mas também pelo
papel que desempenha na rede urbana, sua funcionalidade urbana (indústrias,
comércio e serviços), a relação com a região onde está situada, a
complexidade dos equipamentos urbanos e a infraestrutura que dispõe.
Santos (1982, p.69-70) afirma que, “aceitar um número mínimo, como o
fizeram diversos países e também as Nações Unidas, para caracterizar
diferentes tipos de cidades no mundo inteiro, é incorrer no perigo de uma
generalização perigosa”.
Sposito (2006) propõe que no Brasil as “cidades de porte médio” sejam
definidas como aquelas que têm entre 50 mil e 500 mil habitantes, entretanto, a
população de uma cidade, como critério preponderante e isolado, não
apresenta, consistência na definição do papel da mesma e as funções que ela
desempenha na rede urbana na intermediação regional (HENRIQUE, 2010,
p.46).
O tamanho populacional é um parâmetro importante porque define, em
princípio, o mercado para a emergência de funções com diferentes graus de
complexidade, mas não é suficiente para definir uma hierarquia funcional e a
qualidade de vida nelas existente.
Atualmente as cidades médias brasileiras distinguem-se pelos índices de
crescimento populacional e são responsáveis pelo processo de
desconcentração da população brasileira, além de manter um equilíbrio
interurbano a partir da redução do fluxo migratório em direção às grandes
cidades.
Milton Santos (1978) propôs o conceito de Cidade Regional que seriam
caracterizadas pelo consumo que amplia o processo de urbanização e a
importância dos centros urbanos em termos de população e economia, divisão
do trabalho entre as cidades vizinhas.
O autor define a cidade média considerando que, no ápice da hierarquia
urbana brasileira temos a grande cidade de porte metropolitano e, na base, a
92
cidade local ou pequena, aquela de influência estritamente local e, em posição
intermediária, a cidade média (SANTOS 1993).
Já para Soares, as cidades médias são caracterizadas
(...) as cidade médias são as que reclamam cada vez mais por
trabalho qualificado, enquanto as maiores cidades, as
metrópoles, por sua própria composição orgânica do espaço
poderão continuar a acolher populações pobres e
despreparadas (SANTOS, 1993, p.120).
94
(...) o lugar onde se concentra a força de trabalho e os meios
necessários à produção em larga escala, a industrial, e,
portanto, é o lugar da gestão, das decisões que orientam o
desenvolvimento do próprio modo de produção, comandando a
divisão territorial do trabalho e articula a ligação entre as
cidades da rede urbana e entre as cidades e o campo.
(CARLOS, 2003, p. 64).
95
Tabela 4 - População urbana e Rural de São João del-Rei e do Brasil.
ANO ***SÃO JOÃO DEL- REI **BRASIL
URBANA RURAL TOTAL URBANA RURAL TOTAL
1877*** 8.110 2.701 10.811
1950 29.606 21.015 50.621 18.775.779 33.008.546 51.784.325
1960 39.229 19.061 58.290 31.958.408 38.652.886 70.584.277
1970 47.138 8.092 55.230 52.084.984 41.054.043 93.139.037
1980 56.325 8.328 64.693 80.443.928 38.568.777 119.002.706
1991 66.700 6.047 72.747 110.985.376 35.840.098 146.825.475
1996 69.241 5.940 75.181 123.082.167 33.997.406 157.079.573
2000 73.785 4.831 78.616 137.697.439 31.847.004 169.544.443
2010 79.857 4.612 84.469 160.925.792 29.830.007 190.755.799
Fonte: ** Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010.
*** Anuário Estatístico UFSJ/DCECO, 2014.
96
Mapa 12- População total dos termos das vilas mineiras no início do século 1808.
Fonte: Fonseca, (2012, p. 102)
Segundo Matos,
97
multiplicação de meios de sobrevivência, atividades e ofícios
inauditos” (MATOS, 2011, p. 47).
98
Gerais, mas estimulou transformações nessas atividades, que
se voltaram cada vez mais para o desenvolvimento da
produção interna (2005, p.108-166)
Nesse contexto se insere São João del-Rei, que no final do século XVIII
se consolidou como o principal centro de abastecimento de gêneros
agropastoril da Capitania de Minas Gerais, provocando o deslocamento do eixo
econômico da capitania para a região da Comarca do Rio das Mortes, a qual
São João del-Rei era sede.
Segundo Graça Filho (2002, p.36) a Comarca do Rio das Mortes “era a
mais vistosa, e mais abundante de toda a Capitania em produção de grão,
hortaliças e frutos ordinários do país, de forma que além da própria
sustentação, provê toda capitania de queijo, gado, etc.”
Com o declínio econômico da mineração, São João del-Rei e os termos
que faziam parte da Comarca do Rio das Mortes absorveram a mão-de-obra
escrava excedente das áreas mineradoras, principalmente da Comarca de Vila
Rica que declinara demograficamente com a estagnação da atividade
mineradora. Por outro lado a Comarca do Rio das Mortes apresentou o maior
crescimento demográfico da capitania, abrigando no início do século XIX mais
de 40% da população de toda Capitania (Tabela 5).
Tabela 5 - População das Comarcas de Minas Gerais durante os Séc. XVIII e XIX.
COMARCA POPULAÇÃO
1776 % 1808 % c.1820 %
Vila Rica 78.618 23,00 72.286 16,69 71.796 13,02
Sabará 99.576 29,13 135.920 31,39 142.840 25,91
Serro Frio 80.894 23,66 69.974 16,16 99.919 18,12
Rio das Mortes 82.781 24,21 154.869 35,76 236.819 42,95
Total 341.869 100,0 433.049 100,0 551.374 100,0
Fonte: Laboratório de Conservação e Pesquisa Documental da Universidade Federal de São
João del-Rei (LABDOC – UFSJ).
100
Mapa 13 - Cidades com população urbana superior população rural (1940-2010).
Fonte: Costa (2015, p. 166).
101
Segundo Pereira (2009), em 1940 a cidade era o como quinto maior
centro industrial do Estado27, em consequência do desenvolvimento industrial
são-joanense. E o fato de São João del-Rei ser um dos principais centros
industriais de Minas Gerais, evidencia a primazia do setor industrial sobre o
agropecuário (mapa 14 e 15).
27
São João del-Rei apresentava uma produção anual de Cr$ 60.000.000,00, atrás apenas de
Belo Horizonte Cr$ 147.000.000,00, Sabará Cr$ 131.000.000,00, Nova Lima Cr$
110.000.000,00 e Juiz de Fora Cr$ 106.000.000,00. (PEREIRA, 2009, p.37)
102
Mapa 15 - Municípios-destaque em Minas Gerais em 2010 segundo a relação entre o
setor primário e secundário do Produto Interno Bruto
Fonte: Costa (2015, p. 179)
103
1946), Instituto de Filosofia e Pedagogia da Faculdade Dom Bosco (1948), um
dos núcleos que viria a constituir a UFSJ – e de saúde – ampliação da Santa
Casa de Misericórdia (1943), criação do Asilo São Francisco, do Hospital das
Mercês (1943) e do Centro Regional de Saúde (1952).
Assim, paulatinamente, o setor terciário começa a se sobrepor ao setor
secundário, e nas últimas décadas do século XX o setor industrial deixa de ser
o principal empregador, enquanto que os setores de comércio e serviços
apresentam uma expansão sustentável.
A economia do município atualmente concentra-se na prestação de
serviços, a indústria tem uma participação secundária e menos expressiva,
seguida pela agropecuária (gráfico 1). Esse processo é potencializado em
2002, com a implantação da Universidade Federal de São João del-Rei (COTA;
DIÓRIO, 2012).
R$ 28.597.827,00
R$
145.191.756,00
R$
512.365.630,00
104
3.2.1. A Inserção de São João del-Rei na Rede Urbana Mineira.
105
centralidades, estruturas de dominação fundadas na assimetria e na
irreversibilidade.
O autor reforça que o capitalismo (re) desenha “novas geografias”
produzindo novas escalas, novos pontos nodais, rearranjando as forças da
polarização, da heterogeneidade e da dominação regionais,
Desse modo, São João del-Rei tem um importante papel como polo
microrregional e centro regional na mesorregião do Campo das Vertentes, por
ser um dos principais eixos articulador de fluxos e fixos, exercendo uma
influência hierárquica nas relações socioeconômicas com as diversas cidades
que compõe a micro e a mesorregião que o município está inserido.
Sposito (2007, p.7) reforça “a importância de uma cidade média tem
relação direta com a área de influência, ou seja, a área a partir da qual alguém
está disposto a se deslocar até uma cidade média para nela ter acesso ao
consumo de bens e serviços”.
Hoje são muitos os estudos e as instituições que se preocuparam com a
(re) estruturação das redes de urbanas e a importância do papel que as
cidades médias desempenham na sua (re) organização e no desenvolvimento
socioeconômico municipal, regional e nacional. Os pesquisadores de cidades
médias adotam vários critérios para a sua análise, tais como: tamanho
populacional, grau de urbanização, características funcionais, centralidade,
qualidade de vida urbana, relevância regional, posição estratégica e
desempenho econômico.
106
Dentre os mais importantes destacamos o Projeto Regiões de Influência
das Cidades – REGIC (2007), publicado pelo IBGE em 2008, que classificam
as cidades em cinco grandes níveis de hierarquia:
28
De acordo com o IBGE (2008), os centros sub-regionais integram 169 centros com atividades
de gestão menos complexas, dominantemente entre os níveis 4 e 5 da gestão territorial; têm
área de atuação mais reduzida, e seus relacionamentos com centros externos à sua própria
rede dão-se, em geral, apenas com as três metrópoles nacionais. Com presença mais
adensada nas áreas de maior ocupação do Nordeste e do Centro-Sul e mais esparsa nos
espaços menos povoados das regiões Norte e Centro-Oeste, estão também subdivididos em
dois grupos: Centro sub-regional A – constituído por 85 cidades, com medianas de 95 mil
habitantes e 112 relacionamentos, e Centro sub-regional B – constituído por 79 cidades, com
medianas de 71 mil habitantes e 71 relacionamentos.
107
Paulo e Rio de Janeiro, que segundo o REGIC são considerados metrópole,
grande metrópole nacional e metrópole nacional, respectivamente.
Conforme o REGIC, São João del-Rei está na área de influência de Belo
Horizonte e integra a rede urbana da capital mineira. Sua área de influência
(mapa 16), definida pelo IBGE (2008), envolve um total de 13 municípios,
concentrando aproximadamente 200 mil habitantes (tabela 6), conforme divisão
político-administrativa de 2007: São Vicente de Minas, Nazareno, Conceição da
Barra de Minas, Madre de Deus de Minas, Piedade do Rio Grande, Prados,
Coronel Xavier Chaves, Ritápolis, São Tiago, Tiradentes, Resende Costa,
Lagoa Dourada e Santa Cruz de Minas (LOBO e OLIVEIRA, 2011).
108
Tabela 6 – População dos municípios da região de influência de São João del-Rei
(REGIC/IBGE).
MUNICÍPIO 1996 2000 2011
Conceição da Barra de Minas 4.030 4.021 3.949
Coronel Xavier Chaves 3.156 3.185 3.310
Lagoa Dourada 10.862 11.486 12.316
Madre de Deus de Minas 4.316 4.734 4.918
Nazareno 7.194 7.240 8.009
Piedade do Rio Grande 4.950 5.063 4.682
Prados 7.520 7.703 8.444
Resende Costa 9.783 10.336 10.958
Ritápolis 5.625 5.423 4.887
Santa Cruz de Minas xxx 7.042 7.929
São Tiago 9.777 10.245 10.561
São Vicente de Minas 5.770 6.163 7.042
Tiradentes 11.695 5.759 7.054
População dos municípios da Região de 84.678 88.400 94.059
Influência de São João del-Rei
São João del-Rei 75.181 78.616 84.919
TOTAL 156.703 163.831 178.978
FONTE: Censos Demográficos 2000 e 2011 e Contagem Populacional de 1996 (IBGE).
109
a maioria das sedes municipais em Minas, e que não têm como preencher os
requisitos necessários à implantação de parques tecnológicos.
Os estudos de Amorim Filho acerca do tema condizem com a realidade
mineira e levam em consideração as funções características das cidades
médias que podem ser exercidas por cidades com número inferior de
habitantes, considerando-se a posição geográfica e as condições
socioeconômicas da região em que se situam as referidas cidades (AMORIM
FILHO; TAITSON BUENO; ABREU, 1982). E explica a classificação de São
João del-Rei como uma cidade média propriamente dita desde a primeira
classificação em 1982
110
Quadro 5 - Classificação das Cidades Médias – 1982.
111
Quadro 6 - Classificação das Cidades Médias – 1999.
CIDADES MÉDIAS DE MINAS GERAIS, 1999
Nível 1 Grandes Centros Regionais:
Juiz de Fora, Uberlândia
Cidades Médias de Nível Superior:
Alfenas, Araguari, Barbacena, Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga
Nível 2
(aglomeração), Itajubá, Ituiutaba, Lavras, Montes Claros, Passos, Patos de
Minas, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Sete Lagoas, Uberaba, Varginha
Cidades Médias Propriamente Ditas:
Araxá, Caratinga, Cataguases, Conselheiro Lafaiete, Curvelo, Formiga,
Frutal, Guaxupé, Itabira, Itaúna, João Monlevade, Leopoldina, Muriaé, Ouro
Nível 3
Preto, Paracatu, Pará de Minas, Patrocínio, Santa Rita do Sapucaí, São
João del-Rei, São Lourenço, São Sebastião do Paraíso, Três Corações,
Teófilo Otoni, Ubá, Viçosa
Centros Emergentes:
Abaeté, Aimorés, Além Paraíba, Almenara, Andradas, Araçuaí, Arcos,
Bambuí, Barão de Cocais, Boa Esperança, Bocaiúva, Bom Despacho,
Campo Belo, Carangola, Carlos Chagas, Carmo do Paranaíba, Caxambu,
Congonhas, Conselheiro Pena, Corinto, Diamantina, Dores do Indaiá, Ibiá,
Itabirito, Itambacuri, Itapecerica, Janaúba, Iturama, Januária, Jequitinhonha,
Nível 4
João Pinheiro, Lagoa da Prata, Machado, Manhuaçu, Manhumirim,
Mantena, Mariana, Monte Carmelo, Nanuque, Nova Era, Nova Serrana,
Oliveira, Ouro Branco, Ouro Fino, Pedra Azul, Pirapora, Pium-í, Raul Soares,
Resplendor, Sacramento, Salinas, Santa Bárbara, Santos Dumont, São
Gonçalo do Sapucaí, São Gotardo, Três Pontas, Tupaciguara, Unaí,
Visconde do Rio Branco
Fonte: Amorim Filho e Abreu (1999).
112
Quadro 7 – Classificação das cidades médias – 2006.
CIDADES MÉDIAS DE MINAS GERAIS, 2006
Nível 1 Grandes Centros Regionais:
Juiz de Fora, Uberlândia
Cidades Médias de Nível Superior:
Araguari, Araxá, Barbacena, Conselheiro Lafaiete, Divinópolis, Governador
Nível 2 Valadares, Ipatinga, Itabira, Montes Claros, Muriaé, Passos, Patos de Minas,
Poços de Caldas, Pouso Alegre, Sete Lagoas, Teófilo Otoni, Uberaba,
Varginha.
Cidades Médias Propriamente Ditas:
Alfenas, Caratinga, Cataguases, Coronel Fabriciano, Curvelo, Formiga,
Nível 3 Itajubá, Itaúna, Ituiutaba, João Monlevade, Lavras, Manhuaçu, Mariana, Ouro
Preto, Pará de Minas, Paracatu, Patrocínio, Ponte Nova, São João del-Rei,
São Sebastião do Paraíso, Timóteo, Três Corações, Ubá, Unaí, Viçosa.
Centros Emergentes:
Abaeté, Além Paraíba, Almenara, Andradas, Araçuaí, Arcos, Bambuí, Barão
de Cocais, Barroso, Belo Oriente, Boa Esperança, Bocaiúva, Bom Despacho,
Brasília de Minas, Buritizeiro, Cambuí, Campo Belo, Campos Gerais,
Capelinha, Carangola, Carmo do Paranaíba, Caxambu, Cláudio, Congonhas,
Corinto, Coromandel, Diamantina, Elói Mendes, Espinosa, Frutal, Guanhães,
Guaranésia, Guaxupé, Ibiá, Itabirito, Itamarandiba, Itaobim, Iturama, Janaúba,
Januária, Jequitinhonha, João Pinheiro, Lagoa da Prata, Leopoldina, Luz,
Nível 4
Machado, Manhumirim, Mantena, Monte Carmelo, Monte Santo de Minas,
Nanuque, Nepomuceno, Nova Era, Nova Serrana, Oliveira, Ouro Branco, Ouro
Fino, Paraguaçu, Paraopeba, Pedra Azul, Perdões, Pirapora, Pitangui, Pium-í,
Pompeu, Porteirinha, Prata, Sacramento, Salinas, Santa Bárbara, Santa Rita
do Sapucaí, Santana do Paraíso, Santo Antônio do Monte, Santos Dumont,
São Francisco, São Gonçalo do Sapucaí, São Gotardo, São João
Nepomuceno, São Lourenço, Taiobeiras, Três Marias, Três Pontas,
Tupaciguara, Várzea da Palma, Vazante, Visconde do Rio Branco.
Fonte: Organizado por Amorim Filho, Rigotti e Campos (2005).
113
Isso corrobora para que São João del-Rei se destaque dentro da rede
urbana mineira (quadro 8) como um centro regional em um nível hierárquico
pela sua importância de caráter regional dentro da microrregião de São João
del-Rei, com aproximadamente 200 mil habitantes, e na mesorregião do
Campo das Vertentes, constituído de pequenas cidades com
complementaridade funcional, que dividem funções polarizadas e se articulam
com alguma contiguidade ao longo de eixos viários formando um conjunto de
cidades articuladas.
Sua região de influência está equilibrada pelas cidades de Barbacena e
Lavras, que juntamente com São João del-Rei são as três cidades centrais da
mesorregião do Campo das Vertentes, e apresentam níveis hierárquicos e
tamanhos demográficos similares.
114
PARTE II
115
econômicas, compondo um importante vetor atuante no desenvolvimento da
região utilizamos as diferentes regionalizações propostas para o Estado de
Minas Gerais por diversos autores como Wirth (1982), Saraiva (2008) e Godoy
(1996) e, por instituições como a Fundação João Pinheiro/Secretaria Estadual
de Planejamento e o IBGE.
Santos (1997, p. 45), afirma que “estudar uma região significa penetrar
num mar de relações, formas, funções, organizações, estruturas, etc. com seus
mais distintos níveis de contradição”.
Deste modo, apresentamos um breve debate conceitual que ocorre no
interior da geografia sobre a “Região”, na perspectiva dos diferentes enfoques
teóricos que sustentam o pensamento geográfico e, sobretudo, aquele que
entende a utilização do espaço regional como exercício de resistência e poder
em um mundo globalizado, pretensamente homogêneo e, que visa eliminar as
diferenças regionais.
Segundo Santos (1996, 196-197) "nenhum subespaço do planeta pode
escapar ao processo conjunto de globalização e fragmentação, isto é,
individualização e regionalização", portanto, é a partir da universalidade do
fenômeno da regionalização que se compreende as realidades regionais.
Na história do pensamento geográfico as discussões sobre o conceito de
região estiveram atreladas ao campo da Ciência Geográfica, desde região
natural e geográfica de denotação determinista e possibilista que constituíram
os paradigmas da Geografia Tradicional, passando pela Nova Geografia de
caráter quantitativo e estatístico, até a Geografia Crítica de inspiração marxista.
O Determinismo e o Possibilismo geográficos, do final do século XIX e
primeira metade do século XX, constituem os paradigmas da Geografia
Tradicional e estão voltados para a análise das relações Homem x Natureza.
Ratzel, precursor do determinismo geográfico, atribuía às desigualdades
regionais às condições geográficas, considerando o homem produto do meio:
116
(...) para Ratzel, no estudo das relações homem-meio, explicar-
se-iam as diferenciações culturais e econômicas ao longo da
superfície da terra. Tal como os outros organismos vivos
necessitavam se adaptar ao meio para poder sobreviver,
também o homem necessitaria adaptar o seu modo de vida ao
ambiente em que vivia (BEZZI, 2004, p.51).
117
A Nova Geografia, também conhecida como Geografia Teorética ou
Geografia Quantitativa propõe um novo conceito de região a partir da aplicação
de modelos matemáticos, pautados na economia neoclássica. Voltada para
uma abordagem locacional, fundamentada no positivismo lógico, a Geografia
Teorética adquire um “status” científico disponibilizando ferramentas
amplamente utilizadas no planejamento regional. A região se apresenta na
perspectiva de duas abordagens fundamentais: região homogênea, formal ou
uniforme e região funcional, polarizada ou nodal.
A região homogênea é
29
Bitoun (2013) destaca as Regiões polarizadas como regiões fundamentadas nas áreas de
influência das atividades terciárias e secundárias situadas nas cidades que geram fluxos
centrípetos e centrífugos e a partir destas, compõem uma rede urbana de polos hierarquizados.
118
Analisar o alcance e a esfera de influência do pólo, detectar as
interdependências das atividades e as decisões dos agentes
econômicos, mapear a atuação de um arranjo de forças central,
dos núcleos de mais alto nível e a repercussão em seus
complementos periféricos, que são tributários, são tarefas-
chave para estruturar o campo temático dos estudos regionais
e urbanos (2007, p. 81).
119
Com fundamento no materialismo histórico-dialético, surgem várias
formulações conceituais referentes à região, que, de forma geral, enfatizam as
dimensões sociais, econômicas e políticas.
A construção do conceito de região tem um caráter polissêmico,
permitindo uma complexa rede de sentidos que são apropriados a diferentes
significados, em diversas áreas do conhecimento ou em diversas situações da
existência humana. O conceito de região adotado na construção deste capítulo
está voltado para a articulação entre a Geografia e a História com o objetivo de
estabelecer relações entre as diferentes regionalizações propostas por
instituições federais e estaduais para o espaço mineiro e, para mensurar a
importância da microrregião de São João del-Rei no estado.
120
emprego e renda, por intermédio da concessão de incentivos financeiros a
empresas privadas.
Atualmente as regionalizações adotadas por Minas Gerais são
produzidas pelo IBGE que trabalha com as regiões Fisiográficas, Funcionais,
Microrregiões e Mesorregiões; e pela Fundação João Pinheiro, que adota as
Regiões para Fins de Planejamento, regiões de Planejamento e
Administrativas.
121
Mapa 17 - Capitania de Minas Gerais no século XVIII.
Fonte: Cunha (2002, p. 140).
122
As comarcas30 podem ser consideradas como a primeira divisão
territorial de Minas Gerais, pois eram regiões político-administrativas
organizadas e controladas pelas forças estatais, civis e eclesiásticas que
visava garantir a segurança das regiões mineradoras, pois:
30
Cada comarca tinha sua divisão territorial específica, cujos limites marcavam a competência
de um Juízo. Os cargos acumulados pelo Ouvidor da comarca nos dão a dimensão da
complexidade que foi o Estado imperial português nas Minas Gerais setecentistas. O
Magistrado que regia a comarca era nomeado pela Coroa portuguesa, tinha que ser natural de
Portugal ou das Ilhas e formado em Cânones ou Leis pela Universidade de Coimbra. O
magistrado regente da comarca assumia a obrigação por cinco anos, respondia pelo cargo de
Ouvidor da Comarca e também por todos os outros serviços da magistratura, acumulando os
cargos de Provedor de Defuntos e Ausentes, Corregedor da Comarca, Juiz dos Feitos da
Coroa, Chanceler da Fazenda, Chanceler do Reino e Comandante da Intendência. (Cf. Códice
Costa Matoso, Coleção Mineiriana, Documento 96, apud SOUZA, 2011).
123
Mapa 18 - Vilas de Minas Gerais nos Séculos XVIII e XIX.
Fonte: Floriano Peixoto de Paula. Vilas de Minas Gerais no Período Colonial. In RBEP, n. 19,
julho de 1965, Belo Horizonte. Citado por Paula (1988: 59). Elaborado por Rodarte (1999, p.
15).
124
capitania para a região da Comarca do Rio das Mortes em razão da fertilidade
de suas terras e de um mercado urbano em expansão resultante das atividades
agropastoril. Consequentemente as áreas como a Zona da Mata e o Sul de
Minas foram incorporadas ao espaço econômico e político da capitania.
31
Dados segundo o Tratado de Geografia Descritiva Especial da Província de Minas Gerais –
1878.
125
das Velhas [Centro]; a exportação de tabaco era decisiva em
Rio Verde e Baependy [Sul]; as atividades agropastoris
estavam bastante concentradas no sul; a indústria têxtil era
encontrada em quase toda a província. Não obstante, cada
uma dessas regiões também tinha setores que
comercializavam uma quantidade desconhecida de produtos
dentro de Minas Gerais. O café [Mata] era um setor cada vez
mais importante na economia de exportação da província
(especialmente depois de 1850), mas os níveis absolutos dos
impostos da coletoria indicam padrões de desenvolvimento
econômico semelhantes nos distritos do sudeste, sul e centro
(...). (BERGAD, 2004, p. 105–106apud SARAIVA 2008, p. 59)
126
Mapa 19 – Divisão Regional de Minas Gerais XIX.
Obs. A divisão regional é proposta por SARAIVA, com três agrupamentos. Regiões
“estáveis” (V – Centro, I – Sul e VII – Norte), regiões “em formação” (III – Triângulo e
II – Mata), regiões de formação “incompletas” (VI – Leste e IV – Oeste).
Fonte: Acervo do APM. PP 009 (01); SARAIVA. O Império nas Minas Gerais, p. 85. Citado
por Chaves (2012, p. 7).
32
O modelo original desta regionalização foi proposto por Marcelo Godoy em 1990 [Marcelo
Magalhães GODOY, Vida econômica minera na perspectiva de viajantes estrangeiros,
Belo Horizonte, FaFiCH/UFMG, 1990 (monografia de bacharelado em História)], a partir de
uma reconstituição dos itinerários e da espacialização das informações presente nos relatos de
viagem de Charles James Fox Bunbury, Alcide D’Orbigny, Georg Wilhelm Freireyss, George
Gardner, John Luccock, John Mawe, Johann Emanuel Pohl, Auguste de Saint-Hilaire, além de
Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius. Deste trabalho se demarcou um
total de dezesseis unidades espaciais, tendo seus limites conformados com base em um mapa
da Província de Minas Gerais, de autoria de Charles Hastings, publicado em 1882. Uma versão
adaptada desta regionalização foi apresentada alguns anos mais tarde, em 1996. [Marcelo
Magalhães GODOY, Intrépidos Viajantes e a Construção do Espaço: uma proposta de
regionalização para as Minas Gerais do século XIX, Belo Horizonte, CEDEPLAR/FaCE/UFMG,
1996 (Texto para Discussão n.º 109) e Clotilde Andrade PAIVA, População e Economia nas
127
percorreram o território mineiro durante o século XIX e realizaram análises
sobre os aspectos naturais e os conjuntos das relações comerciais e de
produção da província. O autor apresenta uma importante leitura espacial da
realidade econômica mineira durante o período ao retratar a diversidade
econômica mineira e, como a divisão das dezoito unidades sub-regionais
provocava diferenciações significativas, as quais são segmentadas a partir do
seu nível de desenvolvimento.
Minas Gerais do século XIX, São Paulo, FFLCH/USP, 1996 (Tese de Doutorado em História)].
Esta regionalização adaptada guiou-se pela superposição das riquíssimas informações
demográficas oferecidas pelas listas nominativas 1831-2, em pesquisa coordenada por Clotilde
Paiva, à regionalização original, permitindo redefinir/retificar os recortes antes traçados de
modo a preservar a maior integridade possível das unidades municipais da década de 1830,
assim como caracterizar mais a contendo algumas especificidades regionais antes não
destacadas, como no caso de duas grandes áreas com um relativo vazio populacional
(Extremo Noroeste e Sertão do Rio Doce). SARAIVA (2002)
128
A compreensão desses processos de regionalização e reconfigurações
das fronteiras regionais mineiras durante o século XIX corrobora com a
compreensão do grau de articulação entre os municípios na atual rede urbana
de Minas Gerais, tendo em vista o desenvolvimento ou a estagnação dos polos
regionais ao longo do tempo.
Como por exemplo, a afirmação da Região Central, detentora de 45,46%
do PIB mineiro, como principal polo de atração do Estado, e pelo
desenvolvimento significativo do Sul e da Zona da Mata mineira, que coincidem
com o processo historicamente construído de desenvolvimento da rede urbana
dessas regiões.
Por outro lado, municípios como Ouro Preto e Mariana sofreram uma
redução demográfica expressiva e perderam importância na rede urbana
mineira no final do século XIX, principalmente após a transferência da capital
para do estado para Belo Horizonte.
129
IBGE e pela Fundação João Pinheiro (FJP) que é vinculada à Secretaria de
Estado de Planejamento e Gestão do Governo de Minas Gerais (SEPLAG/MG).
O IBGE adotou desde 1941 quatro divisões regionais diferentes para o
Brasil: a divisão do Estado em Zonas Fisiográficas de 1941, em Microrregiões
Homogêneas de 1969, em Regiões Funcionais Urbanas de 1972, e por fim a
divisão usada atualmente de Meso e Microrregiões Geográficas de 1990.
A divisão do Estado em Zonas Fisiográficas tinha como objetivo:
130
uma hierarquia de divisões territoriais e de cidades (IBGE 1972,
p. 9, apud DINIZ e BATELLA, 2005, p. 67).
131
Mapa 21 - Mesorregiões de Minas Gerais segundo o IBGE
Fonte: Governo Estadual de Minas Gerais. Disponivél em:
http://www.mgweb.mg.gov.br/governomg/portal/c/governomg/conheca-minas/geografia/5669-
localizacao-geografica/69547-mesorregioes-e-microrregioes-ibge/5146/5044. Acessado em 10
de julho de 2016.
132
Mapa 22 - Microrregiões de Minas Gerais segundo o IBGE.
Fonte: Governo Estadual de Minas Gerais. Disponivél em:
http://www.mgweb.mg.gov.br/governomg/portal/c/governomg/conheca-minas/geografia/5669-
localizacao-geografica/69547-mesorregioes-e-microrregioes-ibge/5146/5044. Acessado em 10
de julho de 2016.
133
Mapa 23 - Macrorregiões de planejamento de Minas Gerais
Fonte: Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Disponível em:
http://www.almg.gov.br/consulte/info_sobre_minas/index.html?sltMuni=&aba=js_tabMacrorregio
es. Acessado em 10 de julho de 2016
134
execução de políticas públicas estaduais.
É importante conhecer os procedimentos adotados na elaboração da
divisão regional de Minas Gerais, para pensar em uma regionalização que
amenize as desigualdades históricas regionais do estado, que se desenvolveu
de maneira distinta e que persiste até os dias atuais. Ressaltamos que os
projetos oficiais de divisão regional adotado para regionalização do território
mineiro são desenvolvidos verticalmente, sendo o poder público responsável
pelo surgimento de diversas e distintas regionalizações.
33
Essas cidades são classificadas com cidades médias conforme o nível hierárquico das
cidades médias de Minas Gerais proposto por Amorim Filho; Rigotti e Campos (2007).
135
Nesse contexto, realizaremos uma análise sobre a atual conjuntura
organizacional da microrregião de São João del-Rei e sua importância na
mesorregião do Campo das Vertentes, as interações espaciais entre São João
del-Rei e as cidades envolvidas, através das quais se articulam em escala
regional. Para tal, levamos em consideração as mesorregiões geográficas do
IBGE e as regiões de planejamento da FJP, pois através das informações
estatísticas levantadas por essas instituições são elaboradas políticas públicas
e socioeconômicas que norteiam o desenvolvimento das (sub) regiões
mineiras.
136
Municípios por Microrregiões
Microrregião de Lavras
Carrancas (28) Ijaci (33 Ingaí (31)
Itumirim (32) Itutinga (29) Lavras (34)
Luminárias (30) Nepomuceno (36) Ribeirão Vermelho (35)
Microrregião de Barbacena
Alfredo Vasconcelos (8) Antônio Carlos (10) Barbacena (9)
Barroso (16) Capela Nova (4) Caranaíba (5)
Carandaí (6) Desterro do Melo (2) Ibertióga (11)
Santa Bárbara do Tugúrio
Ressaquinha (7) Senhora dos Remédios (3)
(1)
Microrregião de São João Del Rei
Conceição da Barra de
Coronel Xavier Chaves (21) Dores do Campo (17)
Minas (26)
Lagoa Dourada (22) Madre de Deus de Minas (14) Nazareno (27)
Piedade do Rio Grande (13) Prados (19) Resende Costa (23)
Ritapólis (24) Santa Cruz de Minas (20) Santana do Garambéu (12)
São João Del Rei (15) São Tiago (25) Tiradentes (18)
138
Mapa 25 - Microrregião de São João del-Rei
Fonte: Prefeitura Municipal de São João del-Rei (2015). Disponível em:
http://saojoaodelrei.mg.gov.br/adm/gestor/Salvar_arquivo.php?INT_ARQ=4090. Acessado 05
de novembro de 2016.
139
a de Lavras e de Barbacena, que futuramente formaria a mesorregião do
Campo das Vertentes.
140
mineração a atividade agropastoril, que inicialmente estava voltada para
atender o abastecimento local, mas gradualmente direcionou-se para o
provimento do mercado regional com a comercialização dos excedentes.
Aos poucos a região de São João del-Rei foi ampliou sua área de
atuação e no inicio do século XIX se consolidou como o mais importante centro
de abastecimento da Corte, fortemente influenciado pela transferência da
Coroa Portuguesa para o Brasil e pela criação da Província de Minas Gerais.
São João del-Rei, consequentemente constitui-se como importante
centro comercial de Minas Gerais em meados do século XIX, já que era sede
do poder político da Comarca do Rio das Mortes e principal polo comercial
atacadista regional, que movimentava todo o comercio de exportação do
centro-sul mineiro, que
141
local. A atividade manufatureira representou opção econômica
importante para São João del-Rei. Razões tais como seu
afastamento do litoral e os altos preços dos produtos
importados, entre outros motivos, incentivaram o surgimento de
diversas pequenas unidades cuja produção de tecidos,
colchas, artefatos em couro, entre outros, atendia
principalmente ao consumo dos habitantes das redondezas.
(FJP, 1982, p. 49-50)
143
centros culturais, cinemas, estádio/ginásio poliesportivo, Shopping Center),
retransmissores e escritórios regionais de grupos de comunicação regionais.
Em relação aos serviços públicos a cidade é a sede de representação de
vários órgãos como o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a
Superintendência Regional de Ensino (SRE) e Gerência Regional de Saúde
(GRS); além de escritórios da companhia distribuição de energia elétrica e
representações de outras secretarias e autarquias do executivo estadual.
Referente ao serviço de saúde São João del-Rei dispõe de 68
estabelecimentos credenciados ao Sistema Único de Saúde – SUS, oferecendo
156 leitos, o que resulta num quadro de 1,8 leitos SUS por mil habitantes. Na
microrregião de São João del-Rei, a taxa média é de 1,68 leitos por mil. No
estado, a média é de 1,6 leitos a cada 1000 habitantes.
Considerando toda a rede de saúde, prestando ou não serviço ao SUS,
São João del-Rei dispõe de 198 estabelecimentos (tabela 7), oferecendo 233
leitos, o que resulta numa média de 2,7 leitos a cada 1000 habitantes, número
superior à média regional, de 2,25, e à média estadual (2,2).
144
Entretanto o serviço de educação contribui significativamente para a
atração de pessoas e fluxos para a cidade, dada a importância do município na
rede urbana mineira. No município há a oferta do ensino superior pelas
seguintes instituições: Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ),
Instituto de Ensino Superior Presidente Tancredo Neves (IPTAN),
o Campus São João del-Rei do Instituto Federal do Sudeste de Minas (IFET –
Sudeste), a Universidade Paulista (UNIP) e a Universidade Aberta do Brasil,
do Centro Universitário Internacional UNINTER.
A UFSJ é a principal instituição de nível superior do município, com mais
de 13.000 alunos matriculados em seus 48 cursos de graduação em todas as
grandes áreas de conhecimento, a saber: Letras, Artes e Cultura, Ciências
Humanas e Educação, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias, Ciências da
Saúde, Ciências Biológicas, Ciências Agrárias e Ciências Exatas e da Terra.
Além disso, a instituição possui 24 programas de Pós-Graduação em Stricto
Sensu atendendo mais de 500 alunos nas diversas áreas do saber.
Nesse contexto a UFSJ tem um impacto significativo em Minas Gerais,
principalmente, na mesorregião Campo das Vertentes que é composta pelas
microrregiões de São João del-Rei, Barbacena e Lavras, reunindo 36
municípios totalizando uma população de 553.465 habitantes segundo o IBGE
(2010). Além disso, a área de influência da universidade também abrange a
mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte, mais precisamente a
microrregião de Conselheiro Lafaiete, que reúne 12 municípios e possui uma
população de 250.322 habitantes.
Quando se instala uma universidade em determinada região, a
instituição ganha contornos pela incorporação do contexto local (econômico,
político, cultural e histórico). Neste movimento, as Instituições assumem
importância singular na dinâmica dos processos de desenvolvimento
relacionados a questões específicas dos diferentes espaços regionais
(FIALHO; MIDLEJ, 2003).
Segundo as autoras,
145
ocupar lugar estratégico no desenvolvimento socioeconômico,
dada às suas características como instituição com
multiplicidade de funções, o que lhe exige adequação a
dinâmicas sociais específicas, criando sentimento recíproco de
pertença, no processo endógeno de influências. Nesse sentido,
a região de influência contribui sobremaneira para a
sustentação das ações da universidade, à qual cabe a função
precípua de articulação entre o saber científico e a realidade,
no mais amplo aspecto da sobrevivência da espécie humana
(idem, p.9)
146
Mapa 28 - Localização dos Campi da UFSJ.
Fonte: PDI UFSJ (2014). Elaboração Cartográfica: Tiago Gonçalves dos Santos e Bruno
Henrique dos Santos (2017).
147
área de influência em busca de serviços e produtos ressaltando sua
importância regional na sua microrregião e no contexto urbano de Minas
Gerais.
Outro fator que contribui para as interações das cidades da microrregião
de São João del-Rei é o papel que a rede de transportes desempenha. É
através do conhecimento sobre o fluxo de circulação de pessoas sobre a malha
viária da microrregião é possível perceber o direcionamento e a intensidade
dos movimentos (independente da intenção de deslocamento).
A posição geográfica de São João del-Rei lhe permite uma convergência
de fluxos rodoviários que podem ter na cidade o seu ponto de origem e o de
destino final, uma vez que o município possui saídas de ônibus para quase
todas as cidades que compõem sua microrregião (exceto Santana do
Garambéu), além das principais capitais brasileiras (Belo Horizonte, Rio de
Janeiro, São Paulo e Brasília) e, para importantes centros urbanos mineiros
(Juiz de Fora, Uberlândia e Divinópolis).
São João del-Rei é margeado por três importantes rodovias de acesso a
BR 265, BR 494 e BR 383 (figura 10) que dão acesso as cidades que compõe
a microrregião e, também, às BR 040 e 381 rumo à Belo Horizonte, Rio de
Janeiro e São Paulo. A configuração das rodovias do entorno da cidade
favorecem o tráfego de passagem pelo centro da cidade constituindo um
entroncamento de vias de circulação e nó de tráfego, envolvendo pessoas,
capitais, informações, mercadorias e serviços.
148
Figura 6 - Vias de acesso de São João del-Rei.
Fonte: Elaborado pelo autor. Ilustração sobreposta do GOOGLE MAPS.
149
Tabela 8 – Linhas intermunicipais de ônibus entre os municípios da microrregião de São
João del-Rei, que tem a sede como origem ou destino.
Nº Nº
Origem Destino linhas Origem Destino linhas
diária diárias
Conceição da Barra Conceição da Barra
S.J.D.R. 05 S.J.D.R. 05
de Minas de Minas
Coronel Xavier Coronel Xavier
S.J.D.R. 08 S.J.D.R. 08
Chaves Chaves
S.J.D.R. Dores de Campos 02 Dores de Campos S.J.D.R. 02
S.J.D.R. Lagoa Dourada 13 Lagoa Dourada S.J.D.R. 13
Madre de Deus de Madre de Deus de
S.J.D.R. 02 S.J.D.R. 02
Minas Minas
S.J.D.R. Nazareno 07 Nazareno S.J.D.R. 06
Piedade do Rio Piedade do Rio
S.J.D.R. 03 S.J.D.R. 03
Grande Grande
S.J.D.R. Prados 05 Prados S.J.D.R. 05
S.J.D.R. Resende Costa 09 Resende Costa S.J.D.R. 09
S.J.D.R. Ritápolis 11 Ritápolis S.J.D.R. 10
Santa Cruz de
S.J.D.R. Santa Cruz de Minas 72 S.J.D.R. 70
Minas
Santana do Santana do
S.J.D.R. - S.J.D.R. -
Garambéu Garambéu
S.J.D.R. São Tiago 05 São Tiago S.J.D.R. 05
S.J.D.R. Tiradentes 34 Tiradentes S.J.D.R. 37
Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados fornecidos pelas empresas de ônibus
150
Através do número de linhas diárias de ônibus, notamos que o índice de
relação de pessoas dos municípios polarizados por São João del-Rei ocorre
com intensidade diferenciada, sendo que algumas cidades como Santa Cruz de
Minas, por exemplo, apresenta o maior número linhas de ônibus ao longo do
dia. Isto pode ser explicado pela conurbação das duas cidades, tendo como
limite territorial uma ponte (sobre o Rio das Mortes). Já no caso de Tiradentes,
a causa desta intensidade de fluxo refere-se às questões econômicas e sociais
que interligam os municípios, pois mesmo tendo sua economia baseada no
turismo a população de Tiradentes é atraída pelos serviços e produtos que São
João del-Rei oferece.
A inter-relação de pessoas de Santa Cruz de Minas e Tiradentes com
São João del-Rei acontecem com maior intensidade em relação aos demais
municípios da microrregião. Tal fato pode ser explicado por meio de fatores
como a distância em relação a São João del-Rei, maior autonomia destas ou
uma dependência com outras cidades (figura 7).
151
essas cidades, ao lado de Juiz de Fora, apresentam o maior número de linhas
diárias de ônibus fora da microrregião de São João del-Rei para o município
sede.
Porém é importante ressaltar que o principal eixo de integração entre as
três cidades é a rodovia BR-265, o que reforça a ideia da interdependência
entre as três microrregiões, que com suas especificidades, se diferenciam em
diversos fatores, como produção industrial, prestação de serviços, produção
agrícola, além das questões socioculturais. No entanto, estão conectadas pelas
suas necessidades e a curta distância entre os polos.
A partir das observações e análises das dinâmicas da microrregião
estudada, nota-se que as cidades que compõe a microrregião de São João del-
Rei têm uma significativa inter-relação, salientada pelo fluxo de pessoas por
causa do número de linhas de ônibus para a cidade sede, que, entretanto,
ocorrem com menor ou maior intensidade dependendo do município envolvido.
Outro fator que mostra esta relação de dependência é o fato de São João del-
Rei, disponibiliza para população da microrregião, e externo a ela, muitos
recursos não presentes em suas cidades, como instituições de ensino superior,
hospitais, diversos pontos de atendimento de órgãos públicos, agências
bancarias, estrutura comercial composta por hipermercados e as principais
lojas de varejos do país, além de diversos outros fatores que servem como
atrativos para as outras cidades como lazer e turismo.
152
CONSIDERAÇÕES FINAIS
153
Por meio da relação de unidade espaço-temporal, apresentamos nossa
periodização histórico-espacial da expansão urbana de São João del-Rei,
através da materialidade das técnicas no território e sua sucessão dos meios
geográficos e subperíodos econômicos, reconhecendo que a (re) organização
espacial do município foi resultado do equilíbrio entre os fatores de dispersão e
de concentração em um dado momento na história do espaço.
Ao longo da dissertação foram trilhados alguns caminhos na busca para
atingir nossos objetivos. O primeiro passo foi através da literatura, utilizada na
revisão bibliográfica, apresentando referências pertinentes a cada tema
estudado nos capítulo que compõe a pesquisa, mostrando como são vistos
pelos diversos autores e quais elementos estão ligados à sua interpretação.
No capítulo 1, por meio da periodização geográfico–histórica
destacamos à formação socioespacial de São João del-Rei, que desde seu
passado colonial através da sua atividade econômica articulou-se
territorialmente a uma rede urbana que apenas se configurava desenvolvendo
uma ampla rede comercial com relações indiretas com a exportação; favoreceu
o aparecimento de outras zonas produtoras; fortaleceu a formação de um
mercado interno e, sobretudo, criou condições para que uma elite local
proprietária de terras e escravos, poderosa comercialmente surgisse e, cujo
capital excedente ajudou a financiar a industrialização, no final do século XIX.
O centro histórico de São João del-Rei guarda até hoje as formas em
que a cidade foi concebida, representada, como o registro de práticas sociais
cotidianas que marcaram a racionalização do seu espaço. Neste espaço
construído, lugar onde a vida acontecia integrada à economia, à política, à
cultura, às normas e regulamentações institucionais havia uma centralidade,
uma unidade, a partir da qual as diferenciações espaciais da cidade tornavam-
se desigualdades com a constituição de uma divisão social e territorial do
trabalho intra e interurbana, nos séculos seguintes.
Já no capítulo 2, ressaltamos a importância do sistema de transporte na
redefinição e (re) estruturação urbana de São João del-Rei, que em sua
temporalidade foram periodizados para dimensionar relevância dos modais nas
divisões territoriais do trabalho, bem como a complexificação do espaço
154
urbano, que influenciariam diretamente a formação socioespacial de São João
del-Rei.
Nesse aspecto destacamos a implantação da Estrada de Ferro Oeste de
Minas que foi a mais importante estrada incorporada à Rede Mineira de Viação,
sede de oficinas e entroncamentos. Extinta em 1980, permanece
simbolicamente como parte da narrativa de um “devir civilizado” e, também, de
um passado saudosista. Não só o tempo da máquina passa a programar a vida
cotidiana, mas ao território e a produção. A aceleração do tempo significa
aceleração da produção e modernizar significa encurtar distâncias, nas
palavras de Harvey (2003) “comprimir o espaço-tempo”.
No capítulo 3 debatemos a pertinência de considerar São João del-Rei
como cidade média levando em consideração seu passado histórico. No
decorrer da pesquisa sobre a sua formação socioespacial, vimos que o
município sempre foi um centro regional na mesorregião do Campo das
Vertentes e sede da sua microrregião desde a época colonial, o que fomentou
a construção de uma identidade regional no decorrer da sua história.
A respeito da discussão e da dificuldade de conceituação das cidades
médias, em meio à diversidade dos procedimentos metodológicos para definir o
conceito, optamos pela definição de Amorim Filho, Rigotti e Campos (2007),
coerentes com a realidade mineira.
Nessa perspectiva, as cidades médias (propriamente ditas) têm um
considerável nível de desenvolvimento econômico e se relaciona com os
centros maiores, no mesmo tempo em que, mantém relações intensas com
municípios menores e com seu espaço microrregional (AMORIM FILHO;
BUENO; ABREU, 1982). Constatamos que São João del-Rei se afirma como
sede microrregional e como polo da mesorregião do Campo das Vertentes
dinamizando o território em escala regional e local.
Por fim no capítulo 4, após uma breve discussão conceitual do termo
“Região” sob diferentes enfoques teóricos e sobre a utilização do espaço
regional como exercício de poder, analisamos a importância de São João del-
Rei na atual conjuntura organizacional da sua microrregião e, na mesorregião
do Campo das Vertentes, através das interações espaciais.
155
A partir das analises foi possível apontar a significativa inter-relação que
os municípios da microrregião possuem com a sede microrregional através do
fluxo de pessoas que procuram São João del-Rei pela diversidade de oferta de
serviços e produtos que a cidade oferece, promovendo através das interações
espaciais uma rede de relações com as cidades da sua microrregião e as
externas a sua área de influência.
Sobretudo, a presente investigação nos levou a considerar a
necessidade de retomar o planejamento na sua perspectiva inclusiva
valorizando as propostas de uma “sociedade regional” para compensar
territorialmente áreas excluídas pelo mercado para superar, assim os
localismos corporativos que se configuram em função das desigualdades
territoriais.
Compreendo que o conceito de formação socioespacial constitui um
instrumento a ser utilizado na Geografia. Embora suas limitações resultem da
própria complexidade da totalidade socioespacial são estas que apresentam as
possibilidades de enriquecer a Geografia Regional combinada à Geografia
Histórica.
Por fim, esta investigação aponta que no processo de acumulação
flexível do capital promovida pela globalização, a refuncionalização regional
baseada na divisão internacional do trabalho que é importante considerar em
novas investigações as transformações do território ocasionadas pelas redes;
outras formas de cooperação entre os municípios e, que se opõem à lógica das
redes.
156
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