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(1), 2011
revista educação
Resumo: O presente estudo teve como objetivo descrever traços de personalidade e habili-
dades sociais em estudantes universitários das áreas de Exatas, Humanas e Biológicas. Participa-
ram do estudo 192 estudantes universitários do primeiro e último anos dos cursos de Matemática,
Administração e Enfermagem, representando as três grandes áreas do conhecimento. Para o de-
senvolvimento da pesquisa foram utilizados um questionário sociodemográfico, e dois instrumen-
tos de avaliação psicológica, o Inventário Fatorial de Personalidade (IFP) e o Inventário de Habi-
lidades Sociais (IHS). Diante das necessidades psicológicas, percebeu-se mais semelhanças do
que diferenças entre os estudantes em suas áreas de conhecimento, indicando portanto que não
há uma padronização de perfis esperados, mas sim características esperadas para cada momento
na graduação e atuação profissional, variando de acordo com os pré-requisitos para a formação.
Espera-se com tais dados, poder contribuir para uma compreensão que possibilite pensar sobre
tais traços de personalidade e habilidades sociais dos acadêmicos, e até que ponto estas pode-
riam interferir no desempenho acadêmico ou da futura atuação profissional dos estudantes. Sendo
assim, ressalta-se a importância de mais estudos que possam levantar novas questões e reflexões
acerca da personalidade, como possível estrutura direcionadora de desejos e vocações e também
das habilidades sociais que, cada vez mais, tornam-se inevitáveis para o relacionamento humano
em todos os contextos.
Palavras-chave: Perfil Vocacional. Personalidade. Habilidades Sociais. Avaliação Psicológica.
Abstract: This study aimed to describe personality traits and social skills of college students
in the areas of Humanities, Exact Sciences and Health & Life Sciences. 192 college students of the
first and last years of the Mathematics, Business Administration and Nursing programs participated
in the study, representing the three broad knowledge areas. A social and demographic questionnaire
and two psychological assessment tools – the Factorial Personality Inventory (IFP) and the Social
Skills Inventory (IHS) – were used to develop the research. Regarding psychological requirements,
1
Pesquisa desenvolvida com o apoio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Guarulhos – PIBIC-UnG
2
Acadêmica do Curso de Psicologia da Univesidade Guarulhos
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Professor Adjunto do Curso de Psicologia da Universidade Guarulhos e Professor Assistente Doutor do Departamento de Psicologia da
Universidade de Taubaté
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more similarities than differences were noticed among the students regardless of their knowledge
areas, thus showing that there is no standardization of expected profiles, but there are expected
characteristics for each moment in college studies and professional career, which vary according
to the educational prerequisites. Such data are expected to contribute to an understanding of
such personality traits and social skills of students, and the extent to which they can influence
their academic performance and their future professional performance. Further studies are required
to raise new questions and considerations about the personality as a potential driving structure
for desires and vocations, as well as for social skills that are increasingly inevitable for human
relationship in all contexts.
Keywords: Career Profile. Personality. Social Skills. Psychological Assessment
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veis, sociais, econômicas, familiares, escola- variáveis determinantes, sendo estas inicia-
res e ocupacionais, a escolha profissional se das antes mesmo da adolescência, como a
encontra inserida, à medida que o indivíduo psicodinâmica da personalidade do indivíduo
se aproxima de sua fase adulta, ainda que (fatores dinâmicos e estruturais) e a psicodi-
sua busca pela identidade e conflitos estejam nâmica vocacional (interesses e aptidões), de
com nuances maiores e mais frequentes (FI- tal maneira que, seu nível de desenvolvimen-
GUEIREDO, 2003). to e estruturação (maturidade, solidez e esta-
Ainda Bohoslavsky (1977) afirma que bilidade), constituição egóica e satisfação de
desde muito cedo, cabe aos pais determina- necessidades psicológicas podem produzir
rem as reais potencialidades do indivíduo, significativas inferências na tomada de uma
promovendo uma autorrealização por meio escolha vocacional.
dessa escolha proveniente de sua natureza, Mattiazzi (1974) enfoca a importância
sendo este considerado um equilíbrio social. do interesse na escolha vocacional, como um
De acordo com Mattiazzi (1974) o inte- ato dinâmico, ativo e espontâneo, crescente
resse nasce de uma interação entre o ser e com o indivíduo ao decorrer de sua vida, sus-
o meio, na qual sua preferência por um com- tentado por um propósito emocional ou afe-
portamento específico gera no meio uma tivo, cuja inclinação da atenção e percepção
ação movida por energias internas potencia- estão focadas no desenrolar da ação final,
lizadas, suscitado por sua coerência interna englobando aspectos de valor, persistência e
dinâmica. sentimento.
Mello (2002) também afirma que a es- Bee (1997) considera alguns fatores im-
colha assim como a rejeição de um plano portantes, no que diz respeito à escolha pro-
ocupacional é resultante tanto de fatores fissional de um trabalho ou profissão para o
externos (seio familiar, padrões de cultura e jovem, ocasionado por determinantes como
sociedade) como fatores internos (impulsos sexo, grupo étnico, inteligência, desempenho
movidos pela satisfação do desejo e interes- escolar, personalidade, autoconceito, valores
ses que movem um comportamento), pelos familiares e formação acadêmica. Dentre os
quais o livre-arbítrio (capacidade de escolher, quais ressalta como primordiais a influência
decidir e avaliar) do indivíduo proporciona da família, a educação/inteligência, sexo e
uma escolha de rumos e caminhos vocacio- personalidade.
nais com maior probabilidade de adequação, Baldwin (1955)4 apud Mello (2002) men-
e consequentemente a satisfação pessoal e ciona características de uma personalidade
sucesso no projeto de carreira. madura, tal como composta por três compo-
Mello (2002) descreve o processo de nentes básicos constituintes do comporta-
escolha de uma carreira profissional como mento vocacional, como sendo: o reconheci-
caracterizado pelo desenvolvimento de suas mento e conhecimento da realidade tal como
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Referência original: BALDWIN, L. Behavior and development in chidhood. New York: Dryden Press, 1955.
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Referência original: PARSONS, F. Choosing a vocation. Boston: Houghton Mifflin, 1909.
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mais lento, conforme o processo psicodinâ- (2002), a teoria freudiana afirma que uma
mico, este desenvolvimento maturacional se personalidade adulta é resultante de intera-
modifica, seus interesses por novas habili- ções satisfatórias ou não, antes dos cinco
dades surgem por parte maior em interagir e anos de idade, os quais o indivíduo possuía
se expor de maneira eficiente e competente limitações e fruto do qual o mantinha preso
e em menor parte garantindo a redução de (determinismo).
sua tensão. Necessidades fisiológicas, de au- De acordo com Schultz e Schultz (2002)
torrealização e sociais (aprovação e respeito) a teoria freudiana, em sua abordagem home-
também se incluem nesse processo. ostática, acredita que o instinto é um elemen-
Bee (1997) sugere que o conceito de to básico da personalidade, caracterizado
personalidade evidencia um conjunto de ca- pela busca da satisfação de uma necessida-
racterísticas, as quais possuem um caráter de corporal, ligada as necessidades do cor-
permanente e presente difundido da relação po e os desejos da mente, assim reduzindo
com o outro e com a reação com o outro, con- sua tensão no corpo. Quando essa energia
comitantemente dissociando cada um, diante é dirigida a algo, esse deslocamento influen-
de seus aspectos e comportamentos da situa- cia no tipo de personalidade da pessoa, de tal
ção. Decidir sobre uma escolha e saber quais maneira que se acredita que o tipo de deslo-
são seus pré-requisitos é algo imprescindível. camento estaria ligado à satisfação de uma
A primeira teoria formal e mais notável foi frustração infantil ou excessiva nos primeiros
à psicanálise de Sigmund Freud, formulada a anos de vida.
partir de sua própria prática clínica, lembran- Outros autores e teóricos da persona-
ças da infância e análise dos sonhos, assim lidade, como o enfoque neopsicanalítico se-
nomeando processos e funções que consti- guiram a linha de pensamento de Freud, mas
tuiriam a personalidade, os quais até hoje com pequenas diferenças, assim dando vazão
possuem grande importância e notoriedade. a novas possibilidades e conceitos.
Com relação à natureza humana, a proposta A personologia, teoria de personalidade
freudiana acredita que uma parte da perso- de Murray, conceitua cinco princípios norte-
nalidade é herdada (id) e a outra adquirida adores da constituição humana, sendo o pri-
na interação pais-filho desde a infância, onde meiro baseado na fisiologia cerebral onde
todo ser humano passa pelas fases de de- todos os aspectos da personalidade (senti-
senvolvimento psicossexual (oral, anal, fálica mentos, lembranças, crenças, atitudes e te-
e genital) e o período de latência, mas cada mores) estão no cérebro; já o segundo, pau-
qual com sua vivência e experiência pessoal tado na teoria freudiana onde o indivíduo age
formada pelo ego e superego, sendo assim para reduzir as tensões psicológicas e fisioló-
uma parte peculiar a cada pessoa, desenvol- gicas, sendo que o ideal da natureza sempre
vendo tipos diferentes de caráter (SCHULTZ; necessita de um grau de tensão para redu-
SCHULTZ, 2002). zir; o terceiro onde o indivíduo se desenvolve
Todavia, segundo Schultz e Schultz ao decorrer dos anos, sendo o passado de
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grande importância; o quarto princípio na pre- portamento atual. O indivíduo está inclinado
missa de que o sujeito muda e evolui, sendo para o momento presente e orientado para o
assim não estático e fixo; e por fim em quinto futuro (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
lugar, todo ser é singular e similar em alguns Enquanto para uns a motivação básica
contextos (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). consiste na redução de tensão, para a per-
Contudo Schultz e Schultz (2002) em sonologia, a motivação básica está calcada
sua análise sobre os diferentes tipos de te- na satisfação de uma necessidade que deter-
orias da personalidade descreve que assim mina o rumo do comportamento, a qual esta
como a teoria de personalidade freudiana, a se pode sentir todas ou jamais algumas, onde
personologia de Murray também concordavam algumas se sustentam e outras se opõem. Há
em alguns conceitos, os quais Murray ampliou necessidades primárias (de sobrevivência),
e aprofundou-se. Para Murray, o id além de necessidades secundárias (psicológicas de
depositário de instintos amorais e primitivos, realização e filiação), necessidades reativas
possui impulsos desejáveis pela sociedade, (direcionamento a um objeto específico) e ne-
tendência a empatia e identificação; já o ego, cessidades pró-reativas (espontâneas).
como administrador do prazer X realidade, No sistema de Jung, o desenvolvimento
como também o organizador de impulsos acei- da personalidade é determinado pela crença
táveis, assim determinante do comportamento; do próprio indivíduo, do que ele pode vir a ser
e o superego, como o responsável por normas e uma observação do que já foi, caminhan-
culturais de interações pais-filho, mas também do em direção a realização do self, indepen-
da interação com outras figuras (grupos, esco- dentemente da sua faixa etária (SCHULTZ;
la, sociedade) onde o indivíduo vai se desen- SCHULTZ, 2002).
volvendo a vida toda e construindo seu ideal No início do desenvolvimento da per-
de ego (ambições e aspirações) (SCHULTZ; sonalidade da criança, é possível notar uma
SCHULTZ, 2002). grande influência da personalidade dos pais
Com relação à natureza humana da per- na criança, onde o tipo de relacionamento
sonalidade, a personologia de Murray infere dos pais com a criança pode influenciar no
que todo ser humano possui capacidade para seu crescimento e vida adulta, onde este se
crescer e se desenvolver assim podendo al- for favorável, pode ampliar este desenvolvi-
terar o meio de convívio, ou seja, o livre-arbí- mento ou desfavorável, impedindo este cres-
trio impulsiona a direção do rumo do sujeito cimento. O desejo dos pais de tornar o filho
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). como uma continuação de si mesmo também
Porém a personologia acredita que a é verdadeiro (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
personalidade é determinada pelas necessi- Quanto à noção de natureza humana,
dades e sua satisfação e pelo ambiente, de Schultz e Schultz (2002), na visão de Jung, o
maneira que reconhece as marcas prove- sentido da vida está em atingir as metas e na
nientes da infância assim como Freud, mas construção de si em uma posição segura e de
não considera como determinantes do com- autorrealização, onde é no período da idade
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adulta que o indivíduo terá maiores possibi- ao self ou si-mesmo, subordinado pelo ego, e
lidades de desafios e de novos horizontes, este composto de características individuais
portanto de crescimento e desenvolvimento. e únicas de cada ser.
Reis, Magalhães e Gonçalves (1984), Conforme expõe Bee (1997) na entrada
em seus estudos sobre as diversas noções da vida adulta e permanência neste período,
sobre a constituição da personalidade, anali- ocorre o surgimento de cinco traços consis-
sam a estruturação da personalidade, segun- tentes de personalidade do indivíduo ao pas-
do Freud, Reich e Jung. A psicanálise freudia- sar do tempo, como a neurose (autocons-
na define a personalidade com três relações ciente/emotivo), extroversão (afetivo/ativo),
que compõe sua estrutura, fundamentada na abertura a experiência (criativo/liberal), satis-
dinâmica, tópica e economia, constituída pelo fação (confiança/tolerante) e conscientização
núcleo ativo: o inconsciente na busca do de- (consciente/perseverança), podendo uma
sejo (impulso) e satisfação, portanto, ela está destas se apresentar em maior evidência ao
ligada a história de vida do sujeito. Dentro longo de sua vida junto à imposição decres-
desse processo, sua edificação ocorre em cente de regras sociais.
momentos decisivos, como o Complexo de Acerca das habilidades sociais, Del
Édipo e o Complexo de Castração. Prette e Del Prette (2001) acreditam que exis-
Já a concepção reichiana também con- te uma maior preocupação com a população
tribui para os estudos da personalidade indi- universitária com o desempenho social com-
retamente. Na gênese da personalidade, o petente de habilidades sociais, uma vez que,
termo couraça caracterológica pode ser con- há uma expectativa em relação ao tipo de pa-
siderado um sinônimo de personalidade. Tem pel a qual venha a assumir, responsabilida-
por base que as demandas pulsionais (ID) de e novos paradigmas que podem surgir e
estão sempre em conflito com o meio exter- antigos que por ventura, podem modificar-se.
no (EGO). Os mecanismos de defesa inibem Para Del Prette e Del Prette (2001) as
a manifestações libidinais (recalcamento), habilidades sociais se configuram como o
e a cada novo processo, a couraça adquire repertório de comportamentos adquiridos
mais força, tornando-se um círculo vicioso. culturalmente determinados, que em ação
Na couraça se concentra toda a história de desempenham comportamentos socialmente
vida, conflitos e resoluções do indivíduo, que competentes, tais como falar em público, ex-
em sua somatória funcional (personalidade) é pressar sentimento, pedir mudança de com-
demonstrada pela atitude de caráter. portamento, cumprimentar e iniciar conversa-
Posteriormente, a proposta jungiana ção com outros e etc, onde em detrimento de
descreve a personalidade como dimensão fatores como ansiedade, crenças errôneas e
psíquica, que engloba tanto fenômenos cons- percepções distorcidas, o indivíduo pode fa-
cientes como inconscientes, o qual quanto zer uso ou não. Com essa premissa os au-
mais o indivíduo possui consciência, mais ele tores fazem menção em questão do tipo de
amadurece. A personalidade total é dirigida desempenho, o qual se acredita ser situacio-
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nal, assim não podendo ser tomado como um como deficitárias ou como recursos disponíveis
traço de personalidade, mas como um apon- no repertório do respondente.
tador de recursos disponíveis e existentes em
uma dada situação. Método
Conforme Del Prette e Del Prette (1999,
2001), o conceito de habilidades pode ser vis- Para o desenvolvimento da pesquisa
to como aprendido nas relações interpessoais participaram 192 estudantes, com idades va-
que pode se caracterizar de duas maneiras: riando entre 18 e 50 anos, pertencentes ao
a primeira como o círculo mais participante e quadro discente da Universidade Guarulhos
ativo diretamente do indivíduo, como os pais, (UnG), unidade Centro e Dutra, divididos
amigos, cônjuge, trabalho e mídia, compo- igualmente entre os primeiros e os últimos
nentes estes que possivelmente podem am- anos dos cursos de Matemática, Administra-
pliar ou restringir o campo de habilidades do ção e Enfermagem, compondo portanto uma
sujeito e o segundo com o trabalho terapêu- amostra de 40 estudantes para cada curso.
tico ou preventivo por meio de Programas de Os cursos foram escolhidos como represen-
Treinamento de Habilidades Sociais. tantes das três grandes áreas do conheci-
Devem-se levar em consideração tam- mento, são elas: Exatas, Humanas e Biológi-
bém os critérios de um tipo de desempenho cas, respectivamente.
social, onde estes são influenciados pela de- A coleta de dados ocorreu nas depen-
manda social de uma cultura em particular dências da Universidade Guarulhos, nas sa-
(normas, valores e regras), situação (local e las de aula dos estudantes designadas por
interlocutor) e características como sexo, ida- cada diretor do curso e de acordo com a
de, escolaridade, condição de saúde, papel agenda destes. As aplicações aconteceram,
social e entre outros que muitas vezes deter- ou antes, do início da aula dos estudantes,
minam padrões de comportamento aceitos após o intervalo destes ou ao final da aula,
e esperados (DEL PRETTE; DEL PRETTE, com turmas do período matutino e noturno.
2001). Foram realizadas 9 visitas ao total para
Como afirma Del Prette e Del Prette que no mínino fosse atingido um número sa-
(2001, p. 15) a utilização de instrumentos de tisfatório de alunos participantes, iniciando as
avaliação, como exemplo, assim como tam- coletas em Novembro de 2009 e terminando
bém é chamado, em Abril de 2010.
Como instrumento de pesquisa, foi
O IHS – Del Prette é um instrumento de autor- utilizado o IHS (Inventário de Habilidades
relato para aferir o repertório de habilidades so- Sociais) e o IFP (Inventário Fatorial de Per-
ciais usualmente requeridos e, uma amostra de sonalidade), e também um questionário de-
situações interpessoais cotidianas[...]permitindo senvolvido pela própria pesquisadora acerca
uma identificação inicial das classes e subclas- da escolha profissional e satisfação com o
ses de habilidades sociais que se caracterizam curso.
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ração por parte desta em dispor um horário maneira: foi entregue a cada um, um cartão
adequado, a coleta de dados iniciou-se com com perguntas referente a apenas um inven-
as turmas de Matemática, Administração e tário por vez, uma folha de repostas, o TCLE
Enfermagem. em duas vias (uma para a pesquisadora e
Com o agendamento prévio dos direto- outra para o colaborador) e o questionário
res para as datas de aplicação dos dois tes- sociodemográfico, mediante explicação da
tes: o IHS (Inventário de Habilidades Sociais), pesquisadora. Com o término dos dois inven-
o IFP (Inventário Fatorial de Personalidade) tários foram recolhidos de cada participante,
e o questionário sociodemográfico, todas as os cartões de perguntas, as folhas de respos-
aplicações dos inventários foram realizadas tas, uma cópia do TCLE e o questionário so-
e entregues no mesmo dia, sendo entregue ciodemográfico, explicando também que ao
a cada colaborador um exemplar do primeiro final da mensuração e análise, haverá sínte-
inventário e após preenchimento deste, em se de devolutiva por escrito ou pessoalmente,
seguida o segundo, ou apenas um exemplar com agendamento prévio entre ambos.
do inventário ao colaborador, com instruções
dadas pela pesquisadora. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
A aplicação do IFP teve como objeti- RESULTADOS
vo avaliar 15 dimensões ou necessidades
da personalidade. Este é composto por 155 Com o intuito de possibilitar uma peque-
itens com repostas numeradas de 1 = Nada na descrição de algumas habilidades sociais
característico até 7 = Totalmente caracterís- e de alguns traços de personalidade dos es-
tico, onde o indivíduo assinalará a que mais tudantes universitários, tem-se aqui uma aná-
se assemelha com sua personalidade, sen- lise de possíveis componentes que podem
do apenas uma resposta para cada questão ser encontrados nestes estudantes que se
e respondido individualmente e entregue no encontram no contexto do ensino superior.
mesmo dia a pesquisadora. Portanto, tendo um caráter descritivo e
A aplicação do IHS possibilita caracte- analítico, não se propõe aqui determinar ou
rizar o desempenho social em diferentes si- rotular tais estudantes, bem como aqueles
tuações de convivência do indivíduo, com que possam vir a escolher ou ingressar em
enfoque na saúde física mental, satisfação uma Universidade.
pessoal, realização profissional e qualidade Acerca disso, busca-se levantar carac-
de vida, composto por 38 itens, com 5 alter- terísticas peculiares de personalidade e ha-
nativas, apenas uma podendo ser assinalada, bilidades sociais que podem influenciar na
que estimulam uma possível reação diante de escolha profissional dos universitários, não
uma interação social, também respondida in- se pautando por tanto na construção de um
dividualmente e entregue a pesquisadora no perfil, mas sim nas possibilidades de identifi-
mesmo dia. cação destes com curso escolhido.
As aplicações aconteceram da seguinte Tem-se então, uma análise que possa
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contribuir para aqueles interessados e para senta diferença significativa quanto ao Esco-
um campo em construção que tem sido a Psi- re IHS quando comparada com os outros dois
cologia enquanto ciência e profissão. períodos analisados.
Portanto, com a análise descritiva dos
Comparação entre áreas de dados coletados, em termos globais, a área
conhecimento – IHS de Humanas apresenta uma diferença signi-
ficativa, tendo resultados médios abaixo dos
Nas tabelas que se seguem, com o in- valores apresentados pelas áreas de Exatas
tuito de identificar possíveis distinções acerca e Biológicas, o que caracteriza a existência
de características peculiares de cada área do de um repertório de habilidades sociais abai-
conhecimento, foram utilizados três instru- xo da média.
mentos estatísticos para a distribuição dos Contudo, tal índice abaixo da média in-
escores do IHS e análise inferencial. dica a existência satisfatória de habilidades
Para testar a normalidade dos dados foi sociais (F1, F2, F3, F4 e F5), mesmo estas
aplicado o teste de Shapiro-Wilk. Em todos os não se apresentando de modo evidente e ca-
testes o nível de significância é definido por racterístico para tal área, do daquelas apre-
α = 5%. No caso em que os Escores de IHS sentadas pelas áreas de Exatas e Biológicas.
seguiram a distribuição Normal, foi aplicado Os dados apresentados pela área de Huma-
um modelo de ANOVA (Análise de Variância) nas sugerem um possível índice deficitário e
para comparar as áreas de conhecimento pouco desenvolvido para todas as habilida-
para cada um dos períodos. Por outro lado, des, a seguir:
se o Escore não segue a distribuição Nor-
mal, se aplica o teste (não paramétrico) de • Fator 1. Enfrentamento e Autoafirmação com
Kruskal-Wallis. Risco - habilidades de apresentar-se a outra
A tabela 2 demonstra os resultados dos pessoa, abordar para relação sexual, discor-
testes de normalidade Shapiro-Wilk e dos tes- dar de autoridade, discordar do grupo, cobrar
tes de comparação entre as áreas quanto ao dívida de amigo, declarar sentimento amoro-
escore do IHS para o grupo de alunos exceto so, lidar com críticas injustas, falar a público
aqueles considerados abaixo do esperado. conhecido, devolver mercadoria defeituosa,
Tanto o teste de Kruskal-Wallis quanto a manter conversa com desconhecidos e fazer
ANOVA mostra que a área de Humanas apre- pergunta a conhecidos.
Tabela 2. Comparação entre as áreas de Biológicas, Exatas e Humanas em relação aos Escores
do IHS.
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• Fator 2. Autoafirmação na Expressão de Sen- área do conhecimento para cada um dos fa-
timento Positivo - habilidades de elogiar fami- tores em cada um dos instantes. Os valores
liares e outras pessoas, expressar sentimento assinalados em vermelho nos testes Kruskal-
positivo, agradecer elogios, defender outra -Wallis e ANOVA indicam diferenças entre
pessoa em grupo e participar de conversação. as áreas. Os valores em vermelho no teste
• Fator 3. Conversação e Desenvoltura Social Shapiro-Wilk indicam uma possível fuga da
- habilidades de manter e encerrar conversa- distribuição Normal pelo fator.
ções em contato face a face, encerrar con- A tabela 3 mostra a relação de possíveis
versa ao telefone, abordar autoridade, reagir diferenças entre os alunos participantes, sen-
a elogio, pedir favores a colegas e recusar do estes divididos em iniciantes e concluin-
pedidos abusivos. tes. De todos os alunos participantes da pes-
• Fator 4. Autoexposição a Desconhecidos e quisa, houve diferença significativa apenas
Situações Novas - habilidades de fazer apre- em dois fatores do Inventário de Habilidades
sentações ou palestras em público e pedir Sociais, sendo estes o F2 e F3.
favores ou fazer pergunta a desconhecidos. Os alunos iniciantes apresentaram índi-
• Fator 5. Autocontrole da Agressividade - habi- ce abaixo da média no item F2, enquanto que,
lidades de lidar com crítica dos pais, lidar com com os demais fatores apresentaram valores
chacotas ou brincadeiras ofensivas e cumpri- equilibrados e significativos. Em relação ao
mentar desconhecidos por impulsividade. item F2, ou seja, a capacidade de autoafirma-
ção na expressão de sentimento positivo, tais
Comparação individual por fator – IHS estudantes demonstram a existência de tal
capacidade, mas em seu repertório uma qua-
A análise a seguir mostra os resultados se ausência deste fator tão importante para o
dos testes para cada um dos fatores (F1, F2, relacionamento interpessoal profissional.
F3, F4 e F5). Já os alunos concluintes apresentaram
A tabela 3 mostra os resultados dos tes- índice abaixo da média no item F4. Estes
tes de comparação entre as médias de cada alunos, por sua vez, apresentaram também
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como recurso disponível a capacidade de nas áreas de Exatas e Humanas valores que
auto-exposição a desconhecidos e situações sugerem atenção e questionamentos sobre
novas, contudo sendo esta abaixo do es- seus índices encontrados, que diferem signifi-
perado e tratando-se de possíveis relações cativamente em relação à área de Biológicas.
sociais fundamentais para a convivência Na área de Exatas, foram obtidos valo-
pessoal e profissional destes, demonstrou- res significativos no item F4. Este fator tem
-se escassa e diminuta em seu momento da como objetivo identificar a capacidade de au-
graduação decisivo, o qual caminha para a toexposição a desconhecidos e situações no-
atuação e prática profissionais. Os demais fa- vas, que para esta área e assim como as ou-
tores apresentaram-se de modo satisfatório tras fazem parte de toda vivência acadêmica
para tal período. estudantil permeada por situações e relações
A tabela 4 expõe os resultados dos tes- novas no que tange o processo da gradua-
tes de comparação entre as médias de cada ção. Portanto, tal fator observado neste grupo
período para cada um dos fatores em cada atual afirma sua existência, mas não a carac-
uma das áreas de conhecimento. Os valores teriza, ou ainda não a caracterize como es-
assinalados em vermelho nos testes Kruskal- sencial e de suma importância para o campo
-Wallis e ANOVA indicam diferenças entre os pessoal e profissional.
períodos. Os valores em vermelho no teste Já na área de Humanas, o item F3 apa-
Shapiro-Wilk indicam uma possível fuga da rece como fator que sugere também um olhar
distribuição Normal pelo fator. cauteloso. Tendo como capacidade a con-
Sobre a análise das três grandes áreas versação e desenvoltura social, tais alunos
do conhecimento e de seus índices significa- apresentaram índices abaixo da média, o que
tivos no Escore do IHS em cada fator, tem-se seria resultante de uma utilização em menor
Tabela 4. Comparação dos fatores do IHS entre as áreas de Biológicas, Exatas e Humanas.
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frequência pelos estudantes em relação a apontam que quanto mais habilidades sociais
este fator do que em relação aos demais fato- os universitários manifestaram, mais tendem
res observados. a se aproximar de suas próprias característi-
Cabe ressaltar que, de modo geral os cas de personalidade.
resultados encontrados indicaram mais seme- Tais semelhanças sugerem que, todo ou
lhanças significativas que diferenças entre as futuro profissional que deseje atuar com serie-
áreas do conhecimento, os alunos iniciantes e dade e competência desenvolva o olhar para
concluintes e por último seus escores fatoriais. a continuidade do aprender, aperfeiçoar e apri-
Para Del Prette e Del Prette (2001) o morar tais habilidades essenciais para o de-
tipo de desempenho das habilidades sociais sempenho profissional e pessoal saudáveis.
depende do contexto e situação, sendo in-
fluenciado pela demanda social de uma cul- Comparação individual por fator – IFP
tura em particular (normas, valores e regras),
situação (local e interlocutor) e características A respeito das tabelas que se seguem,
como sexo, idade, escolaridade, condição de foram analisados diferentes aspectos psico-
saúde, papel social e entre outros que muitas lógicos dos estudantes participantes, que se
vezes determinam padrões de comportamen- referem a diferentes necessidades.
to aceitos e esperados, assim não podendo Abaixo, tem-se uma comparação dos
ser tomado como um traço de personalidade, escores dos fatores do IFP obtidos entre os
mas como um apontador de recursos disponí- alunos iniciantes e concluintes e seus valores
veis e existentes em uma dada situação. significativos para cada aluno em cada área
Bartholomeu, Nunes e Machado (2008) do conhecimento.
Tabela 5. Comparação dos Escores dos fatores do IFP obtidos entre os alunos Iniciantes e Concluintes.
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Tabela 6. Comparação dos Escores dos fatores do IFP entre as áreas de Biológicas, Exatas e
Humanas.
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Referência original: HOLLAND, J. O. Making Vocational Choices: A theory of vocational personalities and work environments.
Odessa: PAR, 1997.
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