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ISSN 1809-4139

Grupo focal e análise de conteúdo.

GRUPO FOCAL E ANÁLISE DE CONTEÚDO COMO ESTRATÉGIA


METODOLÓGICA CLÍNICA-QUALITATIVA EM PESQUISAS NOS
DISTÚRBIOS DO DESENVOLVIMENTO.

FOCUS GROUP AND CONTENT ANALYSIS AS METHODOLOGICAL


STRATEGIES IN CLINICAL–QUALITATIVE RESEARCH IN
DEVELOPMENTAL DISORDERS
João Roberto de Souza Silva
Silvana Maria Blascovi de Assis

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Sobre os autores RESUMO


João Roberto de Souza Silva A dimensão interdisciplinar dos estudos em distúrbios do desenvolvimento
Psicólogo formado pela
permite aos pesquisadores pensarem e desenvolverem estratégias metodológicas
Universidade Presbiteriana
Mackenzie e Mestrando no específicas para tentar responder seus problemas de pesquisa e alcançar os
Programa de Pós-Graduação em objetivos de seus estudos. O presente artigo pretende discutir a técnica de grupo
Distúrbios do Desenvolvimento da focal e análise de conteúdo como uma ferramenta para coleta e interpretação de
Universidade Presbiteriana dados em pesquisas clínico-qualitativas em distúrbios do desenvolvimento. A
Mackenzie. Bolsista CAPES técnica de grupo focal possibilita o acolhimento do sujeito, devido à criação de
E-mail: joaorssil@yahoo.com.br um espaço para a expressão das angustias e ansiedades, esta aproximação
valoriza os aspectos psicodinâmicos mobilizados na relação afetiva e direta com
Silvana Maria Blascovi de Assis
os participantes do estudo devido à escuta. Estes conteúdos latentes cheios de
Fisioterapeuta pela PUC Campinas,
Mestre e Doutora em Educação significados que organizam e estruturam o modo de vida das pessoas e suas
Física pela UNICAMP. Professor relações com os objetos poderão ser categorizadas por meio da analise de
Adjunto II do Programa de Pós- conteúdo. Assim, outras reflexões de caráter metodológico acerca de
Graduação em Distúrbios do instrumentos e forma de analise de dados se fazem necessária em busca de uma
Desenvolvimento da Universidade construção epistêmica forte para a pesquisa qualitativa.
Presbiteriana Mackenzie,
Coordenadora do Curso de Palavras-Chave: Pesquisa Qualitativa, Grupo Focal, Análise Conteúdo
Fisioterapia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
ABSTRACT

The interdisciplinary studies in developmental disorders allow researchers to


think and develop methodological strategies to try to answer their specific
research problems and achieve the aims of their studies. This article discusses the
technique of focus groups and content analysis as a tool for collecting and
interpreting data in clinical-qualitative research in developmental disorders. The
focus group technique provides a welcome attitude to the troubles and anxieties,
this approach enhances psychodynamic aspects mobilized in direct and emotional
relationship with the subjects of the study due to listening. These latent contents
full of meanings that organize and structure the way of life and their relationships
with the objects may be categorized by content analysis. Therefore, further
reflections of methodological affects about instruments and forms of data analysis
are needed with the aim to find a strong epistemic construction for qualitative
research.

Keywords: Qualitative Research, Focus Groups, Content Analysis


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Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.10, n.1, p.146-152, 2010
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Grupo focal e análise de conteúdo.

1-INTRODUÇÃO desfazendo a visão de que as sociedades tribais


possuem crenças irracionais e desconexas,
A dimensão interdisciplinar dos
mostrando o comportamento nativo como uma
estudos em distúrbios do desenvolvimento,
ação integrada e coerente de significados. Sua
assim como em todas as áreas que envolvam
técnica tem seu cerne no processo de
questões de saúde, pressupõe um atendimento
aculturação do observador que consiste na
interdisciplinar. Segundo Minayo (1991)
assimilação das categorias inconscientes que
interdisciplinaridade na área da saúde apresenta-
ordenam o universo cultural investigado
se como uma exigência interna, pois a saúde e a
(MALINOWSKI, 1984).
doença no seu âmbito social envolvem
simultaneamente relações sociais, emocionais, O relato sistemático de sua experiência
afetivas e biológicas, além de razões sócio- de campo durante muitos meses como um
históricas e culturais dos indivíduos e grupos. nativo, entre os nativos, e de como colheu seus
dados possibilitou uma nova técnica de
D´Antino (2008) afirma que uma
investigação e de interpretação misturando
abordagem interdisciplinar possibilita uma
objetividade cientifica e vivência pessoal.
discussão que pode resultar em novas propostas
(MALINOWSKI, 1984).
de ação e intervenção, para além das fronteiras
impostas pelas especialidades, isto porque o De acordo com Turato (2005) a
processo de saúde e educação de crianças com metodologia qualitativa aplicada à saúde, não
distúrbios do desenvolvimento é extremamente busca estudar o fenômeno em si, mas entender o
complexo e interdependente. Este cenário significado deste fenômeno no âmbito
possibilita aos pesquisadores pensarem e individual ou coletivo, pois este tem função
desenvolverem estratégias metodológicas estruturante para a vida das pessoas, uma vez
específicas para tenta responder seus problemas que as mesmas organizam suas vidas a partir
de pesquisa e alcançar os objetivos de seus destes significados por elas atribuídos.
estudos.
Para Minayo (2007) as metodologias
O campo da saúde, de acordo com qualitativas são as capazes de incorporar a
Turato (2005) tem se deparado com um grande questão do significado e da intencionalidade
aumento no interesse por pesquisas qualitativas, como inerentes aos atos, relações, estruturas
pois na última década, tais pesquisas tornaram– sociais, sendo estas compreendidas como
se bem aceitas de modo que muitas revistas construções humanas significativas. No intuito
científicas divulgam estas pesquisas de interpretar os significados sejam estes de
frequentemente, como é o caso da Revista de natureza psicológica ou sociocultural trazidos
Saúde Pública. pelos indivíduos no que diz respeito aos
múltiplos fenômenos inerentes ao campo saúde-
O método qualitativo tem suas raízes
doença (BOGDAN; BIKLEN, 1998 apud
na fenomenologia, pois busca a compreensão da
TURATO, 2005) surge o método clínico-
dinâmica do Ser Humano, partindo dos
qualitativo, o qual pode ser entendido segundo
significados dos fenômenos vivenciados pelas
Turato (2005) como um refinamento dos
pessoas (TURATO, 2005; FONTANELLA et.
métodos qualitativos das Ciências Humanas,
al., 2006),
voltado exclusivamente para os setting de
Malinowski diariamente observava os vivências em saúde.
nativos no trabalho e nas diversões, e
De acordo com Campos e Turato
conversava com eles na língua local, obtendo
(2009) as Ciências Humanas trouxeram para o
informações a respeito da vida social, política,
método clínico-qualitativo a abordagem
econômica e religiosa de alto valor científico,
compreensiva – interpretativa, já as abordagens
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clinicas juntamente com a psicodinâmica Na pesquisa de Massi e colaboradores


contribuíram para o entendimento das relações (2009) o sujeito, significado e o processo de
inter-pessoais. apropriação da linguagem são enfatizados
durante o trabalho investigativo mediante a
O método congrega um conjunto de
interação sócio-verbal, ressaltando, então, as
procedimentos e técnicas adequadas para
possibilidades do sujeito de pesquisa no
compreender e descrever as relações de sentidos
desenvolvimento de sua linguagem.
e significados para determinado fenômeno
utilizando o setting clinico, pois o mesmo tem Com o propósito de tentar apreender as
como característica ser um lugar onde transcorre singularidades das concepções presentes sobre
o fenômeno saúde-doença, com concepções as diferentes vivências e populações que
psicodinâmicas das relações ali estabelecidas contemplam a complexidade do tema distúrbios
(TURATO, 2003; FONTANELLA et. al, 2006; do desenvolvimento este artigo pretende discutir
CAMPOS e TURATO, 2009). a técnica de grupo focal e análise de conteúdo
como uma ferramenta para coleta e
Assim, a metodologia clínica-
interpretação de dados em pesquisas clínico-
qualitativa, então, se sustenta em três alicerces:
qualitativas em distúrbios do desenvolvimento.
na atitude clínica de voltar o olhar para quem
porta a dor, na psicanálise promovendo a escuta
de quem vivencia conflitos emocionais e na
2- GRUPO FOCAL
concepção existencialista de reflexão sobre as
angústias humanas (TURATO, 2003; CAMPOS Grupo Focal segundo Borges e Santos
e TURATO, 2009) (2005) é uma dentre as várias modalidades
disponíveis de entrevista grupal e/ou grupo de
Massi e colaboradores (2009) fazem
discussão. Os participantes dialogam sobre um
uma analisa clinico - qualitativa de um discurso
tema particular, ao receberem estímulos
de uma criança com paralisia cerebral,
apropriados para o debate (RESSEL et. al.,
discutindo o método como forma de
2008).
investigação e intervenção, privilegiando a
interação sócio-verbal e a relação subjetiva. Para Perosa e Pedro (2009) é uma
forma de coleta de dados diretamente por meio
A pesquisa consistiu em um
da fala de um grupo, que relata suas
acompanhamento longitudinal da linguagem de
experiências e percepções em torno de um tema.
uma menina durante um ano e quatro meses, do
Desse modo, o grupo focal é uma técnica para a
período dos quatro anos e dois meses aos cinco
exploração de um tema pouco conhecido,
anos e seis meses de idade totalizando 26
visando o delineamento de pesquisas futuras e a
gravações. Os dados foram gravados em fitas
produção de sentido e significados sobre
cassete, por meio de sessões quinzenais de
determinado tema, pois sua orientação está
aproximadamente 40 minutos, sempre no
voltada para a geração de hipóteses, e
mesmo ambiente uma escola especializada da
desenvolvimento de modelos e teorias.
região de Curitiba. As sessões forma
subdivididas em 26 quadros, porém os autores Para Ashidamini e Saupe (2004) o
utilizam para a análise o primeiro (quadro 1) e o propósito do Grupo Focal consiste na interação
ultimo quadro (quadro 26). A análise dos dados entre os participantes e pesquisador para a
permitiu aos autores afirmar que a criança coleta de dados, a partir da discussão com foco
ampliou seu papel no dialogo, pois em um em tópicos específicos e diretivos, assim os
momento inicial apresentava apenas fragmentos grupos focais têm sido largamente utilizados por
de enunciados, passou a estruturar narrativas vários profissionais no desenvolvimento de
mais completas (MASSI, et al ; 2009). pesquisas em saúde, educação em saúde,

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implementação e avaliação de programas, entre De acordo com Iervolino e Pelicioni


outras aplicações. (2001) e Gatti (2005) a composição do grupo
deve-se basear em alguma característica
Scherer e colaboradores (2009) utilizou
homogênea dos participantes, mas com
como a técnica do grupo focal para conhecer os
suficiente variação entre eles para que apareçam
déficits de auto-cuidado de gestantes/puérperas
opiniões divergentes. Segundo Gatti (2005) a
com HIV/AIDS e os fatores que influenciam no
homogeneidade deve ser entendida como
engajamento para o auto-cuidado. Todos os
alguma característica comum aos participantes
encontros foram gravados e transcritos na
que interesse ao estudo do problema, desse
íntegra e, depois, categorizados nas seguintes
modo, então, a formação do grupo dependerá do
categorias de análise: os déficits de auto-
problema de pesquisa. Evitando-se incluir no
cuidado, e os fatores que contribuem no
grupo, participantes que se sintam ameaçados,
engajamento do auto-cuidado.
ou desvalorizados em decorrência de
Arcanjo e colaboradores (2008) características pessoais. O recrutamento dos
utilizaram-se do grupo focal com o objetivo de participantes ocorre em função do grupo social a
analisar a percepção da qualidade de vida com ser estudado (IERVOLINO e PELICIONE,
mulheres com dor nas costas, com o intuito de 2001)
discutir sobre os resultados das orientações e a
Para a seleção e organização do Grupo
realização de exercícios e suas repercussões na
Focal é imprescindível ter claro os critérios de
qualidade de vida após participarem de oficinas
inclusão dos sujeitos na pesquisa, pois é uma
educativas.
formação intencional, logo é necessário que
O grupo focal como um procedimento exista pelo menos um ponto de semelhança
de coleta de dados é um instrumento no qual o entre os participantes. (RESSEL et al ,2008).
pesquisador tem a possibilidade de ouvir vários Isso favoreceu os relatos de experiências,
sujeitos ao mesmo tempo, além de observar as necessidades, valores e crenças, as quais
interações características do processo grupal. interagem na temática em foco.
Tem como objetivo obter uma variedade de
De acordo com Nogueira–Martins e
informações, sentimentos, experiências,
Bogus (2004) para a operacionalização do grupo
representações de pequenos grupos acerca de
focal este deve ser composto por no mínimo seis
um determinado tema (KIND, 2004)
e no máximo entre doze e quinze pessoas com
De acordo com Kind (2004) os grupos tempo médio de noventa minutos, pois segundo
focais utilizam a interação grupal para produzir Gatti (2005) grupos maiores limitam a
dados e insights que seriam dificilmente participação, as oportunidades de trocas de
conseguidos fora do grupo. Estes dados levam idéias e elaborações, o aprofundamento no tema
em conta o processo do grupo, tomados como e nos registros dos dados.
maior do que a soma das opiniões, sentimentos
O tempo de cada reunião grupal
e pontos de vista individuais em jogo.
dependerá da natureza do problema em pauta
O grupo focal possui determinados (GATTI, 2005). Nogueira–Martins e Bogus
procedimentos que o diferenciam de outras (2004) e Gatti (2005) afirmam que cada reunião
entrevistas grupais, no que se refere ao grupal deve ter noventa minutos e não deve
planejamento e a montagem do grupo. Segundo ultrapassar três horas, para que o a coleta de
Borges e Santos (2005) os participantes não dados seja funcional, evitando o cansaço dos
devem pertencer a um mesmo círculo de participantes e a manutenção do foco do
amizade ou trabalho. Isto visa evitar que a livre problema para que a coleta contenha
expressão de idéias no grupo seja prejudicada informações suficientes para uma boa análise.
pelo temor do impacto (real ou imaginário) que
essas opiniões podem causar posteriormente.
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O sucesso da coleta de dados resultados, inferência e interpretação (BARDIN,


dependerá muito do moderador do grupo, este 2009; MINAYO, 2007).
deve oferecer informações que deixem os
a) Pré-analise: é a fase de organização
participantes à vontade, informando-os o que
tem por objetivo operacionalizar e
deles se espera, qual será a rotina da reunião e a
sistematizar as idéias iniciais de
duração do encontro. Devem ser explicados os
maneira a conduzir a um esquema
objetivos do encontro, a forma de registro, a
preciso de desenvolvimento da
anuência dos participantes, a garantia de sigilo
pesquisa (BARDIN, 2009). Retomam-
dos registros e dos nomes. É imprescindível
se as hipóteses e os objetivos iniciais
deixar claro que todas as informações
da pesquisa, reformulando-os frente ao
interessam e que não há certo ou errado nas
material coletado, e na elaboração de
opiniões emitidas, pois a discussão é totalmente
indicadores que orientem a
aberta em torno do tema proposto e qualquer
interpretação final (MINAYO, 2007).
tipo de reflexão e contribuição é importante para
Esta fase se decompõe em três tarefas
a pesquisa (GATTI, 2005).
(BARDIN, 2009; MINAYO, 2007):
leitura flutuante, constituição do corpus
e reformulação de hipóteses e
3- ANÁLISE DE CONTEÚDO
objetivos. Leitura flutuante consiste em
De acordo com Bardin (2009), a tomar contato exaustivo como o
análise de conteúdo é um conjunto de técnicas material para conhecer seu conteúdo
de investigação que, através de uma descrição (MINAYO, 2007). O termo flutuante é
objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo uma analogia a atitude do psicanalista,
manifesto das comunicações, tem por finalidade pois pouco a pouco a leitura se torna
a interpretação destas mesmas comunicações mais precisa, em função de hipóteses, e
Para atingir mais precisamente os das teorias que sustentam o material.
significados manifestos e latentes trazidos pelos (BARDIN, 2009). Constituição do
sujeitos será utilizada a análise de conteúdo corpus: organização do material de
temática, pois segundo Minayo (2007) esta é a forma que se possa responder a
forma que melhor atende à investigação algumas normas de validade:
qualitativa do material referente a saúde, uma exaustividade (todos os aspectos do
vez que a noção de tema refere-se a uma roteiro devem ser contemplados, deve-
afirmação a respeito de determinado assunto. se esgotar a totalidade do texto);
representatividade (que represente de
Segundo Bardin (2009) tema é a forma fidedigna o universo estudado);
unidade de significação que naturalmente homogeneidade (deve obedecer com
emerge de um texto analisado, respeitando os precisão aos temas) e pertinência (os
critérios relativos à teoria que serve de guia para conteúdos devem ser adequados aos
esta leitura. objetivos do trabalho) (BARDIN,
Sendo assim a análise de conteúdo 2009; MINAYO, 2007). Reformulação
temática consiste em descobrir os núcleos de de hipóteses e objetivos: “determinam-
sentido que compõem uma comunicação cuja se a unidade de registro (palavra ou
presença ou freqüência signifiquem alguma frase), a unidade de contexto (a
coisa para o objetivo analítico visado delimitação do contexto de
(BARDIN, 2009; MINAYO, 2007). A análise compreensão da unidade de registro),
divide-se em três etapas: a) pré-analise; b) os recortes, a forma de categorização, a
exploração do material e c) tratamento dos modalidade de codificação e os
conceitos teóricos mais gerais que

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orientarão a análise” (MINAYO, devido à escuta. Estes conteúdos latentes cheios


2007). de significados que organizam e estruturam o
modo de vida das pessoas e suas relações com
os objetos poderão ser categorizadas por meio
b) Exploração do material: é a operação da analise de conteúdo.
de analisar o texto sistematicamente
Sendo assim outras reflexões de caráter
em função das categorias formadas
metodológico acerca de instrumentos e forma de
anteriormente (BARDIN, 2009;
analise de dados se faz necessária em busca de
MINAYO, 2007).
uma construção epistêmica forte, pois fazer
pesquisa qualitativa não se restringe a organizar,
de modo simplista, citações literais unidas às
c) Tratamento dos resultados, inferência falas de sujeitos que responderam a
e a interpretação: Os resultados brutos, questionários nem sempre bem elaborados. A
ou seja, as categorias que serão pesquisa qualitativa deve buscar no fenômeno
utilizadas como unidades de análise investigado os seus significados para aquela
são submetidas a operações estatísticas pessoa ou grupo, as representações psíquicas e
simples ou complexas dependendo do sociais e os constructos simbólicos das mesmas.
caso, de maneira que permitam
ressaltar as informações obtidas. Após
isto são feitas inferências e as 5- REFERÊNCIAS
interpretações previstas no quadro
teórico e/ou sugerindo outras
possibilidades teóricas (BARDIN, ARCANJO, G. N.; VALDES, M. T. M.;
2009; MINAYO, 2007). SILVA, R. M., Percepção sobre a qualidade de
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4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
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saúde a ampliar a compreensão científica de
D´ANTINO, M. E. F. Interdisciplinaridade e
fenômenos acerca da vida e de condições
transtornos globais do desenvolvimento: uma
adversas que podem surgir no decorrer de sua
perspectiva de análise. Caderno de pós-
existência.
graduação em distúrbios do desenvolvimento.
A técnica de grupo focal possibilita o v. 8, n.1, p.55-69, 2008.
acolhimento do sujeito, devido à criação de um
CAMPOS, C. J. G.; TURATO, E. R., Análise
espaço para a expressão das angustias e
de conteúdo em pesquisa que utilizam
ansiedades, esta aproximação valoriza os
metodologia clínica-qualitativa: aplicação e
aspectos psicodinâmicos mobilizados na relação
perspectivas. Rev Latinoam de Enfermagem
afetiva e direta com os participantes do estudo
v.17, n.2, 2009.
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