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José Couto Marques, Maria Teresa Restivo, Pedro Portela, Ricardo Teixeira
Resumo
Introdução
A crescente especialização dos curricula dos cursos de Engenharia pode estar a contribuir para
uma excessiva fragmentação dos assuntos leccionados, dificultando deste modo a formação de uma
perspectiva global na mente dos alunos.
No decorrer do seu ensino experimental básico, os estudantes de engenharia são habitualmente
levados à obtenção de resultados que confirmem simples efeitos ou leis físicas. O actual recurso a
linguagens gráficas baseadas na programação por ícones, para monitorização, controlo, aquisição e
processamento de dados, permite ao aluno a utilização de uma interface gráfica e sugestiva, tornando-se
numa excelente ferramenta intuitiva, aberta, interactiva e flexível. Na nossa opinião, a exploração deste
tipo de ferramenta no ensino experimental de engenharia pode estimular a criatividade do estudante,
transformando observadores passivos em participantes activos e promovendo uma mais profunda
compreensão dos conceitos matemático e físicos subjacentes, de acordo com a teoria de Kolb da
"aprendizagem experiencial".
Acreditamos firmemente que o recurso a problemas interdisciplinares, cuidadosamente
seleccionados, tem um papel extremamente importante a desempenhar na integração de conhecimentos
provenientes de distintos campos de engenharia, com o benefício acrescido de providenciar excelentes
oportunidades para uma prática cooperativa de aprendizagem/ensino/investigação, que pode ser
altamente motivadora, criativa e estimulante, quer para professores, quer para alunos.
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Esta experiência tão simples recebeu já a atenção de vários autores e, como veremos, tem ainda
muito para oferecer.
A lata foi instrumentada com uma roseta de extensómetros para medição da deformação e com
um termopar de tipo K (ligado a um multímetro digital) para a monitorização da temperatura (ver Figura 2).
Dois dos elementos da roseta de extensómetros, orientados segundo as direcções principais de
deformação, estão inseridos em dois circuitos de ponte de medição distintos (Sistema Modular RDP 600 -
módulo tipo 628) utilizando a técnica dos três condutores. Cada circuito condicionador foi configurado
para funcionar em ¼ de ponte usando extensómetros com resistência nominal de 120 Ω. Dois voltímetros
digitais (Keithley 2000) são utilizados para testes de quantificação inicial e ajustamentos de cada circuito
de ponte de medição. O sistema de aquisição de dados inclui um PC com software LabTech e uma carta
DAS PCL-818 HG de ganho programável. A resolução da conversão A/D depende do ganho
seleccionado, que foi definido tendo em conta a ordem de grandeza estimada para os decréscimos das
deformações. A taxa de aquisição de dados foi ajustada para a duração esperada do fenómeno transitório
causado pela abertura da lata (Figura 3).
A elasticidade isotrópica e a chamada fórmula dos tubos foram as hipóteses base para a
verificação da consistência dos resultados.
A pressão interna p foi determinada a partir da deformação circunferencial εθ (uma estratégia menos
sensível aos erros inerentes ao valor do coeficiente de Poisson do que obtidos por recurso à deformação
longitudinal εz 4 )
σθ = p r / t (3)
σz = p r / (2 t) (4)
Figura 9 – Campo de deformação plástica efectiva para a fase final da análise geometricamente não-
linear com plasticidade, representado sobre a malha indeformada
Num problema aberto, como aquele que temos estado a discutir, parece apropriado esboçar perspectivas
para desenvolvimentos futuros. A questão para a qual procuramos uma resposta é: como obter uma
compreensão mais profunda deste simples problema?
O efeito da anisotropia criada na folha do material devido ao processo de fabrico só poderá ser
devidamente contabilizado através de uma modelação completa do processo de conformação da lata.
Tópicos de diversos campos da engenharia foram integrados neste estudo. Foram envolvidos conceitos
das áreas da metalurgia, da instrumentação e medição e da mecânica computacional e foram exercitadas
as capacidades de ensino e aprendizagem cooperativa. Daqui resultou um exercício muito motivador em
torno de um pequeno objecto do quotidiano, que se revelou uma interessante oportunidade para reunir
esses diferentes domínios de engenharia que habitualmente são tratados independentemente uns dos
outros.
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“Se sempre for feito o que sempre foi feito, sempre se obterá aquilo que sempre foi obtido” . Este é o
método tradicional de ensino, que não envolve riscos nem perdas de tempo. A exploração de problemas
abertos de engenharia, como estratégia de aprendizagem cooperativa, requer um planeamento cuidado,
uma boa coordenação de recursos humanos e materiais e abertura de espírito por parte de todos os
responsáveis envolvidos. Esta prática estimula ainda nos alunos as aptidões de trabalho em grupo e de
responsabilização pessoal de cada elemento, bem como a auto-organização e a capacidade de gestão de
conflitos. Desenvolve ainda, as capacidades de análise, de interpretação e crítica de resultados, enquanto
integra de forma estruturada diversos conceitos fundamentais constituindo, também para os docentes
envolvidos neste exercício cooperativo, uma experiência de aprendizagem muito rica.
“Há dois modos de adquirir conhecimentos: pela auto aprendizagem ou pelos conhecimentos que nos
transmitem. Esta experiência mostrou-nos que a única coisa que, de facto, pode ser eficientemente
ensinada é como aprender.
Um mau resultado pode ser mais enriquecedor do que um bom resultado porque força a investigar mais
profundamente o fenómeno em questão.
Este trabalho mostrou-nos, ainda, que existe um enorme fosso entre o que usualmente se faz numa sala
de aulas ou no laboratório e a solução dos problemas reais”.
Informação Bibliográfica
1. Automated System for Educational Training on Punching Process Characterization, Teresa Restivo and Joaquim
Mendes, National Instruments User Solution (Education/Mechanical Engineering), Texas, 1998.
2. Experiential Learning - Experience as the Source of Learning and Development, D. A. Kolb, Prentice-Hall, New
Jersey, 1984.
4. The Real Thing, Experimental Stress Analysis NOTEBOOK, Issue 1, October 1985, Measurements Group, Inc.,
Raleigh, NC 27611.
5. The Real Thing Revisited, Experimental Stress Analysis NOTEBOOK, Issue 13, April 1990, Measurements Group,
Inc., Raleigh, NC 27611.
6. The Real Thing Revisited (Again), Experimental Stress Analysis NOTEBOOK, Issue 25, April 1995, Measurements
Group, Inc., Raleigh, NC 27611.
7. The Aluminium Beverage Can, W. F. Hosford and J. L. Duncan, Scientific American, Volume 271, Number 3, pages
34-39, September 1994.
8. The Finite Element Method, O. C. Zienkiewicz, 3rd edition, McGraw-Hill, London, 1977.
9. Non-linear Finite Element Analysis of Solids and Structures, M. A. Crisfield, Volume 1, Wiley, 1991.
10. Finite Elements in Plasticity - Theory and Practice, D. R. J. Owen and E. Hinton, Pineridge Press, Swansea, 1980.
11. If you always do what you have always done, you will always get what you have always got, Bob Matthew and Pete
Sayers, Learning How to Think Like an Engineer - Cognitive Apprenticeship, Second International Conference on
Teaching Science for Technology at Tertiary Level, S. Törnkvist (Ed.), KTH Royal Institute of Technology, Stockholm,
1997.
12. http://www.fe.up.pt/~trestivo/im/welcome.htm