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Sumário
12 Dicas: 16 20
Pequenas e grandes atrações do bem comer
16 Entrevista:
O perfil de Paulo Tiefenthaler, o “Paulo” de Larica Total
20 Capa:
Guia dos cogumelos mais comuns nas mesas brasileiras
26 Serviço Completo:
Três receitas de chefs de Rio e São Paulo
32 Coffee break:
Histórias em torno do café
34 Especial:
Evento do Slow Food revela ingredientes desconhecidos
34 44
40 Drinkin’Out:
Dicas de como degustar mais e melhor
44 Viagem:
África do Sul, escala da Copa. E dos copos
52 Ponte Aérea:
Oito novidades do eixo Rio-São Paulo
55 São Paulo:
32 restaurantes
91 Rio de Janeiro (Zona Sul):
47 restaurantes
140 Roteiro Rio de Janeiro (Centro): 52
12 restaurantes
153 Roteiro Rio de Janeiro (Barra):
9 restaurantes
164 Roteiro Serra:
Roteiro com 17 restaurantes
Os lados B de Ducasse
Foto: divulgação
Virgem e extra
Onde tem vinha, tem oliveira. E centenárias, como no caso daquelas que geraram o Portal, o azei-
te extravirgem da Quinta do Portal, na nobreza fidalga do Douro, prensadas em dezembro de 2009
- no mesmo dia da colheita, tal como prevê a D.O.C. Trás-os-Montes. As únicas 1.200 garrafas
destinadas à exportação chegaram ao Rio e podem ser degustadas em restaurantes como Anti-
quarius, Osteria dell’Angolo e La Fiducia. Ou adquiridas no Talho Capixaba ou no La Botella. Pão
fresco, batata cozida, o peixe branco ou o capaccio são seus diletos consortes, por ressaltarem a
acidez inferior a 0,2%, uma das menores do mundo dos azeites.
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Rosa e o azeite
Primeira entrevistada da revista Eatin’Out, Rosa Nepomuceno está de
volta a essas páginas. E por um fio. Mas dos bons azeites que ela provou
em sua viagem pela Umbria e a Toscana, cujos relatos estão no livro “Um
fio de azeite” (Casa da Palavra, 184 páginas, R$ 42). Está tudo lá: das
visitas aos lagares, às grandes empresas, do depoimento dos produtores
jovens ou tradicionais à informação sobre todo o processo de produção
do óleo, dicas, pesquisas nutricionais, dicas de feiras e bem temperadas
receitas da viagem que colheu nas escalas que fez em cidades como
Massarosa, Lucca, Assis e Perugia.
Diliça
Uma das melhores contribuições da Páscoa desse ano foi o
evento que Gramado promoveu, durante a Chocofest, para
mostrar que nossos chocolateiros são mais criativos do que os
outros. Mostra disso é a foto ao lado, em que a modelo, cheia de
atitude, apresenta os mais de 10 quilos de adereços criados do
mais nobre cacau brasileiro. Esse foi um dos mais de 50 looks
apresentados durante os desfiles que integraram a 15ª edição
do festival, que acontece todos os anos, nos moldes do que
acontecem em Paris, Tóquio e Nova York.
Bazzar
Antes, foram as caldas para sorvetes. Os especialistas não se decidiam pela melhor, se a de café, a de
morango ou a de chocolate. Engordaram de tanto provar e não chegaram a um consenso pela escolhida da
primeira linha de produtos do restaurante Bazzar, de Ipanema. Agora, o jogo é outro - e ruma para o campo
das especiarias, com uma linha Bazzar Especialidades. Dentre os candidatos à próxima querela entre os
gourmets, molhos de mostarda – suave e rústica, o preferido desse escriba – orientais – teriyaki e curry – e
para carnes, do carpaccio ao barbecue. As apostas estão abertas.
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PERFIL GASTRONÔMICO
Paulo Tiefenthaler
Larica? Total...
Por Pedro de Mello e Souza / Fotos Débora 70
Não digam que o programa Larica Total, que Paulo Tiefenthaler apresenta no
Canal Brasil, é baixa gastronomia. Para ele, ou o seu personagem Paulo Oliveira,
a gastronomia é coisa séria mesmo sem saber exatamente o que vai encontrar
na geladeira de seu apartamento em Santa Teresa, no Rio de Janeiro. E mesmo
se fosse gastronomia baixa, a audiência do programa é cada vez mais alta, o que
levou a produção do canal a preparar a segunda temporada da série - divertidíssi-
ma e já com temperos de linha cult -, que já contou até com a participação de ou-
tros personagens, como Claude Troisgros. Em um dos intervalos das gravações,
ele revelou à Eatin’Out o seu perfil gastronômico, denso e irreverente quanto o da
larica que ele nos traz.
E a baixa?
Baixa gastronomia é essa comida de quinta categoria que se come na rua todos
os dias, nos restaurantes a quilo, nos quiosques e nos fast-foods da vida. Pode se
comer, comer muito bem gastando pouco... Aprenda a cozinhar e pare de comer
tanta farinha.
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E a “nouvelle cuisine”, o que acha? O que não rola na sua feijoada?
Do jeito que foi inventada, eu gosto. A filosofia era de traba- Macarrão.
lhar somente com produtos frescos, que estivessem ao seu
alcance, na sua região. Depois virou aquela babaquice de Qual livro de gastronomia chamou a sua atenção?
porções mínimas e caríssimas. Você tinha que comer no mí- Ganhei, de um fã de Londres, o último livro do Jamie Oliver e
nimo uma saladinha em casa antes de sair, para não passar achei muito interessante a proposta de que qualquer um pode
fome depois de pagar muito por muito pouco nos restauran- aprender a cozinhar bem e saudavelmente em 24 horas. As
tes. Ainda bem que isso acabou. receitas são muito simples e deliciosas. Ponto para ele.
E do mar, o que prefere e o que evita? What’s hot e what’s not na gastronomia?
Gosto de tudo: caviar, marisco, camarão, siri, lula, cação Hot: Hot dog, churrasco e sopa.
e o meu preferido: o badejo grelhado com uvas verdes e Not: sorvete e gordura.
frescas e arroz de nozes. Para acompanhar um bom vinho
branco alemão.
Petisco assistindo ao filme ou ao futebol?
Caldinho de feijão, queijinho provolone e tomatinho com
queijo de cabra!
Os seus restaurantes do coração:
Na cozinha brasileira, o Barreado, em Vargem Grande. Entre O que come quando dá insônia?
os orientais, o Azumi, em Copacabana, e o Mr. Lam, na La- Bebo leite, que ajuda a acalmar e a dar sono.
goa. Entre os grandes restaurantes, o Antiquarius e o Olym-
pe. Gosto da cozinha italiana da Trattoria, em Copacabana, O que mais o irrita em coquetéis?
e da pizza do Braz. Entre os botecos, Bar do Gomes, onde Quando é coquetel pobre e tem muito mais refrigerante ro-
curto o croquete de carne, e o Pavão Azul. Na hora da tradi- lando do que bebida alcoólica. E a fome desengonçada de
ção, fico com o Nova Capela. algumas pessoas.
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Capa
Cogumelos
Os bons não são da lata...
Por Pedro de Mello e Souza
Conta a lenda – e o que seria da gastronomia sem as lendas? -, em uma tarde cin-
zenta da Paris do início dos anos 1800, um homem perseguido pela temível polícia
de Napoleão embarafustou-se nos labirintos de uma caverna da região. Fechadas
as saídas, o pobre fugitivo foi dado como morto após alguns dias, e os policiais le-
vantaram o cerco. Mas eis que o personagem emerge, salvo e, principalmente, são.
O milagre foi creditado aos cogumelos, que cresciam aos milhares na umidade es-
cura do subsolo e forneceram nutrientes - proteínas e vitaminas B, C, K - para que o
cidadão pudesse viver as alegrias de uma França arruinada pela Revolução.
Verdade ou não, o episódio é uma forma de ilustrar como os Amanita (Amanita cesarea). Palavra de origem grega -
cogumelos, além de nutritivos na estrutura e graciosos na αμανίτα - que define o gênero de cogumelos de forma se-
forma, tomaram o imaginário da história, dando um paladar melhante à dos champignons, maiores e de chapéu de um
especial a tradições seculares. Entre os orientais, especial- alaranjado-vivo, que devem ser colhidos com critério, pois
mente chineses e coreanos, é símbolo de longevidade. En- espécies comestíveis e venenosas se confundem. Os roma-
tre os nobres medievais, ter um cogumelo em seu brasão nos já dominavam esse critério e o manipulavam de formas
sugeria a virilidade dos homens de suas linhagens. espúrias, como no caso de Agripina, que os misturou para
Mas há o lado lisérgico dos cogumelos, alguns deles liga-
servir e matar o marido, o Imperador Claudius, e permitir
dos a temas supostamente infantis. O chá de um deles teria
que seu filho Nero, primeiro na linha de sucessão, subisse
inspirado o matemático inglês Lewis Caroll na concepção
ao trono. O mesmo Nero usaria as amanitas para eliminar o
do roteiro psicodélico de “Alice no País das Maravilhas”. Per-
chefe de sua guarda. A mesma mistura teria sido servida a
sonagens como SuperMario vive às voltas com uma série de
Júlio César, dentro do quadro de conspiração que culminou
cogumelos. Os “smurfs” moravam em cogumelos. E Tintin foi
com a facada de (‘até tu?”) Brutus. Os episódios ilustram a
atacado por cogumelos explosivos em “A estrela misteriosa”.
denominação que a espécie mais apreciada desses cogu-
A relação dos cogumelos com os gourmets é milenar. Mas a
melos ganhou dos naturalistas – “caesarea”. Mas o caçador
produção voltada para a cozinha não tem mais de 300 anos,
de cogumelos moderno não se engana, pois experiências
o que mostra que suas inúmeras espécies foram as últimas a
similares ocorreram em praticamente todas as regiões do
ser conquistadas pela agricultura. As técnicas para reprodu-
Hemisfério Norte e legaram às sociedades a sabedoria de
zir o ambiente de manifestação destes fungos comestíveis
permitiu a popularização do ingrediente, apreciados desde como escolhê-los, evitá-los e, melhor, prepará-los.
gregos e romanos. E pelos chineses, que colhem uma safra
brutal – dez vezes maior do que a americana, segunda co- Amigasatake - Versão japonesa do cogumelo ‘morille’,
locada – graças a uma tecnologia que a Embrapa (Empresa também conhecido como ‘henkasatake”.
Brasileira de Pesquisa Agropecuária) está prometendo tra-
zer para incrementar a miserável produção brasileira. Anzutake - Denominação que os cogumelos do tipo ‘cèpe’
Da produção global de cogumelos, o chamado ‘champignon ou ‘chanterelle’ ganham na cozinha japonesa.
de Paris’ domina 90% do total colhido no Ocidente. O res-
tante divide-se entre espécies antes disponíveis pelo esfor- Carapuçu (Lentinus velutinus) - Variedade de cogumelo co-
ço dos caçadores, como ‘cèpes’ e ‘porcinis’, ‘chanterelles’ e mestível, mas pouco explorado, congênere do shitake.
‘morilles’, ‘mousserons’ (que gerou o inglês “mushroom”) e as
‘amanitas’. Ou as espécies orientais, como o ‘shitake’, o ‘mai- Cardoncello (Pleurotus eryugil) - Mais prezado dos cogu-
take’, o ‘shimeji’ e o finíssimo ‘enokitake’ começaram a dividir melos conhecidos como ‘pleurote’. Ganha esse nome por
a audiência dos cardápios mais finos, a partir dos anos 80. brotar em tufos das bases, raízes expostas e ramos caídos
de cardos. No sul da Itália, é celebrado em outubro com a
Sagra del Fungo Cardoncello.
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obras do chef Alcide Bonton, do mítico Café Anglais. Mesmo Enokitake (Flammulina velutipes) - Variedade delicada de
cultivado e abundante, é uma das espécies silvestres prefe- cogumelo, marcado pela forma de alfinete e a cor branca de
ridas dos caçadores de trufas e cogumelos, principalmente seu chapéu pequeno e pelos cabos longos como agulhas.
na França, onde se distinguem variedades como os cèpes Semelhante ao shimeji, pode ser degustado como entrada,
de Bordeaux e cèpes d´été. compor molho ou perfumar sopas.
À esquerda, polenta com cogumelos, da Vinheria Percussi. À direita, um raro portobello, sugestão do Bistrô Charlô.
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Morille (Morchella edulis / Morchella deliciosa / Morchella
conica). Do latim mauricula, pequena mourisca, provavel-
mente pela cor marrom-escura. Cogumelo esponjoso e de
cabeça ovalóide, desenhada como uma colmeia. É um dos
cogumelos que brotam na primavera, quando pode chegar
fresco às cozinhas. Em todos os casos de sua utilização,
recomenda-se a fervura para que as toxinas de seu estado
natural se dissipem ou se neutralizem.
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Foto: Diego Sobral
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Serviço Completo
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Por Chef Thomas Troisgros, 66 Bistrô Principal
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Sobremesa Por Chef Ricardo Ferracini, do Gatto Rosso
Crostata di Mele
Ingredientes para 4 pessoas Modo de preparo
Recheio Recheio
• 250g de maçãs picadas • Descasque as maçãs, corte-as em cubos
• 14g de passas pequenos e reserve em água gelada.
• 20g de açúcar • Faça um caramelo com o açúcar, adicione
• 12g de manteiga a manteiga e a maçã até ficarem macias.
• 4 pitadas de canela • Junte as passas e a canela, deixe esfriar
e despeje o recheio nas formainhas.
28 EATI N ’OUT
Receitas indicadas por Conceição Neroni
Bacalhau de gravata
Fotos: Ricardo Bhering
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Spaghetti con la mollica di pane
Chef Silvia Percussi, Vinheria Percussi
Simplicidade na fórmula, mas com apuro no preparo e cuidado na escolha dos ingredientes mar-
cam essa receita de espaguete com uma variedade bem especial de crouton de pão. Tudo isso,
remete à chef Silvia Percussi, às memórias de sua família e da cozinha de sua mãe. “É uma culiná-
ria de muita tradição, bem ao estilo do comfort food – e nisso os italianos são imbatíveis”, comenta
a proprietária da Vinheria Percussi. O cuidado no preparo começa com a seleção do pão, sempre
o artesanal italiano, de crosta dura e massa densa. “Tem de ser adormecido e picado à mão, sem
pulverizar muito”, explica Silvia. “Gosto também da pimenta-calabresa seca, que é fácil de ser
encontrada”. E arremata com o segredo sobre o refogado: “começo a prepará-lo com o azeite frio,
para que frite aos poucos e deixe o interior macio”.
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Coffee break
Por Camila Farani, especial para Eatin’Out
Nos
embalos
do café
No filme “Os embalos de sábado à noite”, o impa-
gável Tony Manero, personagem de John Travol-
ta, tenta impressionar a moça que o acompanha
e pede um hambúrguer e... um café. Dá certo,
isso? Por que não? Com o desenvolvimento das
misturas de grãos e com a elevação do paladar
do café a níveis gastronômicos, surgem muitas
oportunidades de se harmonizar o café. No cam-
po das bebidas, já são famosos os casamentos
de espressos finos com conhaques, uísques
envelhecidos e até destilados brancos, como a
grappa italiana e a bagaceira portuguesa – em
Lisboa, a mistura dos dois é conhecida como café
cortado. No campo dos vinhos, há quem preze
a degustação de uma boa demitasse com por-
tos e outros requintes de fórmula similar, como o
banyuls, um clássico do sul da França. Já no pra-
to, as harmonizações do café com itens adocica-
dos não são segredo. É o caso do bolo de broa,
que contribuiu com a construção do caráter do
mineiro, do muffin e dos cupcakes, que ajudou a
bebida a rivalizar com o chá inglês, são os biscoi-
tos, imortalizados pelos petits-fours franceses. E
há um clássico do refinamento, que é o café fina-
mente passado e servido com chocolate, que os
britânicos evoluíram ao dar o toque da hortelã e
criar o after-eight. Dependendo do Corpo, intensi-
dade e paladar são determinantes para fazer com
que o café acompanhe as diferentes fórmulas à
base de farinha, dos waffles e crepes ou das con-
feitarias vienenses ao bom pão de leite. Nesse úl-
timo caso, abstraído o recheio do hambúrguer, o
sanduíche vem a ser uma boa companhia para o
café, o que nos remete à questão inicial: quem di-
ria, John Travolta parece ter acertado em cheio.
34 EATI N ’OUT
Sem fronteiras
Chefes mostram orgulho e ta-
lento ao revelar sabores regio-
nais e levar um Brasil ainda
desconhecido à mesa..
Por Pedro de Mello e Souza / Fotos Carolina Amorim
EATI N ’OUT 35
Ação e degustação Entre cada prato, Rita Medeiros, do Sorbê, apresentou um
sorbet diferente para sustentar a diversidade do evento,
Teoria e prática estiveram à prova durante o Terra Madre. com direito a sabores como o cajuzinho do cerrado, a cajá-
Literalmente, aliás, como demonstraram os laboratórios de manga, o murici, a cagaita e a jabuticaba.
gosto e de análise sensorial e os workshops de gastrono-
mia do evento. Em um deles, o chef Francisco Ansiliero, Fortalezas
do restaurante brasiliense Dom Francisco passou à platéia
as dicas e técnicas de como aproveitar o paladar de três A solidez das relações diretas entre produtores e consumi-
ícones do cerrado: o pequi, a cagaita e o murici. “Nosso dores está entre os pontos mais promissores da atuação do
objetivo é de indentificar e divulgar esses novos paladares Slow Food. Mas uma ação bem mais prática está mostrando
através daquilo que proporcionam de melhor: os molhos”, resultados concretos. Batizada de “Fortalezas”, uma série
explicou Ansiliero, um dos decanos da gastronomia brasi- de 118 projetos vem salvando dezenas de especialidades
leira. De fato, a audiência estranhou o paladar marcante tradicionais, e das comunidades que as cultivam em todo o
das três frutas, suas consistências que iam do terroso ao mundo, da extinção iminente.
cremoso e seus aromas, que lembravam o caju, o pêssego No Brasil, é o caso do umbu, do arroz vermelho do Vale do
e a acerola, respectivamente. Piancó, do palmito de juçara e do guaraná nativo dos Sa-
Mas o grande momento gastronômico ficou por conta do teré-Mawé. São tutelas regionais que levam os produto-
jantar – um banquete para convidados, que reuniu os no- res de volta ao mercado, excluídos que eram por descon-
mes mais badalados das cozinhas em torno do Planalto, fianças, preconceitos e os rigores das legislações. “São
como William Chen Yen, do restaurante Babel, que apre- produtos resistentes, mas que estavam desaparecendo”,
sentou um talharim de pupunha com castanha-do-pará; observou a produtora Maria Araújo Ferrer. Mostrando
Rosario Tressier, da Trattoria da Rosario, que trouxe um uma erudição extraordinária, ela desfilou os resultados
medalhão de jacaré com purê de mandioquinha; Alice das pesquisas da Universidade de Brasília, que mostram
Mesquita, do Alice Brasserie, que sugeriu um baião-de- as vantagens do óleo de pequi como tônico e cicatrizante
dois com licuri e queijo de coalho; de Dudu Camargo, da – e fechou sua performance ao declamar uma saborosa
casa do mesmo nome, com seu risoto de costela, e de trama entre, deus, o diabo e o umbu, com direito a versos
Mara Alcamim, do Zuu a.Z d.Z, além do próprio Francisco do poeta Patativa do Assaré.
Ansiliero, com seu frango com pequi. Slow Food é isso aí.
Carlo Petrini, presidente da Slow Food (acima); caju seco (abaixo); amêndoa de licuri (à direita).
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Cocktail
Arpoador
Fotos: Ricardo Bhering
Ingredientes
50ml de Vodka Cîroc
10ml de Grand Manier
10ml de suco de gengibre
½ maracujá
4 folhas de hortelã
1 cereja ao marraschino
Modo de preparo
Bater os ingredientes na coqueteleira com gelo.
Servir na taça de martini.
Arrematar com a cereja no fundo.
38 EATI N ’OUT
Drinkin’Out
Por Pedro de Mello e Souza
Couro neles
O Johnnie Walker Blue Label, o mais raro blend da família Walker, se uniu a um dos designers de artigos de couro mais co-
biçados da Europa para lançar uma exclusiva coleção de malas de viagem para homens. O ponto alto da coleção é a mala
“Weekender”, produzida em série especial de apenas 350 malas para todo o mundo, sendo cinco para o Brasil. Em couro
ultramacio de novilho e forrada em tecido 100% algodão, ela conta com um charme extra: um compartimento destacável
que o designer criou especialmente para carregar uma garrafa de Johnnie Walker Blue Label. Disponível em casas finas
de São Paulo, como o Empório Santa Maria, ou pelo SAC da Diageo (0800704-7200), cada exemplar sai pela bagatela de
R$ 3.200 mil, com direito a garrafa personalizada.
Fotos: divulgação
Vertical Limit
Em Nova York, já está esgotado. Somente em
Paris – ou diretamente com a matriz da Veu-
ve Clicquot – é possível adquirir uma das mais
exclusivas peças da história contemporânea da
champanhe. É a Vertical Limit, uma criação da
Porsche Design feita sob encomenda para a
casa francesa. Trata-se de uma adega clima-
tizada, com gaveteiros específicos para cada
um dos doze exemplares de raros millesimés
que o pacote inclui (inclusive safras como as de
1962 e 1975), em formato magnum. Somente
350 unidades foram produzidas e as unidades
restantes podem ser arrematadas pela bagate-
la de 55 mil euros. Quem quiser conhecer uma
dessas de perto basta ir ao restaurante Mr Lam
no Rio de Janeiro.
40 EATI N ’OUT
Foto: Elie David
Vocação
Elie, filho de César Hasky, dono do Ten Kai, levou a vocação do pai
a sério: cursou gastronomia, passou um séjour na Itália e tem pla-
nos de abrir seu próprio restaurante. Durante as férias, mostra os
seus dotes culinários na nova carta de drinques da casa, com duas
receitas próprias: o shucoco e o budoshisso. O primeiro, uma mis-
tura de umeshu (licor de ameixa) com água de coco. No arremate,
folhas de hortelã e um umeboshi, conserva de ameixa em sal. No
segundo, uma elegante combinação de espumante brût, suco de
uva e folhinhas de shiso, erva nipônica, da família da hortelã.
Bräun Bräun
Até o fim de 2009, praticamente todas as cidades serranas mais importantes
tinham as suas cervejas próprias. Agora, chegou a vez de Nova Friburgo, que,
consistente com suas origens alemãs, acaba de ganhar a Bräun Bräun Bier.
Produzida, artesanalmente, sob os rigores da Reinhesgebot - lei de pureza da
Baviera -, é uma cerveja do tipo pilsen, categoria premium, de baixa fermen-
tação, médio teor alcoólico (4,5%), corpo leve e aromas de lúpulo. Até então
restrita a hotéis e bares da região, a distribuição deve chegar a São Paulo e Rio
de Janeiro a partir do segundo trimestre, como garante um dos responsáveis
pela marca, o empresário Jorge Brauniger
Paris 6
Periquita ou joão santarém? Bastardo espanhol ou tinta negra mole? Ou seria, simples-
mente, castelão-francês? Os autores não chegam a um acordo sobre os vários sinônimos
que a uva castelão ganha dos vinhedos portugueses. Mas por trás de uma uva difícil de se
definir está um vinho fácil de se beber, simples de se harmonizar, adorável de se degustar.
Apostando em todos esses atributos, o restaurante Paris 6 lançou seu tinto de marca pró-
pria, que acaba de chegar da vinícola escolhida no Ribatejo. No corte, 85% de castelão e
15 de outras castas. A vibração e a juventude da safra de 2007 e o intenso aroma de amo-
ras marcam esse vinho exclusivo, que já está disponível na carta de vinhos da casa.
Sparkling teas
O chá está na moda. Os champanhas também. O casamento tão
esperado entre ambos foi realizado com pompa e circunstância no
Lobby Bar, do Emiliano, em São Paulo. E já deu cria: os sparkling
teas, uma linha de três drinques que reúne os melhores itens das
duas bebidas. É o caso do chá- verde, com as propriedades antio-
xidantes que imprime ao sparkling green tea;, do chá sul-africano,
sem teína, do sparkling rooitea orange; e do chá ayurvédico, que
confere tons de gengibre, folhas de amoreira, melissa, salsinha,
coentro, chili e cardamomo ao sparkling kapha tea.
Emiliano
Rua Oscar Freire 384, Jardins, São Paulo, tel.:(11) 3068-4390
EATI N ’OUT 41
Penso, logo, degusto: terra, terroir e outras harmonias
A preocupação procede. Em plena tempora- elaborado a quatro mãos pelo sommelier Dio-
da de choques climáticos, a revista Decanter nísio Chaves e o chef Luca Gozzani, confia no
anunciou os investimentos urgentes de produ- cordeiro para sustentar o vinho tinto mais no-
tores de vinhos do Alto Ádige, que deverão mu- bre, no torteloni de vitela (talvez o melhor prato
dar a maior parte de seus vinhedos para uma da casa) para o branco e o mil-folhas para a
parte superior da encosta daquele trecho pré- sobremesa. Foi assim na degustação em que
alpino. “O clima anda mesmo meio louco, mas foram apresentados os chilenos Três Palazos,
as condições de lá são mais sensíveis do que pelo produtor Camilo Rahmer, e na apresenta-
as nossas”, declarou Diego Cusumano, jovem ção da Viu Manent, em que a importadora gaú-
proprietário da vinícola siciliana Cusumano, de cha Hannover trouxe José Miguel Viu Bottini,
Corleone (a própria, de Don Vito), que conduz para apresentar alguns de seus rótulos mais
ao lado do irmão Alberto. Poderoso chefão da aguardados, o Secreto e o Viu 1, que obteve
empresa, ele esteve no Brasil e apresentou a 92 pontos de Robert Parker. E foi assim, tam-
nova linha de seus vinhos, varietais de uvas bém, na vinda de Viviana Echeverría, que,
originais da região (nero d’avola, insolia, catar- mesmo horas depois de o terremoto que sa-
rato) ou francesas (syrah, merlot, chardonnay), cudiu o Chile – e o mundo do vinho – manteve
de incrível adaptação na região. A apresenta- a agenda e trouxe dois lançamentos finos: o
ção, na Expand de Ipanema, serviu também Founders Selection e o Limited Edition. “Deu
como anúncio da nova importadora da marca, pena quando os funcionários viram, espalhado
a recém-inaugurada Inovini, braço de vinhos fi- pelo chão, um vinho pelo qual esmeraram-se
nos da Aurora. O cordeiro que Janine Sad ser- tanto para cultivar, colher, extrair e envelhe-
viu para harmonizar com o tinto Benuara estava cer”, contou a executiva. “Mas as perdas em
de estremecer. A combinação confirmou a im- todo o país foram de 10%, o que não é muito
portância de um cardápio próprio para degus- – o tremor foi forte, mas não nos abalou”, com-
tações, como o que foi estabelecido no Fasano pletou. Do Alto Ádige ao Chile, dois espisódios
Al Mare. Com pequenas variações, o cardápio da luta entre a terra e o terroir.
By Romero
As celebrações dos 150 anos de existência da marca Campari ganharam cores brasileiras. As
do artista plástico Romero Britto, para ser mais exato. Ele foi um dos quatro artistas plásticos
internacionais escolhidos pela empresa italiana para produzir uma série de rótulos que estam-
parão as edições especiais da bebida vermelha. “O primeiro traço que me veio à cabeça foi um
coração vermelho”, comenta Romero. “Logo depois pensei nos elementos essenciais da marca
e nos valores que ela nos transmite, como paixão, modernidade e a capacidade de se reinventar
ao longo dos anos”, finaliza o artista. Tobias Rehberger, Avaf e Vanessa Beecroft foram os outros
nomes escolhidos para as novas estampas, que já estão disponíveis desde abril.
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EATI N ’OUT 43
Viagem
O copo
do mundo
é nosso
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Uma seleção dos vinhos sul-africanos no Brasil
Por Pedro de Mello e Souza :: Fotos: divulgação
Franschoek, Paarl, Stellenbosch e Berrydale. No ano da Copa do Mundo, na África do Sul, esta poderia ser
a linha de ataque da seleção do país-sede. E é de fato, afirmam os fanáticos, não os dos gramados, mas os
dos vinhedos. Quase impronunciáveis, as quatro denominações enchem a boca dos apreciadores dos novos
vinhos sul-africanos: são as regiões pelos quais o país vem se destacando no mundo dos enófilos, inclusive
o Brasil.
Vinho africano?, pergunta o leigo assustado. Pois sim, respondem os autores, que ressaltam os três sécu-
los e meio de experiências dos produtores daquela área, que culinam, hoje, no brilho de cortes à base de
cabernet franc, shiraz e pinotage, entre os tintos, e de sauvignon bland, entre os brandos, estes, notáveis.
A decana Jancis Robinson destaca o sucesso que o vinho doce da região de Constantia fazia entre os aris-
tocratas europeus. Em seu livro Wine Bible, a crítica Karen MacNeill ressalta a comparação que se fazia na
época entre este vinho e o mais fino dos tokaji húngaros.
Só jogão
Mas tudo isso se deve aos terroirs que proporcionam os arredores da Cidade do Cabo, uma das sedes da
Copa do Mundo. Curiosamente, os holandeses, ingleses e franceses, que lá jogarão, foram decisivos para o
desenvolvimento do vinho na área, graças, em parte, ao clima mediterrãneo da região. Os colonos vindos da
Holanda e os huguenotes, foragidos da perseguição de uma França em plena revolução, foram os primeiros
a levar uvas europeias para aquelas paragens. Teriam sido mudas de chinin blanc (que se tornou o steen
local) e muscadelle ou ainda de riesling e sémillon (localmente conhecido como groendruif), como nos conta
Alex Lichine em seu monumental “Encyclopédie des vins et des alcools”’.
E, finalmente, coube aos ingleses o esforço de consumi-los e formar o seu primeiro e fundamental mercado.
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Stellenbosch: vinhedos em flor e paisagem da vinícola
As identidades
A maioria dos vinhos medalhados da África do Sul vem dos arredores de Stellenbosch, uma pe-
quena comunidade a minutos da Cidade do Cabo. Hoje famosa por sua universidade, a denomi-
nação tornou-se referência por congregar os grandes nomes da produção independente do país,
que sempre esteve sob o jugo de imensas cooperativas ao longo dos séculos XIX e XX. Com o
fim dos embargos, após a queda do regime do ´apartheid”, em 1991, o investimento em qualidade
passou de crescente e a mandatório, especialmente quando abriu-se aos sul-africanos o mercado
dos Estados Unidos.
Coube, também, à região o florescimento de uma casta privativa de seus vinhedos, a pinota-
ge. Criada a partir do cruzamento das uvas francesas cinsault (que ali tornou-se “hermitage”)
e pinot noir, é um vinho especialmente apreciado nas ‘braai’, versões sul-africanas do nosso
churrasco ao ar livre.
Se a nossa seleção ainda não chegou à África do Sul, a deles já está aqui.
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Especial
A nova da
Panasonic
Ecologia, elegância e tecnologia chegam ao Brasil com o inédito
refrigerador Frost Free Multiportas.
A Panasonic entrou no mercado de refrigeradores de forma defi-
nitiva e inteligente. Presente desde Outubro de 2009 no mercado
brasileiro, a marca apresenta um produto diferenciado, até então
inédito no Brasil, que se destaca tanto pela elegância do design
como também por uma série de inovações tecnológicas.
Entre essas inovações estão a tecnologia Inverter, que reduz o
consumo de energia e os ruídos, o sistema Multiportas, que evita
que se abra todo o refrigerador sem necessidade, e um sistema
antifungos que preserva os alimentos por mais tempo. Todas elas
seguem o conceito Eco Ideas, concebido pela Panasonic dentro
do compromisso da marca com o meio ambiente.
A tecnologia Multiportas é um sistema que uniu a funcionali-
dade, o design e a conservação de energia, com uma serie de
portas próprias para dar ao usuário acesso ao compartimento
que deseja sem que o refrigerador seja inteiramente aberto.
É o caso dos compartimentos destinados a usos freqüentes
como garrafas de água, usos ocasionais como cervejas e re-
frigerantes em lata ou a gaveta de vegetais, que é indepen-
dente e de fácil acesso.
Diplomado
restaurante sob a chancela da entidade. E com tempo
e consistência suficientes para tanto, como mostra seu
empreendimento mais recente – quem sabe um futuro
membro da Academmia -, o Clube Gourmet, no Cen-
tro do Rio, onde sugere releituras diárias de clássicos
como o romeu e julieta (na foto de Ana Branco, com a
pura goiabada cascão e sorvete de queijo) e pequenas
surpresas como a sopa de abóbora com peras. Na en-
trada da casa, uma adega que valeu a Torres conse-
cutivas inclusões na lista anual “Worlds Wine Friendly
Restaurants”, da revista Wine Spectator.
Foto: Renato Dabinger Filho
Os escargots andavam meio devagar. Mas vieram
agilmente para o Rio e chegaram junto dos quitu-
tes do Alameda, medalhado restaurante de Araras,
que chega ao bairro de Botafogo e ocupa, desde
março, o casarão que abrigou o antigo Carême. À
Escargots
frente do restaurante, o casal Otton Junqueira e
Sílvia Melo, donos das receitas exclusivas com a
iguaria. O projeto é do arquiteto Ricardo Thibau e
a iluminação, de Maneco Quinderé. A cozinha está
reforçada com a presença da pâtissière Clarisse
Barreiro Grise, que já passou por cozinhas como
Carlota e Le Pré Catelan e graduou-se, durante um
ano, na École Lenôtre, na França.
Foto: Divulgação
52 EATI N ’OUT
Foto: Mauro Holanda
Em termos de especialidades nordestinas, se o Rio
de Janeiro tem a Feira de São Cristóvão, São Paulo
tem a Mooca, graças ao Bar do Melo. São petiscos
Brasiliana
como tapioca de carne seca com requeijão, a gene-
rosa porção servida na grelha de carne seca desfiada
com mandioca frita e, já entre os pratos principais,
o baião de dois e o barquinho (foto), que traz arroz
branco, feijão de corda, carne de sol e mandioca cozi-
da. Na carta de bebidas, uma seleção de caipirinhas
de sabores criativos, da banana com canela ao limão
com sorvete, além da de café, preparado com grãos
torrados da bebida.
Rua Madre de Deus 1176, Mooca
Telefone: (11) 2601-3505
Reprodução
Diz a história que os espanhóis descobriram as Amé-
Foto: Mafra
EATI N ’OUT 53
Crônica
Por Claudio Mello e Souza
Comer bem,
um caso de
polícia
Quando me interessei de novo por literatura policial, vi que não poderia apenas retomar a leitura
do ponto em que a interrompera, anos antes.Teria de começar de novo. Isso significaria voltar, ao
menos em espírito, à minha adolescência, fácil de dizer, impossível de fazer. Não podendo recom-
por a juventude, recompus a biblioteca, desfolhada pelo tempo.
Com muito método e algum vagar. A calma, afinal, é a pressa perfeita. Retornei a Poe e, com
prazer maior, a Chesterton. Revisitei Conan Doyle, me desencantei de Holmes e do elementar
Watson, tornei a Edgar Wallace sem entusiasmo, voltei a tomar os sucessivos drinques de que se
alimentava o herói blasé de Dashiell Hammett, enjoei de Hercule Poirot e de suas bizarrices, até
deparar com o rabugento comissário Jules Maigret, criação genial de Georges Simenon.
O que mais me atrai em Maigret não é a sua capacidade de destrinchar mistérios relativamente
fáceis, mas o seu tédio do heroísmo, o seu gosto pelo chope fartamente tomado numa varanda de
bar, na Place Dauphine, e o seu desgosto em ter de sorver péssimos vinhos brancos, no interior.
Constatei então que, entre os autores modernos, boa parte deles dava aos seus heróis ou heroínas
o requinte do bem comer. Todos eles têm o seu lado chef. Desde o obeso Nero Wolfe, imaginado
por Rex Stout, até a delgada e bela Kay Scarpetta, criada à sua imagem e semelhança por Patrí-
cia Cornwell. Médica-legista, Kay prepara massas e molhos requintados, depois de longamente
dissecar um cadáver. E tem sempre um esplêndido Chianti (se é que isso existe) para ornamentar
a festa. Não difere muito do comissário Montalbalno, de Andrea Camilleri, que fica mais arguto
depois de um antepasto de polvinhos, seguido de quatro percas-do-mar.
Foi com Morag Joss e o seu recente e fascinante Música fúnebre, que vi, perfeitamente redivivas
e harmonizadas, as tendências clássicas e contemporâneas do romance policial. Desde o dom
dedutivo do Padre Brown, de Chesterton, até o mistério bem urdido, que fez o sucesso e o encanto
de P. D. James, embora James dê pouca importância aos estômagos de seus personagens.
Por que todos são chefs? Por uma razão simples: quem está sempre convivendo com a morte tem
mesmo de se compensar com a celebração da vida. Como qualquer um de nós deve ou deveria
fazer. Morag Joss nos explica que essas pessoas de ficção, especialistas em crimes e caçarolas,
são do tipo que “consideram quinze minutos de ponderação diante de oito tipos diferentes de alface
um tempo bem gasto”. Que inveja!
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Trinity . All about you forever
www.cartier.com
BOUTIQUE CARTIER - Rua Haddock Lobo, 1567 • São Paulo - Tel. (11) 3081 0051