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ANTROPOLOGIA – Bella Redação

O QUE É ANTROPOLOGIA
• A antropologia é a ciência que tem como objeto de estudo o homem, a humanidade e as características de sua
evolução física (antropologia biológica), social (antropologia social) ou cultural (antropologia cultural).
• Esta ciência se constituiu como disciplina científica em meados do século XIX a partir das descobertas de Darwin
e sua teoria evolucionista quando se concentrava na elaboração de teorias sobre a evolução do homem, da
sociedade e cultura.
Obs: A palavra Antropologia vem do grego “Antropos” (humano ou homem) + “Logos” (pensamento ou razão).

• O homem deixou de ser fruto da criação divina, e os cientistas passaram a procurar sua origem (o elo perdido), que
ligaria o homem moderno a seus ancestrais hominídeos.
• Dessa forma, o estudo sobre o homem foi ganhando forma e os cientistas começaram a se interessar pelos grupos
humanos primitivos e seus costumes, cultura e características.
• Passaram a ver o homem como uma criação da Natureza e não mais como uma criação de Deus.
• A antropologia, primeiramente, foi considerada como a história natural e física do homem e seu processo
evolutivo.
• Essa concepção restringiu seu campo de estudo às características do homem físico, o que limitou os estudos
antropológicos por um tempo, privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações do homem fóssil e
do homem vivo.

A antropologia pode ser subdividida.


• Suas principais áreas são: a Antropologia Física ou Biológica, que estuda os aspectos genéticos e biológicos do
homem; a Antropologia Social, que analisa o comportamento do homem em sociedade, a organização social e
política, as relações sociais e instituições sociais; e a Antropologia Cultural, que investiga as culturas no tempo e
espaço, envolvendo mitos, costumes, valores, crenças, religião, língua, etc.
• A antropologia cultural pode se subdividir ainda em Etnografia, Etnologia, Arqueologia e Linguística.
• Cada uma destas áreas abriga diversas correntes de pensamento.
• Como fontes de pesquisa, os antropólogos utilizam os livros, imagens, objetos, depoimentos, entre outros.
• As observações, através da vivência entre os povos ou comunidades estudadas também são comuns e fornecem
informações ao antropólogo.
• Os conhecimentos adquiridos através da Antropologia podem ser aplicados por governos para facilitar o contato
com povos específicos (indígenas, quilombolas, etc.).
• É a chamada “Antropologia Aplicada”.
• A Antropologia se preocupa em detalhar os seres humanos que compõem as sociedades humanas, seja em seus
aspectos físicos, sua relação com a natureza, seja na sua especificidade cultural.
• A antropologia é uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, a busca de resposta para se entender o
que é o homem a partir do “outro”.
• Através dela se busca alargar as possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que torna os homens seres
singulares.

ÁREAS DA ANTROPOLOGIA
Antropologia Biológica ou Física
• A Antropologia Biológica ou Física é uma ciência natural e se ocupa da análise de material colhido em
escavações ou sítios arqueológicos.
• Está relacionada com a Arqueologia e Anatomia.
• Este ramo também observa o comportamento dos macacos e símios e as diferenças aparentes entre os seres
humanos (pele, cor dos olhos, estatura, etc.).
• Estes antropólogos tentam responder perguntas sobre a origem humana e seu desenvolvimento evolutivo.
• Alguns autores subdividem a Antropologia Biológica, criando o campo da Arqueologia.

Antropologia Aplicada
• Baseada nas pesquisas realizadas pelos antropólogos, a antropologia aplicada assessora os governos e outras
instituições na formulação e implementação de políticas para grupos específicos de populações.
• Em certa medida, ela pode ajudar governos na formulação de políticas sociais, educacionais e econômicas para
minorias étnicas em seu território.

Antropologia Social ou Cultural


• É uma ciência social (como sociologia e psicologia) que estuda o desenvolvimento da sociedade e da cultura
humana.
• Estuda as características culturais dos povos (cultura é tida como manifestação dos hábitos, rotinas ou costumes
de um povo), e a evolução de seus costumes, crenças, religiões, relacionamento familiar, etc.
• Engloba áreas como a linguística, arqueologia, etnologia e etnografia.
• A linguagem é vista como um reflexo do desenvolvimento cultural, mostrando como as pessoas se agrupam,
pensam e planejam.
• Alguns autores distinguem a linguística da Antropologia Social.
Obs: Etnologia e Etnografia: são termos associados à Antropologia. De acordo com Claude Lévi-Strauss, a Etnologia e
Etnografia não constituem disciplinas diferentes da antropologia, são apenas concepções ou níveis diferentes do
mesmo tipo de estudo, não devendo estar dissociadas. Etnografia: corresponde aos primeiros estágios da pesquisa,
englobando o trabalho de campo e a observação. Etnologia: um nível mais aprofundado, onde são feitas conclusões
mais extensas, que não seriam possíveis em um primeiro momento (síntese). Logo, a Etnografia é o passo preliminar
à Etnologia. A Antropologia seria o segundo e último passo da síntese, onde são abrangidas as conclusões da
Etnografia e Etnologia.

HISTÓRIA RESUMIDA DA ANTROPOLOGIA


• Desde a Antiguidade Clássica existe a reflexão sobre as sociedades, o homem e seu comportamento social,
através do pensamento de grandes filósofos, com destaque para o grego Heródoto, considerado o pai da História
e da Antropologia.
• Muitos autores concordam que a antropologia se definiu enquanto disciplina depois da Revolução Iluminista.
• Com o Movimento Iluminista no século XVIII, a Antropologia se desenvolveu como ciência social, através do
aprimoramento de métodos e classificações para a raça humana.
• Nesta época, o relato de viajantes, comerciantes e missionários sobre os hábitos dos nativos das novas terras
descobertas e os debates sobre a condição humana, foram importantes para o desenvolvimento dos estudos
antropológicos.
• Homero, Hesíodo e os filósofos pré-socráticos já se questionavam a respeito do impacto das relações sociais
sobre o comportamento humano.
• Os gregos, assim como os chineses e romanos, deixaram inúmeros registros e relatos sobre cultura diferentes
das suas.
• A Antropologia nasceu, por se dizer, nestes textos.
Obs: Em 1749, Georges-Louis Leclerc foi o primeiro especialista a considerar a antropologia como uma disciplina
independente.

• Entre os gregos que contribuíram para a Antropologia estão Aristóteles, com obras sobre as cidades gregas, e
Xenofonte, com obras a respeito da Índia.
• Entre os romanos, quem se destaca é o poeta Lucrécio, que tentou investigar as origens da religião e das artes.
• Tácito, outro romano, analisou a vida das tribos germânicas, se baseando nos relatos de soldados e viajantes.
• O saber antropológico participou das discussões da Filosofia ao longo dos séculos, embora ainda não existisse
como disciplina específica.
• Na Idade Média, muitos escritos contribuíram para a formação de um pensamento racional, aplicado ao estudo da
experiência humana, como fez o francês Jean Bodin.
• Com o Iluminismo, a Antropologia foi estruturada em dois núcleos analíticos: a Antropologia Biológica ou Física e a
Antropologia Cultural.
• Foi a partir do século XVIII que a Antropologia adquire a categoria de ciência, partindo das classificações de Carlos
Lineu e tendo como objeto a análise das “raças humanas”.
• Nesta época haviam textos que descreviam as terras e o “povos descobertos”, como por exemplo, a carta de Pero
Vaz de Caminha sobre os indígenas brasileiros.
• Já no século XIX, por volta de 1840, Boucher de Perthes utiliza o termo homem pré-histórico para discutir como
seria sua vida diária, a partir de achados arqueológicos.
• Charles Darwin, com a publicação de dois livros, A Origem das Espécies (1859) e A Descendência do Homem
(1871), inicia a sistematização da teoria evolucionista.
• Nasce a Antropologia Biológica ou Física.

Antropologia Evolucionista
• A antropologia do século XIX foi marcada pela discussão evolucionista e considerava a sociedade europeia da
época como o ápice de um processo evolucionário, e as sociedades aborígines eram tidas como exemplares “mais
primitivos”.
• É uma visão que usava o conceito de “civilização” para classificar, julgar e depois justificar o domínio de outros
povos.
• Esta visão de mundo a partir do conceito civilizacional de superior, recebe o nome de etnocentrismo.
• As primeiras grandes obras da antropologia, com fundamento nestas concepções, consideravam, por exemplo, o
indígena das sociedades não europeias como o antecessor do homem civilizado.
• Todas as sociedades progrediram em ritmos diferentes, seguindo uma linha evolutiva.
• Mas nem todos os antropólogos da época pensam da mesma maneira.

Antropologia Difusionista
• Esta antropologia reagiu ao evolucionismo e valorizava a compreensão natural da cultura, em termos de origem
e extensão.
• Os difusionistas acreditavam que o empréstimo cultural seria um mecanismo fundamental de evolução cultural.
• Acreditavam também que as diferenças e semelhanças culturais eram consequência da tendência humana para
imitar e absorver traços culturais.
• Com Émile Durkheim começam os fenômenos sociais a serem definidos como objetos de investigação
sócioantropológica.
• No final do século XIX, juntamente com Marcel Mauss, se inicia a chamada “linhagem francesa”.

ANTROPOLOGIA – SÉCULO XX
• Em 1927, a Antropologia Francesa, centrada na denominada “Etnologia”, se torna disciplina de ensino no
Institut d’Ethnologie du Musée de l’Homme, em Paris.
• A disciplina se vincula ao Museu de História Natural, no início, porque se considerava a antropologia como uma
subdisciplina da história natural.
• Franz Boas, nos Estados Unidos, desenvolve a ideia de que cada cultura tem uma história particular e
considerava que a difusão de traços culturais acontecia em toda parte.
• É o início do relativismo cultural, e a antropologia estende a investigação ao trabalho de campo.
• Segundo Boas, para compreender a cultura é preciso reconstruir sua própria história.
• Surge o culturalismo.
• Deste movimento surge depois a escola antropológica da Cultura e Personalidade.
• Paralelamente a estes movimentos, na Inglaterra, nasce o funcionalismo, que enfatiza o trabalho de campo
(observação participante).
• Para sistematizar o conhecimento sobre uma cultura é preciso apreendê-la na sua totalidade.
• Surge também a etnografia (método para coleta de dados).

Antropologia Funcionalista
• O funcionalismo se inspirava na obra de Durkheim e traçava um paralelo entre as sociedades humanas e os
organismos biológicos, porque em ambos os casos a harmonia dependeria da interdependência funcional das
partes.
• Nas relações sociais, as funções eram analisadas como obrigações.
• A função sustentaria a estrutura social, dentro de um sistema de relações sociais.

Antropologia Estrutural
• Nasce na década de 40, e seu grande teórico é Claude Lévi-Strauss.
• A antropologia estrutural centraliza o debate na ideia de que existem regras estruturantes das culturas na
mente humana, e assume que estas regras constroem pares de oposição para organizar o sentido.
• Para a antropologia estrutural, as culturas se definem como sistemas de signos partilhados e estruturados por
princípios que estabelecem o funcionamento do intelecto.

Particularismo Histórico
• Também conhecida como Culturalismo.
• Esta escola é defendida por Franz Boas, e rejeita o evolucionismo.
• Para esta corrente, cada cultura tem uma história particular e a difusão cultural se processa em várias direções.
• É criado o conceito de relativismo cultural.

Antropologia Interpretativa
• As ideias do antropólogo Clifford Geertz causaram impacto na segunda metade do século XX.
• É considerado o fundador de uma das vertentes da antropologia contemporânea, a chamada Antropologia
Hermenêutica ou Interpretativa.
• Esta corrente analisa a cultura como hierarquia de significados, pretendendo que a etnografia seja uma
“descrição densa”, de interpretação escrita, cuja análise é possível através de uma inspiração hermenêutica.

Debates Pós-Modernos
• O debate teórico na Antropologia ganha novas dimensões na década de 80.
• Surgiram críticas a todas as escolas, e foram questionados o método e concepções antropológicas.
• Este debate gerou algumas ideias, entre elas, a de que a realidade é sempre interpretada, vista sob uma
perspectiva do autor.
• A antropologia seria então, uma interpretação de interpretações.
• Há uma preocupação com os recursos retóricos presentes no modelo textual das etnografias clássicas e
contemporâneas.
• Há uma politização da relação observador-observado na pesquisa antropológica.

MÉTODOS DA ANTROPOLOGIA
Os métodos, segundo Marconi, “permitem ao antropólogo observar e classificar, os fenômenos, analisar e
interpretar os dados obtidos pela pesquisa, capacitando-o a estabelecer correlações e generalizações”.

1 → Método Histórico
• Consiste em investigar eventos do passado, a fim de compreender os modos de vida do presente, que podem
ser explicados a partir da reconstrução da cultura e da observação das mudanças ocorridas ao longo do tempo.
• Nesta análise, a cultura do homem é desvendada.

2 → Método Estatístico
• É um método muito utilizado tanto no campo biológico (verificando as variabilidades das populações) quando
no campo cultural (levantando diversificações nos aspectos culturais).
• Depois de coletados, os dados são reduzidos a termos quantitativos, demonstrados em tabelas, gráficos,
quadros, etc.
• Dessa maneira, pode-se verificar a natureza, a ocorrência e os significados dos fenômenos e das relações entre
eles, tanto de natureza biológica quanto cultural.

3 → Método Etnográfico
• Se refere à análise das sociedades, principalmente das primitivas.
• Mesmo o estudo descritivo requer alguma generalização e comparação implícita ou explícita.
• Seu objetivo é conhecer melhor o estudo de vida ou a cultura específica de determinados grupos.

4 → Método Etnológico ou Comparativo


• Empregado tanto pelos antropólogos físicos quanto pelos culturais.
• Este método permite verificar diferenças e semelhanças apresentadas pelos materiais coletados.
• A antropologia física compara aspectos físicos, populações extintas, através dos fósseis ou grupos humanos
existentes, analisando características anatômicas: cor da pele, dos cabelos, grossura dos lábios, etc.

5 → Método Genealógico
• Permite o estudo do parentesco e suas implicações sociais: estrutura familiar, relacionamento de marido e
mulher, pais e filhos, e demais parentes, informações sobre o dia a dia, a vida cerimonial (casamento, nascimento,
morte), etc.
• Através do levantamento genealógico o pesquisador além de ter a confirmação dos dados observados e poderá
ter novas informações.

6 → Método Funcionalista
• Se refere ao estudo das culturas sob o ponto de vista da função, ou seja, ressalta a funcionalidade de cada
unidade da cultura no contexto cultural global.
ANTROPÓLOGOS FAMOSOS
Veja os principais antropólogos de acordo com as escolas:
• Evolucionistas e difusionistas: James George Frazer, Marvin Harris, Lewis Henry Morgan, Edward Burnett Tylor,
Andrey Korotayev, Leslie White, etc.
• Escola francesa: Roger Bastide, Mary Douglas, Émile Durkheim, Richard Hertz, Marcel Mauss, Paul Rivet, Henry
Hubert, etc.
• Escola britânica (estrutural-funcionalismo): Raymond Firth, Meyer Fortes, Max Gluckmann, Bronislaw Malinowski,
etc.
• Culturalistas: Franz Boas
• Escola americana (cultura e personalidade): Ruth Benedict, Godfrey Lienhardt, Raph Linton, Margaret Mead.
• Antropologia marxista: Maurice Godelier, Claude Meillassoux, John Murra.
• Estruturalistas e pós-estruturalistas: Pierre Clastres, Philipe Descola, Louis Dumont, Claude Lévi-Strauss, Marshall
Sahlins, Victor Turner, etc.
• Interpretativistas e pós-interpretativistas (ou pós-modernos): James Clifford, Vicent Crapanzano, Clifford Geertz,
Adam Kuper, George Marcus, Stephan Tyler, etc.
• Antropólogos brasileiros: Alba Zaluar, Darcy Ribeiro, Eduardo Viveiros de Castro, Florestan Fernandes, Gilberto
Freyre, Gioconda Mussolini, João Pacheco de Oliveira, Lilia Schwarcz, Luís de Castro Faria, Manuela Carneiro da
Cunha, Maria Andreia Loyola, Maristela de Paula Andrade, Mirian Goldenberg, Rita Amaral, Roberto DaMatta,
Walter Alves Neves, etc.

Veja alguns dos antropólogos que mais se destacaram e suas principais obras:
• Bronislaw Malinowski (1884 – 1942) – Principais obras: Os Argonautas do Pacífico Ocidental (1922), Uma teoria
científica da cultura.
• Franz Boas (1858 -1942) – Principais obras: The mind of primitive man (1911) e General Anthropology (1942).
• Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009) – Principais obras: O pensamento selvagem.

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Evolucionismo cultural: correntes antropológicas do século XIX


O evolucionismo cultural junto com o difusionismo foram correntes
predominantes no final do século XIX que lançaram bases para o
desenvolvimento da antropologia como uma disciplina acadêmica
autônoma.
Em um ambiente teórico confuso com as ideias de poligenia,
racismo científico e criminologia determinista, o evolucionismo e o
difusionismo apresentaram os primeiros discursos coerentes sobre
a humanidade além de estabelecerem uma das primeiras
definições compreensivas de cultura.
Nessas teorias de perspectivas diacrônicas, a cultura seria “em seu
amplo sentido etnográfico, este todo complexo que inclui
conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou quaisquer
outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem como
membro de uma sociedade”. (Tylor, 1871, p.1).
PARTE I: EVOLUCIONISMO

A primeira corrente teórica que propriamente pode ser chamada


de antropológica, o evolucionismo cultural pressupunha uma
unidade psíquica do ser humano. Com esse pressuposto, todos os
povos passariam unilinearmente por estágios de desenvolvimento
sociocultural semelhantes, do mais primitivo modo de vida ao mais
complexo. Desse modo, seria possível conhecer o passado da
humanidade bastando investigar os povos mais “primitivos”.
Essa busca pelos seres humanos mais prístinos levou ao estudo da
origem das instituições – principalmente a religião, a família, a
propriedade e o direito – entre os esses povos “fósseis” como os
arunta da Austrália, por sua suposta simplicidade.
Como pode se inferir dessa visão bem enviesada, a complexidade
tecnológica refletiria uma maior complexidade social. Assim, as
sociedades ocidentais seriam as mais “avançadas”.
Influências:
 Teoria da seleção natural: Darwin publicou seu A Origem das
Espécies em 1859, gerando uma série de monografias
evolucionistas na década seguinte sobre as mais variadas
instituições. Mais tarde, Darwin seria ele próprio influenciado
pelos antropólogos evolucionistas. Em um ciclo reflexivo de
sua teoria, Darwin em A descendência do Homem e Seleção
em relação ao Sexo (1871) utiliza, além das teorias de
Spencer, as propostas de Lubbock, Tylor, Morgan e Max
Müller para explicar a evolução cultural, intelectual e moral a
partir de fatores biológicos. Os estágios de pedestrialização,
bipedalismo, encefalização e desenvolvimento da linguagem
simbólica refletiram em mudanças superorgânicas no ser
humano.
 Historicismo de Vico: desdobramento por fases progressivas
da humanidade por agência humana.
 Progresso intelectual humano: O Marquês de Condorcet
(1743–1794) propôs dez estágios de evolução intelectual e
tecnológica humana. Apesar de seu eurocentrismo, foi
influencial em substanciar o evolucionismo na antropologia.
 Positivismo de Comte: teoria dos estágios progredindo para
uma sociedade racional.
 Darwinismo social e positivismo de Herbert Spencer.
 Escola histórica do Direito de Von Savigny: investigação das
origens das instituições e crítica às teorias contratualistas.
 Método filológico comparativo.
 Investigações sobre religião e etnologia de William Robertson
Smith.
 Unidade psíquica do ser humano: defendida pelo etnógrafo
alemão Adolf Bastian (1826–1905), a teoria sustentava que
todos os povos eram psicologicamente semelhantes. Apesar
de defensor de um evolucionismo multilinear, Bastian
rejeitou os esquemas de estágios e progresso do
evolucionismo cultural. Todavia, a maioria dos evolucionistas
não acreditava que a unidade psíquica resultasse na mesma
capacidade de inteligência. Para eles, os povos ocidentais
seriam os mais avançados.
Fontes de dados:
 Compilação de relatórios de administradores coloniais,
missionários, viajantes, e respostas de questionários como as
Notes and Queries in Anthropology elaborado em 1872 pelo
Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland.
 Análise bibliográfica de textos das civilizações clássicas.
Método: abordagem comparativa sob uma ótica macro-histórica.
Temas:
 Origem de instituições como família, propriedade, estado,
religião, direito e linguagem. Pesquisadores de origem
jurídica enfocaram na origem da sociedade e de suas
instituições, enquanto outros antropólogos se destacaram na
investigação da origem da religião.
 Conceitos de cultura, religião, direito e família: busca de
definições que servissem à comparação entre diferentes
culturas.
 Estágios civilizatórios: paradigmas evolutivo das sociedades
em diferentes estágios.
Autores:
 Johann Jakob Bachofen (1815–1887): jurista suíço, autor do
Direito Matriarcal (1861). Essa tese pressupõe na relação de
maternidade a fonte do comportamento social e cultural
humanos, resultando nas instituições de religião, agricultura,
moral e decoro. Para ele, o ser humano primitivo era
promíscuo e com grande poder por parte das mulheres;
entretanto, a transformação em família patriarcal resultou na
apropriação do poder pelos homens.
 Friedrich Max Müller (1823-1900): Filólogo e estudioso da
religião alemão. Estabeleceu um método comparativo para a
reconstrução do proto-indoeuropeu. Com esse mesmo
método, investigou a gênese institucional da religião,
arguindo que a religião original seria fetichista.
 Henry James Sumner Maine (1822 – 1888): jurista escocês.
Expôs sua tese “do status ao contrato” na monografia
Ancient Law (1861), na qual o status primitivo seria atribuído
pelas relações familiares – que seriam patriarcais e
patrilineais – resultando nas instituições sociais (como o
contrato) a medida em que a família crescia e se tornava a
civilização.
 Numa Denis Fustel de Coulanges (1830–1889): jurista e
arqueólogo francês. Em seu A Cidade Antiga (1864)
argumenta que as instituições surgiram a partir dos cultos
religiosos. Baseado nos clássicos gregos e no direito romano,
afirmava que as lápides, sendo marcas sacras, serviriam
depois para demarcar as propriedades familiares.
 John Lubbock, Barão Avebury (1834–1913): esse aristocrata
inglês, um botanista e antiquário aficionado, propôs vários
estágios pré-históricos, observando os depósitos
estratigráficos. Sua obra Prehistoric Times: As Illustrated by
Ancient Remains and the Customs of Modern Savages (1865)
foi referência em arqueologia por meio século. Também
propôs vários estágios para a origem da religião, desde um
ateísmo primitivo até o monoteísmo. Foi presidente da
Ethnological Society entre 1864 e 1865.
 John Ferguson McLennan (1827 –1881): advogado escocês
que postulou que as hordas primitivas teriam suprido a
carência de membros femininos por meio de raptura e
poliandria, nascendo os vínculos sociais através a exogamia,
termo que aliás ele cunhou junto com endogamia. Suas ideias
eram similares a Bachofen, porém foram desenvolvidas
independentemente e publicadas em Primitive Marriage
(1865). Cunhou o termo e teoria do “totemismo” como meio
de representação social da religiosidade e forma primeva de
religião.
 Lewis Henry Morgan (1818–1881): advogado norte-
americano e um dos pioneiros da pesquisa de campo, além
de enviar questionários para informantes em diversas partes
do globo. Propôs uma terminologia e técnica de estudo do
parentesco, porém inferiu que a complexidade social e
tecnológica acompanhava a terminologia do parentesco.
Assim, dividiu a evolução humana nos estágios de selvageria
(uso de fogo, arco e flecha, cerâmica), barbárie
(domesticação dos animais, agricultura, metalurgia) e
civilização (domínio da escrita, propriedade privada).
 John Wesley Powell (1834 – 1902): geólogo, explorador e
etnógrafo influenciado por Morgan. Cunhou o termo
aculturação para explicar as alterações psicológicas ocorridas
pelo contato entre povos indígenas e os euroamericanos.
 Friederich Engels (1820–1894): em seu A Origem da Família,
da Propriedade Privada e do Estado (1884), Engels baseou-se
em Morgan para defender uma evolução política e
econômica desde um comunismo primitivo e matriarcal até
as civilizações das sociedades de Estado.
 William Graham Sumner (1840-1910): clérigo tornado em
professor de política e sociologia em Yale, propagava um
darwinismo social. Para ele, conforme a sociedade evoluía, os
indivíduos mais aptos deveriam receber as benesses de suas
aptidões. Cunhou vários termos como etnocentrismo, mores
e folkways.
 Edward Burnett Tylor (1832–1917): filho de uma rica família
mercante, sua religião quaker era impedimento ao acesso à
educação superior no Reino Unido. Viajou pelo México e
Caribe e, de suas leituras, elaborou uma teoria análoga a
teoria da evolução de Darwin aplicada à cultura. Para Tylor, a
cultura evolvia-se como um organismo. A prova dessa
evolução seria a existência de resquícios ou survivals, práticas
culturais passadas que continuavam a serem mantidas,
embora suas funções e significados originais já se perderam.
Para Tylor, a religião primitiva seria o animismo. Foi o
primeiro professor permanente de antropologia nomeado em
Oxford.
 Frazer: O ramo de ouroJames George Frazer (1854-1941):
mitólogo e estudioso das religiões, propôs a evolução de
estágios do sistemas de conhecimento: da mágica à religião,
dessa à ciência. Seu livro O Ramo de Ouro (1890) fez uma
comparação exaustiva de vários parâmetros em mitos. Essa
obra influenciou outros antropólogos, como Boas e
Malinowski e deixou uma interessante teoria sobre mágica.
 Robert Ranulph Marett (1866–1943): sucessor de Tylor em
Oxford, esse classista e estudioso da religião, criou o primeiro
programa de diploma em antropologia em 1905. Propunha
uma origem emocional da religião, a qual chamou de
dinamismo, pré-animismo ou animatismo.
Legado:
 Definições técnicas de cultura, animismo, manna, tabu e
totemismo.
 Teoria de que a cultura seria transmitida através das gerações
por meio do aprendizado e não pela genética.
 Influências no pensamento marxista e no feminismo via
Engels.
 Material etnológico interpretado por Durkheim e Mauss
dando origem à vertente funcionalista francesa da sociologia.
 Na sociologia, o evolucionismo cultural influenciou a teoria
de evolucionismo social de Benjamin Kidd e L. T. Hobhouse,
mas que logo dariam espaço a outras abordagens,
especialmente as teorias sociológicas de Durkheim, Weber e
da Escola de Chicago.
 Freud fez interpretações subjetivas de conceitos como totem,
tabu, Kultur e origem das instituições como argumentos para
validar a psicanálise.
Ressurgências: Leslie White e Julian Steward.
PRÓXIMA PARTE: DIFUSIONISMO
OUTRAS CORRENTES ANTROPOLÓGICAS
 Funcionalismo e estrutural-funcionalismo
 Correntes da antropologia americana do início do século XX
 A estruturalismo na antropologia
 A antropologia simbólica e interpretativa

Tipos de antropologia
→ Concepção clássica de antropologia estabelecida a partir dos estudos
europeus do século XIX e XX
 Antropologia biológica ou física: é um estudo da formação do ser
humano em seus aspectos físicos. Os antropólogos dessa vertente
buscam, junto à biologia, determinar quais fatores levaram os seres
humanos a desenvolver determinados atributos físicos em
sociedades específicas. Dessa maneira, se um antropólogo está
estudando uma aldeia indígena que tem características próprias,
ele vai procurar saber quais fatores geográficos e biológicos
levaram aquela tribo a desenvolver as suas características
peculiares.
 Antropologia cultural: é uma vertente mais ampla e busca
compreender como se formaram as culturas dos diferentes grupos
humanos, tomando cultura como um conjunto de hábitos,
costumes, valores, religião, arte, culinária etc.
Lévi-Strauss, o antropólogo que fundou o estruturalismo.[1]

→ Concepção estadunidense de antropologia, subdividida em quatro


campos
 Antropologia biológica ou física: consiste no mesmo estudo de
antropologia biológica ou física da divisão europeia clássica.
 Antropologia cultural: consiste no mesmo estudo de antropologia
cultural da divisão europeia clássica.
 Antropologia linguística: com base nos estudos da linguagem de
uma sociedade, determina as origens daquele povo. Um importante
antropólogo que deu os impulsos para o reconhecimento desse
ramo da antropologia foi o alemão, radicado nos Estados Unidos,
Franz Boas. No fim da primeira metade do século XX, o antropólogo
belga Claude Lévi-Strauss desenvolveu uma teoria que ficou
conhecida como antropologia estruturalista, a qual se baseia na
linguagem para determinar as estruturas similares das pessoas
dentro de uma cultura. Apesar da importância de Boas, é com Lévi-
Strauss que a antropologia passa a identificar na linguagem um
objeto central de estudo.
 Arqueologia: busca compreender a formação do ser humano com
base nos objetos materiais deixados por ele. Nesse sentido, o
arqueólogo busca por armas, utensílios culinários, vestimentas,
escritos e pinturas e utensílios em geral que possam expressar
como os povos antigos viviam, o que permite elaborar teorias sobre
o modo de vida e cultura dos seres humanos no passado.
Saiba também: Diferenças entre o ser humano e os demais animais
Antropologia e sociologia
A antropologia surgiu como uma ferramenta da sociologia para
compreender as diferenças étnicas dos seres humanos. No século XIX,
nos estudos de história e geografia contemporâneos, a sociologia e a
antropologia surgiram com um objetivo bem específico: servir como
meios de auxílio para o capitalismo industrial.
A expansão industrial que a Europa viveu no século XIX colocou uma nova
necessidade para a economia europeia: a busca de recursos naturais que
serviriam de matéria-prima para a produção. Para satisfazer tal busca, as
potências europeias, em especial a Inglaterra, a França e a Alemanha,
iniciaram um novo processo de colonização dos países não desenvolvidos
situados na África, na Oceania e na Ásia e que possuíam recursos
naturais em abundância.
No século XV, durante o colonialismo europeu liderado, principalmente,
por Portugal, Espanha e Inglaterra, as justificativas para a dominação das
colônias e dos povos que lá viviam e a justificativa da escravidão davam-
se pela religião: os europeus nutriam a crença de que eles deveriam
colonizar os territórios pagãos e levar o cristianismo a esses lugares, pois
isso seria o caminho para a salvação daqueles povos.
Além disso, os europeus acreditavam que havia uma predestinação
divina que os permitia dominar povos que, no seu ponto de vista, eram
atrasados. Muitos navegantes que participaram desse primeiro
movimento de colonização escreveram relatos considerados documentos
antropológicos de um período pré-científico, ou seja, de quando a
antropologia ainda não era uma ciência bem construída.
No século XIX, a sociedade intelectual europeia não mais acreditava
cegamente na religião, pois a ciência tinha tomado nela um lugar de
destaque. Nesse momento de intensa colonização, para a obtenção de
recursos para a indústria, os europeus tiveram que justificar as suas ações
de maneira científica. Para tanto, surge um primeiro movimento da
antropologia como parte dos estudos de sociologia que visava analisar e
classificar os seres humanos de etnias diferentes.
Os primeiros estudos antropológicos eram extremamente
etnocêntricos, ou seja, analisavam as culturas diferentes com base no
ponto de vista de uma pessoa imersa na cultura europeia. Com isso, os
europeus visavam mostrar que sua cultura e seu desenvolvimento eram
superiores aos das demais sociedades, colocando a colonização como
um movimento necessário de civilização para aquelas sociedades que,
nesse ponto de vista, eram atrasadas.
Assim, a antropologia surge primeiro como uma parte da sociologia e,
depois, torna-se uma ciência humana autônoma, relacionada fortemente
com a sociologia, mas com suas especificidades. Podemos dizer que a
sociologia estuda a sociedade e analisa-a no tempo presente. Já a
antropologia estuda o ser humano e analisa-o no passado para entender
as suas formações mais primitivas.
Leia mais: Émile Durkheim: um dos fundadores da sociologia
Antropologia evolucionista
A antropologia evolucionista foi o primeiro movimento de estudos
antropológicos liderado pelo antropólogo e biólogo inglês Edward
Burnett Tylor e pelo geógrafo e biólogo Herbert Spencer. Para esses
primeiros antropólogos, a teoria da evolução, de Charles Darwin (em alta
na sociedade intelectual europeia do século XIX), poderia ser aplicada à
formação das sociedades.
Herbert Spencer foi bastante
influenciado pelo pensamento de Charles Darwin.

Dessa maneira, assim como os animais desenvolveram-se


biologicamente, sendo que alguns evoluíram e ficaram mais aptos ao
meio, a cultura também tinha evoluído porque alguns seres humanos,
supostamente, teriam evoluído mais. Surge aí a noção etnocêntrica de
raça, que alegava que algumas “raças humanas” eram superiores a
outras.
Também surgem as noções de cultura superior e cultura inferior, sendo
que o padrão de medida de tais era o da própria cultura europeia. Com
isso, não causou espanto a ideia de que a cultura europeia desenvolvida
pelo homem branco era superior e que as culturas desenvolvidas por
povos de outras etnias eram inferiores. Para os evolucionistas ou
darwinistas sociais, o fato de haver diferentes níveis hierárquicos de
desenvolvimento cultural evidenciava a justificação da dominação dos
povos “inferiores” pelos povos “superiores”.
Crédito de imagem

[1] UNESCO/Michel Ravassard |Commons

ntropologia cultural
A antropologia cultural é o estudo não apenas do ser humano como indivíduo, mas
também como um ser social capaz de produzir cultura. Dessa forma, essa ciência
estuda, também, a cultura ao longo do tempo e do espaço. Uma de suas principais
abordagens diz respeito aos significados das palavras e das imagens e da arte nas
representações culturais e como elas podem ser diferenciadas de cultura para cultura.
Assim, o estudo dos signos na comunicação e da própria linguagem é um dos principais
pontos abordados pela antropologia cultural. Este é um aspecto importante, já que a
própria descoberta da reprodução de signos pelos seres humanos marca o início da
capacidade comunicacional e da produção de cultura por si só.

Antropologia social
Por sua vez, a antropologia social tem como principal objetivo estudar o ser humano na
sua organização em sociedade e quais são os efeitos e desdobramentos dessa relação
para a própria História e para o mundo em si. Diferentemente da Sociologia, que estuda
essas relações em uma perspectiva macro, a antropologia social foca na relação
individual do homem com a sociedade.

Antropologia filosófica
Por fim, a antropologia filosófica é a abordagem metafísica da antropologia. Ou seja, é
um ramo da Filosofia que estuda a estrutura essencial do ser humano enquanto
indivíduo. É um campo científico mais voltado para aspectos filosóficos do que
antropológicos. Entretanto, por estudar o homem, também é classificada como uma das
variantes antropológicas.

O método antropológico
Assim como toda ciência, a Antropologia também desenvolveu um método próprio de
estudar seu objeto. Então, o método antropológico trabalha com duas etapas:

 a etnografia, que nada mais é do que a descrição dos trabalhos de campo;


 a etnologia, que é a síntese de todos os conteúdos e dados colhidos nesse
campo.
Assim, seguindo essa lógica, interpretam-se os fenômenos por meio de uma análise
crítica e detalhada.
Além de seu próprio método, a antropologia se utiliza de técnicas e metodologias
comuns a outras ciências que têm áreas em congruência, como a Linguística, a
Arqueologia, a História e a Sociologia.
Assim como todas as outras ciências, a Antropologia tem um alto valor de
conhecimento, principalmente por se propor a estudar um campo tão complexo e cheio
de nuances como o ser humano e suas relações em sociedade. Por isso, apresenta
tantas variações e abre caminhos tão ricos para seus cientistas.

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