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1- Indicação e avaliação para fila de espera

O transplante de órgãos é uma forma de cirurgia que pode salvar vidas,


levando a esperança para os pacientes acometidos pelas mais variadas doenças.
Porém a doação de órgãos é um procedimento que está associado com a vida e a
morte. Portanto para que seja realizado esse procedimento precisa ser discutido as
questões subjetivas com os possíveis doadores e receptores, a grande importância
também de envolver a família nessa discussão já que muitas vezes são eles quem
toma essa decisão de doar ou não doar os órgãos de algum familiar. O papel do
psicólogo não é de convencer, e sim apresentar a possibilidade da doação
observando as questões emocionais, auxiliando em um momento de muita
relevância, esse auxilio é realizado através da escuta que é o acolher.

A avaliação para muitos pacientes em um processo de espera de um


transplante de órgão é o fim de uma longa espera e em muitos casos a deterioração
do seu estado de saúde e o início de um tratamento e a cura de determinada
doença. Nestas situações é provável que muitos pacientes chegam à avaliação com
sentimento de alívio, otimismo e muita esperança. Porém estes mesmos pacientes
também podem apresentar no momento da avaliação uma mistura de sentimentos
contraditórios como a esperança de ter um futuro saudável e uma vida normal, mas
a preocupação e temor sobre os riscos de cirurgia, ou de como será viver com o
órgão de outra pessoa funcionando dentro de si o medo do transplante falhar.

Frente a esta situação o paciente apresenta preocupações que o órgão não


chegue a tempo, mas tem a esperança de que a medicina possa descobrir outras
opções de tratamento, o poderia eliminar a necessidade do transplante. Além da
tensão com seus problemas à saúde, os pacientes também podem ter preocupações
acerca de como a equipe de transplante os avaliará psicologicamente e
psicossocialmente, alguns podem não conseguir lidar com esta situação extrema e
se preocupar em esclarecer revelar ou comportamentos de seu estilo de vida, como
fumar, beber por medo de não ser aceito por esta avaliação.

O trabalho da psicologia se insere em todo o processo do transplante, desde


o primeiro contato para avaliação, estes pacientes passam por uma série de de
etapas do processo processos padronizados como a avaliação para ser aceito como
um receptor de transplante, a espera de um órgão, a cirurgia e o período de
recuperação pós-cirúrgica e os ajustes a longo prazo do pós- transplante.

O psicólogo irá atuar com o paciente e familiares do mesmo, quando o


acolhimento é em relação aos familiares de pessoas doadoras pós-morte, deve-se
levar em conta que o momento de realização da entrevista para a doação coincide
com um período de luto vivenciado pela perda de um familiar, momento de
sofrimento, podendo acreditar que não são capazes de tomar uma decisão tão
importante, demandando uma abordagem cautelosa por parte do psicólogo. Ao
mesmo tempo, abordar a questão da doação exige urgência devido às dificuldades
técnicas que podem acontecer, já que há um limite de tempo para esses órgãos fora
de seu trabalho natural. Nesse período, a decisão da família é muito difícil e, por
isso, tudo pode ser de extrema importância e determinante para tomarem a decisão,
como o tratamento da equipe médica antes e pós-óbito, a atenção que é dada aos
familiares, a forma como é oferecida e explicada a possibilidade de doação, etc.

Portanto a atuação do Psicólogo em relação a transplantes é caracterizada


pela observação, escuta e acolhimento, respeitando as decisões do paciente e da
família, compreendendo as perspectivas do paciente a respeito da doença,
tratamento e consequências em receber ou doar um órgão, pois tem a questão de
entender se o paciente quer ser transplantado, compreender este momento que o
deixa tão frágil. O profissional em Psicologia, além de estar auxiliando o paciente, irá
proporcionar qualidade de vida fazendo com que a equipe a qual pertence entenda e
valorize seu trabalho.

2- Cirurgia e período de recuperação cirúrgico

Quando um indivíduo passa por um transplante de órgãos, sabe – se que o


mesmo terá uma situação paliativa por toda a vida, ou seja, o cuidado de forma
integral. O psicólogo diante desta situação trabalha com a escuta e acolhimento
proporcionando qualidade de vida e bem-estar, esclarecendo duvidas e fantasias ao
paciente. Quando o atendimento for a um doador além do acolhimento terá como
objetivo informá-lo sobre os processos cirúrgicos pelos quais irá passar, mantendo
atenção as questões emocionais e níveis de conhecimentos relativos à doação. Já
com o receptor do órgão, o objetivo é investigar suas expectativas e confiança diante
do processo, possibilitando que sintomas de ansiedade e medo diminuam.

O paciente neste processo já passou pelas situações de indicação e


avaliação para fila de espera e espera do órgão para realização do transplante, ou
seja, situações difíceis e que acarretam em inúmeras complicações psicológicas, a
ansiedade por exemplo que em muitos casos sempre está presente. Portanto o
acompanhamento psicológico desde o início do processo de transplante é de
extrema importância, pois o paciente e a família passou por situações de tomada de
decisões que podem levar ao adoecimento dos membros da família, como a
angustia por toda espera, o medo da cirurgia falhar ou após a cirurgia ocorrer a
rejeição, tudo isso leva ao adoecimento do paciente e família, o auxílio do
profissional em Psicologia com a escuta oferece amparo para conseguirem lidarem
com a situação vivenciada no momento.

De primeiro instante o sujeito receber o diagnóstico é uma situação


extremamente difícil, saber que necessita de um órgão novo pois o seu já não
funciona adequadamente como deveria para lhe proporcionar saúde. O diagnóstico
pode desencadear medo, temores, ansiedade, muitas vezes a angustia, já que o
receptor passa por momento de decisões, como em muitos casos estes pacientes
moram em cidades pequenas que não oferecem o tratamento que necessita e para
realizar o transplante necessita que o mesmo mude de cidade, é onde que surge
uma das preocupações, se esse receptor for o membro que administra e auxilia
economicamente a família, terá que ficar alguém em seu lugar, a escolha de quem o
acompanhará para esta nova cidade, ou até mesmo quem cuidará dos filhos, etc. a
importância psicólogo é auxiliar na compreensão dessas situações para que as
decisões tomadas sejam menos dolorosas.

Muitos pacientes passam pela angustia de como será viver com o órgão de
outra pessoa dentro de mim, sentindo- se como um devedor, carregando sentimento
de culpa, o que torna o momento da cirurgia ainda mais complicado, pois o nível de
ansiedade pode fazer com que a cirurgia seja adiada. Terá pacientes por exemplo
que podem temer a morte do outro para que receba o órgão de sua necessidade, ou
seja pode pensar “para que eu possa viver outro terá de morrer” ou “estou vivo, mas
outro morreu e eu estou com o órgão dele” essas questões são complicadas e pode
ocasionar em uma fase ainda mais dolorosa, até mesmo pode ocorrer a rejeição, por
questões biológicas e psicológicas.

No período pós-cirúrgico de imediato surge o medo da rejeição do órgão, isso


determina todo o comportamento do paciente, mas com o tempo esse medo vai
diminuindo gradualmente, fazendo com que o paciente deixe de manter o foco na
possibilidade de complicação levando a morte. Após esse momento de menor
preocupação o paciente percebe que sua vida pode ser organizada de forma
compatível com a nova maneira de se reestabelecer novamente. Outra situação
difícil e que influencia no tratamento é quando o paciente já está em alta fora do
contato intensivo com a equipe médica, sente-se inseguro frente a sua nova
realidade de vida, mesmo que tudo ocorra bem há algumas recomendações e
cuidados a serem tomados, ou seja a vida deste paciente não volta a ser 100%
normal.

A atuação do psicólogo em situações de transplante de órgãos tem por


objetivo integrar a equipe de especialistas, formando uma equipe multidisciplinar que
visa proporcionar a promoção de saúde e de recursos frente às situações de
enfrentamento e aceitação de possíveis crises e na melhoria da adesão ao
tratamento. Portanto é fundamental que o profissional em Psicologia possua
conhecimentos na área e possa atuar junto ao paciente nas diversas fases do
processo. O papel do psicólogo é muito delicado, pois deve auxiliar para que o
paciente possa imaginar as diversas variáveis de adesão ao tratamento, como
ajuda- ló compreender o antes, agora e o depois da cirurgia, oferecendo como apoio
a escuta possibilitando ao paciente um lugar para falar e se possível que o mesmo
consiga elaborar a situação que a doença lhe submeteu oferecendo terapias de
grupo, possibilitando que o paciente possa encontrar pessoas que passou pelo
mesmo processo. O psicólogo deve ter o cuidado de não oferecer esperanças irreais
ao paciente.

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