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Gentrificação PDF
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Resumo
Este trabalho foi elaborado à luz de alguns textos discutidos na disciplina de Sociologia do
Território, ministrada pelo Professor Doutor Eber Pires Marzulo, do Programa de Pós-
Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. A síntese de conteúdos produzida tem como principal objetivo fazer uma breve reflexão
sobre a produção de gentrificação ocorrida em consequência de políticas públicas de
“revitalização” de centros urbanos. Para ilustrar tais reflexões serão apresentados alguns
programas de revitalização pesquisados por diferentes autores e desenvolvidos em Bruxelas,
Lyon, Amiens, Barcelona, Nápoles, Cidade do México e São Paulo.
1. Introdução
Ainda no início dos anos sessenta, Ruth Glass utilizou o termo “gentrification” para definir
a transformação da composição social dos residentes de antigos bairros operários londrinos,
onde ocorreu a substituição de camadas populares por camadas médias assalariadas que não
tinham receio de “encostar” nas massas populares e que antes se instalavam nos subúrbios.
Para Smith, este processo urbano identificado inicialmente por Ruth Glass de maneira tão
particular e marginal, evoluiu rapidamente e chega ao século XXI como uma dimensão
marcante do urbanismo contemporâneo (Smith, 2006).
Ao fazer a revisão da literatura produzida sobre o processo da gentrificação, Bidou
Zachariasen constatou que esta se organiza principalmente em duas tendências: uma que
explica o fenômeno em parte devido ao peso econômico da promoção imobiliária sobre áreas
centrais em processo de valorização fundiária e outro que o coloca como resultante de uma
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estratégia de atores individuais atraídos pelo modo de vida e consumo possibilitado pela vida
no centro da cidade. (Bidou Zachariasen, 2006)
Antes de avançar em algumas reflexões sobre o processo de gentrificação como
consequência de políticas de revitalização de centros urbanos, julga-se importante entender um
pouco do que levou as zonas centrais das cidades a tornarem-se desvalorizadas e apropriadas
pelas classes populares e o que desencadeou a sua revalorização e apropriação pelas chamadas
“novas classes médias”.
Na Europa, segundo observou Criekingen, no decorrer do século XIX, a burguesia
abandonou o centro em direção às periferias das cidades na busca de viver em um ambiente de
melhor qualidade, com espaços mais amplos, arejados e seguros. Como consequência, estes
bairros centrais tornaram-se zonas de concentração das classes populares e entraram em
processo de degradação física por falta de investimentos.
O fenômeno de crescimento suburbano, chamado por Criekingen de “periurbanização
fordista”, cresceu após o fim da Segunda Guerra, quando o uso do automóvel se generalizou.
As concepções do urbanismo funcionalista, que durante o século XX, se disseminou pelo
mundo e dividiu as cidades em zonas com funções determinadas (moradia, trabalho, lazer e
circulação) e apostou na expansão urbana, segundo Bidou Zachariasen, parece ter atingido seus
limites funcionais. Os altos custos econômicos, sociais e ambientais dessa forma de ocupação
urbana começaram a exigir mudanças nos planos de desenvolvimento das cidades, tanto por
parte de administradores públicos como de investidores privados. (Bidou Zachariasen, 2006)
Por outro lado, o crescimento do setor de serviços especializados (gestão, seguro, turismo)
e a modernização da estrutura de produção industrial ocorridos nos países industrializados e
também nos em desenvolvimento, fez surgir uma “nova classe média" e com ela, novos tipos
de consumo. Dentre outros aspectos, essa classe emergente se caracteriza por ser altamente
qualificada e valorizar a vida social e cultural. Nesse novo contexto econômico, as zonas
centrais reapareceram como locais de oportunidades de emprego, moradia, lazer, dentre outras.
Por consequência, houve uma mudança sobre o mercado fundiário e imobiliário dessas zonas,
até então, apropriadas pelas classes populares como locais de moradia, trabalho e geração de
renda.
Esta classe formada na mudança das estruturas de emprego, chamada de “gentrificadores”,
é a chave para explicar o processo de transformação da composição social dos residentes de
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Se no início dos estudos sobre a gentrificação, ela era considerada como um fenômeno
decorrente da estrutura do mercado imobiliário e do comportamento dos atores privados, na
atualidade também é vista por autores como Smith, como parte integrante de políticas públicas
de revitalização de antigos centros urbanos em diferentes municipalidades. Estas políticas, na
maior parte das vezes, integram projetos de desenvolvimento econômico e, mesmo não
havendo quem assuma uma de suas principais intenções, elas são definidas pelo autor como
“políticas oficiais de gentrificação”.
De qualquer maneira, seja qual for a origem do fenômeno, Bidou Zachariasen destaca que a
gentrificação tem como consequência direta a saída das classes populares dos centros urbanos
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Hoggart afirmou que a importância dada a casa e ao bairro pelas classes proletárias inglesas, objeto de sua
observação e reflexões, se devia principalmente ao fato do mundo exterior lhe parecer pouco acolhedor e de
difícil enfrentamento. As duras condições de vida partilhadas pelo proletariado lhe conferiam um espírito de
grupo que primava por boas relações de vizinhança. Mesmo que fosse intuitivamente, as pessoas sabiam que a
união era condição importante para enfrentarem as adversidades. Poucos conseguiriam a ascensão social que
os faria mudar de vida, portanto as relações cotidianas deviam ser solidárias e amistosas.
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Outro caso de operação de renovação urbana na França foi estudado por Bidou Zachariasen
e neste a pesquisadora foi em busca de conhecer o que havia acontecido após a renovação com
algumas práticas solidárias que existiam no bairro e também como estavam vivendo famílias
originais que permaneceram ali residindo. A operação de renovação ocorreu entre o início da
década de 1970 e final da década de 1980, no bairro de Sant-Leu, na cidade de Amiens. Este
bairro apresentava como uma de suas características mais marcantes em termos físicos, uma
rede de canais d’água que proporcionaram no passado a implantação de moinhos, tinturarias e
tecelagens. Em consequência, Sant-Leu conheceu um período econômico próspero e abrigou
diferentes categorias de população, de operários a burgueses.
A partir do final do século XIX, com o processo de desindustrialização, o bairro
paulatinamente foi perdendo esta mistura de classes sociais e ali permaneceram apenas os
operários ligados às indústrias remanescentes e também um contingente de biscateiros e
desempregados. Devido ao baixo nível econômico da população, as edificações e espaços
públicos ficaram em mau estado de conservação e o bairro adquiriu uma imagem ruim dentro
da cidade, embora, segundo a autora, apresentasse aspecto vivo e autêntico. Aspecto esse que
atraiu para lá estudantes e artistas, concedendo-lhe também certo ar alternativo.
A partir de 1971, a administração pública municipal deu início a um programa de
renovação do bairro e ao fim da década de 1980, os espaços públicos, ruas, canais, pontes,
passarelas e moradias haviam adquirido aspecto elegante. De acordo com a autora, no
programa de renovação, que tinha como intenção manter no local a população ali residente e
também atrair novos moradores e potencializar o turismo, foram utilizadas diferentes
estratégias na aplicação dos recursos públicos. Foram realizados investimentos para melhorias
urbanas, melhorias residenciais, inclusive com ampliação de casas para melhor acomodar as
famílias maiores, construção de novas moradias, auxílio ao aluguel, fomento a utilização da
mão-de-obra local e reabilitação das moradias a serem executadas pelos próprios locatários,
abrindo-lhes também a possibilidade de compra do imóvel, dentre outros.
A autora observou que muitas das características antigas do bairro permaneceram após a
sua renovação. Com o desaparecimento do comércio local, as redes comunitárias existentes
anteriormente, foram acionadas em ações de compras coletivas nos grandes mercados da
periferia da cidade. Os mais jovens levavam as provisões para os mais velhos. Também o
associativismo reivindicatório, ligado à classe operária, continuou existindo com outras lutas,
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visitação e à freqüência, produzido pela presença dos turistas, não identificando, até então, a
gentrificação residencial.
Helene Rivière d’Arc analisou o caso de revitalização urbana nos bairros da Sé e
República, na cidade de São Paulo e constatou que as recomendações do projeto proposto pela
administração municipal de Marta Suplicy e financiado pela poder público em conjunto com o
setor associativo, ONG(s) e empreendedores privados, muito tinham haver com aquelas
contidas no Plano Estratégico para a Regeneração e o Desenvolvimento Integral do Centro
Histórico do México. Dentre as principais medidas estavam o restauro e reciclagem de imóveis
de interesse histórico degradados, a requalificação dos espaços públicos, o favorecimento das
atividades ligadas à cultura e ao turismo e a implantação de moradias para diferentes classes
sociais.
A história destes dois bairros se inicia na década de trinta do século XX, quando se
tornaram centro administrativo e de negócios da grande metrópole e local de moradia da classe
média. Devido ao processo de periurbanização também ocorrido em São Paulo, esses bairros
diminuíram significativamente o número de população e também foram ocupados pela
população de baixa renda e pelo comércio popular. Em sua análise, a autora observou que as
medidas de revitalização propostas são claramente um apelo a que as famílias de melhor renda
residam ou pelo menos freqüentem estes bairros e que desta forma, a ideologia da gentrificação
também está presente no referido plano. (Bidou Zachariasen, 2006)
Como pôde ser constatado nas experiências de revitalização de centros urbanos
apresentadas, o fenômeno da gentrificação esteve presente em todas as iniciativas. Umas mais
intensamente, pois como afirmou Smith, a gentrificação é intenção implícita das ações de
revitalização de centros urbanos e outras menos, como é o caso da experiência de Amiens, em
que o poder público local procurou criar políticas compensatórias para minimizar o fenômeno.
Também chama atenção que, além de diferentes intensidades, a gentrificação incide de
diferentes formas, dentre as quais podemos citar a residencial, a de convívio, de visitação e
freqüência.
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4. Considerações Finais
Referências