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FACULDADE DE ENGENHARIAS, ARQUITETURA E PLANEAMENTO FÍSICO

LICENCIATURA EM ENGENHARIA CIVIL

Planeamento Regional e Urbano

3°Ano, Turma: “A”

DE VOLTA A CIDADE

Discentes:

 Cirelda Guiliche
 Dirck Milagre
 Edilson Chivale
 Emilia Da Silva
 Francisco Uamba
 Kácia Naene
 Nilton Hermenegildo
 Miriamo Malasse
 Queste Come
 Shizia Yuna

Docente:

Jaime Jemusse

Boane, Fevereiro de 2024


Índice
Apresentação .............................................................................................................................. 3
Introducao .................................................................................................................................. 7
A gentrificação generalizada: de uma anomalia local à "regeneração" urbana como estratégia
urbana global .............................................................................................................................. 9
A Cidade Renasce .................................................................................................................... 12
A gentrificação do bairro Saint-Georges ................................................................................. 14
Ciutat Vella De Barcelona ....................................................................................................... 16
A reapropriacao de património simbólico do centro histórico de Nápoles .............................. 18
Reinvistir nos espacos Centrais ............................................................................................... 20
Reapropriacao de bairros da Cidade de Mexico ...................................................................... 22
Requalificar o seculo XX ......................................................................................................... 23
Conclusão................................................................................................................................. 26

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1. Apresentação

Bidou-zachariasen, Catherine, De volta a cidade: dos processos de gentrificação as


políticas de revitalização dos centros urbanos são Paulo, 2006, 293p.

Catherine Bidou-zachariasen é uma autora de origem francesa, que proporciona em seus


livros unidades sobre urbanismo, arquitetura, e questões sociais.

Suas obras geralmente temas como o desenvolvimento urbano sustentável, habitação


social, e o papel na vida moderna.

Catherine é uma das primeiras pesquisadoras a trabalhar sobre a emergência das novas
classes médias e dos processos de gentrificação nos grandes centros urbanos na
França.Socióloga e pesquisadora emérita do Centre National de la Recherche
Scientifique(CNRS), foi diretora entre 1999 a 2009 do Institut de Recherche
Interdisciplinaire en Sciences Sociales (IRISSO) da Universidade Paris Dauphine (Paris
IX). Atua membro do comitê científico de várias revistas como Espaces et Sociétés e
Actes de la Recherche. en Sciences Sociales e é autora de três livros: “Les Aventuriers du
quotidien,

Essai sur les nouvelles Classes moyennes”, “Proust Sociologue. De la maison


Aristocratique au salon Bourgeois” e “Retours en Ville, des processus de Gentrification
urbaine aux Politiques de revitalisation Des centres”. Este último Publicado no Brasil pela
Editora Annablume sob o Título “De volta à cidade: dos Processos de gentrificação às
Políticas de “revitalização” Dos centros urbano”.

Diversos factores influenciam esse tipo de comportamento, é perceptível a necessidade de


realizar os estudos variados com efeitos de intervenções de requalificação nas áreas centrais.

Pois existem muitos casos com que as famílias moradoras mais pobres foram substituídas por
outras de classe média superior, fenômeno que tem sido chamado de gentrificação.

A título de exemplo é a preocupação levantada no meio académico e pelo setores populares


ligados a projetos habitacionais ou sócias nas áreas centrais do brasil.

Alguns pesquisadores consideram inevitável o fenômeno urbano em que um bairro ou cidade


se renovam ou adquirem uma mais valia, permitindo e estimulando o desenvolvimento de
actividades populares e mesmo a moradia de família de menor venda. Este fenômeno tenderia
a correr por influência de dois processos, que podem ser combinados ou não.
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Pelo lado da demanda, as estratégias das classes médias de (re)conquista de territórios e de
volta a cidade depois de décadas de encantamento pelos conjuntos e loteamentos fechados,
estimuladas pelo setor imobiliário. Mas não seria a classe média tradicional, mas sim outro
tipo: ou os yuppies; ou famílias jovens, com maior escolaridade.

Pelo lado da oferta e das decisões dos produtores de espaços – as estratégias dos governantes,
em acordo com o setor privado, para tornar as cidades competitivas, dotando os centros de
características que o tornariam atrativo para aquelas classes, seja para moradia ou para
consumo e lazer.

Neste contexto o livro trata de trazer á luz de diferentes experiências de transformações


territoriais em diferentes cidades do mundo partindo de pesquisas de fôlego nas quais foram
colocadas aos autores as seguintes questões: os processos de gentrificação anglo- saxoe
estariam também presentes em outros contexto? Segundo que variantes? Que outros tipos de
recomposições urbanas os acompanham ?

A gentrificação deixa de ser uma anomalia local do mercado imobiliário de uma grande
cidade para se desenvolver como um componente residencial específico de uma ampla
reformulação economica, social e política do espaço urbano. Essa renovação representa a
gentrificação da cidade como uma conquista altamente integrada do espaço urbano, na qual o
componente residencial não pode ser dissociado das transformações das paisagens do
emprego, do lazer e do consumo.

Segundo Smith, a “regeneração urbana” hoje representa uma estratégia central na competição
global entre as diferentes aglomerações urbanas. O novo papel representado pela globalização
do capital é também decisivo na sua generalização, incluindo a presença das mesmas
empresas internacionais nos grandes projetos urbanos.

Examinada através desse quadro geral de uma estratégia urbana global, a generalização da
gentrificação posterior aos anos noventa aparece para Neil Smith como associada ao
abandono das políticas urbanas progressistas do século XX (Estado providência) e a vitória
das políticas neo-liberais.

O alto grau de repressão a que foram expostos os movimentos anti-gentrificação nos anos
oitenta e noventa seria uma prova do caráter central dos programas imobiliários na nova
economia urbana.

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A gestão dos programas e os planos estratégicos – os bairros „desejados‟ pelos
“gentrificadores” precisam apresentar determinadas características apropriadas a uma
reciclagem mais ou menos rápida (etapa dos pioneiros, da gentrificação expontânea).

Em Barcelona, em meados dos anos oitenta, a situação de degradação do bairro um- dou em
razão das políticas do governo local, incluindo um plano para controlar as atividades de bares
e pensões, e a criação de uma empresa de capital misto que faz, em nome da municipalidade,
toda a gestão.

Outros financiamentos e seus riscos – embora em algumas experiências relatadas os recursos


para a reabilitação tenham vindo da combinação de financiamentos habitacionais com
investimentos locais, algumas experiências, mais ou menos eficazes, de recurso a parcerias
ou financiamentos privados são citadas, com o destaque para o papel do milionário Carlos
Slim, do México.

questão do patrimônio – a experiência de Nápoles é interessante como proposta de


valorização simbólica do centro antigo, a partir da mobilização da cidadania e da adequação
dos espaços públicos (incluindo desobstrução por retirada de veículos e adequação do
transporte público) para o convívio de todas as classes e a fruição do conjunto urbano e dos
monumentos.

Já no caso das cidades mexicanas, Patrice Melé observa que, não obstante os discursos dos
militantes, pesquisadores e certos re presentantes dos organismos de proteção, que se referem
à ma nutenção das funções tradicionais e das formas específicas da cultura popular dos
bairros centrais, a política de patrimônio só considera os edificios e a imagem urbana.

As propostas de utilizar a legislação do patrimônio para proteger o que se chama no México


de “patrimonio intangível”, não para invocar uma intangibilidade das construções, mas para
destacar a existência de elementos de patrimônio que não são físicas, constituídas pela forma
de relações sociais específicas dos bairros populares e da “vecindad”, aparecem
desconectadas da realidade das ações de proteção do patrimônio.

As resistências à gentrificação – o papel de movimentos sociais organizados e mesmo o de


atores econômicos dos centros, seja como enfrentamento direto ou como portadores de
propostas capazes de contrapor-se às tendências e propostas de gentrificação, é colocado por
Neil Smith (para Nova Iorque), por Hélène Rivière d‟Arc (caso de São Paulo) e por Daniel
Hernioux (Cidade do México).

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Este último observa que a gentrificação – embora apresente o risco de se impor como modelo
na cidade – Não é, sem nenhuma dúvida, uma tendência sem volta, porque é possível que os
revezes econômicos ou a força dos setores popu- lares ponham freio a esse processo Enfim,
fica a idéia de que a gentrificação dos centros é um risco importante para o qual é preciso
estar alerta, mas que não é inelutável.

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2. Introducao

As cidades dos países desenvolvidos estão passando por uma evolução que não exclui as
formas anteriores de desenvolvimento, com investimentos significativos nos centros urbanos.
Desenvolvimento das redes de comunicação multiplicou os espaços onde circulam bens,
pessoas, serviços e capitais, favorecendo as grandes metrópoles.

Na França, o censo de 1999 revelou um movimento de repovoamento das cidades-centro, e


processos de gentrificação estão contribuindo para a transformação dos centros urbanos.

termo "gentrificação" foi atribuído por Ruth Glass nos anos sessenta para descrever o
processo em que famílias de classe média ocupavam bairros desvalorizados no centro de
Londres, envolvendo a substituição das camadas populares por camadas médias assalariadas
e o investimento, reabilitação e apropriação de moradias e bairros operários ou populares por
essas camadas sociais. Recentemente, o termo tem sido utilizado para designar os segmentos
superiores das classes médias residindo nos condomínios de luxo no centro das grandes
cidades.

texto discute a gentrificação, destacando sua relação com a evolução das economias urbanas,
as mudanças nas formas familiares e nos modos de vida, bem como a ascensão das classes
médias superiores e o pós-fordismo. Também aborda a hipótese de que os bairros
gentrificados refletem uma reorganização socioeconômica da sociedade em função de um
novo regime de acumulação.

A obra tem também como abordagem a relação entre as grandes cidades e a economia global,
destacando Nova Iorque, Londres e Tóquio como centros dessa nova economia. Discute
também a ascensão da gentrificação, relacionando-a com a nova classe de trabalhadores que
atendem às necessidades da nova economia mundial. Além disso, menciona a necessidade de
proximidade física entre os diversos atores dos serviços da nova economia mundial, bem
como diferentes formas de gentrificação. Por fim, aponta que a gentrificação é vista
essencialmente como um fenômeno das cidades anglo-saxônicas, e destaca diferenças
históricas entre as funções dos centros e periferias das cidades europeias e anglo-saxônicas.

A Gentrificação em Nova Iorque, é um fenômeno complexo que afeta as dinâmicas urbanas


e as comunidades locais. A autora aborda diferentes fases desse processo na cidade, desde a
chegada de artistas e intelectuais até a expansão generalizada para outros bairros.

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A gentrificação em Bruxelas, a revitalização de certas áreas pode impactar as dinâmicas
sociais e econômicas da cidade. Ela traz à tona questões importantes sobre desigualdade e
transformações urbanas. A autora analisa minuciosamente as mudanças que ocorrem em
bairros específicos, como Saint Gilles, e como isso afeta os moradores e a estrutura social da
cidade como um todo.

A obra aborda a revitalização do centro antigo de Lyon e a pesquisa realizada em Saint-


Georges, assim como a evolução de outros bairros de Lyon e políticas locais de
requalificação. Além disso, há uma menção sobre Barcelona e a escolha da burguesia local
por residir em bairros periféricos desde o século XIX.

A gentrificação nos centros das cidades mexicanas, onde as mudanças na estrutura social e
econômica impactaram significativamente a vida urbana e a distribuição das classes sociais.
A gentrificação é realmente um fenômeno complexo que reflete as relações entre as
estratégias residenciais e os processos de valorização e desvalorização dos centros urbanos,
onde destaca-se a importância dessa noção para compreender essas dinâmicas.

As transformações buscam atrair investidores privados e promover atividades econômicas


como turismo, cultura e consumo de luxo. Ao mesmo tempo, é importante considerar como
esses processos podem afetar a diversidade social e a dinâmica urbana. A gentrificação pode
trazer mudanças significativas para as áreas centrais, mas também levanta questões sobre
inclusão e coesão social. O debate sobre o papel das novas classes médias superiores e a
influência global nesses processos também é relevante.

A obra aborda a complexidade da gentrificação urbana e questiona se as diferentes formas


que esse fenômeno pode assumir ainda representam o mesmo processo, e levanta a questão
de como os recentes programas de "regeneração" urbana podem refletir a visão das novas
classes médias superiores, que podem ter sido os primeiros gentrificadores.

Além disso, a obra destaca a proximidade entre diversos programas urbanos em diferentes
continentes, sugerindo que as camadas sociais condutoras desses programas estão
"mundializadas". Também aponta que, embora essas camadas sociais possam integrar valores
de diversidade social e misturas ecléticas em suas representações, suas práticas muitas vezes
contribuem para fenômenos de segmentação e polarização.

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3. A gentrificação generalizada: de uma anomalia local à "regeneração" urbana
como estratégia urbana global

A obra discute a evolução da gentrificação urbana como parte de um novo urbanismo


emergente desde os anos 70 até os primeiros anos do século XXI. Ele aponta a mudança na
percepção da gentrificação, inicialmente vista como um processo menos significativo, para se
tornar uma peça central no renascimento urbano. A linguagem do renascimento urbano
reflete a generalização da gentrificação na paisagem urbana, contrastando com a visão inicial
de Ruth Glass, que considerava a gentrificação como uma curiosidade marginal. O texto
também destaca a diferença de perspectiva entre Glass e as políticas urbanas britânicas, onde
a gentrificação passa de uma curiosidade marginal para um objetivo central.
Aborda-se a evolução da gentrificação urbana, destacando a mudança na percepção desse
fenômeno e sua importância no renascimento urbano. Ele ressalta que, enquanto inicialmente
a gentrificação era fruto do acaso e estava relacionada ao mercado habitacional pós-guerra,
atualmente é objeto de programas ambiciosos e sistemáticos, ligados ao Estado, empresas e
parcerias público-privadas.
Além disso, a obra aponta que a gentrificação deixou de ser uma realidade localizada em
grandes cidades do capitalismo avançado para se tornar um fenômeno global, presente em
diversas cidades ao redor do mundo. Essa evolução é tanto vertical quanto horizontal,
atingindo cidades de diferentes tamanhos e localizações geográficas.
É destacado também que as experiências de gentrificação são bastante diversas e desiguais,
conectando-se de maneira complexa com as economias nacionais e globais. Ressaltando a
rapidez com que esse processo urbano se transformou em uma dimensão marcante do
urbanismo contemporâneo, independentemente de sua forma - seja as "reabilitações" iniciais
ou a forma socialmente organizada do século XXI.
As dimensões da mudança: a cidade de Nova Iorque

Faz-se menção ao caso de Nova Iorque como exemplo dessa profunda transformação que
marcou o processo de gentrificação, identificando três fases distintas desse fenômeno na
cidade.
A história da gentrificação em Nova Iorque, divide-se em três ondas distintas. A primeira
ocorreu antes da crise financeira e fiscal de 1973, a segunda nos anos 70 e 80, e a terceira
após o renascimento econômico entre 1994 e 1996. Cada onda apresenta particularidades,
com a primeira sendo esporádica, a segunda consolidando o processo e a terceira
caracterizando-se por uma gentrificação generalizada. O texto destaca a migração de

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habitantes de classe média e média alta para bairros degradados, como Greenwich Village, e
como isso deu início ao processo de gentrificação. Também menciona a falta de interesse das
instituições financeiras em investir em áreas consideradas "decadentes" e a ausência de
programas governamentais de renovação urbana durante os primeiros sinais de
transformação.
Aboda-se a consolidação da gentrificação em Nova Iorque durante o fim dos anos 70 até
1989, período marcado por uma profunda mudança estrutural na cidade. A crise fiscal que
afetou a cidade nesse período resultou de uma série de fatores locais e globais, incluindo a
dependência desorganizada dos grandes bancos em relação às taxas de juros e o
endividamento das administrações municipais. A teoria da renda diferencial é citada como
uma das causas originais da gentrificação, relacionada à mobilidade geográfica do capital e
aos modelos históricos de investimento e desinvestimento urbano.
Durante esse período, a política urbana de reestruturação da municipalidade teve um impacto
significativo na gentrificação, intensificando os níveis de desinvestimento no centro e
pericentro da cidade. Isso levou a uma redução nos preços dos terrenos e edifícios nos bairros
mais antigos e degradados, levando pequenos proprietários locais a vender seus imóveis para
grandes promotores imobiliários. O texto destaca a centralização do poder econômico e
político durante a crise fiscal, com a municipalidade implementando novos programas e
financiamentos de reabilitação de habitações
A mudança de interesse de investidores privados e estabelecimentos financeiros em zonas
anteriormente evitadas foi impulsionado por regulamentações públicas e a percepção do
potencial lucrativo dessas áreas. O governo federal também teve papel na redução de
financiamentos para habitação social, impactando as camadas populares da cidade. O
aumento do número de famílias expulsas de suas moradias e de pessoas sem-teto levou a
mobilizações e lutas contra a gentrificação.

A gentrificação generalizada (de 1994 a...)


A gentrificação deixou de ser uma anomalia local do mercado imobiliário para se tornar um
componente residencial específico de uma reformulação econômica, social e política do
espaço urbano. Enquanto a cidade consolidava seu domínio sobre as funções de comando
relacionadas às cidades globais, a gentrificação passou a oferecer habitações para
profissionais em ascensão nos setores financeiro, organizacional e de pequenas empresas. A
recessão dos anos 70 e 80 teve pouco impacto na gentrificação, mas a crise econômica dos
anos 90 interrompeu temporariamente o processo, levando à previsão equivocada de
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"desgentrificação". Em bairros marginais, a gentrificação esgotou suas fontes de investimento
em imóveis residenciais, enquanto em bairros mais centrais, como Soho e Upper West Side, o
processo continuou e se ampliou a partir de 1996
A comparação feita entre a influência da televisão popular e a paisagem urbana gerada pela
gentrificação é intrigante. Ambas podem moldar as percepções e aspirações das pessoas. A
desigualdade de consumo e o poder das classes impulsionadoras da gentrificação são aspectos
importantes a serem considerados.
O texto também aponta para a existência de uma rede de convergências entre as experiências
urbanas nas grandes cidades do chamado primeiro e terceiro mundo, mas ressalta que esse
raciocínio não deve ser estendido muito além. A gentrificação continua sendo principalmente
observada nos países do chamado "velho primeiro mundo", e ainda não se pode prever
claramente como o processo se desenvolverá em outras regiões como Ásia, América Latina e
certos países da África.
A substituição deliberada da linguagem da gentrificação pela linguagem da "regeneração"
pode mascarar as dinâmicas sociais envolvidas nesses processos e ocultar os impactos sobre
as comunidades locais.
É crucial considerar o destino das pessoas deslocadas ou afetadas por esses processos de
regeneração, garantindo que suas necessidades e direitos sejam levados em conta. A
transparência na linguagem e nas políticas de regeneração urbana é fundamental para
promover um debate informado e inclusivo sobre o futuro das cidades europeias. A
gentrificação pode ter impactos significativos nas dinâmicas sociais e econômicas das áreas
urbanas.

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4. A Cidade Renasce

Este capítulo aborda a transformação da cidade de Bruxelas. Esta ganhou uma nova
aparência e se tornou uma atração. E uma grande pergunta que aqui surge é: Será que o
processo de gentrificação ocorrido em Nova York e Londres ocorreu do mesmo jeito em
Bruxelas É notório neste capítulo que, “a revitalização residencial se compõe de um conjunto
de dinâmicas distintas.”

A gentrificação em Bruxelas foi aqui analisada em três parte:

1. Os processos de revitalização em Bruxelas são recolocados em seu contexto


social, político, e geográfico de modo a extrair as questões específicas que ali se
levantam.
2. Leitura e crítica sobre gentrificação, tornando claras as diversidades das mutações
socio-residenciais nos bairros antigos de bruxelas.
3. Fluxos migratórios em relação ao bairro de Saint-Giles.

Esta análise gira em torno da revitalização residencial.


Os bairros acumulam degradação física e têm concentração populações pobres. Os grupos
mais enriquecidos foram se retirando para as novas expansões de prestígio da parte leste
(Bairro Leopold ou Squares e Avenida Tervuren ou Louise).

Após a segunda guerra mundial as classes médias se abrigaram e conduziram os


emigrantes para fora da cidade. Os bairros residenciais abastados se desenvolvem
rapidamente enquanto que os bairros antigos do centro sofrem degradação e empobrecimento,
onde só permanecem aqueles que têm dificuldade em se mudar como os pobres e os idosos.
As populações que saíram são substituídas por pessoas da Europa mediterrânea, depois da
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Áfica e Turquia. Vários bairros foram demolidos pra albergar as concepções modernistas dos
administradores públicos pós-guerra. Houve então o início de reivindicações contra esta
transformação de Bruxelas que, buscavam a revitaízação residencial dos bairros antigos de
Bruxelasè a reabilitação e defesa do património.
Foi então ouvida esta linha de ideias e a revitalização foi acelerada a nível político-
administrativo em 1989. Houve também envolvimento de factores de ordem linguística pois
Bruxelas foi tornada, além de capital da Belga, uma das capitais europeias e criou-se várias
actividades de inclusão de turístas provenientes da Holanda. As operações de melhoria das
moradias passaram a se concentrar prioritariamente nas margens dos bairros mais
desfavorecidos e as políticas de renovação urbana acentuaram a competição urbana sobre o
mercado habitacional entre populações de perfis muito diferentes. A busca pelo
desenvolvimento terciário internacional cria pressão pelo aumento de preços das moradias
nos bairros centrais.

Quanto ao real significado de gentrificação, vários autores se debatem em suas ideias e


encontra-se aqui em bruxelas uma disparidade, pois, o modo de consumo ostentatório e a
afirmação de valores pró-urbanos que são típicos das gentrificadores são correspondentes a
um grupo maior do era o grupo de estudantes, artistas, frequentemente jovens-adultos com
inserções mais ou menos precárias e instáveis no mercado de emprego metropolitano.
Nota-se assim, que a gentrificação parece mascarar uma diversidade interna e esquecer-se
de outros processoas de revitalização residencial (como a auto-reabilitação). Demonstra que
não é somente a presença de um novo público abastado num bairro central que provoca o
surgimento gradual de um novo tecido comercial adaptado ao modo de consumo ostentatório
desses novos habitantes, dando reforço à dinâmica residencial.

Estas situações variam e se combinam de maneira bastante diversa nos bairros antigos em
transformação (reapropriação residencial e comercial, ou mesmo económica, actividades de
escritório. com finalidades turísticas e recreativas).
A gentrificação encontra uma dificuldade de definição única a medida em que vão sendo
estudadod vários casos so redor do mundo muito diferentes em termos sócio-económicos,
doos exemplos de Londres e Nova York. A gentrificação provocou uma metamorfose de
espaços degradados e empobrecidos ou abandonados, em enclaves superdemandados e
apropriados por um novo público de alta renda, frequentador de um novo tecido comercial de
luxo, em detrimento das camadas populares que habitavam a cidade e que foram brutalmente
expulsas.
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5. A gentrificação do bairro Saint-Georges

Segundo Oxford American Dictionnary, gentrificação designa “o movimento de famílias de


classe média em direção a zonas urbanas, aumentando o valor dos imóveis e como efeito
secundário a expulsão das famílias mais pobres” (Bourdin, 1989). Esse fenômeno afecta hoje
uma extensa gama de bairros antigos situados nas zonas centrais das grandes aglomerações
francesas. Para alguns autores, o movimento de reconquista do bairros antigos estaria
associado a uma nova composição da demanda e ao surgimento de uma nova arte de moral;
outros veem na elevação do nível socioeconômico da população dos bairros gentrificados
uma consequência da transformação da oferta e das divisões dos produtores de espaços e
outros preferem articular as duas explicações. Com o bairro Saint-Georges Lyon a autora da
obra pretende mostrar as dimensões que se destacam no processo de gentrificação de que o
bairro foi objecto.
O bairro Saint-Georges em Lyon
É um bairro muito antigo, de tamanho relativamente modesto, situado no centro de Lyon, na
margem direita do rio Saône, ao pé da colina de Fourviére, ele constitui como os bairros de
Saint-Jean e Saint-Paul o que se costuma chamar de “Lyon Velha”.
Enquanto os outros bairros foram sendo melhorados com o andar do tempo, Saint-Georges
foi apenas se degradando.
Perdeu boa parte do seu comercio, um terço da população partiu; isso entre 1955 e 1975. Em
meiados dos anos setenta, Saint-Georges já se apresentava como um dos bairros mais
debilitados, abandonados e particularmente vetustos. O processo de gentrificação se engaja
nesse contexto.
Um movimento plural de “retomada social” do bairro
No início esse processo foi feito em forma de renovação massiva da população do bairro. Foi
feita uma leitura dos censos em 1975 e 1982, assim cerca de 60% das pessoas recenseadas em
Saint-Georges em 1982, em 1975 habilitavam outro domicilio, na sua maioria outro bairro. E
muitos outros registros foram feitos.
Essa leitura dos censos é em parte enganosa, isso por duas razoes: de um lado, porque em
1975 e 1982 outros indivíduos se instalaram provisoriamente em Saint-Georges e não
figuram, os dois recenseamentos; de outro, porque um certo número de representantes das
novas classes medias assalariadas recenseadas em 1982 possuíam, no momento de sua
entrada no bairro, características sócio-demográficas que não correspondem aos atributos
tradicionais dessas categorias sociais.A primeira fase da gentrificação foi iniciado por três
grandes camadas da população: “accidents culturals”, “accidants techniques” e “invasores”.
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Essa apropriação plural do bairro é favorecida ao mesmo tempo pela morfologia constatada
de Saint-Georges e pela diversidade de tipos de habitação e de estatutos e de ocupação.

A intervenção do poder público


O poder público vai apoiar essa mutação do bairro. Oficialmente trata-se de lutar
simultaneamente contra as reabilitações especulativas conduzidas por imobiliários que
provocam mudanças profundas de população, e de conter a degradação contínua de alguns
sectores do bairro. Ainda nesta fase, vários investidores com perfil bastante distinto se
apropriaram, por meio de sociedades civís imobiliárias, de vários imóveis desse bairro. Em
razão da forte participação desses investidores, a operação de reabilitação foi um sucesso ao
se considerar o número de habilitações e edifícios reabilitados.
O bairro gentrificado: mobilidades e divisões sociais do espaço
O bairro Saint-Georges gentrificado está longe de se constituir como um bairro socialmente
homogêneo. Quanto mais nos aproximarmos da extremidade sul de Saint-Georges, mais nos
afastamos do bairro Saint-Jean, e mais a presença de famílias de renda alta diminui. De outra
maneira, contrariamente ao que outros esquemas de análise de gentrificação sugerem, não
houve aqui a difusão do fenômeno para todo o bairro.

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6. Ciutat Vella De Barcelona

A Ciutat Vella de Barcelona: renovação ou gentrificação?


O debate em torno do conceito de gentrificação deu lugar a diferentes pontos de vista quanto
às suas possibilidades de aplicação aos diversos contextos internacionais (Gale, 1984; Smith,
1984).
Essa diversidade diz respeito principalmente à intervenção pública no desenvolvimento
urbano, muito presente no caso das cida- des européias, e compreende que o livre mercado
estrutura de modo mais evidente a transformação das cidades norte-america- nas. Enfim, no
decorrer dos anos noventa assistiu-se a uma "recuperação" do centro, associada à renovação
do distrito por meio de políticas públicas que contribuíram para reduzir os riscos assumidos
pelos promotores imobiliários que haviam investido nesses espaços.
Hoje nos encontramos diante de um centro muito mais heterogêneo e multifuncional que,
para além de sua função residencial e de localização dos principais monumentos públicos,
constitui a zona comercial por excelência e o principal espaço de lazer e de cultura da cidade.
Antecedentes históricos e evolução sócio-econômica do bairro
Suburbanização e imigração na Ciutat Vella
Depois da destruição das muralhas e da expansão da cidade no século XIX, a burguesia,
incomodada pela grande densidade de população no centro antigo, se deslocou em direção a
Eixemple. A Catalunha era uma das regiões mais industrializadas da Espanha, e buscava
fortemente populações de fora para movimentar suas fábricas. Uma parte dessa população
atendeu à chamada se instalou no centro antigo desde 1941. Foi assim que a Ciutat Vella
começou a perder moradores de forma ininterrupta a partir de 1955, ano durante o qual ela
atingiu sua população máxima, de 250 mil habitantes, três vezes mais do que atualmente.
Esses dados mostram que a segregação, ocasionada numa primeira etapa pela saída da
burguesia, e, numa segunda, pela periferização das classes trabalhadoras, acelerada ainda pela
localização suburbana da indústria a partir da segunda metade do século XIX, marcou
fortemente a imagem da Ciutat Vella como uma zona degradada onde os investimentos, tanto
públicos como privados, foram raros.
Renovação urbana
Em meados dos anos oitenta a situação de degradação do bairro vai mudar em razão das
políticas do governo local, que orienta seus investimentos em função de três postulados
resumidos a seguir:
 A totalidade do distrito é declarada Área de Reforma Integral, incluindo os domínios
da proteção social e da seguridade cidadā da promoção de atividades econômicas.
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 Repartição espacial e aplicação do Plano de Uso dos Estabelecimentos Públicos: esse
plano estuda até que ponto a prefeitura pode regular e limitar a atividade dos bares e
pensões da Ciutat Vella, fechando os ilegais, controlando as normas de higiene e
segurança dos que permanecem abertos, e reduzindo as possibilidades de instalação
em alguns lugares, principalmente na parte baixa do Raval. .
Outros fatores, como o crescimento do turismo depois dos Jogos Olímpicos de 1992, também
contribuiram para essa revalorização econômica, considerando que 60% dos turistas passa
pelo centro, que constitui o principal lugar de consumo e concentra a maioria da oferta em
matéria de lazer e cultura (principalmente os hotéis, bares e restaurantes).
Assim, na zona de La Ribera os "pioneiros" ou primeiros moradores que chegaram a esses
lugares revalorizados, geralmente artistas e estudantes de recursos econômicos relativamente
modestos (Ley, 1996), se misturaram com os imigrantes sem recursos, mas também com os
"gentrificadores" que lucram com o movimento turístico:
De outro lado, os imóveis situados ao longo dos eixos interiores, nas ruas não reabilitadas,
estavam até agora ocupados pelos estratos econômicos mais pobres, mas essas zonas foram
rapidamente gentrificadas, o que significa que não existe mais, na prática, apartamento
acessível na Ciutat Vella em geral, principalmente em La Ribera.
O forte aumento dos preços imobiliários durante os últimos anos ocorreu paralelamente à
renovação urbana e produziu - como nós mostramos - situações de gentrificação, processo
este que poderá se estender a outros bairros.

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7. A reapropriacao de património simbólico do centro histórico de Nápoles

A necessidade de compreender as mudanças nas cidades, incluindo a fragmentação dos


tecidos urbanos, as práticas territoriais e a emergência de novas centralidades. Destaca-se a
importância de reinterpretar conceitos como "território", "cidadania", "espaço
público/privado", "centro histórico", "patrimônio" e "apropriação do espaço" para entender as
representações e construções da imagem da cidade. Exploram as relações entre as
representações políticas e as práticas sociais do território, com foco na cidade de Nápoles nos
anos 90. Sugere uma análise das mudanças na qualidade de vida urbana, especialmente nos
espaços centrais e históricos da cidade.
Nápoles: o excepcional e o usual, para alem da modernidade
Nápoles é realmente uma cidade de contrastes, onde a beleza e a riqueza cultural se misturam
com desafios sociais e urbanos. A conexão profunda entre a cidade e seus habitantes é
fascinante, assim como a capacidade de Nápoles de enfrentar e superar suas dificuldades,
demonstrando a resiliência do povo e sua ligação duradoura com sua casa.
A reconstrução após o terremoto e a necessidade de redefinir a relação entre política e cidade
são aspectos cruciais para moldar o futuro de Nápoles. A cidade tem um potencial incrível
para transformação, e é inspirador ver como as características únicas de Nápoles moldam não
apenas sua paisagem física, mas também seu tecido social e cultural.
A evolução do território: rumo à normalização
A evolução do território de Nápoles ao longo desses três períodos é realmente fascinante e
revela os desafios enfrentados pela cidade. Desde a especulação fundiária e a expansão
demográfica até as intervenções para compensar crises industriais e desastres naturais, a
cidade passou por transformações significativas.
A fase da normalização, que começou com a administração de Antonio Bassolino, foi crucial
para restabelecer as normas urbanísticas e simplificar as regras, visando à revalorização da
imagem de Nápoles tanto para os habitantes locais quanto para os visitantes. A
implementação da "Variante al Piano Regolatore Generale (PRG) de Nápoles" e as ações
voltadas para a reabilitação do patrimônio histórico, valorização das zonas verdes,
reconquista da relação com o mar e requalificação dos setores urbanos são passos importantes
na direção da melhoria do ambiente urbano.
Houve uma mudança significativa na abordagem da gestão e ordenamento do território
urbano ao longo desses períodos.

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O Centro Storico: questões urbanisticas e estratégias políticas
As complexidades do desenvolvimento urbano e da preservação do centro histórico de
Nápoles, com ênfase na evolução histórica e nas estratégias urbanas e políticas que moldam a
área. A luta para equilibrar a preservação histórica com a melhoria urbana, juntamente com
os vários projetos e iniciativas destinados a revitalizar a área, é realmente intrigante. A ênfase
na manutenção da complexidade social da área enquanto implementa a reabilitação física e a
revitalização cultural é um aspecto importante do desenvolvimento urbano.
Além disso, a menção da visão de Antonio Bassolino para o centro histórico como "o maior
museu ao ar livre do mundo", preservando sua complexidade social, é bastante instigante.
Sua abordagem de requalificação sem adicionar novas construções e seu foco em tornar os
antigos bairros confortáveis e habitáveis por meio de melhorias de infraestrutura e
reavaliação cultural são louváveis.
A descrição da transformação da Piazza del Plebiscito após a cúpula do G7 em 1994 também
mostra como eventos internacionais podem impactar positivamente o desenvolvimento
urbano e a percepção da cidade por seus habitantes e visitantes.
A reapropriacao simbólica
É fascinante perceber como a noção de centralidade pode ser tão abrangente e multifacetada,
indo além de apenas a localização geográfica e abrangendo aspectos simbólicos, políticos e
sociais. A transformação do "Centro Antico" de Nápoles realmente reflete uma mudança
significativa na dinâmica urbana, com a evolução dos espaços públicos e a diversificação dos
grupos que os ocupam. O envolvimento ativo de vários setores da sociedade nesse processo é
crucial para a revitalização e preservação do patrimônio histórico e cultural.
A reflexão do autor sobre as mudanças na cidade é pertinente, pois levanta questões
importantes sobre as transformações urbanas e sociais. É válido questionar se as mudanças
realmente alteraram as dinâmicas sociais e territoriais ou se simplesmente criaram uma nova
ordem urbana aparentemente virtuosa. A coexistência de diferentes estratos sociais e a busca
por diferenciação dentro da cidade apontam para a persistência de certas dinâmicas, mesmo
diante das transformações.
As mudanças na cidade têm o potencial de alterar as dinâmicas sociais e territoriais, mas é
crucial avaliar se essas transformações estão promovendo uma verdadeira inclusão e
igualdade dentro da comunidade. A análise cuidadosa das consequências dessas mudanças é
fundamental para garantir que elas estejam contribuindo para uma cidade mais justa,
dinâmica e acolhedora para todos os seus habitantes.

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8. Reinvistir nos espacos Centrais

A difusão de um valor de historicidade da cidade antiga constitui uma mutação nas repre-
sentações coletivas dos espaços centrais anteriormente estigma- tizados como os lugares do
congestionamento, da crise urbana e voltados às práticas populares. Se o termo gentrificação
pode ter sido utilizado para caracteri zar fenômenos diferentes, esta noção é centrada sobre o
papel de segmentos particulares da demanda por habitação que se apro veitam de um
diferencial de aluguéis ou de preço de venda gap para investir em certos espaços urbanos
desvalorizados (Bidou, 2000;

No sentido estrito, se trata de um es quema explicativo dos processos de revalorização de


certos bair- ro centrais ou pericentrais a partir da expressão das necessidades de novas classes
médias, necessidades essas não respondidas pela oferta dos promotores imobiliários.

Para alguns autores, a gentrificação caracteriza uma reestruturação social (Smith, 1987) - uma
transformação nas estruturas de emprego (Bidou, 2000) - - e práticas residenciais associadas
às novas camadas sociais que valorizam uma "volta" a espaços antes desvalorizados, As
muta- ções das estratégias residenciais puderam ser consideradas como signos do surgimento
de uma nova classe média urbana caracteri zada essencialmente por novos modelos de
consumo (Carpenter & Leees, 1995).

Numa acepção mínima, os fenômenos descritos com esse termo caracterizam um


"emburguesamento", e a substituição de uma pulação de renda baixa por outra de renda alta,
ou seja, umana po ção de população, e uma expulsão das camadas populares de mutas
espaços centrais (Hamnet, 1984).

Ainda que Gareth Jones e Ann Varley (1996) proponham estender a noção aos fenômenos de
valorização comercial e turística desconectados de dinâmicas residenciais, me parece que
para con- servar um interesse heuristico a noção de gentrificação aplicada aos centros das
cidades mexicanas não pode se limitar a transfor- mações ocorridas nas práticas da cidade e
deve se concentrar so- bre as dinâmicas residenciais dos espaços que simbolizam a crise dos
centros: os bairros e os centros comerciais populares.

Para uma compreensão do sentido dos fenômenos considerados nesse contexto como sig- nos
da revalorização dos espaços centrais, é importante situar as dinâmicas globais em relação à
evolução dos diferentes sub-espa- ços centrais (centros administrativos e políticos, centro
comercial valorizado, centro comercial popular, bairros) e assinalar que uma grande parte dos

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signos mobilizados para atestar uma (re)valorização e um (re)investimento, assim como uma
parte im- portante da ação do poder público, se referem a espaços que nun- ca foram
realmente desvalorizados.

No entanto, poucas evoluções são perceptíveis nas dinâmicas da habitação dos bairros
populares centrais, e me parece que os si nais da "revalorização" continuam na ordem das
representações, ou limitadas às práticas de alguns setores da população e a um refinamento
comercial de alguns bairros.

Apesar da generalização de um modo de vida baseado em ca- sas com quintal, e na


desvalorização do espaço central pelas clas- ses médias e abastadas, em várias cidades o
centro permanece como o principal lugar de localização das atividades políticas, reli- giosas e
culturais. Os centros das cidades são também os centros das cenas políticas locais, o lugar de
confronto entre as elites - intelectuais e políticas-, de expressão das demandas políticas, e o
cenário da reafirmação da legitimidade popular dos diferentes poderes (encontros,
manifestações e festas oficiais).

centro histórico não é mais o único espaço de abastecimen to: novos espaços de centralidade
apareceram nas proximidades ena periferia, mas, na escala das aglomerações, é ainda na zdes
central que a ofeque casaercial & mais importante e diversifi zona Parece então que as
análises sobre o declínio e crise dos cen- mos devem ser relativizadas. Nesses locais, vários
edifícios abandonados pela burguesia no início do século XX foram divididos na forma de
"vecindades" (cortiços), e novas construções desse tipo foram criadas nesses espaços até os
anos quarenta para serem alugados.

Estigmatizada naroderie de discursos, mas valorizada por outros como um cenário de uma
sociabilidade pos pular que deve ser preservada, a "vecindad" foi um dos lugares onde se
desenvolveu a antropologia urbana (Lewis, 1961), e, se- gundo o modelo de análise das
mobilidades intraurbanas de John Turner, o espaço de acolhida dos imigrantes.

segundo tipo de espaço estigmatizado é o centro comercial popular, formado pela


proliferação de "ambulantes" em torno dos mercados centrais que desempenharam durante
muito tempo o papel de mercado atacadista para o conjunto da cidade, aos quais vêm se
juntar pequenas indústrias, artesanato e serviços para as camadas populares, e as estações
rodoviárias.

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9. Reapropriacao de bairros da Cidade de Mexico

A partir dessa época, as quatro grandes metrópoles mexicanas - Cidade do México,


Guadalajara, Monterrey e Puebla - vão se situar entre as cidades com maior taxa de
desemprego, A relocalização da demanda econômica e do crescimento em direção às cidades
do centro-norte e do norte do país, assim como os efeitos da partida da população da capital
em razão dos terremo tos iriam então se conjugar para diminuir o peso de atração da capital
sobre as migrações rural-urbanas.

De fato, um estudo de 1987 já demonstrava que a Cidade do México apresentava um saldo


migratório negativo, ou seja, mais saídas do que entradas Além disso, parece que as saídas se
concentraram principalmente (e assim continuam) nos setores de classe média que dispõem
de um certo nivel de capital ou formação profissional, enquanto as entradas continuaram a
provir de regiões vizinhas ou do sul do país, regiões pobres e populações que só podem
ocupar posições muito secundárias no mercado de trabalho da capital mexicana.

Esse crescimento periférico induziu una recomposição dos mecanisinos de apropriação do


espaço que parecem situar-se a seguinte dinamica: por un lado, um crescimento da periferia
pro vocado pela relocalização dos segmentos mais pobres da popula ção, incapazes se munter
nos espaços mais centrais por causa da elevação da renda fundiária, por outro, a formação de
exten sos bairros ricos e mesmo muito ricos a oeste da cidade, onde se concentram os
"ganhadores" do processo de reestruturação eco- nómica.

Freqüência a restaurantes também aparece como um dos traços essenciais deste novo
consumo de classe média: não ape- nas aos restaurantes das cadeias americanas que cada vez
mais se impõem, mas também àqueles que oferecem uma "nouvelle cuisine" híbrida, que
recupera elementos da cozinha mexicana clás- sica com aportes internacionais, e é cada vez
mais apreciada pe- los novos setores de classe média: a moda da tequila, os pratos raquíticos
e caros, tudo isso faz parte dos seus hábitos.

Vamos voltar analisado o caso de outros centros, na nossa opinião também mui- importantes
a esse ponto, depois de ter no processo que nos ocupa Na maioria dos casos, os antigos
centros de povoados em volta da Cidade do México mantiveram sua estrutura elementar cen-
ral, ou seja, antigos bairros coloniais em torno da praça central, com igreja, eventualmente a
prefeitura, a escola, e algumas cons truções que ao longo dos séculos foram destinadas ao
comércio Em torno desses edifícios centrais, algumas quadras puderam ser preservadas do
tempo e dos efeitos das intervenções especulativas.
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10. Requalificar o seculo XX

O ultimo tema aborda aspectos para saber se essa "gentrificação sem passado" de repente se
torna, nos anos oitenta, uma estratégia urbana global e concentrada, se ela é um traço da
mundialização, no sentido em que os geógrafos entendem esta última (Dollfus, 1997), ou a
concretização e consolidação de uma categoria socioeconômica que dá conta das
recomposições urba- nas nesse período pós-fordista. Essas duas interrogações nos ser- virão
de matriz para apresentar o caso de São Paulo, no contexto de uma mudança geral de atitude
diante das áreas centrais das cidades do Brasil, depois de quase vinte anos de reabilitação da
maior parte dos centros de cidades mexicanas.

Nos anos oitenta assistimos à passagem de uma corrida para a modernidade, concretizada
pela expansão continua das cidades em direção à periferia diventavertical quanto
horizontalmente, segundo configurações diversas, e recorrendo à planificação téc nico-
econômica por meio do sistema de financiamento habitacional (BNH).

Neil Smith afirma que "o liberalismo do fim do século sugere uma rede de convergências
entre as experiências urbanas nas grandes cidades do que se chama o primeiro mundo e o
terceiro mundo", e a gentrificação seria um desses aspectos.

Entretanto, é bem claro que os atuais promotores de programas de "revitalização", segundo a


expressão consagrada no Bra- sil, não reconhecerão a visão que eles querem dar do futuro dos
centros urbanos na irreversibilidade mais ou menos declarada des- sas grandes tendências.

tomada de consciência em certos meios cultos da necessidade de "conservar um patrimônio


que remete à cultura local", "revitalizar a cidade de forma sustentável", "bem administrar",
etc., realmen- te tem mais relação com a Europa do que com os Estados Unidos, não como
um retorno às fontes, mas antes face à evolução do modelo urbano em um e noutro
continente.

antes a representações imaginárias da cidade norte-americana, percebida como um modelo


único de leste a oeste do Estados Unidos, mesmo sabendo que ela possui muitos tipos de
evolução, do qual um seria esse da Nova Inglaterra, onde se observa o de- senvolvimento de
um processo de gentrificação, e outro, o californiano, de expansão periférica ilimitada (Los
Angeles).

Como no tempo da reforma urbana no início do século XX e como no tempo do higienismo, é


nos congressos de arquitetos, de urbanistas e de representantes dos governos municipais que
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ve-mos ser desenhados os traços desse "projeto" suscetível de mu- dar o sentido, ou de
transformar em bem-estar as tendências de Requalificar o século XX: projeto para o centro de
São Paulo.

Cidade original, construída fundamentalmente entre os anos 1900 e 1950, conheceu


vicissitudes que se desenrolaram num rit- mo tão rápido como o do seu crescimento,
deixando, entretanto, a cada etapa traços bem visíveis dos modos de vida de uma burgue- sia
que não parou de se afirmar.

Um dos lugares que pertencem ao coração simbólico da cidade, por exemplo, a praça da
Repúbli- ca- hoje muito desvalorizada em razão das representações que lhe são associadas,
principalmente como lugar de tráfico e consu- mo de crack - oferece, quando contemplada de
um sexto andar, uma concentração extraordinária da arquitetura (tropical?) do sé culo XX
para uso de uma burguesia moderna e urbana, que Niemeyer não renegou, pois aí construiu
dois edificios.

Ela faz tal afirmação com relação a uma área central que foi particularmente maltrata- da nos
anos setenta, quando se privilegiou a construção de vias de circulação rápida através da
cidade na altura dos primeiros anda- res de edificios residenciais, obstruindo as ruas, e tudo
isso a cus- tos altíssimos (Santos, 1990).

Mas essa imagem não dá conta da presença e da manutenção de bairros de tradição burguesa
(no distrito da República, por exem- plo), de bairros tradicionais de comércio especializado e
étnico (como a rua de restaurantes exclusivamente italianos e o "bairro japonês", no distrito
da Liberdade), de ruas de bares e prostitui- ção, enfim, da manutenção ou do retorno de
atividades bancárias, administrativas e culturais em alguns dos arranha-céus mais pres-
tigiosos dos anos vinte/trinta nos distritos da Sé e República.

município (circunscrição administrativa que não é equivalente à comuna francesa, porque ele
é soberano e pode legislar) com seus 10 milhões de habitantes, parou de crescer, e a zona
central, sobre a qual nos debruçamos teve em 20 anos (1980- 2000) uma taxa de crescimento
negativa de 19,78% (Sposati, 2001).

Os indicadores sociais clássicos são aí relativamente homogê- neos, e parecem mesmo


melhores em dois distritos do oeste que no leste, em termos de renda familiar e de nível de
instrução (mé- dia de 5 a 10 salários mínimos por família, a leste;

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proporção de automóveis por moradores é claramente inferior à média do município (seria
por insuficiência de renda, por ausência de estacionamentos privados, por medo dos ladrões
ou por uma mentalidade "ambientalista" pós-moder- na?), mas, sobretudo, a taxa de
criminalidade sobre a qual já fala- mos, é elevada nos dois distritos mais centrais, Sé e
República.

Os 10 distritos têm 600 mil empregos declarados, 500 mil pedestres, 250 linhas de ônibus e
lotações que transpor- tam diariamente uma população de empregados, de " vendedores
ambulantes" (cerca de 170 mil?), de artesãos e de visitantes;

No ano de 2001, se observava que "reciclagens" pontuais ti- nham acontecido sobretudo no
setor conhecido como Centro Ve- lho (Sé): órgãos da administração, centros culturais, um
dos quais patrocinado pelo Banco de Boston, shopping center, circuito de pedestres
("calçadões"), e ainda outros.

As prioridades dos governos munipais anteriores tinham sido orientadas para a preparação da
zona oeste do município, para receber os novos centros de negócios (das avenidas Faria Lima
e Berrini), ao preço de consideráveis escândalos de corrupção, e de um endividamento urbano
sem precedentes (14 bilhões de reais, em 1999).

outra corrente promove a requalificação pela intervenção do setor privado, mediante a


promoção de objetos culturais consumíveis por uma "classe média" cujo padrão de vida é
globalizado, mas que estaria de algum modo à procura de uma identidade através de uma
cultura reificada.

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11. Conclusão

A obra “De Volta à Cidade: Como Resolver o Dilema Urbano” de Richard Florida, traz uma
análise profunda e instigante sobre os desafios e oportunidades que as cidades enfrentam na
era contemporânea. Ao resumir e refletir sobre os pontos-chave apresentados por Catherine
Bidou, é possível concluir que a abordagem de Florida oferece uma visão multifacetada da
gentrificação e das questões urbanas.

A gentrificação, como descrita no livro, não é mais um fenômeno localizado, mas sim uma
tendência global que impacta cidades ao redor do mundo. A ascensão da gentrificação como
estratégia urbana levanta questões importantes sobre inclusão social, diversidade cultural e
acesso à habitação.

A gentrificação pode trazer benefícios, como a revitalização de áreas degradadas e o estímulo


econômico, mas também traz consigo desafios significativos, como a exclusão de residentes
de baixa renda e a homogeneização dos bairros. A polarização socioeconômica e a perda da
identidade cultural são preocupações reais que precisam ser abordadas.

Portanto, a conclusão deste trabalho ressalta a importância de adotar abordagens equilibradas


para lidar com a gentrificação. Políticas públicas que promovam a inclusão social, o acesso à
moradia digna e a preservação da diversidade são fundamentais para garantir que o
desenvolvimento urbano beneficie a todos os cidadãos. A obra de Richard Florida e a análise
de Catherine Bidou nos convidam a refletir sobre como podemos construir cidades mais
justas, vibrantes e sustentáveis para todos os que nelas habitam.

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