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REPÚBLICA VELHA
1889-1930
Tomo 1
HISTÓRIA GERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Diretores de volumes
Conselho Geral
Adelar Heinsfeld, Ana Luiza Setti Reckziegel, Arno A. Kern, Fernando Camargo,
Flávio Heinz, Gunter Axt, Helga Iracema Landgraf Piccolo, Heloisa Reichel,
Ieda Gutfreind, Luís Augusto Fischer, Mário Maestri, Maria Medianeira Padoin,
Nelson Boeira, René Gertz, Sérgius Gonzaga e Tau Golin.
Tau Golin
Editor
Banrisul
Patrocínio
Ana Luiza Setti Reckziegel
Gunter Axt
Volume 3
REPÚBLICA VELHA
1889-1930
Tomo 1
© 2007, Nelson Boeira; Tau Golin.
Ademir da Silva
Alessandro Batistella
Carmen N. Pimentel
Jenifer B. Hahn
Moacir Pimentel
Paulo Monteiro
Auxiliares de edição
Alcides Sartori
Gabriela Luft
Hélio Delazzari
Revisão
CDU:981.65
Catalogação na fonte: bibliotecária Marisa Miguellis CRB10/1241
ISBN: 85-89769-35-6
Impresso no Brasil
História Geral do
Rio Grande do Sul
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APRESENTAÇÃO
Raul Pilla, João Neves da Fontoura, Oswaldo Aranha, José Antônio Flores da
Cunha, Getúlio Dornelles Vargas, dentre muitos outros, emprestaram seus
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nomes a cidades, logradouros públicos, instituições diversas e ainda hoje po-
voam o imaginário coletivo, suscitando paixões, dividindo opiniões. A radicali-
zação da política que brotou no Rio Grande feito erupção após a proclamação
da República encharcou todos os poros da atividade social. Mesmo quando a
vida parecia seguir seu curso normal, o espectro da guerra e da violência po-
lítica insinuava-se no horizonte e aterrorizava a memória.
A Revolução Federalista, que se estendeu de 1893 a 95, consubstanciou-
se num dos episódios mais dramáticos e sangrentos de nossa história. Durante
anos, para alguns, escrever sobre isso chegou a ser quase um tabu. Lembrar
as atrocidades de um passado de ódios desaçaimados era também revelar a
nossa face incivilizada, evocar fantasmas e atrair o risco de novas represálias
ou perseguições. Mas foi nessa guerra civil, revisitada pela historiografia na
segunda metade do século XX e no início do século XXI, que se jogou o futuro
da República no Brasil. Conectando-se com a Revolta da Armada, a Federa-
lista chegou a conflagrar três estados da nascente Federação, numa avalan-
che de insubordinação que levou o cerco naval e um bombardeio à capital fe-
deral, implantou por breve período a duplicidade de governo nacional, mobi-
lizou o Exército brasileiro, combaliu as finanças nacionais e repercutiu sobre
os países vizinhos.
O desfecho dessa revolução, que deu a vitória ao Partido Republicano Rio-
Grandense (PRR) e ao castilhismo – como se convencionou chamar a corren-
te política e ideológica adunada em torno do líder Júlio de Castilhos –, contri-
buiu para reforçar o regionalismo gaúcho, às vezes até isolacionista – tema,
este, que repercutiu nas artes, sobretudo na produção literária –, e para sedi-
mentar no Estado um modelo institucional peculiar, regido por uma consti-
tuição autoritária e centralizadora e garantido por uma sólida força pública, a
Brigada Militar. Essa peculiaridade institucional fermentou intenso debate.
Enquanto a oposição – vencida, mas não convencida – persistia numa denún-
cia sistemática ao corte autoritário e conservador do governo castilhista-repu-
blicano, a situação arregimentava-se em torno de um discurso de justificativa
do regime de forte influência positivista, o que acabou adensando mais um tra-
História Geral do
Rio Grande do Sul
ço importante da especificidade cultural da formação histórica sul-rio-granden-
se. A doutrina positivista, cunhada pelo filósofo francês Auguste Comte, conhe-
ceu em território sul-rio-grandense um dos campos mais férteis de afirmação
em todo o mundo, o que, certamente, deixou marcas importantes em nosso
Apresentação perfil cultural.
Tais clivagens e particularidades suscitaram desde sempre um intenso
debate historiográfico. A princípio, dividindo os analistas entre aqueles pró ou
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contra Júlio de Castilhos e Gaspar Silveira Martins, aqueles identificados ao
PRR e os mais próximos aos partidos de oposição, sendo os mais célebres o
Partido Federalista e o Partido Libertador. Mais tarde, à luz das novas teorias
sociológicas de informação predominantemente marxistas, discutiu-se se os
governos do PRR foram progressistas ou conservadores, se tinham um pro-
jeto de desenvolvimento econômico alternativo para o estado ou não, e, final-
mente, se estavam ou não imersos na clássica indistinção entre espaço públi-
co e privado e no sistema coronelista de poder, que condicionavam a vida po-
lítica nacional.
Nos últimos anos, as reflexões que avivam tal debate avançaram muito,
graças à descoberta de novas fontes, à cerzidura de novas abordagens, ao
acúmulo de erudição sobre o processo histórico regional e à sofisticação da
ambiência teórica. Não obstante, ainda parecer-mos estar longe de fechar ques-
tão e tudo sugere que a diversidade de interpretações tem-se enriquecido.
Esta obra, portanto, espelha nossa diversidade historiográfica. O leitor
atento encontrará divergências de interpretação entre os autores. Enquanto
alguns afastam a tese de que o sistema coronelista de poder também vigeu no
Rio Grande do Sul, outros reconhecem que ele esteve presente ao nível das
relações de poder, pautando o dia-a-dia do fazer-se da política. Enquanto al-
guns atribuem aos governos do PRR um compromisso sistemático e progra-
mático com a modernização do Estado e a diversificação da economia, outros
acreditam ter se cristalizado uma aliança de frações de classes conservadoras
ao redor do núcleo do poder. Enquanto uns percebem a solidez programática
e a fidelidade partidária, outros tendem a captar uma descontinuidade entre
discurso e prática políticos, enfatizando o clima de insubordinação intestina às
greis e as mudanças de rotas nas políticas públicas. Enquanto uns destacam
os progressos que o período trouxe à economia, outros sublinham nossas ca-
rências infra-estruturais e salientam a falta de iniciativas transformadoras de
parte do governo. Enquanto uns retratam a efervescência cultural no perío-
do, outros esboçam nossa insularidade e nossa precariedade.
Não significa que entre os autores aqui presentes também não existam Volume 3
expressivas convergências. A complexificação do quadro social, por exemplo, República Velha
Tomo I
na esteira de processos como o de urbanização, o de industrialização e o de
imigração, é reconhecida por todos. O aburguesamento e a modernização de
nossa sociedade também são aspectos recorrentes em diversos textos.
Apresentação
De qualquer forma, essa diversidade de análises nos parece sintomática
da vitalidade gozada pelos estudos sul-rio-grandenses, sendo, portanto, con-
veniente representá-la neste espaço. O leitor, ao se debruçar sobre estas pá- 11
ginas, terá uma idéia razoável, não apenas do estado da arte do conhecimen-
to, mas também uma percepção das interpretações multifárias que o colorem.
Os autores foram escolhidos em função da conexão entre os temas pro-
postos e sua reconhecida excelência investigativa. Mas estamos longe de pre-
tender aqui um esforço enciclopédico ou de presumir o esgotamento do assun-
to. Alguns temas não chegaram a ser tratados, seja porque o autor convidado
não tenha podido, por motivos próprios, participar da edição, seja porque, por
orientação metodológica geral da organização da série, não era facultado a um
mesmo autor escrever individualmente mais de um capítulo, estabelecendo,
assim, que alguns precisassem optar entre, por exemplo, desenvolver temá-
ticas específicas relacionadas à política ou à economia, à cultura ou à sociedade,
e assim por diante. Destarte, o fato de não veicularmos nesta edição textos es-
pecíficos sobre, por exemplo, o Poder Judiciário e a Justiça, o Exército, os por-
tos e o sistema de navegação, a indústria de geração e distribuição de energia
elétrica, a indústria têxtil, a metalurgia, enfim, não quer dizer que não exis-
tam pesquisas cuidadosas e bons trabalhos desenvolvidos e publicados atinen-
tes a tais assuntos.
Ademais, certos objetos ainda estão a merecer considerável esforço de
pesquisa para que possamos avançar numa compreensão mais orgânica do
período. As fontes judiciais, por exemplo, restam relativamente pouco explo-
radas pelos investigadores interessados na cultura social gaúcha. Já possuí-
mos muitos estudos sobre células empresariais, bem como biografias, mas este
ainda é um universo a ser desbravado. Sobretudo nas últimas décadas, avan-
çou-se consideravelmente no entendimento da história dos municípios, mas
ainda faz-se necessário um aprofundamento e uma maior sistematização des-
sas informações, sobretudo para o interior do estado. Em que pese tenha sido
um dos períodos mais convulsionados de nossa trajetória, a história militar
ainda tem absorvido poucas atenções. Além disso, inúmeros episódios marcan-
tes ainda esperam por olhares mais aprofundados, como é o caso dos levan-
tes tenentistas de 1924 a 26. Por sua vez, novos estudos econômicos têm sur-
gido, indicando que ainda há muito que evoluir também nessa área. No cam-
História Geral do
Rio Grande do Sul po das relações sociais, estudos sobre gênero, sexualidade, mentalidades e
cotidiano estão a todo o momento reconfigurando a compreensão que fazemos
da cultura. Aliás, os estudos culturais estão entre as grandes novidades histo-
riográficas do momento, como poderá se comprovar nesta edição.
Apresentação
Este volume, em seus dois tomos, portanto, foi um retrato possível do
estado da arte da historiografia sobre a República Velha sul-rio-grandense.
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Um retrato determinado por uma combinação de fatores tão diversos, como
a disponibilidade dos pesquisadores e a existência de pesquisas sólidas a pro-
pósito de múltiplos objetos. Acreditamos, contudo, no mérito da iniciativa, pois
pela primeira vez avança-se consistentemente na sistematização do conheci-
mento sobre o período. Confiamos que o leitor possui em mãos um razoável
guia para a compreensão histórica do período em tela, a partir do qual pode-
rá aprofundar inúmeras questões de seu interesse.
Outro alerta importante diz respeito à fórmula que distribuiu os capítu-
los pelas quatro partes do volume: política, economia, sociedade e cultura.
Conveniente frisar ser compartimentação, por suposto, arbitrária, de sorte
que muitos capítulos, embora alocados numa das quatro partes, acabam tra-
tando de cortes transversais, iluminando um pouco de cada coisa, mas com
foco em determinada matéria. Com referência à divisão temática, consideran-
do a amplitude e transversalidade, política, economia e sociedade abrangem
mais o tomo 1, enquanto que aspectos da sociedade e cultura são assuntos mais
comumente encontrados no tomo 2.
Uma observação curiosa refere-se à vinculação institucional dos articulis-
tas. A maior parte dos pesquisadores reunidos nesta edição ou atua em insti-
tuições de ensino e de pesquisa localizadas fora do eixo metropolitano, ou se-
quer possui uma vinculação institucional exclusiva com uma instituição de
ensino superior. Este quadro indica uma mudança considerável no perfil da
produção intelectual sul-rio-grandense, expressando a pujança crescente do
interior e atestando que a descentralização – geográfica e institucional – da
pesquisa e do conhecimento é hoje uma realidade instalada. Mais do que isto,
sugere que produção intelectual de qualidade também pode ser desenvolvi-
da fora do ambiente acadêmico tradicional por excelência.
Adiante, vale comentar sumariamente cada um dos textos que integram
este volume. Pretendemos, assim, contribuir em alguma medida à navegação
do leitor entre as páginas deste livro.
Ana Luiza Setti Reckziegel não abre este volume por acaso. O seu texto
sobre a Revolução Federalista procura contextualizar a ambiência que cercou
Volume 3
a passagem do Império para a República no Rio Grande do Sul e enfoca o epi- República Velha
Tomo I
sódio que condensou o cadinho de contradições políticas, econômicas e sociais
de forma determinante para a trajetória histórica posterior. A grande contri-
buição do texto de Reckziegel reside em revelar a complexidade das relações
do processo revolucionário com os grupos políticos do vizinho Uruguai, indi- Apresentação
História Geral do
Rio Grande do Sul
Apresentação
18
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
Ana Luiza Setti Reckziegel, Gunter Axt .................................................. 9
DE PODER
Gunter Axt ................................................................................................... 89
O estado da arte ............................................................................ 89 Sumário
Aos inimigos, a lei! ........................................................................ 92
À guisa de periodização ................................................................ 97
19
Institucionalização republicana (1889-95) ............................ 97
Hegemonia castilhista (1895-1903) ....................................... 97
Crise de hegemonia (1903-1907) ........................................... 97
Construção da hegemonia borgiana (1908-13) ....................... 98
Hegemonia borgiana (1913-20) ............................................. 98
Contestações e crise de hegemonia (1921-23) ........................ 101
Recomposição da aliança hegemônica (1923-30) ................... 102
Entendendo a dinâmica de poderes .............................................. 104
Formação do bloco histórico .......................................................... 122
(1889-1930)
Núncia Santoro de Constantino ................................................................ 395
Partir ............................................................................................ 396 Sumário
XV. OS JUDEUS
Isabel Rosa Gritti ....................................................................................... 441
História Geral do
Rio Grande do Sul
Sumário
22
Capítulo I
1893: A REVOLUÇÃO
ALÉM FRONTEIRA
Polarizações políticas
Nos anos anteriores à proclamação da república, o Partido Liberal, es-
teio da maior parte do contingente político que viria a formar o Partido Fede-
ralista, configurou-se o mais influente no estado, dominando a Guarda Nacio-
nal, o Legislativo provincial e a maioria dos governos municipais.
A grande liderança desse grupo era Gaspar Silveira Martins, nascido em Volume 3
República Velha
1834, em Bagé, fronteira com o Uruguai. A propriedade de seu pai estendia- Tomo I
se pela República vizinha e fora local de encontro histórico entre os fundado-
res do Uruguai independente, Juan Antonio Lavalleja e José Fructuoso Ri-
vera. Muito embora Silveira Martins fosse batizado em Melo, no Departamen- I.
1893: a revolução
to de Cerro Largo, seus pais o tornaram brasileiro ao mandá-lo estudar no além fronteira
Norte e Centro do Brasil (em São Luís e Rio de Janeiro, no curso secundário,
e em Recife, na faculdade de Direito). Depois de curto estágio como advoga- 23
do na capital imperial, retornou ao Rio
Grande justamente no momento em
que os rótulos partidários tradicionais
estavam sendo reavivados, e ganhou
as eleições à Assembléia Provincial de
1861, aos 26 anos (LOVE, 1971, p. 25).
Já em 1872, elegeu-se para a Câ-
mara dos Deputados, na qual sua ora-
tória fez sucesso logo de início junto
aos segmentos mais afeitos a reformas
no regime. Reivindicava, em seus dis-
cursos, eleições diretas, responsabili-
dade ministerial, descentralização ad-
ministrativa, liberdade religiosa total
e emancipação de escravos. No mesmo
ano, Silveira Martins assumia o con-
trole da Assembléia Provincial, tor-
nando-se seu líder incontestável e edi-
Júlio de Castilhos e sua família. ficando o Partido Liberal em bases
Museu Júlio de Castilhos, Porto Alegre.
cada vez mais sólidas na província rio-
grandense.
Em 1880, depois de rápida passagem pelo Ministério do Visconde de Si-
nimbu, como ministro da Fazenda, no qual incompatibilizou-se por defender
o direito de voto aos não-católicos, entrou para o Senado. A próxima década
testemunhou a conversão de Silveira Martins de liberal a federalista, bem
como o enfrentamento tenaz do tribuno com Júlio de Castilhos, então líder do
Partido Republicano Rio-Grandense (PRR).
Os anos 80 culminariam com o desabamento do edifício monárquico que
a duras penas mantinha-se frente aos novos tempos. As transformações
socioeconômicas que tiveram início em 1850 com a extinção do tráfico negrei-
ro e seguiram com o crescimento das camadas médias, com o desenvolvimento
História Geral do
Rio Grande do Sul
da cafeicultura, com um incipiente desenvolvimento urbano-industrial e que
se refletiram no âmbito político com a dissensão entre militares e Império, de-
terminariam a sentença de morte da Monarquia, obsoleta e incapaz de adap-
tar-se às exigências da conjuntura.
Ana Luiza Setti
Reckziegel O processo de transformações econômicas e sociais pelo qual passava o
Brasil também ecoou na província sulina. Mediado por um grupo de jovens
gaúchos egressos das faculdades de Direito do centro do país, contaminados
24
pelo desejo de mudanças no regime político, o ideal republicano afirmou-se no
Rio Grande com a fundação do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), em
1882. Em sua maioria, esse grupo era formado por filhos de estancieiros da
Campanha – Joaquim Francisco Assis Brasil, Antônio Augusto Borges de
Medeiros, José Gomes Pinheiro Machado – sendo que os dois primeiros go-
vernariam o Rio Grande e o último seria o mais importante representante do
estado no Senado Federal.
Júlio de Castilhos, que posteriormente converteu-se no grande nome do
republicanismo gaúcho, apresentava algumas diferenças de seus pares, a co-
meçar por sua origem social, pois não fazia parte do grupo de abastados fazen-
deiros da Campanha, tendo nascido na Serra. Indicado, na convenção do PRR
de 1883, para redator do futuro jornal republicano, Castilhos, apesar de recu-
sar o cargo, esforçou-se, juntamente com Antão de Farias, Demétrio Ribeiro,
João Pedro Alves e Ramiro Barcellos, para que A Federação fosse lançada no
início do ano seguinte. Dono de estilo enérgico e direto, exercitou através das
colunas do jornal republicano o vigor e a rigidez no trato com os adversários,
tornando-se seu redator a partir de 1885.
O PRR, que de início adotou praticamente as mesmas coordenadas de
seu congênere paulista, o PRP, pouco a pouco começou a diferenciar-se, prin-
cipalmente em função da radicalização de algumas de suas posições. Através
das páginas de A Federação, deu-se cobertura aos incidentes que compuse-
ram, a partir de 1883, a chamada “Questão Militar”, num estilo de redação
agressivo e questionador do papel submisso reservado ao Exército na políti-
ca nacional. O republicanismo gaúcho, da mesma forma, diferenciou-se do
paulista na medida em que na defesa da abolição da escravatura recusou a cláu-
sula que previa indenização aos proprietários de escravos. A postura do PRR
consolidava-se no sentido de não admitir concessões às mudanças que se ali-
nhavam no horizonte nacional.
Mesmo prestigiado por setores da opinião pública, os republicanos consti-
tuíam minoria na província quando foi proclamado o 15 de Novembro. Os lí-
deres republicanos Júlio de Castilhos e Ramiro Barcellos convenceram, en-
Volume 3
tão, o visconde de Pelotas, oriundo do Partido Liberal, a aceitar a indicação ao República Velha
Tomo I
Governo Provisório para assumir o comando. Tal governo designou Castilhos
à Secretaria do governo estadual, indicando que o poder seria compartido com
a nova geração de políticos engajados no ainda incipiente PRR (CABEDA et al., I.
2004, p. 19-21). 1893: a revolução
além fronteira
Os liberais resignaram-se a contragosto com a nova situação, porém o
PRR mostrou uma postura sectária e contrária aos adesistas de última hora.
25
Começava assim a grande derrubada dos liberais dos cargos públicos, e a subs-
tituição das posições de comando Visconde de Pelotas levaram os secretários
de estado a promover uma série de atos administrativos, organizando nova
estrutura policial e retirando poderes do presidente provisório em benefício
do chefe de Polícia (CABEDA et al., 2004, p. 21). A 9 de fevereiro de 1890, pres-
sionado tanto por antigos liberais quanto por republicanos, o visconde trans-
feriu por decreto o poder a Castilhos, que, mais uma vez usando de cautela,
apontou o general Júlio Anacleto Falcão da Frota como presidente do Esta-
do (FRANCO, 1988).
O governo do general Frota durou apenas alguns meses. Em função de
desacordos com a política emissionista do ministro Rui Barbosa e temendo que
o Banco Emissor do Sul fosse entregue à oposição, Frota renunciou no início
de maio. Nessas circunstâncias, o governo de Deodoro nomeou em substitui-
ção a Frota um militar desvinculado da região, o general Cândido Costa. Em
função de ele encontrar-se no Rio de Janeiro, assumiu o novo vice-presiden-
te, Francisco da Silva Tavares – indicado para o cargo de fiscal do Banco Emis-
sor e francamente hostilizado pelos castilhistas (TABORDA, 1993). Apesar dos
esforços de governar com uma coalizão de antigos conservadores e liberais e
até de republicanos, Silva Tavares conquistou poucas adesões e seu curto perío-
do de governo foi extremamente conturbado, levando-o a renunciar (CABEDA
et al., 2004, p. 22-23).
O clima político no Rio Grande do Sul se acirrava, tendo inclusive alguns
órgãos de imprensa suspendido suas publicações com temor de represálias.
Somente Castilhos, à frente de A Federação, provocava os inimigos, atribuin-
do a Tavares a pecha de “tirano”. Nesse ínterim, assumiu o governo estadual
o general Carlos Machado de Bittencourt, comandante das Armas. Finalmen-
te, em 24 de maio, o general Cândido Costa chegou a Porto Alegre e tomou
posse do governo e restabeleceu as garantias de manifestação políticas. Ainda
assim, Castilhos permaneceu na Secretaria do Interior e Justiça, dando segui-
mento ao aparelhamento da máquina pública por partidários do PRR. No pla-
no nacional, Castilhos apoiou a eleição de Deodoro da Fonseca como presiden-
História Geral do
Rio Grande do Sul
te constitucional numa declarada estratégia de efetivar uma aliança com o go-
verno federal para que sustentasse a consolidação do PRR à frente do poder
estadual.
Em 16 de março de 1891, depois de ter sido aceita por Deodoro a exone-
Ana Luiza Setti
Reckziegel ração do presidente Cândido Costa, assumiu o vice-presidente, Fernando
Abbott, responsável pelo ato nº 192, que regulava as eleições e a composição
à Constituinte. A nova Constituição foi aprovada em 14 de julho e também nes-
26
COSTA, 1922.
sa data foi eleito, de forma indireta, Júlio de Castilhos para
presidente do estado.
O estilo autoritário de governo de Castilhos, que tinha no
positivismo seu aparato ideológico (RODRIGUES, 1980), coin-
cidia um tanto com a forma que Deodoro da Fonseca dirigiu
os primeiros anos da recém-instalada república. Apesar de ter
nomeado o liberal, visconde de Pelotas para presidente do es-
tado, Deodoro colocou Castilhos num posto-chave, o de secre-
tário de Governo, que lhe permitia controlar a nomeação dos
funcionários. Detendo esse poder, Castilhos provocou um ver-
dadeiro expurgo dos liberais dos cargos municipais e esta-
duais. Delegados de Polícia e comandantes de unidades da
Fernando Abbot
Guarda Nacional também foram exonerados. Ficava clara a
intenção de montar uma eficiente máquina de controle políti-
co, para a qual os liberais apresentavam o maior entrave.
Da mesma forma que o presidente apresentava dificuldades no trato com
o Legislativo Federal, o republicano sulino, por sua vez, fez aprovar um pro-
jeto de constituição estadual, obra exclusivamente sua, restringindo as funções
do Legislativo à votação orçamentária, criação, aumento ou supressão de tribu-
tos e à autorização do governador a contrair empréstimos (FRANCO, 1988, p. 27).
A par dessas coincidências, quando Deodoro decidiu pela suspensão das
atividades do Congresso Nacional, em 3 de novembro de 1891, Castilhos
imediatamente apoiou o golpe, estampando nas páginas de A Federação o ma-
nifesto de Deodoro e garantindo ao presidente que a ordem seria mantida no
estado.
A posterior destituição de Castilhos, em função de sua identificação com
o golpe deodorista – a qual ele justificava pelo temor de uma guerra civil – dei-
xou o poder a um triunvirato formado por Assis Brasil, Barros Cassal e Luis
Osório que ocupou a presidência do estado até junho de 1892, e que depois foi
pejorativamente alcunhado pelo líder do PRR de ¨governicho¨.
Os primeiros momentos do governo de Júlio de Castilhos já tinham opor- Volume 3
tunizado antever seu autoritarismo, provocando rupturas entre os antigos com- República Velha
Tomo I
panheiros fundadores do PRR, como foi o caso de Assis Brasil e Barros Cassal,
Borges de Medeiros e Ramiro Barcelos. A oposição crescia. Antes formada pe-
los antigos donos do poder, notadamente os liberais liderados por Silveira I.
Martins, contava agora com os dissidentes do próprio partido republicano. 1893: a revolução
além fronteira
A oposição reuniu-se em Bagé, lançando oficialmente o Partido Federa-
lista em fevereiro de 1892. Os federalistas agrupavam-se em torno de seu lí- 27
der, Silveira Martins, e articulavam uma possível volta ao governo rio-granden-
se, pronunciando-se, naquele momento, claramente como oposição aos casti-
lhistas. Alheio à pecha de “monarquista”, Silveira Martins defendia a república
parlamentarista, falando inclusive na possibilidade de convocação de um ple-
biscito para escolher o sistema de governo (JACQUES, [s.d.], p. 139).
Naquela oportunidade, todos tramavam. Os federalistas teciam estraté-
gias para serem reconhecidos como força política, a fim de disputar o mando
no estado, e esforçavam-se para se defenderem das acusações que lhes asso-
ciavam aos monarquistas – aliás, o principal argumento dos castilhistas para
a sistemática perseguição aos federalistas. Os castilhistas, por sua vez, arqui-
tetavam a derrubada do governicho, pretendendo a recondução do PRR ao
poder – para o quê tiveram o apoio do presidente Floriano, que se dispôs a
transigir para assegurar a estabilidade da república presidencialista.
Iniciavam-se, nesse quadro, os preparativos para o golpe. Em março de
1892, em Monte Caseros, na Argentina, um grupo de republicanos emigrados
realizou um encontro no qual decidiram pela ação revolucionária contra a pre-
sidência do estado. O governicho ficava cada vez mais acuado e sem meios de
ação: de um lado, os castilhistas pressionando para sua derrubada; de outro,
os federalistas organizavam-se em partido próprio, praticamente excluindo os
republicanos dissidentes (FRANCO, 1988, p. 123).
A instabilidade política no Rio Grande do Sul repercutia no país vizinho,
estando as autoridades uruguaias atentas aos acontecimentos gaúchos. Este
fato estava estreitamente ligado com o envolvimento de lideranças políticas
uruguaias na contenda gaúcha.
No que diz respeito à Revolução Federalista, foram identificados neste
estudo Gumercindo Saraiva e seu irmão, Aparício Saraiva, ou Saravia con-
forme grafia de seu país, como os nomes de maior importância no arranjo fede-
ralista-uruguaio.
A historiografia discute a questão da nacionalidade de Gumercindo: uru-
guaio ou brasileiro? Parece não haver dúvida quanto ao local de batismo de
História Geral do
Rio Grande do Sul Gumercindo, uma vez que foi encontrada sua certidão na Câmara Eclesiástica
do Bispado de Pelotas, em 1923 (FONSECA, 1957, p. 53). Entretanto, o local de
batismo não correspondia necessariamente, naquela época, ao de nascimen-
to. Muitos casos ocorriam de nascimentos no Uruguai e batismo no Rio Gran-
Ana Luiza Setti
Reckziegel de do Sul e vice-versa. Tal questão reafirma que a fronteira rio-grandense-uru-
guaia não era percebida enquanto divisão de modos e costumes de vida, sen-
28
do habitual ser nascido em um lado e batizado em outro.
Estado-maior do Exército Federalista. Em pé: Artur Maciel, Estácio Azambuja e Domingos
Ribas. Sentados: Mateus Collares, Aparício Saraiva, Gumercindo Saraiva e Cizério Saraiva.
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. RUAS; BONES, 1997.
Volume 3
República Velha
Tomo I
I.
1893: a revolução
além fronteira
35
A desconfiança de que os agentes encarregados das investigações em
Montevidéu lançaram sobre o encarregado da Legação, embaixador Alvim, foi
de extrema significação ao rumo que iriam tomar as relações tanto entre Rio
Grande e governo federal, quanto entre o estado rio-grandense e o Uruguai.
De uma possível avaliação do então presidente Fernando Abbott sobre a in-
formação recebida, pode-se desenhar duas conclusões: a primeira, de que a Le-
gação Brasileira em Montevidéu não era confiável, pois seu titular mantinha
estreito relacionamento com o líder do movimento que visava desestabilizar
o governo gaúcho; a segunda, de que, em face disso, as autoridades rio-
grandenses deveriam encaminhar com maior autonomia as coordenadas de
sua política com o Uruguai.
O embaixador Alvim, premido pelos inequívocos sinais de desconfiança
de parte das autoridades do Rio Grande do Sul, demonstrava total desconten-
tamento com tal ingerência, considerando-a indébita, e queixava-se diretamen-
te ao ministro das Relações Exteriores.
Antes mesmo de a revolução ser deflagrada já se notava um indício de
mal-estar entre os diplomatas brasileiros no Uruguai, como foi o caso de Alvim
e as medidas tomadas pelo Rio Grande do Sul. Se, como parece, a gestão das
autoridades brasileiras na capital uruguaia não satisfazia a expectativa do Rio
Grande, nada mais ao estilo da tradição deste estado do que gerir por seus
próprios meios a sua política externa. Adviria daí um tipo de relacionamento
com o país vizinho que não contemplaria as bases ditadas pelo Ministério das
Relações Exteriores, mas sim colocar-se-ia à margem deste, desenvolvendo-
se uma verdadeira diplomacia marginal.
As críticas ao procedimento do governo uruguaio no que diz respeito à
presumível conivência com os federalistas, também ganhavam as páginas dos
jornais republicanos
do interior do esta-
do. Muito à vonta-
de, não poupavam
críticas e ataques aos
História Geral do
Rio Grande do Sul
Ao que parece, o governo uruguaio falava pela voz do diário dizendo aqui-
lo que a diplomacia oficial não se arriscava a dizer em seus ofícios de governo
a governo. O embate retórico ganhou toda a sua dimensão quando os federa-
listas efetivamente invadiram o Rio Grande, em fevereiro de 1893, declaran-
do guerra ao governo estadual. Aí, a crise além-fronteiras agravou-se substan- Volume 3
cialmente. Isso prova que a situação de fronteira viva com o Uruguai, e todas República Velha
Tomo I
as implicações que disso decorrem, concedeu ao Rio Grande do Sul, uma con-
dição até certo ponto privilegiada, se considerarmos que o conflito de 1893 –
cujas raízes atrelavam-se à disputa pelo poder local – desencadeou um atrito I.
1893: a revolução
de proporção internacional. Tal situação, somada à necessidade de fortaleci- além fronteira
mento das instituições republicanas, foi decisiva para a mobilização do gover-
no federal em função dos interesses da máquina castilhista. 37
Na sua relação com o governo federal, no entanto, o Rio Grande do Sul
permanecia atrelado a um velho dilema: autonomia ou subordinação? Para-
doxalmente, constata-se que concomitantemente às solicitações de interven-
ção do governo federal junto ao governo uruguaio a fim de exigir pelas vias di-
plomáticas a manutenção da neutralidade daquele país no confronto gaúcho,
o PRR foi, paulatinamente, configurando um estilo de governo diferenciado
dos demais partidos republicanos da federação, fosse por sua condição peri-
férica, fosse por seu autoritarismo. Isso refletiu-se também na escala de seu
relacionamento internacional. Os sucessos de l893, no patamar das vincula-
ções externas, prepararam caminho para uma experiência de diplomacia sui
generis, a qual dispensaria a mediação do próprio Ministério das Relações
Exteriores.
Uma vez invadido o Rio Grande pelos federalistas através da Fronteira,
o conflito espalhou-se por outras regiões do estado, como a Serra e o Litoral,
tendo essas, porém, envolvimento menos direto na contenda. Da mesma for-
ma ocorreu no Uruguai, onde os departamentos do Norte foram o palco prin-
cipal das agitações federalistas e sentiram de perto o efeito das alianças con-
traídas entre caudilhos locais e revolucionários de Silveira Martins. Compre-
enderemos melhor esse fato se situarmos os departamentos do Norte uru-
guaio, os chamados “departamentos blancos”, no contexto sociopolítico uru-
guaio.
Volume 3
A revolução sob duas bandeiras: República Velha
Tomo I
federalistas e blancos
Até este momento, procurou-se evidenciar o caráter de interconexão que I.
historicamente se estabeleceu entre Rio Grande do Sul e Uruguai, notada- 1893: a revolução
além fronteira
mente entre a chamada “zona de fronteira”. Do mesmo modo, percebeu-se que
durante os períodos de convulsão revolucionária, fosse de um lado, fosse de
41
outro da fronteira, o
inter-relacionamento rio-
grandense-uruguaio
pode ser encarado numa
dimensão ainda mais
significativa. O rasgo
temporal que compreen-
de a Revolução Federa-
Casa de Gaspar Silveira Martins, em Melo, Uruguai.
Local de reunião dos federalistas. lista não foi diferente em
termos da imbricação bi-
lateral, no entanto, apre-
sentará uma particularidade: em nenhum momento anterior as ligações de
um grupo de rio-grandenses com uma facção de uruguaios causou tamanho
constrangimento internacional ou gerou crise tão significativa no relaciona-
mento diplomático. A diferença desse momento foi marcada por um fato inu-
sitado em termos das relações Brasil-Uruguai, configurado pela relativa au-
tonomia com a qual o governo rio-grandense encaminhou o diálogo com o go-
verno estabelecido em Montevidéu, o qual consistiu numa verdadeira diplo-
macia marginal.
A revolução eclodiu no dia 2 de fevereiro de 1893, quando os federalistas
liderados por Gumercindo Saraiva, passaram a Fronteira rumo a Bagé com
mais de 400 homens, em grande parte brasileiros, usando divisas vermelhas,
mas também com número considerável de orientais, que ostentavam divisas
brancas, demonstrando sua vinculação com o Partido Blanco.
Os preparativos de invasão vinham sendo feitos desde o ano anterior, com
mobilizações de federalistas que recebiam apoio nos departamentos de Cerro
Largo, especialmente na cidade de Melo e de Rivera, e também de um número
significativo de rio-grandenses que possuía propriedades nesses locais, como era
o caso de Silveira Martins e Leopoldo Maciel, ou que ali estavam instalados como
foi o caso do médico Ângelo Dourado.
Os líderes federalistas faziam constantes encontros preparatórios para a
História Geral do insurreição. A casa de Gaspar Silveira Martins, em Melo, transformou-se no
Rio Grande do Sul quartel-general dos revolucionários. As reuniões estendiam-se noite adentro,
tratando da obtenção do armamento e de contribuições pecuniárias de fazen-
deiros da região. Junto aos estancieiros da Fronteira foi conseguido montan-
Ana Luiza Setti te significativo para os recursos de guerra. Foi o caso de doações vindas de Ri-
Reckziegel vera, Salto e San José. Aqueles que não contribuíam com dinheiro, ofereciam
os títulos de suas propriedades ao comitê revolucionário e também homens
42 para a luta.
A imprensa de Montevidéu descrevia a situação em que se encontrava a
Fronteira em artigos extensos e detalhados. Ainda no mês de fevereiro, o jor-
nal El Dia informava que as incorporações às forças federalistas eram mui-
tas e vinham das cidades de Santana, Caçapava, Dom Pedrito – onde uma for-
ça do Exército havia auxiliado os federalistas na tomada da cidade, Bagé – na
qual parte do 5º Regimento de Cavalaria sublevou-se e aderiu às tropas de Silva
Tavares – ocorrendo o mesmo em São Borja. As autoridades de Rosário, con-
forme a folha publicava, também haviam desertado e aderido aos federalistas.
Isso era indício de que a revolução era fato e triunfava. Quanto à participação
dos uruguaios, registrava o diário: “Dia a dia aumentam os voluntários orien-
tais no exército revolucionário” (El Dia, 28/02/1893).
O noticiário da capital uruguaia dava conta de que da localidade de San
Eugênio haviam partido em tropa a maior parte dos muitos federalistas que
há tempo ali habitavam. Em Santana do Livramento, da mesma forma, reu-
niam-se numerosas forças revolucionárias, comandadas por David Silva. Este
vinha a ser cunhado de Rafael Cabeda, o grande líder federalista de Santana
do Livramento. Eram sócios num estabelecimento comercial, Silva & Cabeda
Filhos, no qual David Silva exercia a função de gerente, enquanto Rafael tinha
a seu cargo o setor contábil. Cabeda iniciou sua trajetória política filiando-se
ao extinto Partido Liberal e elegendo-se vereador à Câmara Municipal de Li-
vramento. Com a implantação da república e a conseqüente exoneração das
autoridades municipais ligadas aos liberais, muitas figuras políticas locais
transferiram residência para Rivera. Entre essas, estava Rafael Cabeda, ami-
go pessoal de Silveira Martins.
Cabeda exerceu importante papel na organização da resistência fede-
ralista nessa zona da Fronteira, contando com uma colaboração de muita re-
levância, a do chefe político de Rivera, coronel José Nemencio Escobar, do
Partido Colorado, que concedeu aos rebeldes ali instalados todo o tipo de fa-
cilidades.
A acusação de colaboracionismo com os federalistas imputada à cidade
de Rivera, parece merecer crédito. Era fato que ali as autoridades uruguaias
Volume 3
faziam vistas grossas às atividades dos insurrectos rio-grandenses. O inten- República Velha
Tomo I
dente de Santana, Sebastião Barreto, ou Tatao Barreto como era também co-
nhecido, relatava ali se evidenciava “a proteção escandalosa que as autorida-
des desta fronteira dão aos revoltosos” (Arquivo Histórico do Itamaraty – Go- I.
vernos Repartições, Autoridades Regionais e Locais. Livramento, 25/02/1893). 1893: a revolução
além fronteira
Às palavras do intendente de Livramento somam-se os artigos veicula-
dos pela imprensa, corroborando o fato de os federalistas organizarem-se em
43
solo uruguaio e terem o aval das autoridades, situação peremptoriamente ne-
gada pelas instâncias superiores daquele país. Em relação a tais acontecimen-
tos, Castilhos telegrafava a Floriano e, indignado, relatava que “autoridades
orientais não procuram salvar nem mesmo as aparências, protegendo aber-
tamente plano invasão” (Arquivo Nacional - AP 08, Cx 8L-2, Pac-3/RS - Porto
Alegre, 16/02/1893).
As vinculações entre federalistas e uruguaios transformaram-se numa
questão constante na pauta das discussões diplomáticas, cujo destaque foi
imenso na imprensa de ambos os países. Os brasileiros exigiam a manuten-
ção da neutralidade, enquanto que os uruguaios cobravam a violação de seu
território pelas tropas castilhistas que, segundo eles, o adentravam em per-
seguição aos federalistas.
O governo castilhista fazia o possível para guarnecer a Fronteira, envian-
do batalhões de soldados para tentar impedir a constante passagem dos fede-
ralistas de um lado a outro. Entretanto, os recursos estaduais para a forma-
ção das tropas escasseavam e, entendendo ser essa uma função do governo de
Floriano Peixoto, as autoridades rio-grandenses solicitavam a verba federal
para custearem as despesas com a vigilância da Fronteira. A correspondên-
cia remetida a Floriano pelo presidente Castilhos atesta sem sombra de dú-
vida que este último pressionava o presidente da República a mandar os re-
cursos atrelando o conflito com os federalistas a uma questão de segurança
nacional. A República, segundo o mandatário gaúcho, corria riscos devido à
ação restauradora dos seguidores de Gaspar Silveira. O conflito local, assim,
nas palavras de Castilhos, tomava a proporção de atentado às instituições re-
publicanas.
O presidente gaúcho não poupava as palavras quando se dirigia a Floria-
no, dizendo-se disposto a fazer tudo “pela estabilidade do país e felicidade do
Rio Grande, cujos destinos interessavam vivamente à república”, aludindo ao
peso que o estado sulino representava no concerto nacional. As alterações ocor-
ridas no Rio Grande não deixariam de ecoar no equilíbrio da ainda instável re-
pública. Ora, as condições vigentes no estado, cuja oposição preparava-se para
História Geral do
Rio Grande do Sul disputar o poder e mantinha-se estacionada além-fronteiras nacionais, com
sérios indícios de conivência estrangeira, significavam um manancial enorme
a ser explorado por Castilhos em benefício de sua consolidação no poder. Afi-
nal, sob sua perspectiva, estava-se diante de uma situação muito complexa,
Ana Luiza Setti
Reckziegel que envolvia o âmbito da segurança fronteiriça, sendo que, a partir da inclu-
são do componente internacional a questão tomava caráter nacional. Ou seja,
o Rio Grande não só estava ameaçado pela anarquia da contenda doméstica,
44
como também estava à mercê da ingerência ex-
terna. Esse era o quadro pintado com as tintas
castilhistas.
Os pleitos de Castilhos junto a Floriano
eram, geralmente, de duas ordens: aqueles
relativos aos recursos financeiros necessários
ao armamento das tropas para enfrentar os
federalistas e aqueles cuja função consistia em
alarmar o governo federal a respeito da inte-
gridade da república, imputando aos federa-
listas a pecha de monarquistas e separatistas, e
ao vizinho Uruguai a intenção de anexionista. Acampamento de soldados de Aparício
Saraiva na guerra civil de 1893-95.
Ao contrário do que uma análise mais
apurada possa indicar, os apelos de colaboração
ao governo federal não retiravam das mãos de Castilhos o controle de suas
estratégias de ação. Através da correspondência analisada, por exemplo, per-
cebe-se que Castilhos tinha clareza sobre as atitudes que deveria tomar quanto
aos revolucionários, bem como frente ao suposto envolvimento dos uruguaios
junto aos federalistas. O diálogo mantido com o presidente faziam, sim, par-
te de uma política de bom relacionamento, porque: em primeiro lugar, o pre-
sidente devia a Floriano seu retorno ao poder estadual em junho de 1892, quan-
do o presidente foi conivente com o golpe que derrubou o governicho; em se-
gundo lugar, as verbas federais permitiriam financiar todas as modificações
instituídas com a finalidade de reforçar o aparato de segurança do estado, com-
pletamente centralizado nas mãos de Castilhos, e em terceiro lugar, as manifes-
tações do governo federal de apoio à causa do PRR avalizavam suas ações fren-
te aos inimigos.
As circunstâncias que determinaram o apoio dos blancos à guerra tra-
vada pelos federalistas contra o governo de Júlio de Castilhos têm, além das
identificações fronteiriças em nível sociocultural e econômico, um componente
fundamental que vem a ser representado pela posição do Partido Blanco na Volume 3
cena política uruguaia no início da década de 1890. República Velha
Tomo I
Superior à existência de motivações comuns, fosse interesses econômi-
cos, fosse um programa político ideologicamente similar, o apelo à violência
revolucionária é que representou o papel de liame unificador entre os federa- I.
listas de Gaspar Silveira Martins, em 1893, e os blancos de Aparício Saraiva. 1893: a revolução
além fronteira
Não se tratava somente de assalto ao poder, mas o mote dessas revoluções foi
o dilema centrado na impossibilidade da disputa política. Ora, se tomarmos 45
Castilhistas da Divisão do Norte. Batalha do Pulador (Passo Fundo).
Arquivo Histórico Regional – UPF.
Federalistas e colorados
No que tange às conexões existentes entre federalistas e governo uru-
guaio, informava-se que Gaspar Silveira Martins e o presidente Herrera y Obes
encontravam-se assiduamente no Hotel Nova Barcelona, no qual o federalista
hospedava-se, em Montevidéu. O contato realizado entre os dois era atribuí-
do ao embaixador Mello e Alvim, da Legação brasileira em Montevidéu, que
era acusado pelos agentes secretos do castilhismo de traição.
As acusações sobre o embaixador Mello e Alvim agravaram-se a ponto de
o mesmo ser substituído em agosto de 1893. Telegramas cifrados de Monte-
vidéu ao Rio de Janeiro indicavam a presença de espiões na própria Legação, im-
buídos de informar tudo quanto lá se passava. Não recomendavam confiança se-
quer no ministro interino e pleiteavam a vinda em caráter de urgência do novo
designado (Arquivo Nacional, AP08 -Cx 8L-4, pac-4, 14/07/1893 - Montevidéu).
Nos primeiros meses de guerra, as autoridades rio-grandenses travaram
longa luta junto ao Ministério das Relações Exteriores com o intuito de reti-
rar o embaixador brasileiro da Legação em Montevidéu. Vitorino Monteiro,
ex-presidente gaúcho que posteriormente foi nomeado à Legação no Uruguai,
escrevia ao marechal Floriano declarando que o ministro Alvim constituía-se
em sério obstáculo aos interesses gaúchos. O interessante nesta correspondên-
cia é notar que Vitorino considerava Alvim perigoso em função de “suas sim-
patias pelos inimigos da república, o que não nos surpreende pelas suas idéias
monárquicas” (Arquivo Nacional - AP 08, Cx 8L-2, Pac-3/RS, Porto Alegre, 21/
02/1893).
Se, no entanto, o ministro Alvim pendesse simpatias para com a causa
federalista esse não seria um privilégio exclusivamente seu, visto que a impren-
sa brasileira, principalmente do Rio de Janeiro e de São Paulo, indignava-se
com o arbítrio político dos castilhistas no Sul. Constituía-se em tema comum Volume 3
República Velha
nos jornais do centro do país a condenação ao governo rio-grandense e, não Tomo I
raras as vezes, a imprensa manifestou-se no sentido de solicitar a intervenção
federal no governo de Júlio de Castilhos. A esse propósito, também a Câma-
ra e o Senado haviam se pronunciado a favor de uma mediação por parte do I.
1893: a revolução
governo central. além fronteira
Contudo, à medida que surte efeito a campanha que o PRR desencadeou,
atrelando os federalistas ao movimento monárquico restaurador, enfraqueceu 47
a hipótese de intervenção no Rio Grande. Ao contrário, Floriano enviou todos
os esforços para suprir os castilhistas de quadros para enfrentar a revolução
e garantir a consolidação da república.
As gestões para a substituição do embaixador Alvim tornaram-se mais
agressivas à medida em que os revolucionários federalistas alcançavam êxi-
to em suas escaramuças. O próprio Júlio de Castilhos teceu considerações jun-
to a Floriano nos seguintes termos:
História Geral do
Rio Grande do Sul
56
Capítulo II
O CASTILHISMO E AS
OUTRAS IDEOLOGIAS
O Brasil, colosso generoso, ajoelha soluçando junto da tumba do condor al- Volume 3
República Velha
taneiro que pairava nos píncaros da glória. Júlio de Castilhos para o Rio Grande Tomo I
é um santo. É santo porque é puro, é puro porque é grande, é grande porque
é sábio, é sábio porque, quando o Brasil inteiro se debate na noite trevosa da
dúvida e da incerteza, quando outros Estados, cobertos de andrajos, com as II.
O castilhismo e as
finanças desmanteladas, batem às portas da bancarrota, o Rio Grande é o ti- outras ideologias
moneiro da Pátria, é o santelmo brilhante espargindo luz para o futuro. Tudo
devemos ao cérebro genial desse homem. Os seus correligionários devem-lhe
61
a orientação política. Os seus coetâneos, o exemplo de perseverança na luta
por um ideal; a mocidade deve-lhe o exemplo de pureza e honradez de caráter
(VARGAS, 1967, p. 192-193.).
COSTA, 1922.
e da nação (Editorial de A Federação, edição de 7 de
fevereiro de 1898).
Vale a pena destacar, aqui, a mudança sofrida pelo conceito de bem pú-
blico, segundo a tradição castilhista. Tanto que para o pensamento liberal o
bem público desprendia-se da preservação dos interesses dos indivíduos, que
abrangiam, basicamente, a propriedade privada e a liberdade. Para Castilhos,
o bem público subordina os interesses dos indivíduos, para tornar-se algo de
impessoal. O bem público, para os castilhistas, acontece na sociedade morali-
zada pelo Estado forte, que impõe o desinteresse individual em benefício da
segurança pública. É claro que esse bem-estar traduziu-se, no Rio Grande do
Sul, no fortalecimento desmedido do governo sobre as pessoas, com o conse-
qüente desenvolvimento de uma sólida burocracia a serviço do partido único.
É justamente nessa reação antiindividualista do castilhismo, que há um
de seus traços mais significativos, que o tornam uma filosofia política conser-
vadora. Ao sentar, como ponto de partida, que a racionalidade social consiste
na unanimidade ao redor do governo forte, fica fechada a porta para aceitar o
dissenso como ponto de partida, a fim de se chegar, paulatinamente, e median-
te a negociação entre os interesses particulares, a consensos que garantam a Volume 3
governabilidade. Para os castilhistas, vale o princípio rousseauniano de que República Velha
Tomo I
a felicidade do povo decorre da adoção de um ponto de vista único, por parte
da sociedade. Conseqüentemente, qualquer dissenso é tratado como crime de
lesa felicidade geral. A dissidência, segundo considerava Rousseau no seu II.
O castilhismo e as
Contrato social, deve ser banida. O castilhismo, em conseqüência, é uma es- outras ideologias
pécie de rousseaunismo caboclo, do gênero do praticado por Simon Bolívar,
e deixa aberta a porta ao democratismo ou democracia totalitária. 67
Os preconceitos castilhistas contra o individualismo e, de outro lado, a
hipervaloração do Estado tutelar, terminaram colocando-o no seio das gran-
des reações do século XIX contra o espírito liberal, como as protagonizadas na
obra de Joseph de Maistre (1753-1821), Luis de Bonald (1754-1840) ou na do
próprio Comte, como destacamos no início desta apresentação. Tanto na sua
reação à razão individual quanto no desprezo devotado ao interesse material,
Castilhos é conservador, justamente ao propugnar, em ambos os casos, por
uma volta ao passado pré-liberal. Essa é, como Mannheim (1966, p. 302-313)
demonstra, uma atitude típica da mentalidade conservadora. Baseando-nos
nesse autor, poderíamos assinalar mais uma característica do pensamento
castilhista: sua resistência à teorização. A atuação política de Castilhos teste-
munha isso, bem como a dos seus seguidores. O patriarca, bacharel em Di-
reito, caracterizava-se por ser um hábil propagandista e um divulgador de ma-
nifestos e artigos incendiários, mais do que por se desempenhar como um teó-
rico. Pinheiro Machado foi considerado “o maior constitucionalista prático do
Brasil”, ao passo que Borges de Medeiros e Getúlio Vargas (na passagem de
ambos pelo governo do Rio Grande do Sul) deixaram apenas obra legislativa
que continuava as premissas da Constituição castilhista. Não poucas foram as
investidas deles contra a denominada “metafísica liberal” de juristas da talha
de Rui Barbosa.
Uma última anotação para ampliar um ponto que insinuamos anterior-
mente. Ao nos referirmos ao positivismo de Pereira Barreto, dizíamos que a
essência daquele residia na convicção de que a maldade humana provinha da
ignorância, sendo possíveis mudanças induzidas pela educação, sem recorrer
à violência. Contrasta com essa feição humanística a índole autoritária e tute-
lar do castilhismo, que levava os seus arautos a desconfiarem da capacidade dos
indivíduos para efetivarem mudanças alicerçadas nas luzes da razão; para Cas-
tilhos e os seus seguidores, o processo pedagógico apregoado por Pereira Barreto
seria algo de inútil, restando como único meio para moralizar a sociedade, a im-
posição pela força do líder carismático. Mais do que educação, os castilhistas
História Geral do
Rio Grande do Sul
pretendiam um enquadramento vertical dos cidadãos, comandado pelo chefe
do Estado. Qualquer discussão ou qualquer forma de organização da sociedade,
fora da prevista pelo líder máximo, era a priori descartada como contrária à
moralidade pública. Os traços totalitários que assomam no castilhismo deitam
Ricardo Vélez
Rodríguez suas raízes no medo à razão e à liberdade dos cidadãos. Consoante com o
roussoismo que animava ao castilhismo, a única atitude de quem dissente se-
ria, como frisava o próprio Castilhos, “uma sincera penitência”.
68
Positivismo e liberalismo
A concepção política de Castilhos, inspirada no positivismo, opunha-se ra-
dicalmente à sustentada pelo liberalismo que inspirou o Segundo Reinado,
cuja síntese inicial tinha sido feita de maneira precursora por Silvestre Pinhei-
ro Ferreira. Para o pensador português, como para a filosofia liberal clássica
inspirada em Locke, aquilo que leva os homens a entrar em sociedade é, fun-
damentalmente, o interesse de preservação da própria vida e das proprieda-
des, o que seria impossível no estado de natureza, que segundo a ficção em-
pregada pela filosofia política do século XVII, precedia ao estado de sociedade.
Esse interesse de preservação é comum a todos os que integram a sociedade
e expressa a finalidade que os homens perseguiram ao constituí-la, sendo, por
outro lado, a primeira manifestação da justiça social. A propósito, frisa Pinheiro
Ferreira:
Nada pode ser justo, senão o que é conforme ao fim que os homens se pro-
puseram quando se uniram em sociedade, isto é, o interesse-comum ou geral
de todos os que a compõem (1973, p. 14).
O que é o interesse geral senão a transação que se faz entre os interesses II.
O castilhismo e as
particulares? O que é a representação geral, senão a representação de todos os outras ideologias
interesses parciais que devem transigir naquilo que lhes é comum? O interesse
geral é diferente, sem dúvida, dos interesses particulares, mas não é contrário
69
a eles. Fala-se, sempre, como se uma pessoa ganhasse o que os outros per-
dem; o geral não é senão o resultado desses interesses combinados; deles
difere como um corpo difere das suas partes. Os interesses individuais são os
que mais concernem aos indivíduos; os interesses dos distritos são os que
mais concernem a estes. Ora, são os indivíduos e os distritos os que com-
põem o corpo político; são, conseqüentemente, os interesses desses indiví-
duos e desses distritos os que devem ser protegidos. Ao protegê-los a todos,
suprimir-se-á de cada um deles o que prejudica aos demais, disso resultando o
verdadeiro interesse público, que coincide com os interesses individuais, uma
vez que lhes foi tirado o poder de se prejudicarem mutuamente. Cem deputa-
dos nomeados por cem distritos de um Estado levam, ao seio da assembléia,
os interesses particulares, as preocupações locais dos seus representados. Essa
base é útil a eles: forçados a deliberarem juntos, logo percebem os sacrifícios
respectivos que são indispensáveis. Esforçam-se para diminuir a extensão des-
ses sacrifícios, e nisso reside uma das maiores vantagens da forma de sua de-
signação. A necessidade acaba sempre por uni-los numa transação comum, e
quanto mais fragmentadas tiverem sido as eleições, a representação consegue
um caráter mais geral. Se for invertida a gradação natural, se for colocado o
corpo eleitoral na cúpula do edifício, os nomeados por ele deverão se pronun-
ciar em relação a um interesse público cujos elementos desconhecem, [pois]
lhes é incumbida a tarefa de conciliar interesses cujas necessidades ignoram ou
desprezam. Convém que o representante de um distrito atue como órgão do
mesmo, que não abra mão de nenhum dos seus direitos, reais ou imaginários,
senão depois de tê-los defendido; que seja parcial na defesa dos interesses de
que é mandatário, porque se cada um for parcial nessa defesa, a parcialidade de
cada um, unida e conciliada, terá as vantagens da imparcialidade de todos
(CONSTANT DE REBECQUE, 1970, p. 46-47).
Para Pinheiro Ferreira, é claro que a finalidade de todo mandato que con-
fere poder político consiste em representar certas ordens de interesses. Por
isso, deve haver tantos mandatos quantos diversos forem os interesses a se-
rem representados, a fim de evitar os conflitos internos na sociedade. A pro-
História Geral do pósito, frisa:
Rio Grande do Sul
A justa satisfação dos interesses populares depende, hoje, muito mais das
opiniões e dos costumes do que das próprias instituições, cuja verdadeira re-
generação, atualmente impossível, exige, antes de tudo, uma reorganização
espiritual (Ibidem, p. 92).
Ricardo Vélez Seu primeiro e principal resultado social consistirá em formar solidamente uma
Rodríguez
ativa moral universal, prescrevendo a cada agente, individual ou coletivo, as regras
de conduta mais adequadas à harmonia fundamental (Ibidem, p. 91-92).
72
Tanto Comte quanto a maior parte dos positivistas salientavam que, para
a identificação da sociedade com o espírito positivo, era necessário um proces-
so educativo, à luz da ciência e da mesma filosofia positiva.
Positivismo e castilhismo
O castilhismo firmou-se como uma versão positivista diferente do com-
tismo, ou do positivismo tout-court. Como filosofia política atuante, a ideolo-
gia castilhista criou um modelo político que se perpetuou no Rio Grande do
Sul ao longo de mais de três décadas, e que exerceu forte influxo no contexto
da República Velha e posteriormente. Essas diferenças provêm, sem dúvida,
das peculiares condições históricas da sociedade gaúcha, bem como da própria
personalidade autoritária de Castilhos. Afinal de contas, o Sistema de polí-
tica positiva de Comte não passava de um modelo teórico, ao passo que os
castilhistas puseram em prática um regime político.
Assinalemos as principais diferenças entre o sistema castilhista e o mo-
delo político proposto por Comte, agrupando-as em quatro pontos:
1) Enquanto, para Comte, a assembléia política gozava de um certo ca-
ráter corporativo, pois devia ser constituída por deputados escolhidos
pela agricultura, pela manufatura e pelo comércio, para os castilhistas
a Assembléia Estadual estava composta, indistintamente, por todos
os grupos sociais, aglutinados ao redor do Partido Republicano Rio-
Grandense, que era imaginado como agremiação partidária única,
uma vez que não se tolerava o pluralismo partidário e, muito menos,
o funcionamento da oposição.
2) Enquanto Comte insistia em que a renovação mental e social devia pre-
ceder à organização política, pois a reconstrução temporal precisava
ser antecedida pela regeneração espiritual, os castilhistas davam pre-
ferência à renovação política, da qual esperavam a mudança moral e
espiritual.
Volume 3
3) Enquanto para Comte não havia identidade entre os poderes sacerdo- República Velha
Tomo I
tal, educador e industrial, de um lado, e o Estado, de outro, no casti-
lhismo há uma tendência unificadora dos três em torno do Estado.
Efetivamente, ainda que não encontremos, de parte dos castilhistas, II.
um pronunciamento explícito nesse sentido, nota-se a tendência a con- O castilhismo e as
outras ideologias
verter tudo em função estatal. Isso aparece claramente nas políticas
de colonização. Essa era entendida por Castilhos como obra educadora
73
do Estado, a fim de afeiçoar os colonos à nova pátria. Também obser-
vamos esse fenômeno na luta dos castilhistas contra os grupos econômi-
cos particulares, que pudessem gozar, eventualmente, de liberdade
perante o Estado, como no caso da Viação Férrea Auxiliaire, que ter-
minou sendo encampada pelo estado durante o governo de Borges de
Medeiros1.
4) A despeito da plena liberdade de expressão apregoada por Comte, sem
que o poder público pudesse favorecer nenhuma opinião, achamos,
pelo contrário, no sistema castilhista, o escancarado favorecimento da
doutrina estatal, através da imprensa do Partido Único e da persegui-
ção, sem piedade, aos jornais da oposição2, isso sem falar nos mecanis-
mos constitucionais que garantiam a inquestionabilidade das decisões
do chefe do Estado na elaboração das leis.
Em síntese, o castilhismo diferencia-se do comtismo em virtude de des-
tacar incisivamente a presença dominadora do Estado nos diferentes campos
da vida social, ao mesmo tempo em que era criada toda uma infra-estrutura
econômica, política e jurídica para perpetuar tal estado de coisas. O castilhismo
mostrou-se mais decididamente totalitário que o comtismo.
Para Pereira Barreto, por sua vez, a anarquia política, legada pelo libe-
ralismo e as tendências metafísicas, radica em que estas representações ins-
piravam-se mais na imaginação do que num conhecimento real das leis que
dominam o desenvolvimento histórico da sociedade. Faz-se necessário, pois,
um reto conhecimento das ditas leis, assim como uma adequação da vontade
a elas, para que as iniciativas políticas tenham algum sentido. O positivista bra-
sileiro salienta, de outro lado, que, enquanto a sociedade liberal reduzia a le-
gislação a uma simples projeção subjetiva do legislador, na sociedade positi-
va, pelo contrário, consistiria no reconhecimento passivo, por parte do legis-
lador, das tendências espontâneas de sua respectiva sociedade. De qualquer
forma, para Pereira Barreto é claro que o progresso não provém da legislação,
mas da própria estrutura ôntica da sociedade. Por isso reconhece que, quan-
to maior seja o conhecimento científico da realidade social por parte de quem
História Geral do faz as leis, tanto mais acertadas estas serão.
Rio Grande do Sul
O castilhismo e os liberais
Ricardo Vélez
Rodríguez Como tivemos oportunidade de assinalar em estudo sistemático do posi-
tivismo sul-rio-grandense, publicado no início dos anos 80 do século passado
(VÉLEZ RODRÍGUEZ, 1980, p. 144-151), o castilhismo, como doutrina política
76
transformada na Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, teve um opo-
sitor de peso: o liberalismo. No plano nacional, pensadores importantes como
Rui Barbosa (BARBOSA, 1932) e Sílvio Romero (ROMERO, 1912; 2001), entre
outros, fizeram uma crítica sistemática à ideologia castilhista. No plano esta-
dual, os dois mais importantes críticos foram Gaspar da Silveira Martins (1835-
1901) e Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857-1938).
O castilhismo, certamente, inseriu-se no contexto sociológico em que
emergiu a República, com a confusão entre público e privado nas práticas
administrativas e políticas. Se, por um lado, os castilhistas tiveram grande
sensibilidade no trato com os dinheiros públicos, não tiveram, de outro lado,
a mesma delicadeza em face dos interesses diversificados dos cidadãos. Quem
se inscrevesse no círculo de ferro da proposta castilhista poderia vingar. Quem
não o fizesse simplesmente era jurado de morte ou veria fechadas todas as por-
tas para defender os seus interesses. Essa confusão entre público e privado,
típica do “complexo de clã” que, segundo Oliveira Vianna, afetou a formação
sul-rio-grandense (como, de resto, às outras regiões bra-
sileiras) (VIANNA, 1987), é a raiz secreta da violência que Assis Brasil
se abateu sobre os pampas gaúchos, quando cruzada com
a ideologia tutelar castilhista. Diríamos que o castilhismo
exacerbou a tendência excludente das práticas patrimo-
nialistas no Rio Grande do Sul. A propósito, muito acer-
tadamente escreveu o historiador Gunter Axt, na intro-
dução à obra Os crimes da ditadura:
A orientação de Castilhos [...] era profundamente sectária. Traçava ele uma fronteira
intransponível entre os republicanos e os que o não tinham sido, sem cogitar
de apelos à concórdia. E a colaboração que solicitava era submissa e passiva
(FRANCO, 1967, p. 64).
História Geral do
Rio Grande do Sul O presidente pode fazer eleitorado especial, pode estatuir o processo da elei-
ção e, por cima de tudo, pode ainda ser eleito e reeleito pela própria máquina
por ele montada. [...] O artigo 9o exige, para a reeleição do presidente, três
Ricardo Vélez
quartas partes do eleitorado e, logo adiante, o art. 18, parágrafo 3, exige três
Rodríguez quartas partes dos sufrágios. Não é a mesma coisa: eleitorado é a soma dos
eleitores; sufrágios são os votos. O candidato que captar três quartas partes
dos votos pode não ter por si uma quarta parte do eleitorado, sobretudo numa
82
terra em que o absenteísmo floresce por estar o povo convencido da inutilida-
de de votar (Ibidem, p. 85).
História Geral do
Rio Grande do Sul
Na reunião do Congresso Constituinte que preparou a primeira Carta re-
publicana, no Rio de Janeiro, entre novembro de 1890 e fevereiro de 91, Casti-
lhos, chefe da bancada gaúcha, propugnou pela derrogação das várias restri-
ções que o projeto governamental opunha aos direitos civis e políticos dos reli-
Ricardo Vélez
Rodríguez giosos. O que perseguia com essa medida o líder sul-rio-grandense? Sem dú-
vida, pretendia reforçar a sua posição política, primeiro no Rio Grande do Sul
84 e, depois, em nível nacional. Retirado o eleitorado clerical da obscuridade a
que estava condenado pela lei imperial, ainda que não fosse muito coerente
com a doutrina positivista de separação da Igreja e do Estado, Castilhos po-
dia conseguir o apoio de um potencial político até então morto. O fato de en-
contrarmos católicos como Lacerda de Almeida no Congresso Constituinte do
Rio Grande, em 1891, discutindo, ao lado dos castilhistas, o projeto de Cons-
tituição apresentado por Castilhos e aprovando-o nos seus pontos capitais –
o Catecismo constitucional rio-grandense (ALMEIDA, 1895) de Lacerda de
Almeida é fiel testemunho disso – prova, claramente, que Castilhos sabia para
onde ia ao reivindicar a participação política do clero. Não esqueçamos, de outro
lado, que Castilhos, já desde então, interessava-se em conquistar a boa von-
tade das colônias sul-rio-grandenses, onde os elementos católico e luterano
eram bastante fortes.
De outro lado, Castilhos sempre deixou claro o seu respeito em relação
à religião, como quando se dirigiu aos responsáveis pela Devoção do Menino
Deus (que tinham escolhido Castilhos, em 1900, à sua revelia, para integrar a
mesa administrativa dessa confraria), com as seguintes palavras:
Por saudável impulso orgânico e por educação laboriosa, posto que ainda exí-
gua, sinto intransigente aversão à irreligiosidade, qualquer que seja a sua espé-
cie. [...] Conceber a sociedade sem religião é tão absurdo como julgá-la capaz
de subsistir sem governo. [...] Creio firmemente que não deve decrescer, um
só instante, o sincero respeito tributado à Igreja Católica, atentos e relembra-
dos, sempre, os serviços imortais que a tornam credora legítima da perene
gratidão humana (CASTILHOS, 1979, p. 28).
História Geral do
Rio Grande do Sul
Ricardo Vélez
Rodríguez
86
COSTA, 1922.
A tolerância dos castilhistas em face de outras denomi-
nações religiosas fica clara com o fato de que, nas fileiras de
entusiastas seguidores de Castilhos, encontravam-se jovens
de formação protestante, como era o caso de Lindolfo
Leopoldo Boeckel Collor (1890-1942), membro ativo da Igre-
ja Episcopal, que teria grande destaque na denominada “se-
gunda geração castilhista” (que acompanhou Getúlio Vargas
na chegada ao poder, em 1930).
O castilhismo, em face da religião, viveu, portanto, uma
situação contraditória, que poderia ser explicitada assim: to-
lerância religiosa, intolerância política. O próprio Lindolfo Lindolfo Collor
Collor terminou sendo expulso das fileiras do castilhismo
pelo mais jovem rebento dos seguidores de Castilhos, Getúlio Vargas, quan-
do o brilhante fundador e primeiro titular do Ministério do Trabalho opôs-se
às práticas já conhecidas no Rio Grande, de empastelamento de jornais
contrários à ditadura varguista. Collor terminou sendo exilado, após ter pas-
sado vários anos na prisão decretada por Vargas. Regressou do exílio em 1942,
para morrer pouco tempo depois (REALE, 1991).
Concluindo:
O castilhismo foi caracterizado, nestas páginas, como uma ideologia po-
lítica inspiradora de um governo autoritário, não-representativo, que propu-
nha a liberdade e as garantias dos indivíduos ante o supremo interesse da se-
gurança do estado, identificando-se com a agremiação política governante, no caso,
o Partido Republicano Rio-Grandense, assumindo forte caráter moralista e con-
servador. No cume de todo o sistema castilhista encontrava-se a figura do líder ca-
rismático, que sabia para onde deveria guiar os destinos da sociedade, sendo
consciente do papel salvador que lhe cabia, frente à crise em que o liberalismo sui-
cida submergiu os povos, após a Revolução Francesa. É notável como essa concep-
ção encarnou-se no pensamento e na obra política de Castilhos e de seus seguido-
Volume 3
res, ficando concretizada na Constituição de 14 de julho de 1891. República Velha
Tomo I
O castilhismo não pode ser reduzido ao comtismo, nem ser por ele explica-
do totalmente. Como ideologia política atuante, a concepção de Castilhos criou um
modelo de governo que se perpetuou no Rio Grande do Sul por mais de três dé- II.
O castilhismo e as
cadas, e que exerceu forte influência no contexto da República Velha e, posterior- outras ideologias
mente, revestido de algumas características peculiares que o diferenciaram do com-
tismo, provenientes, sem dúvida, das condições históricas do Rio Grande do Sul 87
e do caudilhismo de Castilhos. Afinal de contas, o Sistema de política positiva de
Comte não passava de um modelo teórico, ao passo que os castilhistas realizaram
na prática um regime político.
É paradoxal que os ideólogos absolutistas, ao mesmo tempo em que negam
a liberdade, apregoam a libertação. Tal acontece com Castilhos, por exemplo, quan-
do pretende livrar a sociedade sul-rio-grandense das farpas do parlamentarismo
monárquico, justamente negando a liberdade mediante a implantação de um re-
gime autocrático. Esse despropósito é efeito da falta de compreensão do que
realmente é a libertação, a qual não consiste em outra coisa senão no exercício da
liberdade, de tal forma que, como frisa Roque Spencer, “só se libera quem é livre”
(BARROS, 1971, p. 341). Da mesma forma, só pode ser libertadora uma ideologia
política baseada no reconhecimento da liberdade. A ideologia liberal, fundamen-
talmente uma filosofia da liberdade, é a ideologia por excelência da libertação.
O autocratismo castilhista não entrou em jogo ao acaso, ou como simples
transposição de uma doutrina estrangeira. Preencheu um vazio na elite dirigen-
te brasileira, aliviando-a da má consciência de haver contestado radicalmente a
monarquia, sem dar solução ao problema fundamental equacionado por ela: a re-
presentação. Ao instituir a tutela como base da ordem social, ao mesmo tempo em
que dava à nova elite um bom argumento para se perpetuar no poder, Castilhos
exonerava-a dos freios morais e políticos da sociedade liberal, expressados no par-
lamento e nas liberdades. De um universo moral e social baseado na autoconsciên-
cia e na responsabilidade do indivíduo, passou-se a uma nova ordem fundada na
entidade anônima da coletividade, com sério detrimento para a afirmação da pes-
soa. Tinha-se dado um passo atrás no esclarecimento alcançado pela consciência
brasileira durante o império, acerca da liberdade e da representação.
História Geral do
Rio Grande do Sul
Ricardo Vélez
Rodríguez
88
Capítulo III
CORONELISMO INDOMÁVEL:
O SISTEMA DE RELAÇÕES DE PODER
Gunter Axt
O estado da arte
Com a proclamação da república e a institucionalização do novo regime,
a combinação entre fortalecimento dos poderes estaduais, formação de qua-
dros oligárquicos regionais, supressão do poder moderador imperial e preser-
vação dos esquemas informais de poder, encharcados de patrimonialismo e
mandonismo, contribuiu para engendrar aquilo que se convencionou chamar
de “sistema político coronelista”. O “coronelismo é um sistema político nacio-
nal, baseado em barganhas entre o governo e os coronéis” (CARVALHO, 1998,
p. 132). Trata-se de uma “rede de compromissos” (JANOTTI, 1981), segundo a
qual o governo estadual, fortalecido pelo federalismo fiscal e institucional da
República Velha, “garante para baixo o poder do coronel sobre seus dependen-
tes e seus rivais, sobretudo cedendo-lhe o controle dos cargos públicos”, en- Volume 3
República Velha
quanto “o coronel hipoteca seu apoio ao governo, sobretudo na forma de vo- Tomo I
tos”. No terceiro vértice, “os governadores dão seu apoio ao presidente da Re-
pública em troca do reconhecimento por parte deste de seu domínio no esta- III.
do.” O coronel é um mandão local que “em função do controle de algum recurso Coronelismo
indomável:
estratégico, em geral a posse da terra, exerce sobre a população um domínio o sistema de relações
pessoal e arbitrário, que a impede de ter livre acesso ao mercado e à sociedade de poder
política” (CARVALHO, 1998, p. 132-3). A expressão do sistema coronelista neces-
89
sariamente pressupõe a convivência de artefatos e estratégias extralegais com
o universo formal do Estado de direito constitucional (LEAL, 1978).
O coronelismo enquanto sistema estabeleceu-se no momento em que os
mandões locais começaram a perder parte de sua força política pessoal e pre-
cisaram recorrer ao governo, que, por sua vez, ainda não era infra-estrutu-
ralmente forte o bastante para afirmar sua presença institucional (MANN,
1984), promovendo o eclipse dos poderes locais e, no limite, garantindo o alar-
gamento da cidadania. O fato da base do poder do coronel ser local, não signi-
fica que ele estivesse submerso no isolacionismo. Muitos coronéis influíam
decisivamente nos rumos da política estadual e mesmo federal. Por outro
lado, embora comprometidos com a rede de poder na qual se conectavam, ha-
via sempre o risco intrínseco de insubordinação (QUEIROZ, 1989).
O sistema coronelista entrou em colapso no final da Primeira República,
à medida que se incrementou no país o processo de urbanização, de indus-
trialização e de crescimento populacional. Paralelamente, o estado foi tornan-
do-se mais interventor e aumentando sua margem de ascendência sobre o
poder privado. Não obstante, apesar da Revolução de 1930 ter liquidado o co-
ronelismo enquanto sistema de dominação política, diversas práticas a ele in-
trínsecas – como o localismo, o mandonismo, o nepotismo, o tráfico de influên-
cias e a corrupção – continuaram desdobrando-se ainda por muitos anos no
contexto da realidade brasileira (QUEIROZ, 1989, p. 187; TOPIK, 1987).
Muito embora o Rio Grande do Sul integrasse a nacionalidade brasilei-
ra, a historiografia insistiu, pelo menos até os anos 80, na vigência de um qua-
dro diverso em relação ao restante do país. Autores como Joseph Love (1975),
Raymundo Faoro (1987), Alfredo Bosi (1996), Miguel Bodea (1979), Céli Pin-
to (1979, 1986), Hélgio Trindade (1980, 93), Sandra Pesavento (1980, 88, 93),
Maria Antonieta Antonacci (1981), Sérgio da Costa Franco (1988), Luiz Rober-
to Targa (1998a) entre outros minimizaram em alguma medida a participação
do estado no sistema coronelista de poder. De um modo geral, o argumento
baseou-se na idéia de que o coronelismo não chegou a se implementar no Rio
Grande do Sul em virtude de o estado ter sido dominado por uma elite políti-
História Geral do
ca de corte moderno, fortemente influenciada pela ideologia positivista, cuja
Rio Grande do Sul prática administrativa, sustentada por uma Constituição autoritária, afirmar-
se-ia na contramão do liberalismo oligárquico, bem como no sentido da inter-
venção do estado na sociedade, desenvolvendo estratégias de diversificação
da economia, de industrialização, de modernização burocrática e de incorpo-
Gunter Axt
ração do proletariado à sociedade. No reforço a essa tese invocou-se, ainda, o
argumento de que o sistema coronelista não se desenvolveria em áreas cuja
atividade econômica baseava-se na pequena propriedade rural, modelo pro-
90
dutivo que, em virtude do processo migratório, constituiu parte da zona de
ocupação do estado.
Muitos textos produzidos entre os anos 1960 e 80 tenderam, assim, a as-
sociar a prática política do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) a uma
aliança estratégica com a burguesia nascente, com a classe média e com a zona
de colonização ítalo-germânica, em oposição ao esquema conservador da opo-
sição federalista, identificada à elite estancieiro-mercantil e às regiões da Cam-
panha e da Fronteira. Ao velho PRR atribuiu-se traços de pureza ideológica,
de coerência programática e de fidelidade partidária, que, combinados, ten-
diam a promover a renovação dos esquemas mentais e a modernização da es-
trutura produtiva da sociedade.
Não obstante a isso, essa linha interpretativa vem sofrendo questiona-
mentos desde os anos 80. Sandra Pesavento (1980) demonstrou com proprie-
dade que a classe dominante gaúcha não era homogênea, sendo sacudida por
divergências internas, mormente aquelas que respeitavam aos interesses nem
sempre convergentes de estancieiros e charqueadores, o que dificultava o es-
tabelecimento de uma correlação automática entre classe social e partido políti-
co. Vélez Rodriguez (1980) observou não haver uma correspondência fácil en-
tre comtismo e castilhismo, sugerindo ter existido um aproveitamento sele-
tivo do positivismo pelo republicanismo gaúcho. Nelson Boeira (1980) perce-
beu a existência de diversos positivismos – o religioso, o político e o difuso –,
identificando, ainda, vários momentos do chamado “positivismo político no
Rio Grande do Sul”. Comprovou, dessa forma, não ser pertinente a referên-
cia a um projeto castilhista estável e homogêneo para todo o período da Re-
pública Velha.
Sílvio Duncan Baretta (1985), ao analisar as causas históricas da violên-
cia e propor uma tipologia da violência coletiva no Rio Grande do Sul na pas-
sagem do império para a república, encontrou na suspensão da tarifa especial
e no combate ao chamado “comércio ilícito” da fronteira uma das causas eco-
nômicas que informaram o conflito de 1893. Além disso, aproveitando os es-
tudos de Jean Roche (1969), Duncan Baretta salientou a especialização econô-
mica das cidades de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre em torno de um co- Volume 3
República Velha
mércio de tipo importador conectado aos interesses de comerciantes e fazen- Tomo I
deiros do eixo Rio de Janeiro e São Paulo. Margareth Bakos (1996) concluiu
que na cidade de Porto Alegre o discurso legitimador da política não corres- III.
pondia à prática administrativa, que incorreu no deficit orçamentário, um dos Coronelismo
indomável:
grandes tabus para o discurso castilhista. Em outro estudo de caso, dessa vez o sistema de relações
para duas cidades do norte gaúcho, Loiva Félix (1987) contestou a eficácia do de poder
conceito de “coronel burocrata”, até então largamente utilizado por autores
91
como Joseph Love (1975) e Raymundo Faoro (1987), propondo, a partir daí, a
necessidade de uma retomada dos estudos sobre o coronelismo no Rio Gran-
de do Sul. Finalmente, Eloísa Capovilla (1990), estudando as relações de po-
der durante o período de institucionalização republicana no Litoral Norte do
estado, percebeu, além dos indícios da existência de um sistema coronelista
de poder, a emergência da violência política e das cisões internas dos republi-
canos, o que desmistificava a tese da disciplina partidária e da coerência ideoló-
gico-programática.
Acredito que o PRR costurou mais compromissos conservadores do que
progressistas, esteve longe das decantadas fidelidade partidária e coerência
programática e esteve tão envolvido com as práticas coronelistas como qual-
quer outro agente político da época. Todavia, o modelo político conhecido no
Rio Grande do Sul apresentou inegáveis especificidades. A principal delas diz
respeito ao quadro de institucionalização autoritária e de sistematização do
discurso político-ideológico de justificação do regime, o que trouxe conseqüên-
cias sobre a prática política propriamente dita.
COSTA, 1922.
pressão do sistema eleitoral. Na órbita estadual, apenas com
a alteração da legislação eleitoral por Borges de Medeiros,
em 1913, os federalistas conseguiram eleger um represen-
tante para a Assembléia. Em 1917, graças ao cálculo do quo-
ciente previsto na lei para garantir a representação das
minorias, elevaram sua participação para três cadeiras.
Esse quadro sofreu novas alterações com o desfecho da Re-
volução de 1923. Depois das eleições de 1924, modificou-se
o equilíbrio de forças entre os partidos no Congresso, com
o aumento do número de deputados federalistas (FRANCO,
Francisco Antunes Maciel 2000; OSÓRIO, 1930a).
Após a Revolução Federalista, Júlio de Castilhos em-
penhou-se em completar a obra de organização do aparelho
de estado. Além da Carta de 1891, o arcabouço institucional foi basicamente
formado pelo Código de Organização Judiciária, lei nº 10, de 10 de dezembro
de 1895; pelo Código de Processo Penal, lei nº 24, de 15 de agosto de 1898, e
pela lei nº 11, de 4 de janeiro de 1896, que regulamentava a organização poli-
cial do estado. Em 1908, o então presidente do estado, Antônio Augusto Bor-
ges de Medeiros, editou ainda o Código de Processo Civil.
Em primeira instância, atuavam os juízes distritais e os juízes de comar-
ca, aos quais estavam subordinados os promotores públicos e os oficiais de jus-
tiça. Em segunda instância, agiam os sete desembargadores do Superior Tri-
bunal de Justiça, transformados em dez pela reforma de 1925. O presidente
do estado reservava para si o poder de nomeação dos juízes distritais, bem
como de gerir a sistemática de promoções para o desembargo. Os juízes da
comarca eram concursados, mas os indícios de manipulação dos resultados dos
concursos eram sólidos, o que possibilitava uma filtragem dos candidatos mais
afinados com as orientações do governo. Juízes que eventualmente divergis-
sem do poder estadual na prolatação de sentenças poderiam sofrer constran-
gimentos na promoção durante a carreira. O presidente também enfeixava o
História Geral do
Rio Grande do Sul
poder de criar ou extinguir comarcas, o que chegou a ser útil para isolar juí-
zes insubordinados com algum trânsito comunitário, como em 1908, quando
Caxias do Sul foi convertida em termo de Bento Gonçalves, apenas voltando
a ser cabeça de comarca em 1919 (AXT, 2004).
Gunter Axt O chefe do Ministério Público, o procurador-geral do estado, era de livre
nomeação do presidente e não dispunha de mandato fixo. Os promotores, por
sua vez, eram na maior parte interinos. Não usufruindo qualquer estabilida-
94
de e garantias funcionais, operavam como verdadeiros delegados do poder
estadual nas localidades, pressionando os administradores. O cargo de pro-
motor era como que um estágio para o exercício da função de juiz da comar-
ca, ou um treinamento para se chegar a uma cadeira da Assembléia dos Re-
presentantes (AXT, 2001c).
Já as nomeações dos juízes distritais tendiam a se fazer com base em in-
dicações sugeridas pelos políticos e poderosos locais. Era uma forma de bar-
ganha que se estabelecia entre o poder estadual e os coronéis locais. À medi-
da, porém, em que a presidência do estado se fortalecia política e burocrati-
camente, o presidente tendia a imprimir mais autonomia em relação aos po-
deres locais ao perfil das nomeações (AXT, 2004).
Cartórios e notariados tendiam a ser distribuídos de forma a premiar os
bons cabos eleitorais do governo do estado e do partido. Quanto ao exercício
da advocacia, muitos ainda eram os rábulas em atividade na época. Todos
deviam a uma provisão do Superior Tribunal de Justiça a autorização para ad-
vogar (Ibidem).
A estrutura policial era composta pela corporação militar congregada na
Brigada e pelas polícias judicial e administrativa, sem mencionar a Guarda
Nacional e os Corpos Provisórios, a chamada Guarda Civil, os quais podiam
ser convocados com apoio dos coronéis sempre que a estabilidade institucional
fosse colocada em cheque. O Rio Grande do Sul possuía um dos maiores con-
tingentes armados na corporação militar estadual, que chegou a reunir 3.200
homens, constituindo-se, sem dúvida, numa garantia especial contra amea-
ças de insurreição da oposição, contra intervenções federais e mesmo contra
a insubordinação de coronéis. Por sua vez, as patentes da Guarda Nacional
eram concedidas pelo governo federal a partir de indicações estaduais. O con-
trole sobre as patentes era fundamental para as facções, pois, além de uma fon-
te de autoridade, concediam ao titular imunidade em face de certos proces-
sos-crime (Ibidem).
A Constituição de 14 de julho de 1891 estabeleceu a superposição das po-
lícias: enquanto a chamada “administrativa” era custeada pelos municípios e
comandada pelos subintendentes, a polícia judiciária compunha-se, nos muni- Volume 3
República Velha
cípios, dos delegados e subdelegados, estando submetida ao secretário do Inte- Tomo I
rior e Justiça, à Chefatura de Polícia e às quatro Sub-Chefaturas Regionais,
as quais podiam dispor dos regimentos brigadianos, embora eles não estives- III.
sem sob seu comando direto. A Brigada Militar, por sua vez, registrava alto Coronelismo
indomável:
grau de fidelidade ao Palácio. o sistema de relações
de poder
Enfim, o autoritarismo da Constituição de 14 de julho de 1891 investiu o
Poder Executivo estadual de formidáveis instrumentos de intervenção nos 95
municípios e de controle do aparato estatal. Mas, ainda assim, o aparelho de
estado continuava não sendo infra-estruturalmente (MANN, 1984) forte o bas-
tante para possibilitar à elite dirigente assenhoreada do comando a implan-
tação de um regime ditatorial e de controle absoluto. Mesmo porque a reali-
dade específica dos distritos rurais, em certos municípios, constituídos de pe-
quenas propriedades pertencentes aos descendentes de imigrantes europeus,
abriu ensejo para que se articulasse uma fonte de poder comunitário com cer-
ta margem de ação frente à compressão do governo estadual e dos poderes
municipais apoiados por este. Por sua vez, em municípios da Campanha, a
proximidade da fronteira criava uma condição de dualidade legal que possi-
bilitava aos habitantes locais também certa esfera de autonomia, na medida
em que podiam eles homiziar-se nas repúblicas vizinhas quando perseguidos,
arregimentar efetivos paramilitares com mais agilidade, além de permitir a
muitos alimentar-se das práticas do contrabando, o qual movimentava infor-
malmente grandes somas e conectava-se a sólidos interesses ramificados por
todo o território estadual. Havia, ainda, aqueles municípios em que a oposi-
ção federalista, na maior parte do território abafada pela guerra civil de 1893,
permanecera forte, representando uma ameaça potencial de subversão do re-
gime. Em outras cidades, simplesmente o poder estadual precisava adminis-
trar a convivência com aliados tão poderosos que seu controle sobre a área ter-
minava embaçado.
Da mesma forma, a progressão da urbanização e da industrialização tra-
zia lentamente à cena política novos sujeitos sociais, cuja capacidade de mobi-
lização, a exemplo dos movimentos operários, criava focos independentes de
pressão que ameaçavam o fechamento do sistema representativo. Na década
de 1920, tornou-se enorme a pressão de segmentos de comerciantes e indus-
triais, que haviam ficado em segundo plano na definição de prioridades eco-
nômicas, por um projeto de amplitude regional, capaz de enfrentar desafios
à acumulação capitalista.
A especificidade do Rio Grande do Sul em relação ao sistema coronelista
nacional estava numa permanente tensão existente entre poder estadual e po-
História Geral do
deres locais, pois a natureza dessa relação era ao mesmo tempo de cooperação
Rio Grande do Sul e de competição, como indicou Loiva Félix (1987), enquanto nos demais estados
a regra foi a acomodação entre esses dois termos. Ou seja, no Rio Grande do Sul,
o comando político regional – também emerso de uma rede de compromissos
coronelísticos – pretendia sedimentar cada vez mais o controle sobre o estado,
Gunter Axt
enquanto que os poderes locais aspiravam escapar do jugo compressor e forjar
chefias relativamente autônomas. Esse embate constituiu-se como guerra de
96 posições, aquilatando vitórias parciais ora para um, ora para outro lado.
À guisa de periodização
A assunção do PRR ao poder, contrariamente ao que pode parecer, não
desencadeou um período de estabilidade e continuidade, apenas encerrado
pela Revolução de 1930. Apesar de a defesa da chamada “continuidade admi-
nistrativa”, que na prática nada mais era do que a eternização dos mandatá-
rios dos cargos públicos eletivos no poder, ter se constituído numa das princi-
pais bandeiras do discurso legitimador do regime pós-Revolução Federalista,
na medida em que funcionaria como um antídoto natural para uma eventual
falta de continuidade dos projetos governamentais, a política regional conhe-
ceu conjunturas diversas, que merecem caracterização.
Volume 3
República Velha
Tomo I
III.
Coronelismo
indomável:
o sistema de relações
Borges de de poder
Medeiros.
1922. 103
to de vida e entorpecia as forças produtivas. Foi necessário um grande emprés-
timo de consolidação, em princípios de 1928, no valor de 42 milhões de dóla-
res, para saldar o deficit em conta corrente e a dívida de curto prazo do go-
verno, dívida esta, aliás, escondida pela alquimia orçamentária do Palácio
(AXT, 2002d; 2005a).
Para lograr a contratação desse empréstimo – o maior empréstimo ex-
terno da história do estado e o primeiro captado na praça financeira norte-
americana – Getúlio Vargas valeu-se do prestígio que granjeara como minis-
tro da Fazenda do governo de Washington Luiz, quando fora responsável por
um bem-sucedido plano de estabilização da economia (Ibidem).
Percebendo o desgaste do modelo borgiano de poder, Getúlio Vargas
procurou estabelecer fórmulas de composição. Para legitimar sua base de sus-
tentação, ampliou incentivos à fração dos estancieiros, atendendo demandas
antigas, como a criação de um banco hipotecário – o BERGS, mais tarde Banri-
sul – e a revisão de aspectos da política tributária. Além disso, Vargas perce-
beu que o dinheiro estava trocando de mãos e limitou os incentivos que man-
tinham artificialmente a hegemonia das frações de charqueadores e de mer-
cadores e financistas urbano-litorâneos. O corolário dessa guinada foi a falên-
cia do Banco Popular e do Banco Pelotense. Em compensação, Vargas passou
a admitir mais espaço político para os industriais da área colonial, movimen-
to que esteve na base da fundação da FIERGS em 1930, por Antônio J. Renner
(AXT, 2002d; 2005a. OLIVEIRA, 1936. LAGEMANN, 1985. PESAVENTO, 1985).
Do modelo borgiano, Vargas absorveu a consciência de que a capacidade
interventora estatal na economia e a conseqüente formação de empresas pú-
blicas fortaleciam o poder infra-estrutural do estado e contribuíam para a ma-
nutenção do poder político. Destarte, Vargas, por meio de grandes emprésti-
mos no exterior, saneou o desarranjo provocado nas finanças públicas por Bor-
ges de Medeiros e ampliou o projeto intervencionista, fundando um banco es-
tatal. Tais medidas ampliaram a capacidade de controle do estado sobre a socie-
dade civil e converteram o aparelho de estado num agente econômico de
execução de políticas públicas (AXT, 2002d; 2005a).
História Geral do
Rio Grande do Sul
promissos dominante com o poder central. Por isso mesmo, em torno da sub- 107
chefatura podiam estalar graves conflitos entre facções, como o ataque ao Clube
Pinheiro Machado, em Livramento, em 1910. Podia, entretanto, acontecer dos
coronéis assumirem o cargo em outra região que não aquela correspondente
a sua área de influência direta, como Genes Bento, que empolgou o comando
sobre a região serrana norte depois que sua chefia política em Canguçu enfra-
quecera. No Planalto Central, aconteceu ainda de Borges de Medeiros indi-
car para períodos curtos bacharéis de direito estranhos à região, a fim de con-
duzir a transição entre um e outro coronel poderoso no comando da subche-
fatura (AXT, 2004).
Os subchefes de Polícia eram muito mais do que funcionários responsá-
veis pela segurança pública, pois exerciam na prática atribuições de agentes
políticos (FÉLIX, 1987). Ramiro de Oliveira, por exemplo, intercedia junto às
lideranças de diversos municípios, como Cachoeira do Sul, Santa Maria, São
Sepé, Santa Cruz, São Francisco de Assis, São Sebastião e outros mais, cos-
turando acordos entre os coronéis em benefício do governo. Nesse caso, o sub-
chefe de polícia agia como um braço do poder palaciano que autopretendia-se
moderador dos conflitos entre as facções (AXT, 2001). No motim de Lagoa Ver-
melha, em 1917, esse foi precisamente o papel desempenhado pelo subchefe
Genes Bento (FRANCO, 1996b, p. 32).
Estavam entre suas atribuições presidir e fiscalizar eleições em comunas
convulsionadas, assim como sindicar conflitos entre autoridades policiais, ju-
diciárias e administrativas. Em Canguçu, durante 1906, a insistência do de-
legado de Polícia, Manoel da Rocha, membro de uma facção dissidente, em
manter presos dois suspeitos por tempo superior ao alvitrado pelo então inten-
dente Genes Bento, que se achava de acordo com o juiz da comarca e o pro-
motor, motivou uma crise política e um choque de competências, apenas apa-
ziguado com a intervenção do subchefe de Polícia tenente-coronel Cristóvão
dos Santos. Essa prerrogativa, todavia, podia extravasar a simples mediação.
Em abril de 1900, em meio a um impasse político local, o subchefe Euclides
Moura interveio no Herval em favor de uma facção. Em julho de 1908, a ação
opressora do subchefe Carlos Nunes Nogueira foi ainda mais violenta na im-
História Geral do posição do candidato palaciano. Em 1913, um subchefe de polícia comunicou
Rio Grande do Sul ao intendente eleito de Rio Grande que Borges de Medeiros decidira pela sua
renúncia (MEDEIROS, 1980, p. 162-178)4.
Os delegados e subdelegados de Polícia eram funcionários escolhidos, ge-
Gunter Axt ralmente, entre comum acordo entre os manda-chuvas locais e o comando pa-
4 Carta de João Paulo Prestes a Cezar Dias, Canguçu, 4 de novembro de 1913, nº 1225; Cartas
de Genes Bento a Borges de Medeiros, Canguçu, 24 de março e 8 de abril de 1906, nºs 1.208
108 e 1.209, ABM.
laciano. Os cargos poderiam ser preenchidos por qualquer cidadão, não haven-
do requisição de diplomas ou necessidade de concurso público. Assim como
em todo o país, no Rio Grande do Sul, o uso político da força pública também
era fundamental para a manutenção do status quo de uma facção (LEAL, 1978,
p. 47-103). Enquanto o poder central tinha controle mais efetivo sobre os sub-
chefes de Polícia, as situações locais aspiravam dominar com mais abrangên-
cia a ação dos delegados e subdelegados, atiçando-os não raro contra a facção
concorrente. Destarte, em torno da figura dos delegados, estabeleciam-se sé-
rios atritos. Podia acontecer de Borges de Medeiros, através do subchefe de
Polícia, nomear delegado um membro da facção oposta àquela que empolga-
va a Intendência, garantindo, dessa forma, um certo equilíbrio de forças en-
tre os grupos rivais. Em muitos casos, por medida de economia, os delegados
ou os subdelegados acumulavam também as subintendências. Esse artifício
era adotado pelas chefias locais para manter a subordinação de distritos di-
fíceis, com forte presença de eleitorado flutuante e/ou federalista, pois a uni-
dade da polícia garantia um comando forte. Os delegados e subdelegados, as-
sim como os subintendentes, eram importantes para a conquista de vantagem
eleitoral (MEDEIROS, 1980). Por isso, davam mão forte à cabala. Nos casos em
que a presença do subdelegado coexistia com a do subintendente, podiam so-
brevir conflitos de competências entre as duas autoridades5.
Os coronéis angariavam aliados entre autoridades públicas, endinheira-
dos locais ou até lideranças comunitárias e religiosas. No interior da facção,
corria o tráfico de influências e o comércio de vantagens. Favoreciam-se con-
tratos para os negócios dos aliados, os advogados eram tratados com privilégios
por serventuários e magistrados, a imprensa elogiava os amigos, para cujos
eventuais crimes havia mais indulgência. Em contrapartida, os membros da
facção oposta eram perseguidos pelas autoridades públicas, espezinhados pela
imprensa alinhada e prejudicados profissionalmente.
As facções nasciam do clima de disputa entre dois ou mais coronéis por
vantagens do sistema político. Vínculos de compromissos, oriundos de laços
de parentesco, relações empregatícias ou trocas de favores dividiam os elei-
tores, autoridades públicas e mandões intermediários. O crescimento de uma Volume 3
República Velha
facção dependia de algum apoio do governo. Os primeiros passos de uma fac- Tomo I
ção eram a fundação de um clube republicano, batizado sempre com o nome
III.
Coronelismo
5 Carta de Moysés Vianna a Borges de Medeiros, Santana do Livramento, 14 de julho de 1913, indomável:
nº 8.224; Carta de Bráulio Oliveira a Borges de Medeiros, Santana do Livramento, 3 de o sistema de relações
setembro de 1917, nº 8.310; Carta de Pelágio de Almeida a Borges de Medeiros, Santa Maria, de poder
4 de dezembro de 1915, nº 8.039; Carta de João Paulo Prestes a Cezar Dias, Canguçú, 4 de
novembro de 1913, n. 1225. ABM.
109
de algum repúblico de escol, e a cotização dos correligionários para fundação
de um jornal, utilizado como veículo de propaganda e de combate aos adver-
sários. O coronel entrava com a maior cota, o que podia representar pesado
ônus financeiro. As facções aspiravam vencer os pleitos locais e dominar os ca-
nais de distribuição de cargos e contratos (AXT, 2004).
Numa sociedade onde a fronteira entre o público e o privado era tênue,
o funcionalismo representava uma fonte de renda e de poder. Na capacidade
de trazer benefícios para a cidade, reunir eleitores e controlar o maior núme-
ro possível de cargos, bem como acessar os canais de distribuição dos mesmos,
residia o termômetro do prestígio de uma facção. As nomeações e os pedidos
eram intermediados pelo chefe, que via nos cargos e nos contratos formas de
compensações pelos gastos realizados de seu próprio bolso nas campanhas elei-
torais6. A distribuição de prebendas obedecia a critérios que levavam em con-
ta o grau de inserção do candidato na rede de compromissos e os serviços pres-
tados à facção e ao partido, sobretudo no consoante às eleições7. O agraciado
retribuía em lealdade ao coronel, mesmo que precisasse desconsiderar algum
preceito ético ou legal8. Desse modo, a rede de compromissos se fortalecia
(JANOTTI, 1981; QUEIROZ, 1989; CARVALHO, 1998). No comando do Poder
Executivo, Borges de Medeiros converteu-se no principal distribuidor de pre-
bendas, condição que soube administrar de forma a forjar lealdades, dobrar
dissidentes e, até mesmo, seduzir oposicionistas9.
Um dos artifícios mais importantes era a indicação de professores. A ins-
trução pública era uma das principais áreas de intervenção do estado, consu-
mindo grandes somas orçamentárias. Além da melhoria nos padrões de vida,
o investimento em educação era uma ferramenta privilegiada de doutrinação
política (MAIA, 1907) e criava, ainda, exércitos de novos eleitores, desde que
a alfabetização constituía um requisito para o sufrágio, projetando o estado em
escala política nacional10.
A criação de aulas e a nomeação de professores consolidavam o domínio
político, distribuindo renda para correligionários e satisfazendo demandas dos
História Geral do 6 Carta de Ramiro de Oliveira a Borges de Medeiros, Santa Maria, 21 de dezembro de 1919, nº
Rio Grande do Sul 8.109, ABM.
7 Carta de Isidoro Neves da F. a Borges de Medeiros, Cachoeira do Sul, 11 de nov. de 1904, nº
688, ABM.
8 Carta de Aníbal Nunes Pires, Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1903, nº 652, ABM.
9 Carta de Maximiliano Moreira Maciel a Borges de Medeiros, Santana do Livramento, 31 de
Gunter Axt janeiro de 1906, nº 8.176, ABM.
10 Em 1898, quando Castilhos orientou o PRR à abstenção, o Estado contribuiu com apenas
3.000 votos para a presidência do País, mas, já em 1906, esse volume alcançava a cifra de
42.000 votos, quando o Rio Grande ultrapassou a Bahia e se credenciou para assumir a
posição de terceira potência eleitoral (LOVE , 1975, p. 146).
110
eleitores11. O comércio do magistério não tinha a mesma envergadura em to-
das as cidades. Ganhava mais destaque naquelas localidades que possuíam
distritos com colonização ítalo-germânica, nos quais uma facção com apoio pa-
laciano esforçava-se pela afirmação. Assim, por exemplo, ao assumir o coman-
do político em Cachoeira do Sul, o coronel Isidoro Neves da Fontoura, que,
todavia, não ocupava a Intendência nesse momento, advertia ao presidente:
sendo de grande alcance político a criação de uma aula a mais naquele distrito,
peço-vos que seja mais essa além das que já deixei nota, contemplada no
quadro13.
Se o poder central delegava esta fonte de prestígio aos coronéis era por-
que precisava do seu apoio. Essa dinâmica revela um aparelho de estado infra-
estruturalmente frágil (MANN, 1984), que precisava partilhar sua autoridade
com o poder privado porque, em parte, dele depende politicamente. O comér-
cio do magistério era mais expressivo justamente naqueles distritos menos su-
bordinados (AXT, 2001).
O sonho dos coronéis era a chefia unipessoal, repetindo em escala do-
méstica o que Borges procurava imprimir a todo o estado. Mas para Borges
não era conveniente esse poder nas localidades, pois representaria autonomia
em relação ao seu próprio poder. Assim, manipulava entre as facções locais,
ora fortalecendo, ora enfraquecendo grupos. Autoridades e funcionários pú-
blicos ajudavam a monitorar a ação dos poderosos. A gangorra das facções, em
alternância no comando político e administrativo municipal, dividia a força das
Volume 3
lideranças locais, incrementando o poder do chefe palaciano (FÉLIX, 1987; República Velha
AXT, 2001). Tomo I
III.
11 Carta de Isidoro Neves da Fontoura, Cachoeira do Sul, 29 de setembro de 1904, nº 686, Coronelismo
ABM. indomável:
12 Carta de Isidoro Neves da F. a Borges de Medeiros, Cachoeira do Sul, 11 de nov. de 1904, nº o sistema de relações
688, ABM. de poder
13 Carta de Isidoro Neves da F. a Borges de Medeiros, Cachoeira do Sul, 2 de janeiro de 1905,
nº 688, ABM.
111
Mas havia um limite para a eficácia dessa moderação do conflito. Assim
como o excesso de autonomia ameaçaria ofuscar a chefia unipessoal de Bor-
ges de Medeiros, o exacerbamento das tensões poderia gerar intranqüilida-
de política e institucional. Mas, além disso, o excesso de submissão poderia
implicar desmobilização do partido governista, o que sempre poderia ser ex-
plorado pela irrequieta oposição.
As eleições, apesar das fraudes, eram importantes para medir o alcance
da influência de uma facção. Mobilizando eleitores, uma facção demonstrava
seu poder de fogo. As fraudes, a compra de votos, as intimidações e violências
eram também indicativo dessa capacidade de mobilização. Pelos prélios o go-
verno podia garantir que o estado seguia na normalidade republicana, obede-
cendo ao ordenamento jurídico nacional e afastando as acusações de oligarquia
ou ditadura fomentadas pela oposição.
O governo necessitava de certa margem de legitimidade junto ao eleito-
rado. A abstenção numa sessão eleitoral era, assim, recebida com alarme e
Borges cobrava respostas de seus acólitos. Onde a presença republicana era
embaçada, insinuava-se a ameaça de crescimento das dissidências e do fede-
ralismo. Portanto, havia um limite além do qual Borges não podia investir no
esfacelamento e na submissão do partido, sob pena de enfraquecer sua posi-
ção logo em seguida. Nesses casos, assim como naqueles em que o nível de con-
flito entre facções de força mais ou menos equivalente atingia proporções in-
suportáveis, reclamava-se a intervenção do então chamado “poder modera-
dor”14. O “poder moderador” do chefe político, que até esse momento se ma-
nifestara de forma sub-reptícia, manipulando a ascensão ou o desgaste das fac-
ções, intervinha agora de duas formas: instituindo um intendente provisório
e/ou constituindo uma comissão executiva do PRR local, na qual a maioria re-
ceberia três assentos e a minoria conquistaria dois15.
Quando uma facção reinava soberana, ela controlava a comissão executi-
va, domínio que geralmente derivava, aliás, também de uma eleição viciada16.
Nas comissões mistas, as facções dificilmente sentiam-se à vontade. A com-
posição de diretórios mistos podia surgir de uma proposta de Borges de
História Geral do Medeiros para apaziguar as tensões locais ou podia brotar das facções, quan-
Rio Grande do Sul
do então a iniciativa tinha por escopo, mediante a formatação de um modus
17 Carta de Moysés Vianna, João Francisco Pereira de Souza e Augusto Martins da Cruz Jobim
a Borges de Medeiros, Santana do Livramento, 6 de maio de 1916, nº 8.289, ABM. Volume 3
18 Carta de Hermes Laranja Bento a Borges de Medeiros, Canguçu, 25 de dezembro de 1917, nº República Velha
1.243, ABM. Tomo I
19 Carta de Pinos Irineo a Borges de Medeiros, Cachoeira do Sul, 8 de junho de 1897, n. 624,
ABM.
20 Carta de Carlos Norberto Moreira a Borges de Medeiros, Canguçu, 3 de dezembro de 1905, III.
n. 1203, ABM. Coronelismo
21 Acordo do Partido Republicano de Cachoeira do Sul, 14 de setembro de 1904, nº 683, ABM. indomável:
22 Carta de João Paulo Prestes et al. a Borges de Medeiros, Canguçu, 11 de abril de 1906, nº o sistema de relações
1.210, ABM. de poder
23 A SSIS B RASIL , Joaquim Francisco de. Texto manuscrito, 1923, Arquivo Pessoal, Castelo de
Pedras Altas.
113
as posições de momento e as futuras vagas seriam redistribuídas24. Nesses ca-
sos, procurava-se um nome de consenso para ocupar a Intendência, com trân-
sito em todas as correntes, que depois de um certo tempo na condição de pro-
visório, podia ser sufragado em uma eleição municipal. Dessa forma, partia-
se a chefia política e a gestão administrativa em atividades distintas. Esse can-
didato de consenso podia ser um coronel, mas em geral era um negociante lo-
cal, um profissional liberal ou um oficial da Brigada, com certa independên-
cia entre as facções. Não raro, era alguém trazido de fora da cidade pela má-
quina estadual e desenraizado dos vínculos de compromissos locais.
Eram os tais coronéis burocratas aos quais se referiram Sérgio da Cos-
ta Franco (1988), Raymundo Faoro (1987) e Joseph Love (1975). Na verdade,
eram muito mais burocratas interventores empoderados pela máquina pala-
ciana do que propriamente coronéis cuja fonte de poder apoiava-se na proprie-
dade rural e na capacidade de mobilização de capangas. Loiva Félix (1987),
apoiando sua pesquisa em grande medida também no Arquivo Borges de
Medeiros, mostrou como na região serrana norte do estado, nas cidades de
Cruz Alta e Palmeira das Missões, emergiram coronéis cuja expressão de po-
der ficava muito próxima daquela descrita por Victor Nunes Leal (1978), isso
é, apesar de toda a estrutura institucional autoritária sul-rio-grandense, o po-
der privado local ainda tinha expressão.
A intervenção palaciana importava sempre num recuo da autonomia lo-
cal, mas jamais acarretava em controle absoluto por parte do poder central.
Para que ocorresse, era necessário um misto de imposição do governo esta-
dual e aceitação por parte das facções. A iniciativa precisava ser revestida de
legitimidade. Do ponto de vista político, bastava a constatação dos prejuízos
auferidos pela briga de correntes. Sob o aspecto legal, forjavam-se engenhosos
pretextos. Denúncias de fraudes eleitorais ou de incompatibilidade da lei orgâ-
nica municipal face à Carta de 14 de julho justificaram mais de duzentas inter-
venções nos municípios entre 1896 e 1923 (LOVE, 1975, p. 83; PEREIRA, 1923)25.
Porém, tais interventores tinham caráter provisório, embora em alguns
casos até se prolongassem por anos na administração. Os diretores políticos
História Geral do locais, mesmo se submetendo à intervenção, consideravam-na uma anorma-
Rio Grande do Sul
lidade26. A harmonia conquistada pelo acordo e/ou pela intervenção era mo-
24 Ata da Comissão Executiva do PRR de Cachoeira do Sul, 14 de setembro de 1904, n.º 683,
Gunter Axt ABM.
25 Carta de Carlos Maximiliano a Borges de Medeiros, Santa Maria, 28 de março de 1919, nº
8.102, Arquivo Borges de Medeiros.
26 Carta de Ramiro de Oliveira a Protásio Alves, Santa Maria, 30 de março de 1916, nº 8.044,
ABM; MEDEIROS , 1980, p. 184.
114
mentânea e precária. Nos bastidores, as facções continuavam formigando e a
paz precisava então ser permanentemente mediada por Borges de Medeiros.
Por outro lado, em torno do intendente de consenso podia se formar uma nova
corrente política, que se aliava ou não às anteriores27, porque, nos municípios,
por mais que assim o desejasse o poder central, era impossível separar na prá-
tica o plano administrativo do político. Borges de Medeiros esperava que os
adesistas semeados com a intervenção fortalecessem uma facção palaciana.
As intervenções prolongadas, se num primeiro momento robusteciam o
poder palaciano e equacionavam o clima de disputa local, enfraqueciam a or-
ganização partidária28, refletindo sobre o desempenho da legião republicana
nos pleitos estaduais e federais29. Quando se avizinhava uma eleição federal,
começavam as movimentações nos distritos, bem como dos coronéis, visando
à reconstituição da comissão executiva. Por ser figura externa à rede de com-
promissos locais, o intendente provisório tinha dificuldade de arregimentar
o partido para as eleições. As eleições decidiam-se no corpo-a-corpo dos coro-
néis com os cabos eleitorais e eleitores nos distritos, em vista do que os subin-
tendentes, personagens diretamente conectados aos eleitores, eram sempre
figuras-chave. Quando uma facção nova era guindada ao poder, alguns de seus
principais obstáculos para a formatação do domínio residiam na montagem de
um corpo eficiente e leal de subintendentes, com efetiva penetração junto ao
eleitorado. O mesmo acontecia aos interventores30.
As eleições resultavam de um complicado processo que envolvia variá-
veis legais e extralegais. Careciam de unidade jurídica, pois existiam regula-
mentos federais, estaduais e municipais que podiam ser alterados de um pleito
para o outro e, com freqüência, deixavam azo a interpretações conflitantes. A
lei n. 18, de 12 de janeiro de 1897, lançou as bases do processo eleitoral no Rio
Grande do Sul. Inspirada na lei federal de 26 de janeiro de 1892, diferencia-
va-se dela ao propugnar o voto a descoberto, ao regular a cassação de manda-
tos e a condicionar o recurso quanto à ação das comissões de alistamento mu-
nicipais aos juízes da comarca, em primeira instância, e ao Superior Tribunal,
em segunda instância (AXT, 2001b).
Volume 3
27 Carta de Abelino Vieira a Borges de Medeiros, Santa Maria, 24 de julho de 1918, nº 8.089, República Velha
ABM. Tomo I
28 Carta de Carlos Maximiliano a Borges de Medeiros, Santa Maria, 13 de abril de 1920, nº
8.112, ABM.
29 Carta de A. A. de Araújo a Borges de Medeiros, Cachoeira do Sul, 27 de fevereiro de 1906, III.
nº 721, ABM. Coronelismo
30 Carta de José Claro de Oliveira a Borges de Medeiros, Santa Maria, 15 de outubro de 1919, indomável:
nº 8.106; Carta de Abelino Vieira da Silva a Borges de Medeiros, Santa Maria, 13 de janeiro o sistema de relações
de 1915, nº 8.005; Carta de Jerônimo Gomes a Borges de Medeiros, Santa Maria, 4 de de poder
setembro de 1915, nº 8.032; Carta de Claudino Nunes Pereira a Borges de Medeiros, Santa
Maria, 17 de junho de 1920, nº 8.114. ABM. 115
O governo gaúcho criticou a lei federal 1.269, de 15 de novembro de 1904,
que pretendeu padronizar os procedimentos para os estados e municípios. Na
mensagem presidencial de 20 de setembro de 1905, Borges de Medeiros con-
siderou a medida inconstitucional e atentatória à autonomia regional, pressu-
posto básico do regime federativo, contestando a competência do Congresso
Nacional para legislar sobre as eleições para os cargos municipais e estaduais.
O pomo de discórdia residia nas regras de qualificação de eleitores. Às véspe-
ras de cada eleição, editavam-se leis estaduais e municipais que revisavam as
listas de eleitores qualificados para o exercício do voto, existindo, portanto, re-
lações de eleitores estaduais, federais e municipais. A qualificação de eleito-
res, a cargo das autoridades administrativas e jurídicas alinhadas à situação
dominante, era sempre uma chance para a exclusão da oposição e inclusão dos
partidários31. Além disso, podia-se conceder títulos a falecidos ou menores de
idade, ou cancelá-los, conforme a conveniência de momento.
Nos municípios, a qualificação dos eleitores era atribuição dos chefes, que
organizavam os intendentes, conselheiros, magistrados e cabos eleitorais di-
versos para a consecução da tarefa. Os títulos de eleitores eram confeccionados
pelo Poder Executivo e remetidos aos municípios. Os intendentes, ou os che-
fes políticos por detrás deles, organizavam as eleições, decretando uma res-
pectiva lei orgânica em tempo hábil, onde se estabeleciam regras para a qua-
lificação municipal, quando havia, os impedimentos para candidaturas de con-
selheiros e a quantidade de mesas e sessões, que podiam ser compostas con-
forme as conveniências. A composição das mesas era manipulada pelo chefe
político situacionista e os mesários eleitos a partir de indicações dos eleitores.
Junto às mesas, eram designados fiscais dos partidos. A apuração era execu-
tada por juntas eleitorais formadas de conselheiros, nos municípios, e pela Co-
missão de Constituição e Justiça da Assembléia, nos casos de eleições esta-
duais, para onde também eram enviados os recursos. A Justiça não se envol-
via na apuração. Da qualificação aos recursos de apuração, o processo eleito-
ral nos municípios costumava ser custeado pelos bolsos do próprio coronel, o
qual, uma vez tendo firmado sua facção no poder, achava lícito compensar es-
História Geral do
ses gastos através do tráfico de sinecuras, com comissões cobradas sobre o sa-
Rio Grande do Sul lário de funcionários públicos ou mediante contratos que privilegiassem inte-
resses próximos aos seus32.
42 CONGRESSO do PRR. Porto Alegre: Oficinas Gráficas d’A Federação, 1923, p. 62-63; 67.
122
repressão ao contrabando com o Prata; centralização da atividade mercantil
na Capital, especialmente com a submissão da zona de colonização à esfera de
influência econômica da elite financeira urbana. Portanto, o bloco no poder
constituiu-se com base numa aliança entre frações conservadoras da classe do-
minante que davam sustentação a uma facção política minoritária e autoritá-
ria (PESAVENTO, 1980; ESPÍRITO SANTO, 1982; AXT, 2001).
Esta hegemonia mercantil foi construída com dispositivos, tais como:
a) padronização da matriz tributária, confiscando-se competência dos
municípios na edição de tributos locais;
b) implantação de impostos, como o territorial rural, que transferiram re-
cursos da zona colonial para o setor mercantil e financeiro litorâneo;
c) intervenção no setor de transportes de modo a determinar a conver-
gência da malha ferroviária para a capital e não para outras cidades
do interior, como Santa Maria (cidade bem ao centro do estado) e Rio
Grande (porto de mar);
d) incentivos particularizados para segmentos com investimentos do se-
tor financeiro-mercantil (LAGEMANN, 1985, 1985a; ESPÍRITO SANTO,
1982; LIEDCKE, 1985; MINELLA, 1979, 1985, 1988; AXT, 2001).
Não houve uma política sistemática de valorização da classe média, de
incorporação do proletariado à sociedade e de investimentos direcionados à
zona de colonização, muito embora tais aspectos estivessem presentes no dis-
curso político, por vezes de forma contundente. Borges de Medeiros, por
exemplo, reprimiu o movimento operário em 1919, empurrando-o quase que
na íntegra para a oposição em 1923 (AXT, 2001).
A oposição partidária, por sua vez, batia-se, sobretudo, pela liberdade de
comércio, o que significava o estreitamento da integração com o Prata, a re-
dução das barreiras de importação e a fuga à zona de influência mercantil da
capital. Almejava, além disso, uma política econômica que privilegiasse a fra-
ção dos estancieiros acima de qualquer outra. Pleiteava, por exemplo, a cria-
ção de um banco hipotecário de crédito rural com apoio de recursos públicos
e a instalação de frigoríficos no estado, o que era boicotado pelos financistas ur- Volume 3
República Velha
bano-litorâneos e pelos charqueadores. No início da república, esta facção era Tomo I
majoritariamente parlamentarista, porque acreditava que dispunha do apoio
da maioria dos eleitores e conseguiria no Parlamento fazer valer suas posições III.
econômicas. Já na década de 1920, o parlamentarismo federalista original es- Coronelismo
indomável:
tava praticamente substituído pelo presidencialismo assisista, pois já, então, o sistema de relações
o processo de esvaziamento do Legislativo parecia ser apenas parcialmente de poder
Para concluir:
Existiu no Rio Grande do Sul a mesma indistinção entre espaço público
e privado que marcou o restante do país, ou seja, o mesmo cortejo de fraudes,
de corrupção, de clientelismo, de prevaricação etc.
A principal distinção estava no fato de que no Rio Grande do Sul houve
uma institucionalização autoritária que dispôs nas mãos da elite dirigente ins-
trumentos mais efetivos de intervenção política e administrativa na sociedade.
Esses instrumentos se consubstanciaram no Poder Judiciário, na Brigada Mi- Volume 3
litar, no Parlamento enfraquecido e destituído de competências legislativas, República Velha
Tomo I
no orçamento manipulado e nos artigos constitucionais que permitiam inter-
venções nas situações municipais.
III.
Não obstante, o aparelho de Estado e o aparato burocrático não chega- Coronelismo
indomável:
ram a ser infra-estruturalmente fortes o bastante para impor uma ditadura o sistema de relações
efetiva. A elite dirigente precisava ainda negociar com os coronéis locais. As de poder
eleições, por exemplo, não poderiam ser organizadas sem o concurso habitual 125
do poder privado local. Da mesma forma, a defesa do regime nos momentos
de crise mais aguda da hegemonia, apenas poderia ser garantida mediante o
concurso dos coronéis e de seus corpos provisórios.
O dispêndio com as eleições, por usa vez, não podia ser simplesmente
anulado. Havia necessidade de manutenção do rito eleitoral, pois, dessa for-
ma, atestava-se ao Centro do país e ao Congresso Nacional, junto ao qual a
oposição esmerava-se por denunciar a ditadura castilhista-borgista, que no Rio
Grande do Sul as instituições republicanas estavam preservadas, não haven-
do ditadura nem tampouco oligarquia autoritária. O exército de eleitores,
além disso, proporcionava à elite dirigente uma posição de destaque no cenário
nacional. Outrossim, não era possível realizar apenas as eleições federais,
pois, se assim fosse, haveria uma desmobilização do PRR para o enfrenta-
mento das municipais e estaduais, o que terminaria redundando numa desmo-
bilização e num conseqüente avanço dos oposicionistas.
Assim, não era conveniente extinguir completamente a oposição ao
borgismo, pois a ameaça de um inimigo comum ativo preservava melhor a uni-
dade interna do PRR. Diferentemente do que sustentava o discurso oficial de
legitimação do regime, o PRR era violentamente cindido por facções intesti-
nas, em torno das quais se organizavam redes de compromissos coronelísti-
cos. A tibieza infra-estrutural do aparelho de estado não possibilitava a im-
posição de uma rígida disciplina partidária e de um comando hierárquico ine-
xorável. Em vista disso, a formatação do partido como um bloco monolítico e
homogêneo não apenas era impossível como era inconveniente, pois impor-
taria num recuo da margem de influência do comando central. Portanto, para
Borges de Medeiros era, por princípio, desejável que existissem facções inter-
nas. As eleições, especialmente as municipais, eram uma forma de manter
vivas as facções e um mecanismo para que Borges de Medeiros lograsse en-
fraquecer o poder local, pois era melhor dividir do que somar.
Quando, porém, a disputa tornava-se por demais acirrada, trazendo
ameaças à ordem institucional, ou quando uma facção tornava-se excessiva-
mente poderosa e ensaiava escapar ao controle borgiano, o poder central esta-
dual operava intervenções nos municípios. Embora tenham acontecido com
História Geral do
Rio Grande do Sul relativa freqüência, eram processos traumáticos, que ofendiam a autonomia
local. Por isso mesmo, havia como que uma obsessão em revesti-las de uma
aparência de formalidade jurídica.
A freqüência e a amplitude com que essas intervenções passaram a se dar
Gunter Axt
corroeram a legitimidade do regime no interior do próprio partido dominan-
te, pois a cada intervenção, produzia-se uma cisão. Além disso, a presença
continuada de intendentes provisórios nos municípios contribuiu para a
126
desmobilização do partido e o seu enfraquecimento, o que custou caro a Bor-
ges de Medeiros em 1922. Nessa ocasião, a continuidade de seu governo de-
pendeu de uma negociação com o partido, que tacitamente, em face do enfra-
quecimento do líder, exigiu o refluxo do esquema de moderação política
borgiana junto às facções municipais, garantindo-lhes mais autonomia.
Nesse quadro, um fator complicador para o comando central eram os dis-
tritos coloniais. Baseando sua atividade econômica na pequena propriedade
rural e constituindo lealdades próprias, para cuja cerzidura padres e pasto-
res desempenhavam papel fundamental, os distritos coloniais representavam
uma permanente ameaça de insubordinação. Um subintendente incompe-
tente ou por demais autoritário podia, por exemplo, provocar reações, que
se desdobravam em abstenções nos pleitos eleitorais ou mesmo em sufrá-
gios aos candidatos oposicionistas. Os resultados podiam sempre ser maquia-
dos com o recurso habitual à fraude, mas a imagem de consenso em torno
do regime estaria abalada, o que era ruim para o esforço de legitimação do
poder. Borges de Medeiros, em vista disso, precisava sempre negociar com
tais distritos e com suas lideranças comunitárias. Dessa feita, investimen-
tos como pontes, estradas ou escolas costumavam ser mais freqüentes em
distritos coloniais do que em municípios da Campanha. Consciente disso,
Borges de Medeiros costumava ser contrário às ambições emancipacionis-
tas dos distritos coloniais. Aliás, após a proclamação da república, o PRR
opôs-se sistematicamente à continuidade da imigração induzida, aceitando
tão somente o modelo de imigração espontânea e individual. Portanto, a
zona colonial esteve longe de importar num tranqüilo celeiro de votos para
o borgismo. A região integrou o sistema coronelista de poder porque o esta-
do o integrava como um todo, mas ela sempre desempenhou um fator de ins-
tabilidade para o comando central da rede de compromissos borgiana, por ve-
zes até mais difícil de manejar do que as cisões habituais verificadas no inte-
rior da elite dirigente.
Foi justamente a percepção dos limites intrínsecos a essa dinâmica de po-
der para a afirmação do comando unipessoal que levou a elite dirigente e em-
barcar na aventura intervencionista estatal, pois se imaginava que, com um Volume 3
República Velha
estado infra-estruturalmente melhor equipado, seria mais fácil controlar o co- Tomo I
ronelato local. Com efeito, em 1924, um importante coronel que entrara para
a dissidência em 1904, após a morte de Castilhos, escreveu para Borges de III.
Medeiros dizendo que estaria disposto a reingressar no PRR se o presidente Coronelismo
indomável:
determinasse que a Diretoria de Higiene liberasse uma carga sua de banha o sistema de relações
para exportação, a qual precisava ainda ser transportada pela Viação Férrea, de poder
História Geral do
Rio Grande do Sul
Gunter Axt
128
Capítulo IV
O PARTIDO FEDERALISTA
Essa coligação, que teve como presidente do seu diretório ninguém me- Volume 3
República Velha
nos que o Visconde de Pelotas, primeiro presidente provisório do estado após Tomo I
a proclamação da república, pode considerar-se ancestral do Partido Federa-
lista, nascido dois anos mais tarde.
Na eleição para o Congresso Constituinte, a União Nacional se absteve IV.
O Partido
de apresentar candidatos, alegando falta de garantias, fraude do alistamento Federalista
eleitoral e violências do governo. O Partido Republicano elegeu todos os seus
candidatos, obtendo 35.741 sufrágios o candidato mais votado. Não era gran- 131
COSTA, 1922.
de performance, considerando que o alistamento
eleitoral de 1890 alcançara 73.762 eleitores. O dis-
sidente republicano Barros Cassal, único oposicio-
nista a disputar o pleito, obteve 7.219 votos, quase
um décimo do eleitorado total.
Foi baldado tudo que fizemos para obtermos do dr. Demétrio que se ligasse
à União Nacional para o próximo pleito eleitoral, dando-lhe nossa chapa 20
candidatos. Queria, porém, 24, ao que não nos foi possível anuir, pois ficaría-
mos assim iguais na Constituinte” (In: CÂMARA, 3º vol., doc. n. 106, p. 365).
História Geral do
Rio Grande do Sul
A negociação só se consumou com a adoção do nome de Partido Republi-
cano Federal e a inclusão dos dissidentes, respeitada a predominância de ele-
mentos da União Nacional. Em 28/04/91, o Visconde de Pelotas, em carta ao
Sérgio da Costa
Franco dr. Adriano Nunes Ribeiro, dava por finda a missão do diretório da União
Nacional, em vista da constituição do Partido Republicano Federal. Esse, em
verdade, só funcionaria para a disputa das eleições de maio.
132
Nesse pleito, apesar da coerção e das fraudes patrocinadas pelo gover-
no do estado em favor do Partido Republicano, a oposição teve um desempe-
nho expressivo e satisfatório, atingindo, seu candidato mais votado, a cifra de
18.214 votos, enquanto os candidatos da chapa oficial obtinham perto de 29 mil
sufrágios. Se vigorasse uma regra de representação proporcional, mais de um
terço das cadeiras da Constituinte tocariam à oposição. O Partido Republica-
no Federal foi vitorioso em Alegrete, Bagé, Cacimbinhas (Pinheiro Machado),
Dom Pedrito, Lavras do Sul, São Lourenço do Sul, Taquara e Viamão. Em Por-
to Alegre também teria vencido, se não tivesse ocorrido a anulação de uma urna.
Como registramos em A Guerra Civil de 1893 (UFRGS, p. 24), “nunca mais, até
1930, a oposição conseguiria alcançar uma tal proporção de sufrágios (37%): nem
em 1907 com Fernando Abbott; nem em 1922 com Assis Brasil”.
federalista era a
da liquidação do castilhismo, representado sempre como a encarnação de uma
tirania opressiva, cruel e desligada da opinião pública. Esse ódio ao partido de
Castilhos estendeu-se depois ao marechal Floriano, desde que o presidente
ofereceu mão forte ao governo do Rio Grande e desde que à revolução se
associou à Armada.
A frente única formada entre federalistas, republicanos demetristas, Custódio
de Melo e seus companheiros da Armada, Saldanha da Gama e seu grupo,
jamais funcionou satisfatoriamente, porque os objetivos de cada uma dessas
facções apenas em parte eram coincidentes. [...]
Em contrapartida, o que se observa entre os legalistas é uma unidade extraor-
dinária. A influência de Júlio de Castilhos se alastrara do meio civil para o militar
e, somada à ascendência moral do marechal Floriano, instilava nos chefes das
colunas republicanas uma inquebrantável mística de fidelidade às instituições.
Os legalistas estavam convictos do caráter restaurador da insurreição. E esse
prejulgado, que algumas atitudes dos federalistas não deixavam de justificar, teve
a virtude de eletrizar os defensores do governo.
Volume 3
República Velha
A guerra civil, como se sabe, não se limitou às fronteiras do Rio Grande Tomo I
do Sul, estendendo-se aos estados de Santa Catarina e Paraná e esteve a pi-
que de penetrar em São Paulo. Em 1895, entretanto, já refluíra para o Rio
Grande do Sul, dado que a Esquadra insurreta havia sido derrotada e o gover- IV.
O Partido
no retomara o controle do Paraná e de Santa Catarina. Federalista
Nesse momento, já estando na presidência da República o paulista Pru-
dente de Moraes, desenvolveram-se os trâmites da pacificação, de uma par- 137
te o Exército Nacional, representado pelo general Inocêncio Galvão de
Queiroz, e de outra os líderes do Partido Federalista, Joca Tavares e seu ir-
mão Francisco da Silva Tavares.
O fato de a pacificação haver-se processado através de negociações dos in-
surgentes com o governo federal, conservando-se à margem o governo esta-
dual, gerou certa inconformidade de parte de Castilhos, embora Prudente de
Moraes tenha timbrado em respeitar a autonomia do estado e a preservação
de suas regras constitucionais, que os federalistas insistiam em submeter à
revisão. O negociador federal, general Inocêncio Galvão de Queiroz, revelava
nítidas simpatias pelo federalismo, o que foi objeto de observação explícita do
presidente Prudente de Moraes em telegrama dirigido àquele militar:
História Geral do
Rio Grande do Sul
Sérgio da Costa
Franco
140
Oficiais federalistas:
(a partir da esquerda)
Torquato Severo,
Vasco Matos, Aparicio
Saraiva e o médico
Ângelo Dourado,
autor do livro
Voluntários do
Martírio.
Coleção Museu
Paranaense.
RUAS; BONES, 1997.
Janeiro de
1894. Gumer-
cindo Saraiva
chegando em
Curitiba.
Coleção Museu
Paranaense. RUAS;
BONES, 1997.
Volume 3
República Velha
Tomo I
IV.
O Partido
Federalista
Também não está de acordo com o dr. Wenceslau Escobar quanto ao adiamen-
to da propaganda para a revisão da Constituição Federal. Não somos governo:
precisamos, pois, ter um programa para quando o formos. – O programa de
um partido é uma coisa vasta; o programa de um governo é limitado. O pri-
meiro pode levar vinte anos para ser realizado; o segundo pode ser esgotado
em pouco tempo. Quanto ao estado, não temos uma Constituição a reformar;
temos uma Constituição a substituir. – Tal pensamento já foi acentuado no
Congresso de Bagé; já está firmado como programa do partido e já foi consa-
História Geral do
Rio Grande do Sul
grado pela revolução e pela maioria do povo rio-grandense. – Temos hoje a
traçar o nosso programa quanto à Constituição federal, que é um maquinismo
mal organizado.
Sérgio da Costa
Franco Segundo José Júlio Martins, Wenceslau Escobar defendera a tese de que
o partido aceitasse transitoriamente o presidencialismo da Carta federal de
142
1891, para depois empreender a defesa do sistema parlamentar.
O programa adotado pelo congresso de 1896 tem inegável sentido centra-
lizante, sobretudo pelos seus itens V e VI. Pelo item V, defendeu-se a
I – República parlamentar;
II – Eleição do presidente pelo Congresso Nacional;
III- Reforma da bandeira nacional com a absoluta supressão do lema da religião
anticristã de Augusto Comte; Volume 3
República Velha
IV – Os militares em atividades não poderão votar; no caso de serem eleitos, Tomo I
A França tem sido por nós imitada em muita coisa. Não o foi, porém no to-
cante à organização do exército, pois é sabido que ali o militar não pode votar
nem ser votado. O orador tem recebido muitas adesões de militares nesse
sentido.
Não querem essa medida os retóricos, os que preferem viver nas Câmaras a
viver na fileira.
História Geral do
Rio Grande do Sul Apesar do respaldo que lhe foi dado por quatro eminentes figuras do par-
tido, secundadas por outros líderes, o “testamento político” de Silveira Martins
nunca foi oficialmente adotado como programa partidário. O Congresso de
Sérgio da Costa
1917, como adiante se verá, acolheu diversos de seus itens, mas foi omisso
Franco quanto a outros tantos. Aparentemente, as resistências se endereçavam aos
pontos específicos do funcionamento do sistema parlamentar de governo e à
146 forma de eleição do presidente do estado.
O congresso de 1901 em Bagé
Pouco depois da divulgação do manifesto que tornou público o testamento
político de Silveira Martins, fez-se a convocação de um novo congresso fede-
ralista, aprazado para 20 de novembro em Bagé. Subscreveram a convocação,
o marechal Augusto Cezar, Vicente Saldanha, Albino Pereira Pinto, Fortunato
Barreto e Wenceslau Escobar.
Sob a presidência do general Joca Tavares, o congresso demonstrou que
não se submetia servilmente ao pensamento do líder falecido. Já sob a expec-
tativa de um movimento nacional de revisão constitucional que se anunciava
em São Paulo, os congressistas de 1901 assumiram uma postura
contemporizadora, adotando como resolução a proposta apresentada pelo co-
ronel José Bonifácio da Silva Tavares, irmão de Joca:
mo candidato tantas vezes quantos forem os votos que lhe quiser dar.
IV.
O Partido
A concorrência de mais de um candidato federalista pelo mesmo distri- Federalista
to poderia ser fatal à pretensão do partido, desde que frustrasse os resultados
do voto cumulativo.
153
Oposições desunidas: pleito estadual de 1907
Os dissidentes republicanos, que se avolumavam com o decurso do tem-
po, articularam-se em 1907 para disputar o governo do estado através da can-
didatura do médico gabrielense Fernando Abbot, em oposição a Carlos Bar-
bosa, do PRR.
Entretanto, o candidato, que substituiu Castilhos interinamente na go-
vernança em 1892, não era de molde a inspirar a confiança e a estima dos fede-
ralistas. Seu governo, que antecedeu a eclosão da guerra civil, fora marcado
pela truculência contra os adversários. Em razão disso, o Partido Federalista
não lhe deu apoio e não foram muitos os federalistas que individualmente lhe
deram seu voto. A votação alcançada por Abbott é prova disso: limitada a pouco
mais de 16 mil votos, esteve longe de atingir o montante do eleitorado atribuí-
do, um ano antes, pelo próprio Borges de Medeiros aos federalistas, que
seriam 21.511 alistados. Em Alegrete, onde havia 501 eleitores federalistas,
Fernando Abbott alcançou 155 votos; em Santana do Livramento, onde se con-
tavam 649 federalistas, o opositor de Carlos Barbosa limitou-se a 340 sufrá-
gios; e em Soledade, onde os federalistas orçavam por 370, Fernando Abbott
recolheu 30 votos.
O episódio das eleições de 1907, assim como a subseqüente criação do Par-
tido Republicano Democrático, são evidências da desarmonia imperante nos
arraiais da oposição, o que favoreceu e facilitou a longa hegemonia do PRR.
Quando se poderia imaginar que o exclusivismo político dos castilhistas,
o autoritarismo da Carta de 14 de julho e toda a legislação que a regulamen-
tava pudessem induzir os oposicionistas a uma luta solidária e unitária, tal não
aconteceu. No próprio momento em que o Partido Federalista se afirmava
pela presença de três deputados na Câmara Federal, Assis Brasil em seu no-
tável discurso de fundação do Partido Republicano Democrático, em 20 de se-
tembro de 1908, em Santa Maria, contrapôs-se explicitamente ao parlamen-
tarismo dos federalistas. No mesmo discurso colocava-se numa posição de revi-
sionismo constitucional, admitia idéias defendidas pelos federalistas, como a
História Geral do
Rio Grande do Sul eleição indireta do presidente da República, a extinção do cargo de vice-pre-
sidente e a limitação ao direito de os estados e municípios contraírem emprés-
timos externos, mais a revisão da Constituição Estadual, porém fechava-se a
qualquer coligação com os partidários do parlamentarismo.
Sérgio da Costa
Franco Bem se sabe que o Partido Republicano Democrático nunca decolou e
terminou morrendo sem deixar traços de sua passagem, a não ser a brilhan-
te dissertação de Assis Brasil quando da sua fundação.
154
Talvez num único momento estiveram unidos federalistas e democráti-
cos: em 1910, na defesa da candidatura de Ruy Barbosa à presidência da Re-
pública. Mas, seja porque as eleições federais nunca despertavam maior entu-
siasmo, seja porque os borgistas aplicaram todo o empenho na defesa da can-
didatura de Hermes da Fonseca, a união das oposições não logrou alcançar se-
não 16.476 votos em favor de Ruy.
O pleito valeu, entretanto, pela afirmação local das oposições em três
municípios gaúchos: a despeito de todas as pressões exercidas pelo
situacionismo, Ruy Barbosa foi vitorioso nos municípios de Bagé, São Gabriel
e Soledade.
Cada eleitor votará em três nomes nos estados cuja representação constar apenas
de quatro deputados; em quatro nomes nos distritos de cinco; em cinco, nos
de seis; e em seis, nos distritos de sete deputados.
Porém, tornou-se usual que, nos distritos onde fosse bastante forte, o PRR
apresentasse extra-oficialmente um candidato a mais, o carancho e este, be-
neficiado por um rodízio na votação de seus correligionários, terminava der- Volume 3
rotando o candidato da minoria. República Velha
Tomo I
No pleito de 1909, o Partido Federalista, que tivera três deputados na
legislatura anterior, só conseguiu reeleger Francisco Antunes Maciel pelo 2º
distrito e Pedro Moacyr pelo 3º. Segundo Caggiani (1996), autor da biografia IV.
O Partido
de Rafael Cabeda, o Partido Republicano elegeu todos os deputados do 1º dis- Federalista
trito, em número de seis, desqualificando Cabeda, que era o candidato fede-
ralista. 155
Nas eleições de 1912, o resultado ainda foi mais desfavorável aos federa-
listas: apenas Pedro Moacyr se reelegeu pelo 3º distrito. Foi mais uma vez bur-
lada, então, a regra legal que possibilitava a representação da minoria. Entre-
mentes, em 1910, encerrara suas atividades o tradicional jornal do Partido Li-
beral, A Reforma, que nascera, ainda nos tempos da monarquia.
O governo oferece todas as garantias, é certo, antes das eleições, para cerceá-
las depois, fazendo com que os caranchos tirem os direitos dos representantes
da oposição.
Sérgio da Costa
Franco
160
O caso do federalismo:
cisão entre pintistas e cabedistas
A realização do congresso partidário de 1917 poderia dar a impressão de
alguma solidez associativa, mas não foi o que aconteceu logo após. As eleições
parlamentares de 1918 para a Câmara Federal resultaram na completa der-
rota dos candidatos federalistas, nos três círculos eleitorais em que se dividia
o Estado. No 1º distrito, baluarte tradicional do PRR, concorreu, sem esperan-
ças, o dr. Antônio de Moraes Fernandes; no 2º distrito, o deputado Antunes
Maciel Júnior, que perdeu sua cadeira na Câmara; e no 3º distrito, onde a vo-
tação federalista poderia ensejar a eleição de um deputado, dois se lançaram
ao pleito – Pedro Moacyr e Rafael Cabeda –, da divisão de forças resultando
a derrota de ambos.
Nesse pleito de 1918, o PRR, desafiando a letra expressa da legislação
eleitoral, oficializou os caranchos, apresentados como candidatos avulsos: An-
tonio Carlos Penafiel no 1º distrito, José Antônio Flores da Cunha no 2º, e Otá-
vio Rocha no 3º. Graças à prática do rodízio de votos em cada um dos distri-
tos, todos os três caranchos se elegeram, levando à Câmara dos Deputados
uma representação unânime do PRR.
Além da fatal divisão ocorrida no 3º distrito, parece ter havido negligên-
cia nos trabalhos de alistamento, dando como resultado uma queda geral da
votação federalista.
Em seu editorial de 05/03/1918 de A Federação, sob o título de A derro-
ta do adversário, tripudiou sobre a ineficiência política dos federalistas, salien-
tando que, salvo na eleição de 1906, em que o dr. Wenceslau Escobar conse-
guira eleger-se pelo 1º distrito, nunca mais eles haviam obtido representação
naquele círculo; nas recentes eleições, apenas 1.452 eleitores haviam sufragado
o nome de Moraes Fernandes. Frisando que, em 1915, Maciel Júnior tinha re-
conquistado a cadeira perdida no 2º distrito, alcançando 18.185 votos cumu-
lativos, caíra agora a menos de um terço daquela votação, sofrendo uma tre-
menda derrota. Quanto ao 3º distrito, concorreram Pedro Moacyr e Rafael Volume 3
Cabeda desunidos, por absoluta falta de previsão, tendo como resultado uma República Velha
Tomo I
perda que poderiam ter evitado. De um modo geral, a tendência era a de la-
mentar a derrota de Pedro Moacyr, tido como um dos mais brilhantes tribu-
nos da Câmara. IV.
O Partido
Depois dessa derrota de 1918, começam a tornar-se explícitas as diver- Federalista
gências dentro do partido maragato. Em A Federação de 26 de março. Trans-
creveu-se, sob o título de Um juiz insuspeito, um artigo de Júlio Magalhães,
161
redator do jornal federalista Gaspar Martins, editado em Santa Maria, que
analisava os resultados da última eleição federal:
Temos certeza que, em boa fé, ninguém poderá duvidar da existência do par-
tido federalista no Rio Grande do Sul, porque ele existe com elementos sufi-
cientes para se fazer representar na Câmara dos Deputados, na Assembléia do
Estado e nos Conselhos dos municípios.
O partido federalista é a minoria, não resta dúvida, mas seria uma minoria
respeitável, se tivesse a direção de um chefe unipessoal, patriota e obedecido
no comando.
O partido federalista existe com elementos para eleger deputados por todos
os distritos eleitorais, e os teria elegido na eleição de 1º do corrente, se não
estivesse minado pelas competições e os seus verdadeiros interesses não es-
tivessem em completo abandono, principalmente neste 2º distrito, que foi o
que se salientou na mixidade da votação, simplesmente porque a qualificação
quase que passou em branca nuvem. [...]
Também o sr. coronel Cabeda teria mostrado patriotismo e amor pelos reais
interesses do partido se abrisse mão de sua candidatura em bem do dr. Pedro
Moacyr.” [...]
Se o sr. Cabeda fosse um leal servidor do partido teria comparecido à reunião
do Diretório Central, desistindo da apresentação de sua candidatura em pro-
veito do dr. Pedro Moacyr. [...]
Ainda desta vez o sr. Cabeda mostrou que é sempre o mesmo homem,
preocupado com a sua individualidade, pouco ou nada importando-se com os
males do partido.
[...] Sigo a 7 para o Rio e recebo suas ordens, com prazer. Creia que vou
triste pela derrota do nosso caro Cabeda, cujas benemerências partidárias não
mereciam tal prêmio, no fim de uma vida de abnegações (por mais errado que
ele pudesse estar), e pela original, dolorosa posição em que me encontrarei,
quando se discutir a contestação ao diploma de Pinto. Por qualquer lado que
saia, eu sairei mal. Não há critério nem prática que me livrem de uma péssima
saída. As duas pontas do dilema me são igualmente fatais: Se me inclinasse por
Pinto, faltaria à lealdade que desejo ter, e manterei, com Cabeda; se me incli-
nasse por este, como pretendo, mentirei diante da verdade das urnas, que nos
foi contrária, por desgraça, mas o certo é que o foi. E mentindo assim, perde-
rei a força moral sob cuja égide critiquei, há 4 anos, na própria Câmara, ener-
gicamente, os processos depuradores de Pinheiro Machado, com a suprema
agravante de que o farei contra um candidato cuja apresentação o contestante
e eu apresentamos, em público, por firma reconhecida: [...]
Apreendo intimamente toda a situação, no instante partidário em que nos
encontramos, sem esquecer talvez um só detalhe; porém não posso prever,
ainda assim, perfeitamente, que rumo tomarão as nossas coisas, mormente se
Cabeda for reconhecido. Explico-me: se Cabeda for reconhecido, – é fatal –, o
governismo vai vangloriar-se de ter tido parte no bolo e, por essa parte, em-
bora não a tenhamos solicitado, vamos a ficar-lhe devendo, pelo menos, uma Volume 3
remota gratidão e vamos suportar os mais rudes ataques dos amigos de Pinto, República Velha
ataques que nos acarretarão talvez a perda de velhos companheiros desiludidos Tomo I
por esse amparo, aliás todo espontâneo, que o borgismo dará à causa de
Cabeda. [...] IV.
O Partido
Federalista
As previsões de Maciel Júnior foram corretas. A depuração patrocinada
pelo situacionismo inverteu a ordem da votação e atribuiu a vitória a Rafael 163
Cabeda. Provavelmente porque Pinto da Rocha era um dissidente do Parti-
do Republicano, intelectual de valor, dono de boa bagagem cultural, o que não
acontecia com Rafael Cabeda, parlamentar apagado, na legislatura em que
exercera o mandato.
A repercussão dentro do Partido Federalista não poderia ser pior. Ape-
sar de todos os bons serviços que prestara ao federalismo, o favorecido pela
tramóia da verificação de poderes foi até acusado de traição e de se haver man-
comunado com a representação do PRR na Câmara. Caggiani (1996), biógra-
fo de Rafael Cabeda, transcreve algumas manifestações de maragatos indig-
nados, inclusive o texto de um telegrama passado a Borges de Medeiros:
O luto que cobre o federalismo pela morte moral de Rafael Cabeda sobrepuja
seus sentimentos de revolta contra esbulho sofrido pelo deputado eleito pelo
terceiro círculo. Por obra e graça de v. exa., Câmara reconheceu candidato re-
pelido pelas urnas. Cabeda, no fim da vida, entregou a v. exa. armas com que
combateu por longos anos, rendido, afinal, ao poderio de v. exa. [...]
Volume 3
República Velha
Tomo I
IV.
O Partido
Federalista
165
Devido ao aspecto extrapartidário e popular da candidatura, com a reunião de
presidencialistas e parlamentaristas num movimento que se apresentou para toda
a sociedade gaúcha, as oposições não tiveram condições de apresentar uma
plataforma ou um programa definido de governo. Sentindo estas dificuldades,
Assis Brasil respondeu ao apelo que lhe foi dirigido, ponderando que suas opiniões
estavam “gravadas em diplomas inapagáveis”, e que o momento era de sobrie-
dade em palavras e prodigalidade em ação.
de algumas cadeiras para a oposição, tanto na Câmara Federal como na As- Volume 3
sembléia, deu aos rebeldes uma tênue sensação de vitória. República Velha
Tomo I
A coligação formada na luta das coxilhas por rebeldes de várias tendên-
cias haveria de transformar-se afinal na Aliança Libertadora, constituída num
congresso realizado em São Gabriel em janeiro de 24. Dela participaram, des- IV.
O Partido
de logo, vários federalistas, antecipando de algum modo a extinção do parti- Federalista
do. O federalismo definhava, na precisa medida em que crescia a liderança de
Assis Brasil.
167
Legislatura de 1925-27:
conflito entre federalistas e assisistas
A pacificação de 1923 pactuara que às oposições se reservariam, nas elei-
ções a realizarem-se em maio de 24, independente do resultado das urnas, tan-
tas cadeiras quantos fossem os distritos eleitorais, a título de representação
das minorias. Como resultado desse pacto, subiram à Assembléia dos Repre-
sentantes, na legislatura de 1925 a 27, cinco deputados oposicionistas, estig-
matizados por uma votação insignificante. Porém, entre eles, reinou sempre
completa discordância, pois dois se filiavam à Aliança Libertadora, dois ao Par-
tido Federalista e o quinto, o passo-fundense Bittencourt de Azambuja, a uma
dissidência do Partido Republicano. Os dois da Aliança Libertadora eram Si-
mões Lopes Filho, de Pelotas, e José Agostinelli, de Caxias do Sul. Os fede-
ralistas eram Olímpio Duarte, da região da Fronteira, e Demétrio Xavier, de
Dom Pedrito. Entre estes últimos e aqueles, logo se estabeleceu franca diver-
gência, os dois federalistas dirigindo ataques repetidos a Assis Brasil e a sua
orientação política. A linha dos federalistas era de franco acatamento à paz de
Pedras Altas, limitando-se Demétrio Xavier a exercer oposição ao governo do
estado, enquanto Olímpio Duarte chegou a ser acusado de integrar a banca-
da da maioria republicana. No plano federal não hostilizavam Artur Bernar-
des nem se opuseram à candidatura oficial de Washington Luís. Já os liberta-
dores, sobretudo Simões Lopes Filho, exerceram oposição muito ativa, soli-
dários com a postura insurrecional de Assis Brasil, que, em exílio voluntário
no Uruguai, seguia apoiando movimentos armados.
De Montevidéu, em 21 de abril de 25, Assis Brasil, como presidente da
Comissão Executiva da Aliança Libertadora, lançou manifesto ao país, em ter-
mos incendiários:
História Geral do
Rio Grande do Sul
Sérgio da Costa
Franco
170
Capítulo V
Margaret M. Bakos
1967 p. 75).
181
Os castilhistas aproveitaram a tristeza que reinava na cidade, forçando,
com o apoio da Escola Militar, Francisco da Silva Tavares a deixar a Intendên-
cia, na Praça da Matriz em 13 de maio de 1890. O fato teve desdobres graves,
chegando Castilhos a ser acusado nessa ocasião de buscar a separação do país.
Segundo Sérgio da Costa Franco, embora comtista, adepto, pois, das “peque-
nas pátrias”, Júlio não teria tido esse objetivo (COSTA FRANCO, 1967, p. 76).
Ao chegar do Rio de Janeiro para assumir o governo, o general Cândido
Costa buscara a solidariedade de Júlio de Castilhos. Assim, se as deposições
do visconde de Pelotas e de Silva Tavares engrossaram as fileiras de opositores
a Júlio de Castilhos, e se o seu apoio ao marechal Deodoro da Fonseca deter-
minou, a seguir, o afastamento de Barros Cassal, Demétrio Ribeiro e Antão
de Faria do partido republicano, seu prestígio político como líder continuou
alto junto às instâncias federais, pelo tempo de sua vida.
Júlio de Castilhos, como presidente nomeado, viajou ao Rio de Janeiro,
onde a seguir foram publicados o projeto de Constituição Federal e o Regula-
mento Eleitoral de Cesário Alvim.
As desavenças em âmbito de presidência do estado tiveram influência nos
governos municipais. No período entre 1890 e 92, Porto Alegre teve cinco che-
fes municipais: Felicíssimo Manoel de Azevedo foi o primeiro, permanecen-
do no cargo de 22 de janeiro de 1890 a 21 de novembro de 1891. Ele era admi-
rado e conhecido pela fibra, resistência e zelo com que já havia atuado em ges-
tões anteriores. Em dezembro de 1887, ele conseguiu que a Assembléia Pro-
vincial passasse as rendas provenientes do imposto da décima urbana às ren-
das do município, apesar dos votos em contrário de quatro vereadores. A se-
guir, enfrentou um sem número de particulares, que se apresentavam como
proprietários de terrenos na várzea, atual parque Farroupilha, tomando a pei-
to a tarefa de destrinchar os processos. Pessoalmente, ele juntou copiosa do-
cumentação, em repartições públicas, mediu campos e ruas, examinou plantas
e mapas, conseguindo desmascarar os portadores de escrituras simuladas.
Sob o pseudônimo de “Fiscal Honorário”, ele colaborou no jornal A Fede-
ração desde a sua fundação, em seção denominada Cousas municipais. Ele
História Geral do escreveu, segundo suas palavras, levado pelo sentimento de contribuir com
Rio Grande do Sul
um pequeno contingente para a história do município dessa capital, de cujos
interesses se tornou assíduo defensor. Ele desejava que Porto Alegre, onde
teve o berço se elevasse “ao maior auge de prosperidade e grandeza a que tem
Margaret M. Bakos incontestável direito”.
Felicíssimo adotou atitudes de pôr tudo às claras em sua vida particular.
Viúvo, em setembro de 1894, o Fiscal fez o inventário de seus pertences, de
182
pleno acordo com os sete filhos genros e noras. A cada um deixou uma casa,
sendo cinco à rua da Concórdia e duas à rua Venâncio Aires. A de maior ex-
tensão, nessa rua, de nº 40, onde ele morava, ficou para sua filha solteira, para
compensar a grande dívida de gratidão, contraída por ele àquela que chamou
de “inolvidável companheira de meio século”, pela sua devoção aos velhos pais.
Nesse texto, leia-se a inclusão de mais duas máximas de Augusto Comte – Mo-
nogamia condição essencial à organização da família e Imaculada pureza
de intenções –, as quais, para Felicíssimo, inspirado em Comte, deviam pon-
tear as práticas sociais.
Ele foi o primeiro administrador municipal a receber remuneração, por-
que expôs que, vivendo de seu trabalho, não lhe seria possível continuar a ser-
viço da municipalidade sem que lhe fosse dado um ordenado, para poder de-
dicar-se exclusivamente a esse serviço. Seus pares resolveram lhe dar um sa-
lário de 300 mil réis mensais, sob o protesto de dois vereadores que se demi-
tiram a seguir (COSTA FRANCO, 1992, p. 53). Na primeira Lei Orgânica de Por-
to Alegre, em 1892, a remuneração do intendente tornou-se compulsória.
O discurso curto do ex-ourives, ex-soldado que lutou contra Rosas, diplo-
mado em Odontologia, comerciante em Jaguarão, articulista de A Federação,
deixado ao final do seu testamento evidencia sua ligação com a filosofia posi-
tivista: “o que fica aí mencionado é o fruto de 56 anos de trabalho honrado –
Porto Alegre, 9 de dezembro de 1895”.
Entretanto, Felicíssimo morreria desgostoso com sua experiência na che-
fia municipal de Porto Alegre. Ele permaneceu menos de dois anos no posto,
demitindo-se em 21 de novembro de 1891. Algum tempo depois de sua saída
confessou-se vexado por ter consentido ser, segundo sua próprias palavras,
“simples empregado do governo”. Dizia ter sido avisado de que não lhe cabia
assumir responsabilidade sobre nenhuma realização durante seu mandato,
sendo aconselhado a nada mudar. Somente a Júlio de Castilhos e à comissão
administrativa, que lhe obedecia cegamente, era dado tomar decisões (BAKOS,
1996, p. 43).
Volume 3
Concluída sua participação na Constituinte Federal, Castilhos voltou ao República Velha
Tomo I
Rio Grande do Sul, em 3 de março de 1891, chegando a Porto Alegre no dia
nove, quando foi recebido por um comício na Praça da Alfândega. Cândido
V.
Costa designou Júlio de Castilhos, Ramiro Barcelos e Assis Brasil para ela-
Política na sala
borarem o projeto da Constituição Estadual, mas essa tarefa Castilhos enfren- de visitas
taria sozinho, conferindo-lhe uma feição positivista, em desrespeito aos cole- (1897 – 1937)
gas, que, por tal razão, abandonaram os postos.
183
Com relação a Porto Alegre há, na Constituição, uma cláusula que rege
o grau de reciprocidade entre governo do estado e do município; mas o que
de fato ocorreria era uma liberdade vigiada do intendente pelo presidente do
estado. A este cabe anular todas as resoluções e atos do primeiro, sempre que
fossem infringidas leis federais e estaduais. Vistas as leis estaduais, à exceção
das orçamentárias, serem feitas por decreto do presidente, o estado adquiria
plenos poderes sobre os municípios.
Cândido Costa demitiu-se do cargo, assumindo em seu lugar o vice-pre-
sidente Fernando Abott (16/03/1891 a 15/07/1891). Aprovada a primeira Cons-
tituição Republicana do Rio Grande do Sul, Júlio de Castilhos concorreu à pre-
sidência do estado. Eleito, assumiu o posto em 3 de novembro de 1891.
Desde as eleições de maio de 1891, o ambiente político da cidade foi sem-
pre tenso, não raro explodindo em manifestações e quarteladas (COSA FRAN-
CO, 2000, p. 102). Em novembro ocorreu uma nova e violenta crise no Rio Gran-
de do Sul em face da atitude do marechal Deodoro da Fonseca, que dissolveu
o Congresso Nacional, com vistas a tornar-se ditador da República. Castilhos,
que se sentia comprometido com Deodoro, decidiu enviar ao marechal ape-
nas um telegrama lacônico: “Ordem pública será plenamente mantida aqui”
(FRANCO, 1967 p. 117).
A atitude de Júlio de Castilhos foi muito mal vista pelos gaúchos. Em 12
de novembro, uma multidão decidida a obrigar o presidente a renunciar, reu-
niu-se na Praça da Alfândega. O comércio foi obrigado a cerrar as portas. Ora-
dores inflamados se fizeram ouvir, berrando que Júlio de Castilhos não mais
gozava da confiança popular. Uma comissão da turba subiu a ladeira e enfren-
tou Júlio de Castilhos, que aquiesceu, furioso, em sair, não sem esclarecer que
deixava o poder à anarquia (LOVE, 1975, p. 52).
Foi nomeada uma junta governativa, formada por Assis Brasil, Barros
Cassal e o general Manoel Rocha Osório. Assim, voltava Castilhos a ser opo-
sição, manifesta, principalmente, através de seus editoriais em A Federação.
Nesse período, ocorreu o pedido de demissão de Felicíssimo Manoel de
Azevedo, havendo o presidente do estado, o alegretense dr. João Barros
História Geral do
Rio Grande do Sul Cassal, acedido e substituído o velho lutador, por João da Mata Coelho que,
no mesmo dia, tomou posse na presidência da Junta Municipal.
O período de governo da Junta Governativa, em lugar de Júlio Castilhos,
tornou-se conhecido como o Governicho (12/11/1891 e 17/6/1892). Nessa fase,
Margaret M. Bakos
Porto Alegre tornou-se o palco de inúmeras cenas de violência nas praças e
nas ruas, que pré-anunciavam a primeira grande guerra civil gaúcha, no
período da República Velha: a Federalista.
184
No intuito de lograr a pacificação do estado, César Ferreira Pinto – ami-
go comum de Castilhos e Silveira Martins – propôs um encontro entre os dois
líderes no Hotel La Minuta, na rua dos Andradas, em princípios de junho de
1892. Entretanto, não houve um entendimento entre eles, sendo o fecho des-
se encontro marcado pela famosa frase de Silveira Martins: “Idéias não são
metais que se fundem” (COSTA FRANCO, 1967, p. 139).
Esses fatos aconteceram alguns dias após a saída de Felicíssimo de Aze-
vedo da Intendência Municipal. Na ausência de Júlio de Castilhos do poder,
Porto Alegre teve três chefes: João Damata Coelho que governou sete meses
(21/11/1891 a 11/06/1892); José Domingues da Costa (11/06/1892 a 29/06/1892);
e Domingos de Souza Brito, que permaneceu quatro meses (29/06/1892 a 12/
10/1892).
A Constituição rio-grandense de 14 de julho de 1891 prescrevia eleições
para intendentes dentro de cinco meses após sua promulgação, a serem pro-
movidas para conselheiros, pela Junta Municipal, e para intendente, pelo Con-
selho Municipal eleito. Entretanto, em 1º de junho de 1892, quase um ano, a
nova Junta Municipal tomava posse, nomeada pelo presidente do estado. Re-
caíram os votos sobre José Domingues da Costa, para presidente, e em Luís
Afonso de Azambuja, para vice-presidente. Coube a essa junta, que perma-
neceu apenas 18 dias no poder (11/06/1892 a 29/06/1892), concluir o processo
eleitoral que elegeu o primeiro Conselho Municipal, constituído pelos cida-
dãos Clemêncio Walau (presidente), Domingos de Souza Brito, Gonçalo Henri-
que de Carvalho, João Pimentel, Domingos Martins Pereira e Souza, Antonio
Gomes de Carvalho, Joaquim José da Silva Filho e Rafael Gonçalves Ventu-
ra (SPALDING, 1967, p. 184).
No dia 4 de fevereiro de 1892, a capital foi alarmada com a notícia que
corria, desde a manhã, de que o presidente general Barreto Leite ia ser de-
posto e seria aclamado para substituí-lo o ex-presidente do estado, Júlio Prates
de Castilhos. Segundo relato de Moritz, jornalista e opositor do governo, em
várias ruas da cidade, principalmente na dos Andradas, reuniam-se grupos
populares, sendo que as oficinas de A Federação neste dia nada publicaram. Volume 3
Governava novamente o estado o visconde de Pelotas, após a renúncia República Velha
Tomo I
do general Domingos Barreto Leite, quando, no nono dia após a sua posse,
oficiais da Guarda Cívica, tomaram de surpresa o quartel da Força, situado
V.
na Praia de Belas e a Casa de Correção, marchando triunfantes até o Palácio Política na sala
do Governo. Era, finalmente, o contragolpe anunciado anteriormente, que de visitas
ocorria em 17 de junho de 1892. Na defesa da idéia de que era a autoridade (1897 – 1937)
legal, visto ter sido eleito, Júlio de Castilhos retornava. Depois de sete meses
185
fora do poder, ele foi às sacadas do palácio, onde foi aclamado pela multidão
(MEDEIROS, 1995, p. 18). Entretanto, Júlio resignou de súbito, nomeando o
deputado federal Vitorino Monteiro para a presidência. A atitude não aplacou
a fúria dos opositores. João Nunes da Silva Tavares se fez forte em Bagé e, a
partir de junho, os federalistas começaram a imigrar em massa para o Uru-
guai e Argentina, para Santa Catarina e Paraná.
Isso não quer dizer que Porto Alegre tenha sido estranha à gestação e ao
desenvolvimento da luta armada. Ao contrário, explica Sérgio da Costa Fran-
co, “por ser a sede do governo e o foco principal das tricas e futricas das oligar-
quias regionais, foi da capital que partiram as manobras das oligarquias regio-
nais” (COSTA FRANCO, 2000, p. 101). Barros Cassal abordou um navio de guer-
ra no estuário do Guaíba e tentou convencer seu comandante a abrir fogo so-
bre Porto Alegre, nada conseguindo (LOVE, 1975, p. 57).
Em 15 de outubro de 1892, Vitorino Monteiro criou, pelo ato 357, a Bri-
gada Militar no estado, extinguindo a antiga Guarda Cívica (FRANCO, 1967,
p. 149). Nas ruas de Porto Alegre ecoavam duas reivindicações dos federalistas:
a derrogação da Constituição de 14 de julho e a retirada de Castilhos do gover-
no. Eram razões suficientes para uma revolução (MEDEIROS, L. 1995, p. 14).
Na Intendência da capital, o cargo continuava vago. Por isso, o conselhei-
ro Gonçalo Henrique de Carvalho propôs que fosse eleito pelo conselho um de
seus membros para exercer a função. Recaíram os votos sobre o cidadão con-
selheiro José Domingos de Souza Brito, que, entretanto, ficou apenas quatro
meses no poder (29/06/1892 a 12/10/1892).
Finalmente, e sem atender ao que estabelecia a constituição do estado –
o presidente do estado interino, dr. Fernando Abott (27/09/1892-25/01/1893),
nomeou, por decreto, Alfredo de Azevedo como intendente de Porto Alegre,
havendo esse assumido a Intendência em 12 de outubro de 1892, na qual
permaneceu por cerca de quatro anos.
Castilhos chegou a Porto Alegre em 15 de dezembro e foi empossado pe-
rante os deputados da 2ª legislatura republicana; no dia 25 de janeiro, para o
qüinqüênio de 1893 a 98. A revolução eclodiu no dia 2 de fevereiro de 1893,
História Geral do
Rio Grande do Sul
quando os federalistas, liderados por Gumercindo Saraiva passaram a fron-
teira rumo a Bagé com mais de 400 homens, em grande parte brasileiros, usan-
do divisas vermelhas, mas acompanhados também por um número conside-
rável de orientais, que ostentavam divisas brancas, demonstrando sua vincula-
Margaret M. Bakos ção com o Partido Blanco (RECKZIEGEL, 2005, p. 53).
Nas palavras do ex-amigo, cunhado, correligionário e, ao final, opositor
político ferrenho, Assis Brasil, Júlio de Castilhos não amava “o poder pelo po-
186
der ou seja”, por seus símbolos, luxos e honrarias. Ele ambicionava, segundo
o seu biógrafo, Sérgio da Costa Franco, as rédeas do governo para impor as
escolhas que ele arbitrava serem as melhores para os rio-grandenses, o que
significa o desempenho do papel que Comte atribuía aos sábios.
Porto Alegre foi, em maio de 1892, o local de encontro entre o major Fa-
ria, enviado por Floriano Peixoto, e os chefes das diferentes facções civis e mi-
litares envolvidas para buscar a paz (MEDEIROS, 1995, p. 15). Como isso foi im-
possível, alguns meses depois, Alfredo Augusto de Azevedo assumiu a Inten-
dência de Porto Alegre em clima de guerra civil, permanecendo no cargo por
cerca de quatro anos (12/10/1892 a 2/01/1896).
O ato nº 1, de Alfredo Augusto de Azevedo, datado de 14 de outubro de
1892, foi a promulgação da primeira Lei Orgânica da cidade. Por meio dela
organizou-se o território do município da capital, que compreendia os seus su-
búrbios, o das ilhas fronteiras à capital e o das freguesias de Belém e Pedras
Brancas, arbitrando divisões em distritos, esses subdivididos em
comissariados.
O poder municipal seria exercido por um intendente que dirigiria os ser-
viços, escolhendo livremente o seu vice, que não podia ser seu parente até o
décimo grau. Devia ser auxiliado por um conselho, ao qual cabia apenas dis-
cutir questões orçamentárias e fazer o funcionalismo municipal prometer “ser
fiel cumpridor do cargo para o que foi eleito (ou nomeado), não faltando jamais
às inspirações do patriotismo, da lealdade e da honra”. Isso incluía a partici-
pação em pleitos eleitorais municipais, de quatro em quatro anos, sendo o voto
em aberto.
Azevedo focalizou sua atenção no sistema viário de Porto Alegre: cons-
trução de calçamentos e bueiros nas ruas e melhoria de estradas para os ar-
rabaldes. Ele alterou também os nomes de algumas vias públicas, como, por
exemplo, as ruas General Silva Tavares e Silveira Martins passaram a chamar-
se Marechal Floriano Peixoto e General João Telles. A troca teve uma causa:
os nomes haviam se tornado odiosos a todos os brasileiros em virtude dos úl-
timos acontecimentos ocorridos nas fronteiras, quando eles haviam invadido
Volume 3
a pátria com elementos estrangeiros. Além disso, ele julgava que ao municí- República Velha
pio de Porto Alegre cabia dar ao estado e ao país o exemplo dessa repulsa. Tomo I
Dois aspectos são importantes nesse ato. O primeiro diz respeito ao va-
V.
lor simbólico, de cunho moral e cívico, que foi conferido aos nomes das ruas.
Política na sala
O segundo, concerne à consagração de Porto Alegre como exemplo de admi- de visitas
nistração urbana, reforçando sua condição de vitrina do mandonismo castilhis- (1897 – 1937)
ta, o que também transparecia de outras maneiras.
187
Algum tempo depois, em 5 de novembro de 1892, em carta enviada ao
tio Joca – o general João Nunes da Silva Tavares, o visconde de Itaquy – , Ce-
cília Facundo da Silva Tavares relata que “ainda não eram 5 horas da madru-
gada, acordamos sobressaltados, com baques terríveis na porta”. A casa, situa-
da na rua Riachuelo, esquina com a rua do Arroio, atual Bento Martins, fora
cercada por 40 homens violentos, dizia a menina, que levaram o seu pai para
a cadeia “de chinelos, sem meias, de camiseta de flanela de dormir e sem cha-
péu”, depois de terem matado a seus dois irmãos. Os pedidos da família para
que fosse chamado o chefe da Polícia não foram atendidos. Com pesar, quei-
xa-se Cecília: “A nossa casa está em lastimável estado: portas, janelas, pare-
des, quadros, espelhos e piano, tudo furado à bala” (MORITZ, 2005, p. 354).
Alguns anos depois desse fato, Azevedo criou os postos policiais, com es-
trita ordem de ter sempre em vista, sob pena de responsabilidade, que nin-
guém poderia ser preso, salvo em caso de flagrante delito ou por ordem es-
crita de autoridade competente. O ato legal, datado de 23 de julho de 1895, vi-
nha tarde demais à família de Cecília.
Nesse mesmo ano, Azevedo, pela feitura do processo de eleições muni-
cipais, criou grave crise entre ele e o Conselho. Seus pares foram a Júlio de
Castilhos saber a quem competia a decretação da lei. E o presidente, anulan-
do o decreto 19 de 1895, de Azevedo, explicou que, pela Constituição do esta-
do, isso cabia ao Conselho.
Em 3 de janeiro de 1896, Alfredo Augusto de Azevedo exonerou-se do
cargo em caráter irrevogável, alegando a interferência constante do governo
do estado em assuntos municipais, o que o impossibilitava de administrar e
servir à causa pública. Ele dedicou-se à primeira usina elétrica de Porto Ale-
gre – a Fiat Lux – que fundou e dirigiu até o fim da vida.
João Luiz de Faria Santos, que dois anos depois, junto com outros orto-
doxos, criaria a Igreja Positivista em Porto Alegre, foi o nome indicado à In-
tendência de Porto Alegre, conservando-se no cargo até 15 de outubro de 1896,
data em que o intendente eleito – José Montaury de Aguiar Leitão – deveria
História Geral do
Rio Grande do Sul
ter tomar posse, mas como esse estava ausente da cidade, foi substituído, tem-
porariamente, pelo cidadão Querubim Febeliano da Costa (SPALDING, 1967,
p. 158).
Farias Santos, nascido em Jaguarão, em 1855, era herdeiro da Estância
Margaret M. Bakos
do Quilombo. Ele estudou na Escola Politécnica do Rio de Janeiro e trabalhou
em obras públicas do estado do Rio Grande do Sul, mas seu valor maior para
o cargo foi, certamente, a filiação positivista.
188
Na sua curta gestão, João Luiz de Farias Santos, seguindo a iniciativa de
Azevedo, criou normas à denominação das ruas, proibindo que se dessem aos
lugares nomes de pessoas vivas. Caso fossem falecidas, antes de transcorridos
sete anos de sua morte. Ele exigiu que os nomes referissem fatos sociais de in-
teresse direto da localidade, em memória dos grandes homens, dos bons ser-
vidores da pátria e da humanidade e de notáveis feitos, indicados pelo inten-
dente e registrados em pequenas placas das vias públicas.
É natural que os contemporâneos, inimigos dos perrepistas, sentissem-
se cada vez mais incomodados em Porto Alegre, buscando até viver no estran-
geiro. Veja-se, por exemplo, Silveira Martins, que, havendo retornado à cida-
de por ocasião do 2º Congresso Federalista, em 1896, muito pouco perma-
neceu, radicando-se em Montevidéu, onde recebia aos amigos em sua residên-
cia, em Calle de Rincón (RECKZIEGEL, 2005, p. 62).
Há outros exemplos de nomes para ruas, significativos do pensamento
de Antão de Farias, que norteava a construção da cidade. Em 1896, terrenos
doados por particulares à municipalidade, para arruamentos, receberam os
nomes de Fernandes Vieira, Felipe Camarão e Henrique Dias. Em longo dis-
curso, Farias Santos explicou que eles guardavam a memória da expulsão dos
holandeses, no século XVII, um dos fatos culminantes da nossa história pátria,
pelo marco à formação de nossa nacionalidade e progresso moral. Isso, gra-
ças ao português João Fernandes Vieira, o índio Felipe Camarão e o preto
africano Henrique Dias, representantes das três raças valiosas do Brasil.
A preocupação com os nomes das ruas é mesmo digna de nota, porque
como diz Cheuiche, em linguagem poética, “os tempos mudaram, mas as ruas
continuam fazendo parte das nossas vidas. Não é por acaso que são chamadas
de artérias”.
A cargo
da União Serviços a cargo dos estados
Águas Policiamento Iluminação Policiamento Policiamento Policiamento Policiamento Policiamento
Esgotos Águas Policiamento Tráfego Tráfego Tráfego Tráfego Tráfego
Iluminação Esgotos Águas Higiene Instrução Assistência Águas Águas
Policiamento Instrução Esgotos Instrução Instrução Esgotos Esgotos
Higiene Iluminação Assitência Iluminação Assitência
Assistência Tráfego
Fonte: A cidade de Porto Alegre e os serviços públicos a seu encargo. Exposição apresentada
ao exmo. sr. gen. José António Flores da Cunha, MD. Interventor Federal do Estado, pelo
Prefeito Municipal Alberto Bins. A Federação, Porto Agre, 1931. In.: BAKOS, M. M. Porto
Alegre e seus eternos intendentes. Porto Alegre, EDIPUC, 1996, p. 110.
Margaret M. Bakos
200
Volume 3
República Velha
Tomo I
V.
Política na sala
de visitas
(1897 – 1937)
201
Organograma da Prefeitura de Porto Alegre.
Fonte: Mensagem apresentada à Câmara Municipal pelo prefeito Alberto Bins, em 3 de outubro de 1937. Porto Alegre, Globo, 1937.
História Geral do
Rio Grande do Sul
Margaret M. Bakos
202
Capítulo VI
A AGRICULTURA:
A ORGANIZAÇÃO DOS
SISTEMAS AGRÁRIOS
Marli Mertz
Marinês Zandavalli Grando
Luiz Roberto Pecoits Targa
A pecuária tradicional
O sistema produtivo das estâncias sofreu poucas alterações substanciais
durante todo o período da República Velha, pois as inovações que ocorreram
na pecuária foram resultado muito mais das exigências dos frigoríficos, que
foram instalados no estado após a Primeira Guerra Mundial, do que uma reali-
zação da iniciativa dos produtores. Até então, o destino final do produto da
pecuária, o charque, fora primordialmente o mercado interno brasileiro, des-
tinando-se à alimentação da força de trabalho, sabidamente de baixo poder
aquisitivo, o que resultou num sistema produtivo onde se fazia necessário
História Geral do 1 Para a análise dessa agricultura historicamente constituída e geograficamente localizada,
Rio Grande do Sul recorreu-se à teoria dos sistemas agrários, a qual diz que a agricultura praticada num determi-
nado espaço e tempo é decomposta em dois subsistemas principais, sendo um o ecossistema
cultivado e o outro o ecossistema social e produtivo. O cultivado é composto de vários
subsistemas: as hortas, as áreas cultiváveis, as pastagens e as florestas, sendo cada um desses
tratado, mantido e explorado de maneira particular. Já o sistema social e produtivo engloba
Marli Mertz o sistema técnico, econômico e social e é composto do que se pode chamar de “meios
Marinês Z. Grando humanos”, isto é, a força de trabalho, o saber e fazer; e de meios inertes, os equipamentos e
Luiz R. P. Targa instrumentos produtivos necessários e disponíveis às atividades de renovação e de explora-
ção da fertilidade do ecossistema cultivado, a fim de satisfazer as necessidades humanas
diretamente através do autoconsumo, ou indiretamente, pelas trocas (M AZOYER; ROUDART ,
204 2001, p. 41).
manter os custos de produção baixos, uma realidade que não estimulou o in-
vestimento na pecuária, mantendo-se a forma extensiva de produção.
As origens das atividades relacionadas à pecuária estão na prea do gado
xucro (muar e vacum) que pastava livremente pelo território que é hoje o es-
tado do Rio Grande do Sul. Tais atividades precederam e condicionaram à es-
trutura fundiária do estado, pois a atividade criatória que sucedeu a prea se
desenvolveu de maneira extensiva e o aumento da produção se dava a partir
da incorporação de novas terras ou da compra de mais gado. As grandes ex-
tensões de terras, foram inicialmente cedidas pelo governo imperial na for-
ma de sesmarias, impondo-se assim o latifúndio. “O latifúndio em si limitava
as forças produtivas, na medida em que grandes extensões de terras eram
deixadas inaproveitadas para a preservação do pasto para o gado” (PESA-
VENTO, 1980, p. 29). Foi nas estâncias que sucederam ao período de caça indis-
criminada do gado xucro, que se desenvolveram as atividades que implicavam
algum tipo de trabalho sistemático, como o manejo dos animais quando estes
eram agrupados e conduzidos ao mercado. A sua localização geográfica com-
preendeu principalmente as regiões da Campanha, Planalto, Campos de
Cima da Serra, Serra do Sudeste e Depressão Central, onde havia a existên-
cia de campos nativos.
Embora o processo histórico de constituição dessas estâncias seja resul-
tado de um mesmo movimento, que era o de garantir a posse do solo aos por-
tugueses, existiram algumas especificidades geofísicas que diferenciaram as
atividades criatórias destas sub-regiões. As estâncias que se desenvolveram
no Planalto, nos Campos de Cima da Serra, e na Depressão Central possuíam
campos menos férteis, se comparados aos da sub-região da Campanha. Nos
Campos de Cima da Serra a existência de plantas espinhosas não permitia a
coexistência de bovinos e ovinos. No caso do Planalto, essa deficiência no cam-
po era compensada pelo fato de esta sub-região encontrar-se no caminho das
tropas que seguiam para São Paulo, os criadores se beneficiavam dessa loca-
lização, criando em primeiro lugar muares e secundariamente bovinos. Na De-
pressão Central, no atual município de Santa Maria, por exemplo, coexistiam Volume 3
pequenas, médias e grandes propriedades, com uma pecuária extensiva muito República Velha
Tomo I
pobre, se considerado o número de bois por estabelecimento (FARINATTI,
2000). Por se tratar de uma sub-região onde, os campos faziam divisas com flo-
VI.
restas, as estâncias constituíram-se em unidades produtivas mistas, onde, A agricultura:
além da criação de gado, havia também uma lavoura de alimentos, a qual su- a organização dos
sistemas agrários
pria o pessoal da estância com gêneros alimentícios básicos, podendo comer-
cializar os excedentes.
205
[...] Seria possível afirmar que ainda que o gado fosse o principal produto das
estâncias, a agricultura podia ocupar um espaço razoável dentro de muitas unida-
des produtivas destinadas primordialmente à criação (FARINATTI, 2000, p. 6).
A agricultura familiar
Marli Mertz
Marinês Z. Grando A origem das explorações familiares no extremo sul do Brasil encontra-
Luiz R. P. Targa
se no processo de ocupação do território. Está estabelecido que, na formação
dos sistemas agrários do Rio Grande do Sul, apareceram duas categorias his-
210
tóricas de agricultores familiares do ponto de vista jurídico: a dos não-proprie-
tários, identificados com os caboclos; e a dos proprietários, originários de duas
iniciativas governamentais com imigrantes europeus a fim de explorar e
povoar o solo (SILVA NETO; BASSO, 2005).
Os padres jesuítas espanhóis, no século XVII, em ação precursora com
o objetivo de catequizar os índios, adentraram a oeste do território, onde fo-
ram bem sucedidos na organização de comunidades indígenas, e ali introdu-
ziram a criação de gado nas práticas agrícolas. Devido às condições naturais
favoráveis do solo em fornecer pasto abundante, o gado foi se dispersando pelos
campos. E, finalmente, ao tornarem efetiva a ocupação do território, os colo-
nizadores portugueses dividiram-no em grandes sesmarias, onde consolidou-
se a criação de gado, fortemente incentivada pelos mercados consumidores de
outras regiões do país, nos quais as atividades agrícolas eram especializadas
e voltadas para o mercado externo. No decorrer desse processo estiveram
sempre presentes os caboclos, que são tabalhadores rurais sem terra, os quais
participaram de todas as fases da formação agrária do Rio Grande do Sul.
Eram despossuídos de recursos financeiros ou posição militar para assegu-
rarem-se do acesso à terra; perambulavam pelas grandes propriedades em
busca de ocupação e entraram de forma subordinada e dependente na forma-
ção da sociedade agropastoril do estado. Mas, não se encontravam sós como
prestadores de serviços às estâncias e plantando nas terras do estancieiro.
Praticavam, também, uma agricultura itinerante nas frentes de expansão. As
informações disponíveis referem-se a atividades agrícolas restritas a suas ne-
cessidades alimentares, uso de tecnologia primitiva e a agregação de alguns
animais de criação (Ibidem).
11 Para que se faça uma comparação, o valor das exportações dos produtos da pecuária tradi-
cional cresceu 3,7% ao ano no período e o valor das exportações dos produtos da zona
colonial cresceu a uma taxa de 6% ao ano (CARVALHO et al., 1998, p. 131-132).
12 Isto é realizado através do cálculo do Índice de Gini. Quando o resultado aproxima-se da
História Geral do
Rio Grande do Sul unidade isso quer dizer que ocorre uma elevada concentração da produção (poucos produ-
zem) e quando o índice fornece um resultado que se aproxima de zero, indica que muitos
produzem aquela(s) mercadoria(s).
13 Para uma comparação com outras sub-regiões típicas do estado, na sub-região colonial o
tamanho médio dos estabelecimentos era de 33,6 hectares e na Campanha era de 637
Marli Mertz hectares. O tamanho médio dos estabelecimentos arrozeiros situava-se, portanto, num nível
Marinês Z. Grando relativamente baixo do espectro de tamanhos de explorações rurais no RGS, em 1920.
Luiz R. P. Targa 14 Para uma comparação, este valor global para sub-região da Campanha foi de 0,753 e para a
sub-região colonial foi de 0,443, na qual a posse da terra é a melhor distribuída não só em
comparação com outras sub-regiões do Rio Grande do Sul como com sub-regiões de São
Paulo, segundo o estudo do autor em pauta (SILVEIRA, 1998).
220
uma política de preços mínimos que atendesse aos quesitos de custos da la-
voura mecanizada, tal política veio a ser implantada apenas em
194515 (PEBAYLE, 1974, p. 588).
Em suma, o desenvolvimento da lavoura capitalista do arroz irrigado no
Rio Grande do Sul resultou de um concurso para onde afluíram atores sociais
históricos (os estancieiros e os colonos), que conseguiram mobilizar o comér-
cio, a indústria e o capital bancário. No quadro geral de polarização fundiária
do Rio Grande do Sul, entre as sub-regiões que concentravam a grande ou a
pequena propriedade, a lavoura do arroz conseguiu o grande feito de unir os
atores empresariais da colônia à terra dos latifúndios pecuários. Dessa fusão
surgiu um novo ator social: o granjeiro. A fusão produziu, porém, uma revo-
lução agrícola sem alteração da estrutura fundiária. A inserção dessa lavoura
no panorama dos sistemas produtivos do Rio Grande do Sul foi, desse modo,
paradoxal: ela foi simultaneamente revolucionária e conservadora.
15 No entanto, uma catastrófica colheita nacional de arroz de sequeiro jogara os preços do Volume 3
arroz brutalmente para cima, e uma nova corrida à produção do arroz irrigado no Rio Grande República Velha
do Sul havia sido lançada já em 1938. Os efeitos perversos desses recuos brutais e arrancadas Tomo I
velozes da produção através da lavoura mecanizada e irrigada só foram mitigados graças à
criação do Instituto Rio-Grandense do Arroz (IRGA ), que sucedeu, em 1940, o antigo sindi-
cato, que já fora efemeramente substituído por um Instituto do Arroz do Rio Grande do Sul.
Reconhecido oficialmente pelo estado, o IRGA retomou, por sua vez, as medidas de autode- VI.
fesa do antigo sindicato e criou uma enorme infraestrutura técnica, científica, econômica e A agricultura:
social, criando, lado a lado com uma proposta realista de preços mínimos, uma frente a organização dos
comercial de defesa dos interesses dos arrozeiros, regulando o mercado através de um sistema sistemas agrários
apropriado de estocagem do produto; lançando novas sementes testadas em seus labora-
tórios e criando um corpo de engenheiros agrônomos que se distribuíam por diversas regiões
rizicultoras do estado. 221
COSTA, 1922.
História Geral do
Rio Grande do Sul
Marli Mertz
Marinês Z. Grando
Luiz R. P. Targa
222
Trem elétrico conduzindo os
operários do Frigorífico Swift.
Rio Grande, 1922.
COSTA, 1922.
COSTA, 1922.
Frigorífico. Companhia
Swift do Brasil S. A.
Rio Grande, 1922.
Volume 3
República Velha
Tomo I
VI.
A agricultura:
a organização dos
sistemas agrários
223
História Geral do
Rio Grande do Sul
Marli Mertz
Marinês Z. Grando
Luiz R. P. Targa
224
Capítulo VII
O SETOR FINANCEIRO:
DAS ORIGENS AO DRAMA BANCÁRIO
Eugenio Lagemann
1 Esse universo, principalmente o dos particulares, não será possível de ser integralmente
234 descrito, devido a sua dispersão geográfica e sua ação nem sempre contínua.
Banco Pelotense, o Crédito Territorial Sul-Brasileiro, em Porto Alegre, e pos-
suía também empresa de navegação fluvial a vapor e usina de energia elétri-
ca em Uruguaiana. Nessa cidade ela ainda estava associada como
comanditária do Saladero Uruguaiana e da casa comercial Ferreira & Cia.,
mas sua ação societária se estendia também ao Rio de Janeiro e ao Recife,
como sócia, respectivamente, da fábrica de lâmpadas Bergallo, Kingsburry &
Cia. e da concessionária das loterias do estado de Pernambuco Demarchi &
Cia. Outra casa bancária em Uruguaiana era a de Sigismundo Kramer &
Filhos, empresa igualmente dedicada ao ramo do comércio importador, espe-
cializado em farinha de trigo e azeite de oliva. A casa bancária Mourgues &
Castro, de Bagé, foi adquirida em 1911 pelo Banco Pelotense que a transfor-
mou em sua filial naquela cidade e seu proprietário, Antonio Mourgues se tor-
nou acionista e, logo (em 1913), diretor do banco. Outra casa bancária de Bagé
foi a de Emílio Guilayn, criador e empresário de charqueadas e comerciante,
que exerceu o cargo de diretor do Banco da Província no período de 1911 a
1914. A mais antiga casa bancária era a de Francisco Nunes de Souza, de Pelo-
tas, fundada em 1832, por Adolpho José Martinez e Emilio Martinez, sob a de-
nominação de “Martinez Irmãos”. Francisco Nunes de Souza era empregado
da instituição desde 1855 e assumiu a empresa em 1905, que operava como
agente de bancos e companhias de seguros e estava ligada à indústria char-
queadora e à exportação.
Numa área mais específica, a da poupança popular, atuavam desde lon-
ga data as Caixas Econômicas, entidades precursoras da Caixa Econômica Fe-
deral. Nascida sob a égide do governo imperial teve sua primeira unidade na
capital, mediante a criação, em 1861, da Caixa Econômica e do Monte de So-
corro do Rio de Janeiro. Pelo decreto 5.594, de 18 de abril de 1874, o Império
se propôs a abrir nas capitais das províncias outras caixas econômicas e mon-
tes de socorro. A de Porto Alegre foi criada e teve sua diretoria nomeada no
mesmo ano, porém a efetiva instalação ocorreu em 3 de maio de 1875. A dire-
ção das caixas nas províncias era nomeada por decreto imperial e exercida de
forma benemerente. O primeiro presidente da Caixa Econômica em Porto
Alegre foi Francisco Ferreira Porto (barão do Caí), sendo o conselho fiscal in- Volume 3
República Velha
tegrado por homens do comércio local e do Banco da Província. A atividade Tomo I
estava dividida em duas partes: os depósitos populares, recebendo depósitos
e concedendo empréstimos, e o monte de socorro, realizando empréstimos sob
VII.
o penhor de jóias e pedras preciosas. Em 1908, a matriz Porto Alegre passa a O setor financeiro:
funcionar em prédio próprio, no mesmo local hoje ocupado pela sede regio- das origens ao
drama bancário
nal. Nessa época já haviam sido abertas quatro filiais no estado: em 1888, Pelo-
tas e Rio Grande; em 1905, em Jaguarão e, em 1906, em Uruguaiana.
235
A sua atuação nos depósitos populares sofreu a concorrência, a partir de
1910, dos bancos também autorizados a operar naquela faixa. Mas o que mais
chama a atenção é a entrada do governo estadual nesse negócio. Pelo decre-
to 2.096, de 16 de julho de 1914, o presidente do estado, Borges de Medeiros,
instalou as caixas oficiais de depósitos populares, cujos depósitos e retiradas
obedeciam ao mesmo processo seguido nas caixas econômicas federais e nas
caixas de depósitos populares dos bancos. A estrutura da receita estadual agre-
gou essa nova atividade, iniciada no arquivo do Tesouro, as suas estações de
cobrança no interior, e, ainda em 1914, já estava implantada em diversas ci-
dades. Os recursos amealhados dessa forma eram destinados parte à rede
bancária, parte à cobertura de eventuais deficits da Rede Ferroviária, encam-
pada no início da década de 20 (MINELLA, 1979, p. 63). Atitude semelhante
tomou o governo do estado de São Paulo, a partir de 1916, ao adotar esse me-
canismo, cujos recursos eram por ele destinados ao Banco Hipotecário, para
evitar a paralisia dos empréstimos hipotecários e agrícolas em seu território
(COSTA NETO, 2003, p. 28).
A atuação mais característica do mercado financeiro gaúcho no campo dos
depósitos populares é a que ocorre com a concretização do ideal cooperativista
no plano financeiro mediante a instalação das Caixas rurais. As modalidades
de organização predominantes são as Caixas Raiffeisen e os Bancos Luzzatti:
a) A primeira modalidade foi idealizada por Wilhelm Friedrich Raiffeisen,
sendo suas principais regras:
• limitação da instituição a uma única comunidade;
• diretoria não remunerada;
• pequenas participações, sem distribuição de dividendos, mas com cons-
tituição de reservas (GABLER WIRTSCHAFTSLEXIKON, 1988, p. 1139).
b) A segunda foi difundida na Itália por Luigi Luzzatti, mas idealizada na
Prússia por Hermann Schulze-Delitzsch, sendo suas principais regras:
• inexistência de limites geográficos para a organização da cooperativa;
• instituição de cooperativas especializadas por atividades;
História Geral do • formação do capital predominantemente via participações e secunda-
Rio Grande do Sul riamente via formação de reservas;
• distribuição de dividendos como ganhos de capital ou recompensa aos
membros (Ibidem, 1988, p. 1412-1413).
Eugenio
Lagemann A primeira Caixa rural do Brasil, a Caixa de Economia e Empréstimos
Amstad de Nova Petrópolis, foi fundada em 1902 sob a inspiração do padre
Teodor Amstad. A ela seguiram diversas outras, notadamente nas regiões de
236
COSTA, 1922.
Banco Pelotense.
colonização alemã e italiana. Citam-se, por exemplo, a Caixa de Bom Prin- Volume 3
cípio, em 1903, e as Caixas de Lajeado, Venâncio Aires, Cerro Largo, entre República Velha
Tomo I
outras. Destaque especial merece a Caixa Economia e Empréstimos, de Santa
Cruz do Sul, fundada em 8 de maio de 1904, que passa a denominar-se “Cai-
xa Cooperativa Santa Cruzense” logo depois, a qual deu origem, em 29 de mar- VII.
ço de 38, ao Banco Agrícola Mercantil Ltda. Esse banco manteve, inicialmente, O setor financeiro:
das origens ao
sua ação de financiamento da produção e comercialização do fumo, expandin- drama bancário
do-se depois, integrando atualmente o União de Bancos Brasileiros –
UNIBANCO. 237
A proliferação de Caixas rurais no interior ensejou a criação da Central
de Caixas Rurais, em Porto Alegre. Seu número de federadas cresceu de 17,
em 1926, para 25, em 1929, depois para 35, em 1949, alcançando o máximo,
em 1962, com 62 associadas. Esse movimento deu origem ao sistema SICREDI
e ao atual Banco Cooperativo Sicredi, primeiro banco cooperativo do país,
constituído pelas dezenas de cooperativas de crédito, para administrar os re-
cursos do sistema e dar acesso a seus associados a produtos e serviços finan-
ceiros legalmente vedados às cooperativas.
Qual a importância do mercado financeiro gaúcho de cada uma das ins-
tituições?
O principal mercado financeiro brasileiro ao final do império era a capi-
tal Rio de Janeiro. Segundo Costa Neto (2003, p. 9), em 1888, o Rio de Janei-
ro concentrava 80% dos depósitos bancários e a maioria das 68 agências bancá-
rias em funcionamento no Brasil, tanto que, na capital, cada 22.573 habitan-
tes dispunham de uma agência, enquanto no restante do país cada agência de-
veria atender em média a 232.558 pessoas. O Rio Grande do Sul era um dos
maiores mercados, o que pode ser observado pela importância que teve a Cai-
xa Econômica no contexto nacional. No período de 1912 a 20, a mesma parti-
cipava com aproximadamente 8% dos depósitos da Caixa Econômica Fede-
ral, situando-se em primeiro lugar o Rio de Janeiro com 30% a 45% do volu-
me e em segundo lugar São Paulo com percentual entre 23% e 30%. A Caixa
Econômica do Rio Grande do Sul perdeu a terceira posição para a da Bahia
na década de 20, provavelmente pelo fato de o depositante gaúcho dispor de
uma bem desenvolvida e atuante rede bancária e de agentes da poupança po-
pular local, entre outras a dos depósitos populares no Tesouro.
Do quadro de distribuição de agências das instituições financeiras gaú-
chas, depreende-se que houve um esforço significativo por parte destes em
participar do mercado do Rio de Janeiro, onde o Província e o Pelotense abri-
ram filial, e de outros estados, registrando a presença do Nacional do Comér-
cio em Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso e do Pelotense no Paraná, Mi-
nas Gerais e Espírito Santo.
História Geral do
Em contrapartida, embora os dados relativos aos bancos estrangeiros e
Rio Grande do Sul aos empreendimentos de fora do Rio Grande do Sul não estejam disponíveis
para todos os anos e para todas as agências, pode-se concluir que o mercado
local ficava em sua maior parte em mãos dos estabelecimentos financeiros com
sede no estado. Assim, nenhum estabelecimento de fora conseguiu, por exem-
Eugenio
Lagemann plo, superar o valor dos depósitos do Província, mesmo antes de sua expan-
são para o Rio de Janeiro. A Caixa Econômica mostrava o melhor desempe-
nho, tendo uma média de 42 mil contos de depósitos no período de 1926 a 35,
238
o que correspondia ao saldo dos depósitos do Banco Popular, em 28, o qual não
possuía agências fora do Rio Grande do Sul. O Brasilianische Bank für
Deutschland atingiu seu auge em 1915, com depósitos de 12,5 mil contos, o que
correspondia a menos da metade dos depósitos do Nacional do Comércio, an-
tes de sua efetiva expansão para Santa Catarina. Na década de 1920 o banco
estrangeiro com maior presença foi o Bank of London & South América, cujos
saldos dos anos de 1928 e 29 (respectivamente 27,7 e 24,9 mil contos) ultrapas-
saram levemente os valores apresentados pela Casa Bancária Pfeiffer, que
teve depósitos de 22 e 22,7 mil contos nos mesmos anos, e estiveram muito pró-
ximos aos dos depósitos populares do Tesouro, que registrou 42 mil contos em
1925 e 24 mil em 28, ano em que o Banco do Rio Grande iniciara sua história
com saldos de depósitos de 80,2 mil contos de réis.
Participação relativa dos bancos nos saldos dos depósitos totais dos bancos gaú-
chos em 31 de dezembro – 1906-30.
Fonte dos dados brutos: LAGEMANN, 1985, Tabela 24, p. 224-26.
Volume 3
República Velha
Tomo I
VII.
O setor financeiro:
das origens ao
drama bancário
241
Saldos nominais dos depósitos de bancos com sede no Rio Grande do Sul – 1906-30.
Fonte dos dados brutos: LAGEMANN, 1985, Tabela 24, p. 226.
De 1906 a 10, constatou-se apenas um leve crescimento nos saldos dos de-
pósitos, de 35 para 64 mil contos de réis, mas, de 1910 a 13, registrou-se um
crescimento claro para 119 mil contos devido à criação da carteira de depósi-
tos populares e à ampliação da área de atuação geográfica dos bancos, medi-
ante a instalação de um grande número de filiais. Em 1914, a crise monetá-
ria seguida da declaração de moratória geral provocou uma queda visível no
volume dos saldos depositados, que recuaram para apenas 110 mil contos.
No período de 1915 a 19, os depósitos nominais aumentaram de forma
acentuada para 419 mil contos, dando espaço para uma certa euforia, estimu-
lada pela volta do Banco do Brasil e pela entrada de bancos estrangeiros no
mercado gaúcho, e afirmada com a criação de novas instituições bancárias
como foi o caso do Banco Porto-Alegrense, em 1916, e o da Casa Bancária Jorge
Pfeiffer, em 1919, sem esquecer a captação de depósitos populares em todo o
estado pela Secretaria da Fazenda.
Mas a crise do pós-guerra provocara uma nova queda em termos abso-
lutos dos depósitos, os quais caíram para 377 mil contos em 1920, com leve
História Geral do
Rio Grande do Sul recuperação em 21, momento marcado pela dissolução do Banco Comercial
Franco Brasileiro. A recuperação efetiva ocorre a partir de 22 e, até 28, só volta
a ocorrer um pequeno recuo em 26. O salto de 1927 a 28, de 638 mil para 871
mil contos, explica-se pela fundação e início das atividades do Banco do Rio
Eugenio
Lagemann Grande do Sul.
Em 1929, o sistema financeiro gaúcho começou a viver o seu drama ban-
242 cário, caracterizado por uma queda violenta dos depósitos de 871 mil para 822
mil contos, fato repetido em 1930, quando são registrados depósitos de ape-
nas 677 mil contos, praticamente anulando, dessa forma, o efeito positivo de-
corrente da criação do banco público estadual. Esse momento foi imortaliza-
do pelas crises e pela falência do Banco Popular e, mais importante, da liqui-
dação do Banco Pelotense.
Variações percentuais nos saldos dos depósitos dos principais bancos e no valor
total dos depósitos dos bancos com sede no Rio Grande do Sul – 1907-30.
Fonte dos dados brutos: LAGEMANN, 1985, Tabela 25, p. 227.
Eugenio
Lagemann
246
Capítulo VIII
1 Por exportação entendia-se a venda de qualquer mercadoria para fora dos limites do Rio
Grande do Sul (conceito comum a todos os estados do Brasil). O programa republicano VIII.
visava também substituir os impostos indiretos pelos diretos e principalmente fazer com que A política fiscal
o Imposto Territorial fosse a principal fonte do erário público. modernizadora
2 A partir da entrada em vigor da Constituição do Rio Grande do Sul, portanto, a introdução do PRR
do Imposto Territorial não dependia mais de nenhum trâmite legislativo, dependia apenas de (1889-1930)
uma iniciativa do Poder Executivo. Esse imposto pôde ser tratado, assim, como matéria
administrativa e não como legislativa.
249
a substituição do imposto sobre as exportações pelo Imposto Territorial eram
os seguintes:
a) libertar o tesouro do estado da dependência de um imposto cujas re-
ceitas eram instáveis, pois repousava sobre um único produto, cujo
preço, além disso, era fixado por mercados externos à região;
b) promover a diversificação da produção agrícola, expandindo, assim, a
pauta de produtos exportáveis, e com isso, reduzir a dependência da
geração da renda interna do desempenho de um único produto;
c) forçar as propriedades rurais ociosas e improdutivas a produzirem ou
a dividirem-se.
5 A promulgação da Constituição proposta pelo PRR foi o ato fundador do Estado burguês no
Sul, que desencadeou o processo global de modernização.
Luiz Roberto 6 O fenômeno começara pela derrubada dos representantes da oligarquia tradicional de todos
Pecoits Targa os postos burocrático-militares (delegacias de polícia, mesas de renda e postos da Guarda
Nacional), prosseguiria com a repressão ao contrabando (no qual estava implicada parte
significativa dos pecuaristas e dos grandes comerciantes da Fronteira) e completara-se duran-
te os 31 meses da guerra civil chamada de “Revolução Federalista”.
252
economia e a política do estado permanecessem iguais ao que havia sido no
passado, e um grupo voluntarioso de indivíduos que desejava mudar a socie-
dade, a economia e a natureza do estado (na sua relação com a sociedade gaú-
cha). Olhando esse evento militar desde a perspectiva de nosso presente, a
guerra representou o conflito entre o passado e o futuro da sociedade sul-rio-
grandense; foi o ponto de inflexão fundamental, e radical, da história dessa
sociedade (TARGA, 2003, p. 136).
A entrada em vigor da Constituição foi um ato de natureza revolucionária
e provocou uma violenta reação da oligarquia rural meridional. A solução do
conflito só foi possível por meio das armas: o Rio Grande do Sul tornou-se, en-
tão, o locus da guerra civil, o lugar do mais terrível conflito político da histó-
ria do Brasil. Essa guerra civil foi a conseqüência mais importante da chega-
da do PRR ao poder e da entrada em funcionamento da Constituição (Ibidem,
p. 132).
A partir disso, entendemos essa guerra como o episódio militar de um
evento revolucionário e de grande violência política, o da fundação do Estado
burguês moderno e autoritário no Brasil e o da criação de um contexto políti-
co adequado à expansão das relações de produção capitalistas. Essa revolu-
ção política vinda de cima7 foi capitaneada pela vanguarda do PRR. A guer-
ra permitiu a afirmação de um poder burguês no estado. Isto é, o estado pas-
saria, a partir daí, a apresentar-se como neutro e acima de todas as classes
sociais, velando pelo bem-estar de toda a sociedade. Dizendo de outro modo,
esse tipo de estado não se apresentaria mais como o instrumento e proprie-
dade dos representantes de alguma classe social em particular nem, tampou-
co, como instrumento da oligarquia rural, agonizante e decadente, que neces-
sitava controlar com exclusividade o aparelho de estado para garantir sua so-
brevivência (Ibidem, p. 148). O estado patrimonial, estado-instrumento da oli-
garquia pecuária, foi destruído pelo PRR, que o substituiu por um estado de
tipo burguês, que finge ser de todos e para todos.
Tanto a guerra civil quanto o processo de separação entre a coisa pública
e a privada confirmaram a autonomia do estado sul-rio-grandense em face da
Volume 3
República Velha
7 Tomo I
A expressão “revolução vinda de cima” foi cunhada por Lênin para nomear o tipo de
revolução burguesa ocorrida na Alemanha de Bismark, onde uma burguesia industrial fraca
foi forçada a aliar-se aos grandes proprietários rurais (os junkers) para promover uma revolu-
ção burguesa autoritária. Nessa revolução, as classes proprietárias (urbanas e rurais) uniram- VIII.
se contra os operários e os camponeses. No entanto, a revolução vinda de cima dos positi- A política fiscal
vistas diferiu da revolução bismarkiana no sentido em que os junkers locais foram não só modernizadora
afastados do poder como militarmente esmagados. O modelo alemão autocrático de revolu- do PRR
ção burguesa opõe-se ao modelo democrático do qual a Revolução Francesa é o arquétipo. (1889-1930)
Em Barrington Moore Jr. (1983), esse modelo alemão reacionário de revolução burguesa é
denominado “modernização conservadora”.
253
fração mais numerosa e poderosa (tanto política quanto militarmente) da classe
dominante regional: a fração dos grandes proprietários fundiários armados.
Ora, quando da Proclamação da República (1889), o Rio Grande do Sul esta-
va praticamente desprovido do seu patrimônio em terras públicas, pois elas
haviam sido apropriadas, muitas vezes ilegalmente, pelos grandes proprie-
tários e pelas grandes companhias de terras. Diante dessa situação, o jovem
estado burguês implantou, então, dois processos: o primeiro, para verificar a
legitimidade das apropriações e, o segundo, para que, retomadas as terras ile-
galmente apropriadas, elas fossem distribuídas entre pequenos proprietários.
Esses dois processos seriam importantes para a execução posterior da refor-
ma fiscal estadual, na qual a renúncia a receitas provenientes do imposto de
exportação seriam compensadas pelas receitas provenientes da implantação
do imposto territorial, que viria a incidir, sobremaneira, na grande proprie-
dade rural da fronteira oeste e da sudoeste do Rio Grande do Sul. Resta in-
formar que, entre todos os estados da Federação brasileira, somente no gaú-
cho o governo possuiu vontade política para levar a efeito os dois processos e
a execução da reforma fiscal. Esse ineditismo se justifica na autonomia que o
Estado republicano conseguiu no Sul em face dos interesses e do poder dos
grandes proprietários fundiários. Esse fenômeno da história sul-rio-grandense
também foi inédito no Brasil, seu contemporâneo.
Os dois processos, o de discriminação entre as terras públicas e as priva-
das e o de retomada pelo estado das terras ilegalmente apropriadas e sua ou-
torga a pequenos proprietários, justificam o locus que esses dois processos ti-
veram no processo maior de modernização do Sul. Eles foram, simultanea-
mente, resultado e agentes dessa modernização. Enquanto resultado, eles
constituem a manifestação de que o processo maior fora desencadeado no Sul;
enquanto agentes da modernização, eles viriam a aprofundar esse mesmo pro-
cesso. Isso porque o processo de modernização se contrapunha aos interesses
dos grandes proprietários fundiários, e, sem a derrota desses interesses, qual-
quer modernização tornava-se inviável8.
A realização desses dois processos foi a manifestação de que continuava
História Geral do em andamento o fenômeno mais importante e central da jovem experiência
Rio Grande do Sul republicana do Sul: o estabelecimento da autonomia relativa do Estado bur-
guês. Autonomia em relação à fração mais numerosa e armada da classe do-
minante regional – autonomia de difícil construção, uma vez que era
Luiz Roberto
Pecoits Targa 8 Os governantes do PRR não eram, pura e simplesmente, contra a grande propriedade, mas
contra a grande propriedade improdutiva. Prova disso foi que as grandes propriedades onde
se expandia a lavoura do arroz irrigado constituíam empreendimentos que contavam com o
apoio e o estímulo do estado.
254
obstaculizada pelos interesses desses mesmos grandes proprietários fundiá-
rios que haviam sido, desde sempre, os detentores de todos os privilégios na
sociedade patrimonialista meridional (tal como em qualquer outra sociedade
regional brasileira). É por isso que a criação dessa autonomia foi peça central
da modernização do Sul, e os processos de discriminação e de reapropriação
das terras públicas guardaram uma relação privilegiada com a construção des-
sa autonomia. Disso decorre sua importância histórica.
Assim, teria sido cumprida a segunda tarefa do Estado burguês, a de
realizar a separação entre a esfera pública e a privada nos onze anos que se-
guiram imediatamente ao término da guerra civil (1895-1906). Durante esse
período, o governo teria retomado as terras públicas ilegalmente apropriadas
pela oligarquia rural nas últimas décadas do império (ROCHE, 1969, p. 119)9.
Isso teria ocorrido, sobretudo, na sub-região do Planalto, fronteira agrícola e
território de expansão das colônias de povoamento na época. O estado teria
entregue a posseiros, a companhias de terra e colonização e a pequenos
proprietários as terras públicas retomadas. Pode-se imaginar a importância
desse evento num Brasil de economia predominantemente agropastoril e con-
trolada por grandes proprietários fundiários. Essa separação entre as terras
públicas e as privadas no Sul também foi um empreendimento inédito no Bra-
sil. Caso se confirme sua existência, este teria confirmado, agora na sub-região
do Planalto, o que já fora realizado na da Campanha: afirmar a autonomia do
estado em relação aos interesses dos grandes proprietários. Dessa vez, po-
rém, colocando em questão, ao vivo, por assim dizer, o principal caminho atra-
vés do qual a grande propriedade era construída, a apropriação ilegal das ter-
ras públicas.
História Geral do 11 A Constituição do Rio Grande do Sul estruturava os Poderes de modo não-liberal: havia um
Rio Grande do Sul
Poder Executivo, um Poder Judiciário e uma Assembléia de Representantes. Essa era uma
reunião de deputados eleitos, que funcionava apenas por dois meses ao ano e que possuía,
fundamentalmente, um papel de conselho fiscal das contas do Executivo. Não havia um
Poder Legislativo. As leis emanavam do Poder Executivo.
12 Mensagem do presidente do estado à Assembléia de Representantes (1903, p. 21).
Luiz Roberto 13 Alguns exemplos: a taxa sobre o charque e a banha de porco foi reduzida de 6% para 2%,
Pecoits Targa sobre os couros de 10% para 9%, o arroz e a farinha de mandioca ficaram isentos de imposto
(M IRANDA, 1998, p. 142).
14 Os colonos e os arrozeiros recusavam-se a pagar o imposto e deixavam acumular a dívida
(MINELLA, 1985, p. 33).
256
O descontentamento foi, portanto, geral, com o Imposto Territorial e com o seu
tipo de incidência. A crítica unânime dos pecuaristas era de que o governo não
levava em conta a diferença na qualidade das terras e taxava-as igualmente.
Eles reivindicavam tratamento fiscal diferenciado para terras de diferente
qualidade. As críticas dos arrozeiros e dos colonos era de que os investimen-
tos produtivos15 e mesmo as residências eram incluídas para os efeitos de
cálculo do valor venal do imóvel e eles pleiteavam sua retirada da base de
cálculo16.
Independentemente das críticas, o governo enfrentou uma dificuldade
maior quando da aplicação do novo imposto: seria necessário realizar o cadas-
tro geral das terras e, para tal, seriam necessários muitos anos e os custos se-
riam enormes. Por causa disso, não restou ao governo outra alternativa senão
confiar na declaração dos contribuintes. Porém, pouco a pouco, com o passar
dos anos, o governo deu-se conta de fraudes e de incorreções nas declarações
dos proprietários de terras. Isso ocorria quando comparavam-se os valores
declarados para fins de recolhimento do Imposto Territorial com os valores
praticados nas transações inter vivos submetidas ao imposto de transferên-
cia de propriedade. Baseado nessa comparação, o governo pode retificar os
valores das terras e fixar novas taxas fundiárias. Essa medida ocorreu em 1912
e o cálculo levava em conta as diferenças de qualidade das terras bem como
os municípios onde elas se localizavam. O valor de cada tipo de terra em cada
município do estado era fixado segundo os valores médios das transações inter
vivos do ano anterior, naquele município, anualmente, a partir de 1913
(MIRANDA, 1998, p. 144).
Finalmente, em maio de 1913, a Federação das Associações Rurais do Rio
Grande do Sul, com sede em Pelotas, fez pressão sobre o governo propondo
uma reforma radical sobre o Imposto Territorial que foi aceita. Desse modo,
foram excluídos do cálculo do valor venal da terra as residências e as benfei-
torias, e as terras foram classificadas em três tipos de qualidade: superior, mé-
dia e inferior. Genericamente, as primeiras foram taxadas em 100 mil réis por
Volume 3
15 Os arrozeiros eram extremamente prejudicados com este modo de cálculo do imposto, pois República Velha
trabalhavam sobre terras arrendadas. Nelas eles eram forçados a realizar pesados investimen- Tomo I
tos em silos para tratamento e armazenamento dos grãos, instalação de bombas (com instala-
ção de sistema elétrico) e na construção de canais de irrigação.
16 As críticas dos arrozeiros encontravam eco junto ao governo do PRR, pois sua produção VIII.
articulava-se tanto à indústria (pela demanda de equipamentos) quanto ao sistema financeiro A política fiscal
(demanda de créditos) e, além disso, expandia-se aceleradamente sobre terras, muitas vezes modernizadora
ociosas, consagradas tradicionalmente à pecuária extensiva. Aos olhos do governo este do PRR
conjunto representava uma ação modernizadora dos arrozeiros exatamente sobre o setor (1889-1930)
pecuarista, o setor produtivo mais conservador da economia meridional. Por isso, os arrozei-
ros constituíram-se, rapidamente, em poderoso grupo de pressão sobre o governo estadual.
257
hectare, as segundas em 45 mil réis por hectare e as últimas em 15 mil réis
por hectare17. Como já afirmamos anteriormente, no entanto, esse modelo
geral foi adaptado à realidade de cada município do Rio Grande do Sul (a va-
riedade dos resultados pode ser constatada no Quadro 1).
Vejamos, então, como se distribuiu a carga fiscal do Imposto Territorial
entre as diferentes sub-regiões típicas do Rio Grande do Sul: zona da pecuá-
ria tradicional; de colonização alemã; de colonização italiana18 e a zona ocupada
pela cultura do arroz.
Em primeiro lugar, podemos observar (Tabela 1) que, enquanto a super-
fície total das terras tributadas aumentou de quase um milhão de hectares (um
aumento de apenas 8%), entre 1905 e 28, o número de contribuintes dobrou
no mesmo período (aumento de 103%). Esse aumento, no entanto, não foi ho-
mogêneo em todas as zonas pois, nesse período de 23 anos, foi mais acentua-
do na zona da pecuária tradicional (109%) do que na zona de colonização ale-
mã (51%), até mesmo do que a zona de cultura do arroz (73%)19 .
Se bem que o valor venal do hectare sempre tenha sido (e é até hoje) mais
elevado na zona de colonização que na zona de pecuária, essa foi a mais
pesadamente atingida pelo Imposto Territorial. De um lado, porque os pro-
dutores de outras zonas foram parcial ou totalmente isentos do imposto, de
outro, porque houve uma ação firme do estado em face dos pecuaristas que
haviam, até 1913, praticado importantes evasões fiscais. Com efeito, o gover-
no conseguiu implantar sua política de tributação fundiária na Campanha,
exercendo, assim, pressão sobre a comercialização das terras20.
De fato, a parcela do Imposto Territorial recolhido na zona da pecuária
tradicional era maior que a recolhida nas outras três zonas juntas. Examine-
mos os dados referentes às contribuições médias por zona (Tabela 1). No ano
de 1914, um contribuinte da zona de colonização alemã pagava em média 7 mil
réis, o da zona italiana pagava 5 mil réis, o da zona arrozeira pagava em mé-
dia 14 mil réis e o da pecuária 35 mil réis (TARGA, 2002, p. 299).
Para que se conheça a originalidade do Rio Grande do Sul nessa questão,
basta analisar as conseqüências da criação desse imposto em alguns outros
História Geral do
Rio Grande do Sul
17 Lembramos que, em 1902, essa taxa era de 10 réis por hectare e que no ano seguinte, subira
para 30 réis.
18 Para essa zona, existem informações somente a partir de 1914.
19 Os arrozeiros perderam posição em termos de participação no número total de contribuintes
Luiz Roberto
do estado (de 69% em 1905 para 54% em 1928), bem como no valor da contribuição para
Pecoits Targa
a receita total do Imposto Territorial, pois passou de 48% em 1905 para 34% em 1928.
20 Era uma intenção explícita do governo que justificava a implantação do imposto, ele dese-
java retirar as terras de uma situação de ociosidade: forçando sua entrada no mercado de
258 terras (tanto para arrendamento quanto para venda).
estados do Brasil. Em São Paulo, o imposto foi criado em 1905, mas as plan-
tações de café ficaram isentas de pagá-lo. Sua aplicação foi, então, inexpres-
siva. Em 1920, quando a questão da reforma orçamentária e a de suas reper-
cussões sobre a produção cafeicultora foi retomada, numerosos cafeicultores
tomaram posição pela aplicação do Imposto Territorial. Tal atitude escondia,
de fato, uma manobra política que consistia em pleitear, por um lado, a aboli-
ção do Imposto de Exportação (que eles sempre pagaram e que estava inter-
nalizado nos custos de produção) e, por outro lado, pela introdução do novo
imposto, cuja aplicação eles consideravam extremamente difícil. Essa avalia-
ção baseava-se no fato de que os custos administrativos da arrecadação desse
tributo deveriam ser muito elevados, inclusive pela incapacidade do estado
para estabelecer o cadastramento das terras, dado o custo dessa operação. Mas
a razão mais importante que impedia o estabelecimento desse cadastro é que
seria necessário discriminar as terras públicas das terras privadas. Ora, essa
discriminação não interessava a ninguém em São Paulo, nem ao governo que
já possuía suas receitas do Imposto de Exportação, nem aos que se haviam
apropriado das terras públicas, e ainda menos àqueles que tinham intenção
de vir a fazê-lo. Com a ausência dessa discriminação entre terras públicas e
privadas, os cafezais poderiam continuar a estender-se sobre as terras públi-
cas cuja apropriação ilegal não custava praticamente nada aos produtores de
café (PERISSINOTTO, 1999, p. 44-48).
O governo paulista optou por não realizar a reforma orçamentária,
permaneceu dependente das receitas do imposto de exportação e abriu as
portas, assim, à apropriação das terras públicas pelos cafeicultores. Foi uma
renúncia do estado em favor da acumulação do capital na cafeicultura. As su-
postas dificuldades para realizar o cadastro das terras já haviam sido supera-
das e resolvidas no Rio Grande do Sul havia mais de 15 anos, e era impossí-
vel que os dirigentes paulistas não tivessem conhecimento disso. Definitiva-
mente, era a discriminação das terras públicas e privadas que constituía o em-
pecilho maior para a aplicação do imposto em São Paulo (TARGA, 2002, p. 293).
Quanto à aplicação do imposto territorial em Minas Gerais, ele remonta
a 1901, mas as receitas nunca representaram mais que 5% a 6% do total das Volume 3
República Velha
receitas públicas até 1928 (WIRTH, 1989, p. 83), enquanto que as receitas Tomo I
provenientes do Imposto de Exportação representavam 60% a 70% desse to-
tal (ENDERS, 1993, p. 215). No entanto, dada a expressividade das receitas VIII.
provenientes da exportação de café, poderíamos supor que os montantes ab- A política fiscal
modernizadora
solutos arrecadados sob o título do Imposto Territorial fossem, ainda assim, do PRR
expressivos. Porém, não foi isso que se passou. Dispomos dos dados referen- (1889-1930)
tes ao Imposto Territorial em Minas Gerais para o período 1901 a 1913 259
(VISCARDI, 1999, p. 180) e aí verificamos que o valor máximo recolhido foi de
1.079 contos de réis (em 1913), enquanto que o valor mínimo recolhido no Rio
Grande do Sul no mesmo período foi de 1.483 contos de réis, em 1906 (Tabela
2), quase 50% a mais que o máximo recolhido em Minas (para as informações
disponíveis).
A criação desse imposto na Bahia foi um caso curioso, pois ela foi muito
tardia em relação aos estados que acabamos de examinar, extremamente
completa e absolutamente efêmera. O imposto foi criado em 1925, foi acom-
panhado de uma legislação que previa não somente o cadastramento das ter-
ras, mas que previa claramente que o valor das terras seria fixado a partir do
rendimento médio anual dos solos idênticos em utilização na mesma região.
Eles pareciam conhecer a experiência do Rio Grande do Sul (ENDERS, 1993,
p. 220). Do nosso ponto de vista, essa legislação manifesta uma posição deli-
beradamente desfavorável às terras improdutivas, e ela teria levado à divisão
dos latifúndios por meio da venda das terras improdutivas, caso o governador
seguinte não tivesse suspenso a legislação em 28, declarando-a “inadaptável
ao meio” (Idem, 1999, p. 220).
A criação desse imposto no Rio de Janeiro data de 1898 (também um es-
tado cafeicultor), mas a lei não foi jamais aplicada (ENDERS, 1993, p. 216). No
entanto, os administradores tentaram uma política de diversificação da pro-
dução agrícola que se destinava ao abastecimento da capital federal. Entre
1903 e 14, as exportações de milho, arroz e batata-inglesa, tiveram um suces-
so espetacular. Mas, se em 1918 as exportações de café não representavam se-
não 10% do total de receitas públicas, elas atingiram 40,1% desse total em
1924. Isso quer dizer que a conversão dos produtores de café em policultores
foi temporária e que não representou mais que um marcapasso aguardando
o retorno de uma conjuntura favorável à produção de café (Ibidem, 1999, p.
214-215).
Dadas as dificuldades encontradas pelas administrações de outros esta-
dos do Brasil em colocar em prática o Imposto Territorial, podemos generali-
zar, para todos os estados, a conclusão que chegou Wirth (1989, p. 83) para
Minas Gerais, quando ele analisou a aplicação desse imposto no estado: “as fra-
História Geral do
Rio Grande do Sul cas receitas originárias do imposto fundiário indicam que o sistema político era
incapaz de retirar recursos das classes proprietárias de modo eficaz ou ade-
quado”, no que complementa Enders (1993, p. 220) ao registrar “o quanto as
resistências ao imposto territorial são dificilmente palpáveis e, no entanto,
Luiz Roberto
Pecoits Targa o quanto elas são eficazes”.
O governo do Rio Grande do Sul foi o único da Federação brasileira a con-
seguir implantar o imposto fundiário também sobre os grandes proprietários
260
fundiários; o único onde o imposto produziu receitas importantes aos cofres
públicos e, finalmente, o único que diversificou durável e estruturalmente sua
produção e suas exportações regionais (TARGA, 2002, p. 294). Consideremos
também, e isso é de suma importância, que as críticas e demandas proceden-
tes dos contribuintes foram absorvidas e incorporadas ao projeto do governo.
O Imposto Territorial foi criado no bojo de uma reforma orçamentária.
Vejamos, então, o significado das receitas provenientes desta base para os co-
fres públicos estaduais (Tabela 2). As receitas desse imposto permitiram a prá-
tica de isenções fiscais elevadas sobre os valores das mercadorias exportadas,
por meio de vultosa renúncia fiscal. Com efeito, a magnitude dessa tomou uma
tal proporção que, a partir de 1919, a soma das receitas provenientes do Im-
posto de Exportação e do Imposto Territorial foi-lhe sistematicamente inferior.
Esse imposto sobre a exportação remanescente prendia-se a uma dualidade
na política exportadora do governo estadual: ele renunciava ao Imposto de Ex-
portação sobre as mercadorias que queria tornar mais competitivas no mer-
cado nacional e taxava pesadamente as mercadorias que poderiam fazer fal-
ta para o abastecimento do mercado interno regional. Com essa política, o go-
verno evitava tanto as crises de abastecimento quanto o aumento do custo de
vida. Essa era uma outra faceta onde se manifestava a responsabilidade social
do governo estadual e o seu compromisso com a reprodução da população sob
sua responsabilidade. De um ponto de vista doutrinário, para o governo esta-
dual, somente deveria ser objeto de exportação o excedente da produção so-
bre o consumo regional (Ibidem, p. 296)21.
Podemos, então, concluir que o governo do Rio Grande do Sul, contraria-
mente aos de outros estados brasileiros, foi o único que levou a termo um pro-
jeto de reforma orçamentária, com firmeza e de acordo com suas idéias polí-
ticas. A Tabela 3 mostra que os impostos indiretos que representavam, em
1893, quase 70% das receitas do estado, em 1929, já representavam menos de
40% deste mesmo total. Entre os impostos indiretos, o das exportações repre-
sentava, no início, mais da metade das receitas estaduais, mas em 1929 este
havia caído para menos de 20% deste total. Quanto aos impostos diretos, sua
participação no total das rendas fiscais do estado passou de 30 para 40%22. Volume 3
República Velha
O rigor com que o orçamento público foi tratado pelos dirigentes do PRR Tomo I
merece ser salientado nesse contexto, pois também ele sinalizou um compor-
VIII.
A política fiscal
21 Observe-se que esta posição em face das exportações era oposta às dos governantes de modernizadora
estados primário-exportadores, onde a atividade exportadora era considerada motor da eco- do PRR
nomia (T ARGA, 2002, p. 297). (1889-1930)
22 A Tabela 3 permite acompanhar o mesmo fenômeno em São Paulo e verificar que os resulta-
dos foram menos intensos.
261
tamento administrativo público que era uma novidade no Brasil da época. A
organização das contas públicas é, provavelmente, a melhor evidência em fa-
vor da racionalidade da dominação do PRR, pois não somente separaram os
gastos e receitas ordinários dos extraordinários, como fizeram cumprir estri-
tamente o orçamento previsto e o realizado, subordinando a despesa à recei-
ta realizada (CARVALHO, 1996, p. 191). Esse fato é absolutamente incomum
no Brasil da Primeira República, onde vários depoimentos e constatações
apontam para sua raridade dentro do caos que eram as contas públicas brasi-
leiras do período. Assim, por exemplo, Carvalho (1996, p. 191), após analisar
o sistema tributário paulista que desembocou em uma situação deficitária crô-
nica durante todo o período, conclui que isso era o resultado não só das flutua-
ções imprevisíveis das receitas do Imposto de Exportação, como da impreci-
são das previsões orçamentárias dos administradores públicos paulistas, e
também do tratamento indiscriminado das despesas ordinárias e extraordi-
nárias, gerando, ao contrário do que ocorria no Rio Grande do Sul, a inclusão
no orçamento ordinário de despesas com grandes obras que deveriam ser
custeadas através da busca de recursos especiais (recursos extraordinários).
Desse modo, as receitas ordinárias paulistas, muitas vezes, não foram suficien-
tes sequer para cobrir o custeio dos serviços comuns da administração públi-
ca paulista. Havia, portanto, desorganização orçamentária. Isso tudo “trans-
formou o orçamento público paulista em uma peça de ficção, destinada, fun-
damentalmente, a satisfazer um preceito constitucional” (Idem, p. 192).
O fato de haverem se desvencilhado dos interesses da oligarquia rural e
de sua influência na política liberou os governantes gaúchos para uma série
imensa de medidas inovadoras. Além da reforma fiscal que foi exposta neste
capítulo, são também exemplos da prática política antioligárquica e antipatri-
monialista do PRR: a transparência das contas públicas, a coincidência entre
o orçamento previsto e o realizado (orçamento equilibrado efetivamente pra-
ticado)23, a política de proteção ao consumo das classes mais desfavorecidas
(pelo contingenciamento de bens de primeira necessidade demandados pelos
mercados de fora do estado), pela estatização (não-patrimonialista) dos dois
História Geral do
mais importantes portos da região (Porto Alegre e Rio Grande) e da rede de
Rio Grande do Sul estradas de ferro do estado, enfim o fato de ter realizado todos os investimen-
tos de infra-estrutura em meios de comunicação (estradas de rodagem e tra-
balhos para a navegabilidade dos rios) apenas nas zonas de povoamento (ne-
Luiz Roberto gando-se a investir na zona da pecuária tradicional), tendo, assim, negado-se
Pecoits Targa permanentemente a privilegiar os interesses da pecuária de exportação. Nes-
Zona colonial
História Geral do
Rio Grande do Sul
Luiz Roberto
Pecoits Targa
264
Tabela 1. Número de contribuintes, área tributada e arrecadação do Imposto Territorial, por sub-regiões do Rio Grande do Sul – 1905-14.
Colônia Alemã 33.407 40.656 50.763 1.506.012 1.477.902 1.447.349 277.465 281.008 686.701 8.305 6.911 13.527 184,238 190,140 474,454
Colônia Italiana 19.810 21.601 524.917 584.057 95.626 363.763 4.827 16.840 182,174 622,821
Campanha 22.773 34.396 47.586 7.417.919 7.856.677 7.839.130 570.784 1.194.565 2.745.233 25,064 34,730 57,690 76,947 152,045 350,196
Orizícola 18.049 27.056 31.275 3.310.467 3.287.703 3.345.911 252.329 393.673 941.373 13.980 14.550 30.099 76,222 119,741 281,350
Total 74.229 121.918 151.225 12.234.398 13.147.199 13.216.447 1.100.578 1.964.872 4.737.070
Fonte: Relatório Secretaria da Fazenda (1906, 1915, 1929). [Porto Alegre, s.d.]; MINELLA (1985); TARGA (2002).
VIII.
265
Tomo I
Volume 3
do PRR
(1889-1930)
A política fiscal
modernizadora
República Velha
Tabela 2. Exportações, renúncia fiscal, receitas dos Impostos de Exportação e Terri-
torial do Rio Grande do Sul – 1904-29 (em contos de réis).
História Geral do
Rio Grande do Sul
Luiz Roberto
Pecoits Targa
266
Tabela 3. Participação percentual das categorias impostos indiretos e impostos diretos e de seus subgru-
pos no total da receita dos impostos do Rio Grande do Sul e de São Paulo – 1893-1929.
Categorias e
subgrupos
da receita 1893 1905 1914 1923 1929
dos impostos RS SP RS SP RS SP RS SP RS SP
A-Impostos
indiretos 69,63 77,92 42,18 75,24 35,60 69,54 37,72 45,56 38,12 58,34
A.1-Ligados às
exportações 53,85 70,77 31,20 68,36 24,90 64,17 27,14 33,73 19,54 48,26
A.2-Ligados ao
consumo 10,73 0,00 7,51 1,22 7,79 1,02 8,20 0,87 16,31 1,09
A.3- Outros
indiretos indiretos 5,05 7,15 3,47 5,66 2,91 4,35 2,38 10,96 2,27 8,99
B-Impostos
indiretos 30,16 20,01 51,32 21,90 54,87 25,06 47,37 44,13 39,70 34,10
B.1-Sobre a
propriedade 20,45 20,01 38,25 16,16 41,62 19,59 34,14 34,22 27,83 23,25
B.2-Sobre o capital
e rendimentos 9,71 0,00 13,07 5,74 13,25 5,47 13,23 9,91 11,87 10,85
C-Subtotal 99,79 97,93 93,50 97,14 90,47 94,60 85,09 89,69 77,82 92,44
D-Outros
tributos (1) 0,21 2,07 6,50 2,86 (2) 9,53 5,40 (2) 14,91 10,31 (2) 22,18 7,56
E-Receita dos
impostos 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: Balanços das Receitas e das Despesas dos Estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo publicados nos Relatórios Anuais dos
Secretários Estaduais das Fazendas; CARVALHO, M. L. e PEREIRA, P. R. (1995).
(1) Incluem-se aí alguns tributos não classificáveis nas categorias analisadas, incluindo taxas e impostos com aplicações específicas.
(2) As participações elevadas do item Outros Tributos no Rio Grande do Sul devem-se, fundamentalmente, a algumas taxas (Taxa Escolar
e Taxa Profissional) e também a alguns impostos incluídos na década de 1920, com vinculação específica, como a conservação da infra-
estrutura de transportes.
Volume 3
República Velha
Tomo I
VIII.
A política fiscal
modernizadora
do PRR
(1889-1930)
267
COSTA, 1922.
Cervejaria Ritter. Pelotas.
COSTA, 1922.
História Geral do
Rio Grande do Sul
Luiz Roberto
Pecoits Targa
268
COSTA, 1922.
Volume 3
República Velha
Tomo I
VIII.
A política fiscal
modernizadora
do PRR
(1889-1930)
269
Acampamento de
caixeiros viajantes.
História Geral do
Rio Grande do Sul
Luiz Roberto
Pecoits Targa
Birivas ambulan-
tes. Norte do Rio
270 Grande do Sul.
COSTA, 1922.
COSTA, 1922.
Volume 3
República Velha
Tomo I
VIII.
A política fiscal
modernizadora
do PRR
(1889-1930)
271
COSTA, 1922.
Charqueada. 1922.
COSTA, 1922.
História Geral do
Rio Grande do Sul
Luiz Roberto
Pecoits Targa
272
Capítulo IX
AS FERROVIAS
NA ORDEM POSITIVISTA, O PROGRESSO
CORRE PELOS TRILHOS
Adelar Heinsfeld
275
As duas projetadas ferrovias contribuíram para perceber-se que a rede
ferroviária do Rio Grande do Sul foi concebida como projeto e não do somató-
rio de linhas construídas de forma espontânea. No dizer de José Roberto de
Souza Dias (1986, p. 36), essa iniciativa deve ser considerada “a celula mater
da rede ferroviária gaúcha, uma vez que a partir dela foram sancionados pro-
jetos e construídas vias que corresponderiam ao trajeto proposto em 1872”.
As obras de construção da linha Porto Alegre-Uruguaiana iniciaram em
1877; em 1883 era inaugurado o primeiro trecho, com 147 km, quando a fer-
rovia chegou à Cachoeira, alcançando Santa Maria em 1885. No início da dé-
cada de 1890, Santa Maria ligava-se à cidade de Cacequi, rumo à fronteira. No
entanto, circunstâncias políticas, como a Revolução Federalista, determina-
ram a paralisação das obras, que só foram retomadas quando a Compagnie
Auxiliaire des Chemins de Fèr au Brésil assumiu a ferrovia. Com os atrasos
e interrupções, os trilhos só chegaram em Uruguaiana em 1907.
A ferrovia Porto Alegre-Uruguaiana, quando foi projetada, tinha
preocupações mais estratégicas do que econômicas. O objetivo era dar segu-
rança às fronteiras do Império, uma vez que atravessava uma área territorial
de baixa densidade demográfica e sem uma atividade econômica forte que a
justificasse do ponto de vista financeiro.
Locomotiva tipo Doublé-Ender, inglesa. Foi adquirida em 1878, pela The Porto Alegre
and New Hamburgo Brazilian Railway Company, para atuar no trecho Porto Alegre-Novo
Hamburgo; foi desativada em 1942.
DIAS, 1986, P. 61
História Geral do
Rio Grande do Sul
Adelar Heinsfeld
276
A Revolução Federalista agiu dialeticamente em relação à ferrovia. Se,
por um lado, ela representou um obstáculo ao seu desenvolvimento, pois di-
minuiu a arrecadação nas estações, paralisando os negócios, impedindo o
avanço das obras, retardando os cronogramas fixados; de outro, possibilitou
o virtual aumento da renda no biênio 1894/1895. Os rendimentos aumentaram
em virtude do transporte de tropas, animais e material bélico. A estrada de
ferro assumiu um inestimável valor militar, participando do equacionamento
do conflito (DIAS, 1986, p. 78-79).
Entre 1883 e 1897, essa ferrovia operou seus trens como empresa públi-
ca. Em 1898, ocorreu a inversão de capitais belgas na estrada de ferro Porto
Alegre-Uruguaiana. Com o contrato assinado, em 12 de março de 1898, a em-
presa belga Compagnie Auxiliaire des Chemins de fer au Brésil, que tinha o
brasileiro João Teixeira Soares como acionista, arrendou a ferrovia por um
prazo de sessenta anos. Diga-se de passagem, a Bélgica foi o primeiro país do
mundo a formular uma política ferroviária.
Como a intenção da empresa era firmar-se no Rio Grande do Sul, atra-
vés de convênios de tráfego mútuo, bem como pela construção de ramais e
prolongamentos, a primeira preocupação foi abrir um corredor em direção ao
Atlântico, construindo um prolongamento entre São Gabriel e São Sebastião,
o que permitiria a conexão com a estrada de ferro Rio Grande-Bagé, que per-
tencia à Southern Brazilian Rio Grande do Sul Railway Company (Ibidem, p.
103). A proposição de Ewbank da Câmara tornava-se realidade. A capital e o
interior tinham uma nova saída para o mar, e uma malha ferroviária que aten-
desse a interesses comerciais e estratégicos ia se concretizando.
Saindo do tronco principal da Porto Alegre-Uruguaiana, um dos ramais
mais importantes ficou pronto em 1905, atingindo Santa Cruz. Segundo Jean
Roche (1969, p. 63), este é o exemplo mais característico da influência da es-
trada de ferro sob o crescimento da exportação agrícola, o que acabou aumen-
tando a prosperidade local.
A ferrovia Rio Grande-Cacequi, denominada “tronco sul”, teve um traçado
paralelo à fronteira com o Uruguai e, a partir de 1884, atravessava uma área
de economia baseada no tripé porto/charque/gado. Higino Correa Durão ha- Volume 3
República Velha
via ganho, em 1874, a concorrência para construí-la. Como não conseguiu ven- Tomo I
cer os prazos, o governo negociou os direitos com Miguel Gonçalves da Cunha
e James Gracie Taylor, que obtiveram os privilégios para construção e explo- IX.
As ferrovias:
ração por um prazo de noventa anos. O projeto de construção previa duas eta- na ordem
pas: a primeira iria de Rio Grande a Bagé, passando por Pelotas, Pedras Al- positivista o
progresso corre
tas e Candiota; a segunda, iria de Bagé a Alegrete, passando por Dom Pedri- pelos trilhos
to e Rosário. 277
DIAS, 1986, P. 64
Locomotiva tipo
American,
adquirida em
1878, na França.
Foi a primeira
locomotiva a
trafegar na
Estrada de Ferro
Porto Alegre-
Uruguaiana.
para evitar que uma ferrovia de tão alta importância estratégica e política fosse
transferida à exploração de particulares ou de sindicatos estrangeiros domina- Volume 3
dos exclusivamente pelo interesse mercantil, sem a obrigatória preocupação dos República Velha
Tomo I
interesses superiores que se prendem à segurança interna e externa (apud
KLIEMANN, 1977, p. 210).
IX.
As ferrovias:
na ordem
As preocupações de Júlio de Castilhos não estavam relacionadas apenas positivista o
progresso corre
às eventuais necessidades de manobras militares, bem como de policiamen- pelos trilhos
to na região fronteiriça. Essas preocupações eram também de ordem econômi- 279
ca, pois o contrabando crescia anualmente na fronteira. Uruguaiana e Livra-
mento tornavam-se importantes portas de entrada de produtos contrabandea-
dos, que chegavam ao Cone Sul vindos de Buenos Aires e Montevidéu, dois
importantes entrepostos comerciais de produtos europeus, que no Brasil che-
gavam a preços elevados.
Em 1898, a Compagnie Auxiliaire des Chemins de fer au Brésil transfe-
riu seus escritórios de Porto Alegre para Santa Maria, onde já funcionavam
as oficinas da linha Porto Alegre-Uruguaiana. Com isso, Santa Maria trans-
formou-se no principal centro ferroviário do estado.
Do ponto de vista geográfico, por estar localizada no centro do estado, a
uma distância considerada segura em relação às fronteiras com os países do
sul, Santa Maria foi considerado um ponto estratégico militarmente. Assim,
de acordo com o planejamento militar e as políticas territoriais que conside-
raram a cidade ideal para o encontro de vias de transportes e comunicações,
Santa Maria passou a ser um importante núcleo vital para a defesa do sul do
país. A estrada de ferro Santa Maria-Passo Fundo veio ratificar a importân-
cia da localização. A partir destas decisões de caráter estratégico e comercial,
a cidade se desenvolveu e fortaleceu principalmente as atividades comerciais
e de prestação de serviços, além de facilitar que diversas regiões rompessem o
isolamento. A cidade transformou-se num importante ponto obrigatório entre
as praças comerciais da Fronteira, da Serra e da capital, o que trouxe importan-
tes repercussões no empreendimento de outras atividades socioeconômicas.
Com o crescimento econômico do Rio Grande do Sul na agricultura, na
pecuária e, como conseqüência, na indústria da carne e derivados, tornou-se
imperativo a construção de novos ramais ferroviários. A urgência em escoar
a produção exigiu do governo do estado providências sérias para o desenvol-
vimento e a socialização deste serviço público. Entretanto, a entrega desses
serviços estratégicos à companhias estrangeiras era uma atitude totalmente
oposta daquela defendida pelo Partido Republicano Rio-Grandense.
O governo de Borges de Medeiros pretendia seguir as diretrizes da polí-
História Geral do
tica iniciada por Júlio de Castilhos. No entanto, como explicar a encampação
Rio Grande do Sul da rede ferroviária gaúcha em 1905 pela companhia belga Compagnie
Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil? Para buscar uma resposta, é neces-
sário considerar que em 1898 o governo de Júlio de Castilhos estava com as
relações estremecidas com o governo federal, e por isso, perdeu a concorrên-
Adelar Heinsfeld
cia para a companhia estrangeira. Segundo Kliemann, só existe uma explica-
ção para a postura de Borges de Medeiros, que teria visto “no arrendamento
280 à companhia belga o primeiro passo (o da unificação ferroviária) de um pro-
DIAS, 1986, P. 100
Locomotiva tipo
Mogul, fabricada nos
EUA. Foi adquirida
em 1884 pela
Estrada de Ferro Rio
Grande-Bagé,
administrada pela
Compagnie
Auxiliaire.
cesso que deveria ser evolutivo e culminar com a absorção da rede ferroviá-
ria gaúcha pelo estado do Rio Grande do Sul” (KLIEMANN, 1977, p. 213).
Esse arrendamento à companhia belga obedeceu a duas etapas: na pri-
meira, aconteceu o arrendamento, sob o controle da União, de todos os ramais
ferroviários que pertenciam a outras companhias, ou seja, a ferrovia Rio Gran-
de-Bagé, da Southern Brazilian Rio Grande do Sul Railway, o ramal Cacequi-
Uruguaiana, da Rio Grande do Sul Railway Company Limited, o ramal Qua-
raí-Itaqui, da Brazil Great Southern, e a ferrovia Santa Maria-Uruguai, da
Compagnie Secondaire de Chemins de Fer; na segunda, houve o arrendamento
dos ramais ferroviários que pertenciam ao estado do Rio Grande do Sul, ou seja,
os trechos Porto Alegre-Novo Hamburgo-Taquara e Couto-Santa Cruz.
Na avaliação de João Carlos Tedesco (2002, p. 44), o capital estrangeiro
foi extremamente beneficiado nas concessões e contratos de exploração do se-
tor ferroviário gaúcho, pois, além do monopólio da exploração, ficava isento
de riscos, recebendo juros sobre o capital investido por quilômetro linear Volume 3
República Velha
construído, o que resultava num enorme prejuízo aos cofres públicos rio- Tomo I
grandenses. Como o governo não estava preparado para fiscalizar de forma
eficiente as obras, permitia poder absoluto aos empreiteiros estrangeiros na IX.
As ferrovias:
construção das ferrovias. Isso resultava que muitos acidentes ocorriam por na ordem
problemas de infra-estrutura e linhas mal construídas, além de que repara- positivista o
progresso corre
ções gerais eram necessárias logo após o término da construção, quando não pelos trilhos
havia a necessidade de reconstruir trechos inteiros. 281
Isso consolidou a penetração do capital estrangeiro no Brasil, atuando em
áreas fundamentalmente estratégicas, o que propiciava que representantes
de setores nacionalistas pudessem fazer discursos inflamados e que usuários
das ferrovias reclamassem de forma intensa com o descaso das empresas es-
trangeiras (TEDESCO, 2002, p. 44).
Gladis Helena Wolff (2005, p. 90) afirma que no Rio Grande do Sul os ca-
pitais ferroviários ingleses não eram muito significativos. De forma majoritá-
ria, foram os capitais belgas que, através das inúmeras concessões, obtiveram
os direitos de explorar o setor ferroviário. No entanto, salienta a autora que,
quanto aos processos e interesses, eles atuaram de forma semelhante ao que
acontecia nas outras regiões brasileiras. Era um empreendimento altamen-
te lucrativo, em virtude da garantia de juros. Muitos acionistas atuavam
como “testas de ferro”, assumindo cargos diretivos nas empresas de capital
estrangeiro.
A situação das ferrovias gaúchas era deplorável, não atendendo às neces-
sidades do crescente comércio exportador. Diante disso, esse setor apoiou a
unificação e o arrendamento, com a esperança de que houvesse melhoria nos
transportes ferroviários. Para muitos, o atraso no desenvolvimento do setor
de transportes era o principal obstáculo ao desenvolvimento econômico do es-
tado. Nas palavras de Borges de Medeiros, em mensagem à Assembléia dos
Representantes, o transporte poderia ser “a fórmula ideal e simplificadora do
problema econômico do estado” (apud KLIEMANN, 1977, p. 213). Visando me-
lhorar os serviços ferroviários, o governo do estado unifica a rede ferroviária
do Rio Grande do Sul e a transfere à Compagnie Auxiliaire des Chemins de
Fer au Brésil em 1º de junho de 1905. A rede passou a denominar-se “Viação
Férrea do Rio Grande do Sul”, com sede em Santa Maria.
A crença de que a melhoria dos transportes provocaria a melhoria dos
outros setores da economia levou ao arrendamento e o jornal Correio do Povo
(26/08/1905) noticiava que “as cotações das ações das estradas de ferro do Rio
Grande subiram em Londres, sete pontos, durante as três últimas semanas.”
Ao assumir o controle da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, em junho
História Geral do
Rio Grande do Sul
de 1905, cujo contrato deveria extinguir-se em 1958, a Compagnie Auxiliaire
des Chemins de Fer au Brésil não conseguiu resolver os problemas ineren-
tes ao transporte ferroviário. A empresa passou a enfrentar problemas de toda
ordem: distribuição de pessoal, localização dos escritórios, tráfego, falta de va-
Adelar Heinsfeld gões, construção de novos ramais, tarifas etc. (Ibidem, p. 213-214).
No momento em que a companhia belga e a União passaram a transgre-
dir a Constituição gaúcha, pelas modificações no arrendamento e pelas tari-
282
FONTE: DIAS, 1986, P. 131
Locomotiva tipo Mikado, tracionando uma composição
sobre ponte no rio Piratini, no trecho da Estrada de Ferro
Rio Grande-Bagé.
no dia em que esta empresa tiver o monopólio de toda a área do Rio Grande
como quer o projeto que estamos tratando, ela ditará as leis ao Rio Grande
do Sul e a nossa riqueza pública será drenada, em grande parte, para os cofres
dos argentários europeus.
História Geral do
Rio Grande do Sul
Adelar Heinsfeld
290
Com o término da construção, completou-se a ligação entre Porto Alegre
e São Paulo. Partindo da capital gaúcha, os passageiros faziam baldeação em
Santa Maria, Marcelino Ramos, Porto União e Itararé. Para percorrer o tra-
jeto que girava em torno de 2 mil km, necessitava-se setenta horas, o que para
a época constituía-se num avanço. No Rio Grande do Sul, os trens eram da
Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil; em Santa Catarina e no
Paraná eram da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande; no per-
curso paulista eram da Sorocabana. Entretanto, todas pertenciam a Percival
Farquar.
Com a chegada dos trilhos no Rio Uruguai, completava-se a rede ferro-
viária do Rio Grande do Sul, ao menos nos seus grandes troncos. Por sua vez,
as preocupações do governo federal com a segurança da região Sul dimi-
nuíam, pois a São Paulo-Rio Grande era uma ferrovia essencialmente estra-
tégica e que funcionava como um elemento de defesa. Por outro lado, a colo-
nização do norte do território gaúcho teve um enorme incremento com o tér-
mino da ferrovia. Ao redor de cada uma das estações, vilas e cidades surgiram.
Colonos chegavam e começavam a organizar a sua vida. Havia a perspectiva
de que a sua produção seria escoada pelo trem. A indústria madeireira tam-
COSTA, 1922.
Volume 3
República Velha
Tomo I
IX.
As ferrovias:
na ordem
positivista o
progresso corre
pelos trilhos
291
Ferrovia Porto Alegre-Uruguaiana. Ponte metálica
sobre o rio Santa Maria. Cacequi. 1922.
bém teve seu desenvolvimento ligado à ferrovia. Assim, em ordem muitas re-
giões estavam sendo alcançadas pelo progresso.
Um exemplo bem típico da influência da ferrovia no crescimento econômi-
co aconteceu com Ijuí, que foi alcançado em 1911 por um ramal da estrada de
ferro São Paulo-Rio Grande saindo de Cruz Alta. O valor das terras dobrou no
ano seguinte à inauguração da ferrovia; em relação à 1904, a produção de 1912
aumentou 270%, a exportação 370% e a importação 400% (ROCHE, 1969, p. 63).
Preocupado em buscar o almejado progresso, em 1913 o governo gaúcho
elaborou o Plano Geral de Viação que projetava até 1960 um sistema viário que
articulava o transporte rodoviário, fluvial e ferroviário, estabelecendo elos entre
os vários setores econômicos, a cidade e o interior, a imigração e a colonização,
inclusive prevendo linhas eletrificadas. Nesse plano estava prevista a constru-
ção de uma ferrovia paralela ao rio Uruguai, que cruzaria com a estrada de fer-
ro São Paulo-Rio Grande no norte do estado e rumaria para o Oeste, no que
configuraria na linha Uruguaiana-Torres, numa extensão de 1.100 km
(WOLFF, 2005, p. 95).
Ao mesmo tempo, segundo Sandra Pesavento (1979, p. 214), a delegação
rio-grandense no Congresso Nacional começou uma campanha junto ao gover-
no federal para promover a encampação, pelo Rio Grande do Sul, dos servi-
ços ferroviários que eram explorados por companhia estrangeira.
A Primeira Guerra Mundial, iniciada no ano seguinte, provocou uma de-
manda de produtos agrícolas e um significativo impulso na industrialização
brasileira. Com isso, a existência de um meio de transporte rápido e barato
tornou-se imprescindível. No entanto, a dificuldade em importar material de
reposição e de aumentar a entrada de capital estrangeiro sufocou ainda mais
a Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil, exatamente no mo-
mento em que o Rio Grande do Sul mais necessitava ampliar o transporte fer-
roviário.
Com a Auxiliaire não podendo manter-se atualizada, o número de aci-
dentes elevou-se devido à falta de condições adequadas, bem como à imperí-
cia dos condutores mal remunerados, que exerciam uma jornada de trabalho
História Geral do
Rio Grande do Sul
acima das condições normais. Os trens apresentavam atrasos em seus itine-
rários; faltavam vagões para o transporte das mercadorias, entre outras coi-
sas, que faziam aumentar as reclamações e as queixas dos usuários cada vez
mais.
Adelar Heinsfeld A partir de 1917, a crise no setor ferroviário só aumentou, promovendo
uma crise geral no estado, principalmente devido ao início das greves ferro-
viárias, bem como as dos trabalhadores em geral. Isso fez com que o governo
292
COSTA, 1922.
Estação de Montenegro. 1922.
do estado, liderado por Borges de Medeiros, não pudesse mais ficar alheio ao
problema. Nos movimentos grevistas, sua posição foi firme em busca de uma
solução. Com uma política conciliatória, evitava um movimento revolucionário
(KLIEMANN, 1977, p. 217). Para dar conta disso, a Polícia, as Intendências e a
Brigada Militar foram inúmeras vezes convidadas. É necessário lembrar que
a doutrina positivista que dava sustentação ao governo gaúcho tinha dentre
suas diretrizes a defesa do proletariado, tanto da viação férrea em particular,
como dos trabalhadores em geral.
Nelson Boeira aponta para o fato de que para os republicanos positivistas
rio-grandeses a imagem do operariado, inicialmente, era a de um cidadão
cheio de virtudes, a quem não se permite o total desenvolvimento de suas ca-
pacidades. A partir de 1910, quando aumentou a força numérica e a capacidade
de organização dos operários, o PRR passa a ver uma ameaça em certos se-
tores do operariado, os quais, quando não orientados, poderiam se converter
“numa massa dogmática, intolerante e irresponsável.” Por isso a necessidade Volume 3
de “incorporação” do operariado, que aparece nas manobras políticas do PRR República Velha
Tomo I
(BOEIRA, 1980, p. 36-37).
Na opinião de Sandra Pesavento, a visão positivista adotada pelo “esta- IX.
do providencial” do Rio Grande do Sul era embasada numa visão harmônica As ferrovias:
na ordem
da sociedade, onde a burguesia aparecia como empreendedora e o operaria- positivista o
progresso corre
do como o trabalhador direto, em que as atividades de ambos são conjugadas pelos trilhos
dentro de um processo produtivo. A relação entre burguesia e operariado é
293
estabelecida pelo salário, que nada mais é do que a “remuneração justa dada
pela sociedade ao trabalho executado” (PESAVENTO, 1979, p. 226). Diante disso,
cabia ao Estado prover o bem-estar do operariado, para que não se convertesse
em um elemento perturbador da ordem, e viesse atrapalhar o progresso.
Em 1917, os ferroviários, no contexto do movimento grevista geral, en-
tram em greve. Antes disso, outras greves aconteceram. Em agosto de 1913,
os operários das oficinas da Viação Férrea de Rio Grande pararam suas ativi-
dades em protesto pela suspensão, por medidas de economia, do trabalho aos
sábados. Em 1914, foi a vez dos trabalhadores da Viação Férrea de Alegrete
paralisar os trabalhos por falta de pagamento.
Quando da greve geral dos trabalhadores em 1917, Borges de Medeiros,
em mensagem à Assembléia de Representantes, deixa claro, que
escritórios;
e) revisão das escalas dos emprega-
dos que trabalhavam nos trens;
f) pagamento das horas extras;
g) a volta da sede dos escritórios da
História Geral do
Rio Grande do Sul empresa a Santa Maria;
h) o operário despedido teria passa-
gem de regresso para si e para
sua família.
Adelar Heinsfeld
Em relação ao diretor Cartwright, o
problema ficou resolvido com o seu pedi-
296 do de demissão.
Durante a greve, a Auxiliaire tentou jogar setores econômicos e o opera-
riado contra o governo, alegando que a única forma de melhoras as condições
de transportes de pessoas e mercadorias, bem como de melhorias das condi-
ções de trabalho e de salário dos operários, seria a elevação tarifária.
O representante da Brazil Railway, Geraldo Rocha, em memorial ao pre-
sidente do estado, e que foi publicado pelo Correio do Povo (04/11/1917), ao ana-
lisar a situação da Auxiliaire, constatou que a situação da empresa só pode-
ria ser resolvida, como aumento de receita, e que uma companhia férrea só
pode melhorar a receita com o aumento do tráfego e com o aumento de tari-
fas. Alegava ainda, que no caso específico da empresa que atuava no Rio Gran-
de do Sul, o aumento do tráfego produziu efeitos contrários. Assim, só resta-
va uma solução: o aumento tarifário. Para a cúpula da Auxiliaire todos os pro-
blemas se resolveriam com o aumento no valor das tarifas. Diante disso, o go-
verno de Borges de Medeiros articulou um plano junto à Associação Comer-
cial de Porto Alegre, concedendo o aumento, depois de uma consulta prévia
aos comerciantes de outras praças, para ver quais produtos poderiam ter ta-
rifas de transporte aumentadas. Ficou decidido que madeiras, gado em pé, fa-
zendas e ferragens poderiam comportar aumento de tarifas (KLIEMANN, 1977,
p. 220-221). Eram produtos destinados à exportação, que o aumento nos fre-
tes não traria prejuízos à economia gaúcha. Há que considerar que as eleições
para a presidência do estado se aproximavam e Borges de Medeiros, mais
uma vez, era candidato. Por isso, com todas estas manobras, ele procurava ga-
COSTA, 1922.
Volume 3
República Velha
Tomo I
IX.
As ferrovias:
na ordem
positivista o
progresso corre
pelos trilhos
297
nhar terreno. Em troca dos aumentos nas tarifas de frete, a Viação prometeu
aumento para os seus funcionários, a partir de 1º de dezembro de 1917. As-
sim, o governo de Borges de Medeiros pôde capitalizar para seu projeto de re-
eleição a satisfação dos empresários e dos trabalhadores da via férrea. Por ou-
tro lado, a Auxiliaire ficou numa situação delicada, pois as justificativas para
um serviço deficitário não tinham mais razão de ser. Em síntese, o governo
do Rio Grande do Sul passava a ter mais um trunfo para a encampação da rede
ferroviária pelo estado.
Enquanto isso, o governo do estado procurava concentrar esforços para
construir ramais ferroviários que fossem independentes da Auxiliaire: foram
projetadas as linhas Palmares-Conceição do Arroio e Alfredo Chaves-Carlos
Barbosa. O material necessário para estas construções foi adquirido das com-
panhias ferroviárias que, devido ao arrendamento de 1905, tinham deixado
de lado estes materiais por não necessitá-los mais.
As modificações ocorridas na economia rio-grandense, com as charquea-
das sendo substituídas pela indústria da carne e derivados, com o aumento
significativo da produção vinícola, fez com que os esforços empregados pelo
governo do estado, no que tange à construção de novas ferrovias, não fossem
suficientes para atender à demanda de transportes.
O governo federal não poderia socorrer o governo gaúcho por algumas
razões: não queria correr riscos devido à ingerência nos assuntos internos do
estado, definidos pela Constituição e, até porque, em função da primeira guer-
ra mundial, havia a necessidade de reestruturar o país economicamente. Além
disso, havia o problema da sucessão presidencial, motivada pela morte do pre-
sidente eleito, Rodrigues Alves. Diante desse quadro, o estado deveria resol-
ver seus problemas sem criar embaraços para a administração federal. Para
Borges de Medeiros foi uma ótima oportunidade de reafirmar seu poder, jun-
tamente com o Partido Republicano Rio-Grandense. Assim, o problema fer-
roviário seria tratado exclusivamente em nível estadual.
Os serviços prestados pela Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer au
Brésil continuavam deficientes. As inúmeras reclamações, principalmente da
História Geral do
Rio Grande do Sul Associação Comercial de Porto Alegre, com a falta de vagões, atrasos enormes,
cargas não chegando ao seu destino, na visão da empresa, só poderiam ser re-
solvidos com novos aumentos nas tarifas de fretes. Tomando por base os rela-
tórios da empresa, a Secretaria Estadual de Obras Públicas autorizou um au-
Adelar Heinsfeld mento tarifário em agosto de 1919. No início daquele ano, a Auxiliaire desli-
gou-se da Brazil Railway; assim, os maus serviços prestados, objetos de inú-
meras reclamações, não mais poderiam ser atribuídos ao Sindicato Farquar.
298
Para se ter uma idéia de como a população via a presença da empresa bel-
ga controlando a Viação Férrea do Rio Grande do Sul, a sigla VFRGS, grava-
da nos vagões, foi interpretada de uma forma irônica como “Viemos da Fran-
ça Roubar Grande Soma”. O fato de os belgas falarem o francês, era, na visão
popular, como se tivessem vindo da França (WOLFF, 2005, p. 103).
As deficiências no serviço ferroviário apareciam em todas as regiões. O
Correio do Povo (03/10/1919) informava que em Carazinho os agricultores não
iniciariam as plantações, uma vez que na colheita os produtos ficam estragando
à espera de vagões. Os madeireiros também enfrentavam o mesmo problema,
pois havia na estação de Carazinho um estoque de madeira que eram neces-
sários 1600 vagões para efetuar seu transporte e que a Viação Férrea havia for-
necido durante todo o ano de 1919 apenas 12% dos vagões necessários.
Para tentar solucionar parte da crise, a Auxiliaire passou a pedir empres-
tados vagões de companhias particulares que começavam a atuar no estado.
Algumas empresas, como João Correa e Filhos, os Frigoríficos Armour e
Swift, para não ficar dependendo da Viação Férrea do Rio Grande de Sul,
haviam adquirido seus próprios vagões, para efetuar o transporte de suas
mercadorias. Aliás, essas aquisições tinham sido sugeridas pelo próprio gover-
no, numa tentativa de impedir a paralisação da vida econômica do estado.
Ao final de 1919, a Associação Comercial de Porto Alegre, depois de ter
esgotado todos os meios junto à Auxiliaire, chegou ao seu limite. Através de
correspondência de 8 de dezembro a Borges de Medeiros, passou a exigir do
governo do estado uma solução definitiva para o problema. Existia na capital,
em dezembro daquele ano, 115.600 notas de expedição de mercadorias que es-
peravam transporte. Na avaliação da Associação Comercial, a Auxiliaire le-
varia em torno de sete meses para transportar aquela carga que estava pron-
ta. Com isso,
IX.
As classes produtoras manifestavam seu descontentamento por verem As ferrovias:
na ordem
suas colheitas perdidas. O desânimo tomava conta quando a Auxiliaire infor- positivista o
progresso corre
mou que começava a faltar combustível para os poucos trens que ainda circu- pelos trilhos
lavam pelo estado. Com isso, a empresa ferroviária ameaçava paralisar o Rio
299
COSTA, 1922.
Entroncamento da estação ferroviária de
Santa Maria. 1922.
História Geral do
Rio Grande do Sul
Adelar Heinsfeld
302
COSTA, 1922.
a) estratégicas, servindo como elementos de defesa, tendo em vista a pro-
ximidade do inimigo;
b) econômicas, escoando a produção agropecuária e industrial e trazen-
do produtos que o mercado regional necessitava;
c) colonizatórias, propiciando que vastas regiões, principalmente no Nor-
te no estado, fossem ocupadas e inseridas no contexto da produção nacional.
E depois do final da República Velha? Em 1954, a VFRGS foi transforma-
da em uma autarquia. Em 57 criou-se a Rede Ferroviária Federal Sociedade
Anônima e, após negociações e diversos acordos, em fevereiro de 61, os 3.657
km da rede ferroviária gaúcha foram incorporados à RFFSA. Mas isso já é uma
outra história.
Volume 3
República Velha
Tomo I
IX.
As ferrovias:
na ordem
positivista o
progresso corre
pelos trilhos
303
COSTA, 1922.
História Geral do
Rio Grande do Sul
Adelar Heinsfeld
304
Capítulo X
COMÉRCIO E CONTRABANDO NA
ARTICULAÇÃO ECONÔMICA DO ESPAÇO
FRONTEIRIÇO PLATINO
X.
Comércio e
8 BRASIL, Ministério das Relações Exteriores. Ofício do cônsul Domingos José da Silva Azevedo contrabando na
ao ministro Ollyntho de Magalhães. Montevidéu, 28 mar, 1899. Maço 256 14/4. articulação
9 ALFANDEGA do Livramento. O Canabarro, Rivera, 23 abr. 1899, p. 1. econômica...
10 A. COSTA. O Contrabando na fronteira do Rio Grande e sua repressão. O Maragato, Rivera, 23
ago. 1899, p. 1. 309
Sant’Ana do Livramento representava um microcosmo no qual se mani-
festavam as características e os problemas do comércio e do contrabando da
fronteira, principalmente daquela entre o Brasil e o Uruguai. Os representan-
tes do setor comercial de Sant’Ana, por meio de relatórios ao governo central
ou pela imprensa local, eram os porta-vozes das reclamações constantes da-
quele setor frente aos problemas enfrentados pelo comércio, como o contra-
bando e a necessidade imediata da instalação de uma alfândega. A preocupa-
ção dos negociantes fronteiriços era liberar o fluxo de mercadorias prove-
nientes do Uruguai e tentar canalizá-lo através do alfandegamento da mesa
de rendas, para que as trocas com a República vizinha continuassem mantendo
o seu ritmo e o seu papel de alimentador das casas atacadistas locais, uma vez
que a dinâmica da economia da área era conduzida pela atividade comercial
e pela pecuária. Dos 800 quilômetros de extensão da fronteira meridional, 600
eram de linhas terrestres desde a foz do rio Quaray, no Uruguai, e não havia
uma só estação aduaneira do lado rio-grandense.
Livramento estava situada no centro da linha entre a Lagoa e o rio Uru-
guai. Estava 600 km distante da Alfândega de Rio Grande e 300 da de Uru-
guaiana11. Seu movimento comercial, em 1898, foi de 20.264 carretas e o vo-
lume, só de entrada, foi de 15.639. 110 quilos, dos quais apenas 1.375.000, me-
nos de 10%, foram fornecidos pelas praças de Pelotas e Rio Grande. Sant’Ana
era, no entender de seus comerciantes, o centro e a sede do comércio terres-
tre do estado e da República Oriental.
O atacadista importador de Montevidéu não necessitava de amplos es-
paços para estocar suas mercadorias, pois as depositava nos armazéns da Al-
fândega e as vendia diretamente ao comércio das praças do Rio Grande do Sul,
especialmente às da fronteira do Mato Grosso, do Paraguai, de Corrientes e
de Entre Ríos. Essas mercadorias saíam dos armazéns como entravam: sem
pagar os direitos. Uma vez retiradas, elas eram obrigadas a sair do território
e das águas uruguaias, sendo registradas como “de trânsito”12. Nesse sistema,
abastecia-se a praça de Livramento, que se recusava a ser tributária das pra-
ças do Litoral e de Uruguaiana.
História Geral do
Rio Grande do Sul
Dizia a comissão de negociantes, em relatório apresentado em novembro
de 1898 ao inspetor da Fazenda do Tesouro Federal, que Livramento estava
ligada a Montevidéu por uma linha férrea que, em 24 horas, fazia todo o seu
trajeto. Esse transporte seguro, fácil e rápido, condição essencial no comér-
Susana Bleil
de Souza
11 A. COSTA. O contrabando na fronteira do Rio Grande e sua repressão. O Maragato, Rivera, 23
agosto, 1899, p. 1.
12 Ibidem.
310
cio, era o primeiro incentivo que tinha o comerciante para se dirigir a Monte-
vidéu13. Além disso, o comércio uruguaio funcionava em muito maior escala,
a tal ponto que mesmo as praças do litoral lá iam se abastecer. Em 24 horas,
o comerciante santanense tinha, na estação de Rivera, as mercadorias que ha-
via comprado já prontas para a revenda14. O comércio de Montevidéu e do
Uruguai em geral oferecia vantagens superiores às das praças brasileiras na
compra de produtos nacionais. Couros, lãs, cabelo, erva-mate, madeiras,
fumo, aguardentes, feijão e outros produtos encontravam preços vantajosos
no Prata15.
Concretamente, o problema estava na carência de uma eficiente infra-es-
trutura portuária e de transportes. A população santanense queixava-se, com
razão, do dispendioso transporte em carretas que afetava as mercadorias
provenientes do Litoral, contrapondo a essa situação a facilidade e o transpor-
te menos oneroso dos produtos que vinham de Montevidéu. Em 48 horas,
o negociante podia ter em sua casa a encomenda que lhe viesse de Monte-
vidéu, enquanto que, pelo Porto de Rio Grande, além de uma demora mui-
to maior no transporte, havia ainda o problema da lentidão no despacho da
Alfândega16.
Do ponto de vista da rapidez do tráfego, da segurança e do custo dos fre-
tes, nenhum dos dois portos alfandegados do estado estava em condições de
competir com Livramento. Um vapor de qualquer companhia de navegação
transatlântica direto gastava de 16 a 18 dias de viagem do Havre, de Liverpool
ou de Bordeaux a Montevidéu. Como este porto estava a 20 horas de Rivera
pela estrada de ferro Central del Uruguay, podia-se concluir que a praça de
Livramento estaria recebendo, em vinte dias, mercadorias dos grandes em-
pórios europeus. Esse era o tempo, ou um pouco mais, necessário à comuni-
cação dos mercados europeus com a praça do Rio de Janeiro17. Utilizando-se
do porto de Rio Grande, o comerciante muitas vezes comprava uma merca-
doria na Europa com 90 dias de prazo, pagava-a no tempo designado, mas re-
cebia a mesma dois ou três meses depois. Sem falar nos graves inconvenientes
das avarias, mutilações de volumes e outras perdas que podiam resultar dos
Volume 3
República Velha
13 M. P. V IANNA , F. IRIONDO, J. GARAGORRY et al. Relatório apresentado... Luis V. Brigido, Tomo I
digno inspetor de Fazenda do Thezouro Federal. O Maragato, Rivera, 5 nov. 1898, p. 1.
14 Ibidem.
15 Ibidem. X.
16 BRASIL. Ministério da Fazenda. Relatório de 1899, volume II. Informações relativas às reparti- Comércio e
ções de Fazenda da Fronteira do Brasil com as Repúblicas Argentina e Oriental extrahidas dos contrabando na
relatórios apresentados pelo inspector de Fazenda Bacharel Luiz Vossio Brigido sobre a articulação
inspecção a que procedeu nos mesmos. p. 23. econômica...
17 A. COSTA. O contrabando na fronteira do Rio Grande. O Canabarro. Rivera, 20 novembro
1898, p. 1.
311
COSTA, 1922.
transbordos marítimos e flu-
viais que as mercadorias es-
trangeiras sofriam antes de
chegarem às Alfândegas de
Rio Grande e Uruguaiana. Por
outro lado, o expedidor, uma
vez já embolsado, nem sem-
pre estava disposto a atender
às reclamações do recebedor.
Frente a esses proble-
mas, a preferência pela Fron-
teira era justificável, pois,
além de uma encomenda vir
de Montevidéu a Livramento
ou a Quaraí em 48 horas, em
dez ou doze dias podia achar-se
Erva-mate. Palmeira. no interior do estado ou até na
capital18.
Por outro lado, a mercadoria que vinha por Rio Grande, uma vez descar-
regada e despachada naquela Alfândega, era depois carregada nos trens para
Bagé ou Coxilha de São Sebastião, onde ficavam depositadas esperando as
carretas que as conduziam a Livramento, num percurso aproximado de 40 lé-
guas por estradas cortadas por charcos profundos e por rios que, em certas
épocas do ano, não davam passagem. Era, ainda, preciso considerar as des-
cargas e armazenagens na Alfândega de Rio Grande, a remessa e o frete pela
estrada de ferro de Bagé, bem como o aluguel de um armazém para depósi-
to, mais o frete do carro de bois, além do risco de cruzar rios que não permi-
tissem fácil travessia durante o inverno, podendo, não raro, perder veículos
e mercadorias (CAGGIANI, 1961, P. 11). Considerando as dificuldades mencio-
nadas, era fácil compreender por que Sant’Ana preferia negociar diretamen-
te como os uruguaios. Assim, provenientes de Montevidéu, chegaram a
História Geral do
Sant’Ana, no ano de 1898, 4.126.000 quilos de mercadorias que percorreram
Rio Grande do Sul 568 quilômetros pela estrada de ferro central del Uruguay em um dia de via-
gem. Por sua vez, Sant’Ana remetera em lãs, produtos bovinos e produtos co-
loniais de cima da Serra, cerca de quatro mil toneladas. A erva-mate, o fumo,
Susana Bleil 18
de Souza B RASIL. Ministério da Fazenda. Relatório do ministro Joaquim Murtinho, 1899. Repartições
fiscais na fronteira do Rio Grande do Sul. Apud L. H. P. de Vasconcellos. Uruguay - Brasil.
Commercio e Navegação. 1851-1927. v. 1. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1919. p.
638 e C OSTA . O contrabando na fronteira do Rio Grande. O Canabarro. Rivera, 20 nov.
312 1898, p. 1.
as madeiras de construção, os couros curtidos, em bruto ou em obras de ar-
reamento, a farinha de mandioca, o feijão preto (já há muito sendo forneci-
do como alimento a trabalhadores de grandes empresas), estavam entre os
artigos que escoavam através de Livramento em função da demanda dos mer-
cados platinos19. De Porto Alegre, durante todo o ano de 1898, Sant’Ana “só
recebera algumas barricas de rapadura e meia dúzia de peças de tecidos [...],
o suficiente para a capital ficar convencida de que conquistara o mercado de
Livramento!”20.
Conseqüentemente, tanto o governo estadual quanto os agentes econômi-
cos consideravam que os transportes se constituíam em verdadeiro problema
ao desenvolvimento econômico do estado, ou, pelo menos, em um de seus
principais entraves. Observe-se que a questão fundamental não era propria-
mente a dos transportes, mas a do valor de troca das mercadorias. Como toda
a regulamentação era feita pelo mercado, a produção era aparentemente co-
mandada pela circulação, ou pelo menos era essa a acepção dos políticos e da
classe empresarial21.
A Fronteira era independente das zonas abastecidas pelos mercados de
Rio Grande, de Pelotas e, sobretudo, de Porto Alegre, com a qual ela não man-
tinha praticamente transações comerciais, e a cisão entre esse comércio fron-
teiriço e o do Litoral era muito clara. As constantes críticas que os comercian-
tes das praças litorâneas faziam aos comerciantes da região da Campanha,
relacionando-os com o contrabando, era uma prova disso.
Livramento possuía, em 1899, cerca de “800 prédios regulares e 700 ran-
chos, com uma população de 12.000 almas ou de 30.000 incluindo o município”.
A cidade e o município contavam com cerca de “400 casas de negócio”, e suas
transações comerciais podiam ser estimadas em “15.000:000$000 por ano”.
Era a maior povoação da linha divisória, de Jaguarão até Uruguaiana, e “jun-
tada a Rivera”, que lhe ficava contígua, formava “um núcleo de população de
20.000 almas”22. Rivera, por sua vez, contava, no final do século, com uma po-
pulação de “mais de 50 mil pessoas, na respectiva área urbana e com umas vinte
e cinco mil nos cinco distritos de paz que constituíam o município de que era
Volume 3
cabeça”23. A fronteira brasileira com o Uruguai tinha, no final do século, apro- República Velha
Tomo I
29 W. HEARN . Report on the trade and commerce of Rio Grande do Sul for the year 1891.
318 London: Public Record Office, 1892, (Parliamentary Command Papers, 1077). p. 14.
A República tinha substituído a política de conciliação de interesses,
conduzida pelo senador do Império, Gaspar da Silveira Martins, pela de re-
pressão ao contrabando. O comércio litorâneo apoiava essa repressão, que
atendia aos seus interesses mercantis e aos do Fisco. O governo tentava, des-
se modo, afastar a concorrência platina no mercado rio-grandense (BARETTA,
[s.d.], p. 45).
A imprensa acusava o ministro plenipotenciário do Brasil no Uruguai,
Ramiro Barcelos, e o ministro da Fazenda, Rui Barbosa, de serem os respon-
sáveis pelo depauperamento do comércio fronteiriço. Segundo a posição de um
dos jornais liberais de Livramento, Ramiro Barcelos, atendendo às exigências
das praças do Litoral, havia conseguido a criação de um corpo fiscal que sobre-
carregava os cofres nacionais e que, além de reprimir o contrabando, acaba-
ria por exterminar com o comércio fronteiriço. Enquanto no passado o comér-
cio do vizinho departamento de Rivera mudara-se para Livramento, no pre-
sente, os comerciantes santanenses estavam se mudando para Rivera e tra-
tando de liquidar suas casas, alguns com grandes prejuízos30. Em 08 de mar-
ço de 1891, foi fundado o Centro Comercial de Sant’Ana do Livramento com
o objetivo de lutar pelo levantamento da zona fiscal. A revogação da limitação
das zonas e o alfandegamento da mesa de rendas de Livramento eram as as-
pirações do comércio fronteiriço31. Protestavam contra a limitação de zonas e
a criação do cargo de delegado fiscal, alegando que estas medidas haviam ar-
ruinado o comércio fronteiriço, tão próspero sob o regime monárquico.
Os comerciantes santanenses alegavam ser a sua cidade basicamente
comercial, com indústrias pouco desenvolvidas e em pequeno número e, en-
quanto houvera liberdade comercial, Livramento havia sido o empório da
Fronteira. Consideravam sua posição topográfica seu melhor auxiliar para
anular o comércio central e ganhar-lhe a concorrência. A ferrovia que ligava
Rivera a Passo de los Toros, no Uruguai, ainda não estava concluída, mas em
um pouco mais de dois dias de viagem, chegava-se a Montevidéu. Quando essa
linha férrea estivesse concluída, a previsão era de que a viagem durasse, tal-
vez, apenas um dia.
Volume 3
Era sabido que as transações comerciais da Campanha se davam com República Velha
Tomo I
Montevidéu, porque esta praça vendia muito mais barato do que as do Rio
Grande, Pelotas e Porto Alegre, uma vez que não pagava fretes nem seguros
X.
tão altos quanto aquelas, além do que, até mesmo as mercadorias que chega- Comércio e
contrabando na
articulação
30 RETROGRANDO. O Canabarro, Livramento, 12 out. 1890 p. 1. Ver também Questão velha. econômica...
O Canabarro, Livramento, 4 jan 1891, p. 1.
31 Ibidem
319
vam de Montevidéu para Sant’Ana, via Uruguaiana, pagavam menos fretes
do que as provenientes das praças do Litoral. Com o alfandegamento da mesa
de rendas dessa cidade, os gêneros poderiam vir diretamente da Europa com
fretes mais baratos e viagem mais rápida aliada ao trânsito do porto de Mon-
tevidéu para a Fronteira32.
A cisão entre o comércio da Fronteira e o do Litoral era muito clara, e as
constantes críticas que os comerciantes das praças litorâneas faziam aos comer-
ciantes da Campanha, relacionando-os com o contrabando, era prova disso.
O jornal de Porto Alegre A Federação, órgão do PRR, mencionava constan-
temente o comércio ilegal praticado na Fronteira, acusando inclusive o se-
nador Silveira Martins com a sua tarifa especial de ser beneficiário do con-
trabando33.
Contrabandeavam sim, os fronteiriços, mas, sem dúvida, a concorrência
com as praças litorâneas não era ganha somente com o giro comercial ilegal.
Muito dependente das receitas alfandegárias, o Brasil era incapaz de apli-
car outros tipos de impostos ao conjunto do território, e a situação do Tesou-
ro era grave desde o final do império. O projeto de Constituição apresentado
pelo Governo Provisório ao Congresso Constituinte reservava, no artigo sex-
to, à competência exclusiva da União os impostos sobre a importação de pro-
cedência estrangeira e os direitos de entrada, saída e permanência de navios,
destinando aos estados, em compensação, a receita dos impostos sobre a ex-
portação de mercadorias (até 1898) e sobre a transmissão de propriedade34.
Como conseqüência da Constituição republicana de 1891, as tarifas sobre
as importações continuaram a ser “a principal fonte de receita governamen-
tal até a I Guerra Mundial” e “a participação da arrecadação alfandegária na
receita total flutuou ao redor de 60% entre 1860 e 1914” (VERSIANI, 1980, p.
26). Até 1890 tinha havido uma tendência à diminuição da importância rela-
tiva das rendas alfandegárias, mas estas aumentaram novamente, tendo, no
governo republicano, “atingindo o máximo de 75% da receita total, em 1892-
97” (Ibidem, p. 26).
No Rio Grande do Sul o Partido Republicano introduziu alguns impos-
História Geral do
Rio Grande do Sul
tos diretos com o objetivo de atingir a solvência financeira do estado. Pela
Constituição estadual de 14 de julho de 1891, a exportação de produtos do es-
tado e a transmissão da propriedade deixariam de ser tributadas quando fos-
38 Ibidem.
322
11 de junho de 1896, restabelecia-se o comércio de trânsito de Montevidéu à
Fronteira via Rivera, nos termos da resolução de 189139. Cessavam as restri-
ções impostas pelo decreto de 22 de agosto de 1895 ao trânsito do fumo e seus
preparados, sedas, luvas de seda e pelica, rendas, peles e cartas de jogar en-
tre outros artigos que eram enviados, via contrabando, de retorno ao ponto de
saída, mas que, em lugar de reentrarem nos depósitos fiscais uruguaios, pas-
savam diretamente às casas de varejo, burlando a ação das autoridades adu-
aneiras na cobrança dos direitos de consumo40.
A situação do comércio porto-alegrense era, em geral, satisfatória, visto
que se abastecia junto aos distritos coloniais alemães e italianos, cuja produ-
ção era abundante e os preços baixos. A chamada “zona colonial” tornara-se a
comunidade mais importante do estado para Porto Alegre, mantendo uma
parcela muito grande do comércio, tanto atacadista como varejista, cuja pros-
peridade era em grande parte devida aos colonos41. Uma das principais cau-
sas do renascimento desse comércio foi a própria guerra civil. O abastecimen-
to das tropas e as verbas para isso destinadas foram para o setor produtivo, o
que fez progredir consideravelmente a zona colonial.
Escrevia o cônsul brasileiro em Montevidéu que os maiores beneficiários
da guerra civil eram os comerciantes de Montevidéu, pois as povoações da
Fronteira mais do que nunca eram tributárias de seu mercado. Em seu ofício
à Embaixada, ele mencionava que desde de dezembro de 1893 não expedia
uma fatura de mercadorias em trânsito para Sant’Ana e, no entanto, sabia-se
que elas seguiam em “grandes partidas por sua quantidade e valor, chegan-
do ao escândalo de abastecerem aquele mercado e voltar o excedente ao por-
to de origem, com proveito dos contrabandistas que não pagavam direitos de
entrada”42.
O final do conflito armado de 1893 não teve o resultado esperado sobre o
giro mercantil. A expectativa de que o comércio, em geral, mais especificamen-
te o comércio de importação, revivesse e aumentasse em 1896 não foi concre-
tizada. Supunha-se que o comércio com a Campanha reassumiria as suas pro-
porções normais após a retirada das tropas federais, com o final da guerra ci-
Volume 3
vil. Entretanto, as tropas haviam se constituído na mais importante força de República Velha
Tomo I
39 Aduana. Reembarco de mercaderías en Montevideo con destino al Brasil, por ferrocarril. 5
dic. 1891. A RMAND U GON et al. Compilación de leyes y decretos 1825-1930. Tomo XIX,
1891-19892. X.
40 BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Ofício do cônsul Domingos José da Silva Azevedo Comércio e
ao ministro Carlos Augusto de Carvalho. Montevidéu, 13 jun. 1896. contrabando na
41 A. ARCHER. Report on the trade and commerce of Porto Alegre for the year 1894. London: articulação
Public Recorded Office, 1895 (Parliamentary Command Papers), n. 1583, p.28. econômica...
42 BRASIL . Consulado Geral em Montevidéu. Oficio do cônsul Domingos J. da Silva Azevedo
para o ministro das Relações Exteriores C. A. de Carvalho, em 10/03/1893. Maço 256/4/8. 323
consumo e compra devido às somas de dinheiro enviadas ao estado pelo go-
verno federal para o seu pagamento. Toda essa movimentação causara uma
atividade fictícia e transitória que compensava a interrupção do comércio nor-
mal, mas com o final do movimento armado, a partida das tropas foi sentida
e a volta do comércio com o interior não contrabalanceou a perda de um con-
tingente tão grande do homens43.
A grande maioria da população era formada por proprietários de terras,
criadores de gado que perderam muito dinheiro, quer individualmente, quer
através da comunidade, pela perda de gado, cavalos e plantações, bem como
pela destruição do aramado das propriedades. Esse tipo de consumidor, con-
seqüentemente, deixou de comprar produtos importados.
As flutuações no câmbio e as tarifas alfandegárias mais altas também pre-
judicaram os comerciantes na fase de término do conflito44. O comércio, de
uma maneira geral, vinha enfrentando sérias dificuldades em ambos os lados
da linha política, pois os últimos anos do século foram marcados por proble-
mas de instabilidade e insegurança no giro mercantil fronteiriço provocados,
especialmente, pelas atitudes dos governos de ambos os países limítrofes.
O governo estadual, através de um convênio com a União, tomou para
si o encargo da repressão ao contrabando, com os aplausos do comércio do Li-
toral. Em 02 de junho de 1899, o presidente da República, Campos Sales, bai-
xou o decreto 3.305, aprovando o Convênio celebrado entre o ministro da Fa-
zenda da União e o presidente do estado do Rio Grande do Sul para o fim de
reprimir o contrabando. Por esse convênio, o serviço externo de repressão ao
contrabando ficou a cargo daquele estado e todas as atribuições de serviço in-
terno da Delegacia Especial passaram para o delegado fiscal do Tesouro Fe-
deral, em Porto Alegre. O governo do estado ficou com a obrigação de contri-
buir com cinqüenta contos de réis anuais, e estipulou-se no convênio que o cor-
po de guardas do estado não poderia ter caráter militar ou policial, mas sim-
plesmente fiscal (VASCONCELLOS, 1929, v. 1, p. 642).
O presidente do estado, Borges de Medeiros, em sua mensagem anual
de 1899 à Assembléia dos Representantes, referindo-se aos problemas que afli-
História Geral do giam a corrente comercial do estado, citava a desvalorização da moeda, a ta-
Rio Grande do Sul
rifa que ele definia como “ultraprotecionista” e o que ele considerava “mais da-
noso ao Fisco e ao comércio do Litoral”: o contrabando, que “afrontosamente
dominava as fronteiras oriental e argentina [...]”. Salientava também que, du-
Susana Bleil
de Souza
43 BERNAL. Report on the trade and commerce of the state of Rio Grand do Sul for the year
1896. London: Public Record Office, 1897 (Parliamentary Command Papers, n. 1911, p. 2).
44 Ibidem.
324
rante o ano de 1898, o contrabando havia recrudescido45. Os comerciantes e a
imprensa fronteiriça prontamente posicionaram-se contra o convênio, consi-
derando-o como uma forma de tolher a liberdade de comércio e como uma
“forma de aumentar o poder da ditadura castilhista”. E mais: “O governo do
estado, ou melhor dito, o castilhismo”, era “um inimigo encarniçado da Fron-
teira” e “um aliado intransigente das praças do Litoral [...]”46. Acusavam, ainda,
o convênio de perseguição ao comércio fronteiriço, de aliado das praças comer-
ciais do Litoral e de possuir um objetivo político, que era o de controlar a Fron-
teira47. O castilhismo era também acusado de ter tornado o corpo fiscal mili-
tarizado, quando havia uma cláusula no convênio aduaneiro que proibia a mili-
tarização da guarda fiscal48. Alegavam também que tal medida era inconsti-
tucional, pois a fiscalização da linha divisória entre os dois países pertencia ao
governo nacional, que tinha a atribuição de manter as relações com os estados
estrangeiros. A fiscalização das rendas estaduais, para os federalistas, reves-
tia-se de um meio legal do qual o “castilhismo” estava lançando mão para vi-
giar uma região onde ele ainda não conseguira interferir – a Fronteira – e, ao
mesmo tempo, aumentar seu já crescido poder militar estadual49.
O fato de o PRR ter impedido o acesso ao controle do poder político esta-
dual fez com que a oposição atacasse um dos pontos vulneráveis da doutrina
positivista castilhista, que era justamente o autoritarismo. A campanha, ma-
joritariamente federalista e liberal entre os pecuaristas e comerciantes, enten-
dia o convênio e o corpo fiscal como um aparato de coerção, posto em prática
por um estado positivista autoritário. Atribuía-se a crise comercial de
Sant’Ana ao convênio, e, enquanto era aplaudido no Litoral, a Fronteira ten-
tava, junto ao governo central, reativar o seu movimento comercial através da
instalação de uma alfândega em Sant’Ana, única forma de diminuir a concor-
rência do contrabando, segundo o seu ponto de vista. Através dos jornais lo-
cais, Albino Costa, vinculado aos meios comerciais e de imprensa, tentava pro-
var que o comércio via Montevidéu era mais lucrativo e rápido do que aquele
realizado no Litoral rio-grandense e que o contrabando era uma contingência
da Fronteira, reforçado pela ausência do amparo fiscal de uma alfândega. A
Volume 3
República Velha
45 MENSAGEM à Assembléia de Representantes do estado do Rio Grande do Sul pelo presiden- Tomo I
te A. A. Borges de Medeiros, em 20 de setembro de 1899. Porto Alegre, 1899, p. 29-32.
(Anexo texto do comércio)
46 O Maragato, Rivera, 17 de fev. 1899, p. 1.
X.
47 O CONVENIO. O Maragato, Rivera, 8 jul, 1899, p. 1. e CHARLATANISMO. O Maragato,
Comércio e
Rivera, 15 jul, 1899, p. 1.
contrabando na
48 O CORPO fiscal. Sua militarização!! Deslealdade ao castilhismo. O Maragato, Rivera, 24 nov. articulação
1900, p. 1 econômica...
49 POSTOS fiscaes. O Maragato, Rivera, 20 mai, 1899, p. 1. Ver também A CONSTITUIÇÃO e
a fronteira fiscal. O Maragato, Rivera, 21 jun. 1899, p. 1.
325
9 de janeiro de 1900, foi promulgado um decreto para a instalação de uma al-
fândega de 4ª ordem em Livramento. O alfandegamento foi concedido, mas o
convênio aduaneiro continuava, pois julgava o governo do estado que esta era
a forma mais eficaz de combater o contrabando.
Capitais e crédito, entretanto, as duas ausências sentidas pelo comércio
não eram tratadas pelo governo borgista. Os comerciantes alegaram que as
casas importantes não se surtiam porque encontravam dificuldades em intro-
duzir suas mercadorias e consideravam o Fisco exorbitante. As casas expor-
tadoras não tinham a quem vender. O comércio varejista também não achava
para quem vender, porque a população da cidade cruzava a Fronteira e ia
comprar em Rivera, onde os gêneros eram novos e mais baratos. Tudo o
quanto necessitava a população de Livramento, inclusive artigos de arma-
zém, louças, ferragens e até mobílias, eram compradas em Rivera, cujos ne-
gociantes mandavam entregar as mercadorias em Sant’Ana, sem nenhuma
dificuldade50.
Os ataques que a oposição política fazia ao governo, acusando-o de des-
caso e até de ser o responsável pela crise comercial contra o qual se debatiam
os comerciantes da cidade, eram encampadas pelos jornais brasileiros de ten-
dência oposicionista liberal: O Maragato e O Canabarro, ambos publicados
em Rivera. Esses dois periódicos eram porta-vozes dos agentes sociais domi-
nantes na região da Campanha – comerciantes e pecuaristas – e eram edita-
dos na cidade oriental justamente para evitar as perseguições dos governos
castilhista e depois borgista. O autoritarismo do estado positivista do PRR,
entretanto, fazia-se sentir até no limite da Fronteira. Uma das edições domi-
nicais de O Canabarro, em 1900, foi queimada na linha divisória, por ordem
do inspetor fiscal e teve o seu distribuidor recolhido à prisão e só mais tarde
libertado51. A Fronteira, no início do século, ressentia-se do controle exercido
pelo comércio aduaneiro estadual e, enquanto as mercadorias chegavam às
cidades fronteiriças orientais, do lado brasileiro cidades como Livramento e
Quaraí “estavam reduzidas às mais precárias condições”. Essas casas brasilei-
ras eram abastecidas em seus artigos pelas casas das duas cidades vizinhas
História Geral do orientais: Rivera e San Eugenio.
Rio Grande do Sul
No decênio seguinte, o governo estadual, consciente das perdas que o co-
mércio gaúcho enfrentava com as exportações pela Fronteira e o continuado
e mútuo contrabando entre os dois países, resolveu estimular o desenvolvi-
Susana Bleil mento do setor viário, de portos e de transportes.
de Souza
50 Ibidem.
51 ROSAS de Chanfalho. O Maragato¸ Rivera, 14 mar. 1900, p. 1.
326
Com isso, o governo Borges de Medeiros tentava resolver, por um lado,
o problema do contrabando que há muito tempo alimentava o consumo rio-
grandense e, por outro, tentava reorientar o comércio exportador e importa-
dor para o Litoral do estado, uma vez que estava, em boa parte, em mãos es-
trangeiras. Assim, medidas como a redução dos fretes, a construção de ferro-
vias e a abertura da barra visavam canalizar o comércio da Fronteira para o
Litoral. Para o governo, o comércio organizava a produção e fazia parte do
processo de modernização do estado e da sua integração na economia mun-
dial, o que seria realizado através do comércio externo (SANTOS, 1982, p. 11-22).
Logo, esse comércio deveria ser apropriado pelos negociantes estaduais e não
mais pelo alto comércio montevideano como vinha sendo feito até então. Trata-
va-se de nacionalizar a totalidade do comércio gaúcho realizado com o exterior
e comerciar diretamente com os outros portos brasileiros, sem a intermediação
dos barraqueros montevideanos. Tratava-se de passar às mãos dos comercian-
tes estaduais a acumulação de capital que se fazia junto aos comerciantes plati-
nos, pois com o trânsito e a reexportação, o valor agregava-se ao processo de
mercantilização, no porto platino, e escapava aos comerciantes do Litoral.
Embora existissem algumas possibilidades de acumulação de capital no
pólo produtor, nas charqueadas, frigoríficos e algumas unidades fabris, a
apropriação – alocação dominante – residia na circulação (MÜLLER, 1972, p.
41). Conseqüentemente, tanto o governo estadual quanto os agentes econômi-
cos consideravam que os transportes se constituíam num verdadeiro proble-
ma ao desenvolvimento econômico do estado, ou, pelo menos, num de seus
principais entraves. Observe-se que a questão fundamental não era propria-
mente a dos transportes, mas a do valor de troca das mercadorias. Como toda
a ação reguladora era feita pelo mercado, a produção era aparentemente co-
mandada pela circulação ou pelo menos era essa a acepção da classe dominan-
te. Tanto pecuaristas, charqueadores e comerciantes da Fronteira quanto co-
lonos das lavouras gaúchas da região serrana, junto com os comerciantes do
Litoral, consideravam a questão dos transportes um dos problemas essenciais
(MÜLLER, 1972, p. 45). Assim, tanto o governo do estado, imbuído da sua idéia
de modernização e progresso, caras ao positivismo seguido pelo PRR, quan- Volume 3
República Velha
to os grupos que compunham o bloco no poder consideravam a rede ferroviá- Tomo I
ria e o aparelhamento de um porto marítimo de capital importância para o
crescimento econômico do estado. X.
Borges de Medeiros, já em sua mensagem de 1905, identificava as neces- Comércio e
contrabando na
sidades de um porto para navios de grande calado destinados à economia gaú- articulação
cha, pois aumentariam a rapidez da navegação e diminuiriam as taxas de se- econômica...
a fração da classe dominante gaúcha desalojada do aparelho estatal lutou para ampliar
as bases de representação do estado, a fim de conseguir acesso aos cargos de de-
cisão e participar da elaboração das diretrizes governamentais.
Volume 3
República Velha
Tomo I
X.
Comércio e
contrabando na
articulação
econômica...
333
História Geral do
Rio Grande do Sul
Susana Bleil
de Souza
334
Capítulo XI
A ECONOMIA E A INDÚSTRIA
DA MADEIRA
335
Industrialização e territorialização da madeira
Sabe-se que no período da República Velha desenvolveu-se uma estrei-
ta ligação entre imigração/migrações e a economia da madeira no Rio Gran-
de do Sul. Esse processo deu-se, dentre outros aspectos, pelo viés do ambiente
construído, pelo aspecto da limpeza do terreno para produzir ou para criar o
gado (pastagens), pela mercantilização da madeira, seu uso como insumo nas
lides da unidade familiar, na constituição e representação do poder local em
sua interligação com a propriedade da terra e a rede de comércio local e regio-
nal.
Somam-se a esses processos, no período, as formas diversas de expropri-
ação de caboclos e índios que viviam do extrativismo e foram envolvidos no tra-
balho da extração, industrialização, transporte e comercialização da madeira,
bem como pelos processos, não muito edificantes, de apropriação da terra por
grupos do ramo madeireiro e colonizador, comumente expoentes do grande
capital internacional, nacional e regional, ligados ou não aos processos de
ocupação das regiões e fronteiras agrícolas do Rio Grande do Sul.
A expansão da extração da madeira no final do século XIX e nas primei-
ras décadas do século XX possuiu um vínculo profundo com o desenvolvimen-
to da agricultura e a valorização e capitalização das terras, ambos sendo vis-
tos e interpretados como representação do progresso. Muitos comerciantes
e industriais do ramo capitalizaram-se, bem como abriram possibilidades para
a consolidação de rendeiros e proprietários de terra no Rio Grande do Sul.
Atores sociais, econômicos e políticos organizaram-se em razão do traba-
lho, da renda da terra, da exploração de recursos florestais, da presença da
ferrovia e seu recorte do espaço agrícola, desenhando trajetórias de ocupação,
valorização e territorialização do mesmo. Integrado a esse processo estava a
introdução de relações modernas de produção e de vínculos mercantis na base
das relações sociais, ocupação privada e econômica da terra, pela mescla de
relações produtivas entre uma agricultura de alimentos com características
históricas do desenvolvimento da pecuária, pela convivência – não de forma
História Geral do
Rio Grande do Sul pacífica – de relações capitalistas com formas não-capitalistas de produção, pela
dimensão rentista da terra com as formas avançadas e pretéritas de apropria-
ção capitalista e produtiva da mesma.
João Carlos No caso específico do colono (i)migrante, as matas ganharam sentido na
Tedesco, lembrança dos primeiros desbravadores porque foram tocadas pelo trabalho
Liliane I. M. Wentz
como se fosse a natureza trabalhada. O pioneirismo e o desbravamento fun-
dam-se neste (inter)relacionar-se espacial como local visível de trabalho, para
336
o trabalho e/ou que necessita de trabalho; local em que se pode morar, fazer
roça; lugar da realização da vida e da cultura do colono. Esse processo simbo-
liza dimensões de complementaridades hierarquizadas, valorizadas e inter-
cambiadas a partir do sistema de trabalho, da convivência da família e da
possibilidade de apropriação privada da terra, dos frutos da terra (madeira)
e do trabalho sobre a terra.
A grandiosidade manifesta no sentido simbólico da expressão da nature-
za íngreme, como atividade rudimentar que se transforma em domínio do na-
tural e cultural do homem através do trabalho, recoloca a dimensão do va-
lor de uso da natureza, mas também o uso como valor. É por isso que as pri-
meiras serrarias artesanais surgiram com a necessidade da economia domés-
tica e para abastecer os nichos de mercados dos núcleos coloniais. Existia uma
interligação entre pinhais e terra, entre terra com produção/criação e os pi-
nhais. Com o aumento da população, ocorreu a necessidade de mais terras
cultiváveis e de mais matéria-prima; como conseqüência, intensificou-se o corte
dos pinheiros, do cedro e de outras madeiras de lei.
Dinâmicas econômicas não necessariamente são condicionadas por lógi-
cas de organização ideológica político-estatal. Porém, ainda que se opte por dar
um limite temporal à análise, o período estudado é paradigmático na compre-
ensão do tema em questão. Novos espaços, novos processos organizativos do
setor, novos vínculos mercantis e novos elementos misturados com os anteri-
ores continuaram a dar dinamismo ao setor durante o Estado Novo.
Enfatizamos, sinteticamente, alguns aspectos de fundo do contexto bra-
sileiro e gaúcho no período e que possui correlação com a atividade em ques-
tão. O que caracterizou o Brasil do fim do século XIX e da primeira metade do
século XX, dentre outros aspectos, foi a intensa transformação sociopolítica e
econômica. Problemas como o da transição para uma economia de mão-de-
obra assalariada e a centralização do poder começaram a produzir rupturas
no modelo administrativo, vigente desde os tempos da colônia.
Apesar de possuir basicamente as mesmas contradições estruturais do Volume 3
restante do país, o Rio Grande do Sul seguiu o caminho inverso dos demais República Velha
Tomo I
estados da nação, no que tange à forma como se deu a consolidação do capita-
lismo em termos econômicos e políticos. No Rio Grande do Sul, tais transfor-
mações ganharam uma diretriz ideológica definida sob a égide da teoria XI.
A economia e a
comtista, com a consolidação de uma nova elite política dominante, cujos prin- indústria
da madeira
cipais representantes foram, respectivamente, Borges de Medeiros e Júlio de
Castilhos.
337
O que chama a atenção, no caso gaúcho, é o fato de que em uma conjun-
tura de federalização como a da República Velha, os poderes políticos foram
paulatinamente sendo outorgados às elites regionais que os exigiam ainda no
período imperial. No estado gaúcho, a acomodação política das elites sob do-
mínio do novo sistema, deu-se somente após uma guerra, na qual a elite polí-
tica vigente, representante da tradicional oligarquia rural sulina (onde a pe-
cuária e a charqueada eram a base do sistema econômico), fora alijada do po-
der por uma nova elite política capaz de aglutinar os inúmeros setores sociais
emergentes das transformações estruturais iniciadas na última metade do
século XIX.
A partir de 1870 evidenciam-se as contradições internas do sistema escra-
vista no Rio Grande do Sul principalmente em torno da existência de uma eco-
nomia de desperdício da força de trabalho, baixa produtividade, impossibili-
dade de adequação entre a oferta e a demanda e de baixa capitalização.
Sob a influência do espírito progressista, de modernização social e de
centralidade política do governo positivista, é que, então, a partir do advento
da república, o estado gaúcho começou seu processo de industrialização, as-
sentado sobre a acumulação de capital obtida pela produção pastoril charquea-
dora (ainda a principal fonte de divisas do estado), e também pela crescente
História Geral do
Rio Grande do Sul economia colonial-camponesa, em especial teuto-italiana localizada nas encos-
tas inferior e superior do planalto (MAESTRI, 2001, p. 67).
No Rio Grande do Sul, a economia desenvolvida em termos de uma agri-
João Carlos cultura comercial, especialmente no que tange à agricultura familiar, existente
Tedesco, principalmente nas regiões de imigração, fora capaz de manter o abastecimen-
Liliane I. M. Wentz
to interno através das exportações nacionais que caracterizaram a tradição
econômica do Rio Grande do Sul. O acúmulo de capitais, dava-se, então, não
338
COSTA, 1922.
Madeira transportada em
carroças. Alfredo Chaves, 1922.
(2)
(3)
1 e 2) Estação Pinheiro
Marcado; 3) Estação Pulador.
Passo Fundo. Linha férrea
Marcelino Ramos-Santa Maria.
1922.
Era uma redução nas taxas apenas para o transporte de caixas, não para
toda a classe, de modo que as queixas em relação ao valor dos fretes e à falta
de vagões para o transporte continuaram.
Por meio de uma circular, expedida em 12 de março de 1937, convoca-
ram-se todas as associações comerciais envolvidas com o ramo da madeira
para se reunirem em Cruz Alta, no dia 28 do mesmo mês, a fim de decidirem
sobre as providências a serem tomadas em razão da falta de vagões para o
transporte de madeiras e elegerem dois delegados para representar a classe
junto à Viação Férrea. Houve, ainda, o envio de um telegrama para o diretor
da Viação Férrea, Pantoja, relatando a situação em que se apresentava a in-
dústria da madeira. Em resposta, o engenheiro Celso Pantoja expôs o seguin-
te: “O desenvolvimento vertiginoso de todas as atividades produtoras do Rio
Grande do Sul atinge, neste momento, índices jamais observados” (A Federa-
ção, 1937, p. 1). Para poder atender às grandes exigências da produção rio-
grandense, a Viação Férrea assinou um contrato para adquirir 11 locomotivas
História Geral do
Rio Grande do Sul
tipo Mountain e 300 vagões fechados para o transporte de mercadorias, inclu-
sive madeiras, pois tinha portas nas extremidades.
Enfim, não podendo ir muito além, pode-se afirmar com certeza que fo-
João Carlos
ram muitos os atritos entre madeireiros e representantes da Viação Férrea,
Tedesco, obrigando que as autoridades governamentais formassem o ponto de equilí-
Liliane I. M. Wentz
brio (o que nem sempre era possível e intencional por parte do mesmo), arti-
culando estratégias que contemplassem ambas as partes, pois as madeiras,
354
para manter a qualidade comercializável, exigiam cuidados especiais no que
se referia a estocagem e armazenamento. Os comerciantes de madeira recla-
mavam constantemente da má distribuição de vagões entre as estações expor-
tadoras, considerando algumas privilegiadas, como a estação de Cruz Alta,
que era pequena produtora e recebia mais vagões semanais do que a estação
de Carazinho, por exemplo, destaque do Planalto gaúcho na exportação de ma-
deiras nas décadas de 20-30. A discussão sobre a falta de vagões se estendeu
desde o início do uso dos trens para o transporte, controlados pela Compagnie
Auxiliaire, até aproximadamente 1950/55 sob controle do estado, quando mui-
tas empresas mudaram-se para outros estados ou optaram pelo transporte
rodoviário, que, com a criação do DAER, em 1938, passou a ligar os centros de
produção aos portos ou estações alfandegárias.
Porém, não se pode deixar de dizer também que a localização das matas
de pinheiros, distantes dos portos exportadores do Rio Grande do Sul, tornou
a comercialização do pinho dependente das condições de transporte, especial-
mente o ferroviário. Vemos isso na figura a seguir, onde um desvio férreo é car-
regado de madeiras retiradas no próprio mato. Devido, também, à superpro-
dução de madeira de pinho nos anos de 20 e 30, a quantidade de madeira
empilhada ao longo das linhas férreas ultrapassou em muito as possibilidades
de embarque. Esse impasse, contudo, não pode ser atribuído apenas à Viação
Férrea, mas também, igualmente à própria irracionalidade da produção ma-
deireira do Rio Grande do Sul, pois a produção não era controlada oficial-
mente. Os madeireiros iam derrubando, serrando e empilhando a madeira ao
longo da ferrovia, mesmo quando não havia possibilidade de embarque.
O mesmo autor afirma, ainda, que além do espaço dedicado para a igre-
ja, ficava assegurada a presença de escolas para as crianças. Para Radin
(2001, p. 81),
História Geral do
Rio Grande do Sul
João Carlos
Tedesco,
Liliane I. M. Wentz
372
Balsa de toras de madeira, com
acampamento em cima. Rio Uruguai.
Acervo Carlos F. Fünfgelt. Álbum fotográfico da
história de Erechim, 2000.
Volume 3
República Velha
Tomo I
XI.
A economia e a
indústria
da madeira
373
Balsa de toras de madeira, com
acampamento em cima. Rio Uruguai.
Acervo Carlos F. Fünfgelt. Álbum fotográfico da
história de Erechim, 2000.
História Geral do
Rio Grande do Sul
João Carlos
Tedesco,
Liliane I. M. Wentz
374
Volume 3
República Velha
Tomo I
XI.
A economia e a
indústria
da madeira
375
História Geral do
Rio Grande do Sul
João Carlos
Tedesco,
Liliane I. M. Wentz
376
Capítulo XII
OS DESCENDENTES DE ALEMÃES
Volume 3
a cidadania do Reich pode ser concedida a um ex-alemão que não tenha se República Velha
Tomo I
estabelecido na Alemanha; torna-se igual ao ex-alemão todo aquele que dele
descenda ou tenha sido adotado na infância (REICHS GEZETSBLATT, 1913, p.
589).
XII.
Os descendentes
de alemães
Em 1914, muitos ex-alemães e teutos, meses antes da eclosão da guer-
ra, residentes no Brasil, solicitaram a concessão da cidadania nas Legações Di- 379
plomáticas alemãs. A maior parte das solicitações, analisadas até 1914, ainda
no Brasil, receberam parecer inicial desfavorável por parte de diplomatas aqui
sediados. Mesmo assim, os pedidos foram enviados ao Ministério do Exterior
da Alemanha, ao qual competia a decisão final, e que acabou por não alterar
os pareceres.
Analisando os pareceres dos diplomatas sediados em território brasilei-
ro na época, verifica-se nas anotações (e isso certamente pesou na decisão fi-
nal), que os solicitantes eram pessoas de poucas posses, de idades avançadas,
morando com filhos e netos e com pouco prestígio. A concessão da cidadania
foi recomendada quando se tratava de solicitantes com boas condições finan-
ceiras e que se mostravam ativos na propagação do Deutschtum nas regiões
em que se encontravam.
Segundo informações de funcionário da Embaixada da Alemanha, a Lei
de Cidadania de 1913 permaneceu em vigor até 2003, e, por intermédio des-
sa, milhares de descendentes de teutos do Sul do Brasil – cujos antepassados
da linha masculina se preocuparam a cada 10 anos em fazer o registro no Con-
sulado – possuem, na atualidade, a cidadania alemã, ainda que não conheçam
a terra de seus antepassados, muitas vezes por não possuir condições finan-
ceiras para visitar a Alemanha.
Na tentativa de fazer uma comparação sobre os efeitos das leis dos dois
países sobre a concessão da cidadania, pode-se aventar que no Brasil ela sur-
giu, em parte, para integrar estrangeiros a fim de fortalecer o regime repu-
blicano recém-criado e para que, em caso de eventual levante contra o novo
governo, pudessem ser recrutados soldados para lutar contra os revoltosos,
sendo a Marinha brasileira então reconhecidamente monarquista, um setor
no qual poderiam surgir revoltas (o que se comprovou em vários momentos).
Na Alemanha, a lei surgiu com o objetivo de, em caso de um conflito interna-
cional, que já se prognosticava há anos, permitir o recrutamento de soldados
entre os milhares da alemães que haviam deixado o país, e, ao mesmo tem-
po, dificultar a concessão de cidadania a milhares de estrangeiros que se en-
contravam na Alemanha, a maioria constituída por poloneses e judeus
História Geral do
(KOTHE, 1991).
Rio Grande do Sul O ato da concessão da cidadania brasileira, uma benesse governamental,
uma tentativa de integrar os milhões de estrangeiros que viviam no país, não
trouxe maiores benefícios. No cotidiano, continuaram a ter pouca represen-
tação política em nível estadual e nacional, não somente naquele período,
Mercedes Gassen
Kothe como também nas décadas posteriores, continuaram a ser vistos como cida-
dãos não-confiáveis. Eram desejados para o trabalho agrícola, para o comér-
380 cio e indústria, mas não para exercer atividades políticas.
Após a proclamação da república, até 1912, ocorreram várias revoltas,
identificadas por muitos como tendo origem entre forças que se haviam uni-
do em torno do novo regime de governo e monarquistas. Pode-se afirmar que
muitas ocorreram tendo como finalidade básica exigir um governo mais demo-
crático e não pelo desejo de reinstalar a monarquia. Entretanto, o novo gru-
po no poder não atendeu aos anseios de grupos que estavam marginalizados
no período monarquista e que esperavam melhorias sociais sob o regime re-
publicano.
Sobre os rumos que a república estava tomando e as perspectivas para
os alemães no Brasil, encontrou-se o seguinte parecer: “Os colonos alemães
eram fiéis partidários da monarquia... Hoje tornaram-se bons republicanos.
Se eles podem esperar benefícios da república, é duvidoso” (Potsdam AA. nº
30262). A atitude dos políticos republicanos para com os teutos não foi diferen-
te daquela executada anteriormente pelos políticos monarquistas, ou seja, con-
tinuaram a ser ignorados, ou temidos quando reivindicavam melhorias para
suas áreas. Quando convinha, tanto para as forças governamentais quanto
para as revoltosas, foram engajados nas lutas que ocorreram no estado.
A mudança do sistema político e do regime de governo não alteraram
essencialmente o panorama nacional. O povo ficou à margem do processo, não
participou dele e pouco recebeu em termos de melhorias sociais. Um perió-
dico paulista assim se manifestava:
Dos alemães do Sul do Brasil, pode-se falar como de um povo em si. [...] Os
Volume 3
brasileiros de hoje devem acostumar-se com a idéia de que milhões irão falar República Velha
alemão e portar-se como tal. Qual o impedimento para que o Brasil se torne Tomo I
A maioria dos alemães adotou a cidadania brasileira, mas seus ideais são ale-
mães. No Sul tornaram-se elemento predominante. Fábricas, comércio, esco-
las e igrejas estão em toda parte. A língua alemã ultrapassou a língua oficial do
país (New York Journal).
Antes de existir uma pátria alemã dizia-se na Inglaterra: “A França tem colônias,
e não tem colonos; a Alemanha tem colonos mas nenhuma colônia; a Inglater-
ra tem os dois”. Hoje temos colônias, e teríamos também colonos, mas não
os enviamos para essas colônias (S TAATSARCHIV H AMBURG ,
AUSWANDERUNGSAMT).
COSTA, 1922.
História Geral do
Rio Grande do Sul
Mercedes Gassen
Kothe
392
COSTA, 1922.
Balsa com
cavalos. Ijuí.
COSTA, 1922.
Balsa. Rio Camaquam.
São Borja.
COSTA, 1922.
Volume 3
República Velha
Tomo I
XII.
Os descendentes
Balsa. Rio do de alemães
Peixe. Erechim-
Passo Fundo.
393
História Geral do
Rio Grande do Sul
Mercedes Gassen
Kothe
394
Capítulo XIII
IMIGRANTES ITALIANOS:
PARTIR, TRANSITAR, CHEGAR
(1889-1930)
Partir
Em um século, isto é, entre 1860 e 1960, cerca de 20 milhões de pessoas
emigraram da Itália e mais de sete milhões estabeleceram-se definitivamen-
te no exterior. Os fluxos emigratórios ampliaram-se com a abertura das rotas
transoceânicas, no último quartel do século XIX, e com o concomitante cres-
cimento da demanda por trabalhadores nos países americanos, em acelera-
do processo de transformação. À tradicional mobilidade dos artesãos italianos
em direção a outros países europeus, somaram-se grandes contingentes de po-
pulação rural em trajetórias geográficas muito mais amplas. Na América, en-
contrariam conterrâneos: artesãos, comerciantes, artistas, profissionais libe-
rais e exilados políticos que, desde as primeiras décadas do mesmo século, atra-
vessavam o oceano.
Quanto à abertura de rotas transoceânicas, sabe-se que num curto perío-
do de tempo as viagens tornaram-se bem mais rápidas e seguras. O genovês
Gagliardo dá conta dessa transformação, em manuscrito autobiográfico, regis-
História Geral do
trando que, em 1847, viajara 57 dias para chegar à Nova Iorque e que, em 1861,
Rio Grande do Sul só precisou de 17 dias para alcançar a mesma cidade. A navegação à vela ha-
via sido substituída pela navegação a vapor; multiplicaram-se os portos de em-
barque e as companhias com linhas regulares para os países americanos. Con-
tudo, foi através de Gênova que partiu o maior número de emigrantes, des-
Núncia Santoro
de Constantino de a primeira metade do século XIX; entre 1876 e 1901, 61% da emigração
transoceânica dali saiu. Nos anos sucessivos, há predominância de emigran-
tes meridionais, em maior parte direcionados aos Estados Unidos; o porto de
396
Nápoles então ocupou o primeiro posto em número de embarques (MOLINARI.
In: BEVILACQUA, 2001, p. 237).
Na verdade, as causas dessa emigração italiana transoceânica são bem
conhecidas. Pode-se afirmar que o movimento derivou de razões demográficas,
da implantação do sistema capitalista, da crise agrícola que alcançou seu pico
na década de 1880 e da escassez de moeda circulante.
As razões demográficas apontam para uma significativa queda nos índi-
ces de mortalidade e para uma estabilidade no índice de natalidade no últi-
mo quartel do século XIX. Algumas transformações vinham ocorrendo, capa-
zes de modificar o nível de vida: drenagens, irrigações, produção para o mer-
cado externo, decomposição das propriedades eclesiásticas e reconversão de
antigas propriedades feudais. O incremento demográfico resultou também de
circunstâncias externas, como progressos da medicina e das concepções de
higiene, assim como da melhoria de padrões alimentares.
A unificação da península acelerou o ingresso no sistema capitalista, a
partir das regiões setentrionais. A introdução da máquina em larga escala au-
mentava os capitais à medida que restringia o mercado de trabalho, desalo-
jando os homens de suas ocupações tradicionais e destruindo o artesanato que
aumentava a renda do agricultor. O processo de acumulação decorrente
do desenvolvimento industrial italiano ocasionou a desintegração econô-
mica e social do campo, caracterizada em muitas áreas pelo miséria rural,
pela desocupação, pela redução do consumo a limites insuportáveis (SORI,
1979, p. 13).
No meridione, onde as fábricas eram praticamente inexistentes, as con-
dições tornar-se-iam ainda mais difíceis no período pós-unitário, segundo re-
latório da época referente à Calábria. Eram enormes as áreas de terra não-
cultiváveis, freqüentes os terremotos; recebia-se salários de fome, o pastoreio
encontrava-se decadente, não havia organização associativa e os serviços pú-
blicos eram insatisfatórios, sobretudo a instrução; as habitações mostravam-
Volume 3
se insalubres, perceptíveis as carências alimentares; pequenas e tradicionais República Velha
manufaturas desapareciam, incapazes de concorrer com a indústria setentri- Tomo I
Concluindo:
Os tempos eram outros. A revolução terminara e, em 1898, Júlio de
Castilhos foi substituído por Borges de Medeiros que falou, ao tomar posse,
deixando claras suas intenções sobre a imigração e emitindo parecer favorá-
vel aos italianos. No mesmo ano, recebendo o embaixador Antonelli, o presi-
dente discursou enfatizando o culto da lei e da ordem entre os imigrantes italia-
nos, assim como o progresso que se verificava nas suas comunidades. Disse,
por fim, que “a colônia italiana, durante a revolução, quando todas as regiões
do estado encontravam-se em agitação, se mantinha em paz, respeitando a lei,
sem que jamais fosse interrompido o trabalho” (DE BONI, 1983). As antigas
colônias do interior passaram a ser cuidadosamente incentivadas pelo gover-
no que, além de pretender neutralizar os chamados “quistos étnicos”, incen-
tivava mudanças nas relações de produção, estimulando o crescimento de
uma classe social intermediária. O ingresso de italianos passou a caracterizar-
se pela imigração espontânea em detrimento da subvencionada, segundo di-
retrizes que foram expressas nas Teses Financeiras e Econômicas do Parti-
do Republicano Rio-Grandense.
O governo estadual iria paulatinamente estabelecendo novas colônias no
Planalto, que rapidamente prosperaram, porém, desde 1908, foi reduzindo a
imigração oficial, extinta em 1914, às vésperas da guerra. Pode-se afirmar que,
naquele ano, iniciou-se outra fase na imigração no Rio Grande do Sul, quan-
do o governo reorganizou o serviço de terras e colonização, encerrando a dis-
tribuição de terras devolutas, regularizando os títulos de propriedade e bus-
cando a integração das colônias no estado, principalmente através do sistema
público de ensino recém-criado.
A reativação do projeto de colonização fez-se também sentir na cidade,
onde a presença de imigrantes aumentou e diversificou progressivamente
História Geral do
Relatórios consulares como o de Pasquale Corte, em 1884, fornecem in-
Rio Grande do Sul formações sobre o aumento do número de súditos italianos em Porto Alegre,
que perfazem mais de 10% da população da cidade da década de 1890. O côn-
sul de Velutiis, em 1908, analisou a crise econômica que atingia o estado e apre-
sentou dados sobre as “colônias urbanas”, as quais afirmou serem heterogê-
Núncia Santoro
de Constantino neas e numerosas, constituídas por profissionais liberais, religiosos, artistas,
professores de música e canto; havendo comerciantes, operários, sendo que
414
muitos se encontraram trabalhando nas obras públicas. Destacou que os imi-
COSTA, 1922.
grantes progrediram e enviaram dinheiro à Itália; observou
que na liderança da coletividade italiana estavam surgindo
elementos novos, pequenos comerciantes e artesãos que,
apesar de pouco instruídos, prosperaram pela capacidade
de trabalho. Esclareceu que houve meridionais em grande
número, com predominância de calabreses da província de
Cosenza, especialmente do município de Morano Calabro.
Fazem parte de uma pequena burguesia, entendida como
classe de transição. Trabalham por conta própria em suas
oficinas ou lojas, apoiando-se no trabalho pessoal do proprie-
tário e de sua família. Os relatórios consulares coincidiram
quanto as suas ocupações, destacando que poucos trabalha-
vam para patrões e que a condição do imigrante, em geral, Protásio Alves
História Geral do
Rio Grande do Sul
Núncia Santoro
de Constantino
418
Capítulo XIV
A IMIGRAÇÃO POLONESA
Na Polônia, era
quase inviável tornar-
se proprietário de ter-
ra. Nos séculos XVIII e
XIX, o poder político e
econômico estava nas
mãos da nobreza. A pe-
quena e média burgue-
sia progredia com difi-
culdade, enquanto a
alta burguesia, ligada à
alta nobreza, acelerava o passo, sem questionar a estrutura vigente. “O cam-
ponês polonês, tanto sob o domínio prussiano como sob os outros domínios,
vivia num sistema social altamente hierarquizado. Numa aldeia, as classes
sociais eram nítidas e sua mobilidade muito hierarquizada” (WACHOVICZ,
1974, p. 86). Obrigado a arrendar a terra, o camponês cedia grande parte do
seu trabalho como renda.
“Na área econômica, a situação dos poloneses tornara-se ainda mais cruciante.
Os impostos prediais e territoriais eram tão pesados que os proprietários não
tinham com o que pagar e, para não caírem na prisão, eram forçados a vender
suas reduzidas propriedades” (STAWINSKI, 1976, p. 15).
“O camponês, ávido por terra, da qual tirava seu sustento, vem procurá-la
onde ela existe em abundância, na América. Esta é a grande aspiração dos que
preferem o Brasil como seu novo habitat. Noventa por cento dos que vieram
para este país são agricultores” (WACHOVICZ, 1974, p. 27).
Colonização e povoamento
“As casas eram pequenas e mal ventiladas. Antes de emigrarem, muitos campo-
neses moravam em casas locadas. Muitas casas – budynek, chalupa, chypa, dom
e strzecha – eram desconfortáveis, sem instalações sanitárias, assemelhando-se
às choças medievais” (TEMPSKI, 1971, p. 309-313).
Volume 3
República Velha
Tomo I
XIV.
A imigração
polonesa
431
definitivo. Devido às dificuldades geográficas e de cultivo do solo, como já as-
sinalado, vários foram os casos de negociação da dívida colonial, aspecto que
fazia com que o título definitivo levasse um período maior para ser entregue
ao proprietário.
As regiões onde destinavam os imigrantes poloneses no estado do Rio
Grande do Sul eram acidentadas e de difícil acesso, pois os melhores terrenos
já haviam sido ocupados pelos alemães, judeus e italianos. Dentre vários exem-
plos, pode-se citar o município de Áurea, situado no norte do estado, que teve
suas terras classificadas pela Inspetoria Estadual de Terras, majoritariamente,
como de baixa qualidade produtiva e com presença de diversos acidentes geo-
gráficos (WENCZENOVICZ, 2001, p. 112).
Entretanto, em meio às dificuldades, o que mais lhes interessava, impul-
sionando-os neste reinício de vida, era a possibilidade de se tornarem proprie-
tários. Sabe-se que a baixa qualidade da terra, para um grupo essencialmente
camponês, repercutiu na configuração social dos imigrantes poloneses que
ocuparam espaços em praticamente todo o território do estado do Rio Gran-
de do Sul.
Denota dessa especificidade econômica e social o estigma e o preconceito
vivenciado pelos imigrantes poloneses desde o momento de sua inserção na po-
lítica migratória sulina. Atribuições culturais e sociais sinalizam o processo de
segregação desse grupo, contrastando-se com os demais fluxos migratórios.
O fato de os poloneses emigrarem de um país dominado política,
econômica e culturalmente fez com que os mesmos fossem vistos como “pola-
cos sem bandeira”. Aqui eles são assentados nos núcleos coloniais administra-
dos pelo estado positivista e, para os positivistas, a Polônia estava num pata-
mar inferior aos da Alemanha e Itália. Acresce-se ao contexto as inúmeras di-
ficuldades enfrentadas no momento da instalação dos núcleos coloniais, onde
ocorreram vários enfrentamentos entre funcionários da Inspetoria Geral de
Terras e imigrantes poloneses (GRITTI, 2004, p. 209-210).
História Geral do
Instalação no lote colonial
Rio Grande do Sul
Na propriedade colonial trabalhavam todos os membros da família. Nos
primeiros anos, tiveram que vencer as dificuldades impostas pelo meio, pois
não estavam acostumados com desmatamentos e queimadas. Raízes e tocos
Thaís Janaina
Wenczenovicz representavam outra dificuldade. Havia também a falta de recursos para so-
breviver e para contratar alguém para as tarefas mais especializadas, como a
derrubada de árvores.
432
O lote colonial e a família funcionavam como unidade produtiva, sendo
que o sucesso dependia do bom desempenho da família. O trabalho da mulher
ultrapassava os limites da casa e da educação dos filhos. Ela trabalhava na roça,
no estábulo, no galinheiro e na horta. As crianças eram recrutadas para as
mais variadas tarefas; trabalhavam na roça; cuidavam dos animais e auxilia-
vam no trabalho doméstico.
Nas propriedades, predominava a policultura e a criação de animais, a
qual, geralmente, consistia em aves, porcos, alguns bovinos e cavalos para pu-
xar o arado e a carroça. A idéia central do colono era a auto-suficiência; o ex-
cedente produzido era destinado à venda para comerciantes locais ou regio-
nais.
Alguns produtos colhidos eram destinados ao beneficiamento, dentro de
um incipiente processo de industrialização herdado da Polônia. Destacam-se os
alambiques, que aproveitavam a cana-de-açúcar, os moinhos que produziam a
farinha de milho e trigo e as frutas que se transformavam em polpa e geléias.
Sabe-se que os colonos obedeciam, nas opções de plantio, às oscilações de
mercado, procurando sempre se dedicarem a uma cultura de maior rentabi-
lidade. A vantagem do colono era que se tratava de cultura anual ou bianual,
para enfrentar os momentos de crise.
As dificuldades impostas pelo relevo acarretaram muito trabalho e se
constituíram em obstáculo à ascensão financeira desses imigrantes poloneses
e à sobrevivência da família. A acidez do solo, associada à falta d’água e o ata-
que das formigas deixavam o colono em estado miserável na maioria dos
núcleos coloniais. Entretanto, é nesse cenário que o grupo desenvolveu ativi-
dades visando à edificação e instalação de construções que permitiram a so-
brevivência em solo sul-rio-grandense.
Em geral, as residências tinham medidas de quatro por seis metros e
eram cobertas de pequenas tábuas de madeira, como as moradias italianas.
A casa compreendia um ou dois cômodos: cozinha e quarto, sem assoalho, com
o piso de terra batida. Os imigrantes dormiam em camas trazidas da Polônia
ou em tarimbas construídas por eles. A fumaça e as más condições de higiene Volume 3
eram comuns nessas diminuídas moradias. A cozinha era separada dos quartos República Velha
Tomo I
para isolar o ambiente das cinzas, fumaça, odores e do picumã. Essa lógica de
construção também era habitual na zona colonial italiana.
Ainda não existe um trabalho especializado sobre a arquitetura residen- XIV.
cial e a mobília do grupo polonês no Rio Grande do Sul. O pouco que se sabe A imigração
polonesa
sobre o assunto está esparso em capítulos de estudos sobre o tema e na his-
tória oral. De forma geral, as mesmas condições de produção, os mesmos mate-
433
riais, os mesmos recursos técnicos disponíveis no ambiente determinaram
uma importante unidade no que se refere à moradia colonial.
As famílias não só construíam suas próprias casas como fabricavam tam-
bém seus móveis e peças de vestuário. No mobiliário encontravam-se bancos,
mesa, guarda-comidas e, nem sempre, o armário. As roupas eram pendura-
das em pregos fixos nas paredes dos quartos, os quais eram predominante-
mente em madeira (WENCZENOVICZ, 2002, p. 87).
Quanto ao mobiliário residencial, acrescenta-se: “Ainda armamos algu-
mas prateleiras para a guarda de uso diário e construímos com tampos de cai-
xas, uma mesa tosca e alguns bancos. Já podíamos então comer, sentados à
mesa” (WEISS, 1949, p. 49). O guarda-roupa era o prego. As melhores peças
do vestuário, usadas geralmente em eventos religiosos e festivos, reservava-
se o canto dos quartos onde pregava-se uma madeira sem farpas para não com-
prometer as peças que posteriormente seriam penduradas. As roupas sujas
iam para o tanque ou para cestos designados para este fim. O processo de higie-
nização, lavagem e preservação do vestuário familiar era reservado ao universo
feminino.
Além da casa, as propriedades possuíam outras construções, duas delas
muito importantes: o galpão e o abrigo de animais. A facilidade de acesso a um
ponto de abastecimento de água foi determinante na localização da casa, do
galpão, do abrigo dos animais e do banheiro.
Nas proximidades da residência, os imigrantes construíram o galpão, de
utilidade variada, que servia como depósito de implementos agrícolas, ofici-
na e de local para as crianças brincarem em dias chuvosos. Na região colonial
italiana, o galpão era um prédio erguido sem acabamento esmerado, bastan-
te utilizado para armazenar os cereais.
Inicialmente, os animais eram encerrados por cercas de arbustos, espi-
nhos e galhos entrelaçados. Mais tarde, surgiram as cercas de taipas de ma-
deira e pedra (fartamente encontrada nas regiões ocupadas por imigrantes po-
loneses), dispensando a estética. Era grande a preocupação com a saúde e se-
gurança dos animais – aves, bovinos, caprinos, muares e suínos –, pois
História Geral do
Rio Grande do Sul
serviam para as lidas agrícolas e como fonte de proteína alimentar.
Com o passar do tempo, surgiram os cochos para o sal dos animais, que
podiam receber coberturas de duas águas, e alguns depósitos para armazenar
cereais, lenhas e forragens. Se fosse possível, construía-se um bebedouro, per-
Thaís Janaina
Wenczenovicz mitindo o acesso dos animais à fonte de água, na área aberta reservada à cria-
ção dos mesmos, diminuindo o trabalho do colono de conduzi-los a outros lu-
gares para saciar a sede.
434
Algumas propriedades tinham apiários, alambiques, coelheiras e peque-
nas oficinas. Também próximas a casa, eram destinadas áreas de plantio para
horta e pomar. Na horta plantavam-se hortaliças e legumes. As árvores frutí-
feras podiam estar espalhadas pela propriedade. Mesmo que a preferência
fosse a carne, devido à escassez deste produto na Polônia, os legumes e vege-
tais eram consumidos fartamente.
Com a melhoria das instalações, solucionou-se a preocupação com os há-
bitos de higiene corporal. Pela construção dos primeiros banheiros colo-
niais, houve a possibilidade de tomar banhos mais demorados e tranqüi-
los. Até então, córregos ou rios serviam de grandes banheiras e os arbus-
tos, de banheiros.
Com a ampliação das áreas construídas, observa-se que o espaço desig-
nado para a realização da higiene corporal e necessidades físicas passaram a
ocupar o mesmo local, porém com características arquitetônicas diferen-
ciadas.
“Uma casinha de um por dois metros dividia ao meio, servindo uma parte para
o W. C. colonial, contendo um banco sobre um buraco fundo, e a outra parte
para o chuveiro colonial, que consistia em uma lata de querosene perfurada e
suspensa por cordão de couro cru” (WEISS, 1949, p. 56).
Volume 3
República Velha
Tomo I
XIV.
A imigração
polonesa
439
História Geral do
Rio Grande do Sul
Thaís Janaina
Wenczenovicz
440
Capítulo XV
OS JUDEUS1
Esses dados, fornecidos por Lesser, indicam que, no final do século XIX,
Isabel Rosa Gritti
período em que a imigração européia ao Brasil foi mais intensa, a imigração
judaica foi pouco significativa, tendo crescido numericamente após a I Guer-
444 ra Mundial.
Entretanto, a presença de judeus no Brasil data do período colonial. Eram
os cristãos-novos, judeus convertidos compulsoriamente ao catolicismo em
Portugal e que, aqui, temerosos de serem descobertos pelos agentes secretos
da inquisição, praticavam os ritos judaicos em segredo.
Mesmo no período pós-1930, quando o Brasil também limitou a entrada
de imigrantes através do estabelecimento de quotas, como determinava a
Constituição de 34, os israelitas continuaram, embora em número reduzido,
a entrar no Brasil.
Do início do século até o período posterior à II Guerra Mundial, a Jewish
Colonization Association e outras instituições de amparo aos imigrantes
israelitas empenharam-se para que os mesmos pudessem encontrar países que
os acolhessem e entre estes estava, naturalmente, o Brasil.
À imigração judaica, inserida no contexto das grandes correntes imigra-
tórias e, por conseguinte, provocada pelos mesmos fatores de expulsão (dese-
quilíbrios demográficos e econômicos nos países de origem) e de atração (a
procura de trabalho e o sonho de conseguir um pedaço de terra), juntou-se
outro elemento: o das discriminações e perseguições de que os judeus eram
vítimas, primeiramente, no Império Russo e, posteriormente, pelo nazismo
europeu.
Em decorrência desse contexto de discriminações, surgiram várias ins-
tituições de auxílio aos israelitas. Entre as numerosas instituições criadas pe-
las ricas comunidades judaicas da Europa para auxiliar seus correligionários
do Leste europeu e dos Bálcãs, encontramos: a Alliance Israélite Universelle,
fundada, em Paris, em 1860; a Anglo Jewish Association, em 1871, em Lon-
dres; a Israelitische Allianz, em Viena, em 1872, e a Hilfsverein der Deutschen
Juden, de Berlim, em 1901.
Porém, a mais poderosa das instituições de amparo aos emigrantes ju-
deus foi a Jewish Colonization Association (ICA), fundada por Maurice de
Hirsh, em 1891, a qual caracterizou-se pelos “formidáveis recursos financeiros
que estavam à sua disposição, recursos que não tiveram paralelo no fim do
século XIX e começo do século XX e, no caso, em nenhuma outra organização Volume 3
dentro do povo judaico’’ (AVNI, 1983, p. 11). República Velha
Tomo I
O auxílio do barão de Hirsh aos israelitas, vítimas da miséria e das per-
seguições, barão anterior à fundação da Jewish Colonization Association. O
financiamento da construção da ferrovia de Viena a Constantinopla possibili- XV.
tou ao banqueiro contato com as comunidades judias, existentes ao longo desta Os judeus
ferrovia. O barão de Hirsh ficou espantado com a pobreza e a negligência dos
judeus do Império Otomano. Eles não eram vítimas da repressão governa-
445
mental, mas da ignorância e da estagnação da economia. “Desde essa época,
ele fazia doações consideráveis de dinheiro para os judeus da Turquia. E, em
dezembro de 1873, ofereceu à Aliança Universal Israelita um milhão de fran-
cos para estabelecer um programa de educação e treinamento vocacional para
eles”.
Segundo Rakos, o barão de Hirsh desprezou a tradicional forma de filan-
tropia de dar gorjetas, que era praticada pelos proeminentes judeus daque-
les dias e que sustentava Yishuv (comunidade) na Palestina. Ele estava espe-
cialmente preocupado com os efeitos nos receptores: isto apenas criaria mais
pobres, o que considerava o grande problema na filantropia, por tornar seres
humanos, capazes de trabalhar individualmente, pobres e, desta maneira,
criando membros imprestáveis à sociedade; acreditava ser necessário erradi-
car as causas da pobreza e não apenas remediar seus sintomas (RAKOS, p. 388).
Ainda na opinião de Rakos, Hirsh, como um credor e beneficiário da Re-
volução Industrial, defendeu a reintegração do ghetto judeu, dentro da ordem
econômica do século XIX. O único remédio à pobreza judaica e o único senti-
do da normalização da posição judaica na sociedade dar-se-iam através da pro-
dução do trabalho. Para o barão de Hirsh, ao povo judeu, era preciso dar a opor-
tunidade para se tornarem trabalhadores úteis e independentes, negociantes,
artistas e agricultores. A existência de uma força de trabalho que tornasse os
judeus auto-suficientes promoveria seu meio de vida e também demonstra-
ria ao resto do mundo que, apesar de prejudicados e restringidos, os judeus
eram capazes de se tornar parte útil na sociedade.
Em 1881, Hirsh voltou sua atenção quase que exclusivamente aos judeus
da Rússia e Leste da Europa, que considerava a mais desesperadora situação
no mundo judeu. A partir deste ano, a vida dos judeus russos tornou-se mais
difícil, pois o anti-semitismo existente na Rússia agravou-se com o assassina-
to do czar Alexandre II.
Com a morte do czar, cujo governo se caracterizara pelo respeito às mino-
rias étnicas, entre elas, os judeus, assumiu o comando do Império Russo o
Czar Alexandre III. Foi sob o reinado dele que se iniciaram os massacres aos
História Geral do judeus. Tais massacres, conhecidos como “pogroms”, estenderam-se até o
Rio Grande do Sul
início do século XX.
O czar Alexandre III manteve todas as leis restritivas e discriminatórias,
usadas especialmente contra os judeus, como o serviço militar que, a partir de
Isabel Rosa Gritti 1827, passou a ser de 25 anos. Isso provocou a fuga de bandos de rapazes que
vagavam pelos campos. As autoridades estimularam a criação de quadrilhas
para caçá-los: quando não encontravam os fugitivos, invadiam as casas, seqües-
446
trando crianças desde os oito anos para vendê-las ao exército. “Como os judeus
eram os mais indefesos, estavam à mercê dessas quadrilhas: perdiam seus
filhos ou pagavam o suborno para serem deixados em paz relativa”
(CHIAVENATO, 1985, p. 204).
Diante deste contexto, Hirsh concluiu que a única maneira de auxiliá-los
seria libertá-los do domínio do czar e colocá-los em países cujos governantes
eram a favor da liberdade e igualdade. Essa posição diferia totalmente daquela
adotada pelos demais líderes israelitas, que se opunham à emigração dos ju-
deus russos.
A Jewish Colonization Association, foi registrada em 1891, como uma
Companhia Limitada, com um capital inicial de 2 milhões de libras, divididos
em 20 mil ações de 100 libras cada. O barão de Hirsh subscreveu 19.991 ações,
enquanto alguns dos mais ricos judeus da comunidade de Bruxelas, Londres,
Berlim e Frankfurt compraram as outras (LESSER, 1989, p. 25).
O objetivo declarado da Associação era assistir e promover a emigração
dos judeus de qualquer parte da Europa ou Ásia e, principalmente, de países
em que eles eram submetidos a impostos especiais ou políticos e outras des-
vantagens, para qualquer parte do mundo e formar e estabelecer colônias em
várias partes do norte e sul da América e noutros países, pela agricultura, co-
mércio e outras atividades. Para realizar esses objetivos, a Jewish Colonization
Association estava autorizada a adquirir qualquer território fora da Europa
através de governos estaduais, municipais ou autoridades locais, corporações
e pessoas (RAKOS, p. 391).
Também, segundo Rakos foi dado poder para estabelecer agências de
emigração em várias partes do mundo, para construir, alugar, fretar e equi-
par navios a vapor e outras embarcações, com o propósito de facilitar a emi-
gração.
Baseado em estudos feitos por seus conselheiros, o barão de Hirsh deci-
diu iniciar sua atividade de instalação de emigrantes russos, na Argentina.
Este país fora o escolhido, porque as informações obtidas indicavam ser o mes-
mo política, econômica e geologicamente adequado aos objetivos estabelecidos. Volume 3
Ainda no mesmo ano da fundação da Jewish Colonizatiom Association República Velha
Tomo I
(ICA), isto é, em 1891, chegavam à Argentina os primeiros imigrantes judeus.
Eram judeus originalmente destinados à Jafa, na Palestina, nesta época sob
o domínio da Turquia, porém devido ao fechamento do porto pelos turcos, di- XV.
rigem-se à Argentina, pois não havia possibilidade de retornar à Rússia. Os judeus
XV.
Os judeus
459
Quadro 2. Colonos Israelitas instalados no Brasil pela Jewisch Colonization
Associaton – 1904-30.
Volume 3
República Velha
Tomo I
XV.
Os judeus
463
História Geral do
Rio Grande do Sul
464
Capítulo XVI
A designação ervateiros será utilizada para o grupo que detém algum con-
trole sobre a extração, comércio e transformação do produto, constituindo-se
num grupo intermediário entre o campo e a mata, gozando de uma posição
socioeconômica que lhes possibilitou, em parte, o controle do poder em áreas Volume 3
e momentos determinados. Distinguiam-se dos coletores ou tarefeiros que República Velha
Tomo I
executavam as atividades de corte, coleta e sapeco da erva, destinada poste-
riormente à fase de transformação e comercialização. XVI.
A questão da terra
O estudo desses grupos apresenta dificuldades, pois não deixaram na ocupação do
documentos escritos e a distância temporal dos fatos não favorece a utilização Norte: caboclos,
ervateiros e
de fontes orais. Alguns processos judiciais têm permitido dar voz a esses ato- coronéis
res sociais e, através dos documentos dos que detinham o poder, pode-se fa-
469
zer inferências dos conflitos existentes. As transformações que se processaram
no espaço regional geraram conflitos e tensões devido à expropriação dos ca-
boclos e a presença de novos sujeitos, especialmente os colonos imigrantes.
Inovações nas formas de produzir e explorar a terra deram origem a dispu-
tas em que se manifesta claramente a questão agrária ou está presente nas
lutas armadas que conflagraram o Rio Grande do Sul no período em estudo.
Juiz Comissário que se acha investido do poder para medir e demarcar os ter-
renos de posse, nem respeito tem da lei de 1861, já medindo posses tão
criminosas, por seus princípios e contra a disposição da lei nº 601 de 18 de
setembro de 1850, art. 1º, que proibiu a aquisição de terras devolutas4.
9 XVI.
Hermann Meyer foi um empresário alemão e editor em Leipzig. Teve grande atuação no
mercado imobiliário da região, destacando-se entre suas colônias Neu-Württemberg, atual
A questão da terra
Panambi, no município de Cruz Alta; a Colônia Xingu, atual Constantina. Ver: ZARTH, Paulo
na ocupação do
Afonso. op. cit. Norte: caboclos,
10
ervateiros e
Ver: Regulamento das terras públicas e seu povoamento. Decreto nº 3004 de 10/08/1922. coronéis
Coletânea de Leis e Decretos do Estado do Rio Grande do Sul. AHRS .
11 Idem. 477
dos com as leis de 1850, 1899 e as posses transmitidas por escrituras de mais
de 30 anos e as áreas de posse efetiva e ininterrupta de mais de 30 anos12. De-
termina os procedimentos a serem observados na discriminação das terras e
legalização das posses.
Vários artigos tratam da intrusão, sendo que o artigo 7º determina que
“os que intrusamente se estabelecerem em terras de domínio público estão
obrigados a despejo imediato, com perda das benfeitorias existentes e mais
indenização dos danos causados”. A lei também se refere a ervais de domínio
público que podiam ser arrendados. A diretoria de terras ficava incumbida de
expedir instruções, regulando a exploração dos ervais. As terras de ervais
poderiam ser aproveitadas na organização colonial, porém seria computado
no preço de venda dos lotes rurais o valor do erval. Quando se tratasse de er-
vais plantados e não simplesmente cuidados, deviam ser equiparados às de-
mais culturas.
Encontra-se, no Arquivo Histórico, um número significativo de processos
de Autos de Medição, relativos à discriminação e regularização das posses. São
mais de 150 processos do município de Palmeira, cuja tramitação se estende
por vários anos, sendo alguns solucionados muito tempo após a solicitação.
A aplicação das novas determinações na região trouxe dificuldades para
muitos posseiros que não apresentavam as condições exigidas para a regula-
mentação de suas terras, pois a atividade seminômade dos ervais impedia o
atendimento de dispositivo de áreas efetivamente cultivadas. Por outro lado,
o processo de colonização com imigrantes/migrantes tinha desalojado os an-
tigos posseiros de suas áreas primitivas, não tendo o prazo necessário para jus-
tificar a regulamentação. Na região da Fortaleza, onde se concentravam as for-
ças maragatas, a Comissão de Terras agia com eficiência, procurando cumprir
a lei, contribuindo para o acirramento das rixas e desavenças.
O apossamento de grandes glebas pelos proprietários das áreas de cam-
po, que tinham o poder e os recursos econômicos para o registro das mesmas,
se constituiu ao longo do período imperial e, sobretudo, durante a República
História Geral do Velha, fator de desestabilização social, que gerou vários momentos de tensão
Rio Grande do Sul
e crise, independentemente das motivações que inspiraram os enfrentamen-
tos em nível estadual. No momento em que as lutas eclodiram no estado, os
setores marginalizados se levantaram em armas, contra o governo que os opri-
Lurdes Grolli
Ardenghi
mia, representado nos coronéis locais.
12 Idem.
478
Poder do campo & poder do mato
A historiografia rio-grandense (ANTONACCI, 1981; PESAVENTO, 1979;
PINTO, 1986; FÉLIX, 1996) tem tratado as questões de luta política como sen-
do uma luta intraclasse dominante, que colocava em confronto os pecuaristas
da campanha com os coronéis do planalto. Essa generalização não se confir-
ma na região que é objeto deste estudo, onde o enfrentamento se dá entre o
poder do mato e o poder do campo, os quais eram constituídos de modo dife-
rente na base econômica e fundiária, em relação aos grupos que se defronta-
vam no estado. A consulta à documentação da época tem confirmado que o
grupo que se levanta em armas, nos vários momentos da história regional, é
constituído pelos marginalizados do poder e que estão associados aos margi-
nalizados na posse da terra.
As questões fundiárias, que vinham se acumulando desde a Lei de Ter-
ras de 1850, adquiriram no início da república, novos enfoques gerados pela
legislação federal e estadual. Sintetizando, pode-se destacar:
• a implementação do registro e transmissão de propriedade pelo sis-
tema Torrens, colocando na ilegalidade as propriedades que não fos-
sem medidas nos prazos estabelecidos;
• as fraudes e usurpações que eram constantes na regularização das ter-
ras;
• a política de colonização que promoveu um avanço sobre as terras pú-
blicas, reduzindo o espaço da economia de cooperação cabocla;
• o comércio das terras através das companhias de colonização, que di-
ficultou ainda mais a regularização ou mesmo aquisição pelos nacio-
nais, enfim, toda série de medidas que contribuíram para a expropri-
ação das terras dos caboclos.
Todos esses fatores demonstram que a desestruturação do modo de vida
das populações da área da mata se manifesta na resistência cabocla ao poder
constituído, representado em nível local pelos coronéis que detinham, além Volume 3
do poder econômico, o controle dos cargos e funções públicas. Daí a intensa República Velha
Tomo I
participação, na Revolução de 1893, dos caboclos da área denominada “For-
taleza”, que correspondia ao limite entre o campo e a mata, onde hoje se loca- XVI.
lizam os municípios de Seberi, Boa Vista das Missões e Jaboticaba. A questão da terra
na ocupação do
No início da república, ocorrem na região alguns fatos que manifestam o Norte: caboclos,
ervateiros e
clima de tensão existente e que mantém-se vivo até o final da República Ve- coronéis
lha. Os coronéis republicanos de Cruz Alta e Palmeira das Missões mantinham
479
estreitos vínculos e laços de cooperação que contribuíam para exaltar os âni-
mos dos oposicionistas. A aplicação de multas, por parte do intendente Eva-
risto Teixeira do Amaral, levou um dos atingidos Antonio Maria da Rocha
Tico, inconformado, a invadir a Vila da Palmeira em fevereiro de 1892 “à pro-
cura de Evaristo e seus sequazes que, avisados a tempo imigraram para
Misiones, Argentina” (SOARES, 1974, p. 180). Escobar registra a cobrança das
multas abusivas que teriam provocado a reação de Rocha Tico. Isso leva a iden-
tificar a emergência de um grupo de contestação ao poder dos coronéis casti-
lhistas, que, aliado aos caboclos da zona da mata, vai estender sua ação por todo
período da República Velha.
Evaristo, ao retornar de seu exílio, continuou a exercer seu papel de au-
toridade regional e, pelo que indicam os fatos que se seguiram, passou a agir
com maior rigor contra os adversários políticos. De acordo com Prestes Gui-
marães (1987, p. 25), chefe federalista, as arbitrariedades corriam soltas e “na
Palmeira, Evaristo Amaral, confiscava tropas de bestas de seus adversários
ausentes e extorquia dos oprimidos indefesos contos e contos de réis a título
de indenizações”.
Essas atitudes teriam contribuído para que “quando tentava extorquir dinheiro
do fazendeiro Gaspar José Fagundes, no Rincão do Cadeado, próximo à Cruz
Alta, o coronel Evaristo fosse morto brutalmente por quinze homens que, num
ato de extremo banditismo, o degolaram, castraram e ainda deceparam suas
mãos e pés” (CAVALARI, 2001, p. 56).
Volume 3
República Velha
Tomo I
local que se dava dentro do Partido Republicano, onde as dissidências foram
constantes. A oposição federalista esteve ativa em todo período, ora levantan- XVI.
A questão da terra
do-se como poder do mato em momentos específicos de mobilização armada, na ocupação do
ora unindo-se à dissidência republicana nos embates eleitorais. Norte: caboclos,
ervateiros e
As lutas coronelistas que se manifestaram em animosidades e rixas po- coronéis
líticas, durante todo período da República Velha, explodiram em novo confron- 483
to armado em 1923. A oposição, que não conseguiu se organizar para fazer fren-
te ao grupo no poder, encontra na reeleição de Borges de Medeiros, em 22,
estímulo para nova mobilização.
Pereira Soares afirma ser a participação de Palmeira “geográfica e social-
mente excêntrica ao sentido dessa luta entre fazendeiros e o poder em mãos
de Borges de Medeiros” (SOARES, 1974, p. 208). Pode-se destacar, nesse sen-
tido, dois aspectos que a diferenciam do restante do estado. O primeiro diz res-
peito ao chefe revolucionário, que em Palmeira não foi um fazendeiro pode-
roso, mas um caudilho-a-pé. E o segundo está na composição das tropas e nas
motivações da luta. Os excluídos da posse da terra estavam prontos a pegar
em armas para derrubar um governo que
consideravam a causa de seus in-
fortúnios. Alguns fatos per-
mitem vincular a luta ar-
mada com a questão da
COSTA, 1922.
terra.
As tropas rebeldes
eram oriundas da região
de Fortaleza, rio da Vár-
zea, Potreiro Bonito,
onde Leonel Rocha reu-
nia o contingente das tro-
pas revolucionárias. A
aplicação dos regula-
mentos, que tinham em
vista legalizar a situação
da propriedade, margi-
nalizou os caboclos que
viviam do extrativismo
ervateiro e, nesse mo-
História Geral do
Rio Grande do Sul
Lurdes Grolli
Ardenghi
História Geral do
Rio Grande do Sul
Lurdes Grolli
Ardenghi
490
visões [...] não serei eu, certamente, a nota dissonante, o óbice à harmonia da
família rio-grandense submetendo-me ao que a maioria resolver20.
Ele, como outros líderes, não aceitou facilmente depor as armas, visto que
o objetivo que os movia não seria atendido de imediato. Contudo, submeteu-
se, conforme afirmou, à decisão tomada pela maioria, assinando, juntamen-
te com os demais generais do Exército Libertador, o acordo negociado.
No entanto, a Paz de Pedras Altas atendia aos interesses da classe domi-
nante, mas não resolveu os motivos subjacentes, que nem mesmo eram expli-
citados pelos federalistas que compunham o poder do mato na área do muni-
cípio de Palmeira. A luta armada não cessava na região, e Leonel Rocha apa-
recia, ora atuando em confrontos de terra e disputas locais, ora aproximan-
do-se do movimento tenentista no período de 1924 a 26. No estado, ocorre uma
nova composição de forças e o controle exclusivo do PRR entrou em declínio.
“Avanços e recuos marcaram este difícil reencontro político, registrando-se con-
flitos e lutas armadas no velho estilo” (ANTONACCI, 1981, p. 111).
Apresenta-se uma conjuntura histórica em que se configuram novas
estratégias na luta política. Assis Brasil mantém sua liderança nas forças de
oposição e, em janeiro de 24, é fundada a Aliança Libertadora (AL) (KIELING,
1984, p. 3). Quando ocorre o levante das guarnições federais de São Luiz, São
Borja, Uruguaiana e Santo Ângelo, a situação da AL se transforma. “Até en-
tão, estava ela manietada pelo compromisso tácito com o governo federal, res-
tringindo-se a atacar – inutilmente – o borgismo e a pedir – inutilmente – fa-
vores à presidência da República” (KIELING, 1984, p. 58). A partir de então,
aproxima-se de outros movimentos revolucionários, tornando-se vulnerável
à influência de setores mais populares. O movimento transpõe os limites de
articulação oligárquica e alguns generais revolucionários, como Honório Le-
mes e Zeca Neto, estabelecem ligações com Prestes, que distribui comunica-
do em Santo Ângelo, já contando com o apoio desses generais na zona da fron-
teira, além do apoio de revolucionários de Palmeira, Nova Würtenberg, Ijuí
e outras localidades. O que se observa nas ações seguintes é que a AL vai in-
corporando-se ao movimento tenentista, absorvendo-o e passando a tratá-lo
Volume 3
como uma questão sua. República Velha
A despeito de Leonel Rocha ser um dos signatários do Acordo de Pedras Tomo I
Altas, poucas mudanças parecem ter ocorrido em sua vida caudilhesca, após
XVI.
o término da revolução. Não desmobilizou totalmente suas tropas, entrando A questão da terra
na ocupação do
20
Norte: caboclos,
Carta de Leonel Maria da Rocha, na condição de general-em-chefe da Divisão da Palmeira, ervateiros e
no Exército Libertador Sul Rio-Grandense, a Setembrino de Carvalho, ministro da Guerra e coronéis
encarregado das negociações para o acordo de paz. 12/10/1923, CPDOC- FGV. p. 1-2. Cópia
no NHP/UPF.
491
noutro outro ciclo de lutas, agora distanciado dos interesses dos coronéis fede-
ralistas da Campanha. O prestígio adquirido nas lutas de que participara, tor-
naram-no um líder natural em outros movimentos de contestação. Na estei-
ra da Coluna Prestes, associa as lutas, na região, aos interesses dos caboclos
nas áreas de colonização. Em 1924, é encontrado em lutas nitidamente rela-
cionadas à questão da terra, ao lado dos caboclos que lutavam contra a demar-
cação da Fazenda Sarandi, conforme se constata na documentação da Direto-
ria de Terras.21 Ataca áreas de colonização onde atuavam companhias parti-
culares como a Colônia Xingu, a Colônia de Tesouras, ao mesmo tempo em
que estabelece vínculos com o movimento tenentista.
O manifesto da AL, em apoio ao tenentismo, é assinado, inclusive, por
Leonel Rocha (KIELING, 1984, p. 64). O próprio Leonel Rocha faz referências
claras de sua adesão, declarando que “levantou forças em Palmeira para fa-
zer junção com Luis Carlos Prestes, que estava em São Luiz. Entretanto, tal
junção não foi possível [...]”22. Em virtude desse fracasso, emigrou novamen-
te para a Argentina, onde também se encontrava Isidoro Dias Lopes, que ali
preparou a invasão do estado, em Libres, para recomeçar a luta.
Na região de Palmeira, o movimento contou, de um lado, com o apoio de
Leonel Rocha, que se solidarizou com Luís Carlos Prestes, e, por outro, com
a perseguição de Vazulmiro Dutra, que impediu que Leonel desempenhasse
o papel que premeditara. Vazulmiro passa a fazer parte do destacamento sob
o comando do coronel Eneas Pompílio Pires, e em 1º de junho de 25, o Ter-
ceiro Corpo Provisório inicia em Santa Bárbara a longa marcha de persegui-
ção à coluna Prestes (SOARES, 1974, p. 228). Diários de campanha registram
essa marcha através dos estados de Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais,
Mato Grosso e Goiás23. A passagem da coluna ficou marcada no imaginário,
porque foi travado, na região, o combate da Ramada, que é considerado um
dos mais sangrentos que a coluna teve que enfrentar.
Nessa nova fase de lutas, Leonel Rocha atacou as áreas das companhias
de colonização, destacando-se inicialmente o ataque à Colônia Xingu, na qual
foi preso Oscar Luiz Meissinger, chefe da colônia, de propriedade de
Hermann Meyer. Sobre esse fato foram localizados poucos registros. Carlos
História Geral do Dhein, representante de Meyer e contemporâneo dos fatos, registra que a co-
Rio Grande do Sul
lônia foi atacada e o filho de Meissinger foi ferido gravemente. Após dominar
a situação, Leonel Rocha chamou todos os colonos, pôs o senhor Simon como
intendente provisório e enviou um escrito ao Meissinger, garantindo sua vida
Lurdes Grolli
Ardenghi
21 Doc. nº 538, Cx. 22, AHRS.
22 Entrevista de Leonel Rocha ao Correio do Povo. 09/05/1944.
23 Diários de Campanha; de 23/05/1925 a 20/09/1925. AVaD/I HGRS .
492
e livre retirada com o seu pessoal se ele entregasse as armas. Rocha levaria a
família para Neu-Würtenberg. De acordo com o relato, a proposta foi aceita,
e o caudilho manteve sua palavra (RENNER, 1997, p. 79).
A seguir, atacou a Colônia Sarandi e Tesouras. Essas passagens constam
do inquérito que apurou o “Movimento Sedicioso”, como foi designado na im-
prensa da época24. O jornal Correio do Povo noticia as audiências que então
se procediam, em Porto Alegre, relativas ao processo dos implicados na Re-
volução de 24. Constata-se que os ataques que ocorreram na região estavam
relacionados com questões locais de luta agrária que encontraram condições
de vir à tona, diante do clima de instabilidade e contestação que a passagem
da Coluna Prestes propiciou. Alguns dos depoimentos que constaram no pro-
cesso dos implicados na Revolução de 24 esclarecem a atuação do líder mara-
gato, que juntamente com outros chefes locais, nitidamente identificados com
o poder do mato, pegaram novamente em armas.
Frederico Westphalen, então intendente municipal, em seu depoimento,
afirma que, em fins de outubro de 24, no município de Palmeira, Leonel Ro-
cha, em combinação com o Batalhão Ferroviário, estacionado em Santo Ân-
gelo, “começou a reunir gente, a fim de dar início a um movimento revolucio-
nário; que, à frente de 200 homens, na sede da colonização particular Xingu,
deu início a esse movimento, travando combate com a força organizada e co-
mandada por Oscar Luiz Meissinger”.25 Em seguida, as forças rebeldes ataca-
ram a colonização particular Sarandi e dela se apossaram, partindo então
para Tesouras. Depois dos ataques, os rebeldes foram perseguidos pelas for-
ças legais e emigraram para a Argentina. Afirma, ainda, que a força sob o co-
mando de Leonel Rocha requisitou mercadorias e dinheiro na Colônia Qua-
tro Irmãos e, em Tesouras, além da requisição de mercadorias, os ataques pro-
vocaram a morte de alguns indivíduos. Um dos depoentes informa que os revo-
lucionários espalharam boletins “nos quais declaravam que pretendiam, com
a revolução, depor o governo federal e alterar a Constituição da República”26.
Como se pode constatar nos depoimentos, os locais de atuação de Leonel Ro-
cha, no movimento de 1924, coincidem com áreas onde atuavam companhi-
as de colonização particular.
Volume 3
Com referência aos ataques à Colônia Sarandi, a correspondência de República Velha
Tomo I
Carlos Torres Gonçalves, diretor de Terras e Colonização, ao secretário de
24 O jornal Correio do Povo em várias edições subseqüentes, nos meses de janeiro e fevereiro XVI.
de 1926, fez referências ao processo dos implicados na Revolução de 1924, sob o título A questão da terra
Movimento sedicioso, transcrevendo parte dos depoimentos colhidos no estado em sucessi- na ocupação do
vas audiências. Norte: caboclos,
25
ervateiros e
Depoimento de Frederico Westphalen, no processo dos implicados na Revolução de 1924.
coronéis
Correio do Povo, 26/01/1926. p. 8.
26 Correio do Povo de 29/01/1926.
493
Obras Públicas permite uma melhor compreensão dos fatos. Comunica ter
sido informado de “graves ameaças” à perturbação da ordem. “Cerca de no-
venta homens armados sob direção de Leonel Rocha ameaçam atacar turma
medição fazenda e em seguida povoado Sarandi, sede da colônia. [...]”27. Ma-
nifesta preocupação com a violência que poderia vir a ocorrer e envia corres-
pondência a Leonel Rocha, buscando estabelecer entendimentos e acalmar
ânimos28.
Sobre a situação da colônia, informa que são
27 Telegrama de Carlos Torres Gonçalves ao secretário de Obras Públicas, dr. Ildefonso Pinto,
Lurdes Grolli em 28/09/1924. Pasta. nº 538, Doc. nº1, Cx. 22. AHRS .
Ardenghi 28 Idem. Anexo nº 2.
29 Carta de Carlos Torres Gonçalves ao dr. Ildefonso Pinto. Pasta 538, Doc. nº. 3, Cx. 22. AHRS.
30 Torres Gonçalves para Ildefonso Pinto, secretário das Obras Públicas de 05/10/1924. Doc.
nº 4. Idem.
494
Engenheiros. Obras públicas.
Sarandi passa a ser alvo da atenção dos maragatos, pois, além de ser reduto de
muitos habitantes caboclos (intrusos da Fazenda dos Castelhanos), aqui se
processava uma colonização de elementos alienígenas que, para os caboclos,
eram gringos, tidos (estes sim) como intrusos [...].
Volume 3
República Velha
Tomo I
XVI.
A questão da terra
na ocupação do
Norte: caboclos,
ervateiros e
coronéis
33 Idem. 497
Frente pioneira. Turma de medição de terras. Erechim.
Acervo Carlos F. Fünfgelt. Álbum fotográfico da história de Erechim. Erechim: Edelbra, 2000.
História Geral do
Rio Grande do Sul
Lurdes Grolli
Ardenghi
498
Capítulo XVII
O MOVIMENTO OPERÁRIO
1 Segundo S ILVA Jr. (2005), houve 98 entidades fundadas até 1890, 63 destas apenas na
década de 1880. 501
(Pelotas, 1886) e a Sociedade dos Trabalhadores da Fábrica Rheingantz (Rio
Grande, 1881), essa última sob tutela patronal, como normalmente o eram
entidades vinculadas a uma determinada empresa.
As associações de socorros mútuos consistiam em uma real necessidade
para todos os setores sociais, provocada pela falta de mecanismos de apoio,
fosse pelo Estado, fosse por instituições que socorressem o indivíduo na doen-
ça, na morte ou no desemprego. Isso influenciava mesmo entidades claramen-
te de representação de interesses, operárias ou patronais, que acresciam a seus
objetivos de representação de classes ou categorias a prestação de algum tipo
de socorro ou apoio material a seus sócios.
Entidades étnicas e classistas, ou ainda de tipo misto entre as duas, vão
predominar em termos associativos, como a Fraternidade Artística e a Har-
monia dos Artistas em Pelotas, ambas de 1881 e de artesãos negros, embora
não exclusivamente. Em Porto Alegre, outras entidades foram criadas com
um claro sentido étnico e classista ao mesmo tempo, como a Societá Protettrice
di Cambisti Italiani, em 1888, e a Sociedade Beneficente de tipógrafos, litógra-
fos e encadernadores alemães, a Verein Deutscher Buchdrucher und
Fachverwandter, em 1884. Em Rio Grande, merece destaque a S. Coopera-
tiva Filhos do Trabalho (1890), por aceitar apenas sócios de etnia negra, em con-
traste com as demais sociedades beneficentes negras no estado, sempre aber-
tas à participação de brancos. Na década de 1880, mais entidades apareceram,
crescendo em número nos primeiros anos da república e conhecendo, poste-
riormente, um lento declínio.
A falta de uma nítida fronteira entre patrões e empregados, naqueles pri-
meiros anos, levou a que suas primeiras tentativas de organização política fos-
sem em conjunto, dentro do grande bloco dos interesses do trabalho. A orga-
nização das classes proprietárias foi iniciada em Pelotas, com a fundação do
Centro Agrícolo Industrial em 1887, entidade de charqueadores, fazendeiros
e industriais que manteve um jornal, o Sul do Brasil. Mas é na luta contra a
tarifa especial, em 1888, que vai surgir o grande elemento motivador da orga-
nização fabril. A chamada “tarifa especial”, mais baixa para os produtos de im-
História Geral do
Rio Grande do Sul portação no estado, tinha sido solicitada pelo alto comércio de Porto Alegre
como uma forma de compensar o forte contrabando, porém representava gran-
de ameaça aos setores manufatureiros e industriais que, já sofrendo o impac-
to do contrabando, ainda teriam que suportar o aumento da concorrência le-
Beatriz Ana Loner gal. Essa proposta dividiu as opiniões e o conjunto das classes proprietárias e
terminou motivando a organização de ligas agrárias e industriais em várias ci-
dades. Em Pelotas, inicialmente, organizou-se o Centro Cooperador dos Fa-
502
bricantes de Calçados, em agosto de 1888, que logo entendeu a necessidade
de uma organização mais ampla, chamando a formação do Congresso Operá-
rio, em março de 1889, montado a partir da representação de setores manu-
fatureiros, o qual transformou-se na Liga Operária, em julho de 1890.
Enquanto isso, em Porto Alegre criava-se, em julho de 1888, uma S. B.
União Operária, organizando-se a partir das próprias oficinas e fábricas. Em
seu segundo ano, fundou aulas noturnas e organizou uma biblioteca para os
sócios; em janeiro de 1889, em reunião conjunta de operários de Porto Alegre
e São Leopoldo, promoveu a fundação da Liga Agrícola e Industrial (LAI), vista
como instrumento político da associação, com a qual compartilhava mili-
tantes. Essa reunião objetivava a consolidação da luta contra a tarifa espe-
cial, tendo, ainda, outro objetivo manifesto: a discussão do projeto de pro-
grama de um novo partido – Liga Agrícola e Industrial. A síntese desse pro-
grama [...] é esta: protecionismo, vias de comunicação, extensão do direito
do voto, imposto eqüitativo, policiamento”2. A essas questões, agregar-se-á
o apoio à república como forma de governo. Esse programa foi assinado na
própria reunião, demonstrando que havia uma complexa elaboração anterior
a respeito da formação do Partido/Liga, significando uma ampla aliança en-
tre os setores do trabalho3.
Ainda não foi possível estabelecer ligações entre o programa desta Liga
e o Manifesto do Partido Operário, publicado em A Federação de 26 de feve-
reiro de 1890, que contemplava os pontos acima mencionados e vários outros,
tratando de retirar amarras ao desenvolvimento econômico do país, en-
quanto apenas dois artigos lembravam o socialismo (regulação da transmis-
são de bens por herança e criação de imposto sobre a renda). Embora fosse
uma proposta moderada, foi colocada como anônimo ensaio4, talvez para tes-
tar sua popularidade, com o jornal dizendo que esse programa “casualmen-
te” lhe chegara às mãos, tendo sido “encontrado em volante na rua”
(PETERSEN, 2001, p. 87).
Em inícios de 1890, a tarifa especial foi eliminada, mas a liga mobilizou-
se novamente, dessa vez contra os bancos de emissão, parte da política
Volume 3
República Velha
2 A Federação de 14/1/1889 e o Onze de Junho, de Pelotas, de 17/1/1888. Tomo I
3 “Está definitivamente constituída em Porto Alegre, a Liga Agrícola, Operária e Industrial”
(Onze de Junho, 22/1/1889).
4 Não se encontrou referência ao grupo que teria bancado o manifesto. A Reforma e o Mercan-
til corroboram que sua distribuição foi clandestina, e a análise demonstra que seu programa XVII.
é demasiadamente eclético para se tratar de um programa apenas operário, contemplando O movimento
questões a que o proletariado se oporia futuramente, como o serviço militar obrigatório, operário
tratando, ainda, da anexação de pequenos estados limítrofes e tornando o casamento obri-
gatório, entre vários outros pontos discutíveis. É necessário observar que naquela ocasião os
jornais publicavam vários ensaios de projetos de Constituição ou programas para o país.
503
econômica de Rui Barbosa, que vai gerar grande inflação no país. Demétrio
Ribeiro, ministro da Agricultura do governo Deodoro, auxiliou no fim da tari-
fa especial, mas demitiu-se pouco depois, por não concordar com essa políti-
ca financeira (BAK, 2000), tornando-se, assim, uma figura muito popular jun-
to aos trabalhadores.
Os acontecimentos do mês de maio contribuíram para evidenciar certa
aliança entre os setores representativos do trabalho e o Partido Republicano
Rio-Grandense (PRR), pois ocorreu uma manifestação popular que terminou
em depredação do Banco de Emissão em Porto Alegre, seguida, poucos dias
depois, por uma desastrada atuação policial na dispersão da comemoração
republicana do 13 de maio. No enterro de uma das vítimas da polícia, compa-
receram à União Operária, a Liga Agrícola e Industrial (LAI) e a União Repu-
blicana. Tais acontecimentos levaram à queda do governo5 e, posteriormente,
a LAI encaminhou proposta de subscrição em auxílio a operários feridos na
repressão a suas congêneres do interior, campanha que coincidiu com o perío-
do eleitoral.
Marcadamente influenciada pelos republicanos, a LAI sofreu as conse-
qüências do processo de disputa interna dentro do PRR, com o surgimento da
Dissidência Republicana, liderada por Demétrio Ribeiro e Barros Cassal, e
opondo-se à liderança de Castilhos. Um grupo importante da liga se solidari-
zou com a Dissidência, enquanto a entidade permanecia sob a influência casti-
lhista. Em fins de 1890, ocorreu a divisão da Liga, com o surgimento de uma
nova entidade (o Centro Operário), formada por Guelfo Zaniratti, Nicolau
Tolentino da Soledade e outros partidários dos dissidentes. E a LAI se trans-
formou na Liga Operária, situada mais próxima da facção de Castilhos, sob a
liderança de João Steenhagen. Comparativamente, o Centro Operário pare-
cia ter mais força, manifestada tanto nos cerca de 300 operários que compa-
receram a sua assembléia de fundação, quanto em suas ligações com o inte-
rior, pois caberia a este coordenar a formação de uma chapa operária para as
eleições da constituinte estadual, além de tentar formar uma espécie de fede-
ração de ligas no estado.
História Geral do De 1888 até 92, criaram-se e extinguiram-se ligas ou uniões, em cidades
Rio Grande do Sul
como Pelotas, Santa Maria, Bagé, Uruguaiana e Rio Grande. Nessa última,
apareceu uma proposta de desenvolvimento da indústria nacional, alicerça-
da no associativismo e na representação de interesses e articulada com a Socie-
Beatriz Ana Loner
tando distante do seu horizonte a perspectiva de uma revolução social. Isso não
quer dizer que fossem “amarelos”, como eram chamados os que só se compor-
tavam conforme o interesse dos patrões e do governo. Eram apenas lideran-
ças que colocavam suas experiências, as especificidades de sua entidade e de
sua base associativa, como critério a partir do qual julgavam as propostas vin-
das dos congressos e dos jornais operários. Em alguns casos, podiam, inclusi-
ve, propor greves ou mobilizações. Em outros, acomodavam-se e só se mani-
festavam quando instados, fosse pelas bases, fosse por outros setores. E reser-
vavam-se o direito de cultivar boas relações com os poderes constituídos, a Volume 3
quem freqüentemente solicitavam a intercessão em assuntos de interesse pri- República Velha
Tomo I
vado ou coletivo, bem como procuravam harmonizar relações conflituosas en-
volvendo seus associados. Enfim, a experiência organizacional das classes tra-
balhadoras é muito variada e faltam estudos sobre fatores, como nacionali- XVII.
dade, gênero ou idade, categorias ou status profissional que podem exercer O movimento
operário
influência sobre o comportamento e as práticas das lideranças e dos seus li-
derados.
513
Contudo, as orientações vindas através dos encontros, jornais, congres-
sos ou práticas de lutas de militantes mais posicionados terminavam, em al-
gum grau, influenciando essas associações e expandindo as propostas desses
grupos, num processo que pode-se chamar de “conquista da hegemonia ideoló-
gica do movimento”. É isso que estará em disputa em Porto Alegre em iníci-
os daquela década. De um lado, havia a proposta socialista, muito vinculada
à figura de F. Xavier da Costa e seu grupo, e desmoralizada, em parte, pela
sua vinculação com a política partidária, o que terminou por dar maior impul-
so às propostas dos sindicalistas revolucionários para o movimento. Essa cor-
rente, que já vinha em regular processo de ascensão dentro dos grupos pro-
letários, motivada tanto pelo desgaste da proposta socialista como pela
frutificação de anos de propaganda e trabalho em associações, jornais, grupos
de teatro e escolas livres, por parte dos libertários, leva a uma grande modifica-
ção na conjuntura do movimento gaúcho, notando-se, no período de 1911 a 13,
a tomada do poder em algumas organizações centrais no estado, como a Liga
Operária de Pelotas e a FORGS, bem como o surgimento de novas associações.
Até pouco tempo, considerava-se “anarquistas” ou “anarco-sindicalistas”
os militantes que defendiam práticas sindicais baseadas na ação direta, violên-
cia proletária, antimilitarismo e greve geral. Entretanto, o estudo de Toledo
(2004) contribuiu para um maior esclarecimento dessas tendências do movi-
mento. Assim, o anarquismo seria uma visão de mundo expressa pela crítica
à expansão do capitalismo e à presença do Estado e favorável à construção de
comunidades autogeridas. Contudo, essa orientação geral se fragmentaria em
uma série de propostas e tendências, algumas delas dando maior ênfase à
educação, outras à violência ou ao isolamento em comunidades próprias e al-
gumas apostando na via sindical. O sindicalismo revolucionário reuniria idéias
socialistas e anarquistas, propondo o sindicato como o grande instrumento de
luta dos trabalhadores, defendendo a luta de classes, a ação direta dos traba-
lhadores e a manutenção de sua autonomia. Teria uma perspectiva de longo
prazo de construção de uma sociedade gerida pelos trabalhadores através dos
sindicatos. Como esse devia se manter autônomo e independente das corren-
História Geral do
Rio Grande do Sul
tes em seu interior, isso permitia o trabalho comum de várias tendências, cada
uma pondo a ênfase no setor que mais lhe conviesse – educação, cultura ou
sindicalismo – motivo da generalizada utilização do termo anarquismo para
referir-se a eles.
Beatriz Ana Loner O florescimento dessa proposta no estado foi marcada não só por uma
maior radicalidade no enfrentamento com os patrões, mas também por um
alargamento das atividades, pois a proposta libertária, ao visar criar um ho-
514
mem novo, apostando na educação e no convencimento dos indivíduos como
base para a transformação social, deu muita ênfase à criação cultural, através
da música, do teatro, da literatura e pela educação, com a fundação de ateneus
e colégios livres, como a Escola Moderna e, especialmente, a Eliseu Reclus,
ambas em Porto Alegre. Para ampliar as bases do protesto contra a socieda-
de burguesa, mobilizaram inquilinos, fizeram protestos contra o aumento do
custo de vida e tentaram arrancar as mulheres da influência da Igreja e da
sociedade burguesa. Enfim, eles apresentaram, pela primeira vez, ao conjunto
dos trabalhadores uma proposta que pretendia revolucionar todos os aspec-
tos das relações sociais, indo muito além de meras transformações políticas.
Com eles, desabrochou o teatro operário, que já estava presente desde
os primeiros grupos socialistas, mas que encontrou seu maior desenvolvimen-
to nessa fase, pois em sua tentativa de ocupar todo o tempo do lazer proletá-
rio, para não deixar que recaíssem sob a influência da Igreja, ou desperdiças-
sem seus tempos livres com mexericos ou álcool, eles inauguraram as vela-
das, promoções para todo o sábado ou domingo, contando com matiné para
crianças, canções e declamações, conferências, bailes e quadros cômicos, além
de peças teatrais cuidadosamente escolhidas para consolidar as crenças e as-
pirações do grupo.
Por exemplo, no curto espaço de 1914 a 18, em Pelotas, eles desenvolve-
ram o Grupo Teatral Cultural Social e outros, além de estabelecer um curso
sobre representação teatral. Criaram uma banda e um grupo musical, além
de uma escola de música para os operários. Na educação, fundaram o Atheneu
Sindicalista e uma escola primária, além de criar a Escola Racionalista em
1918. Houve, ainda, aulas noturnas para mulheres, vinculadas ao Centro Fe-
minino de Estudos Sociais, que também promovia conferências educativas.
Discussão e reflexão filosófica ou política foram tarefas do Centro de Estudos
Sociais (abandonado porque havia participação de elementos burgueses) e do
Grupo Iconoclasta, este um reduto de pensadores anarquistas. Publicaram
dois jornais, A Luta e o Terra Livre, e acresceram a essas tarefas culturais to-
das as demais atividades político-sindicais, como o trabalho nos sindicatos, a Volume 3
fundação da federação local e a formação da Liga de Inquilinos e do Núcleo Pró República Velha
Tomo I
Paz, além do Grupo de Jovens Anti-Militarista, o que criava problemas numa
sociedade militarizada como a gaúcha. Desenvolveram a Campanha pela Paz
e lutas contra a carestia, na qual se utilizavam do espaço público urbano, no XVII.
centro e bairros, em desfiles e comícios que marcavam a presença. O movimento
operário
Pelotas era uma cidade de porte médio, mas que contou com um grupo
libertário muito organizado e coeso. Já em Porto Alegre, havia maior diversi- 515
dade associativa, o que se refletiu em maior número de entidades, embora com
um trabalho menos coordenado. Mas, por todo o estado, proliferaram inicia-
tivas que tinham o concurso de simpatizantes ou militantes dessa corrente,
tanto na questão sindical, quanto na parte cultural. Os sindicalistas gaúchos
participaram ativamente do Congresso Operário Brasileiro de 1913, do Con-
gresso Internacional Pela Paz e do Congresso Anarquista Sul-Americano14, em
1915, e eram filiados à Confederação Operária Brasileira (COB). Lançaram vá-
rios jornais, muitos dos quais de pequena duração, editados em gráficas por-
táteis, como aquela pertencente a Zenon de Almeida, que editou Terra Livre
(1915) e A Luta (1916) em Pelotas e, depois, em Rio Grande o Nosso Verbo
(1920), tendo ainda servido à edição de outros periódicos em Porto Alegre, ci-
dade na qual se destacaram os periódicos A Voz do Trabalhador e O Sindi-
calista, órgãos da FORGS, surgindo, em 1920, Der Freie Arbeiter, que durou
até a década de 1930.
As greves do final da década surgiram pela combinação de vários fatores,
alguns provocados pela Primeira Guerra – que trouxe crise econômica, desem-
prego ou redução salarial, aliada a uma carestia crescente. Por outro lado, a
organização sindicalista havia avançado nesses anos, tanto em termos de sua
influência em associações, quanto em abrangência geográfica. A guerra repre-
sou as reivindicações operárias, o que pode ser visto pela baixa quantidade de
greves nos dois anos iniciais do conflito, situação que começou a mudar em
1916, destacando-se os movimentos dos mineiros de São Jerônimo e dos operá-
rios de pedreiras e calçamento urbano em Porto Alegre. Em 1917, houve a im-
portante paralisação dos ferroviários, mobilizando todo o estado. Dividiu-se em
duas fases, a primeira coincidindo e amplificando a greve geral em Porto Ale-
gre e a segunda, em outubro, caracterizando-se por uma atuação forte, que in-
cluiu depredações de locomotivas, mas, mesmo assim, contou com o apoio da
população e do governo, inclusive com a participação, como delegado dos tra-
balhadores frente ao governo federal, de Borges de Medeiros (BAK, 1998).
A greve geral de São Paulo inaugurou um ciclo grevista extremamente
importante no país, em que, sucessivamente, várias cidades foram envolvidas
História Geral do em movimentos congregando centenas ou milhares de trabalhadores e com
Rio Grande do Sul extrema facilidade a alastrar-se, contagiando outros locais ou categorias. Em-
bora em sua maioria tivessem como objetivo reivindicações salariais ou de con-
dições de trabalho, pareciam trazer muito mais implicações, pois freqüente-
Beatriz Ana Loner
mente, em confrontos com os patrões e a polícia ou através de reivindicações
14 Foi enviada representação ao Congresso Oficialista de 1912, no Rio de Janeiro, mas eles se
retiraram logo após sua abertura, denunciando-o como manobra politiqueira.
516
populares, terminavam se dirigindo ao Estado e interpelando-o com um sen-
tido classista explícito. Essa conjuntura mobilizatória, que perdurou até 1921,
embora com sinais de esgotamento crescentes, foi fundamental para modifi-
car a atitude dos governantes frente à situação operária, fosse dando início à
legislação social no país, fosse através de medidas legais e incremento do uso
de métodos repressivos sobre as principais lideranças.
As greves de 1917 no estado foram planejadas, tendo uma coordenação
central (Liga de Defesa Popular – Porto Alegre; Comissão de Defesa Popular
– Pelotas); combinando reivindicações de trabalhadores, como aumento sala-
rial e redução da jornada de trabalho, com outras de caráter popular, como a
luta contra a carestia de vida e o aumento de aluguéis, o que se refletia na com-
posição mista de sua liderança, com representantes sindicais e populares. Em
Porto Alegre15, a direção da FORGS não era favorável à greve e, devido a isso,
outras associações tiveram maior influência. Em Pelotas, houve uma atuação
conjunta da Liga com a União Operária, ambas representadas na coordenação,
que contou, assim, com elementos mais moderados na direção.
Na capital, ela durou cinco dias, abrangendo categorias de operários de
fábricas, empregados de empresas de serviços públicos, estivadores, operários
de estaleiro e tipógrafos. A cidade praticamente parou devido à paralisação dos
serviços de transporte, com a Liga de Defesa Popular decidindo quem pode-
ria circular pelas ruas e avenidas, as quais eram percorridas por piquetes, bus-
cando aliciar mais operários ao movimento. As atitudes das autoridades, sen-
síveis a muitas das reivindicações, contribuíram para que ela evoluísse rapi-
damente e sem maiores conflitos. À primeira vista, o resultado foi positivo,
mas a intromissão do governo custou caro ao movimento e a alguns militantes
individualmente, que arcaram com o ônus da retirada prematura da greve.
Posteriormente, a aceleração do aumento do custo de vida obrigou a novas
campanhas nos anos seguintes, enfrentando de forma combinada patrões e go-
verno.
Os acontecimentos na capital tiveram desdobramentos em Pelotas, que
iniciou sua mobilização a seguir (LONER, 2001). Aderiram ao movimento cate-
Volume 3
gorias fabris e de serviços, como transporte e construção civil, além dos esti- República Velha
vadores e pessoal do porto. Contudo, já no primeiro dia da greve ocorreu um Tomo I
525
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Volume 3
República Velha
Jornais Tomo I
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546
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Graduação em História da Universidade de Passo Fundo. Publicações: 1) A questão
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fessora titular do curso de História e do Programa de Pós-Graduação em História da
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blicano. Porto Alegre: Nova Prova, 2005. Volume 3
República Velha
Tomo I
BEATRIZ ANA LONER. Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Gran-
de do Sul (UFRGS); professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), do curso
de História e do Mestrado em Ciências Sociais. Publicações: 1) Construção de classe:
Os autores
* As informações dos currículos e das publicações dos autores são resumidas, portanto não
significa que as obras de um autor aqui apresentadas sejam o todo de sua produção intelec-
tual. O mesmo vale para os currículos. 547
operários de Pelotas e Rio Grande (1888-1937). Pelotas: UFPEL/Unitrabalho, 2001; 2) La
lenta construcción de identidades colectivas: trabajadores em el final del império.
Entrepasados. Revista de História. Argentina, v. XV, n. 29, p. 27-42, 2006; 3) Dos cami-
nhos perigosos ao vale das sombras. In: DE CARLI, Ana e RAMOS, Flávia (Org.). Pala-
vra prima: as faces de Chico Buarque. Caxias do Sul, EDUCS, 2006, p. 48-65; 4) O canto
da sereia: os operários gaúchos e a oposição na república Velha. História Unisinos, São
Leopoldo, v. 6, n. 6, p. 97-126, 2002; 5) A história operária no Rio Grande do Sul. Histó-
ria Unisinos. v. esp, p. 53-79, 2001.
GUNTER AXT. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo e pós-dou-
tor pela Fundação Getúlio Vargas, CPDOC-RJ; atualmente é presidente do Instituto
Hominus de Desenvolvimento Sociocultural; professor colaborador da Universidade
Luterana do Brasil; pesquisador associado do Laboratório de Estudos da Intolerância
da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de gestão cultural, memória
institucional e de História, com ênfase em História do Brasil República, atuando prin-
cipalmente nos seguintes temas: história política, poder judiciário e coronelismo. Também
especializou-se como gestor cultural, estando à frente de diversos projetos com ênfase
na área cultural e de patrimônio histórico. É membro dos conselhos editoriais das re-
vistas Métis: História & Cultura, da Universidade de Caxias do Sul; História Hoje, da
Associação Nacional de História; História, da UNISINOS. Publicações: 1) The origins
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evolução histórica. 2. ed. Porto Alegre: Memorial do Ministério Público, 2006; 4) Ajuris,
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ISABEL ROSA GRITTI. Doutora em História do Brasil pela Pontifícia Universidade Ca-
tólica do Rio Grande do Sul (PUCRS); professora da Universidade Regional Integra-
da, Campus de Erechim (URI -Erechim ) e da Rede Pública Estadual. Publicações: 1)
Imigração judaica no Rio Grande do Sul: A Jewish Colonization Association e a colo-
nização de Quatro Irmãos. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1997; 2) Imigração judaica
no Rio Grande do Sul. In: QUEVEDO, Júlio (Org.). Rio Grande do Sul: quatro séculos
de história. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1999; 3) A Revolução de 1923 e a desestabi-
lização da ordem na região de Erechim. In: Anais do II Seminário de História Regio-
nal – A Revolução de 1923-80. Anos do combate de Quatro Irmãos. Getúlio Vargas: Ins-
tituto Histórico e Geográfico de Getúlio Vargas, 2003; 4) Colonização de Quatro Irmãos.
In: 100 anos de amor: a imigração judaica no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Fede-
ração Israelita do Rio Grande do Sul, 2004; 5) Imigração e colonização polonesa no Rio
Grande do Sul: a emergência do preconceito. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2004.
JOÃO CARLOS TEDESCO. Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp; professor do Mestrado
em História da UPF. Publicações: 1) Madeireiros, comerciantes e granjeiros. Lógicas e
contradições no processo de desenvolvimento econômico de Passo Fundo, 1900-1960.
Porto Alegre: EST, 2003; 2) Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e
narração. Caxias do Sul/Passo Fundo: EDUCS/UPF, 2005; 3) Imigração e integração cultural.
Interfaces. Imigrantes brasileiros na Itália. Santa Cruz do Sul/Passo Fundo: EDUNISC/
UPF, 2006; 4) Festas & saberes: artesanato, genealogia e patrimônio imaterial na região
colonial italiana no RS. Passo Fundo: Méritos, 2007.
LUIZ ROBERTO PECOITS TARGA. Doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Volume 3
República Velha
Pierre Mendès-France (Grenoble2); economista da Fundação de Economia e Estatís- Tomo I
tica – Sigmund Emanuel Heuser; criador das Jornadas de História e de Economia Regio-
nal Comparada. Publicações: 1) (Org.). Gaúchos e paulistas: dez escritos de história regio-
nal comparada. Porto Alegre: FEE, 1996; 2) (Org.). Breve inventário de temas do Sul.
Porto Alegre: UFRGS/FEE; Lajeado: UNIVATES; 1998. 3) Le Rio Grande do Sul et la Os autores
MERCEDES GASSEN KOTHE. Graduada em História pela UnB- DF, mestre em Histó-
ria do Brasil, PUCSP; doutora em História Social pela Universität Rostock-Alemanha;
professora de História da Educação na Faculdade de Educação – UnB até junho de 2004;
professora de Brasil Contemporâneo das Faculdades Integradas UPIS – DF, desde 1996;
membro do Instituto Histórico e Geográfico do DF; editora da Revista Múltipla, da UPIS,
desde 1998. Publicações: 1) Os imigrantes na América: isolamento e integração nacio-
nal. In: Relações internacionais dos países americanos. Brasília: UnB, 1994; 2) Ques-
tões diplomáticas entre o Brasil e a Alemanha: 1890-1939. In: Anais do Simpósio: O Cone
Sul no contexto internacional. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995; 3) (co-autora) Brasil – Ale-
manha 1827 1997. Perspectivas Históricas. Brasília: Thesaurus, 1997; 4) (co-autora) III
Simpósio Internacional: Estados americanos: Relações continentais e intercontinen-
tais – 500 anos de História. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. 5) Land der Verheissung. Die
deutsche Auswanderung nach Brasilien 1890-1914. Rostock: Meridian Verlag, 2004.
RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ. Doutor em Filosofia pela Universidade Gama Filho; pós-
doutor pelo Centro de Recherches Politiques Raymond Aron, Paris; professor adjunto Volume 3
República Velha
da Universidade Federal de Juiz de Fora; professor emérito da Escola de Comando e Tomo I
Estado Maior do Exército (RJ); professor visitante do Programa de Pós-Graduação em
Educação do Centro de Estudos Superiores de Juiz de Fora; professor visitante do Ins-
tituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa. Publicações:
1) Patrimonialismo e a realidade latino-americana. Rio de Janeiro: Documenta His- Os autores
Os autores
552
Volume 3
República Velha
Tomo I
Referências
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