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09/10/2020 Schumpeter: inovação, destruição criadora e desenvolvimento | Terraço Econômico

Schumpeter: inovação, destruição criadora e


desenvolvimento
Pedro Lula Mota • 29/09/2016  6 minutos de leitura

Joseph Alois Schumpeter faz parte de um seleto panteão de economistas,


é comprovadamente responsável pela revisão de todo o pensamento
econômico de sua época e fruto até hoje de estudos e reflexões. Nascido
no extinto Império Austro-húngaro, primeira metade do séc. XIX e,
coincidentemente, no mesmo ano da morte de Karl Marx e do nascimento
de John M. Keynes. Schumpeter é considerado um dos economistas mais
importantes da história, sobretudo por suas contribuições na teoria do
crescimento econômico, democracia, estratégias empresarias e história
econômica.
Quem foi Joseph Schumpeter?
O economista austríaco foi um dos vários pensadores que nasceu
embebido na avalanche causada por Charles Darwin e a Teoria da Seleção
Natural, que rapidamente transcendeu as ciências biológicas, para ser
aplicada na ótica das ciências humanas. O economista sonhava contribuir
para a criação da “Economia Exata”, com rigor suficiente para se
assemelhar à física, sendo previsível e passível de controle – porém já no
final de sua vida, pode chegar à conclusão de que a dita “Economia
Exata” é tão incongruente quanto uma “História Exata”.

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Como todo gênio, foi precoce em toda sua vida, depois de formar-se em
Direito na Universidade de Viena no ano 1904, passou um período em
Londres, mas retornou para lecionar na cadeira de Antropologia na região
em que hoje é situada a Ucrânia. E foi lá onde recebeu pela primeira vez
seu apelido de enfant terrible, pois costumava frequentar reuniões e aulas
calçando botas de montaria. Contudo, ao se casar com Glayds Seaves,
mudaram-se para a cidade do Cairo, onde se tornou conselheiro de
finanças da rainha egípcia e tão logo retornou, em março de 1919, para a
Áustria e assumiu o posto de Ministro das Finanças a convite do Partido
Socialista Cristão (não, ele não era socialista), no qual durou pífios 10
meses.
Em seguida, assumiu a presidência do famoso banco Biedermannbank,
em Viena, antiga e conceituada instituição financeira de pequeno porte. O
banco abriu falência em 1924, não somente por conta das difíceis
condições econômicas vividas, mas também pela desonestidade de
alguns de seus diretores, o que fez Schumpeter não só perder toda sua
fortuna pessoal, como ainda ficar totalmente endividado. Finalmente,
depois de muitas idas e vindas, em 1932, Schumpeter assume a cadeira
de antropologia na Universidade Harvard, ali permanecendo até sua morte
e produzindo uma quantidade assombrosa de conteúdo.

Capitalismo, Capitalism, Can Capitalism


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Ele costumava afirmar que o ponto máximo da capacidade criativa do


homem é até os 30 anos de idade, e de fato, quando tinha apenas 25
anos, em 1908, publicou sua primeira grande obra: “A Natureza e a
Essência da Teoria da Economia Nacional” e quatro anos mais tarde, sua
célebre teoria do “Desenvolvimento Econômico” [1]. Ambas
estabeleceram sua importância como teórico da economia. Trabalhava
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compulsivamente, aproximadamente 84 horas semanais e ainda


insatisfeito, de fato além de criador do conceito, também foi
representante do chamado “agente empreendedor”.
O capitalismo como um sistema
dinâmico
Era boêmio e costumava dizer que iria “torna-se o maior economista,
cavaleiro e amante do mundo... mas que os negócios dos cavalos não iam
tão bem”. Contudo, teve o privilégio de vivenciar o capitalismo na sua
forma mais madura (diferentemente de Smith ou Marx), o que lhe permitiu
inferir importantes constatações e voltar-se a questões essenciais da
compressão do que viria ser exatamente o sistema capitalista e
como/porque este vinha funcionando em certos lugares e outros não.
Seu principal ponto era de substituir a teoria estática da Economia, por
sua teoria dinâmica, com um quêde evolucionismo, que ia de encontro às
ideias de outro grande expoente da época, Alfred Marshall [2], cuja
principal teoria seria de que a natureza não dava saltos, reafirmando a
necessidade de melhorias continuas de procedimentos, o que valorizava o
papel de administradores e técnicos. Schumpeter, por outro lado, que
valorizava saltos inovadores, inesperados e não-lineares.

O galanteador de botas de montaria, Schumpeter.


Schumpeter considerava então, que o capitalismo deveria ser estudado
sob a ótica da produtividade e do crescimento, sendo a máxima expressão
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da inovação, luta humana e pura/simples destruição – tudo isso ao mesmo


tempo.
Uma sociedade pode ser considerada capitalista quando funda
seu processo econômico ao sabor dos homens de negócio. Dito isso, as
características do sistema são elencadas:
. A propriedade privada dos meios de produção;
. Produção para o lucro privado, sendo a produção pela iniciativa
particular em caráter privado;
. Ponto importante e crucial: a criação do crédito.
Schumpeter não acreditava que o crescimento podia ser explicado pela
variação populacional, da renda e ou riqueza, uma vez que tais fatores não
resultavam necessariamente em um fenômeno qualitativamente novo,
considerados por ele como mudanças de dados naturais, nada de novo
sob o sol.

O desenvolvimento, em sua visão, é um fenômeno distinto, inteiramente


novo ao usual fluxo circular, na tendência para o equilíbrio ou da nossa
rotina. É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo,
rompimento do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de
equilíbrio previamente estabeleicido, se tornando um “novo normal”  na
vida industrial e comercial, não na esfera das necessidades dos
consumidores de produtos finais.
Sendo assim, finalmente no capítulo II de sua teoria do desenvolvimento,
ele nos apresenta a sua figura central: o empresário inovador. Ele é o
responsável por novos produtos para o mercado, por meio de
combinações mais eficientes dos fatores de produção. Tipificando, as
combinações inovadoras se configurariam nos seguintes casos: i)
Introdução de um novo bem; ii) Introdução de um novo método de
produção, baseado numa descoberta cientificamente inovadora; iii)
Abertura de um novo mercado; iv) Conquista de uma nova fonte
de matérias-primas e v) Estabelecimento de um novo modo de

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organização de qualquer indústria (criação ou fragmentação de uma


posição de monopólio, por exemplo).
O empreendedor, independentemente do porte da empresa em que atua,
é o agente da inovação e da destruição criativa, esta entendida como a
força propulsora não só do capitalismo como do progresso material.
Quase todos os negócios, por mais fortes que pareçam em dado
momento, acabam falindo, e quase sempre porque não foram capazes de
inovar (algumas empresas que foram vanguarda, hoje estão na lata de lixo
da história).
Aqui a teoria schumpeteriana se torna uma derivada dos ciclos de
Kondratieff:

As ondas de inovação são cada vez mais curtas


Fonte: Inovvaservice
Afirma Schumpeter [3]:  “Historicamente, o primeiro Kondratieff [4]
coberto por nossa análise, significa a revolução industrial, incluindo o
prolongado processo de absorção. Nós o datamos dos anos oitenta do
século XVIII até 1842. O segundo cobre o que chamamos de era da
máquina a vapor e do aço. Vai de 1842 a 1897. E o terceiro, O Kondratieff
da eletricidade, da química e dos motores, nós o datamos de 1898 em
diante. ”
O que é destruição criativa?
No sentido elaborado por Schumpeter, a destruição criadora está na
essência da dinâmica do capitalismo, quando novas tecnologias surgem
como ondas, aleatoriamente e geralmente vem acompanhada do aumento
da produtividade do capital e do trabalho, pois os empresários inovadores
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conseguem alocar produtos com vantagens competitivas em relação a


suas concorrentes tecnologicamente desfasadas.
Sua expressão “destruição criativa” adquiriu contornos quase lendários e
é frequentemente repetida em palestras, livros e reuniões empresarias,
tornando-se praticamente senso-comum e palavra de ordem em alguns
ambientes. Contudo, a grande chave de sua sobrevivência dos
empreendedores é o crédito barato e farto, via de regra tais personagens
são financistas, rigorosos com relação ao risco e atentos às novas
oportunidades e de novos negócios.
Assim sendo, em seu capítulo final da teoria do desenvolvimento, o
austríaco trata dos grandes momentos de expansão e retração econômica
– os ciclos econômicos tão comuns no processo de desenvolvimento
capitalista. Portanto, em períodos de prosperidade, o empreendedor ao
criar novos produtos é imitado por uma verdadeira onda de
empreendedores não-inovadores, que investem recursos para emular os
novos bens criados. Consequentemente, uma onda de investimentos de
capital ativa a economia, gerando a prosperidade e o aumento do nível de
emprego.
À medida que as inovações tecnológicas ou as modificações nos produtos
antigos são assimilados pela conjuntura e seu consumo generalizado, a
taxa de crescimento da economia diminui (o que não gera mais ganhos
extraordinários) e assim se inicia o processo recessivo da redução dos
investimentos e a baixa da oferta de emprego. A constante mudança entre
prosperidade e recessão, isto é, da volatilidade da produção é
entendido como um obstáculo periódico e transitório, aparte do curso
normal de expansão da renda nacional, da renda per capita e do consumo.
Anteriormente, o caráter cíclico do capitalismo era explicado pelos
economistas das mais diversas formas, desde a atividade cósmica, do
subconsumo da subpopulação e até colheitas frustradas. Então, nesse
sentido, a grande contribuição de Schumpeter foi delimitar a relação
existente entre o nível de investimento explicado pelo movimento
inovador, e que tão logo é transformado em produtos e posteriormente em
prosperidade, empregos, renda, além do estabelecimento de um novo
paradigma.

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Como já afirmado, Schumpeter não mantinha simpatia pela ideologia


socialista, mesmo porque nesse sistema a figura do empreendedor não
existia (o que também pode ser uma pista para o fracasso do mesmo),
porém o que não exclui uma certa visão pessimista por parte do autor em
relação ao capitalismo e sua instabilidade. A “máquina capitalistaʼʼ, outro
famoso termo, defende que o processo capitalista eleva sistematicamente
o padrão de vida das massas, contudo não deve ser considerado um
estado natural da vida humana. Se caso o fosse, teria surgido muito antes
na história e hoje estaria em todos os lugares, então devemos
compreende-lo como um sistema construído e mantido com dificuldade
hercúlea.
Encerro afirmando que Schumpeter, de forma nobre, acreditava que o
mundo só poderia beneficiar da benesses do capitalismo, caso as pessoas
entendessem como ele de fato funciona, e não é à toa que dedicou toda
sua vida não só o compreendendo, mas principalmente explicando-o,
assim como eu e você buscamos fazer neste exato momento.
Notas
[1] Divirta-se como mais de 200 páginas de Schumpeter, na série “Os
Economistas” http://www.soniabarroso.pro.br/graduacao/schumpetertde.
pdf
[2] Para mais textos de A. Marshall, ver MARSHALL, Alfred. Principles of
Economics. Amherst, New
York: http://socserv2.socsci.mcmaster.ca/~econ/ugcm/3ll3/marshall/
[3] Schumpeter J. A. (1939), Business Cycles. New York, NY: McGraw-Hill.
[4] The Long Wave in Economic
Life: https://stockmarketobservations.files.wordpress.com/2013/01/long-
wave-in-economic-life-by-n-d-kondratieff.pdf

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