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um estudo de caso
RESUMO
Os estudos sobre a teoria institucional ganharam espaço no campo dos estudos
organizacionais por fornecer maneiras de compreender os padrões implícitos e a diversidade
dentro das organizações. Para Pereira (2012), a teoria institucional pretende explicar
fenômenos organizacionais compreendendo como as estruturas e ações se legitimam, podendo
explicar o fenômeno do isomorfismo, que é um mecanismo utilizado pelas organizações. Neste
contexto, entender a cultura organizacional é de grande importância. O objetivo deste trabalho
é analisar o processo de formação da cultura organizacional de uma nova empresa de
distribuição cearense, pertencente a um grupo econômico, conforme o Competing Value
Model (CVM) desenvolvido por Cameron e Quinn (2011). A pesquisa utilizou abordagens
quantitativa e qualitativa. Os resultados apontam que a nova empresa desenvolveu muitas das
práticas do grupo de origem, tomando-o como modelo, administrando as resistências
encontradas e aprimorando práticas e ações, sugerindo a ocorrência do isomorfismo
institucional mimético, ou seja, a tendência em que as organizações adotem estruturas
semelhantes e atuarem de forma também similar. O estudo contribuiu procurando identificar e
compreender a influência dos principais aspectos que norteiam o processo de
institucionalização e de formação da cultura organizacional, ampliando assim o conhecimento
das temáticas no âmbito dos estudos organizacionais.
1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2
O institucionalismo sofreu influência de várias áreas do conhecimento – economia
institucional, economia organizacional, relações internacionais e sociologia, entre outros –
dificultando a convergência dos enfoques, mas sempre enfatizando o amplo ambiente social e
cultural que as organizações são enraizadas. (MAURO, 2008; MACHADO-DA-SILVA;
FONSECA, 1993). Em virtude desta heterogeneidade conceitual, Pereira (2012) considera
que a teoria institucional não está institucionalizada.
As instituições exercem papéis cognitivos, normativos e regulativos. O papel cognitivo
está na construção e legitimação da realidade, através da criação de um sistema de crenças e
valores. O papel normativo surge na forma de papéis e normas sociais, como as relações de
trabalho. Por fim, o papel regulativo manifesta-se através de regras organizacionais e
mediação de conflitos, com elementos legitimados interna e externamente (MAURO, 2008).
Assim, de acordo com Pereira (2012), a teoria institucional pretende explicar
fenômenos organizacionais compreendendo como as estruturas e ações se legitimam, através
da padronização de comportamentos e relações sociais, criando uma identidade
organizacional com ambiente social estável. As estruturas formais das organizações acabam
sendo estabelecidas em contextos altamente institucionalizados. Machado-da-Silva e Fonseca
(1993) observam que a conformidade aos valores e às normais sociais é que determinam a
sobrevivência das organizações.
O institucionalismo também procura explicar por que as organizações tendem a ficar
parecidas umas com as outras, utilizando o termo isomorfismo, que é a capacidade de responder
às pressões do ambiente para modificar-se conforme as características decorrentes de incertezas
ambientais e competição entre as organizações. Assim, as organizações estão voltadas não apenas
para recursos e consumidores, como também para a legitimidade institucional, tomando suas
práticas cada vez mais homogêneas dentro de um determinado domínio organizacional, com
posterior difusão, gerando similaridade (VERSIANI; MONTEIRO; RESENDE, 2018;
MENDONÇA et. al, 2017; LACOMBE; CHU, 2008).
O isomorfismo estrutural pode acontecer através de mecanismos coercitivos,
miméticos e normativos. O isomorfismo coercitivo resulta de pressões formais e informais
exercidas sobre as organizações por outras organizações e pelas perspectivas culturais da
sociedade dos quais ela depende. O isomorfismo mimético, pautado na incerteza, encoraja a
imitação devido à insuficiência da compreensão das tecnologias organizacionais, quando as
metas são ambíguas ou o ambiente cria uma incerteza simbólica. Nesse tipo de isomorfismo,
uma organização pode tomar outra como modelo. Por fim, o isomorfismo normativo deriva
principalmente da profissionalização, onde a luta coletiva de membros de uma profissão
procura definir as condições e métodos de seu trabalho. O isomorfismo normativo conduz a
formas comuns de interpretação e ação frente aos problemas e exigências organizacionais
(MENDONÇA et al., 2017; PEREIRA, 2012; LACOMBE; CHU, 2008; MAURO, 2008;
MACHADO-DA-SILVA; FONSECA, 1993).
Machado-da-Silva e Fonseca (1993) e Pereira (2012), por fim, apontaram que o
institucionalismo reconhece a importância de padrões implícitos, esquemas interpretativos,
elementos simbólicos, crenças e valores para compreender o comportamento macro-
organizacional. A partir destes elementos, foram aprofundados os estudos da área de cultura
organizacional, que será abordada na próxima subseção.
Schein (1992) considera que a cultura é um padrão de suposições básicas que serve para
um significativo entendimento das relações do indivíduo com o mercado de trabalho. O interesse
pelo estudo da cultura organizacional começou a ganhar força a partir da década de 1980, quando
este conceito começou a ser relacionado ao desempenho das organizações (TUSSI;
3
HANASHIRO, 2018). A influência da cultura organizacional pode ser benéfica quando
estratégias, projetos e objetivos se coadunam de maneira alinhada.
A literatura sobre cultura organizacional apresenta três grandes perspectivas: integração,
diferenciação e fragmentação, com base nos estudos de Joanne Martin (RAMOS; WEHRLE;
WHERLE, 2016; MENDES; CAVEDON, 2013; PIRES; MACEDO, 2006). A perspectiva
integrativa foi a primeira a ser adotada quando a cultura organizacional começou a chamar a
atenção dos pesquisadores (DE DOMENICO; LATORRE; TEIXEIRA, 2006), propondo que
a organização possua uma cultura predominante e consistente, assumindo a forma de uma
unidade social estável e coesa, com as pessoas partilhando visões de mundo semelhantes.
Mendes e Cavedon (2013) consideram que, nesta perspectiva, a cultura organizacional é
visualizada em uma perspectiva de consenso, promovendo a integração organizacional. Pelo
prisma da perspectiva integrativa, Cameron e Quinn (2011) afirmam que a cultura é uma
possível vantagem competitiva das organizações.
A perspectiva de diferenciação traz manifestações culturais inconsistentes, mas que
podem coexistir em harmonia, conflito ou indiferença, na forma de subculturas (RAMOS;
WEHRLE; WHERLE, 2016; DE DOMENICO; LATORRE; TEIXEIRA, 2006). Assim, é
observada como um emaranhado de subculturas, com consenso interno ao grupo, mas que podem
conflitar com outros grupos (MENDES; CAVEDON, 2013).
Na perspectiva de fragmentação, há ênfase na multiplicidade de visões presentes nas
organizações (MENDES; CAVEDON, 2013). A organização seria considerada uma arena de
interesses e jogos de poder (DE DOMENICO; LATORRE; TEIXEIRA, 2006), com padrões de
consenso e dissenso coexistindo em continuada flutuação, impedindo uma visão clara da cultura
da organização (PIRES; MACEDO, 2006).
Para Cameron e Quinn (2011), há, na cultura organizacional, elementos de integração,
diferenciação e fragmentação. Assim, a força da cultura está na habilidade de fazer com que
as pessoas permaneçam juntas, superando a fragmentação. A forma como as culturas
organizacionais (inclusive subculturas) reagirão em relação à necessidade de mudanças ou de
sua manutenção dependerá da estratégia, e a escolha da melhor estratégia pode requerer a
mensuração da cultura, conforme os autores que desenvolveram um modelo de diagnóstico de
cultura organizacional, chamado de Competing Values Framework. A figura 1 aborda os
quatro clusters das tipologias culturais do modelo.
2.4 Estudos empíricos sobre cultura organizacional sob o modelo de Cameron e Quinn
(2011)
Quadro 1 - Estudos empíricos sobre cultura organizacional utilizando o modelo de Cameron e Quinn (2011)
Autores/ Objetivo Referencial Aspectos metodológicos Resultados alcançados
Ano Teórico
Silva et. al As relações entre a Cultura Pesquisa quantitativa com Predominância da
(2018) cultura atual e a organizacional amostra composta por cultura hierárquica com
cultura desejada – Cameron e 103 empregados de 10 foco interno e controle
em organizações Quinn (2011) instituições privadas da dominante; para a
brasileiras da área área da saúde, atuantes na perspectiva desejada
da saúde. cidade de Belo Horizonte identificou-se a cultura
5
Autores/ Objetivo Referencial Aspectos metodológicos Resultados alcançados
Ano Teórico
e de suas cidades da hierárquica com foco
região centro oeste do interno e predominância
Estado de Minas Gerais, do controle em relação
Brasil. à flexibilidade. É
possível concluir que as
organizações não
devem direcionar seu
foco somente para um
tipo de cultura.
Tarifa e Analisar as Cooperativism Estudo de caso com Mesmo a C. Vale sendo
Schallenberger influências do o abordagem qualitativa e uma única cooperativa
(2016) ambiente agroindustrial; quantitativa há influências do
institucional e Teoria ambiente institucional e
sociocultural na Institucional; sociocultural no
gestão Cultura processo de gestão nas
cooperativista da Organizacional unidades cooperativas
C. Vale – de Cameron e paranaenses e
Cooperativa Quinn (2011) paraguaias.
Agroindustrial
comparativamente
às unidades
brasileiras
paranaenses mais
representativas e
as unidades
sediadas no
Paraguai.
Albuquerque Analisar a Cultura Abordagem mista de No contexto de uma
(2014) tipologia cultural organizacional pesquisa, iniciando com aquisição “amigável”, a
de uma empresa de Cameron e uma abordagem organização manteve
alemã, instalada Quinn (2011) quantitativa (Instrumento sua tipologia “clã”
no Brasil, que foi OCAI) de Cameron e como principal, mas
adquirida por um Quinn (2011), seguida de rejeitou o perfil
grupo japonês, uma análise qualitativa secundário hierárquico
considerando a com entrevistas de 05 em prol dos tipos
percepção dos funcionários para inovativa e mercado,
funcionários da aprofundar a sinalizando o desejo
filial brasileira. compreensão das comum de substituir
culturas organizacionais parte da estabilidade e
atual e esperada após a controle por mais
aquisição. flexibilidade e
inovação.
Braga, Ferraz Identificar Cultura Abordagem quantitativa, Predomínio da cultura
e Lima tipologias de organizacional com aplicação de survey de inovação (26,7%),
(2014) cultura – Cameron e com 3271 operários das mas um mosaico
organizacional Quinn (2011) 50 maiores empresas ali cultural quase
predominantes nas instaladas. homogêneo de culturas
empresas de mercado (29,2%),
instaladas nos em convívio com
distritos industriais culturas tradicionais
de Maracanaú, no hierárquicas (22,5%) e
Estado do Ceará. de clã (21,7%),
sugerindo rico
adensamento
organizacional como
consequência de
política pública.
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
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Percebe-se certa escassez de trabalhos recentes que envolvam a teoria institucional e a
investigação de cultura organizacional utilizando o modelo de Cameron e Quinn (2011). O estudo
encontrado que relaciona as duas temáticas é a pesquisa de Tarifa e Schallenberger (2016),
analisando as influências do ambiente institucional e sociocultural na gestão cooperativista. O
estudo concluiu que a cooperativa, mesmo sendo única, possui influências do ambiente
institucional e sociocultural no processo de gestão nas unidades cooperativas.
Os demais trabalhos selecionados para este quadro apresentam pesquisa utilizando o
modelo de Cameron e Quinn (2011). É importante frisar que a aplicação deste modelo em
pesquisas é, em sua maioria, é realizada por meio de estudos quantitativo, pois existe uma
escala para fazer a análise da cultura organizacional, chamada OCAI – Organizational
Culture Assessment Instrument. Braga, Ferraz e Lima (2014) realizaram uma pesquisa com as
50 maiores empresas do distrito industrial de Maracanaú/CE. Os resultados indicaram
predominantemente um mosaico cultural quase homogêneo de culturas de mercado (29,2%) e
cultura de inovação (26,7%), em paralelo com culturas tradicionais hierárquicas (22,5%) e de
clã (21,7%).
O estudo de Silva et al. (2018) avaliou a cultura atual e a desejada em instituições da
área de saúde. A amostra foi composta por 103 empregados de 10 instituições privadas da área
da saúde do Estado de Minas Gerais. Foi detectada a predominância de cultura hierárquica
com foco interno e controle dominante, ao passo que para a perspectiva desejada foi possível
identificar uma cultura hierárquica com foco interno e predominância do controle em relação
à flexibilidade. Concluiu-se que as organizações não devem direcionar seu foco somente para
um tipo de cultura.
Albuquerque (2014) realizou um estudo envolvendo abordagem mista, com aplicação
de survey e de entrevistas. O estudo concluiu que, no contexto de uma aquisição amigável, a
organização manteve sua tipologia clã, mas rejeitou o perfil secundário hierárquico em prol
dos tipos inovativa e mercado, sinalizando o desejo comum de substituir parte da estabilidade
e controle por mais flexibilidade e inovação.
O presente estudo distingue-se no sentido de identificar e compreender a influência
dos principais aspectos que norteiam o processo de institucionalização e de formação da
cultura organizacional de novas organizações criadas para complementar e fortalecer grupos
econômicos, ampliando assim o conhecimento das temáticas no âmbito dos estudos
organizacionais.
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
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que dão visibilidade ao mundo através de uma experiência sustentada e intensiva com os
participantes.
Quanto aos meios, caracteriza-se como estudo de caso, já que se trata de uma
investigação empírica que busca compreender um fenômeno contemporâneo dentro de seu
contexto. A estratégia de estudo de caso é utilizada em muitas situações para contribuir com o
conhecimento que temos dos fenômenos individuais, organizacionais e sociais. Quanto aos
fins, trata-se de um estudo exploratório (YIN, 2010).
A unidade de análise desta pesquisa foi uma empresa recém-criada para atuar no setor
de distribuição do Ceará, denominada nesta pesquisa de Empresa Alpha (nome fictício). A
empresa possui dois anos de existência e faz parte de um grupo econômico do segmento de
distribuição, no estado do Ceará. Esta nova empresa recebeu colaboradores de outra empresa já
existente deste grupo (denominada empresa Gama), que vieram em sua maioria com o bônus de
uma promoção, bem como realizou recrutamento externo para contratar parte de seu quadro
funcional.
A pesquisa realizou também o levantamento da cultura organizacional do grupo que
constitui a empresa Alpha, visando obter semelhanças e diferenças. A totalidade da população
do grupo é de 561 colaboradores. Como a atividade principal do grupo envolve logística e
distribuição, a amostra a ser pesquisada foi delimitada aos funcionários destas áreas. Assim, o
universo amostral foi reduzido a 311 empregados. Desta forma, a amostra é do tipo
intencional, já que foram determinados locais considerados referências no segmento estudado.
Participaram da pesquisa 110 colaboradores, que preencheram questionários válidos.
O instrumento de coleta de dados está fundamentado na escala da cultura
organizacional de Cameron e Quinn (2011), com 24 questões com as tipologias de cultura clã,
inovativa (ou adhocrática), de mercado e hierárquica. Os itens foram respondidos por meio de
uma escala Likert de cinco pontos que variaram de “discordo totalmente” a “concordo
totalmente”. Devido a possíveis dificuldades de entendimento do questionário original, foram
realizadas algumas adaptações para tornar as questões mais acessíveis ao perfil dos
respondentes. Visando a coleta de dados qualitativos, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas com os gestores.
As entrevistas ocorreram com três colaboradores ocupantes de cargos de gestão da
empresa Alpha, sendo estes: supervisor operacional, supervisor logístico e coordenador geral.
A quantidade de entrevistados justificou-se porque atualmente existem somente três cargos de
gestão no organograma da empresa, visto que as atividades-meio são centralizadas pela
administração do grupo.
Dentre o universo investigado, denota-se que todos os entrevistados são do sexo
masculino. Em relação à formação escolar, um é pós-graduado, outro é graduado e o terceiro
possui ensino médio completo. Os dados coletados pelas entrevistas foram tratados de forma
qualitativa por meio da análise de conteúdo, pois ela permite a tabulação, codificação e
intepretação de forma estruturada e sequencial (BARDIN, 2006). Já para a análise dos dados
coletados por meio da escala de Modelo de Valores Competitivos (CVM), fez-se o uso de
métodos estatísticos, por meio do software Statistical Package for the Social Science (SPSS)
(versão 21.0). Neste programa, a amostra foi analisada, em termos numéricos e percentuais, a
partir dos dados obtidos, por meio de estatística descritiva, teste de médias e normalidade.
Esta seção inicia-se com uma análise descritiva mediante as estatísticas extraídas dos
dados obtidos no instrumento de coleta. Assim, expõe-se a análise do grau da cultura
organizacional do grupo econômico e da empresa Alpha. Serão apresentadas, também, as
análises obtidas por meio das entrevistas com os gestores.
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4.1 Cultura organizacional no grupo econômico
A amostra total foi composta por 110 colaboradores das duas principais empresas do
grupo econômico. Na tabela 1, são visualizados os resultados das médias das tipologias de
cultura organizacional do grupo econômico. Observa-se que as médias apresentam valores
superiores a 3 em referência à escala de likert de 5 pontos, evidenciando um nível adequado das
tipologias. Destaca-se que as dimensões de tipologia cultural têm valor mínimo de resposta
igual a 3 e que apenas 25% da amostra apresentou valor de tipologia cultural inferior a 4,5.
Este achado pelo teste de médias apresenta, de acordo com os estudos de Cameron e
Quinn (2011), uma cultura forte, porque os resultados das quatro tipologias estão próximos.
11
Os entrevistados acreditam também que a prática de contratar pessoas jovens e com
pouca experiência no mercado minimiza problemas de adaptação, na ótica dos gestores, pois há
menor possibilidade de os contratados não se adaptarem ao estilo seguido pela empresa. O
entrevistado 1 destaca que, além do papel do líder no acompanhamento dos profissionais, é
necessário incorporar a cultura nos recém-contratados, destacando a estratégia da empresa de
contratar profissionais sem experiências e vícios: “quando a gente sempre vai contratar, a gente
prefere pessoas que nunca trabalhou ou trabalhou pouco tempo [...] assim quando eu tenho um
cara viciando eu posso até melhorar mas mudar não” (E1).
Esse achado é condizente com o encontrado no estudo de Ramos, Wehrle e Wehrle
(2016), que apontou que os gestores da empresa analisada, na maioria das vezes, preferem
contratar pessoas sem experiência, para que não venham com vícios empresariais. Assim,
percebe-se que esta informação está condizente ao encontrado nos resultados dos colaboradores
novatos, que apresentaram características mais fortes da tipologia hierárquica e mercado, que
também são as tipologias dominantes no grupo e na empresa.
Os gestores destacaram também que os veteranos que vieram do grupo para trabalhar
na empresa Alpha prezavam por um alto comprometimento. Além disso, o estilo gerencial
também estava alinhado com a noção da importância do trabalho em equipe para o
atingimento dos resultados organizacionais, destacando que essa era uma característica do
grupo econômico, mas que a empresa conseguiu trabalhar mais forte. Observa-se, assim, a
necessidade, por parte dos gestores, de uma perspectiva de integração da cultura
organizacional (MENDES; CAVEDON, 2013; DE DOMENICO; LATORRE; TEIXEIRA,
2006), corroborando um senso de cultura forte (CAMERON; QUINN, 2011).
A cultura também recebeu reforço nas práticas de gestão dos empregados. Evidenciou-
se uma preocupação da empresa com a forma com que os colaboradores internalizam sua
cultura. Notou-se que duas categorias se sobressaíram nesta análise: instrumentos de
integração e acompanhamento dos gestores. A figura 3 apresenta a rede semântica expressa na
análise da dimensão.
12
não cobra agilidade, mas sim qualidade. Aí ele vai sendo treinado e no decorre do processo a
gente vai [...] mas ele tem todo um acompanhamento” (E1).
Por fim, um critério de sucesso, tão importante quanto à existência de pessoas com
mais experiência e conhecedoras das raízes da cultura do grupo, é observar que empregados
com poucos meses de empresa já se encontram imbuídos deste mesmo pensamento. Isso pode
ser notado quando a cultura está tão forte que os próprios empregados exercem o controle
dela, como se pode observar na fala de um dos gestores:
“A cultura é tão muito forte que a gente tem liderados, tipo...até pessoas que entram
há pouco tempo, é [...] quando ela percebe, que a cultura ou que a postura do que a
gente disse não é a vivenciada em alguns momentos por alguns colaborador, elas
chegam e dizem: tá acontecendo alguma coisa de errado e eu acho que não é assim
que a gente trabalha não.” (E1)
Os achados vão ao encontro do que afirma Schein (1992), que considera que a força
de uma cultura pode vir da persistência em normas e valores, criando uma cultura total e
única. A força da cultura pode ser expressa em termos de homogeneidade, estabilidade e
intensidade das experiências compartilhadas por membros da organização. Essa força pode
ser definida como a amplitude em que valores e crenças que permeiam a organização e são
fartamente compartilhados pelos seus membros (SANTOS, 2000).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como principal objetivo analisar o processo de formação da cultura
organizacional de uma nova empresa criada por um grupo de distribuição cearense. Foi
possível identificar, a partir da percepção dos funcionários, que as tipologias culturais
dominantes na organização foram as tipologias hierárquica e mercado. Este resultado é
compatível com as tipologias encontradas no grupo.
A primeira hipótese pode ser considerada confirmada, evidenciando que a nova
empresa apresenta tipologia de cultura organizacional semelhante à do grupo econômico que
a originou. Este resultado pode estar relacionado com a realização, pela nova empresa, de um
processo de integração formal e estruturado dos novos colaboradores, tendo como exemplo
citado por todos os entrevistados, a utilização de um livro de regras padrão para o grupo.
Além disso, os gestores acompanham de forma contínua os colaboradores para se integrarem
à cultura existente. A segunda hipótese foi confirmada parcialmente, já que os colaboradores
veteranos da nova empresa apresentaram destaque na tipologia de mercado, também
predominante no grupo econômico, mas a tipologia inovativa apresentada por estes veteranos
não foi predominante no grupo.
Quanto à terceira hipótese, voltada para a existência de diferenças culturais entre
colaboradores veteranos e novatos, constatou-se que não existe diferença de média entre os
dois grupos, indicando percepções semelhantes das tipologias culturais. Assim, a hipótese foi
rejeitada, indicando uma perspectiva de integração quando se fala de como as pessoas veem a
empresa. Essa perspectiva foi identificada também na forma como os gestores percebem os
seus funcionários. Esses aspectos estão alinhados com a tendência de organizações que atuam
em um mesmo campo organizacional. A adoção de ações ou estruturas semelhantes como
resposta às pressões é denominado de isomorfismo por DiMaggio e Powell (1991) que, para
os autores, é a tendência de as organizações atuarem de forma semelhante. No caso analisado
neste trabalho, sugere-se um isomorfismo do tipo estrutural e mimético, porque os gestores da
nova empresa levaram como modelo diversas práticas organizacionais que haviam sido
exitosas no grupo econômico.
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Por fim, destaca-se que o presente estudo trouxe um conhecimento sobre o
desenvolvimento da cultura organizacional baseado na teoria institucional. No entanto, outras
investigações são necessárias para aprofundar o tema do processo de criação de empresas por
grupos econômicos, visando compreender o contexto para obter maior efetividade
organizacional. Por exemplo, podem ser realizadas entrevistas com colaboradores da área
operacional para obter uma visão complementar do processo de formação da cultura
organizacional. A continuidade da pesquisa sobre as temáticas é necessária para obter uma
observação longitudinal e acompanhar os resultados futuros da implementação de
organizações.
REFERÊNCIAS
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Paul J. The New Institutionalism in Organizational Analysis. London: University of
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YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
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